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IMUNIDADE INATA E O RECONHECIMENTO DE INVASORES Prof.ª Carla Amorim Neves 24 de novembro de 2020 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS MEDICINA VETERINÁRIA DISCIPLINA DE IMUNOLOGIA VETERINÁRIA • O sistema imune inato bloqueia a entrada de microrganismos e elimina ou limita o crescimento de muitos microrganismos que são capazes de colonizar os tecidos. • Os principais locais de interação entre os indivíduos e seu ambiente – a pele, os pulmões e os tratos gastrintestinal e respiratório – são revestidos por um epitélio contínuo, que serve como barreira para prevenir a entrada de microrganismos a partir do meio ambiente externo: BARREIRAS FÍSICAS A RESPOSTA IMUNE INATA INICIAL AOS MICRORGANISMOS BARREIRAS FÍSICAS: • A pele intacta representa uma eficiente barreira contra a infecção microbiana. Micróbios podem invadir o corpo através de uma lesão cutânea, entretanto a cicatrização garante que essa barreira seja rapidamente reparada. • Em outras superfícies corporais, como nos tratos respiratório e gastrointestinal, simples mecanismos de defesas físicas incluem os processos de “autolimpeza”: tosse, espirro e o fluxo de muco no trato respiratório; vômito e diarreia no trato gastrointestinal; e o fluxo de urina no sistema urinário. A RESPOSTA IMUNE INATA INICIAL AOS MICRORGANISMOS • Se os microrganismos romperem com sucesso as barreiras epiteliais, eles encontrarão outras células do sistema imune. A RESPOSTA IMUNE INATA INICIAL AOS MICRORGANISMOS Imunidade inata Barreiras físicas Inflamação Defesa antiviral INFLAMAÇÃO: • É o processo pelo qual leucócitos circulantes e proteínas plasmáticas são trazidos para os locais de infecção nos tecidos e são ativados para destruir e eliminar os agentes agressores. • A inflamação também é a principal reação às células danificadas ou mortas e aos acúmulos de substâncias anormais nas células e nos tecidos. A RESPOSTA IMUNE INATA INICIAL AOS MICRORGANISMOS DEFESA ANTIVIRAL: • Consiste em alterações nas células que previnem a replicação viral e aumentam a suscetibilidade à morte pelos linfócitos, eliminando, assim, os reservatórios de infecção viral. A RESPOSTA IMUNE INATA INICIAL AOS MICRORGANISMOS • Resistência às barreiras físicas + inflamação + defesa antiviral: • Os microrganismos entram no sangue, onde são reconhecidos pelas proteínas circulantes da imunidade inata: • Componentes do sistema complemento • Aumentam as respostas inflamatórias, recobrem os microrganismos para aumentar a fagocitose e lisam diretamente os microrganismos A RESPOSTA IMUNE INATA INICIAL AOS MICRORGANISMOS IMUNIDADE INATA FUNÇÕES E REAÇÕES DAS RESPOSTAS IMUNES INATAS A imunidade inata é a resposta inicial aos microrganismos que previne, controla ou elimina a infecção do hospedeiro por muitos patógenos. Os mecanismos imunes inatos eliminam células danificadas e iniciam o processo de reparo tecidual. A imunidade inata estimula as respostas imunes adaptativas e pode influenciar a natureza das respostas adaptativas para torná-las otimamente efetivas contra diferentes tipos de microrganismos. CONSTITUIÇÃO DO SISTEMA IMUNE INATO • IMUNIDADE INATA - componentes celulares e componentes moleculares • Componentes celulares: Constituídos por células sentinelas que possuem a função de reconhecer e responder a microrganismos invasores. • Células sentinelas: macrófagos, células dendríticas, mastócitos, granulócitos, células epiteliais, células endoteliais e fibroblastos. • As células sentinelas recrutam outras células para eliminar a maioria dos microrganismos invasores. CONSTITUIÇÃO DO SISTEMA IMUNE INATO • Componente molecular: Constituído pelo sistema complemento; e substâncias moleculares produzidas pelas células sentinelas ativadas: citocinas, quimiocinas e enzimas específicas. • Sistema complemento: Conjunto de complexas vias enzimáticas que matam microrganismos invasores. CONSTITUIÇÃO