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Pergunte a um Expert 6 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 5, out./nov. 2009 Qual a diferença entre uma radiografia convencional e uma radiografia digital? Eduardo Kazuo Sannomiya* * Mestre e doutor em Radiologia Odontológica – Faculdade de Odontologia Unesp / São José dos Campos. Professor titular da disciplina de Imaginologia I e II da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp). Professor doutor do programa de pós-graduação em Odontologia da Umesp. Resumo O desenvolvimento da informática tem possibilitado grandes avanços na área da Saúde, em especial pela radiografia digital. Como exame complementar, a radiografia PALAVRAS-CHAVE: Radiologia. Radiografia digital. digital contribui com melhorias na qualida- de das imagens, redução da dose de raios X e preservação do meio ambiente. O presen- te trabalho apresenta os sistemas digitais e suas aplicações na Ortodontia. Eduardo Kazuo Sannomiya 7Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 5, out./nov. 2009 IntRodução Na área da Saúde, em especial na Odontologia, o diagnóstico e o planejamento da abordagem das patologias e alterações estão pautados em exames complementares (laboratoriais, radiográficos e histopatológicos). Na Ortodontia, esses exames complementares estão baseados na documentação ortodôntica, na qual constam as radiografias. Atualmente, essas radiografias necessitam do empre- go de filmes radiográficos e, subsequentemente, do processamento radiográfico para a obtenção da imagem (Fig. 1). A constituição dos filmes radiográficos envolve o emprego de cristais de sais de prata (brometo e iodeto). A utilização incessante desse minério irá, com o tempo, reduzir ou até mesmo eliminar suas reservas. A questão ambiental é outra fonte de preocupação com relação ao processamento radiográfico. Por isso, o avanço da área tecnológica, bem como da informáti- ca – com a utilização de computadores com grande capacidade de armazenamento (1 terabyte), acesso facilitado e banda larga –tem incentivado as empresas especializadas na área odontológica a in- vestir no desenvolvimento de aparelhos de radiografia digital. Na Medicina, os sistemas digitais de imagens têm sido largamente em- pregados, entretanto somente nos anos 80 os primeiros sensores digitais intrabucais foram desenvolvidos. A radiografia digital não usa filme radiográfico e, portanto, não envolve o emprego dos cristais de sais de prata. Uma imagem digi- tal corresponde à decomposição da imagem convencional em uma matriz de pontos de imagem, denominados pixel (picture element). A cada campo da matriz é atribuído um valor numérico que repre- senta um valor de tom de cinza (Fig. 2). O olho humano só pode perceber cerca de 20 tonalidades de cinza. Para fins de diagnóstico, as imagens com poucos tons de cin- za são inadequadas. Na Odontologia, trabalha-se com a escala de 256 tonalidades de cinza. Nesse caso o preto tem valor zero e o branco tem valor 25515. A resolução da imagem digital está diretamente relacionada ao tamanho do pixel. Quanto menor for o tamanho do pixel maior a resolução da imagem. A resolução espacial refere-se ao número de pixels em que a imagem digital está dividida. Essa propriedade se expressa em pares de linha/coluna, sendo que quanto maior o número de linhas e colunas melhor a resolução. Quando citamos que uma imagem digital apresenta-se com 1834 x 1834 de reso- lução espacial, isso significa uma matriz de 1834 linhas por 1834 colunas15 (Fig. 2). A imagem radiográfica digital pode ser obtida por dois méto- dos: indireto e direto. O método indireto consiste em obter-se uma radiografia convencional e posteriormente digitalizá-la com auxílio de scanners ou câmeras digitais. No método direto, a imagem é captada diretamente por meio de um sensor de carga acoplada (charge coupled device - CCD) ou pelo sistema de placa de fósforo fotoativada (Fig. 3). sensoR de CaRga aCoplada (ChaRge Coupled devICe - CCd) No final dos anos 70, uma nova tecnologia – denominada dispo- sitivo de carga acoplada (CCD) – foi desenvolvida para ser aplicada em videotecnologia. Durante esse período, a empresa Sony lançou a primeira câmera que utilizava um sensor sólido, chamada Ma- vica®. A utilização dos sensores