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QUÍMICA ORGÂNICA UNIDADE III A delicadeza complexa da vida. Milhões de compostos orgânicos interagem de forma precisa e ordenada. Por meio de complexos mecanismos de reação foi possível a existência de vida na Terra. DO NA LD E. C ARR OL / PH OTO GRA PHE R‘S CHO ICE-G ETTY IMAG ES Capítulo Refletindo sobre os tópicosTópicos do capítulo • Uva, limão, leite, gordura e urina estão relacionados a quais com- postos orgânicos importantes do cotidiano? • Você já pensou na relação entre a Química Orgânica, a Bioquímica, a Biologia Molecular e a Biotecnologia? • O ácido linoleico, usado em tintas e vernizes, é encontrado em quais vegetais? • O que é um “alimento orgânico”? 1 A presença da Química Orgânica em nossa vida 2 Histórico da Química Orgânica 3 A Química Orgânica nos dias atuais 4 Por que o número de compostos orgânicos é tão grande? 5 As cadeias orgânicas são bastante diversificadas 6 A representação dos compostos orgânicos Leitura – Produtos Orgânicos? A Química Orgânica é a química dos compostos de carbono. Cerca de 90% de todos os compostos conhecidos pelo ser humano são orgânicos. Esses compostos podem ser naturais ou sintéticos. O carbono, ligando-se a outros poucos elementos, forma uma enormidade de compostos que vão dos combustíveis e dos plásticos até o complexo mundo dos compostos que formam os seres vivos. Podemos dizer que o desenvolvimento da Química Orgânica confunde-se com o desenvolvimento da “sociedade moderna” no século XX. Como em outras revoluções históricas, a enorme evolução da Química Orgânica, particularmente na área dos medicamentos e da engenharia genética, traz grandes dúvidas e questionamentos éticos sobre o futuro do desenvolvimento científico humano. Introdução à Química Orgânica20 � Os seres vivos. � A revolução dos plásticos. � O modelo da molécula de DNA. S E R ID E C P H O TO IM A G E N E / C ID E D U A R D O S A N TA LI E S TR A D R . T IM E VA N S / S P L- S TO C K P H O TO S R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 489 Capítulo 20 • INTRODUÇÃO À QUÍMICA ORGÂNICA 2 A PRESENÇA DA QUÍMICA ORGÂNICA EM NOSSA VIDA 1 Você pode observar Atualmente existem muitas divisões na Química, como, por exemplo: Quí- mica Geral, Físico-Química, Química Inorgânica, Química Orgânica etc. Essas divisões, porém, têm apenas um caráter didático, pois, na verdade, todos os fenômenos químicos obedecem às mesmas leis e teorias. Boa parte dos compostos químicos que hoje são estuda- dos pela Química Orgânica sempre estiveram presentes na his- tória da humanidade: a queima da madeira (combustão orgâ- nica) já era feita pelo homem pré-histórico; antes de Cristo, a humanidade já produzia bebidas alcoólicas, vinagre, corantes etc.; os alquimistas do século XVI, procurando o “elixir da lon- ga vida”, obtiveram muitos extratos vegetais — a partir dessa época, as técnicas de “extrair”, isto é, “retirar compostos já pron- tos” de vegetais e de animais, começaram a ser aperfeiçoadas. Nos dias atuais, esses compostos continuam sendo muito comuns e importantes em nossas vidas. Por exemplo, o álcool comum (C2H6O) existe em bebidas e é muito usado na indús- tria e como combustível para automóveis; o vinagre (C2H4O2) é um tempero habitual em nossas refeições; o éter (C4H10O) é muito usado em farmácias e hospitais; o açúcar comum (C12H22O11) é um alimento importante; a gasolina (C8H18) é um dos combustíveis de maior uso no mundo atual; e assim por diante. Com fórmulas mais complexas, poderíamos citar as pro- teínas, as vitaminas, os hormônios, os medicamentos etc. Além dos que já citamos, novos compostos têm sido criados, quase diariamente, por meio do intenso trabalho de pesquisa que hoje se desenvolve na área da Química Orgânica. Tais compostos estão presentes em plásticos, tecidos, medicamentos, detergentes, corantes etc., proporcionando a todos nós mais conforto, mais saúde e inúmeros outros benefícios. HISTÓRICO DA QUÍMICA ORGÂNICA Em linhas gerais, podemos dizer que a Química, como ciência, nasceu no início do século XVIII. E a Química Orgânica, por sua vez, só começou a adquirir características próprias a partir da meta- de do século XIX. No século XVIII, Carl Wilhelm Scheele (1742-1786) conseguiu isolar ácido tartárico (C4H6O6) da uva, ácido cítrico (C6H8O7) do limão, ácido lático (C3H6O3) do leite, glicerina (C3H8O3) da gordura, ureia (CH4N2O) da urina etc. Foi por esse motivo que Torbern Olof Bergman (1735-1784) definiu, em 1777, a Química Orgâni- ca como sendo a química dos compostos existentes nos organismos vivos, vegetais e animais, enquan- to a Química Inorgânica ou Mineral seria a química dos compostos existentes no reino mineral. Nessa mesma época, Lavoisier conseguiu analisar vários compostos orgânicos e constatou que todos conti- nham o elemento químico carbono. Daí a definição clássica: Química Orgânica é a parte da Química que estuda os compostos do carbono. A Química Orgânica está presente em nosso dia-a-dia, como, por exemplo, nos plásticos, detergentes, sacolas, jeans, cabos de panelas e pneus. E D U A R D O S A N T A LI E S TR A / C ID R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 490 • Fundamentos da Química 3 Em 1807, Jöns Jacobus Berzelius lançou a ideia de que somente os seres vivos possuiriam uma força vital capaz de produzir os compostos orgânicos. Em outras palavras, criava-se a ideia de que as substâncias orgâni- cas jamais poderiam ser sintetizadas, isto é, preparadas artificialmente num laboratório ou numa indústria. Entretanto, em 1828, Friedrich Wöhler efetuou a reação pela qual, a partir de um composto mineral (cianato de amônio), chegava-se a um composto orgânico, a ureia, que existe na urina dos animais (ver equação � abaixo). Começava, assim, a queda da teoria da força vital. Nos anos seguintes, muitas outras substâncias orgânicas foram sintetizadas (acetileno, metanol, ácido acético etc.), de modo que já na metade do século XIX os químicos começaram a acreditar na possibilidade de sintetizar qualquer substância química. No entanto, até hoje, certas sínteses são extremamente difí- ceis, como, por exemplo, a clorofila (C55H72MgN4O5) existente nos vegetais, que só foi preparada artificialmente, em 1960, por Robert Burns Woodward (1917-1979), fato que lhe valeu o Prêmio Nobel de Química de 1965. OBSERVAÇÃO Há uma série de compostos que contêm carbono, como, por exemplo, CO, CO2, H2CO3 e carbonatos, HCN, cianetos etc., que foram estudados na Química Inorgânica, porque suas propriedades são seme- lhantes às dos compostos inorgânicos ou minerais. Jöns Jakobus Berzelius Químico sueco, nasceu em 1779 e faleceu em 1848. Ber- zelius é considerado um dos fundadores da Química mo- derna, pois, como experimentador hábil, teórico perspi- caz, organizador incansável e pedagogo dedicado, foi um dos químicos mais influentes da primeira metade do sé- culo XIX. Entre 1830 e 1840 trabalhou na criação dos sím- bolos dos elementos químicos, que são usados até hoje. Apesar de sua grande contribuição para a Química, insistiu em defender a teoria da força vital, derrubada mais tarde por comprovação experimental. Friedrich Wöhler Químico alemão, nasceu em 1800 e faleceu em 1882. Estudou com Berzelius, do qual se tornou gran- de amigo. A síntese da ureia, a partir do cianato de amônio, imortalizou Wöhler e foi o ponto de partida para a derrubada da teo- ria da força vital, defendida por seu amigo Berzelius. A QUÍMICA ORGÂNICA NOS DIAS ATUAIS Atualmente, em termos de compostos orgânicos, a humani- dade dispõe de: • compostos orgânicos naturais, cujas fontes principais são o petróleo, o carvão mineral, o gás natural, os produtos de origem vegetal ou animal etc.; • compostos orgânicos sintéticos, produzidos artificialmente pelas indústrias químicas, que fabricam desdefibras têxteis e medicamentos até plásticos, corantes, inseticidas etc. Cianato de amônio CO Calor NH2 NH2 NH4OCN Ureia Os plásticos são usados em vários objetos e embalagens do nosso dia-a-dia. Os medicamentos contêm uma grande variedade de compostos orgânicos. As fibras sintéticas estão em tecidos, cortinas, carpetes, forrações etc. BIB LIO TE CA N A C IO N A L, M AD RI /C ID G AR CI A- PE LA YO /C ID IA R A V E N A N ZI / K IN O C ID C ID A R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 491 Capítulo 20 • INTRODUÇÃO À QUÍMICA ORGÂNICA Desde fins do século XIX até hoje, a Química Orgânica teve uma evolução muito grande. Isso pode ser comprovado, por exemplo, pelo número de compostos orgânicos conhecidos (quer extraídos da natureza, quer sintetizados pelo homem): • em 1880, eram conhecidos cerca de 12.000 compostos; • em 1910, cerca de 150.000 compostos; • em 1940, cerca de 500.000 compostos; • atualmente, cerca de 18.000.000 de compostos. Com seu desenvolvimento, a Química Orgânica acabou se subdividindo e dando origem a mais um ramo da ciência — a Bioquímica —, que estuda as substâncias mais intimamente ligadas à vida dos vegetais e animais, como, por exemplo, os alimentos, as vitaminas, os hormônios, os ácidos nucleicos (existentes no núcleo das células vivas), as vacinas, os medicamentos etc. E da Bioquímica surgiram outros ramos da ciência e da tecnologia, como, por exemplo, a Biologia Molecular e a Biotecnologia, que hoje se voltam para assuntos complexos, como alimentos transgênicos e clonagem de seres vivos. Essas divisões e subdivisões que ocorrem na ciência são normais no desenvol- vimento do conhecimento humano. POR QUE O NÚMERO DE COMPOSTOS ORGÂNICOS É TÃO GRANDE? Umas das razões da grande quantidade de compostos orgânicos é a versatilidade do elemento químico carbono, que o torna bem diferente de todos os demais elementos químicos, como detalha- mos a seguir. 