Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Alice Bastos Epistaxe Introdução A epistaxe é definida por um sangramento proveniente das fossas nasais secundário a uma alteração na hemostasia da mucosa nasal; É a emergência mais comum em otorrinolaringologia; A maioria dos episódios são de intensidade leve e autolimitados; → 6 a 10% dos pacientes necessitam de atendimento especializado. Epidemiologia A epistaxe apresenta uma distribuição bimodal, sendo mais frequente em menores de 10 anos e em maiores de 45 anos; → A necessidade de hospitalização aumenta com a idade, sendo incomum em crianças; Nas crianças, os episódios de epistaxe tendem a recorrer, mas são habitualmente autolimitados e raramente observados em crianças com menos de 2 anos; A epistaxe é mais frequente no inverno em decorrência dos seguintes fatores: → Variações de temperatura e umidade; → Aumento na incidência de infecções de vias aéreas superiores e crises de rinite alérgica. Etiologia As principais causas de epistaxe podem ser divididas em locais ou sistêmicas. Alterações locais Trauma por manipulação digital: uma das causas mais comuns, principalmente em crianças; Trauma facial: a gravidade da epistaxe depende dos mecanismos do trauma, mas geralmente os sangramentos são anteriores; Lesão iatrogênica: após procedimentos otorrinolaringológicos; Alteração na umidade ambiental: ambientes secos podem causar ressecamento e irritação da mucosa com consequente sangramento; Corpo estranho: a epistaxe geralmente é unilateral e acompanhada por rinorreia purulenta; Alterações infecciosas: quadros de rinossinusites, alérgicas ou infecciosas; Alterações neoplásicas: os tumores nasossinusais que mais cursam com epistaxe são carcinoma escamocelular, adenoide cístico, melanoma, papiloma invertido e nasoangiofibroma juvenil; Alterações anatômicas: alterações como desvios septais, podem tornar a mucosa nasal mais suscetível a sangramentos; Uso de medicamentos ou drogas: o uso crônico de corticosteroides tópicos nasais pode ter a epistaxe como efeito colateral; → Além disso, o uso de drogas como a cocaína também deve ser investigado; Aneurisma ou pseudoaneurisma da artéria carótida: visto principalmente em pacientes submetidos à cirurgia prévia de cabeça e pescoço ou após trauma. Alterações sistêmicas Distúrbios de coagulação: alterações plaquetárias, hemofilias, doença de von Willebrand, leucemias e hepatopatias podem ser causas de epistaxe volumosa e recidivante; Uso de anticoagulantes/antiagregantes: pacientes anticoagulados estão sob risco maior de apresentarem episódios de epistaxe; Uso de fitoterápicos: os que mais comumente podem alterar a agregação plaquetária são Ginkgo biloba, o óleo de peixe, o extrato de alho, a vitamina E e o ginseng; Hipertensão*: ainda existe dúvida sobre se a hipertensão seria a causa ou se a pressão estaria Alice Bastos elevada por ansiedade do paciente diante do quadro de epistaxe; Telangiectasia hemorrágica hereditária (THH): é uma doença autossômica dominante caracterizada por malformações arteriovenosas na pele e em mucosas; → A epistaxe recorrente é a manifestação clínica mais característica e pode ser de difícil controle. Avaliação e manejo geral A avaliação inicial do paciente com epistaxe visa manter a via aérea pérvia e controlar o estado hemodinâmico (seguindo o ABC); As manobras de intervenção a serem utilizadas dependem da intensidade da perda sanguínea; → Essa intensidade pode ser mensurada pela história clínica (tempo e quantidade aproximada) e pelo estado geral e dados vitais (frequência cardíaca, respiratória e pressão arterial); Se possível, deve-se colocar o paciente em posição sentada, levemente inclinado para frente e pedir que ele elimina coágulos que eventualmente estejam na faringe; Deve-se tentar um acesso venoso periférico com envio de material para tipagem sanguínea; → O paciente pode necessitar de reposição volêmica, inicialmente com solução salina, até transfusão sanguínea, dependendo da intensidade da perda; Após a avaliação inicial, um exame físico geral deve ser realizado. História clínica A anamnese bem realizada é importante para um adequado manejo terapêutico; Deve-se