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APG04 – Complicações Crônicas da DM (“Todos por um”) Objetivos: Entender a patogênese das complicações crônicas da diabetes mellitus (retinopatia diabética, nefropatia diabética, neuropatia diabética, pé diabético e aterosclerose). Compreender as manifestações das complicações crônicas da diabetes mellitus. Explicar como se dá o diagnóstico e manejo clínico das complicações crônicas da diabetes mellitus. Entender a importância da equipe multidisciplinar da atenção primária no acompanhamento do diabetes. Entender a patogênese das complicações crônicas da diabetes mellitus (retinopatia diabética, nefropatia diabética, neuropatia diabética, pé diabético e aterosclerose). COMPLICAÇÕES CRÔNICAS DA DM SALCI, Maria Aparecida; MEIRELLES, Betina Hörner Schlindwein; SILVA, Denise Maria Vieira Guerreiro da. Prevenção das complicações crônicas do diabetes mellitus à luz da complexidade. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 70, p. 996-1003, 2017. As complicações crônicas do DM apontam para uma série de eventos complexos em sua singularidade e ainda para uma rede complexa de cuidado quando analisados na sua pluralidade. Para que a prevenção seja efetiva, afirma-se a possibilidade de manter níveis glicêmicos controlados, como uma medida efetiva para diminuir o risco e a progressão das complicações crônicas. Para um plano terapêutico efetivo, evidencia-se a necessidade de múltiplas intervenções, as quais compreendem medidas farmacológicas e não farmacológicas, com necessidade de mudanças no estilo de vida, com prática de exercícios físicos regulares; rigoroso controle da alimentação; uso correto da farmacoterapia; acompanhamento periódico em consultas e exames laboratoriais; abolição do fumo; controle da pressão arterial; imunização; atenção psicossocial; detecção e tratamento de complicações crônicas. Dentre as complicações da DM temos as doenças cardiovasculares, retinopatia diabética, nefropatia diabética, neuropatia diabética, pé diabético e alterações bucais. TSCHIEDEL, Balduino et al. Complicações crônicas do diabetes. J Bras Med, v. 102, n. 5, p. 7-1, 2014. Durante o estado hiperglicêmico de longa duração no DM, a glicose forma pontes covalentes com as proteínas plasmáticas através de um processo não enzimático, conhecido como glicação. A glicação proteica e a formação de produtos finais de glicação avançada (AGEs) desempenham um papel importante na patogênese das complicações diabéticas (retinopatia, nefropatia e neuropatia). A glicação das proteínas interfere nas funções normais pela modificação das conformações moleculares, alterando a atividade enzimática e interferindo no funcionamento dos receptores. Os AGEs ligam-se não apenas às proteínas, mas também aos lipídios e ácidos nucleicos, favorecendo as complicações diabéticas. RETINOPATIA DIABÉTICA A retinopatia diabética (RD) é a principal causa de novos casos de cegueira entre 20 e 74 anos. É mais comum no DM1 e sua incidência está fortemente relacionada à duração do diabetes. Pode-se classificar a RD em retinopatia não proliferativa (RDNP) e proliferativa (RDP). Nomeadas pela ausência ou presença de novos vasos sanguíneos anormais que emanam da retina. A retinopatia diabética não proliferativa pode ser classificada em leve, moderada ou grave e caracteriza-se pela presença de microaneurismas, micro-hemorragias, exsudatos duros e algodonosos. A progressão da doença causa diminuição da perfusão capilar, com várias hemorragias intrarretinianas, alterações no calibre venoso e anormalidades microvasculares intrarretinianas. O aparecimento de neovasos, induzidos pela isquemia retiniana, identifica a retinopatia diabética como proliferativa. RETINOPATIA NÃO PROLIFERATIVA o RD não proliferativa (RDNP) consiste em uma exibição variável de infartos da camada de fibras nervosas (manchas de algodão), hemorragias intra- retinianas e exsudatos duros e anormalidades microvasculares (incluindo microaneurismas, vasos ocluídos e vasos dilatados ou tortuosos) principalmente na mácula e retina posterior. A perda visual na RDNP ocorre principalmente pelo desenvolvimento de edema macular (EM). RETINOPATIA PROLIFERATIVA o RD proliferativa (PDR) é marcada pela presença de neovascularização decorrente do disco e/ou vasos retinianos e as consequências dessa neovascularização, incluindo hemorragia pré-retiniana e vítrea, fibrose subsequente e descolamento de retina por tração. A RDP pode