4.1. O carbono é tetravalente A configuração eletrônica do carbono apresenta 2 e 4 elétrons, respectivamente, nas camadas K e L. Tendo 4 elétrons na camada de valência, o carbono tem a tendência de formar quatro ligações covalentes. Por exemplo, a estrutura do metano (CH4) é: O FEITICEIRO 4 ou, abreviadamente,C HH H H C HH H H Fórmula eletrônica ou de Lewis Fórmula estrutural Além disso, é importante destacar que as quatro valências do carbono são iguais entre si. Assim, por exemplo, as 4 fórmulas exemplificadas a seguir representam, na realidade, um único composto de fórmula molecular CH3Cl: C HH Cl H C ClH H H CCl H H H C H Cl H H 20 05 T R IB U N E M E D IA / IN TE R C O N TI N E N TA L P R E S S R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 492 • Fundamentos da Química 4.2. O carbono forma ligações múltiplas No exemplo do CH4, vemos o carbono formando uma única ligação — ligação simples — com cada átomo de hidrogênio. Entretanto, um átomo de carbono pode estabelecer duas ou três ligações com um segundo átomo, formando respectivamente uma ligação dupla ou uma ligação tripla. Exemplos: Ligação dupla entre dois átomos de carbono Ligação dupla entre um carbono e um oxigênio Ligação tripla entre dois átomos de carbono Ligação tripla entre um carbono e um nitrogênio CC OC CC NC C C C O C C C N C C C C C C C C C NC CC C C C C C C C C C C O C C 1A 8A H 2A 3A 4A 5A 6A 7A He Li Be B C N O F Ne Metais Não-metais 4.3. O carbono liga-se a vários tipos de átomos O carbono está na coluna 4A, no “meio” do 2o período da Tabela Periódica. Isso o coloca a “meio caminho” entre os metais e os não- -metais, isto é, entre os elementos eletropositivos e os eletronegativos. Tendo uma eletronegatividade (poder de um átomo, em uma molé- cula, de atrair elétrons para si) média de 2,5, o carbono pode ligar-se ora a elementos mais eletropositivos (como, por exemplo, o hidrogênio), ora a elementos mais eletronegativos (como, por exemplo, o oxigênio). Na verdade, o hidrogênio sempre aparece nos compostos orgânicos típicos (com poucas exce- ções, como, por exemplo, CCl4 , C2Cl6 , CCl2F2 etc.); a seguir, os elementos mais frequentes em com- postos orgânicos são o oxigênio e o nitrogênio. Por esse motivo, o carbono, o hidrogênio, o oxigênio e o nitrogênio costumam ser chamados de elementos organógenos, que significa “formadores de compostos orgânicos”. No entanto, é comum encontrarmos, ainda, outros elementos químicos ligados a um átomo de carbono, como, por exemplo, enxofre, fósforo, halogênios (flúor, cloro, bromo, iodo) e até certos metais, como o ferro, o magnésio etc. Daí resulta o costume de se classificar os compostos orgânicos em: • compostos binários: quando encerram dois elementos químicos (por exemplo, C e H); • compostos ternários: quando encerram três elementos químicos (por exemplo, C, H e O); • compostos quaternários: quando encerram quatro elementos químicos (por exemplo, C, H, O e N); e assim por diante. 4.4. O carbono forma cadeias O átomo de carbono tem uma capacidade de ligar-se a outros átomos — de carbono, de oxigênio, de nitrogênio etc. —, formando encadeamentos ou cadeias, curtas ou longas, com as mais variadas disposições. Veja os exemplos a seguir: Fórmula estrutural Fórmula eletrônica Tipo de ligação R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 493 Capítulo 20 • INTRODUÇÃO À QUÍMICA ORGÂNICA Existem outros elementos químicos que conseguem formar encadeamentos, como, por exemplo, o enxofre, o fósforo etc. Entretanto, nenhum elemento químico consegue formar cadeias tão lon- gas, variadas e estáveis como o carbono. A capacidade de formar cadeias juntamente com as características anteriormente descritas (tetravalência; formação de ligações simples, duplas e triplas; e ligação com elementos eletropositivos ou eletronegativos) explica a razão de o carbono ser capaz de formar um número enorme de compostos orgânicos. a) No tocante ao número de valências, o carbono é , sendo as valências entre si. b) Um átomo de carbono pode se ligar a outro átomo por meio de ligações , ou . c) Quanto à eletronegatividade, o carbono pode se ligar a átomos mais ou mais do que ele próprio. d) São denominados elementos organógenos o , o , o e o . e) Conforme apresente dois, três ou quatro elementos químicos, um composto orgânico é denominado , ou , respectivamente. f) Cadeias são sequências contínuas de ligados entre si. REVISÃO EXERCÍCIOS 1 Complete as ligações simples, duplas e triplas que estão faltando nas estruturas abaixo: a) d)CH H C H H 2 Complete as seguintes fórmulas estruturais, acrescentan- do os átomos de hidrogênio que estão em falta: a) C K C K C d) C K C K Cl b) C L C e) C K C K O c) C M C K C f) C M N CH H C H C H H H H H c) f) b) e) CH C H CCl C Br H H CH H C H C N H H H C H H OC H 3 Complete a estrutura C K C acrescentando separadamente: a) um átomo de bromo e cinco de hidrogênio; b) um átomo de enxofre e seis de hidrogênio; c) um átomo de nitrogênio e sete de hidrogênio; d) um átomo de oxigênio e quatro de hidrogênio. 4 (PUC-RS) A fórmula molecular de um hidrocarboneto com cadeia carbônica CC CCCC C CC é: a) C9H8 b) C9H7 c) C9H10 d) C9H12 e) C9H11 5 (UVA-CE) Na estrutura as ligações representadas pelos algarismos são, respecti- vamente: a) simples, dupla, simples c) simples, tripla, dupla b) dupla, simples, dupla d) dupla, tripla, simples H2C NH2 C C H CH2(1) (2) (3) AS CADEIAS ORGÂNICAS SÃO BASTANTE DIVERSIFICADAS Vimos, no item anterior, que o carbono é o elemento químico com maior capacidade de formar cadeias. Além disso, essas cadeias são muito variadas, o que aumenta o número de compostos orgâni- cos possíveis de existir. Damos, a seguir, osprincipais tipos de cadeias orgânicas do carbono. 5 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 494 • Fundamentos da Química A. Quanto ao fechamento da cadeia B. Quanto à disposição dos átomos C. Quanto aos tipos de ligação Cadeia saturada Quando só existem ligações simples entre os átomos de carbono. Cadeia insaturada Quando, entre os átomos de carbono, há ligações duplas ou triplas. C C C C CC C C C C C C C C C D. Quanto à natureza dos átomos Cadeia aberta, acíclica ou alifática Quando o encadeamento dos átomos não sofre ne- nhum fechamento. CC C C C C Cadeia fechada ou cíclica Quando há fechamento na cadeia, formando-se um ciclo, núcleo ou anel. C C C C C Cadeia normal Quando o encadeamento segue uma sequência única. Cadeia ramificada Quando na cadeia surgem ramos ou ramificações. C C C C C C CCC Ramificação Cadeia principal (Esta última cadeia é homogênea porque o oxigênio está fora da cadeia.) Cadeia homogênea Quando na cadeia só existem átomos de carbono. Cadeia heterogênea Quando na cadeia, além dos átomos de carbono, existem outros átomos (heteroátomos). C C C C CC C C C C C O C C O C C C C N C C CC C C C C R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 495 Capítulo 20 • INTRODUÇÃO À QUÍMICA ORGÂNICA Além disso, a posição de cada átomo de carbono na cadeia afeta sua reatividade química. Surge, daí, a seguinte classificação dos átomos de carbono numa cadeia. Carbono quaternário: quando está ligado a quatro outros átomos de carbono. Carbono terciário: quando está ligado a três outros átomos de carbono. Carbono secundário: quando está ligado a dois outros átomos de carbono. Carbono primário: quando está ligado no máximo a um outro átomo de carbono. C C C C C C C C C C C C C C C C C a) As cadeias fechadas ou devem apresentar, no mínimo, um , ou , fato que não ocorre nas cadeias ou . b) Uma cadeia ramificada deve apresentar, no mínimo, um átomo de carbono ou . Caso contrário, a cadeia é . c) Numa cadeia saturada, existem somente ligações entre os átomos de carbono. Já numa cadeia insaturada deve existir, no mínimo, uma ligação ou entre os átomos de carbono. d) Uma cadeia é homogênea quando é formada apenas por átomos de . Caso contrário, a cadeia é chamada de . e) Conforme o número de ligações com outros átomos de carbono, um determinado átomo de carbono será classificado como , , ou , quando se liga, respectivamente, a , , ou outros átomos de carbono. REVISÃO 6 (Mackenzie-SP) O ácido adípico, OCH2 O OH CH2CH2CH2C O OH é matéria-prima para a produção de náilon, apresenta cadeia carbônica: a) saturada, homogênea e ramificada. b) saturada, heterogênea e normal. c) insaturada, homogênea e ramificada. d) saturada, homogênea e normal. e) insaturada, homogênea e normal. 