CCDs também tornou-se comum no campo científico. Em 1983, o Departamento de Radiologia da Universidade de Umeå (Suécia) iniciou pesquisas para a utilização de sensores sólidos na obtenção de radiografias intrabucais18. Os sensores CCD intrabucais apresentam-se com tamanho menor do que um filme periapical de 3 x 4cm e possuem um cabo conectado Figura 1 - Processo de obtenção de uma radiografia convencional. radiografia convencional raios X objeto imagem latente processamento químico imagem radiográfica Figura 2 - Imagem digital de telerradiografia em norma frontal com dimen- são de 1834 pixels no sentido vertical. Ao analisar a região correspondente à imagem da oliva, verifica-se a dimensão de 16 pixels no sentido vertical. Largura da fatia Elemento da imagem (pixel) Elemento do volume (voxel)1834 pixels 16 pixels Pergunte a um Expert 8 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 5, out./nov. 2009 ao computador (Fig. 4), para onde a imagem é transmitida. Como ocorre a formação da imagem radiográfica nesses sistemas? Uma imagem radiográfica é composta de tons de cinza (esten- dendo-se do preto ao branco absoluto), perfazendo uma escala de valores que variam de zero a 255. Para converter essa imagem em um formato digital, a mesma é dividida – por meio de um proces- so chamado digitalização – em pedaços individuais de informação (denominados pixels). Essa informação descreve a intensidade de luz (brilho) e sua localização (coordenadas x, y) dentro da imagem. No CCD, cada pixel é lido por um pequeno capacitor, que armazena uma carga elétrica quando exposto aos raios X. Essa carga é am- pliada e convertida pelo computador, que então transfere o sinal Figura 3 - Radiografia digital direta (sensores CCD e placas de fósforo) e radiografia digital indireta (scanner). Figura 4 - Esquema de utilização do sensor intrabucal CCD. sensores CCD Figura 5 - Esquema mostrando a formação da imagem radiográfica digital em um sensor CCD intrabucal. sistema CCD CCD raios X placa fluoroscópica imagem radiográfica digital 2 sistemas de imagens digitais radiografia digital direta radiografia digital indireta resultante para o monitor12 (Fig. 5). Os sistemas digitais extrabucais são semelhantes aos conven- cionais em termos da fonte emissora de raios X. No entanto, a operação do sistema é toda computadorizada (Fig. 6A). A principal diferença é o receptor de imagem, no qual não se depende de filmes radiográficos e sim de CCDs, com áreas maiores (Fig. 6B). A resolução de contraste e a resolução espacial são dois parâ- metros que afetam diretamente a qualidade de uma imagem digi- tal. A resolução da imagem digital é determinada pelo número de pixels que a compõem. Quanto maior o número de pixels utilizados para definir uma imagem digital, melhor será a representação es- pacial da mesma12 (Fig. 7, 8). plaCa de FósFoRo FotoatIvado Em 1983, na área médica, foi desenvolvido um sistema digital, pela Fuji Film Company, denominado Radiografia Computadorizada, baseado na tecnologia de placas de fósforo fotoativadas. Na Odon- tologia, a placa de fósforo fotoativada pode ser utilizada tanto nas técnicas intrabucais como nas extrabucais. Na técnica intrabucal utilizam-se dimensões semelhantes às de filmes convencionais (3 x 4cm para periapical e 5,7 x 7,5cm para oclusal), como ilustrado na figura 9. Na técnica extrabucal podem ser utilizadas placas de fósforo com dimensões de 18 x 30cm ou 20 x 25cm (Fig. 10). Como ocorre a formação da imagem radiográfica digital nos sistemas de placas de fósforo? Após a exposição da placa, a mes- ma é submetida à leitura. Um sistema de laser se encarrega de realizar a leitura da imagem e, posteriormente, uma luz branca se encarregade apagar a imagem latente na placa, para sua posterior reutilização (Fig. 11). Tiago Realce Eduardo Kazuo Sannomiya 9Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 5, out./nov. 2009 Figura 6 - a) Aparelho de raios X digital panorâmico, extrabucal e da ATM. B) Sensor CCD fixo para radiografias extrabucais. a B Figura 7 - Radiografia digital de mão e punho obtida por meio do sistema digital com CCD. Figura 8 - Planigrafia da região da ATM (lados direito e esquerdo, com a boca aberta e fechada) obtida por meio do sistema digital com CCD. Pergunte a um Expert 