desenvolver- se no contexto de alterações não proliferativas graves prévias ou coexistentes ou pode surgir sem RDNP substancial. A perda visual na RDP pode ocorrer de forma aguda se o sangramento dos vasos anormais no vítreo bloquear o caminho da luz para a retina; no entanto, o sangue é frequentemente reabsorvido e a visão clareia espontaneamente. A perda de visão mais permanente pode ocorrer por descolamento de retina, isquemia da mácula ou combinações desses fatores. o Patogênese Os mecanismos geradores de dano celular estão relacionados ao acúmulo de sorbitol intracelular e de produtos da glicação avançada, apuramento excessivo de isoformas da proteína quinase C (PKC) e presença de estresse oxidativo. O fator desencadeante da RD está relacionado a hipóxia tecidual associadaà perda de autorregulação dos vasos retinianos. Essas alterações levam à formação de microaneurismas, perda de células endoteliais e de pericitos, células com função de reparação e suporte ao endotélio capilar; o que gera um dano a barreira hematorretiniana, podendo provocar isquemia e aumento da permeabilidade vascular. Todos esses eventos podem gerar neovascularização, edema macular, além do aumento na produção de fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) e de outras citocinas inflamatórias. O VEGF recruta células de defesa para vasos retinianos, produzindo ainda mais citocinas. O estresse oxidativo, a interleucina 6 (IL-6) e o VEGF, desempenham uma função importante na patogênese da RD, principalmente na forma proliferativa da doença. Dentre outros fatores de crescimento e citocinas inflamatórias, destaca-se o fator de crescimento de fibroblasto básico (FCFb), o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), a interleucina 1 beta (IL-1β), o fator de crescimento do hepatócito (HGF), a proteína quimioatraente de monócitos-1 e a interleucina 8 (IL-8). Dentre esses, os que parecem desempenhar um papel mais enérgico nas alterações conformacionais nas junções estreitas das células endoteliais da retina, aumentando, assim, a permeabilidade vascular e consequente quebra da barreira hematorretiniana, são a IL-6 e o VEGF. A primeira alteração na RD é o aparecimento de microaneurismas, visualizados como pequenos pontos hemorrágicos no fundo de olho. Esses microaneurismas associam-se, muitas vezes, a hemorragias retinianas, microssegmentos e veias com dilatações e tortuosidades e exsudatos duros; proveninetes do extravasamento crônico de vasos retinianos e de áreas isquêmicas O desenvolvimento e a progressão da RD são causados principalmente pelos efeitos danosos nos tecidos da hiperglicemia crônica que resulta em uma interação complexa de múltiplos mecanismos, que causam duas alterações básicas dentro dos vasos retinianos: permeabilidade anormal e oclusão com isquemia e subsequente neovascularização. As contribuições relativas de diferentes mecanismos variam em importância em diferentes estágios da retinopatia e podem variar entre os indivíduos. As vias bioquímicas (glicação, proteína quinase C e vias de poliol) e alterações na função neuronal e fluxo sanguíneo da retina são particularmente importantes durante a doença inicial, mesmo antes do desenvolvimento de microaneurismas ou outros achados clinicamente visíveis. Fatores de angiogênese, como fator de crescimento endotelial vascular (VEGF)e fator de crescimento semelhante à insulina 1 (IGF-1), são mais propensos a serem importantes mais tarde no curso da doença, imediatamente antes e durante o desenvolvimento de RD proliferativa ou edema macular diabético. Diferenças na suscetibilidade genética aos efeitos da hiperglicemia na retina podem existir entre pessoas em diferentes estágios da doença diabética. Isso pode resultar em variações inter e intra-individuais nas respostas bioquímicas ou fisiológicas à hiperglicemia e pode existir entre pessoas em diferentes estágios da doença diabética. Essa variabilidade pode explicar por que alguns pacientes com diabetes têm retinopatia mínima , apesar de anos de hiperglicemia grave, enquanto em outros, a retinopatia grave se desenvolve em um curto período, apesar do controle glicêmico relativamente bom. FATORES DE RISCO Tempo de evolução da doença: é o principal fator, mais importante inclusive que o descontrole da doença de base. Dessa maneira, um paciente diabético extremamente descontrolado, mas com apenas 3 anos de doença, dificilmente terá retinopatia; em contraste com um diabético há 15 anos com bom