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1 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 ABDOMEN AGUDO NÃO TRAUMÁTICO ➢ Caso clínico Um paciente de sexo masculino, 28 anos, procura o serviço de emergência por sentir dor abdominal. O quadro havia iniciado há 36 horas de sua chegada com o aparecimento de dor difusa em cólica e náuseas. Nas últimas 12 horas, a dor passa a ser constante e localizada no quadrante inferior direito, acompanhada de um episódio de vômito e de temperatura axilar de 37,8°C. A dor piora com contração da parede abdominal e à deambulação. Ao realizar exame físico, o paciente encontra-se prostrado e imóvel. À palpação do abdome, ele tem contração involuntária da musculatura da parede abdominal no quadrante inferior direito (defesa) e dor forte à retirada súbita de compressão manual nessa região (rebote, sinal de Blumberg). A partir de hemograma solicitado, evidencia-se leucocitose leve (14.000/mm3) com desvio à esquerda (11% de bastonados e 61% de segmentados). - Quadro típico de apendicite, fácil de diagnosticar. ➢ Caso clínico 2 Paciente do sexo masculino, 39 anos, atendido no Pronto Atendimento com quadro de dor abdominal difusa, intensa e de início súbito, com cerca de 3 horas de evolução. Trazido à sala de exames em cadeira de rodas, com fácies de dor e gemendo. Acompanhante relatou episódios de náuseas e vômitos após o início do quadro. Ao exame encontrava-se pálido, sudorético, taquipnêico, apresentando abdome difusamente doloroso com tensão aumentada e sinal de Blumberg positivo. A frequência cardíaca era de 102 bpm e a pressão arterial de 110x60 mmHg. Exame complementar: raio X do tórax faz parte da avaliação do abdômen agudo. Achado típico que já dá o diagnóstico sindrômico. Com esse quadro clínico e o raio X, há presença de pneumoperitôneo (ar na cavidade peritoneal), diagnóstico de abdômen agudo perfurativo. No raio X, aparece o diafragma (linha branca à direita); embaixo, o fígado na parte maciça. Não deveria ter nada entre o diafragma e o fígado, mas tem uma parte preta – ar na cavidade peritoneal, pneumoperitôneo. Não houve nenhum ferimento por arma de fogo, então o ar veio de uma víscera oca. Na linha escura à esquerda, há a bolha gástrica, então é difícil saber se a linha preta é a bolha (o estomago pode estar em contato com o diafragma e ter ar) – aparentemente, parece pneumoperitôneo, fora do estômago. ABDOMEN AGUDO • Não é uma patologia em si. É uma condição clínica, uma dor abdominal de início recente. • É a síndrome que envolve mais doenças em toda a área da medicina. • Causa mais comum de internação cirúrgica de emergência (7% das consultas em emergência); • A maioria não coloca risco de vida, mas tem uma porcentagem significativa que evolui a complicações graves. Engloba várias condições que variam desde causas banais até situações de elevada mortalidade (10% complicações graves); • A evolução clínica pode variar de minutos a horas ou mesmo semanas. 2 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 ABDOMEN AGUDO NÃO TRAUMÁTICO o Revisão anatômica; o Tipos de dor abdominal; o Definição e causas de abdômen agudo; o Avaliação clínica no abdômen agudo; Exemplos: → Apendicite. Principal causa de abdômen agudo cirúrgico; → Colecistite aguda; → Civerticulite de colon; → Perfurações – úlcera gástrica, duodenal perfurada; → Dissecção de aorta. Causa vascular, diferente das mais comuns; → Causas ginecológicas. Gravidez ectópica, cisto roto de ovário, cisto hemorrágico, DIP; → Hérnias encarceradas; → Litíases urinárias, principalmente litíase renal – obstrução de ureter. Quadrantes abdominais O abdome se divide em 9 partes, através de 2 linhas imaginárias – duas verticais passando pela linha m clavicular e duas horizontais, uma passando no bordo inferior do rebordo costal e outra entre as duas espinhas ilíacas antero-superiores. Hipocôndrio direito e esquerdo, flancos direito e esquerdo, fossa ilíaca direita e esquerda. Epigástrio, mesogástrio (região umbilical), hipogástrio. Topografia dos órgãos em contato com a parede abdominal anterior. O fígado fica protegido pela arcada costal. O estômago está na região do epigástrio. Intestino delgado na região central. Cavidade peritoneal – peritônio Uma das 3 grandes cavidades no organismo: cavidade craniana, torácica e abdominal; A cavidade peritoneal é formada pelo peritônio, cavidade vazia, os órgãos que se localizam dentro apenas estão se projetando para dentro; O peritôneo se comporta como uma barreira passiva. Apresenta uma área de superfície de cerca de 1 m2. Formado por células mesoteliais. Contém, em condições normais, menos de 50 ml de líquido. Absorvido constantemente, tem um fluxo. Serve para que não ocorra aderências pelas vísceras que se projetam para a cavidade. 