7 (UVA-CE) O citral, composto de fórmula CH3 C O H CHCCH2CH2CH CH3 CCH3 tem forte sabor de limão e é empregado em alimentos para dar sabor e aroma cítricos. Sua cadeia carbônica é classificada como: a) homogênea, insaturada e ramificada. b) homogênea, saturada e normal. c) homogênea, insaturada e aromática. d) heterogênea, insaturada e ramificada. 8 (Osec-SP) A substância dietil-amina H NC2H5 C2H5, tem cadeia carbônica: EXERCÍCIOS a) acíclica, saturada, heterogênea. b) cíclica, insaturada, heterogênea. c) acíclica, normal, homogênea. d) cíclica, saturada, homogênea. e) acíclica, ramificada, homogênea. 9 Dentre os átomos de carbono que existem na cadeia carbônica abaixo, indique os primários, os secundários, os terciários e os quaternários. CC CC 2 1 5 6 11 15 7 3 4 12 13 14 8 9 10 C C C C C C C CC C C 10 (Fatec-SP) Na fórmula CH3 C H H3C CH3 CH3 C H CH3 C H H C H as quantidades totais de átomos de carbono primário, secundário e terciário são, respectivamente: a) 5, 1 e 3 d) 2, 4 e 3 b) 2, 3 e 4 e) 5, 2 e 2 c) 3, 3 e 2 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 496 • Fundamentos da Química 6 A REPRESENTAÇÃO DOS COMPOSTOS ORGÂNICOS Em virtude da grande variedade de cadeias carbônicas que podem aparecer nos compostos or- gânicos, são muito importantes as chamadas fórmulas estruturais, que nos revelam a estrutura, isto é, a arrumação ou disposição dos átomos dentro das moléculas. Por exemplo, uma estrutura muito encontrada na gasolina é a seguinte: 11 (Feevale-RS) Marque a alternativa correta que apresenta classificação da cadeia carbônica da essência de abacaxi, cuja fórmula estrutural é: C O OCH2CH2H3C CH2 CH3 a) Aberta, ramificada, heterogênea e saturada. b) Aberta, normal, heterogênea e saturada. c) Aberta, normal, heterogênea e insaturada. d) Aberta, ramificada, homogênea e saturada. e) Aberta, ramificada, heterogênea e insaturada. 12 (UFSM-RS) No composto EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES CH3 CHH3C CH2 CH3 CH CH2 CH2 CH3 CH CH3 CH2 CH3 CH H3C CH CH3 CH3 OH H CH3 C CH CH3 C CH3 C CH3 CH H N as quantidades totais de átomos de carbono primário, secundário e terciário são, respectivamente: a) 5, 2 e 3 d) 6, 4 e 4 b) 3, 5 e 2 e) 5, 6 e 5 c) 4, 3 e 5 13 (Mackenzie-SP) O composto H3C CH3 CH3 NH2 C apresenta: a) cadeia carbônica insaturada. b) somente carbonos primários. c) um carbono quaternário. d) três carbonos primários e um terciário. e) cadeia carbônica heterogênea. 14 (FGV-SP) O composto de fórmula apresenta quantos carbonos primários, secundários, terciários e quaternários, respectivamente? a) 5, 5, 2 e 1 d) 6, 4, 1 e 2 b) 5, 4, 3 e 1 e) 7, 3, 1 e 2 c) 7, 4, 1 e 1 H C C H H H C H H H C H H H H C H H H C H H C H C H que normalmente é abreviada para: Esta última, denominada fórmula estrutural condensada, é a mais usada, pois, sem dúvida, é mais fácil de se escrever do que a primeira. Outra versão ainda mais simplificada da mesma fórmula seria: CH3 CH3 CCH3 CH3 CH CH3CH2 CH3 CH3 CH3H3C CH3 na qual a cadeia principal é representada por uma linha em ziguezague. R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 497 Capítulo 20 • INTRODUÇÃO À QUÍMICA ORGÂNICA Podemos simplificá-la ainda mais omitindo os grupos CH3, resultando então: Comumente chamada fórmula de linhas Em outras palavras, os C, CH, CH2 e CH3 ficam subentendidos, embora sejam escritos, às vezes, os grupos terminais da cadeia e das ramificações. Havendo, porém, átomos diferentes do carbono e do hidrogênio, eles deverão ser escritos. Seja o exemplo de um outro composto: Vejamos mais quatro exemplos de grande importância prática. O ácido linoleico (C18H32O2), que existe em muitos vegetais (como algodão, soja, girassol etc.) e que é usado em tintas e vernizes, tem por estrutura: CH2 C CH2 CH3 O N CH2 COOH O H N⇒ H C O OH A vitamina A (C20H30O) e a vitamina C (C6H8O6), fatores muito importantes na nutrição, têm por estruturas: CH3 COOH Em casos de moléculas muito longas, mas formadas por partes que se repetem, é comum apresen- tarmos apenas uma vez a unidade que se repete. Assim, por exemplo, o composto principal existente na borracha natural é formado pela repetição da unidade abaixo. CH2OH CH3 CH3 CH3 CH3 CH3 OO HO OH OH OH CH2 CH CH2C CH3 unidade n SO�3Na � N CH3 CH3 O N N CH3 CH2 A dipirona sódica (C13H16O4N3SNa) é, atualmente, o analgésico mais utilizado no Brasil e possui a estrutura abaixo: em que n representa o número inteiro, que indica o número de repetições da “unidade” no encadea- mento e, consequentemente, o tamanho da molécula. Vitamina A Vitamina C R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 498 • Fundamentos daQuímica OH CH2 N N CH3 LEITURA Atualmente ouve-se falar, com frequência, em produtos orgâni- cos. Normalmente essa expressão in- dica alimentos produzidos sem a adição de adubos químicos e de agrotóxicos. A ideia começou a ser praticada com a produção de alface e outras verduras, e, com o tempo, estendeu- -se para legumes, frutas, café, vinho, chegando até a produção de itens de origem animal (carne e leite). Até mesmo os alimentos orgânicos que são industrializados não devem con- ter nenhum tipo de aditivo químico. Alguns exemplos de produtos orgânicos. PRODUTOS ORGÂNICOS? E D U A R D O S A N TA LI E S TR A / C ID a) A fórmula estrutural indica a ou dos átomos no interior de uma molécula. b) É possível representar abreviadamente uma fórmula estrutural por meio de uma linha em , em cujos vértices ficam subentendidos os átomos de e os de que os acompanham, citando-se apenas os átomos desses dois elementos. c) Em moléculas formadas por unidades repetitivas, é usual representar apenas a de repetição. REVISÃO EXERCÍCIOS 15 (Mackenzie-SP) Na cadeia ao lado, o número de ligações covalentes que se deve colo- car entre os carbonos, a fim de completar sua valência, é: a) 4 c) 6 e) 8 b) 5 d) 7 16 (UCDB-MS) Os números de átomos de hidrogênio das seguintes substâncias orgânicas CH2C CH3 CHC CC C C C C C C CCe são, respectivamente: a) 9 e 13 c) 14 e 12 e) 13 e 10 b) 7 e 10 d) 8 e 12 17 (Ufam) A cadeia carbônica abaixo é classificada como: a) Aberta, ramificada, insaturada, heterogênea b) Alicíclica, ramificada, insaturada, heterogênea c) Acíclica, ramificada, insaturada, homogênea d) Alifática, linear, saturada, homogênea e) Aberta, linear, saturada, heterogênea 18 (UFSM-RS) O mirceno, responsável pelo “gos- to azedo da cerveja”, é representado pela estrutura ao lado: Considerando o composto indicado, assinale a alternativa correta quanto à classificação da cadeia. a) acíclica, homogênea, saturada b) acíclica, heterogênea, insaturada c) cíclica, heterogênea, insaturada d) aberta, homogênea, saturada e) aberta, homogênea, insaturada 19 (Uece) A “nicotina” pode ser representada pela fórmula abaixo. Quantos átomos de carbono e quantos hidrogê- nios existem em uma molécula desse composto? a) 10 e 13 b) 10 e 14 c) 9 e 12 d) 8 e 14 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 499 Capítulo 20 • INTRODUÇÃO À QUÍMICA ORGÂNICA Questões sobre a leitura 22 (UCDB-MS) Muitas plantas contêm substâncias orgâni- cas simples, como por exemplo hidrocarbonetos, respon- sáveis pelo odor e sabor. O β-terpineno, cuja cadeia carbônica é mostrada abaixo, é uma das substâncias res- ponsáveis pelo odor do limão: 20 O que é chamado de “produto orgânico”, na linguagem do dia-a-dia? 21 Quais são as vantagens dos alimentos “orgânicos”? DESAFIO O número total de átomos de hidrogênio presentes nes- ta substância é: a) 20 c) 10 e) 14 b) 16 d) 22 23 (FCM-MG) A cafeína, um estimulante bastante comum no café, chá, guaraná etc., tem a fórmula estrutural in- dica abaixo. CC CC CC C C CC N N O O N N CH3 H3C CH3 Podemos afirmar corretamente que a fórmula molecular da cafeína é: a) C5H9N4O2 d) C3H9N4O2 b) C6H10N4O2 e) C8H10N4O2 c) C6H9N4O2 24 (Mackenzie-SP) A molécula que apresenta a menor ca- deia alifática, insaturada e que contém um carbono quaternário é: a) C6H12 c) C2H4 e) C5H10 b) C5H12 d) C5H10O 25 (PUC-MG) Um composto orgânico de cadeia aberta, insaturada, ramificada, com carbono quaternário, tem cadeia principal com quatro carbonos. Sua fórmula molecular é: a) C6H13 c) C6H10 e) C6H6 b) C6H11 d) C6H14 26 (Mackenzie-SP) Dentre os átomos mencionados abaixo, aquele que pode ser um heteroátomo, numa cadeia carbônica, é o: a) N (Z � 7) d) F (Z � 9) b) H (Z � 1) e) Na (Z � 11) c) Cl (Z � 17) O MAGO DE ID Parker e Hart 20 05 T R IB U N E M E D IA / IN TE R C O N TI N E N TA L P R E S S O preço dos produtos orgânicos é, em ge- ral, superior ao dos produtos convencionais. No entanto, alguns consumidores acreditam que compensa pagar mais para terem um alimento mais saudável e saboroso. A produção dos produtos orgânicos já é gran- de nos Estados Unidos e em vários países da Eu- ropa, principalmente na Alemanha. Grandes mar- cas de produtos alimentícios já entraram, também, no campo dos produtos orgânicos. No Brasil, a produção vem aumentando, ano a ano, tanto para o consumo interno como para a exportação. Não há dúvida de que é muito salutar nos- sa preocupação com alimentos que contenham agrotóxicos. Aliás, essa é uma das grandes ba- talhas desenvolvidas pelos ecologistas, preocu- pados com a saúde pública e com a preserva- ção do meio ambiente. No entanto, as expressões “produtos orgânicos”, “hortaliças orgânicas”, “legumes orgânicos” etc. têm, sem dúvida, um emprego “forçado”, pois todo e qualquer ali- mento, qualquer que seja seu método de pro- dução, é formado, fundamentalmente, por substâncias orgânicas. Capítulo Refletindo sobre os tópicosTópicos do capítulo • Quais são os principais alcanos presentes no gás natural, no gás de cozinha e na gasolina? • Como ocorre o processo de refino do petróleo? • O que é e qual a origem do gás natural? • O que é e quais são as características do “gás dos pântanos”? Qual a sua relação com o biogás? • Que relação há entre borrachas sintéticas e óleos essenciais? • Como é formado o carvão mineral? 