controle que muito provavelmente tem doença retiniana. A forma não proliferativa (RDNP) está presente em aproximadamente 13% dos indivíduos com DM1 após 5 anos do diagnóstico com aumento para 80% aos 15 anos de doença. É estimado que 100% dos diabéticos há 20 anos têm algum grau de retinopatia. A forma proliferativa (RDP) é rara até os 10 anos de diagnosticado o diabetes, mas pode chegar a 50% aos 20 anos de doença. No DM2, a RDNP está presente em até 40% dos casos com até 5 anos de doença, mas a partir dos 5 anos a chance vai aumentando de 53 até 84% aos 20 anos. Já a RDP está presente em 5% dos pacientes com 5 anos de diagnóstico do diabetes, podendo chegar a mais de 50% aos 20 anos de doença. Nível glicêmico: o controle glicêmico retarda (não cura nem para) a evolução da doença. Controle metabólico inadequado Outros fatores adjuvantes são: idade, hipertensão arterial sistêmica, nefropatia, dislipidemia, gravidez e genética. A HAS e a dislipidemia funcionam de maneira semelhante ao controle glicêmico: o controle desses parâmetros por si só não para o desenvolvimento da RD, mas podem diminuir sua progressão. Quanto à gravidez , há um risco relativo 2-3 vezes maior da progressão da RD em uma paciente previamente diabética que engravidou. E na genética já se conhece alguns genes que predispõem a uma progressão mais rápida para doença retiniana, o HLA-DR fenótipo 4/0, 3/0 e XX. NEFROPATIA DIABÉTICA A nefropatia diabética (ND) é uma complicação crônica do diabetes que afeta 20% a 30% das pessoas com diabetes mellitus tipo 1 (DM1) ou DM2, sendo responsável por aproximadamente metade dos novos casos de insuficiência renal nos indivíduos em diálise e tendo sido associada a aumento significativo da mortalidade, principalmente cardiovascular. A presença de pequenas quantidades de albumina na urina representa o estágio inicial da nefropatia diabética (microalbuminúria ou nefropatia incipiente). O estágio avançado caracteriza a nefropatia clínica (macroalbuminúria ou proteinúria) e a fase terminal é a insuficiência renal. Indivíduos com ND apresentam outras condições crônicas associadas, como retinopatia diabética, doença macrovascular e hipertensão arterial sistêmica. O comprometimento glomerular no DM inicia-se, geralmente, cinco a 10 anos depois da evolução do diabetes, apresentando um aumento de incidência após 15 anos de doença. Essa fase inicial geralmente é assintomática. A nefropatia diabética era definida classicamente pela presença de proteinúria > 0,5g/24h, nos anos 80, entretanto, estudos demonstraram que pequenas quantidades de albumina na urina, geralmente não detectadas pelos métodos convencionais, eram preditivas de proteinúria no DM1 e DM2. A partir daí a ND classifica-se em estágios baseados na excreção urinária de albumina (EUA): microalbuminúria ou fase de nefropatia incipiente com EUA entre 30-300mg/24h ou 20-200mg/min; macroalbuminúria ou fase de nefropatia clínica, caracterizada por EUA superior a 300mg/24h ou 200mg/min; e fase de insuficiência renal terminal (11) — ver Tabela 1. ETIOLOGIA A etiologia ainda não é muito clara - é multifatorial. Hipóteses: o Hiperglicemia o Hiperfiltração glomerular → aumento da perfusão renal → alterações hemodinâmicas em decorrência da ação de mediadores vasoativos (IGF-1 [insulin like growth factor], Oxido Nítrico, prostaglandinas, VEGF [fator de crescimento endotelial vascular] - espessamento da membrana basal glomerular e proliferação mesangial). o AGES (produtos finais da glicação) → proteínas ou outros elementos, hemoglobina glicada → são caminhos alternativos para metabolização da glicose pela falta de insulina, os produtos desses caminhos são tóxicos → essas toxinas se depositam na membrana basal glomerular. Proteínas que sofrem transformações na sua conformação molecular através da metabolização alternativa da glicemia. Isso acaba produzindo substâncias tóxicas que estimulam a proliferação celular dentro do glomérulo. o Ativação de citocinas (inflamação). o Doença autoimune → Toll-like receptor (TLR, receptor de membrana) e células T reguladoras Induzem a formação de citocinas inflamatórias e espécies reativas de oxigênio que contribuem para a piora do DM2. A expressão do TLR tem correlação com a obesidade e níveis elevados de glicose. Contribui com a disfunção pancreática. Patógenos ativam o TLR: processo infeccioso como desencadeador do DM2. A insulina suprime a expressão do TLR. Novas drogas no tratamento do DM voltadas para