3 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 Reveste a cavidade abdominal e recobre as vísceras abdominais. Durante a formação do feto, dos órgãos e vísceras, existe um crescimento da parte posterior. O intestino primitivo cresce e se projeta para frente, para a região ventral, como se fosse uma mão empurrando o balão – parece que a mão está dentro do balão, mas na verdade está só empurrando, fica revestida pela parede do balão. Junto com essa projeção, é preciso que venha a irrigação e inervação dessas vísceras, representada pelo punho – mesos. Olhando lateralmente, o intestino delgado cresce da parte posterior se projetando para dentro da cavidade. O saco peritoneal vai contornando as alças intestinais e os vasos que vem da região posterior, da aorta, permanecem até chegar na parede das vísceras. O mesentério é uma dobra, dupla camada de peritônio, onde passam os vasos. Quando o fígado cresce, é revestido por peritônio, está se projetando para dentro das cavidades. Esse peritônio no fígado recebe um nome específico – cápsula de Glisson. Quando o peritônio envolve a camada muscular do intestino delgado, colon ou estômago – chamado de serosa. Em cada área que o peritônio se adere, recebe um nome específico. É interessante que, na frente, na parede anterior, tenho só a musculatura, parede abdominal, nenhuma víscera – peritônio parietal, não está em contato com as vísceras. Se estiver em contato, chama-se peritônio visceral. A projeção na frente é o grande omento – tecido gorduroso, espesso que fica sob o intestino delgado. Tem uma função específica importante na avaliação de abdome agudo. Projeção de peritônio. O pequeno omento é a dupla camada na pequena curvatura do estômago que vai do estômago ao fígado. É como se fosse o meso do estômago, mas em vez de chamar mesogástrio é o pequeno omento. O peritôneo que recobriu o fígado não veio diretamente até a parede posterior, faz uma curvatura, volta e depois continua recobrindo o fígado. O ligamento hepato-gástrico é chamado pequeno omento. 4 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 Retroperitônio – parte posterior ao peritônio. Alguns órgãos não são envoltos por peritônio completamente, como o pâncreas, que a parede posterior fica em contato com a musculatura, sobre as vértebras; o duodeno também não tem revestimento completo, apenas parede anterior; os rins só têm peritônio na face anterior. Os que tem revestimento completo são chamados de infra-peritoniais. A parte atrás do estomago e na frente do mesocolont transverso há uma bolsa fechada, que, na verdade, tem uma abertura só – bolsa omental ou retrocavidade dos epíplons. Imagine que tenho um processo inflamatório nessa região, uma pancreatite ou perfuração de parede posterior do estômago, o conteúdo inflamatório, o líquido pode ficar fechado nessa região, sem se disseminar na cavidade peritoneal como um todo – quadro clínico diferente. Normalmente, o grande omento é um tecido mais espesso pois existe uma fusão das 4 camadas, a partir do colon transverso para baixo que se une.Se eu retirar a parede anterior do abdome, acessando a cavidade peritoneal, tenho as vísceras e o grande omento que se projeta a partir da grande curvatura do estômago. Então, visualizo a parede anterior do estômago e, logo para baixo, projeta-se o grande omento. Se eu levantar o grande omento, aparece se inserindo o colon transverso e, por trás, enxerga-se o mesocolon transverso. Então, a parede posterior do estômago está nessa bolsa omental, na área fechada – para chegar até essa região, preciso seccionar junto à grande curvatura para ter acesso à região. Seccionados vários vasos do grande omento. Preservada a artéria arcada gástrica da grande curvatura. Separou-se o omento, uma parte ficou para baixo e outra junto à grande curvatura do estômago. Quando levanto, acesso à bolsa omental; consigo visualizar a parede posterior do estômago, onde vai estar o pâncreas. A haste passa por trás do pedículo e fica em cima do pâncras. Foi levantado o estômago para mostrar. É um dos acesso para retrocavidade. 5 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 O pequeno omento, para o lado esquerdo é limitado pela porção distal do esôfago e a pequena curvatura gástrica – tem um limite. Do lado direito, a projeção acontece até onde tem estruturas do pedículo hepático. Então, tem o desenho da aorta, tronco celíaco com um dos ramos – hepática comum depois hepática própria vindo para o fígado. Não preciso ter um revestimento de peritônio que vai até a parede lateral. Nessa região onde o peritoneo dobra, é onde passa o colédoco, a veia porta e a artéria hepática. O pequeno omento termina ali, não se continua lateralmente. Faz a volta e forma a camada dupla. Atrás do ligamento hepatoduodenal, entre o ligamento e a veia cava, forma-se um hiato (forame omental). O único acesso natural da retrocavidade dos omentos. Colocando na prática clínica, vemos que, como o espaço é pequeno, se eu tiver uma pancreatite, por exemplo, um processo inflamatório na bolsa omental vai gerar aderências que podem fechar o orifício natural (forame omental) e, assim, ter uma área totalmente fechada, com formação de abscesso, pus, sem ter disseminação para a cavidade peritoneal como um todo. Se estiver restrito à essa bolsa omental, não tenho irritação do peritônio parietal, o que pode confundir no exame físico. Uma das abordagens cirúrgicas para a borda omental. Posso seccionar o grande omento hunto a grande curvatura gástrica, tendo acesso a parede posterior do estômago, pâncreas.... 