10 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 5, out./nov. 2009 Figura 9 - Sensor da placa de fósforo intrabucal de 3 x 4cm com invólucro de proteção. Figura 10 - Sensor da placa de fósforo extrabucal de 20 x 25cm. ReCuRsos aplICados à Imagem RadIogRáFICa dIgItal Os sistemas digitais são providos de programas específicos para a visualização e o tratamento de imagens, e contam com recur- sos ou ferramentas que melhoram o processo de interpretação das mesmas. Uma das ferramentas disponíveis é o realce da imagem, que seria uma versão melhorada da imagem original. A maioria das operações de realce da imagem são aplicadas para torná-la visu- almente mais atraente. Em Radiologia, esse procedimento pode ser feito aumentando-se o contraste, aperfeiçoando-se o brilho e reduzindo-se a falta de nitidez (Fig. 12). Segundo Mol13, o efeito do realce de contraste no valor de diagnóstico da radiografia digital é controverso. O desenvolvimento de tais operações no processamen- to das imagens requer considerações cuidadosas sobre o conteúdo da imagem e sobre o sistema de percepção visual do observador. Os sistemas digitais existentes no mercado possibilitam a con- versão da escala de tons de cinza para uma escala de cores, por meio de um recurso denominado pseudocor. O olho humano pode distinguir muito mais as cores do que os tons de cinza. Transformar os valores de cinza de uma imagem digital em várias cores pode, em teoria, aumentar a chance de detectar estruturas dentro da imagem radiográfica18. Entretanto, alguns limites entre as estrutu- ras podem ser alterados e novos limites podem ser criados (Fig. 13). A transformação da imagem positiva em negativa é outra fer- ramenta que possibilita ao profissional uma melhor delimitação das estruturas anatômicas, especialmente as dentárias (Fig. 14). As ferramentas para medição, como as réguas digitais (Fig. 15), estão prontamente disponíveis para a utilização nas diversas espe- cialidades da Odontologia, principalmente na Ortodontia. o FoRmato dICom O formato de arquivo DICOM (Digital Imaging and Commu- nications in Medicine, ou seja, Comunicação de Imagens Digitais em Medicina) foi criado com a finalidade de padronizar a troca de informações entre os vários equipamentos de imagens diag- nóstica, como tomografias, ressonâncias magnéticas, radiografias, ultrassonografias, entre outros. O padrão DICOM é uma série de regras que permite que imagens médicas e informações associadas sejam transferidas entre equipamentos de imagem, computadores e hospitais. O padrão estabelece uma linguagem comum entre os equipamentos de marcas diferentes, que geralmente não são com- patíveis, estejam esses em hospitais, clínicas ou laboratórios9. DICOM é a terceira versão (liberada em 1993) de um padrão desenvolvido pelo Colégio Americano de Radiologia (ACR – Ame- rican College of Radiology) e pela Associação Nacional Americana dos Fabricantes de Produtos Elétricos (NEMA – National Electrical Eduardo Kazuo Sannomiya 11Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 5, out./nov. 2009 Figura 12 - a) Imagem original (radiografia panorâmica) de um paciente submetido ao tratamento ortodôntico. É possível diagnosticar: taurodontismo nos ele- mentos 37, 38, 47 e 48 e imagem radiolúcida de limites bem definidos na região entre os elementos 35 e 45, com ausência de comprometimento radicular nessa região. B) Ferramenta de realce de imagem, com a qual podemos visualizar melhor os achados radiográficos registrados na imagem anterior. a B Figura 11 - A placa de fósforo (1), intrabucal ou extrabucal, é posicionada e o paciente é submetido à exposição aos raios X (2). A placa é, então, submetida à leitura da imagem por meio de scanner a laser (3), e a luz branca procede a limpeza da placa (4). Placa de fósforo a B D EC Princípios de leitura e apagamento tubo de raios X exposição paciente leitor scanner laser luz unidade de apagamento imaging plate 2 1 4 3 Pergunte a um Expert 12 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 5, out./nov. 2009 Figura 13 - A ferramenta de pseudocor aplicada na imagem original (figura 12A) dificulta a delimitação do achado radiográfico no região do 35 ao 45. Figura 15 - Ferramentas de medição linear e angular. Figura 14 - A imagem negativa permite