o bloquei o do TLR. o Genética (polimorfismos de gene da ECA; alelo D do gene da ECA). FISIOPATOLOGIA São 3 as alterações histológicas mais importantes na ND: o Expansão mesangial → induzida pela hiperglicemia. A metabolização alternativa da glicose faz com que produzam substâncias que estimulam a proliferação celular no mesângio. Com a expansão do mesângio, empurro os capilares glomerulares, diminuindo a taxa de filtração glomerular. o Espessamento da membrana basal glomerular (MBG) → proteínas glicadas. o Esclerose glomerular pela hipertensão intraglomerular → dilatação da arteríola aferente. Os glomérulos e os rins têm tamanho normal ou aumentado e o rim também aumenta de tamanho. Diagnóstico Diferencial de outras patologias renais onde os rins têm tamanho reduzido. Exceção para amiloidose e rins policísticos que possuem rins de tamanho normal ou aumentado. Fase de hiperfiltração: a nefropatia diabética tem um aumento na taxa de filtração para depois reduzir com o tempo. A hipertensão tem papel deletério na evolução da ND → controlar hipertensão, glicemia. Metabolização da glicose por via alternativa. Terei neovascularização, síntese do colágeno, altera pH intracelular (quando tenho pH alterado, o metabolismo celular muda), produção de citocinas inflamatórias que prejudica a evolução do paciente do ponto de vista de função renal. Acumulam-se metabólitos nos tecidos renais, nos vasos. Há proliferação das células mesangiais, síntese da matriz extracelular e esclerose nodular, ou seja, metabolizar a glicose de uma forma diferente/alternativa gera esses processos degenerativos crônicos da função renal no diabético. NEUROPATIA DIABÉTICA Constituem um grupo de distúrbios heterogêneos definidos como “presença de sintomas e/ou sinais de disfunção dos nervos periféricos em indivíduos com diabetes melito (DM), após a exclusão de outras causas”. A exposição crônica à hiperglicemia constitui um fator fisiopatológico comum, correlacionado a aumentados estresse oxidativo, inflamação, glicosilação não enzimática tardia, alterações em fluxo vascular perineural, além de mecanismos autoimunes. A forma mais comumdas NDP, presente em 90% dos casos, é a polineuropatia sensorimotora crônica (PNSMC, simétrica distal), por esse motivo denominada de polineuropatia diabética (PND) ou neuropatia diabética periférica. Compromete tanto o sistema nervoso somático quanto o autonômico e pode ter uma ampla gama de apresentações e sintomatologias, a depender do órgão acometido. O risco de neuropatia tem relação estreita com a duração do diabetes e o nível de controle glicêmico. FISIOPATOGÊNESE Os efeitos metabólicos da hiperglicemia crônica associada ao estresse oxidativo no desenvolvimento das complicações microvasculares diabéticas estão bem estabelecidos,18 contudo a dislipidemia no DM2 e a redução de insulina e peptídeo C no DM1 são mais relevantes. A hiperglicemia atua no desenvolvimento da lesão e na disfunção neuroaxonal. Mínimas alterações da glicemia podem lesionar fibras finas e causar dor neuropática, como observado em casos de pré-DM (IGT, IFG), e parece que a autoimunidade pode estar envolvida. O excesso intracelular de glicose resulta do fluxo aumentado da via poliol com aumento de sorbitol e frutose decorrente da maior atividade das enzimas aldose redutase (AR), sorbitol desidrogenase e aumento do estresse oxidativo. A glicólise excessiva sobrecarrega a cadeia de transporte mitocondrial de elétrons e gera espécies reativas de oxigênio (ROS, reactive oxigen species). Há aumento da osmolalidade celular, que reduz NADPH e aumenta também o estresse oxidativo. O fluxo aumentado da via hexosamina associa-se a lesão inflamatória, e o excesso de ROS induz alterações intracelulares no retículo endoplasmático e no DNA, provocando alterações funcionais da célula nervosa. Os produtos finais de glicação avançada (AGE) aumentam, e os AGE, ligados ao receptor extracelular (RAGE), iniciam uma cascata inflamatória por meio das NADPH oxidases e da ativação de macrófagos, com produção de citocinas inflamatórias (interleucina-1, fator de necrose tumoral-alfa), fatores de crescimento (semelhante à insulina, derivado de plaquetas e do nervo), moléculas de adesão intracelular (ICAM, intracelular adhesion molecules) e fatores vasculares, danificando a função biológica das proteínas. A dislipidemia tem papel importante, sobretudo na PND do DM2. Os ácidos graxos livres (AGL) podem causar dano direto às células de Schwann