6 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 O peritônio recebe a inervação da estrutura que está revestindo: • Peritôneo Visceral – inervado pelo SNA, os impulsos sensoriais penetram por ambos os lados da medula. Quando tenho um estímulo do peritônio visceral, uma irritação, tenho um tipo de dor – pulsos que vão na região central, neurônios que chegam pelos dois lados da medula. O córtex interpreta como uma dor com características específicas – dor pouco definida, geralmente sentida na linha média, justamente pois não tenho uma separação completa de um lado ou de outro. • Peritôneo Parietal ou somático – inervação aferente através dos nervos raquidianos, cujas fibras penetram na medula ipsilateral. Se eu tiver uma irritação do peritônio parietal, são nervos somáticos que tenho uma definição precisa da localização de cada lado. O SNA tem uma divisão que segue a formação e origem do intestino primitivo superior, médio e inferior. Cada um dos brotos do intestino forma algum órgão. A irrigação dos órgãos do intestino primitivo superior parte do tronco celíaco. A partir da 4ª porção do duodeno, todo o intestino delgado, apêndice, ceco, colon ascendente até a metade do transverso se origina do intestino primitivo médio, recebendo vascularização da artéria mesentérica superior. O restante do colon é pelo intestino primitivo inferior, irrigação pela artéria mesentérica inferior. Se eu tiver uma irritação do peritônio visceral recobrindo a vesícula, vou ter dor interpretada como uma dor na linha média da região epigástria. Se for no intestino delgado, a dor vai ser interpretada como periimbilical. No inferior, uma dor mais baixa no hipogástrio. Como a inervação da vesícula, por exemplo, é a mesma do estômago, posso ter uma úlcera no estômago ou uma inflamação na vesícula e a dor vai ser a mesma – não tem como diferenciar a dor inicial. Se evoluir o processo e atingir o peritônio parietal, terei uma dor de acordo com o local. Se eu tiver um processo inflamatório inicial no apêndice, fossa ilíaca direita, a dor também será periumbilical, quadro inicial da apendicite. Tipos de dor abdominal • Dor visceral – irritação do peritônio visceral; • Dor parietal (somática) – irritação do peritônio parietal; • Dor referida (irradiada). DOR VISCERAL o Sensação dolorosa profunda, surda e mal localizada; o Fibras aferentes do SNA; o Receptores na parede das vísceras ocas e cápsulas dos órgãos sólidos; o Desencadeada por distensão, isquemia ou contração exagerada (espasmo) da musculatura da víscera. Na apendicite, por exemplo, tenho dor periumbilical pois o mecanismo inicial 7 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 acumula líquido no apêndice e distende, produzindo um estiramento no peritônio visceral, provocando a dor na serosa do apêndice; o Sentida na linha mediana do abdome SEM CONTRATURA ABDOMINAL no exame físico: ▪ Inervação bilateral; ▪ Unilateral: rins, ureter e anexos uterinos. Como são órgãos duplos, posso ter dor visceral de um lado ou do outro. DOR PARIETAL o Nervos somáticos; Fibras aferentes de T6 a L1; o Dor bem localizada; o Peritônio parietal que revestem a parede abdominal e raiz dos mesentérios posteriormente; o Distribuição cutânea unilateral; o Desencadeada por inflamação, edema ou congestão vascular; o Agravada por estímulo do peritôneo parietal, como movimento, tosse... provoca um movimento entre as vísceras e o peritônio parietal, estimulando-o e desencadeando dor – a partir disso, usam-se as manobras; o DOR PARIETAL --- frequentemente CAUSA CIRÚRGICA; o Aguda, em pontada, bem localizada e constante; o Associada a rigidez muscular e Íleo adinâmico; o Pode ser provocada por manobras de irritação peritoneal; o Defesa muscular o Voluntária o Involuntária ▪ Local; ▪ Generalizada (“abdome em tábua”) – peritonite difusa, por exemplo, com pús na cavidade peritoneal, musculatura contraída de forma involuntária; DOR REFERIDA o Dor sentida em um local diferente daquele do estímulo nocivo; o Ocorre em área inervada pelo mesmo neurosegmento do órgão envolvido. O estímulo do diafragma pode provocar dor no ombro, por exemplo – posso ter um processo inflamatório e até uma colecistite, hepatite e sentir dor naquele lado do ombro; o Dor visceral é comumente referida; o Geralmente por processos INFLAMATÓRIOS; o Diafragma ------ dor no ombro; o Trato biliar -------- dor no ombro direito; o Intestino delgado ------- dor em região dorsal. A inervação do sistema urinário é a mesma. Posso ter uma dor no rim e a dor ser sentida no testículo do mesmo lado – é uma primeira manifestação da litíase renal. 8 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 Causas não-abdominais • Afecções torácicas • Processos inflamatórios pulmonares que irritam a pleura parietal; • Afecções da pleura parietal; • Pneumotórax e hemopneumotórax; • Pericardite aguda; • Embolia e infarto pulmonares; • Infarto do miocárdio – dor epigástrica, fazer um eletro. DOR ABDOMINAL AGUDA • 5 a 10% das consultas em Emergências; • 15 a 40% dos casos necessitam de tratamento cirúrgico; • Desafios: o 1/3 dos casos não tem apresentação típica; o Se diagnóstico incorreto – mortalidade aumenta 2,5 vezes em idosos. Não possodeixar passar um abdome cirúrgico e nem operar um paciente que não precisaria de tratamento cirúrgico. Interfere na morbi-mortalidade dessa síndrome. Abdomen agudo – definição e causas • Apendicite Aguda; • Colecistite Aguda; • Obstrução de Intestino Delgado; • Abscesso Tubo-ovariano; • Doença Inflamatória Pélvica; • Pancreatite Aguda; • Úlcera Gástrica ou Duodenal Perfurada; • Diverticulite Aguda; • Gravidez Ectópica Rota; • Cisto Ovariano Roto ou Hemorrágico. 