uma melhor avaliação do contorno dos elementos dentários. Manufacturers Association), a qual evoluiu das versões 1.0 (1985) e 2.0 (1988). No início dos anos oitenta, era quase impossível para qualquer um, à exceção dos fabricantes de dispositivos de imagem latente de tomografia computadorizada ou de ressonância magné- tica, decodificar as imagens que as máquinas geravam. Os radiolo- gistas quiseram usar as imagens para o planejamento da dose de radiação terapêutica. Logo depois da liberação dessa norma, tornou- se claro que melhorias eram necessárias, pois a mesma era vaga. Em 1993, as novas classes do serviço foram definidas, e o suporte ao usuário pela internet também foi adicionado. Oficialmente, a última versão do padrão permanece a 3.0. Entretanto, essa tem sido atua- lizada e estendida desde 1993. O padrão é renumerado frequente- mente, usando o ano da liberação, como “a versão 2007 da DICOM”9. Diferentemente de outros formatos de dados, o DICOM agru- pa a informação em série. Isso significa que uma radiografia, por exemplo, contém a identificação do paciente no arquivo, de modo que a imagem nunca possa ser separada dessa informação, por engano. Esse formato também contém dados do pixel da imagem. O arquivo DICOM, por ser digital, permite que informações sobre um paciente sejam transmitidas para lugares diferentes do mundo via internet, que é mais barata e mais rápida do que outros meios de transporte. Além disso, as imagens não perdem a definição e, consequentemente, a interpretação dessas pelas entidades médi- cas é mantida, já que a qualidade gráfica não se altera, facilitando o desenvolvimento e a expansão dos PACS (Picture Archiving and Communication System - Sistema de Comunicação e Arquivamento de Imagens). Esse é um sistema de arquivamento e comunicação voltado para o diagnóstico por imagem que permite o pronto aces- so, em qualquer setor do hospital ou clínica, de imagens médicas em formato digital, sendo caracterizado por quatro subsistemas: aquisição, exibição, disponibilização e armazenamento de imagens4. Eduardo Kazuo Sannomiya 13Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 5, out./nov. 2009 aRquIvamento da Imagem RadIogRáFICa dIgItal A imagem digital tem que ser arquivada por vários anos, depen- dendo das leis e regulamentos do país. Em nível institucional, a ne- cessidade de armazenamento requer muitos terabytes de espaço em disco rígido. Isso pode ser feito usando-se fitas magnéticas ou disco óptico. Na clínica privada, a imagem digital pode ser armazenada em disco externo, DVD, CD, Zip Drive® ou Pen Drive. Um disquete com 1,44MB não tem espaço suficiente para armazenar muitas imagens digitais. Em média, quatro imagens intrabucais digitais necessitam de 1MB de espaço e uma telerradiografia lateral requer aproxima- damente 3MB. A possibilidade de comprimir a imagem digital traz benefícios, reduzindo o custo do espaço de armazenamento. A di- minuição do tamanho do arquivo reduz a necessidade de aumento de memória e de velocidade dos computadores. O arquivo eletrônico é de fácil localização e requermenos espaço físico para armazena- mento do que a imagem radiográfica convencional. Outra vantagem é que o arquivo pode ser transmitido via internet ou duplicado8. Na sociedade moderna, a expansão da internet gerou impac- tos nas áreas médica e odontológica. Sistemas online de consultas de radiografia têm sido introduzidos para uso em conferências na internet. A transmissão digital de radiografias dentárias foi previa- mente usada no campo do telediagnóstico e educação à distância. Em radiologia digital, os PACS permitem a conexão com outros sis- temas em rede. A velocidade de transmissão das imagens depende, basicamente, da velocidade de conexão disponibilizada pelos dois usuários (o remetente e o destinatário) e do tamanho do arqui- vo a ser transmitido. Pode-se dizer que o tempo de transmissão da imagem é diretamente proporcional ao seu tamanho. Assim, a compressão da imagem torna-se necessária para reduzir o tempo de transferência6. CompRessão da Imagem RadIogRáFICa dIgItal A compactação da imagem é um processo matemático no qual ocorre uma redução do tamanho original da imagem armazenada em discos rígidos, implicando na redução do tempo necessário para sua