e promovem liberação de citocinas inflamatórias pelos adipócitos e macrófagos. A sinalização da insulina alterada traduz-se no DM2 em resistência à insulina (RI) neuronal com inibição da via de sinalização do PI3K/Akt, semelhante a RI no músculo e no tecido adiposo,29,30 e o rompimento dessa via resulta em disfunção mitocondrial e estresse oxidativo, lesão nas fibras nervosas e agravamento da PND. No DM1, há sinalização insuficiente pela deficiência e redução do peptídeo C, causando disfunção nervosa pela reduzida atividade da Na-K-ATPase e da NO sintase endotelial (eNOS), diminuindo o fluxo sanguíneo com hipoxia endoneural. CLASSIFICAÇÃO PND típica: é a forma mais prevalente, de evolução crônica e relacionada a longa exposição hiperglicêmica e fatores metabólicos e cardiovasculares. É simétrica, distal e sensorimotora. A presença de retinopatia e doença renal do DM assegura a etiologia pela doença. Disautonomias e dor neuropática podem ocorrer ao longo do tempo. PND atípica: surge em qualquer época do curso do DM. A evolução é monofásica ou flutuante, com dor neuropática aguda ou subaguda. Disautonomias são comuns e aventam-se alterações autoimunes. ATEROSCLEROSE E DIABETES O estágio mais precoce da aterogênese as quais é caracterizado pelo acúmulo focal de macrófagos com deposição de lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e colesterol na camada íntima arterial. Em outras palavras, ocorre alterações morfológicas por causa do acúmulo de célula espumosa no espaço subendotelial do vaso, o que caracteriza o estágio mais precoce da aterosclerose. O diabetes Mellito (DM) tipo 2 é uma condição clínica associada a risco elevado de doença cardiovacular. Estudos epidemiológicos têm mostrado que a resistência à insulina e o conjunto de doenças associadas como dislipidemia, hipertensão arterial, hipercoagulabilidade, obesidade e sedentarismo; têm papel preponderante no ínicio e gravidade da aterosclerose. Existe relação direta entre resistência à insulina e aterogênese, envolvendo genes que predispõem à resistência a insulina e outros que regulam a biologia e metabolismo da parede arterial. Muitas das alterações metabólicas que acontecem no diabetes, incluindo hiperglicemia, excesso de ácidos graxos livres e resistência à insulina, comprometem a função endotelial afetando a síntese ou degradação do NO. Esta disfunção endotelial estaria envolvida nas lesões vasculares ateroscleroticas e predisporia os vasos sanguíneos a várias alterações como vaso-espasmo e trombose. A diminuição do NO, derivado do endotélio vascular, permitiria o aumento da atividade de fator de transcrição nuclear pró-inflamatório kappa Beta (NF-kB), resultando na expressão de quimiocinas e citocinas inflamatórias e moléculas de adesão leucocitária, migração de células musculares vasculares da média arterial para dentro da íntima vascular, e formação posterior de células espumosas macrofágicas que caracteriza o início morfológico da aterosclerose. PÉ DIABÉTICO Pé diabético é definido como úlcera, infecção ou destruição de tecidos moles associadas a alterações neurológicas e vários graus de doença arterial periférica nos membros inferiores. Assim, uma complicação importante da neuropatia diabética é a úlcera neuropática (mal perfurante plantar), que constitui a principal causa de internação de pessoas com diabetes. De fato, 85% das amputações de membros em pessoas com DM são precedidas por 1 ou mais úlceras nos pés. Úlceras tendem a tornar-se infectadas em pelo menos 50% dos casos. Além disso, pacientes submetidos à amputação apresentam alta mortalidade (50% em 3 anos) em razão das comorbidades frequentemente associadas (nefropatia, neuropatia autonômica, aterosclerose). Em 60% dos casos, as úlceras se devem à neuropatia por perda da sensibilidade protetora nos pés, e em 30% à associação de neuropatia e isquemia. A insensibilidade é decorrente da lesão das fibras nervosas finas (tipos C e delta) devido à exposição prolongada a hiperglicemia associada a fatores de risco cardiovasculares. Quando as fibras grossas (beta, A-alfa) são comprometidas, ocorre perda da propriocepção, do movimento articular e do feedback da percepção de posição pelos receptores nas pernas e nos pés. Em estágios avançados, ocorrem fraqueza muscular e alterações estruturais dos pés pelo comprometimento motor. COMPLICAÇÕES CRÔNICAS MACROVASCULARES As complicações crônicas macrovasculares do DM, também chamadas de doenças cardiovasculares, atingem