9 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 Causas mais frequentes de abdome aguda A maioria das causas de abdome agudo não tem um diagnóstico etiológico específico. É uma dor abdominal que se investiga as principais causas e se resolve sem ter um diagnóstico específico. Mas, quem tem diagnóstico, as causas mais comuns são: apendicite aguda e colecistite aguda. Obstrução de intestino delgado – hérnias, tumores, várias origens. Causas ginecológicas. Pancreatite aguda e, depois, outras causas menos frequentes. Idade Em pacientes mais jovens (abaixo de 50 anos), a apendicite aguda foi a causa mais frequente de diagnóstico etiológico, seguido de colecistite. Em pacientes acima dos 50 anos, a colecistite foi mais frequente do que apendicite. Na avaliação clínica, devemos determinar se o tratamento será cirúrgico ou não. ANAMNESE DOR – principal sintoma. → Dor de origem parietal – grande chance de ser cirúrgico; → Dor visceral – pode ser cirúrgico ou não (maioria não). • Forma de início; • Duração; • Características; • Localização; • Irradiação; • Frequência; • Cronologia; • Intensidade; • Fatores de alívio; • Fatores de piora; • Sintomas associados. Modo de início da dor • Abrupto – ruptura de aneurisma da aorta, perfuração de víscera oca, gravidez ectópica rota. Dor muito rápida – paciente consegue definir quando começou – nos leva a pensar em patologias como uma perfuração de víscera oca, pois, na perfuração do estômago, há extravasamento do suco gástrico, com pH baixo, irritativo para o peritônio parietal. Se tenho uma perfuração e extravasamento do suco gástrico, dá um estímulo muito forte e rápido. • Rápido (até 1-2h) – colecistite, pancreatite; • Gradual (várias horas) – inicialmente desconforto, após, bem localizada – irritação peritoneal: apendicite, diverticulite. Na apendicite, o processo de estímulo do peritônio é gradativo – distensão, processo inflamatório visceral até atingir o parietal – pode demorar algumas horas. 10 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 Dor contínua x intermitente • Intermitente: obstrução (digestiva, urinária) – contração exagerada do intestino para tentar vencer o obstáculo, o que provoca dor, mas vai relaxar de novo, a dor vai aliviar... depois, contrai novamente; • Contínua: infalamação ou isquemia que permanece. A. Perfuração. Inicia e aumenta de intensidade de forma rápida e permanece com a dor intensa pois o estímulo é constante. B. Dor por obstrução. Geralmente, por contração exagerada da musculatura. Tem uma dor muito forte, mas de duração curta, diminui, depois aumenta, diminui, depois aumenta... C. Abdome agudo inflamatório – apendicite e colecistite. A dor vai aumentando gradualmente e lentamente até chegar em um patamar de dor forte e persistente. Duração da dor Persistente, por mais de 6h, forte intensidade: tratamento cirúrgico. Quando o paciente vem a consulta com uma dor já há 6 horas, de forma contínua e forte intensidade – provável que a causa seja uma etiologia que exija tratamento cirúrgico. Característica importante para definir conduta no PA: se a dor de início for recente e não tiver característica para pensar em causa cirúrgica, mantém-se o paciente em observação para ver se a dor vai persistir ou aliviar. Localização e características da dor • Dor visceral: mal localizada, imprecisa, linha média; • Dor parietal: bem localizada, unilateral, bem definida; • Irradiação; • Migração: apendicite, úlcera duodenal perfurada. Frequência da dor • Episódios prévios: menos provável que seja doença cirúrgica. Sintomas associados à dor • Vômitos o Pela dor ou pela doença primária; o Vômitos precedendo a dor: em geral não cirúrgico; o Obstrução intestinal: alta – vômitos biliosos, precoces (estômago, intestino delgado). Baixa – vômitos fecalóides, tardio (colon sigmoide, reto). • Hábito intestinal o Diarreia: Doença Inflamatória Intestinal (Crohn); o Constipação: Obstrução (atenção – diarreia paradoxal). Em uma obstrução de reto ou sigmoide, quando a luz intestinal começa a diminuir, por exemplo, um tumor – em um primeiro momento, posso ter uma diarreia paradoxal, que acontece pois, dentro do intestino tenho sólidos (fezes), líquidos que chega no intestino grosso e é absorvido e 11 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 gases (ar). O mais difícil de passar por essa obstrução são os gases. Já o bolo fecal, muitas vezes, com o peristaltismo, consegue empurrar e distender o obstáculo, ultrapassando. Por isso, a primeira manifestação é a distensão gasosa e o paciente não elimina fatos. O líquido pode passar em torno do tumor, pois consegue passar por qualquer espaço, então o paciente tem, muitas vezes, fezes líquidas em pequenas quantidades. • Icterícia – causa biliar • Hematêmese – vômito com sangue; • Hematoquesia; • Anorexia – grande parte dos diagnósticos de abdome agudo. Mas, se tiver um paciente já com anorexia nas últimas semanas, penso em uma causa tumoral, neoplasia. Fatores de alívio e piora da dor Auxilia na diferenciação entre estímulo de peritônio visceral e parietal. Tem movimentos que fazem estimular o peritônio parietal. • Estímulo peritoneal – respiração profunda, tosse, caminhar, espirros... • Imobilidade no leito, posição antálgica – peritonite. Paciente que fica quieto. Mais chances de ser causa cirúrgica. • Com dor visceral, típico por cólica renal, obstrução de ureter – paciente não tem posição, nem quer se sentar, fica andando de um lado para outro – provavelmente, não seja causa cirúrgica. História Médica Pregressa • Especialmente cirurgias prévias. Ruptura no peritônio pode levar a um processo cicatricial com aderências no futuro. Quanto maior à cirurgias, mais chance de ter aderências, mas qualquer uma pode causar aderências intraperitoniais pode ter entre o intestino delgado e a parede abdominal, por exemplo, e essas aderências podem levar a uma obstrução intestinal. Até 30-40% que fazem cirurgia abdominal, irão ter um sintoma de obstrução intestinal em 10 anos. Uso de drogas • Corticoides – pode mascarar a dor; • Anticoagulantes – hematêmese; • Cocaína. Localização da dor De acordo com a origem da víscera, posso ter um estímulo do SNA – primitivo superior, médio inferior. A dor vai ser percebida no epigástrio, região umbilical ou hipogástrio. Sempre na linha média, se for dor de origem visceral. Quando a dor passa a ser de origem parietal, terei de acordo com a localização, quando o peritônio estiver sendo irritado. Dor difusa no abdome – peritonite difusa (irritação de todo o peritônio parietal) ou um processo vascular (tipo de abdome agudo específico). 