transmissão pela internet. Existem dois métodos de compac- tação de imagens digitais: com maior ou menor perda. Métodos de menor perda não descartam nenhum dos dados da imagem e uma cópia exata da mesma é reproduzida após a descompactação. A taxa de compactação máxima de menor perda é, normalmente, menor do que 3:1, ou seja reduz-se a imagem três vezes em relação à imagem original. Métodos de maior perda proporcionam níveis mais altos de compactação por descartarem dados da imagem ori- ginal. Evidências cientifícas sugerem que esse procedimento não afetaria a qualidade da imagem para fins de diagnóstico. Taxas de compactação de 12:1 e 14:1 não mostraram nenhuma interferência considerável no diagnóstico de lesões cariosas18. As imagens podem ser salvas em uma grande variedade de for- matos (JPEG, TIFF, PCX e BMP, entre outros), influenciando direta- mente na qualidade da imagem e no tamanho do arquivo. O JPEG (Joint Photographic Experts Group) é o formato de compressão mais conhecido e utilizado. A compressão JPEG é chamada usu- almente de compressão com perda. A compressão com perda re- move frequências espaciais e tons de cinza que ocorrem com mais frequência na imagem. Esse processo pode reduzir o tamanho do arquivo por um fator de dez ou mais, e resultar em uma perda ir- reversível de informação8. A compressão JPEG com perda descarta certo percentual de dados, podendo resultar na perda de contraste e detalhes da imagem. Ao salvar um arquivo JPEG, alguns progra- mas permitem a escolha da taxa ou fator (nível) de compressão, também chamado de fator de qualidade. Esse fator varia de acordo com o programa utilizado. Quanto maior o valor, menor é a taxa de compressão e, com isso, maior a qualidade, menor a perda de dados da imagem e maior o tamanho final do arquivo. O arquivo JPEG foi desenvolvido primariamente explorando as limitações do olho humano, pelo fato de que pequenas mudanças de cor são menos percebidas do que pequenas mudanças no brilho. No en- tanto, pequenas mudanças introduzidas por esse algoritmo podem acarretar problemas em análises feitas por máquinas. O efeito do auxílio do computador na interpretação da imagem diagnóstica comprimida com tal algoritmo ainda não é conhecido8. Recentemente, tem sido mostrado que nem todos os progra- mas de compressão e descompressão de arquivos em formato JPEG se equivalem, o que pode levar a mudanças na qualidade da ima- gem10. Essa perda de dados pode ter um impacto na acurácia da interpretação radiográfica, podendo levar a implicações médico- legais17. O padrão JPEG é usado para comprimir imagens coloridas ou em escala de tons de cinza, mas o formato de escolha na área médica é o DICOM. Uma propriedade útil do JPEG é que se pode ajustar o parâ- metro de compressão, variando o grau de perda de qualidade. A compressão JPEG com perda tenta suprimir a informação que nor- malmente não é visível aos olhos humanos, eliminando a informa- ção de alta frequência, os detalhes ultrafinos da imagem. Grande cuidado deve ser tomado ao usar o método de compressão com perda para imagens radiográficas. A imagem em escala de cinzas, como a radiografia dentária, ao contrário da imagem colorida, não deve ser comprimida em grande fator, devido ao olho humano ser mais sensível às variações no brilho e no contraste do que na cor. Em suma, a compressão com perda tem as seguintes característi- cas: a imagem digital original não é igual à comprimida, mas as mudanças podem ser imperceptíveis a olho nu. Pergunte a um Expert 14 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 5, out./nov. 2009 RadIogRaFIa ConvenCIonal x RadIogRaFIa dIgItal A radiografia digital supera a radiografia convencional em fil- me radiográfico? Ao responder essa pergunta, temos que levar em consideração o objetivo fundamental da imagem para o profissional que solicita o exame: informações relevantes que auxiliem no diag- nóstico do problema do paciente. Na literatura, verificamos que o fato da imagem radiográfica ser obtida de forma convencional ou digital não interfere na qualidade da informação obtida. Devemos levar em consideração o objetivo para o qual cada uma das imagens será utilizada, seja ela digital ou convencional (Fig. 16). Para muitos, a imagem digital é satisfatória para um estudo