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COMPLICAÇÕES CRÔNICAS DO DIABETES MELLITUS - CLÍNICA MÉDICA - - O risco relativo de morte devido a complicações vasculares é 3x maior em pacientes com DM logo, a DM é um fator que aumenta em muito a morbidade dos pacientes. - O aparecimento e o grau das complicações da DM vão depender de 3 fatores: Controle glicêmico; Fatores genéticos; Tempo de evolução da doença. - As complicações podem ser microvasculares ou macrovasculares. As complicações microvasculares ocorrem quando há lesão de pequenos vasos sanguíneos. As macrovasculares ocorrem através de lesão de grandes vasos sanguíneos. OBS: Hipertensão arterial e Insuficiência Cardíaca também são exemplos de complicações macrovasculares do DM. · FATORES DE RISCO PARA COMPLICAÇÕES MICRO E MACROVASCULARES: Hiperglicemia (principalmente para as complicações microvasculares) Hipertensão arterial Tabagismo Dislipidemia Obesidade · FISIOPATOLOGIA DAS COMPLICAÇÕES MICROVASCULARES: A intensidade da hiperglicemia e a duração deste estímulo sobre o endotélio dos microvasos prediz o aparecimento de doença microvascular. O endotélio retiniano, renal e microvascular é o que mais vai sofrer as consequências da DM. HIPERGLIMIA LESÃO ENDOTELIAL O endotélio lesado deixa de produzir oxido nítrico (um vasodilatador natural) e com isso, estímulos vasoconstritores (angio II e endotelina-1) passam a predominar. LESÃO ENDOTELIAL REDUÇÃO NA SÍNTESE DE ÓXIDO NÍTRICO VASOCONSTRIÇÃO MICROVASCULAR Com a vasoconstrição, aumenta-se a pressão intracapilar, com extravasamento de plasma e proteínas para o espaço intersticial. VASOCONSTRIÇÃO EXTRAVASAMENTO PROTEICO Com esse escape de proteínas, ocorre fibrose no espaço intersticial, com deposição de MEC, além de produção de fatores de crescimento e citocinas inflamatórias locais. EXTRAVASAMENTO PROTEICO FIBROSE E CRIAÇÃO DE AMBIENTE INFLAMATÓRIO AO REDOR DO VASO Tudo isso leva a um estreitamento da luz vascular, além de apoptose celular e comprometimento da vascularização, com redução do fluxo sanguíneo. ALÉM DISSO, a hiperglicemia tem como consequência a formação de Produtos Finais de Glicação Avançada (AGEs), que também entram na fisiopatologia das complicações microvasculares. A HIPERGLICEMIA CRÔNICA FORMA PONTES COVALENTES COM AS PROTEÍNAS PLASMÁTICAS, CONHECIDAS COMO GLICAÇÃO. Os produtos dessas ligações (OS AGEs) promovem uma série de alterações que intensificam o ambiente inflamatório e o estreitamento da luz dos microvasos: A hiperglicemia aumenta a quantidade de AGEs tanto intra como extracelulares. Os AGES são encontrados na retina e nos glomérulos dos diabéticos. Os AGES podem se ligar a ácidos nucleicos e lipídeos favorecendo as complicações diabéticas. OS AGES causam modificações em proteínas intracelulares e nos componentes da MEC. Essas modificações causam anormalidades na elasticidade dos vasos e na função endotelial. Os AGES interagem com o receptor da membrana celular, alterando sinalização intracelular e expressão gênica e a liberação de citocinas inflamatórias, pró-escleróticas e radicais livres. ADEMAIS, a hiperglicemia crônica favorece a formação do SORBITOL, um poliol (álcool de açúcar), extremamente agressivo para a célula, a partir da ação da enzima aldose redutase e do NADPH. Via da aldose redutase (poliol) A enzima citosólica aldose redutase normalmente converte os aldeídos tóxicos para inativar os álcoois na via do poliol.17 Quando os níveis intracelulares de glicose aumentam e atingem níveis excessivos, a aldose redutase também reduz a glicose a sorbitol, que posteriormente é oxidado