DO SISTEMA IMUNE INATO A função das citocinas é recrutar todo o sistema imunológico para destruir o microrganismo invasor após reparar as lesões teciduais (cicatrização). Quimiocinas: produzidas por macrófagos e mastócitos. São citocinas quimiotáticas que possuem a função de coordenar a migração de células de defesa e assim determinam a progressão de respostas inflamatórias e imunes. Enzimas: como a óxido nítrico sintetase 2 (NOS2) e ciclo- oxigenase 2 (COX-2). Induzem a produção de óxido nítrico e mediadores inflamatórios,respectivamente. Imunidade Inata e o reconhecimento de invasores ATIVAÇÃO DO SISTEMA IMUNE INATO O sistema imune inato é ativado quando o corpo percebe estar sob ataque. Essa percepção envolve o reconhecimento de sinais de alarme gerados por duas vias: Microrganismos invasores (sinais exógenos) - PAMPs Lesão ou morte celular: danos (sinais endógenos) - DAMPs. SINAIS DE ALARME DOS MICRORGANISMOS INVASORES São sinais exógenos ao organismo. São compostos por moléculas produzidas pelos microrganismos invasores e são chamados coletivamente de padrões moleculares associados a patógenos ou PAMPs. SINAIS DE ALARME DE LESÃOTECIDUAL São sinais endógenos do organismo. Sinais compostos por moléculas liberadas por células danificadas ou por morte celular. Essas moléculas são chamadas coletivamente de padrões moleculares associadas a morte celular/ danos ou DAMPs. COMO OCORRE O RECONHECIMENTO DE PAMPs E DE DAMPs? Reconhecimento de PAMP e de DAMP • O reconhecimento de padrões moleculares associados a patógenos (PAMPs) e de padrões moleculares associados a morte celular (DAMPs) ocorre através da interação destas moléculas com receptores de reconhecimento de padrões moleculares (PRRs) que se encontram em células sentinelas localizadas por todo o organismo e por receptores PRRs solúveis no plasma. Reconhecimento de PAMP e de DAMP • Após o reconhecimento de PAMPs e de DAMPs pelos receptores de reconhecimento de padrões moleculares (PRRs) há ativação do sistema imune inato. • A ativação do sistema imune inato irá iniciar uma sequência de reações bioquímicas de sinalização que desencadeará a produção de moléculas pró-inflamatórias como citocinas, quimiocinas e enzimas específicas. CÉLULAS SENTINELAS • As células cuja função primária é reconhecer e responder a micróbios invasores são denominadas células sentinelas. • As principais são os macrófagos, as células dendríticas e os mastócitos, mas ainda as células epiteliais, as células endoteliais e os fibroblastos podem atuar como sentinelas quando necessário. CÉLULAS SENTINELAS • Um equipamento encontrado nas células sentinelas responsáveis pelo reconhecimento de microrganismos invasores são os receptores de reconhecimento padrão (PRRs) para moléculas de patógenos (PAMPs) e também para moléculas associadas a morte celular (DAMPs). • Esses receptores associados às células sentinelas podem ser encontrados tanto nas membranas citoplasmáticas dessas células, quanto no interior de seu citoplasma, ou ainda no interior de suas vesículas citoplasmáticas. PRINCIPAIS RECEPTORES DAS CÉLULAS SENTINELAS PARA PAMPs E DAMPs PRINCIPAIS RECEPTORES DE RECONHECIMENTO DE PADRÃO (PRRS) • Receptores Toll (TLR) – encontram-se na superfície celular e no interior da célula • Receptores RIG-I - encontram-se no interior da célula • Receptores NOD – encontram-se no interior da célula • Receptores de Lectina C – encontram-se em superfícies celulares (TYZARD, 2014, P. 29) Há diversos receptores de reconhecimento de padrão encontrados no corpo. Muitos são encontrados no interior ou na superfície de células. Outros são moléculas solúveis que circulam pela corrente sanguínea. Receptores TOLL (TLR) • Estes receptores TOLL encontram-se parte localizados em superfícies das células sentinelas onde são responsáveis pelo reconhecimento de invasores extracelulares como bactérias e fungos. • Detectam principalmente PAMPs