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Benedictus Spinoza

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ (UECE)
CURSO DE LICENCIATURA EM FILOSOFIA
DISCIPLINA: Ética II
DISCENTE: David Rocha Vasconcelos
BENEDICTUS SPINOZA
Introdução
Benedictus Spinoza foi um pensador moderno vivido no século XVII
caracterizado por tecer uma forte crítica ao antropomorfismo de Deus e de criar todo um
sistema filosófico baseado em uma substância, única e infinita, imanente à natureza, no
qual, tudo aquilo que existe fora do intelecto são modos e afecções desta mesma
substância. Portanto, como atributos de sua essência, a própria natureza e o cosmos
constituem partes de Deus. Na sua principal obra denominada Ética está centrada toda
sua ontologia, partindo de definições, axiomas e proposições lógicas, da qual, pelo
método geométrico, irá deduzir verdades.
Na primeira parte da sua Ética, intitulada Deus, Spinoza apresentará os
principais pontos que fundamentam toda a sua ontologia. É a partir dessas primeiras
definições e axiomas que toda sua tese será fundamentada, fazendo com que toda sua
obra gire ao redor desses primeiros princípios. As definições e os axiomas são
caracterizados como verdades auto evidentes, isto é, são princípios universalmente
aceitos e indemonstráveis, por si só são evidentes. Logo no começo da primeira parte o
autor define os primeiros conceitos ontológicos, fundamentais para a compreensão de
sua obra: causa, coisa finita, substância, atributo, modo, afecção, Deus, coisa livre e
eternidade. Abordaremos especificamente os conceitos de causa sui, substância e a
problemática da antropomorfização de Deus dentre algumas características gerais de sua
essência.
1. Causa sui.
A causa sui é uma das definições cruciais para o entendimento da ontologia
spinozista, isso é perceptível devido ao cuidado de Spinoza de por essa definição como
a primeira de seu livro. A primeira definição consiste de tal modo: ‘’por causa de si
compreendo aquilo cuja essência envolve a existência, ou seja, aquilo cuja natureza não
pode ser concebida senão como existente’’. Ser causa de si é equivalente a ser eterno,
implicando assim a impossibilidade de ser explicado pela duração ou pelo tempo. A
causa de si deve ser entendida como fluxo infinito do existir, dado o existir como
constituinte da própria essência do ser. Tal conceito estabelecerá a relação de identidade
entre aquilo que é e aquilo que é concebido, ou seja, o entendimento infinito
caracterizado como Deus e aquilo que nós concebemos como constituinte da substância.
Deus como causa sui é causa de toda realidade, nós somos afecções divinas, fazemos
parte da substância, dela viemos e a ela retornaremos. Isso nos ajudará a compreender
qual a relação do entendimento divino, infinito e o entendimento humano, finito e
limitado. A principal característica dessa relação é que a diferença entre ambos os
entendimentos é encontrada no âmbito quantitativo, pois, como na tese spinozista Deus
é imanente, o entendimento humano é parte do entendimento divino. A semelhança
qualitativa possibilita o homem conhecer as coisas como Deus as conhece, contudo,
limitado aos fenômenos que lhe são apresentados.
2. Substância.
Por substância o autor compreende “aquilo que existe em si mesmo e que por si
mesmo é concebido” (Defin.3). Como é concebida por si mesma, a substância não
carece de outra substância e nem de outros conceitos para existir. Como causa de si
mesma, a substância também é infinita em seu gênero. Ontologicamente Spinoza afirma
que a substância é causa de toda a realidade, não podendo existir nada além dela e de
suas afecções, como de acordo com a proposição quatro, onde o autor diz que “não
existe nada, fora do intelecto, além das substâncias e suas afecções” (Prop.4). Para
Spinoza existe apenas uma única substância, que, de acordo com as proposições cinco e
seis, se em algum momento existisse duas substâncias de mesmo atributo, por definição,
elas seriam uma única substância, como é dito na proposição cinco “se existissem duas
ou mais substâncias distintas, elas deveriam distinguir-se entre si ou pela diferença dos
atributos ou pela diferença das afecções” (Prop.5). Logo em seguida, na proposição seis,
o autor afirma não ser possível existir duas substâncias de mesmo atributo, ou seja, que
tenham algo de comum entre si. Pode-se concluir destas proposições que uma
substância não pode ser causa de outro, sendo então incapaz de produzir outra
substância. Spinoza demonstra tal conclusão na demonstração afirmativa da proposição
seis, onde ele afirma que ‘’se uma substância pudesse ser produzida por outra coisa, o
conhecimento dela dependeria do conhecimento de sua própria causa '' (Ax.4). Não
seria, então (Defin.3) uma substância’’ (Prop.6).
3. Antropomorfização de Deus e outros aspectos da essência divina.
Contudo não devemos atrelar a este Deus características antropológicas, ação
comum entre as religiões ocidentais. Na filosofia spinozista Deus não é transcendente,
mas sim imanente à natureza, pode-se pensar na natureza e no cosmos como
manifestações da essência de Deus. Portanto, podemos presumir que Deus é
absolutamente infinito, não apenas em seu gênero, pois se limitado a um gênero poderia
ser negado diversos atributos. Contudo, Deus em Spinoza é causa sui de toda a
realidade, sendo assim, tudo que existe, existe em Deus, como seus atributos e afecções.
Além de todas as características atribuídas a Deus como substância, também
podemos afirmar na doutrina spinozana que somente Deus é livre. Para o autor, Deus é
potência pura, e, sendo em si e por si, somente ele pode existir exclusivamente pela
necessidade de sua natureza e que por si só é determinada a agir” (Defin.7). A causa
eficiente da liberdade é a autonomia para agir, isto é, potência. Deus é livre não por
vontade, isso causaria uma série de contradições, pois, vontade está diretamente ligada à
necessidade, e, Deus como causa de si mesmo, cuja essência envolve a existência não
carece de nada. Deus é livre porque a liberdade constitui a sua essência, ele é livre por
ser determinado unicamente por si e por suas ações corresponderem a sua essência.
Portanto, a liberdade, fazer o que se quer, é uma consequência da potência daquilo que
almeja a liberdade.

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