12 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 Irradiação De acordo com o local: A dor no ombro, na região escapular pode ser provocada por irritação no diafragma. A dor de cólica biliar pode ser refletida no dorso no mesmo lado. Questionário chave com 10 perguntas que não podem deixar de ser feitas em pacientes com dor abdominal aguda. 1. Qual sua idade? (patologias diversas, maior risco em idosos). Diferença na incidência de patologias de acordo com a idade. Mais jovens = apendicite, menos comum pensar em um tumor. Pacientes +50 anos = colecistite, posso pensar em causa tumoral. 2. Descreva a localização e as característicasda dor e migração (súbita, em cólica, aumento progressivo...) A dor é constante ou intermitente? (Constante é pior...) Já teve essa dor antes? (Nenhum episódio prévio é pior...) A dor iniciou em região central e migrou para o quadrante inferior direito? (alta especificidade para apendicite) 3. Existem fatores de alívio ou piora da dor? (comer, respiração profunda...) 4. Já sofreu alguma cirurgia abdominal previamente? (obstrução intestinal) 5. Tem náuseas, vômitos, diarreia, constipação? 6. Você é HIV +? 7. Ingere bebidas alcoólicas? 8. Você está grávida? Evitar exames com radiação. 9. Você está usando antibióticos ou corticoides? 10. Você tem antecedentes de doença cardíaca ou vascular, HAS, fibrilação atrial? Eletrocardiograma – investigar IAM ou detectar uma fibrilação arterial. EXAME FÍSICO ASPECTO GERAL • Atitude (imóvel, curvado, ou inquieto, movimentando-se); • Posição antálgica; • Capacidade de responder, expressão facial. SINAIS VITAIS – determinação do grau de urgência • Febre: baixa (colecistite, apendicite, diverticulite); alta (pneumonia, ITU, infecções ginecológicas, colangite); • Hipotermia: sinal de gravidade; • Taquicardia e hipotensão: maior gravidade. 13 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 EXAME DO ABDOME (incluindo toque retal e ginecológico) • Inspeção Cicatrizes (risco de obstrução intestinal por aderências), hérnias (risco de encarceramento, estrangulamento), distensão abdominal (visível – obstrução, inflamação difusa), equimoses (por exemplo, em flancos – pancreatite aguda). • Ausculta Ruídos hidro-aéreos (sem, aumentados, cont., intermitentes) – o ar é mais difícil de passar pela obstrução, aumento na força de contração para vencer aquele obstáculo, isso gera um tipo de ruído hidro-aéreo chamado de metálico. • Percussão Timpanismo (obstrução) ou macicez (ascite); Tamanho de órgãos, peritonite; • Palpação Abdomen rígido, defesa voluntária; Examinar o ponto mais doloroso por último; Dor à descompressão (outras manobras); Pesquisar hérnias. SINAIS ESPECÍFICOS • BLUMBERG: dor à descompressão abrupta do abdomen – peritonite localizada; • MURPHY: parada da inspiração por dor a palpação do HD, comprimir abaixo do rebordo costal onde está o fundo da vesícula – colecistite; • SINAL DO PSOAS: compressão da fossa ilíaca D faz levantar membro inf. D; • SINAL DE JOBERT: desaparecimento da macicez hepática; pneumoperitôneo; • ROVSING: dor no ponto de McBurney quando compressão do cólon descendente - apendicite aguda; • KEHR: dor no ombro esquerdo quando compressão subcostal – hemoperitôneo (ruptura de baço); • CHARCOT: dor em HD, icterícia e febre – coledocolitíase; • AARON: dor no epigástrio pela compressão firme na FID – apendicite; • CHANDELIER: dor importante em baixo ventre com mobilização do colouterino – DIP; • CHARCOT: Dor em HD, icterícia e febre – coledocolitíase; • COURVOISIER: Vesícula biliar palpável e icterícia indolor – tumor de papila duodenal; • CULLEN: equimose periumbilical – hemoperitôneo; • GREY TURNER: áreas de descoloração periumbilical e flancos – pancreatite aguda hemorrágica; • TEN HORN: dor em FID pela tração do testículo D – apendicite aguda. 14 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 EXAMES COMPLEMENTARES – devem ser complementares, já ter uma hipótese diagnóstica – • Hemograma, bioquímica, qualitativo de urina o Leucocitose, hematúria, amilasemia (elevada na pancreatite), enzimas hepáticas, bilirrubina o Beta HCG – em alguns lugares é rotina quando se tem abdomen agudo. • Radiograma do abdômen agudo o Barato, disponível – um dos mais utilizados – mas lembrar que tem radiação; o Tórax AP e perfil o Abdomen AP em decúbito dorsal e ortostatismo o Abdomen decúbito lateral com raios horizontais o Pneumonia, obstrução intestinal, perfuração intestinal, cálculos urinários, fecalito, gás no sistema porta hepático, aneurisma calcificado, borramento do psoas, ar na parede dos cólons, etc • Outros exames de imagem • Eletrocardiograma – para identificar causas de dor abdominal não