a frutose pela sorbitol desidrogenase. As reações bioquímicas que resultam na conversão da glicose em frutose consomem fosfato de nicotinamida adenina dinucleotídeo (NADPH), um cofator essencial à regeneração da glutationa reduzida.18 A diminuição subsequente dos níveis de glutationa reduzida depriva a célula de um antioxidante essencial, que aumenta a suscetibilidade ao dano oxidativo.5 COMPLICAÇÕES MICROVASCULARES: RETINOPATIA DIABÉTICA (RD) - Principal causa de cegueira em indivíduos em idade reprodutiva; - Diabéticos são 25x mais suscetíveis a cegueira quando comparados à população geral; - Independente da forma ou estágio da retinopatia diabética, o edema de mácula é o maior responsável pela cegueira, logo, o EDEMA DE MÁCULA É SEMPRE UMA EMERGÊNCIA. · RASTREIO E DIAGNÓSTICO DA RD: · A RD está presente em 25% dos pacientes com DM1 após 5 anos de diagnóstico, porém as alterações retinianas são raras antes da puberdade. 1. PACIENTE COM DM1, 5 ANOS APÓS O DIAGNÓSTICO DE DIABETES deve fazer o rastreio anualmente. 2. PACIENTE NA PUBERDADE DESCOBRE QUE POSSUI DM1 fazer o rastreio de retinopatia diabética imediatamente. · No DM2, a RD já está presente em 21% dos pacientes ao diagnóstico isso porque os pacientes tendem a descobrir a DM2 mais tardiamente, geralmente em exames de rotina. 1. PACIENTE COM DM2 Fazer o rastreio anual. · Mulheres com DM tem risco de piora da RD na gestação → a paciente diabética deve ter acompanhamento durante toda a gestação. · TIPOS DE RETINOPATIA DIABÉTICA: 1. Retinopatia diabética não proliferativa 2. Retinopatia diabética proliferativa A não proliferativa ocorre mais precocemente. A proliferativa, que é mais grave, ocorre posteriormente. OBS: Os AGES também agem estimulando a formação de neovasos. - Rastreamento da retinopatia diabética: · Mapeamento de retina → DM1 após 5 anos de diagnóstico de DM1, e em pacientes com DM2 – mapeamento deve ser feito todos os anos. · Se o paciente já tem retinopatia, vai depender do estágio da doença: Rastreio anual na ausência de retinopatia ou na retinopatia não proliferativa leve Retinopatia não proliferativa moderada ou grave de 3-6 meses Retinopatia proliferativa ou edema macular de 2-4 meses - Tratamento da retinopatia diabética: · CONTROLE METABÓLICO: Controle da hiperglicemia Hipertensão Corrigir dislipidemia Cessar tabagismo · SE RETINOPATIA FOR GRAVE OU PROLIFERATIVA: · Fotocoagulação a laser → cirurgia em que um laser vai “queimar” os neovasos retinianos · Anti-VEGF /corticoides intravítreos → injeção de substâncias que impedem a proliferação dos neovasos. · Vitrectomia → nos casos de extravasamento de sangue - cirurgia para “tirar o excesso de sangue que extravasou do olho do paciente”. OBS: VEGF – do inglês Vascular endothelial growth fator – significa FATOR DE CRESCIMENTO ENDOTELIAL VASCULAR - promove a ANGIOGENESE (crescimento de novos vasos sanguíneos a partir de vasos já existentes). NEFROPATIA DIABÉTICA - O acometimento glomerular inicia após de 5-10 anos com DM, com maior incidência após 15 anos de doença. - O envolvimento renal no início ocorre pelo ESPESSAMENTO DA MEMBRANA BASAL GLOMERULAR, DISCRETO AUMENTO DA MATRIZ MESANGIAL e posteriormente, GLOMERULOESCLEROSE, caracterizada por esclerose intercapilar difusa ou intercapilar nodular da matriz mesangial (lesão de Kimmelstol Wilson). OBS: A lesão de Kimmelstol Wilson não é um padrão exclusivo da glomeruloesclerose diabética, mas acontece bastante nessa doença. · A nefropatia diabética é caracterizada p/ deposição de proteínas na matriz extracelular dos glomérulos. Clinicamente caracteriza-se