1 Introdução 2 O petróleo e os alcanos 3 A petroquímica e os alcenos 4 Borracha, dienos e polienos 5 O acetileno e os alcinos 6 Ciclanos 7 O carvão mineral e os aromáticos Leitura – A borracha na história do Brasil Os hidrocarbonetos contêm apenas carbono e hidrogênio. São extraídos da natureza, principalmente na forma de petróleo e gás natural. A sociedade moderna tornou-se totalmente dependente do consumo desses compostos. Além de ser a principal fonte de energia que move o mundo, os hidrocarbonetos são as principais matérias-primas para a produção de uma infinidade de produtos: plásticos, fibras sintéticas, borrachas, medicamentos etc. Visto que as reservas mundiais de petróleo e de gás natural não são renováveis e que seus preços internacionais causam impacto nas economias de todos os países, no Brasil, a PETROBRAS vem investindo na prospecção de petróleo buscando a autossuficiência brasileira, com o objetivo de atingir a marca dos 2 milhões de barris por dia. Hidrocarbonetos21 � Produtos derivados do petróleo: combustíveis, pneus, lona plástica, óleo lubrificante, asfalto, resinas etc. E D U A R D O S A N TA LI E S TR A E D U A R D O S A N TA LI E S TR A R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 501 Capítulo 21 • HIDROCARBONETOS 1 INTRODUÇÃO Por definição, dizemos que: Hidrocarbonetos são compostos formados exclusivamente por carbono e hidro- gênio. Consequentemente, os hidrocarbonetos obedecem à fómula geral CxHy . Veja que a existência apenas de carbono e hidrogênio, em compostos desse tipo, justifica muito bem o nome hidrocarboneto (hidro, do hidrogênio, e carboneto, do carbono). Os hidrocarbonetos constituem uma classe de compostos orgânicos muito grande, variada e importante, pois englobam o petróleo e seus derivados, o gás natural etc. Além disso, as cadeias carbônicas dos hidrocarbonetos servem como matriz ou base para a maioria dos demais compostos orgânicos. Exemplos: C CH3 CH3 CH3 CH2 CH CH3 (ou C8H18)CH3 Metano Existe no gás natural. CH4 CH3 K CH2 K CH2 K CH3 (ou C4H10) Octano Existe na gasolina. Butano Existe no gás de cozinha. 2 O PETRÓLEO E OS ALCANOS Você pode observar O petróleo é a principal fonte de energia usada na vida moderna. O traba- lho com o petróleo gera milhões de empregos pelo mundo afora. O interesse pelo petróleo tem provocado várias guerras. Seu preço influi enormemente na economia mundial e, infelizmente,ele é também responsável por boa parte da poluição no mundo moderno. 2.1. A extração e o refino do petróleo O petróleo é um líquido escuro, oleoso, formado pela mistura de milhares de compostos orgâni- cos, com grande predominância de hidrocarbonetos. A palavra petróleo vem do latim (petra — pedra; oleum — óleo), lembrando que é um material oleoso extraído de rochas. Esse combustível fóssil tem sua origem em pequenos seres vegetais e animais da orla marítima, que foram soterrados há milhões de anos. Pela ação de micro-organismos, da pressão, do calor e do tempo, essa matéria orgânica foi transformada em petróleo. Como a natureza contou com condições especiais e levou milênios para produzi-lo, a humanidade não tem meios de produzir novas reservas de petróleo a curto prazo. Sendo assim, é importante consi- derar o petróleo como um recurso não-renovável. R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 502 • Fundamentos da Química O petróleo é encontrado em bol- sões profundos — às vezes em terra firme, outras vezes abaixo do fundo do mar. Acredita-se que 50% das jazidas mundiais de petróleo estejam sob o mar. As jazidas em terra firme obedecem, geralmente, ao esquema ao lado. Em geral o petróleo é encontrado sobre água salgada, o que lembra sua origem marinha, e embaixo de uma camada gasosa, formada por CH4, C2H6 etc. em alta pressão. A extração de petróleo no mar é mais difícil. A Petrobras, atualmente, é uma das companhias que detêm a tecnologia mais desenvolvida para esse tipo de extração. Temos, ao lado, um esquema de plataforma submarinas. O mapa abaixo mostra as princi- pais bacias sedimentares brasileiras, que são as regiões com maiores pro- babilidades de ocorrer petróleo e/ou gás natural. Atualmente, no Brasil, a maior parte do petróleo está sendo re- tirada de jazidas sob o mar, principal- mente na chamada Bacia de Campos, no estado do Rio de Janeiro. Dados da Petrobras, do ano de 2004, estimam nossas reservas em 14,8 bilhões de barris de petróleo e 498 bi- lhões de m3 de gás natural. Solo Arenito Rocha A B C Gás Petróleo Água salgada Torre de perfuração Jazidas de petróleo em terra firme Navio-tanque Boia Oleoduto flexível Oleoduto flexível de quilômetros de comprimento Dutos: óleo Poços Representação esquemática de plataforma semissubmersível Fonte: Petrobras. OCEANO ATLÂNTICO OCEANO PACÍFICO Região petrolífera do Recôncavo Baiano Amazonas Marajó Alto-Tapajós Paraíba Tacutu Solimões Parecis Pantanal Paraná Taubaté Bananal São Francisco Jatobá Tucano Recôncavo Acre Região petrolífera de Campos (RJ) Bacia de Santos 0 580 km N O L S Bacias sedimentares brasileiras com maiores probabilidades de ocorrência de petróleo e/ou gás natural R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 503 Capítulo 21 • HIDROCARBONETOS Após a extração, o petróleo é transportado até as regiões consumidoras, por meio de oleodutos ou de superpetroleiros, navios gigantescos que deslocam até 750.000 toneladas. Como sabemos, o transporte marítimo desse tipo de carga tem cau- sado sérios desastres ecológicos, devido a acidentes com esses petroleiros. Transportado por navios e oleodutos, o petróleo vai para as refinarias de petróleo, onde sofre a separação e purificação de seus componentes — é o processo denominado refino ou refina- ção do petróleo, que esquematizamos a seguir. Petróleo cru Aquecimento Fornalha 400 °C Pratos de destilação Torre de destilação a pressão atmosférica Frações/Intervalo de ebulição/Composição química Gases < 30° C (C1 a C5 ) (GLP - gás liquefeito de petróleo) Gasolina (C6 a C10) de 35 °C a 140 °C Destilado médio (querosene) (C11 a C12) de 150 °C a 250 °C Óleo diesel e óleos leves (C13 a C17 ) de 250 °C a 360 °C) Óleos combustíveis (C18 a C25) Torre de destilação a vácuo Frações Óleo lubrificante leve (C26 a C30) Óleo lubrificante médio (C31 a C34) Óleo lubrificante pesado (C35 a C38) Resíduo final (asfalto) Resíduo (óleos pesados) 400 °C Aquecimento Vapor Vapor Nesse esquema, o petróleo cru (ou bruto) entra em uma fornalha (lado esquerdo), onde é aque- cido; a seguir passa pela torre de destilação à pressão atmosférica, onde são separadas várias fra- ções (atente para a descrição, ao lado dessa torre, com os nomes das frações, seus intervalos de ebulição e a composição química, aí representada pelos números de átomos de carbono em cada fração). O resíduo da primeira torre é reaquecido e vai para a segunda torre, de destilação a vácuo (ou melhor, destilação a pressão reduzida), de onde saem vários óleos lubrificantes e o resíduo final, que é o asfalto. Navio petroleiro. FRANK & ERNEST ® by Bob Thaves 20 05 U N IT E D M E D IA / IN TE R C O N TI N E N TA L P R E S S R IC A R D O A ZO U R Y / O LH A R IM A G E M R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 504 • Fundamentos da Química 2.2. O gás natural O gás natural é uma mistura gasosa, formada por CH4 (de 70% a 99%), C2H6 (de 0,5% a 7%), ou- tros alcanos (em porcentagens me- nores), H2S, CO2, N2 etc. Certos ga- ses naturais contêm inclusive hélio. O gás natural ocorre em jazi- das subterrâneas, misturado ou não com o petróleo. É encontrado no Brasil, na Europa, nos Estados Uni- dos, na Rússia, na Bolívia etc. Estima-se que o Brasil tenha reservas da ordem de 498 bilhões de m3 de gás natural, situadas prin- cipalmente nas bacias de Campos e de Santos. O gás natural prove- niente dessa região é distribuído, por meio de gasodutos, para os es- tados do Rio de Janeiro e de São Paulo. Há projeto de aproveitamen- to do gás natural da região petrolí- fera do rio Urucu, no Amazonas, para a produção de energia elétri- ca para os estados do Amazonas, do Acre e de Rondônia. Para suprir a demanda de ener- gia, o Brasil ainda necessita impor- tar gás natural. Pelo gasoduto Bra- sil-Bolívia, construído em parceria pelos dois países, a Bolívia fornece gás natural para várias cidades do centro-sul brasileiro. O gás natural é um ótimo combustível, tanto pelo seu alto poder calorífico como pelo fato de ser menos poluente do que os de- rivados do petróleo. Por esse moti- vo, está sendo cada vez mais usa- do como combustível nas indústrias e