tegumentar, já para o estudo esquelético a convencional é mais apropriada. Abrahão et al.1, em 2009, avaliaram, por meio de traçados e me- didas cefalométricas, a possível dificuldade na localização das estru- turas e pontos nas radiografias convencionais e digitais. Para tanto, a amostra consistiu de 30 telerradiografias em norma lateral, sendo 15 convencionais e 15 digitais. Concluíram que não houve diferença estatisticamente significativa quando comparados os dois métodos. Westphalen et al.18 realizaram uma avaliação comparativa da eficá- cia da interpretação radiográfica de reabsorções radiculares exter- nas simuladas, em dentes humanos extraídos, por meio de radiogra- fias convencionais e digitais. Diferentemente do estudo de Abrahão et al.1, os autores acreditam que as reabsorções radiculares externas são melhor visualizadas nos sistemas radiográficos digitais18. Apesar desse fato, a imagem radiográfica digital possibilita ao profissional uma série de vantagens, como por exemplo: (a) dispen- sa o uso de filmes radiográficos e processamento químico, resol- vendo um problema de poluição ambiental (proibição de se desfazer dos líquidos de processamento diretamente na rede de esgotos); (b) possibilita a análise da imagem radiográfica em segundos, dife- rentemente da radiografia convencional, na qual só é possível a vi- sualização após alguns minutos – esse fato diminui o tempo clínico de execução desse procedimento, seja no consultório odontológico ou nas clínicas de Radiologia; (c) armazenamento das imagens em CDs ou Pen Drives, evitando a degradação que as imagens geradas em filmes convencionais sofrem com o passar do tempo; (d) mani- pulação da imagem por meio de ferramentas de visualização que permitem melhoria de sua qualidade6. Provavelmente, um dos benefícios mais relevantes da imagem radiográfica digital é a redução, em até 70%, da dose de radiação à qual o paciente é submetido. Em uma radiografia convencional, essa redução poderia comprometer a qualidade final da imagem. Naslund et al.14, em 1998, analisaram os efeitos da redução de 50%, 60% e 70% da dose de radiação na localização de pontos cefalo- métricos em telerradiografias digitais em norma lateral. Para tanto, foram selecionados, aleatoriamente, 10 pacientes, sendo geradas 30 imagens digitais. Sete observadores especialistas em Ortodon- tia marcaram os pontos nas telerradiografias. Concluíram que não houve influência da redução na dose de radiação na localização dos pontos cefalométricose, consequentemente, na qualidade das radiografias digitais. Ao se utilizar o sistema radiográfico digital, verificamos que é possível a utilização de dois tipos de sensores (CCD e placa de fósfo- ro), os quais apresentam algumas vantagens e desvantagens: 1) Nas radiografias intrabucais, a área do sensor CCD é menor do que da placa de fósforo. 2) O sensor CCD apresenta-se com um cabo que o interliga ao computador, o que por vezes dificulta a realização do exame ra- diográfico. Mesmo assim, verificamos que, com relação ao uso dos sensores digitais em radiografia digital intrabucal no cotidiano clí- nico dos cirurgiões-dentistas nos Estados Unidos4, 78,3% utilizam o sistema CCD para radiografias intrabucais, ao contrário da placa de fósforo, que é usada por 8,7%. Isso se deve ao custo elevado dos sensores de placa de fósforo em relação ao CCD. 3) Necessidade de computadores com grande capacidade de ar- mazenamento. 4) Conhecimento de noções de informática e de manipulação de imagens digitais. A imagem radiográfica digital possibilita a sua compressão, ou seja, a redução do tamanho de seu arquivo para ser guardada ou transmitida via internet. Na Ortodontia, bem como em outras espe- cialidades odontológicas, a grande preocupação seria com relação ao quanto essas compressões poderiam efetivamente prejudicar a interpretação radiográfica. Para tanto, os estudos de Duarte6, Fal- cão7 e Saez16 avaliaram a reprodutibilidade da marcação dos pontos cefalométricos em radiografias cefalométricas digitais em normas lateral e frontal nos formatos de compressão JPEG e TIFF. Concluí- ram que os formatos de compressão não influenciaram na reprodu- tibilidade dos pontos cefalométricos. Um questionamento com relação à imagem radiográfica digital é o valor legal das