relacionadas a proteínas, lipoproteínas e lipolissacarídeos. Receptores TOLL (TLR) • Estes receptores TOLL também podem estar localizados no interior de células sentinelas onde são responsáveis pela detecção de invasores intracelulares como vírus. • Esses receptores de reconhecimento de padrões detectam PAMPs intracelulares relacionados a ácidos nucleicos virais e bacterianos. (TYZARD, 2014) Receptores RIG-I • A denominação desse tipo de receptor é “receptores similares ao gene induzido por ácido retinoico”, resumidamente RIG-I. • São receptores de reconhecimento de padrão (PRR) encontrados no interior do citoplasma das células sentinelas. • Esses receptores reconhecem RNA viral, ativam as caspases e desencadeiam vias de sinalização que levam a produção de interferon-1 (IFN-1) pelas células sentinelas. Receptores NOD NLR • “Receptores similares ao domínio de oligomerização ligante de nucleotídeo” ou NOD ou NLR. Possui localização intracelular, no citoplasma (ou citosol). • Ativa a via do NF-ƙB desencadeando a produção de citocinas pró- inflamatórias. • NOD – 1: reconhece peptidoglicanos bacterianos. • NOD – 2: reconhece o muramil dipeptídio (componente de bactérias Gram-positivas e Gram-negativas) e atua como um sensor geral de bactérias intracelulares. Receptores da Lectina C • Receptores de reconhecimento de padrão molecular (PRRs) de carboidratos associados ao 𝐶𝑎+2. • Alguns são de superfície celular que podem reconhecer carboidratos de bactérias, fungos, e alguns vírus. • Já a dectina 1 e 2 e a DEC205 (tipos de lectina C) reconhecem beta-glicanas em paredes celulares fúngicas desempenhando destruição intracelular de fungos. • Receptor de manose (outro tipo de lectina C intracelular) de macrófagos reconhecem leveduras como Candida albicans, protozoários como a Leishmania e vírus como vírus da BVD (diarréia viral bovina) PRINCIPAIS PAMPs PRINCIPAIS MOLÉCULAS ASSOCIADAS A PATÓGENOS (PAMPS) Lipopolissacarídeos bacterianos Peptidoglicano bacteriano DNA bacteriano Ácidos nucleicos virais LIPOPOLISSACARÍDEOS BACTERIANOS • São PAMPs componentes estruturais da parede celular de muitas bactérias (Gram-negativas). • São exemplos de lipopossacarídeos bacterianos: micobactérias e Pseudomonas. • Receptores específicos para essa molécula são receptores de reconhecimento de padrão (PRR): • Receptor Toll das células sentinelas com ajuda de outras proteínas. PEPTIDIOGLICANOS BACTERIANOS • São os principais componentes das paredes celulares de bactérias Gram-positivas e Gram- negativas. • Diversos receptores de reconhecimento de padrão (PRRs) podem reconhecê-los: • Receptores Toll, receptores NOD das células sentinelas. DNA BACTERIANO • Há grandes diferenças entre o DNA bacteriano (procariontes) e o DNA animal (eucariontes) e por isso o DNA bacteriano são PAMPs importantes. • Os receptores de reconhecimento de padrão do DNA bacteriano são: • Receptor Toll que irá desencadear a produção pelas células sentinelas de citocinas TNF-α (fator de necrose tumoral alfa), IL-6 (interleucina-6) e IL-12 (interleucina-12). ÁCIDO NUCLEICO VIRAL • Os ácidos nucleicos virais são estruturalmente diferentes dos ácidos nucleicos animais, sendo portanto um PAMPs. • Os receptores de reconhecimento padrão (PRRs) dos ácidos nucleicos virais são receptores Toll intracelular e receptores RIG-I intracelular nas células sentinelas. • Há produção de IFN e citocinas inflamatórias. (TYZARD, 2014, P. 29) As principais características estruturais das paredes celulares de bactérias Gram-negativas, Gram-positivas e ácido-álcool-resistentes. Estas moléculas estruturais conservadas atuam como padrões moleculares associados a patógenos e são reconhecidas por receptores de reconhecimento de padrão, como os receptores do tipo Toll. PRINCIPAIS DAMPs Moléculas associadas à lesão ou morte celular Padrões moleculares associados a lesões que desencadeiam as respostas imunes inatas. Estes padrões são