avaliar o tempo, a frequência, a lateralidade e estimar a quantidade da perda sanguínea; Comorbidades e condições predisponentes devem ser investigadas. Exame otorrinolaringológico A limpeza da cavidade nasal para remoção de coágulos (aspiração ou lavagem com solução salina) deve ser realizada a fim de proporcionar uma melhor inspeção de seu interior; Na rinoscopia anterior, deve-se avaliar minuciosamente a área de Little, localizada na região septal anterior, onde se encontra o plexo de Kiesselbach; → Este é o principal local de sangramento; A avaliação de toda a mucosa deve ser realizada em busca de sangramento ativo, ulcerações, corpo estranho ou lesões tumorais; → Os sangramentos posteriores tendem a ser mais volumosos, tornando mais difícil a visualização do foco inicial; A endoscopia nasal permite a visualização do foco do sangramento em mais de 80% dos casos. Avaliação laboratorial Um hemograma completo deve ser realizado, principalmente em pacientes com epistaxe severa, visando acompanhar o nível de hemoglobina/hematócrito para avaliar a necessidade de hemotransfusão; Não há embasamento científico para a avaliação da coagulação inicialmente, a não ser em: → Pacientes usuários de anticoagulantes; → Pacientes com comorbidades (hepatopatias ou distúrbios de coagulação); → Crianças com sangramento volumoso. Tratamento Medidas iniciais feitas pelo próprio paciente como o uso de vasoconstritor tópico nasal, compressão nasal direta e uso de compressas geladas, podem ser suficientes para controle dos casos de epistaxe leve; → Caso o sangramento persista, o tratamento específico pode ser iniciado. Alice Bastos Cauterização Se o ponto de sangramento for identificado, a cauterização química ou elétrica é o tratamento de escolha; → É um método vantajoso, com redução de morbidade e tempo de permanência no hospital; A cauterização química é habitualmente o tratamento de primeira escolha; A anestesia nasal deve ser realizada para diminuir o desconforto do paciente; A cauterização é realizada inicialmente em uma pequena área ao redor do ponto sangrante e só posteriormente na área central; Cauteriza-se a menor área possível, por poucos segundos (menos de 10 segundos) até a região ficar esbranquiçada; Cauterização elétrica é tão eficaz quanto a química e tem a vantagem de ser mais efetiva que esta quando existe sangramento ativo; → A desvantagem é que pode causar desconforto maior ao paciente caso não tenha sido realizada anestesia eficaz. Tamponamento nasal anterior Se a cauterização inicial for ineficaz ou se não for possível localizar o ponto de sangramento, o tamponamento nasal anterior é o próximo passo no fluxograma terapêutico; O paciente deve ser tranquilizado e colocado em posição confortável, além de ser feita adequada anestesia e vasoconstrição também devem ser realizadas; Inicialmente, tenta-se o tamponamento anterior unilateral; → Caso não cesse o sangramento, deve-se fazer o tamponamento anterior bilateral; Os pacientes devem ser reavaliados para remoção do tampão em 24 a 48 horas; Caso o tamponamento anterior não seja suficiente para controle da epistaxe, técnicas para o tamponamento nasal anteroposterior devem ser instituídas. Tamponamento anteroposterior Pacientes com epistaxe posterior severa e pacientes com sangramento refratário ao tamponamento anterior devem ser submetidos ao tamponamento anteroposterior; Esses pacientes devem ser hospitalizados para um adequado manejo; O material mais utilizado para o tamponamento anteroposterior é a sondade Foley com balonete de Foley, associado ao tamponamento anterior com gaze; → Uma sonda de Foley n° 10 a 16 é introduzida pela fossa nasal até ser visualizada na orofaringe; Após a colocação da sonda de Foley, o tamponamento anterior deve ser confeccionado conforme técnicas descritas anteriormente; A sonda deve ser fixada adequadamente a fim de reduzir o risco de aspiração e obstrução da via aérea; O tampão deve ser desinsuflado em 24 a 48 horas e, se não houver sangramento ativo, removido; → A permanência do tampão por mais de 72 horas está associada ao aumento de complicações, como necrose, síndrome do choque tóxico e rinossinusites.
Compartilhar