mesmas, uma vez que podemos alterá-las com Figura 16 - a) Radiografia digital x B) radiografia convencional. a B User-pc Realce Eduardo Kazuo Sannomiya 15Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 5, out./nov. 2009 o auxílio das ferramentas de programas específicos. Atualmente as imagens digitais são protegidas pela certificação digital por meio de autoridades certificadoras. Com a certificação digital pode-se garantir a autenticidade, a integridade e a confidencialidade, prin- cipalmente nas radiografias odontológicas, pois as mesmas podem ser utilizadas por diferentes profissionais e, se manipuladas, sua vio- lação será detectada17. ConsIdeRações FInaIs A resposta à pergunta inicialmente formulada está de acor- do com a necessidade e objetivos das práticas odontológicas individuais. Como as práticas profissionais e tecnológicas mudam com o tempo, as respostas também mudarão. A tendência de uma crescente adoção de imagens digitais e a contínua inovação tecno- lógica fazem desse recurso o futuro certo na Odontologia. agRadeCImentos Aos professores Monica Costa Armond (Professora da Universi- dade Vale do Rio Verde e Diretora Clínica responsável pela Radiosul – Instituto de Radiologia) e Rodrigo Generoso (Professor e Coorde- nador do Programa de Pós-graduação em Ortodontia da Universi- dade Vale do Rio Verde). What is the difference between digital and conventional radiographs? kEywORDS: Radiology. Digital radiography. The Informatics’ development made possible great advanc- es in health area, specially in digital radiography. As a com- plementary exam the digital radiography contributes with improvement in images quality, radiation dose reduction and environment protection. The present paper presents the digital systems and its applications in Orthodontics. Abstract RefeRênCIAs 1. ABRAHÃO, T. S. K.; GOLDENBERG, F. C.; TACOLA, C. G.; SANNOMIYA, E. K. Avaliação entre as radiografias cefalométricas digital e convencional. R. Dental Press Ortodon. Ortop. Facial, Maringá, v. 14, n. 3, p. 60-68, maio/jun. 2009. 2. AKDENIZ, B. G.; GRÖNDAHL, H. G. Degradation of storage phosphor images due to scanning delay. Dentomaxillofac. Radiol., Houndsmills, v. 35, no. 2, p. 74-77, Mar. 2006. 3. ANALOUI, M.; BUCKWALTER, K. Digital radiographic image archival, retrieval and management. Dent. Clin. North Am., Philadelphia, v. 44, no. 2, p. 339-358, Apr. 2000. 4. AZEVEDO-MARQUES, P. M. Implantação de um mini-PACS: sistema de arquivamento e distribuição de imagens em hospital universitário. Radiol. Bras., São Paulo, v. 34, n. 4, p. 221-224, 2001. 5. BRIAN, J. N.; WILLIAMSON, G. F. Digital radiography in Dentistry: A survey of Indiana dentists. Dentomaxillofacial Radiol., Houndsmills, v. 36, no. 1, p. 18-23, Jan. 2007. 6. DUARTE, H. E. M. Avaliação da compressão da imagem digital da telerradiografia lateral na reprodutibilidade da marcação de pontos cefalométricos. 2008. Dissertação (Mestrado)-Faculdade de Odontologia, Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2008. 7. FALCÃO, L. M. R. Avaliação da reprodutibilidade de pontos cefalométricos nas telerradiografias digitais em norma lateral nos formatos DICOM, TIFF e JPEG. 2009. Dissertação (Mestrado)-Faculdade de Odontologia, Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2009. 8. FIDLER, A.; LIKAR, B.; SKALERIC, U. Lossy JPEG compression: Easy to compress hard to compare. Dentomaxillofacial Radiol., Houndsmills, v. 35, no. 2, p. 67-73, Mar. 2006. 9. GRAHAM, R. N. J.; PERRISS, R. W.; SCARSBROOK, A. F. DICOM demystified: A review of digital file formats and their use in radiological practice. Clin. Radiol., Oxford, v. 60, no. 11, p. 1133-1140, Nov. 2005. 10. KOENIG, L.; PARKS, E.; ANALOUI, M.; ECKERT, G. 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Lacerda Franco, 1180 CEP: 01.536-000 – São Paulo / SP E-mail: eduardosannomiya@hotmail.com Endereço para correspondência Copyright of Revista Clínica de Ortodontia Dental Press is the property of Dental Press International and its content may not be copied or emailed to multiple sites or posted to a listserv without the copyright holder's express written permission. However, users may print, download, or email articles for individual use.
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