abdominais; obstrução vascular por êmbolos. ACHADOS RADIOLÓGICOS Raio X de tórax em AP e perfil. O de abdômen geralmente são 3 incidências: duas anteroposterior (uma com paciente em pé e outra deitado). Tenho um raio passando pelas estruturas. Quanto mais raio chegar na placa atrás, mais preta vai ficar a região. Então, consigo ter diferenças de opacidade. Parte branca: ossos, pois passa menos raios. Parte pretas: onde tem ar, passa mais raios. É normal ter ar no reto. Se não tiver ar no reto, é um indicativo de obstrução que não está passando ar do intestino para o reto. Se eu tiver uma apendicite que levou a um processo inflamatório, incluindo a região do psoas, acaba levando a uma retenção de líquido e extravasamento para o espaço extracelular – faz com que a opacidade da gordura diminua, perdendo a diferenciação de contraste (borramento do psoas), processo inflamatório do retroperitôneo. Achado de pneumoperitônio. Ar na cavidade peritoneal. O fígado fica branco e o diafragma fica em contato com o fígado. Separação dos dois órgãos pelo ar. Abdome agudo perfurativo. 15 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 Pneumoperitôneo do lado esquerdo – mais difícil encontrar. Separação entre o diafragma e o fundo gástrico. Ar no fundo do estômago (normal), mas identifico ar entre o estômago e o diafragma, que não é normal. Em cima – Bolha gástrica; não é pneumoperitôneo. Distensão de intestino delgado – Áreas mais escuras no meio – formam tubos. Não é normal ter ar no intestino delgado. Identifico pela topografia, bem na região central do abdome. Imagem de “empilhamento de moedas” – característico do delgado pois tem uma camada muscular circular uniforme que dá essa imagem quando ele distende, diferentemente dos colons, que tem austrações e não tem uma camada circular contínua como no intestino delgado. Presença de ar além do normal. É esperado ter ar no reto. Apendicite aguda. Posso ter um processo inflamatório em volta do apêndice que pode incluir um segmento de intestino delgado. O íleo está próximo do ceco, onde está o apêndice. Se o processo inflamatório atingir uma área de intestino delgado, perde a capacidade de peristaltismo, funcionando como uma obstrução funcional. Não tenho um obstáculo dentro da luz intestinal, mas tem uma dificuldade de passagem do conteúdo, acumulando ar que é o mais difícil de passar. Muitas vezes, tenho uma alça distendida próxima à região do apêndice – alça sentinela. Área do fígado. Bolsa enorme de ar. Poderia ser colon transverso, mas é muito grande, muito distendido. Então, pela topografia, é exatamente a posição do estômago. Dilatação gástrica significativa, importante. Íleo biliar. Ar na vesícula biliar ou vias biliares. Obstrução intestinal. Localização anormal de cálculo já conhecido. Cálculos na vesícula que produzem processo inflamatório, erosão na parede da vesícula que pode atingir o duodeno, perfurar ele e o cálculo passar da vesícula direto para o duodeno, através de uma fístula. Além do cálculo entrar no duodeno, terá ar no duodeno que entra para a vesícula – esse ar pode ir para a via biliar. Obstrução do intestino delgado. 16 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 Entre as setas, é o colédoco. Distensão do intestino delgado – sinal de empilhamento de moedas. Não tenho ar no reto. Provavelmente, o cálculo que caiu para o duodeno migrou até obstruir algum local, geralmente, na válvula ileocecal que é mais estreita. Obstrução do intestino grosso – dos colons. Se eu tiver uma válvula ileocecal competente, não deixa refluir conteúdo do colon para o intestino delgado, se eu tiver uma obstrução no sigmoide, vou ter uma distensão importante dos colons sem ter distensãodo delgado, pois a válvula não deixa refluir o conteúdo do grosso para o delgado. Isso pode provocar uma distensão do ceco bem importante, e quando tiver > 9cm, corro risco de ruptura por isquemia. Válvula ileocecal que não é competente, deixando refluir conteúdo do ceco para o delgado, posso ter distensão do grosso ou do delgado, pois reflui ar, conteúdo fecal. Revisando – Abdomen agudo não traumático Situação patológica de urgência que requer uma ação rápida, pela presença de um processo que pode levar à morte do paciente. Diagnosticar se é cirúrgico ou não, pois a decisão do tratamento modifica o prognóstico. 17 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 Causas mais frequentes de abdomen agudo Apendicite aguda, colecistite aguda e obstrução do intestino delgado. Ultrassom • Rápido; • Barato; • Seguro; • Disponível; • Examinador dependente o Patologias pélvicas; o Apendicite; o Colecistite; o Doenças inflamatórias? Ecografia fossa ilíaca direita, mostrando um apêndice. Está um pouco distendido, não é normal ter esse diâmetro. Apendicite inicial. Quando tem uma distensão do apêndice, há uma dor inicial periumbilical pois tenho um estímulo da serosa do apêndice, do SNA, dor mal definida, linha mediana, periumibilical. O apêndice está em contato com a parede abdominal. Se o processo inflamatório chegar até o peritônio parietal, a dor passa a ser localizada na fossa ilíaca direita. Ecografia do abdômen superior. A área mais escura é o fígado e a área bem preta é a vesícula biliar normal. Cálculo biliar dentro da vesícula. Pode obstruir o ducto cístico e causar dor. Como funciona a ecografia? O transdutor emite um som que, à medida que chega nas estruturas, pode ser refletido e voltar para o transdutor, que tem um