o coração (infarto agudo do miocárdio), o cérebro (acidente vascular cerebral) e os membros inferiores (doença vascular periférica), e acometem tanto o paciente com DM2 como aquele com DM1. A maior causa de óbito nesses casos é a doença cardiovascular (DCV). Existem diversos mecanismos que participam do aumento do risco de doença macrovascular no diabético. A hiperglicemia é apenas um deles, como também estão envolvidos a hipertensão arterial, a dislipidemia e o fumo. Há uma importante sobreposição entre diabetes e hipertensão, refletindo aspectos etiológicos e fisiopatológicos comuns. Entretanto, a hiperglicemia crônica se associa a risco aumentado de desfechos cardiovasculares e mortalidade por todas as causas no DM2, independentemente de outros fatores de risco convencionais. Compreender as manifestações das complicações crônicas da diabetes mellitus. RETINOPATIA DIABÉTICA – MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A grande maioria dos pacientes que desenvolvem RD não apresenta sintomas até os estágios mais avançados (quando pode ser tarde demais para um tratamento eficaz). Os pacientes podem apresentar alguns sintomas dependendo do tipo de problema ocular (por exemplo, queda de cortina com sangramento vítreo, moscas volantes durante a resolução de sangramentos vítreos e diminuição da acuidade visual que não pode ser corrigida com refração no cenário de edema macular. NEFROPATIA DIABÉTICA – MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A nefropatia diabética é uma doença bastante silenciosa. Não há sintomas iniciais que possam indicar o surgimento das lesões nos rins que são características a elas. De início, a nefropatia diabética pode causar outras complicações, como o aumento da pressão arterial. Manifesta-se como albuminúria lentamente progressiva com agravamento da insuficiência renal e hipertensão. NEUROPATIA DIABÉTICA – MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS As manifestações e a evolução clínica são distintas, em consonância com a duração e a predominância do tipo de fibra nervosa comprometida (grossas e/ou finas, sensitivas e/ou motoras, autonômicas), embora 50% não apresentem sintomas. As primeiras sensações perdidas, em geral, são a térmica e a dolorosa. A propriocepção é a última a ser acometida. A queixa mais comum é dor, principalmente noturna, do tipo queimação ou choque, associada ou não a alodinia e cãibras. As principais mani festações clínicas de comprometimento somático são: o Dormência ou queimação nos membros inferiores; o Formigamento, pontadas, choques, agulhadas em pernas e pés; o Desconforto ou dor ao toque de lençóis e cobertores; o Além de queixas de diminuição ou perda de sensibilidades tátil, térmica ou dolorosa. Evolui, após período variável, para anestesia completa nas extremidades, o que determina (nos pés) a distribuição anormal da pressão, provocando deformidades (artropatia de Charcot), com alto risco de infecção e amputação. Uma forma comum dessa manifestação é o mal perfurante plantar, em que o paciente, por perda da sensibilidade, evolui com lesão necrótica crônica da região plantar dos pés, indolor, de difícil cicatrização. Sintomas motores também podem estar presentes, mas costumam ser mais tardios e leves, atingindo, principalmente, a musculatura intrínseca distal das mãos e dos pés. ATEROSCLEROSE – MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Os sintomas da doença aterosclerótica são mais frequentes nas artérias que irrigam o coração, o cérebro, os rins, as extremidades e o intestino delgado. No entanto, a aterosclerose é geralmente assintomática até que a estenose da placa exceda 70 ou 80 por cento do diâmetro luminal, o que pode produzir uma redução no fluxo, como ocorre com o fluxo sanguíneo coronário para o miocárdio. O Infarto do miocárdio, infarto cerebral e aneurisma aórtico são as maiores consequências dessa doença. Além disso, a diminuição na irrigação pode levar à gangrena dos membros inferiores ou à oclusão mesentérica. PÉ DIABÉTICO – MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Se não for tratado, o pé diabético pode levar à amputação. Sintomas: – formigamento; perda da sensibilidade local; dores; queimação nos pés e nas pernas; sensação de agulhadas; dormência; além de fraqueza nas pernas. Tais sintomas podem piorar à noite, ao deitar. Explicar como se dá o diagnóstico e manejo clínico das complicações crônicas da diabetes mellitus. RETINOPATIA DIABÉTICA - DIAGNÓSTICO Um exame médico dos olhos Angiografia por fluoresceína Fotografias em cores e tomografia de coerência óptica NEFROPATIA DIABÉTICA - DIAGNÓSTICO O diagnóstico se faz com base em história, exame físico, exame de urina e relação albumina/creatinina urinária. NEUROPATIA DIABÉTICA - DIAGNÓSTICO O rastreamento anual para investigar a PND e PNDD é a partir de 5 anos de duração para o DM1 e ao diagnóstico no DM2. O diagnóstico de PND é de exclusão, e outras causas de neuropatia periférica devem ser afastadas. A pesquisa de sensibilidade com monofilamento de 10 g, também conhecido como monofilamento de Semmes-Weinstein, deve ser realizada anualmente. Também é importante a avaliação dos reflexos tendinosos nos membros inferiores (o primeiro a ser perdido é o aquileu). Diapasão, para avaliar a sensibilidade vibratória nos pés, aparelhos para avaliar a distribuição de pressão na região plantar e eletroneuromiografia podem ser indicados, dependendo da apresentação. Além disso, sempre se deve afastar outras causas comuns de neuropatia: deficiência de vitamina B12, hipotireoidismo, insuficiência renal, neoplasia, alcoolismo, neuropatias compressivas e hepatites virais. O Painel de Toronto define a PND como: o Possível: presença de sintomas (dormência, formigamentos, dor em queimação, pontadas nos dedos, pés ou pernas) ou sinais (sensibilidades diminuídas ou reflexos aquileus comprovadamente diminuídos ou ausentes). o Provável: presença de dois ou mais sintomas e sinais de diminuição das sensibilidades ou reflexos aquileus diminuídos ou ausentes. o Confirmada: existência de anormalidade de velocidade de condução nervos (VCN) e um ou mais sintomas ou um ou mais sinais neuropáticos. ATEROSCLEROSE - DIAGNÓSTICO Pacientes com alta probabilidade de aterosclerose ou com sintomas compatíveis podem necessitar de avaliação através de exames mais específicos, como teste ergométrico, cintilografia, tomografia ou cateterismo. Nos pacientes com aterosclerose, é importante calcular o risco cardiovascular, que se faz principalmente por meio de escores. Esta ação ajuda orientar esforços preventivos, não pelos riscos atribuíveis à elevação de fatores isolados, como a pressão arterial ou o colesterol, mas pelo somatório de riscos decorrentes de múltiplos fatores, estimado em cada indivíduo com aterosclerose. O principal utilizado no Brasil é o Escore de Framingham, que demonstra o risco do indivíduo desenvolver um evento cardiovascular maior, definido por IAM, AVC ou morte por causa cardiovascular, em 10 anos. PÉ DIABÉTICO - DIAGNÓSTICO A pesquisa de neuropatia periférica deve ser realizada pelo menos anualmente, usando o monofilamento de 10 g (monofilamento de Semmes-Weinste in), e com exame clínico cuidadoso dos pés no mínimo 1 vez por ano. O monofilamento deve ser aplicado com pressão suficiente para encurvar-se em, pelo menos, 4 locais na região plantar de ambos os pés (hálux e extremidades distais do primeiro, terceiro e quinto metatarsos ), perguntand o ao paciente se sentiu a pressão nesses locais. Outros exames, como a eletroneuromiografia, podem ser necessários nos casos de dúvida diagnóstica. Na suspeita de insuficiência arterial, pode-se realizar Doppler vascular ou angiografia. Índice tornozelo-braço é útil para detectar casos subclínicos de insuficiência vascular crônica nos membros inferiores. -------------------- XX ---------------- RETINOPATIA DIABÉTICA - TRATAMENTO O oftalmologista poderá sugerir um ou mais métodos terapêuticos com objetivo de reduzir a perda de visão do paciente (ou cegueira) ou na tentativa de melhorar a sua acuidade visual. o Fotocoagulação a laser o Farmacomodulação com antiangiogênico o Implante intravítreo de polímero farmacológico de liberação controlada o Tratamento cirúrgico (vitrectomia via pars plana). NEFROPATIA DIABÉTICA - TRATAMENTO O tratamento é realizado por meio de controle glicêmico estrito, inibidores da angiotensina [usando inibidores da enzima conversora de angiotensina [ECA], e/ou bloqueadores do receptor da angiotensina II (BRAs)] e controle da pressão arterial e dos lipídios. NEUROPATIA DIABÉTICA - TRATAMENTO Controle rígido dos níveis de açúcar no sangue. Controle dos sintomas dolorosos provocados pela neuropatia. Cuidados constantes com os pés, para evitar maiores complicações.PÉ DIABÉTICO - TRATAMENTO Uso de antibióticos; Uso de pomadas antimicrobianas no local afetado; Novas alterações na dieta ou no uso de medicamentos para controlar a