derivados de fontes intracelulares e extracelulares. MOLÉCULAS ASSOCIADAS A MORTE OU LESÃO CELULAR • DAMPs origem intracelular • Mitocôndrias de células lesionadas ou que morreram; • Proteínas HMGB-1 • DAMPs de origem extracelular • Elastina • Fibronectina • São detectadas por receptores TOLL. (TYZARD, 2014, P. 35) As propriedades da HMGB-1. Liberada de células destruídas, a HMGB-1 ativa muitas das células associadas à inflamação e desencadeia respostas sistêmicas à lesão tissular, podendo levar ao choque séptico. RECEPTORES SOLÚVEIS (MOLÉCULAS CIRCULANTES) RECEPTORES SOLÚVEIS DE RECONHECIMENTO PADRÃO • Não estão associados às células sentinelas e sim dissolvidos no plasma sanguíneo. • São proteínas solúveis encontradas no plasma e em líquidos extracelulares e reconhecem padrões moleculares associados a patógenos (PAMPs). • Servem como moléculas efetoras do sistema imunológico inato. • Sistema complemento, Pentraxinas • Galectinas, Colectinas • Lectina ligante de manose, Langerina SISTEMA COMPLEMENTO O sistema complemento consiste em várias proteínas plasmáticas que são ativadas pelos microrganismos e promovem a destruição desses microrganismos e a inflamação. Reconhecimento de microrganismos pelo sistema complemento resulta na lise das células microbianas. Pentraxinas • São proteínas plasmáticas que reconhecem estruturas microbianas e participam da imunidade inata. • As pentraxinas são formadas por cinco subunidades proteicas dispostas em anel. • Duas delas são importantes proteínas da fase aguda da inflamação: • Proteína C reativa • Amiloide sérico P • Essas moléculas são denominadas proteínas de fase aguda porque seus níveis sanguíneos sobem muito durante infecções ou após traumas. Pentraxinas • As funções das pentraxinas incluem: • Ativação do sistema complemento • Estimulação de leucócitos • Essas moléculas ligam-se a carboidratos microbianos como o lipopolissacarídeo de maneira dependente do cálcio e ativam a via clássica do sistema complemento ao interagir com a subunidade C1q do sistema complemento; também interagem com neutrófilos, monócitos – macrófagos e células NK aumentando suas atividades. Galactinas e colectinas • Galactinas: receptores específicos para galactosídeos, moléculas que participam da inflamação ao ligar os leucócitos à matriz extracelular. • Colectinas: interagem com o sistema complemento e a carboidratos PAMP ou DAMP. Principais características da inflamação aguda, um mecanismo inato composto por células e outros mecanismos de defesa. A inflamação aguda é desencadeada por invasão microbiana e lesão tissular. PONTOS PRINCIPAIS • Dois tipos de sinal desencadeiam as defesas inatas do corpo. Um sinal, gerado pela presença de microrganismos invasores, é detectado por meio da percepção de suas características moléculas de superfície, ou ácidos nucleicos. Essas moléculas são denominadas padrões moleculares associados a patógenos (PAMPs). • As células também detectam moléculas liberadas por tecidos lesionados e células rompidas. Essas moléculas são denominadas padrões moleculares associados a lesões (DAMPs). • PAMPs e DAMPs se ligam a receptores de reconhecimento de padrão (PRRs) localizados nas superfícies celulares ou no interior das células. • Os PRRs são encontrados em diversos tipos celulares. As mais importantes destas células “sentinelas” são os macrófagos, as células dendríticas e os mastócitos. • Um importante grupo de PRRs é denominado receptor do tipo toll (TLR). • Os sinais gerados pela ligação de PAMPs a TLRs ativam células sentinelas e estimulam-nas a secretar diversas moléculas. Algumas dessas moléculas são proteínas denominadas citocinas, que “ligam” o processo inflamatório. • Essas moléculas desencadeiam aumentos locais no fluxo sanguíneo, atraem células de defesa, como os neutrófilos, e aumentam a permeabilidade vascular, permitindo que as moléculas antimicrobianas e as células inundem os tecidos acometidos.