receptor que vai medir e identificar de onde que está voltando o som e, a partir de então, forma as imagens. Quanto mais voltar o som, mais ecogênico vai ficar a imagem. O fígado, por exemplo, é uma víscera sólida mas tem muito sangue, muito líquido, tem uma ecogenecidade intermediária. Quanto mais líquido, mais preta vai ficar a imagem, pois o som passa facilmente pelo líquido. Se o som é muito bem transmitido através do líquido, vai refletir mais as estruturas posteriores, então há um reforço da ecogenecidade atrás do líquido, pois não absorveu quase nada – o som foi transmitido e voltou. (exemplo, vesícula biliar). Uma estrutura sólida como o cálculo fica hiper ecogênica. Forma a sombra acústica “cone” que é formado, uma sombra, pois o som voltou. Com isso, consigo ter o diagnóstico de estruturas sólidas, como um cálculo. Por isso, a ecografia é muito boa para diferenciar se é uma estrutura líquida ou hipodensa na tomografia, pois, quando é liquida há um reforço posterior. 18 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 Processo inflamatório da vesícula – colecistite. Inflamação. O tratamento é cirúrgico de emergência. Na ecografia, consigo identificar os sinais de inflamação que são um espessamento da parede da vesícula, que, normalmente tem 2-3mm. Principais limitações para se fazer uma ecografia: • Em um quadro de abdômen agudo obstrutivo, ou seja, se eu tiver uma distensão abdominal gasosa importante, muito ar no abdômen, ele não transmite bem o som, então se eu tiver alças de intestino distendidas, o exame vai ficar muito prejudicado, principalmente se eu quiser ver estruturas próximas às vísceras ocas ou mais profundas. Para ver o apêndice em um paciente muito distendido é difícil. A vesícula é mais fácil pois tem o fígado como interface, então mesmo em uma distensão abdominal, é muito fácil visualizar. Então, a distensão abdominal é uma contraindicação relativa, um limitador para o resultado de ecografia. • Obesidade. Pacientes obesos com uma camada de tecido adiposo muito grande dificulta o exame, pois não transmite bem o som. Tomografia Computadorizada • Demorada; • Cara; • Necessita de um radiologista; • Uso de contraste iodado EV; • Indicada seletivamente após a avaliação clínica criteriosa. A tomografia sem contraste é ruim, geralmente uso um contraste iodado. • Indicações: o Diverticulite – diagnosticada em 93%, terapêutica; drenagem percutânea); o Pancreatite – controle da evolução. Na pancreatite grave, é obrigatório fazer tomografia. o Obstrução intestinal/isquemia • Não tem influência da distensão ou camada de tecido adiposo, pois é por radiação e não por som, então posso utilizar em qualquer paciente, sem limitações. Laparoscopia (diagnóstica/terapêutica) Raramente necessária; Útil na mulher pré-menopausa no diagnóstico diferencial entre patologia anexial ou apendicite; Mulheres com dor pélvica (dúvida entre doença inflamatória, gravidez ectópica, cisto de ovário, apendicite) – algumas são causas cirúrgicas e outras não. Então, posso fazer uma laparoscopia para visualizar. Precisa de anestesia geral. Vantagem: já posso fazer a terapêutica conforme o diagnóstico que eu identificar. Condutas frente à um abdômen agudo Depois que fizer avaliação com anamnese, exame físico, exames complementares, defino se o paciente vai: • Ficar em observação; • Laparoscopia; • Laparotomia exploradora. 19 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 Tratamento inicial • Reposição volêmica endovenosa; • Descompressão naso-gástrica (SNG). Grande parte dos casos de abdômen agudo, principalmente os cirúrgicos, acabam tendo uma distensão gástrica; • Antibioticoterapia (se suspeita de infecção já inicia de forma precoce); • Analgesia – narcóticos? Quando? Normalmente se usa um analgésico potente, mas de curta duração, por exemplo, morfina. o Vantagens: permite uma história e exame físico melhores; o Desvantagens: pode mascarar a evolução natural da dor e suas características, onde muitas vezes se faz o diagnóstico. Quando operar? • Peritonite – irritação do peritônio parietal. Se faz o diagnóstico pela avaliação do tipo de dor. Se identificar essa irritação, localizada ou difusa, é uma forte indicação de abdômen agudo cirúrgico, podendo ser avaliada pela anamnese e exame físico; • Dor – septicemia; • Isquemia intestinal; • Pneumoperitôneo. No raio X, a maioria é identificada. Se não tenho nenhum trauma e tenho ar na cavidade peritoneal, há uma perfuração de víscera oca – cirurgia. Diagnóstico • Etiológico; • Sindrômico – de acordo com as manifestações clínicas, determino qual tipo de mecanismo está acontecendo no paciente para dividir as causas em síndromes. Há 5 tipos de abdômen agudo: o Inflamatório; o Perfurativo; o Obstrutivo; o Vascular; o Hemorrágico. Perfurativo • Extravasamento de ar dentro da víscera; • Dor súbita, intensa e localizada; • Dor a percussão, a palpação com sinais de irritação peritoneal; • Náuseas e vômitos reflexos e poucos marcantes; • Distensão abdominal; • Febre de início está ausente; • Posição antálgica (imóvel); • RHA estão diminuídos ou ausentes. Se eu tiver uma perfuração e extravasar suco gástrico, terá uma dor de início súbito – paciente sabe exatamente qual o momento da perfuração pois já começa a ter dor de forte intensidade. Normalmente, não tem febre no início do quadro pois não dá tempo de ter todo esse processo inflamatório. Se tiver essa suspeita, faço um raio X de abdômen. 