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1 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 APENDICITE AGUDA Incidência de 1 em cada 6 indivíduos, sendo rara antes dos dois anos, pouco frequente em idosos e mais comum em adolescentes ou jovens agudos. Primeira descrição do século XIX. Foi uma das primeiras descrições de dissecção nos cadáveres, pois a apendicite sempre existiu. 1940 – Penicilina – redução da mortalidade para 2%. 1990 – Flora microbiana – diagnóstico precoce – radiologia intervencionista. Mortalidade < 1%. A descoberta da penicilina foi um dos fatores que ao longo do tempo auxiliou para redução da mortalidade da apendicite, bem como um maior conhecimento da flora polimicrobiana e da radiologia intervencionista. Dificuldades na apresentação clínica. A posição habitual, com o ponto de McBurney, onde está localizado a base do apêndice – local da dor. Começa com dor visceral – periumbilical – e depois vai para a fossa ilíaca direita, provocando irritação do peritônio parietal. Variações do apêndice No apêndice, há uma variação ampla de posição, então quando acontece a rotação intestinal no feto, essa rotação pode ser menos ou mais completa, podendo ter apêndices em locais mais altos, que não descem até a fossa ilíaca – podendo ter um quadro clínico que confunda com colecistite aguda. Também pode estar na pelve, descendo mais do que o habitual, podendo ter um quadro de dor mais pélvica do que na fossa ilíaca, podendo confundir com outros diagnósticos ginecológicos. Mesmo um apêndice com posição habitual, o corpo do apêndice pode se projetar para baixo (usual), pode ficar na frente do íleo terminal ou atrás do íleo – base na posição normal, mas o corpo varia. Um processo inflamatório pode causar precocemente um processo inflamatório no íleo terminal e oclusão intestinal, antes de ter o quadro típico de dor parietal. Também há a possibilidade de ter o ceco e o apêndice no lado esquerdo, quando não tem uma rotação do intestino. Posso ter um apêndice que se desenvolve por trás do cólon, demorando mais tempo para ter a irritação do peritônio parietal. Obstrução do lúmen apendicular ▪ Hiperplasia dos folículos linfoides – 60%. Não se sabe exatamente a função do apêndice, mas se supõe que seja um órgão apresentador de antígenos. Então, como tem uma quantidade grande de tecido linfoide, se supõe que tem uma função imunológica como identificador de antígenos. O tecido linfoide aumenta na adolescência – uma das razões para apendicite acontecer mais em adolescentes e adultos jovens; ▪ Fecalitos – 35%. Fragmentos de fezes endurecidas que podem entrar na luz do apêndice e obstruir. ▪ Corpos estranhos. Qualquer conteúdo que foi ingerido, mas não digerido. 2 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 ▪ Estenoses inflamatórias, parasitas e outras causas – 5%. Qualquer processo inflamatório no apêndice, por outra causa, por exemplo, doença de Chrom, pode obstruir e levar à apendicite. Obstrução rara = tumores do apêndice, podendo levar à apendicite. Mesmo jovens com apendicite devemos confirmar se não há um tumor que causou a apendicite. Sequência de eventos Quando obstrui a luz do apêndice → Secreção mucosa estagnada na luz → proliferação bacteriana → secreção de toxinas = dano epitelial e ulceração da mucosa → invasão bacteriana e estabelecimento do processo inflamatório. Aumento da pressão intra-luminal e intersticial → produz uma isquemia por compressão, diminui o retorno venoso → infarto e gangrena → perfuração do apêndice: plastrão e abscesso localizado ou peritonite difusa. Quadro clínico característico • Dor periumbilical, visceral, migrando para a fossa ilíaca direita com sinal de dor parietal. • Posso ter anorexia, náuseas e vômitos no início, decorrente da presença de toxinas na circulação. • Desconforto no abdômen ou pelve, dor inespecífica. • Febre já no início do quadro pelas toxinas e processo inflamatório (febre baixa, menor do que 38ºC). se tiver uma complicação como peritonite, perfuração, abscesso, pode dar febre alta (> 38ºC). • Leucocitose nos exames laboratoriais. +-15.000 com leve desvio à esquerda. Se tiver uma muito grande com desvio maior, pensar em complicação. • Rigidez muscular localizada na FID: percebida à palpação ou nos movimentos respiratórios; • Rigidez do psoas e do quadrado lombar: localização posterior do apêndice; • Febre: em geral não excede 38ºC antes da perfuração, a qual ocorre, em geral, entre 24 e 36 horas após o início dos sintomas. • Taquicardia (dor ou translocação bacteriana ou perfuração); • Distensão abdominal (por íleo adinâmico); • (apêndices retro-cecais e subserosos ou, quando difusa e intensa, possibilidade de perfuração e peritonite difusa). • Dor e/ou retração testicular – inervação comum de ambas as estruturas (T10). Dor no exame físico ➢ Dor à palpação: em geral ausente no quadro inicial; ➢ Dor à palpação do “ponto de McBurney” é precoce, dentro do quadro de dor na FID, porém inconstante; ➢ Dor à percussão da FID: irritação do peritônio parietal. ➢ Dor ao toque retal e/ou vaginal: apêndice de localização pélvica; ➢ Dor à descompressão brusca (sinal de Blumberg); ➢ Dor na FID à palpação da FIE (sinal de Rovsing); ➢ Sinal do músculo psoas: dor à extensão do MID; ➢ Sinal de músculo obturador: dor à rotação externa do MIC fletido. 