em automóveis (gás natural vei- cular — GNV). G G G G G G G G G G G G G G G G G G G G G URUGUAI PARAGUAI C H IL E COLÔMBIA PERU 280 bilhões BRASIL 498 bilhões BOLÍVIA 1,5 trilhão ARGENTINA 950 bilhões VENEZUELA 4,4 trilhões Campos Betim VITÓRIA Itajaí Londrina São Carlos Dourados Corumbá CUIABÁ Goiânia CAMPO GRANDE Maringá CURITIBA Uruguaiana Alegrete Joinville SÃO PAULO RJ BELO HORIZONTE BRASÍLIA SALVADOR ARACAJU MACEIÓ RECIFE NATAL JOÃO PESSOA REDUC Criciúma FLORIANÓPOLIS PORTO ALEGRE Rib eirã o P reto Feira de Santana Teresina SÃO LUIZ BELÉM MACAPÁ BOA VISTA MANAUS Urucum Juruá Carauari RIO BRANCO PORTO VELHO Guamaré FORTALEZA Coari CARACAS Trinidad y Tobago CAMISEA BOOMERANG R. GRANDE V. GRANDES. ANTÔNIO S. ALBERTO Santa Cruz RAMOS SANTIAGO CONCEPCION CUENCA NEUQUINA MONTEVIDÉU Maracaibo Santa Bárbara Reservas estimadas de gás natural na América do Sul (em metros cúbicos) Em operação Em implantação Em estudo Bolívia/ Brasil Gasodutos TGS Gasodutos de outras companhias Interligação Sudeste/ Nordeste GASODUTOS Reservas de gásG 610 km0 N O L S Trecho do gasoduto Brasil-Bolívia em Itatiba (SP). É importante não confundir o gás natural (formado principalmente por metano K CH4) com o gás liquefeito de petróleo (GLP), que é uma das frações obtidas nas refinarias de pe- tróleo (formado principalmente por propano K C3H8 — e butano K C4H10). O GLP é o gás en- garrafado em botijões, parauso doméstico, ou em garrafas maiores, para cozinhas industriais, para mover empilhadeiras etc. É chamado de “liquefeito” porque, ao ser comprimido para dentro do botijão, parte passa para o estado líquido — o que podemos “sentir” balançan- do um botijão, ou mesmo ver em um isqueiro de plástico transparente. Gás liquefeito de petróleo (GLP) LU IZ C A R LO S M U R A U S K A S / FO LH A IM A G E M Fonte: Petrobras. R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 505 Capítulo 21 • HIDROCARBONETOS 2.3. A composição do petróleo Já dissemos que o petróleo é uma mistura formada por milhares de compostos orgânicos. Nele existem compostos complexos, em cujas moléculas estão presentes, por exemplo, enxofre e nitrogênio. Esses são os principais responsáveis pela poluição liberada na queima da gasolina, do diesel e de outros derivados do petróleo. No entanto, os principais componentes do petróleo são os alcanos. Alcanos (ou hidrocarbonetos parafínicos) são hidrocarbonetos acíclicos e saturados, isto é, que têm cadeias abertas e apresentam apenas ligações simples entre seus carbonos. Exemplos: Generalizando, temos: CnH2n � 2 Veja que, na fórmula geral CnH2n � 2, à medida que n assu- me os valores 1, 2, 3, 4, e assim por diante, estamos reprodu- zindo as fórmulas dadas na tabela acima. E, no petróleo, existem desde os alcanos mais simples (contendo 1, 2 ou 3 átomos de carbono) até os mais comple- xos (contendo 40 ou mais átomos de carbono), seja com ca- deias normais, seja com cadeias altamente ramificadas. 2.4. Descobrindo a estrutura dos compostos orgânicos A determinação da fórmula molecular de uma substância é um trabalho relativamente simples, como já descrevemos no capítulo 11 (Cálculo de fórmulas e estequiometria). A determinação da fórmula estrutural (que nos revela a arrumação dos átomos dentro das moléculas), porém, é muito mais difícil. Podemos fazer uma analogia, dizendo que a análise estrutural se assemelha a uma investigação policial, quando são reunidos muitos dados, provas, informações etc. para se descobrir a identidade do criminoso. Na análise estrutural, a substância é submetida não só a uma série de reações químicas de identificação como também a uma série de exames com o uso de luz infravermelha, luz ultravioleta, aparelhos de ressonância magnética etc. A parafina, muito utilizada na fabricação de velas e outros objetos decorativos, é uma mistura de alcanos de massa molecular elevada. Aparelho de espectroscopia infravermelho utilizado na análise estrutural de macromoléculas. Aparelho de ressonância nuclear magnética utilizado para análise de glicoproteínas. Fórmula estrutural condensada Fórmula molecular CH4 CH4 CH3 K CH3 C2H6 CH3 K CH2 K CH3 C3H8 CH3 K CH2 K CH2 K CH3 C4H10 JA V IE R J A IM E / C ID C H R IS T AY LO R -C S IR O / S P L- S TO C K P H O TO S JA M E S K IN G -H O LM E S / S P L- S TO C K P H O TO S R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 506 • Fundamentos da Química Um exemplo que nos mostra a importância da determinação da estrutura dos compostos orgâni- cos é o seguinte: sabe-se que existem gasolinas me- lhores e piores para o funcionamento do motor de um automóvel. Estudos revelam que a gasolina é uma mistura formada principalmente por hidro- carbonetos de fórmula C7H16 (heptano) e C8H18 (isooctano), entre os quais descobriu-se que o com- posto vulgarmente chamado isoctano é o que proporciona melhor desempenho ao funcionamen- to do motor de um automóvel. Ao contrário, o com- posto heptano acarreta o pior desempenho do motor, produzindo a conhecida “batida de pinos”. Daí surgiu o índice de octanos, que varia de zero a 100 e mede o desempenho dos combustíveis nos motores a explosão. Desse modo, quando dizemos que uma gasolina tem índice de octanos igual a 70, isso significa que ela tem um desempenho idên- tico ao de uma mistura de 70% de isoctano e 30% de heptano. São as pesquisas sobre a estrutura dos hidro- carbonetos que permitem melhorar, cada vez mais, o combustível usado, por exemplo, nos carros da Fórmula 1. Isoctano C CH3 CH3 CH3 CH2 CH CH3CH3 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH3 Heptano CH3 A Fórmula 1 é um importante campo para o desenvolvimento de combustíveis. FRANK & ERNEST ® by Bob Thaves Os antidetonantes Antidetonantes são compostos adiciona- dos à gasolina para aumentar seu índice de octanos. Em 1922, foi introduzido o chumbo- -tetraetila, cujo uso é atualmente proibido, pois na combustão libera chumbo, poluidor altamen- te nocivo para a atmosfera e os seres vivos. Pos- teriormente foi usado o éter metil-tercio- butílico, cuja sigla (MTBE) vem do inglês — methyl tert-butyl ether — e cujo uso atualmente é restrito. No caso brasileiro, o próprio álcool adicio- nado à gasolina já serve como antidetonante. Chumbo-tetraetila CH2 Pb CH2 CH3CH3 CH2 CH2 CH3CH3 C CH3 CH3 CH3CH3 O MTBE B R Y N L E N N O N / G E TT Y IM A G E S 20 05 U N IT E D M E D IA / IN TE R C O N TI N E N TA L P R E S S R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 507 Capítulo 21 • HIDROCARBONETOS 2.5. Alterando a estrutura dos compostos orgânicos Considerando que a estrutura dos compostos influem em suas propriedades, os químicos e as indústrias químicas desenvolveram processos para alterá-la, criando novos produtos de melhor qua- lidade (evidentemente de preço mais elevado). No caso do petróleo, podemos citar dois processos importantes: A. Cracking ou craqueamento Considerando que, do refino do petróleo, resultam grandes quantidades de óleos “mais pesados” (isto é, com moléculas maiores) que a gasolina, surgiu a ideia de “quebrar” essas moléculas maiores, aumentando assim a produção da gasolina. Esse processo é denominado cracking, “craqueamento” ou “pirólise”. O termo vem do inglês to crack (quebrar) e representa a quebra de frações mais pesadas (moléculas maiores) do petróleo, que são transformadas em frações mais leves (moléculas menores) por meio de dois processos: aquecimento (cracking térmico) ou aquecimento com a utilização de catalisadores (cracking catalítico), por exemplo: (Alcano) CH2 CH2 CH3CH3 CH CH CH3 ouCH3� CH2 CH2 CH2 CH2 CH3CH3 CH2 ouCH2� (Alceno) CH4� C2H4� C�C4H10 C8H18 (n-octano ou octano normal) ou C8H16 H2� O cracking é um processo complexo, pois a quebra de um alcano de molécula grande produz vários compostos de moléculas menores — alcanos, alcenos e, inclusive, carbono e hidrogênio — que são separados posteriormente. Mesmo assim, o cracking é um processo importantíssimo nas refinarias de petróleo e nas indústrias petroquímicas, pois permite produzir gasolina em quantidade maior e qualidade superior, além de inúmeros produtos que servem como matéria-prima para outras indústrias (por exemplo, com o CH2 L CH2 é fabricado o polietileno, um dos plásticos mais usados no mundo atual). B. Reforming ou reforma catalítica Outro processo importante nas refinarias de petróleo é o denominado reforming (ou reforma catalítica), que consiste em transformar hidrocarbonetos de cadeia normal em hidrocarbonetos ramificados, cíclicos e aromáticos. Por exemplo: ou Δ Esse processo é muito importante para melhorar a qualidade da gasolina, pois hidrocarbonetos ramificados, cíclicos e aromáticos têm índices de octanos mais elevados que os hidrocarbonetos normais. Na fórmula do hidrocarboneto aromático, a parte destacada em verde indica o anel ou núcleo, que é representado abreviadamente por: C C C H H C 3 H2� Hidrocarboneto aromático C C H H H H CH3 K CH2 K CH2 K CH2 K CH2 K CH3 Catalisadores R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe vere iro d e 19 98 . 