por: Proteinúria, HAS e uremia progressiva → sem tratamento – evolução para DRC, necessitando de diálise. - Estadiamento da nefropatia diabética: Estagio I – Fase inicial: Hipertrofia e hiperfiltração glomerular; Ainda sem proteinúria. Estágio I-Fase Inicial Estágio II – Fase silenciosa: Microalbuminúria pós exercícios físicos; OBS: Microalbuminúria = quando são verificados níveis entre 30 e 300 mg/24h. Estágio III – Fase de Nefropatia Incipiente: Microalbuminúria persistente. Estágio IV – Fase de Nefropatia Clínica: Proteinúria no exame sumário de urina (Albuminúria); Hipertensão Arterial. Estágio V – Fase de Doença Renal em Estágio Terminal: Proteinúria + Hipertensão; CC <10 ml/min e/ou CS > 10 mg/dl OBS: CC = clearance de creatinina; CS = creatinina sérica (VR < 1,5 mg/dL) Para a definição dorisco de evolução para nefropatias crônicas usamos o Kdigo. Todos os pacientes com diabetes devem ter sua função renal acompanhada e classificada. - Fatores de risco para nefropatia diabética: 1-Hiperglicemia 1. HIPERGLICEMIA; 2. HAS: aumento da pressão glomerular; 3. Duração da doença; 4. HIPERFILTRAÇÃO GLOMERULAR: os DM1 com hiperfiltração no início da doença apresentam 10x maior risco de evolução para a nefropatia clínica; 5. GENÉTICA; 6. OBESIDADE: a obesidade promove um aumento da hiperfiltração glomerular; 7. ETNIA: afro e hispano-americanos e em comunidades nativas (índios Pima); 8. GESTAÇÃO. OBS: Em países bastante miscigenados como o Brasil, o padrão étnico não é tão determinante. - Rastreamento da nefropatia diabética: 1. Nos pacientes com DM2 o rastreio deve ser feito ao diagnóstico da Diabetes; 2. Nos DM1, 5 anos após o diagnóstico; OBS: Lembrando que a puberdade é um fator de risco, independente para albuminúria. Todos os diabéticos que estiverem na puberdade devem fazer o rastreio da nefropatia diabética. Recomenda-se o rastreamento anual, através da taxa de filtração glomerular (estimada através da creatinina sérica) e medida de excreção urinária de albumina. Equação de Cockcroft-Gault → cálculo da TFG: - Tratamento da nefropatia diabética: OBS: Os fármacos inibidores de SGLT-2 são os fármacos mais modernos utilizados para a redução da progressão da nefropatia. Bloqueiam o SGLT-2, reduzindo a reabsorção da glicose pelo rim, aumentando a excreção de glicose e reduzindo os níveis de açúcar no sangue. Faz excretar cerca de 50-90g de glicose por dia. NEUROPATIA DIABÉTICA - Presença de sinais e sintomas de disfunção dos nervos periféricos em pacientes diabéticos, após exclusão de outras causas; - Envolve um grupo de alterações estruturais e funcionais de fibras nervosas sensitivas, motoras e autonômicas. - Sintomatologia variada, podendo ser assintomática até fisicamente incapacitante, pois depende da localização das fibras nervosas sensitivas, motoras e/ou autonômicas. - CLASSIFICAÇÃO: · Polineuropatia sensitivo-motora difusa simétrica periférica: - Forma mais comum, podendo ser de fibras finas, grossas ou mistas - Parestesia, dor (queimação, pontada, choque ou agulhada) em pernas e pés, hiperestesia (dor ao toque de lençóis e cobertores), diminuição ou perda da sensibilidade tátil (fibras grossas), térmica ou dolorosas (fibras finas), perda dos reflexos tendinosos profundos, fraqueza e perda da motricidade distal, úlceras em pés. OBS: Hiperestesia = dor intensa à estímulos não dolorosos. - Marcha talonante (~ soldado) - paciente não tem mais propriocepção dos pés - olha para o chão para pisar. · Neuropatia autonômica: - Função pupilar anormal, disfunção da sudoromotora (anidrose, intolerância ao calor, boca seca), disfunção