3 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 Dados Laboratoriais o Leucocitose: em geral entre 10 e 20.000 ou apenas desvio nuclear à esquerda. Pode haver contagem normal, principalmente em idosos; o Hematúria: se houver irritação do ureter ou bexiga. Escore achados do quadro clínico e exames iniciais para suspeita de apendicite Exames de imagem Ecografia mostrando um apêndice, longitudinal, mostrando um aumento da luz do apêndice, distendido e uma evidência maior das paredes. Consigo identificar a mucosa e submucosa mais branquinha. Fase inicial de uma apendicite. A parede do apêndice é toda a parte branca. Paredes bem mais espessas. Diagnóstico de apendicite aguda. Corte longitudinal. Além de ter paredes espessadas, há áreas hiperecogênica produzindo sombra posterior. Apêndice distendido, com a luz aumentada, paredes espessadas e conteúdo dentro da luz. Na segunda imagem, corte transversal, círculo com paredes espessadas e conteúdo que produz sombra posterior. Corte longitudinal. Área hipoecogênica em volta – líquido em torno do apêndice. Apendicite com líquido que pode ser inflamatório. 4 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 O branco é contraste ingerido via oral. Imagem tubular com paredes espessas e adensamento do tecido em volta. Imagem típica de uma apendicite com processo inflamatório peri-apendicular. Bactérias em apendicites perfuradas • Aeróbios e facultativos o Escherichia coli o Streptococcus virídens o Patudomonas seruginosa; o Streptococcus do grupo D; o Enterococcus. • Anaeróbios o Bacterioides fragilis; o Peptostreptococcus micros; o Blophila. Tratamento de apendicite aguda Reposição volêmica – devido à perda de líquidos mensuráveis (vômito, diarreia) ou para o interstício pelo processo inflamatório. Deve ser precoce para repor a perda de volemia e preservar a função renal. Na suspeita de apendicite, iniciar antibióticos de amplo espectro. Antibióticos com espectro para anaeróbios e aeróbios, especialmente gram-negativos (cefoxetina, clindamicina ou metronidazol e aminoglicosídeos). Cirurgias • Convencional o Opções de Incisão; o Drenagem de abscessos localizados; o Associação com peritonite difusa; o Apêndice normal; • Acesso laparoscópico o Especialmente quando o diagnóstico é incerto e em pacientes obesos; o Peritonite difusa. Apendicite Perfurada. Tecido necrótico, inflamatório. Espessada, endurecida. 5 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 Acesso laparoscópico Apendiciteinicial. Obstrução na região. Posso ter uma apendicite de ponta do apêndice, em que apenas a ponta fica inflamada. Cuidados em apendicite ➢ Idosos – apendicite simulando neoplasia. ➢ Jovens – neoplasia manifesta por apendicite. Caso clínico PJB, um homem de 62 anos, pedreiro, procura o pronto-socorro com queixa de dor abdominal há 2 dias. Diz que a dor é “no meio da barriga” e vem aumentado. No começo, melhorou com analgésico que a esposa lhe deu, mas agora não passa e dói “a barriga toda”. Vomitou duas vezes ontem e três hoje. Evacuou muito pouco hoje cedo. Diz que não elimina gases desde o início da dor. Passou no pronto-socorro perto de sua cada, onde fez a radiografia mostrada a seguir, tomou medicação na veia, que aliviou um pouco a dor e as náuseas e foi orientado a procurar um hospital maior, se a dor voltasse. Está sem fome, embora sinta muita sede. Diz que desde ontem “não para nada no estômago”. O exame físico revela que o paciente está em bom estado geral, mas bastante desidratado. O abdômen é globoso, está bastante distendido e é difusamente doloroso. Na região inguinal direita, nota-se um abaulamento de cerca de 5cm de diâmetro. É doloroso. Não está hiperemiado. O paciente diz que não se queixou “desse caroço”, porque faz mais de 2 anos que ele “aparece e recolhe” e só dói quando é palpado. Há 2 dias apareceu e não saiu mais. Raio X para confirmar a apendicite. Percebe-se alças de delgado distendidas. Sinal de empilhamento de moedas. Não aparece pneumoperitôneo, nem distensão dos colons. Normalmente, nas hérnias, o que protui é o intestino delgado.
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