508 • Fundamentos da Química indústria farmacêutica. O fato mais importan- te, nesse processo, é que se podem introdu- zir variações na molécula da substância (isto é, acrescentar ou retirar átomos, ou alterar apenas a “arrumação” dos átomos), de modo a obter medicamentos mais eficazes e com me- nos efeitos colaterais. As indústrias farmacêu- ticas investem bilhões de dólares anualmente nesse procedimento. Farmacêutico aquecendo material de origem vegetal em um evaporador rotatório. a) Hidrocarbonetos são compostos formados por e . b) Alcanos são hidrocarbonetos e . Sua fórmula geral é . c) O petróleo foi formado pela ação de , , e sobre pequenos seres e da orla marinha, que foram soterrados há de anos. d) Depois de extraído, o petróleo é , quando são separadas por as frações correspondentes a , , etc. e) O índice de octanos varia de a sendo a medida do caráter do combustível. f) No craqueamento, cadeias carbônicas são transformadas em . No reforming, cadeias carbônicas são transformadas em . REVISÃO De um modo geral podemos dizer que: Sínteses são os processos e reações que permitem produzir uma determinada subs- tância (partindo-se, em geral, de substân- cias mais simples). Análises são os processos e reações que permitem determinar a estrutura da molé- cula de uma dada substância (isto é, de que maneira os átomos estão “arrumados” no interior da molécula considerada). Os processos de síntese e de análise tive- ram um progresso extraordinário, a partir do século XX, possibilitando a criação de um nú- mero enorme de novos produtos para a melhoria de nossa vida diária, como plásticos, medica- mentos, corantes etc. Um exemplo interessante nos é dado pela indústria farmacêutica. Muitos medicamentos modernos foram obtidos por “imitação” de substâncias extraídas de plantas medicinais (al- gumas já conhecidas há muito pelos povos mais primitivos). E como isso é feito? Em li- nhas bastante gerais, aproveita-se a “dupla” síntese/análise da seguinte maneira: extrai- -se, da planta, a substância de efeito curativo; faz-se a análise dessa substância para deter- minar a estrutura de sua molécula (isto é, a “arrumação” dos átomos no interior dessa mo- lécula); em seguida, efetua-se a síntese da mesma substância em laboratório e depois na A “dupla” síntese/análise P E TE R M E N ZE L / S P L- S TO C K P H O TO S R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 509 Capítulo 21 • HIDROCARBONETOS 1 (Enem-MEC) Para compreender o processo de explora- ção e o consumo dos recursos petrolíferos, é fundamen- tal conhecer a gênese e o processo de formação do pe- tróleo descritos no texto abaixo. “O petróleo é um combustível fóssil, originado provavelmente de restos de vida aquática acumulados no fundo dos ocea- nos primitivos e cobertos por sedimentos. O tempo e a pres- são do sedimento sobre o material depositado no fundo do mar transformaram esses restos em massas viscosas de co- loração negra denominadas jazidas de petróleo.” (Adaptado de TUNDISI, Usos de energia. São Paulo: Atual, 1991.) As informações do texto permitem afirmar que: a) o petróleo é um recurso energético renovável a curto prazo, em razão de sua constante formação geológica. b) a exploração de petróleo é realizada apenas em áreas marinhas. c) a extração e o aproveitamento do petróleo são ativi- dades não-poluentes dada sua origem natural. d) o petróleo é um recurso energético distribuído homogeneamente, em todas as regiões, independen- temente da sua origem. e) o petróleo é um recurso não-renovável a curto prazo, explorado em áreas continentais de origem marinha ou em áreas submarinas. 2 (Enem-MEC) “A idade da pedra chegou ao fim, não porque faltassem pedras; a era do petróleo chegará igualmente ao fim, mas não por falta de petróleo.” Xeque Yamani, Ex-ministro do Petróleo da Arábia Saudita. O Estado de S. Paulo, 20/08/2001. Considerando as características que envolvem a utili- zação das matérias-primas citadas no texto em dife- rentes contextos histórico-geográficos, é correto afir- mar que, de acordo com o autor, a exemplo do que aconteceu na Idade da Pedra, o fim da era do Petróleo estaria relacionado: a) à redução e esgotamento das reservas de petróleo. b) ao desenvolvimento tecnológico e à utilização de no- vas fontes de energia. c) ao desenvolvimento dos transportes e consequente aumento do consumo de energia. EXERCÍCIOS d) ao excesso de produção e consequente desvaloriza- ção do barril de petróleo. e) à diminuição das ações humanas sobre o meio am- biente. 3 (Enem-MEC) A gasolina é vendida por litro, mas, em sua utilização como combustível, a massa é o que importa. Um aumento da temperatura do ambiente leva a um au- mento no volume da gasolina. Para diminuir os efeitos práticos dessa variação, os tanques dos postos de gasolina são subterrâneos. Se os tanques não fossem subterrâneos: I. Você levaria vantagem ao abastecer o carro na hora mais quente do dia, pois estaria comprando mais massa por litro de combustível. II. Abastecendo com a temperatura mais baixa, você estaria comprando mais massa de combustível para cada litro. III. Se a gasolina fosse vendida por kg em vez de por litro, o problema comercial decorrente da dilatação da ga- solina estaria resolvido. Destas considerações, somente: a) I é correta. d) I e II são corretas. b) II é correta. e) II e III são corretas. c) III é correta. 4 (F. M. Santos-SP) O gás engarrafado de uso doméstico é uma mistura de: a) CH4 a C2H6 c) C6H14 a C12H26 e) C3H8 a C4H10 b) C5H12 a C7H16 d) C12H26 a C15H32 5 (Uece) O tetraetil-chumbo, agente antidetonante que se mistura à gasolina, teve sua utilização proibida no Brasil porque: a) aumenta a octanagem da gasolina. b) sem esse aditivo, a gasolina teria melhor rendimento. c) aumenta a resistência da gasolina com relação à ex- plosão por simples compressão. d) seus resíduos, que saem pelo escapamento do carro, poluem o meio ambiente. 6 (Uerj) O gás natural proveniente da bacia petrolífera de Campos é constituído basicamente por gás metano (CH4). Se o volume consumido por uma residência for de 30 m3 de CH4 (g), à temperatura de 27 °C e pressão de 1 at- mosfera, a massa consumida desse gás, em kg, será de: a) 13,60 b) 15,82 c) 19,75 d) 22,40 2.6. Nomenclatura dos alcanos É fácil compreender que dar nomes aos milhões de compostos orgânicos não é um problema de simples solução. Sem dúvida, a nomenclatura dos compostos orgânicos é bastante complexa. Começare- mos pelos alcanos, cuja nomenclatura serve de modelo para as demais famílias de compostos orgânicos. A. Alcanos não-ramificados Sua nomenclatura, segundo a IUPAC, é caracterizada pela terminação ANO. Os alcanos mais simples, com até quatro átomos de carbono, têm nomes especiais, que foram conservados por tradição: Fórmula estrutural condensada Fórmula molecular Nome CH4 CH4 Metano CH3 K CH3 C2H6 Etano CH3 K CH2 K CH3 C3H8 Propano CH3 K CH2 K CH2 K CH3 C4H10 Butano R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 510 • Fundamentos da Química Os alcanos de cinco ou mais átomos de carbono já têm uma nomenclatura mais lógica. Seus nomes são formados por um prefixo (de origem grega ou latina), que indica o número de átomos de carbono na molécula, seguido da terminação ANO, característica dos alcanos. Fórmula molecular Prefixo Nome C5H12 Penta (cinco) Pentano C6H14 Hexa (seis) Hexano C7H16 Hepta (sete) Heptano C8H18 Octa (oito) Octano C9H20 Non (nove) Nonano C10H22 Deca (dez) Decano E, daí em diante, temos: com 11 carbonos, undecano; com 12, dodecano; com 13, tridecano; com 14, tetradecano; com 20, eicosano; com 30, triacontano; com 40, tetracontano; etc. B. Alcanos ramificados Quando o alcano tem cadeia ramificada, devemos citar, além do nome da cadeia, o das ramifica- ções. As ramificaçõesmais simples são os grupos derivados dos próprios alcanos, pela “retirada” de apenas um átomo de hidrogênio. Seus nomes derivam do alcano correspondente, trocando-se a terminação ANO por IL (daí o nome genérico de grupos alquil ou alquila). Sendo assim, temos: A nomenclatura IUPAC Até o século XIX, os nomes dos compos- tos orgânicos eram dados arbitrariamente, apenas lembrando sua origem ou alguma de suas características. Assim, por exemplo, o H K COOH foi chamado de “ácido fórmico” porque era encontrado em certas formigas. Com o crescimento do número de compos- tos orgânicos, a situação foi se complicando de tal modo que os químicos, reunidos no Congres- so Internacional de Genebra, em 1892, resolve- ram iniciar uma racionalização da nomenclatura orgânica. Após várias reuniões internacionais, surgiu a denominada nomenclatura IUPAC. A nomenclatura IUPAC é formada por inú- meras regras, com o objetivo de dar nomes bas- tante lógicos aos compostos orgânicos, de modo que: • cada composto tenha um nome diferente que o distinga de todos os demais; • dada a fórmula estrutural de um composto, seja possível elaborar seu nome, e vice-versa. Apesar de a nomenclatura IUPAC ser consi- derada oficial pelos químicos, ainda persistem outros tipos de nomenclatura, como também veremos mais adiante. A IUPAC considera também os seguintes grupos, cujos nomes foram consagrados pelo uso: C CH3 CH3 CH3 Terciobutil, terc-butil ou t-butil Isopropil CH CH3 CH3 Isobutil CHCH2 CH3 CH3 Sec-butil ou s-butil CHCH3 CH2 CH3 Composto Ramificação CH4 (metano) K CH3 (metil) CH3 K CH3 (etano) K CH2 K CH3 (etil) CH3 K CH2 K CH3 (propano) K CH2 K CH2 K CH3 (propil) (ou normal propil ou n-propil) CH3 K CH2 K CH2 K CH3 (butano) K CH2 K CH2 K CH2 K CH3 (butil) (ou normal butil ou n-butil) R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 511 Capítulo 21 • HIDROCARBONETOS Desse modo, partindo da fórmula estrutural para o nome do composto, temos, por exemplo: Portanto, o nome é: metil-propano. Em moléculas maiores, deve-se considerar como cadeia principal a cadeia carbônica mais longa, e esta deve ser numerada para indicar a posição de cada ramificação. Por exemplo: CHCH3 CH3 CH3 A cadeia de 3 átomos lembra o propano. A ramificação chama-se metil. Nome: CHCH3 CH2 CH2 CH2 CH2 CH3 21 3 4 5 6 7 CH3 A cadeia corresponde ao heptano. A numeração da cadeia principal deve ser feita de tal modo que as ramificações recebam os meno- res números possíveis (regra dos menores números). Por exemplo: 2 - metil-heptano O número 2 indica a posição do grupo metil na cadeia. Numerando-se a cadeia da esquerda para direita, o CH3 ficaria na posição número 5. Logo, deve- -se escolher a outra numeração, em que a posição do CH3 recebe o número 3 (3 é menor que 5). O nome correto é, pois: 3-metil-heptano. Havendo duas (ou mais) ramificações iguais, usamos os prefixos di, tri, tetra etc. para indicar a quantidade dessas ramificações. Por exemplo: CHCH3 CH2 CH2CH2 CH2 CH3 21 3 4 5 6 7 67 5 4 3 2 1 CH3 Errado Correto Note que os números sempre indicam a posição de cada ramificação na cadeia principal, enquanto os prefixos di, tri, tetra etc. indicam a quantidade de ramificações iguais. Note também que os números são separados entre si por vírgulas, enquanto os nomes são separados por hifens. Havendo ramificações diferentes, elas serão citadas em ordem alfabética. Por exemplo: Errado: 3-metil-4-metil-heptano Correto: 3,4-dimetil-heptano CH2CH3 CH CH CH2 CH2 CH3 21 3 4 5 6 7 CH3 CH3 O nome é 4-etil-3-metil-heptano, uma vez que a letra e, de etil, precede a letra m, de metil. CH2CH3 CH CH CH2 CH2 CH3 21 3 4 5 6 7 CH3 CH2 CH3 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 512 • Fundamentos da Química Enfim, a ideia básica da nomenclatura IUPAC é muito simples: funciona como se estivéssemos numerando uma rua (a cadeia principal) e citando cada um de seus moradores (as ramificações) junta- mente com o número de sua residência. Um dos principais cuidados na nomenclatura IUPAC é considerar sempre como cadeia principal a mais longa. Compare as duas situações do exemplo abaixo: Errado, pois a cadeia tomada como principal tem apenas seis átomos de carbono. CH2CH3 CH2 CH2 CH CH3 56 4 3 2 1 CH2 CH3 Correto, pois a cadeia principal, imaginada “em ângulo”, tem sete átomos de carbono. Além disso, o sentido da numeração dará ao CH3 o menor número (3) possível. CH2CH3 CH2 CH2 CH CH3 67 5 4 3 2 1 CH2 CH33-metil-heptano Na eventualidade de termos duas (ou mais) cadeias de mesmo comprimento, devemos escolher como principal a cadeia mais ramificada. Por exemplo: Correto, pois, apesar de a cadeia principal agora escolhida ter o mesmo número de átomos de carbono (6), ela é mais ramificada (há duas ramificações, contra apenas uma na hipótese anterior). CH2CH3 CH CH2 CH2 CH3 21 3 4 5 6 CH CH3 CH3 Errado, pois há apenas uma ramificação. CH2CH3 CH CH2 CH CH3 CH2 CH3 2 1 3 4 5 6 CH3 3-etil-2metil-hexano Na verdade, não é comum (e portanto você deve evitar) escrever a cadeia principal “em ângulo”. Sendo assim, o último exemplo dado seria normalmente escrito assim: Apesar disso, é importante lembrar sempre da cadeia mais longa, mesmo que ela apareça “em ângulo”. As regras atuais de nomenclatura pedem, também, para se omitir o hífen entre os nomes da ramificação e da cadeia principal. Desse modo, o último nome citado deveria ser escrito 3-etil-2-metilexano. Visando a maior clareza, porém, continuaremos usando o hífen, ficando com o nome 3-etil-2-metil-hexano. CH2 CH CH CH2 CH2 CH3 21 3 4 5 6 CH3 CH2 CH3 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 513 Capítulo 21 • HIDROCARBONETOS OBSERVAÇÃO Lembramos que existem nomenclaturas antigas que ainda persistem, apesar da IUPAC, como nos exemplos a seguir: CH3 CH CH3 CH3 Isobutano CH3 CH CH2 CH3 CH3 Isopentano CH3 CH CH2 CH2 CH3 CH3 Iso-hexano CH3 C CH3 CH3 CH3 Neopentano CH3 C CH2 CH3 CH3 CH3 Neo-hexano O nome do alcano indica o número total de carbonos no composto, mas perceba que o prefixo ISO está sempre caracterizando a presença do grupo: CH3 CH CH3 O nome do alcano indica o número total de carbonos no composto, e o prefixo NEO indica a presença do grupo: CH3 C CH3 CH3 7 Dê nomes, segundo a IUPAC, aos seguintes alcanos: a) a) O nome de um alcano normal é formado por um , indicando o número de átomos de na molécula, e pela terminação . b) O nome de um alcano ramificado apresenta os nomes das , os números indicando suas e o nome da cadeia . REVISÃO EXERCÍCIOS d) b) CH3 C CH2 CH2 CH CH3 CH3 CH3 CH3 CH3 CH CH CH3 CH2 CH2 CH3 CH3 CH2 CH2 CH3 CH2 CH3 CH3 CH3 CH CH2 CH CH3 CH3 c) 8 Escreva as fórmulas estruturais dos seguintes compostos: a) 2-metil-heptano; b) 2,4-dimetil-pentano; c) 3-etil-2,2-dimetil-octano; d) metil-etil-propil-butil-metano. 9 (FEI-SP) O nome do composto formado pela união dos radicais etil e tércio-butil é: a) 2,2 dimetilbutano c) 3 metilpentano e) etilpropano b) 2 metilpentano d) n hexano R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 514 • Fundamentos da Química 10 (UFSM-RS) H3C C H CH2 C H H C CH3 H H CH3 C H CH2 CH2 CH3 C H CH2 CH2 CH3 Segundo a IUPAC, o nome correto do alcano apresenta- do é: a) 3-metil-5-propil-6-etiloctano b) 4-etil-7-metil-5-propilnonano c) 3-metil-6-etil-5-propilnonano d) 6-etil-5-propil-3-metiloctano e) 7-etil-7-metil-6-etilnonano 11 (Mackenzie-SP) A octanagem é uma medida da resistên- cia à compressão da gasolina. O isoctano é utilizado como padrão de índice de octanagem por ser o composto que mais resiste à compressão semexplodir. A respeito do isoctano, é incorreto afirmar que: a) seu nome oficial é 2,2,4-trimetil-pentano. b) apresenta cadeia carbônica aberta e ramificada. c) é um alcano. d) apresenta cinco carbonos primários. e) é um hidrocarboneto insaturado. H3C C CH2 CH3 CH3 C CH3 CH3 H Isoctano 2.7. Combustão dos alcanos Os alcanos sofrem combustão, isto é, queimam com muita facilidade. Quando acendemos um isqueiro comum (a gás butano, C4H10), a faísca provoca a reação do butano com o oxigênio do ar, resultando a chama característica: 2 C4H10 � 13 O2 8 CO2 � 10 H2O � Calor Reações semelhantes ocorrem quando acendemos um fogão a gás, quando “queimamos” gasoli- na para movimentar um automóvel, diesel para movimentar ônibus e caminhões etc. Note que, nesses casos, o “produto” principal que desejamos é o calor, isto é, a energia produzida pela reação. É interessante notar o que acontece quando, na mistura do alcano com o oxigênio (ou com o ar), começa a escassear a quantidade de oxigênio (ou de ar). Acompanhe os três exemplos abaixo: I. 2 C4H10 � 13 O2 8 CO2 � 10 H2O II. 2 C4H10 � 9 O2 8 CO � 10 H2O III. 2 C4H10 � 5 O2 8 C � 10 H2O Note que, de I para III, houve diminuição da quantidade de oxigênio consumido pela reação (13 � 9 � 5). Dizemos, por isso, que I é uma combustão total ou completa e produz gás carbônico (CO2); já II e III são combustões parciais ou incompletas e produzem o monóxido de carbono (CO) e o carbono (C) respectivamente. Em um automóvel com o motor bem regulado, deve haver combustão total, com produção apenas de CO2. Quando o motor está desregulado (com entrada insuficiente de ar), a combustão tende a ser parcial, produzindo CO — que é altamente tóxico e já causou muitas mortes em garagens malventiladas (o mesmo ocorre em banheiros fechados com aquecedores a gás). Em casos extremos, como acontece com ônibus e caminhões, a combustão é tão incompleta que o carbono formado torna-se visível ao sair pelo escapamento, sob forma de fumaça escura (fuligem). Por outro lado, devemos ressaltar que, em fábricas especializadas, a combustão parcial de alcanos é provocada intencionalmente, visando à produção de carbono, pois o carvão finamente dividido (conhecido como negro-de-fumo) é importante na fabricação de certas tintas, graxa para sapatos etc., e na composição da borracha para fabricação de pneus. OBSERVAÇÃO A explicação dada para a combustão total e parcial dos alcanos continuará válida para todos os demais compostos orgânicos. R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 515 Capítulo 21 • HIDROCARBONETOS Indústrias, automóveis, ônibus, caminhões etc., que queimam gasolina, diesel, óleo combus- tível etc., produzem, dentre outros gases, o CO2, que polui a atmosfera e amplia o efeito estufa. Muitas pesquisas estão sendo feitas com o intuito de retirar ou sequestrar ao menos uma parte do CO2 que entra continuamente na at- mosfera. Uma da ideias é plantar grandes exten- sões de árvores especiais, de crescimento rápido. Principalmente durante seu crescimento, os ve- getais realizam o seguinte tipo de reação. O sequestro de carbono de algas que absorverão CO2 e depois serão usadas como óleo combustível. Atualmente, cogita-se até criar o chamado