diabetes; Realização de curativo diário da ferida. ATEROSCLEROSE - TRATAMENTO O tratamento para aterosclerose consiste na prevenção de eventos cardiovasculares maiores, instituindo-se estilo de vida saudável. As mudanças no estilo de vida, que comprovadamente diminuem o risco de doenças cardiovasculares, inclui rotina com exercícios físicos regulares, alimentação balanceada, cessação do tabagismo e com baixo consumo de gorduras e sal, além do controle dos fatores de risco para doenças como obesidade, diabetes, hipertensão e colesterol. Pacientes com baixo ou moderado risco cardiovascular, segundo o Escore de Framingham, e sem evento cardiovascular maior prévio devem ser tratados apenas com mudança no estilo de vida e controle medicamentoso da hipertensão ou diabetes. Todos os pacientes com alto risco cardiovascular segundo Escore de Framingham, devem utilizar estatina de alta potência, independentemente do colesterol LDL basal. Para os pacientes com evento cardiovascular maior prévio, além da estatina, recomenda-se terapia com aspirina dose protetora (100-300mg) em longo prazo. Entender a importância da equipe multidisciplinar da atenção primária no acompanhamento do diabetes. O trabalho de prevenção contra o DM pode ocorrer de duas formas, contra o início do DM (prevenção primária) ou de suas complicações agudas ou crônicas (prevenção secundária). Tais estratégias consistem em Educação em Saúde, grupos de orientação preventiva, reuniões com profissionais da saúde, entre outros. Sendo assim, é importante que ocorra uma intervenção multiprofissional em saúde, para que os dados epidêmicos do DM sejam reduzidos. Pacientes diabéticos, muitas vezes, desconhecem a gravidade dessa doença, por falta de informação necessária. Frequentemente, os atendimentos clínicos à diabéticos acontecem com um tempo insuficiente para sanar todas as dúvidas do enfermo, até pela alta demanda de agendamentos feitos pelo Sistema Único de Saúde. O trabalho de orientação e prevenção realizado por equipes multiprofissionais em pacientes diabéticos está bem estabelecido. Os principais fatores avaliados nesta prevenção são listados como mudança de estilo de vida, redução de estresse físico e emocional, correção de peso corporal (perda ou ganho se necessário) e exercício físico. O trabalho de prevenção é feito principalmente em unidades básicas de saúde (UBS), por nutricionistas, enfermeiros, fisioterapeutas e educadores em Saúde, dentro de um programa atenção primária à saúde. Muitos estudos demonstraram que mudanças no estilo de vida são efetivas em retardar ou prevenir o diabetes, oferecendo uma qualidade de vida maior aos pacientes. Ele reforça a importância de aproximar o usuário do sistema, mas ressalta que acima do trabalho em grupo, deve existir a especificidade de cada profissional, o que se trata de uma visão moderna. O saber técnico-científico desses profissionais são fundamentais para que os mesmos possam intervir no processo saúde-doença. O indivíduo diabético pode ter várias complicações, e cada profissional contribui para evitá-las. A intervenção da equipe multiprofissional no tratamento do DM traz ações transformadoras que favorecem o paciente. O elo entre o conhecimento teórico- prático dos profissionais de saúde, a imposição de estratégias de cuidado com o Diabetes, e a participação dos usuários e familiares, potencializam os efeitos benéficos no tratamento dessa doença. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS PEREIRA, Júlia Amoroso et al. Atualizações sobre retinopatia diabética: uma revisão narrativa. Revista Eletrônica Acervo Saúde, n. 49, p. e3428-e3428, 2020. SALCI, Maria Aparecida; MEIRELLES, Betina Hörner Schlindwein; SILVA, Denise Maria Vieira Guerreiro da. Prevenção das complicações crônicas do diabetes mellitus à luz da complexidade. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 70, p. 996-1003, 2017. TSCHIEDEL, Balduino et al. Complicações crônicas do diabetes. J Bras Med, v. 102, n. 5, p. 7-1, 2014. REIS, Samuel Cavalcante. Uma revisão bibliográfica sobre aterosclerose. Revista Eletrônica Acervo Científico, v. 3, p. e444-e444, 2019. FERREIRA, Daniel Leonardo et al. O efeito das equipes multiprofissionais em saúde no Brasil em atividades de cuidado com o diabetes. Revista Eletrônica Acervo Saúde, n. 17, p. e91-e91, 2019. VILAR, Lucio. Endocrinologia clínica. 6. ed. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.
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