20 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 Tomografia consegue detectar pequenos volumes na cavidade peritoneal. Inflamatório • Dor progressiva, moderada a intensa e localizada; • Percussão e palpação com muita dor localizada com sinais de irritação peritoneal – quanto difuso, pensar em complicações; • RHA diminuídos ou ausentes; • Distensão abdominal precoce; • Vômitos reflexos; • Febre em geral presente (difer. Axilo-retal); • Posiçãoantálgica; • Toque retal ou genital pode ser doloroso. Na colecistite – obstrução do ducto cístico, distensão da vesícula pois não vai esvaziar, estiramento da serosa, processo inflamatório químico, inicialmente. A dor vai aumentando progressivamente. Sinal de Murphy. Na apendicite, Sinal de Blumberg. 21 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 Obstrutivo • Dor gradual e em cólica; • Náuseas e vômitos reflexos no início e após fecalóides; • Parada de eliminação de gases e fezes; • Distensão abdominal; • Afebril; • Desidratação precoce e marcante; • RHA de luta e após ausentes; • Percussão com timpanismo acentuado; • Palpação pouco dolorosa e sem sinais de irritação peritoneal; • Toque retal pode revelar a causa. Intussuscepção. Acontece às vezes na válvula íleo-cecal. O intestino delgado entra no ceco e no colon ascendente, protui para dentro do intestino grosso. No intestino delgado, paciente com pólipo, tumor de intestino delgado, normalmente são pediculados, tumor preso por um ponto da parede do intestino... então quando vem o conteúdo, empurra o pólipo adiante e, como está preso, puxa o intestino para dentro dele mesmo. VASCULAR • Causado por uma obstrução no sistema circulatório, geralmente do intestino. • Dor súbita, intensa, contínua e difusa (podendo ser em cólica e surda); • A percussão e palpação não modificam muito a intensidade da dor; • Náuseas e vômitos reflexos no início e após fecalóides; • Parada de eliminação de gases e fezes; • Distensão abdominal pouco marcante no início; • Desidratação precoce e marcante; • Afebril, podendo a temperatura retal estar abaixo da axilar; • RHA progressivamente ausentes; • O exame clínico não condiz com a dor. 22 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 Isquemia vascular, pode ser na chegada (obstrução arterial), podendo ter uma embolia. Também pode ser causada por obstrução venosa (trombose) que é difusa, já acontece nas pequenas veias que drenam o intestino e progridem para as veias maiores. O tratamento é mais complexo pois não há muitas opções; já a arterial, pode-se retirar o êmbolo e a circulação volta a acontecer. Característica principal para suspeitar de vascular = desproporção entre a dor que o paciente refere em relação ao esperado no exame físico. O tipo de dor é de forte intensidade e, normalmente, de progressão muito rápida – parecida com o que acontece no perfurativo, mas lá já tem sinais de irritação peritoneal no mesmo momento, instantâneo. HEMORRÁGICO • Hemorragia digestiva; • Extravasamento de sangue para dentro da cavidade peritoneal • Aneurisma abdominal roto; • Cisto ovariano hemorrágico roto; • Gravidez ectópica rota; Primeiro, tenho os achados de hemorragia, perda de voluma sanguínea, parecido com o que acontece no trauma. De acordo com o volume de perda sanguínea, tenho os achados – hipertensão, palidez, sudorese. Do ponto de vista abdominal, o mecanismo básico é a presença de sangue do peritônio, que é pouco irritativo, então a dor que causa é leve e vai aumentando lentamente. O quadro típico é uma dor associada a achados de hipovolemia, que não acontecem de forma tão evidente em outros tipos, então não é difícil achar o diagnóstico. Os exames que se fazem: normalmente, ecografia já consegue identificar a presença de líquido e sugerir que seja sangue pela ecogenecidade. Pode fazer laparoscopia (diagnóstico e tratamento). 23 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 24 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 Suspeitar de perfuração de víscera oca. Se tiver sinais de peritonite, a suspeita principal é perfurativa, raio X do abdome pode dar o diagnóstico se tiver pneumoperitôneo; se não tiver, devemos avaliar outras causas. Se tiver uma dor de início súbito e não tiver sinais de peritonite, suspeita da possibilidade do tipo específico de abdome agudo que é o vascular. O que pode aumentar a suspeita é se tiver acidose e aumento do lactato – grande quantidade de tecido isquêmico. Se tiver acidose ou aumento do lactato, fazer direto uma tomografia. Se é isquemia arterial, faço cirurgia para revascularização ou angiografia com tratamento endovascular. Se não for diagnóstico, ficar em dúvida, considerar fazer a arteriografia. Abordagem de acordo com a localização da dor. Dor em quadrante superior direito ABDOME AGUDO NA GESTAÇÃO 1/500 necessitam cirurgia não-obstétrica durante a gravidez; Causas mais comuns: o Apendicite aguda; o Colecistite; o Obstrução intestinal; o Pancreatite; o Trauma Particularidades Sinais de peritonite podem não estar presentes pela liberação dos hormônios; 25 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 Útero pode obstruir e inibir o movimento do omento para área de inflamação; Exames • Ecografia o Segura; o Boa sensibilidade e especificidade; o Exame de escolha para maioria dos casos • Exames com radiação o Primeiro trimestre: tudo ou nada fenômeno; o Período crítico para teratogênese SNC: 10-17 semanas.
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