genitourinária (bexiga neurogênica, disfunção e erétil, ejaculação retrógrada, disfunção sexual feminina), disfunção gastrointestinal (gastroparesia, constipação, diarreia, incontinência fecal), disfunção cardiovascular (taquicardia em repouso, intolerância ao exercício, hipotensão ortostática, isquemia miocárdica silenciosa). · Mononeuropatia focal: - Nervos mais acometidos são o ulnar, radial, mediano, femoral e fibular - Pares cranianos: III (óculo-motor), IV( Troclear), VI ( abducente) e VII ( facial) - Neuropatia autonômica - Disautonomia Cardiovascular: - Comprometimento do sistema nervoso simpático (SNS), com lesões em fibras nervosas que inervam o coração e vasos sanguíneos. Características: - Taquicardia em repouso - Perda da variabilidade da frequência cardíaca - Intolerância ao exercício - Vasodilatação periférica - Perda do descenso noturno da PA → pacientes não reduzem a pressão a noite. Pelo contrário, pode até aumentar a pressão arterial. - Maior labilidade pressórica - Hipotensão ortostática (diferença de 20 mmHg sistólica em pé-sentado, e de 10 mmHg diastólica sentado - de pé). - IAM silencioso - Neuropatia autonômica - Neuropatia gastrointestinal -Esofagopatia: dismotilidade, disfagia, refluxo, aspiração e acalasia; -Gastroparesia: dispepsia, empachamento pós prandial, saciedade precoce, anorexia, náuseas e vômitos, controle glicêmico ruim no pós prandial; - Enteropatia: diarréia/ constipação. - Neuropatia autonômica - Disautonomia do trato geniturinário - Bexiga neurogênica: perda do controle aferente da bexiga e a perda da capacidade de senti-la distendida (Bexigoma/ diurese por transbordamento/ resíduo vesical) - Disfunção erétil/ ejaculação retrógrada (sêmen vai p/ bexiga) - Disfunção sexual feminina (diminuição da libido, dispareunia e redução da lubrificação vaginal) - TRATAMENTO DA NEUROPATIA DIABÉTICA: · Bom controle glicêmico: Para prevenção da neuropatia · Controle da dor: ANALGÉSICOS: Tramadol, Capsaicinal (aplicação local) ANTIDEPRESSIVOS: Venlafaxina, Duloxetina, Amitriptilina ANTICONVULSIVANTES: Gabapentina, Pregabalina, Valproato de sódio · Antioxidantes: Ácido tióptico (thioctacid ácido lipoido) e benfotiamina, atuam diminuindo a ação dos AGES. Pé diabético “Pé diabético” é definido como infecção, ulceração ou destruição dos tecidos profundos associados a anormalidades neurológicas e a vários graus de doença arterial periférica nos membros inferiores. Os fatores mais importantes relacionados com o aparecimento de ulcerações são: neuropatia diabética, deformidades nos pés, traumas leves complicados por infecção, e doença arterial periférica. Pé de Charcot: · Complicação neurosteoartropática, com destruição da arquitetura óssea do pé. O comprometimento vascular + ocorrência de microfraturas estão bastante relacionados com a perda da conformação normal do pé. - Tratamento do pé diabético: · Desbridamento do tecido necrótico · Antibioticoterapia · Sapatos adequados · Órteses ou gesso no SUS não temos órteses disponíveis na maioria das vezes, então, mais frequentemente o pé diabético é engessado. COMPLICAÇÕES MACROVASCULARES: - Fisiopatologia das complicações macrovasculares: O DM favorece em muito a redução do calibre dos vasos sanguíneos que irrigam coração, cérebro e rins. Uma vez cessado o fluxo devido a completa redução do calibre da artéria, ocorrem infartos e AVEs. A hiperglicemia sustentada gera uma aterosclerose acelerada em todos os vasos sanguíneos do corpo do diabético, aumentando a probabilidade de ocorrência de complicações graves.
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