crédito de carbono, que países ricos (que pro- duzem muito CO2) pagariam a países mais po- bres (mas com grandes florestas) pelo direito de produção do CO2. Os valores pagos serão utili- zados na preservação do meio ambiente e no desenvolvimento e aplicação de tecnologias para redução da poluição no planeta. Até teríamos uma dupla utilidade: a retira- da do excesso de CO2 da atmosfera e a libera- ção de O2 para a atmosfera. Outros estudos estão sendo feitos, como, por exemplo: o cultivo de grandes quantidades CO2 O2 Representação esquemática do sequestro do carbono 2.8. Metano O metano (CH4), cuja principal fonte é o gás natural, é um gás incolor, inodoro e muito inflamável. Sua mistura com o ar explode violentamente, quando em contato com chama ou faísca. Essa inflamabilidade já causou muitas explosões em mi- nas de carvão, no interior das quais ocorre a emanação do metano (a mistura do metano com o ar é chamada, em mine- ração, de grisu). Por esse motivo, os antigos mineiros usavam um tipo de lampião (lâmpada de Davy), cuja chama era prote- gida por uma tela metálica. Atualmente, todos os dispositivos elétricos (lâmpadas, motores etc.) usados em minas de carvão são blindados, para evitar perigo das faíscas elétricas (foto A). O metano se forma também nos pântanos, pelo apodreci- mento de vegetais, sendo por isso chamado de gás dos pânta- nos, e nos aterros sanitários (aterros de lixo urbano), devido à atividade de bactérias que se multiplicam no lixo (foto B). Por esse motivo, nos aterros sanitários, são colocadas muitas chami- nés, que atravessam as várias camadas de material depositado, pelas quais escoam os gases formados pela fermentação do lixo. Essa mistura gasosa, que é formada principalmente por metano, é queimada continuamente, de modo a destruir também os ga- ses que provocariam mau cheiro nos arredores do aterro. A ideia de extrair gases do lixo é aproveitada nos chamados biodigestores e nas usinas de biogás (foto C). Nesses apare- lhos, são colocados resíduos agrícolas, madeira, bagaço de cana- de-açúcar, dejetos animais etc. (biomassa), cuja fermentação pro- duz o chamado biogás — mistura gasosa formada principalmente por metano. O biogás é usado como combustível em caldeiras, veículos etc., e o resíduo formado no biodigestor é utilizado como fertilizante agrícola. Esse é um bom exemplo de aproveitamento racional da biomassa, uma vez que, além de produzir energia, reduz os prejuízos que o lixo causa ao ambiente. Aterro sanitário Bandeirantes. Nesta imagem podem-se observar as chamas saindo das chaminés. O2 (que volta ao ar) H2O (do solo)CO2 (do ar) (energia solar) (compostos orgânicos) Usina de biogás do aterro sanitário de Perus (SP). B C Mineiro com equipamento elétrico blindado para perfuração de rochas numa mina de ouro. D AV E S A U N D E R S / S TO N E -G E TT Y IM A G E S M Ô N IC A Z A R AT TI N I / A E D E LF IM M A R TI N S / P U LS A R A R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 516 • Fundamentos da Química Você pode fazer Não cheire nem experimente substâncias desconhecidas. Cuidado com as substâncias tóxicas e/ou inflamáveis. Cuidado com respingos na pele e nos olhos. O funcionamento de um bico de Bunsen Material necessário: • Um bico de Bunsen alimentado com gás natural ou engarrafado. • Um pires branco e limpo. Procedimento: • Observe que o bico de Bunsen tem, em sua parte infe- rior, um anel que, ao ser girado, deixa uma “janela”, ora aberta ora fechada, que permite controlar a entra- da do ar para a combustão do gás. • Acenda o bico de Bunsen, deixe a janela aberta e obser- ve a cor da chama; segure o pires, com a garra sobre a chama (sem aproximar demais) por 1 ou 2 minutos. • Com o bico aceso, feche a janela e observe a cor da chama. • Ainda com a janela fechada, segure o pires, com a garra, sobre a chama (sem aproximar demais) por 1 ou 2 minutos. Questões: 1. Qual é a cor da chama com a janela aberta? 2. Qual é a cor da chama com a janela fechada? 3. O que se nota no pires com a janela aberta? E com a janela fechada? 4. Explique os fatos observados, por meio de equações químicas. Anel com janela Gás Pires Garra a) Combustão completa de um alcano é a que produz e . Combustão incompleta é a que produz e/ou , além da . b) O sequestro de carbono visa retirar uma parte do existente na . c) O metano principal constituinte do gás , ocorre em minas de , nos , nos aterros e na produção do . REVISÃO EXERCÍCIOS 12 (Mackenzie-SP) O gás metano, principal constituinte do gás natural, pode ser obtido: I. Em bolsões naturais, assimcomo o petróleo. II. Na fermentação de lixo orgânico doméstico e de excrementos de animais. III. Na decomposição de vegetais no fundo dos lagos e pântanos. IV. Na combustão total da madeira. Estão corretas, somente: a) I e IV. c) III e IV. e) I, II e III. b) I, II e IV. d) II e III. 13 (Mackenzie-SP) Na combustão incompleta de metano, obtêm-se água e carbono finamente dividido, denomi- nado negro-de-fumo, que é utilizado na fabricação de graxa de sapatos. A alternativa que apresenta essa rea- ção corretamente equacionada e balanceada é: a) CH4 � O2 C � H2O b) CH4 � O2 CO � H2O c) CH4 � O2 C � 2 H2O d) CH4 � 2 O2 CO2 � 2 H2O e) CH4 � O2 CO � 2 H2O Δ Δ Δ Δ Δ R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 517 Capítulo 21 • HIDROCARBONETOS 3 14 (Enem-MEC) Há estudos que apontam razões econômi- cas e ambientais para que o gás natural possa vir a tor- nar-se, ao longo deste século, a principal fonte de ener- gia em lugar do petróleo. Justifica-se essa previsão, entre outros motivos, porque o gás natural: a) além de muito abundante na natureza é um combus- tível renovável. b) tem novas jazidas sendo exploradas e é menos po- luente que o petróleo. c) vem sendo produzido com sucesso a partir do carvão mineral. d) pode ser renovado em escala de tempo muito inferior à do petróleo. e) não produz CO2 em sua queima, impedindo o efeito estufa. 15 (Enem-MEC) Já são comercializados no Brasil veículos com motores que podem funcionar com o chamado combus- tível flexível, ou seja, com gasolina ou álcool em qual- quer proporção. Uma orientação prática para o abasteci- mento mais econômico é que o motorista multiplique o preço do litro da gasolina por 0,7 e compare o resultado com o preço do litro de álcool. Se for maior, deve optar pelo álcool. A razão dessa orientação deve-se ao fato de que, em média, se com um certo volume de álcool o veículo roda dez quilômetros, com igual volume de ga- solina rodaria cerca de: a) 7 km c) 14 km e) 20 km b) 10 km d) 17 km 16 (Mackenzie-SP) C3H8 (g) � 5 O2 (g) 3 CO2 (g) � 4 H2O (g) Considerando os gases acima à mesma temperatura e pressão, na combustão de 20 litros de gás propano: a) obtêm-se 20 litros de gás carbônico. b) são necessários 20 litros de gás oxigênio. c) o volume total dos produtos é igual a 140 litros. d) obtêm-se 40 litros de água. e) o volume total dos produtos é igual a 40 litros. A PETROQUÍMICA E OS ALCENOS 3.1. Definição e fórmula geral Alcenos (também chamados alquenos, olefinas ou hidrocarbonetos etilênicos) são hidrocarbonetos acíclicos contendo uma única ligação dupla em sua cadeia carbônica. Exemplos: Generalizando, temos: CnH2n Conforme n seja igual a 2, 3, 4, 5..., teremos as fórmulas moleculares dos sucessivos alcenos. O composto mais simples da família dos alcenos é o eteno ou etileno (CH2 L CH2). Ele é produ- zido por frutos verdes e age no amadurecimento dessas frutas. Quando se embrulham bananas em jornal, por exemplo, “aprisiona-se” o etileno, o que acelera o amadurecimento dessas frutas. Imitan- do a natureza, muitos estabelecimentos comerciais utilizam esse gás para promover o amadureci- mento rápido de frutos. 3.2. A indústria petroquímica À exceção da pequena produção do etileno pelos frutos, como dissemos acima, os alcenos pratica- mente não existem na natureza. Atualmente, porém, a produção de grandes quantidades de alcenos é um dos principais objetivos da indústria petroquímica. Isso é devido à produção de plásticos, como, por exemplo: CH2 L CH2 (... K CH2 K CH2 K ...)n Fómula estrutural Fórmula molecular CH2 L CH2 C2H4 CH2 L CH K CH3 C3H6 CH2 L CH K CH2 K CH3 C4H8 CH3 K CH L CH K CH2 K CH3 C5H10 Polietileno (um dos plásticos mais usados atualmente) Etileno R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 518 • Fundamentos da Química Indústria petroquímica de base A partir da nafta (que é uma fração da destilação do petróleo) e por meio de uma série de processos químicos, são produzidos inúmeros compostos orgânicos de estrutura simples (alcenos, dienos, aromáticos etc.), que são depois utilizados pelas indústrias de transformação na obten- ção de produtos orgânicos de largo uso industrial, como plásticos, borrachas, corantes etc. Um esquema resumido da indústria petroquímica de base é mostrado abaixo: Petróleo Torre de destilação Nafta Diesel Matéria- -prima para... Matéria-prima petroquímica Gasolina GLP Gasolina Outros combustíveis Etileno Propileno Corrente C4 Aromáticos CH2 l CH2 CH2 l CH k CH3 CH2 l CH k CH2 k CH3 CH2 k CH l CH k CH3 Polietileno (embalagens, brinquedos etc.) Polipropileno (fitas, tapetes etc.) Borrachas sintéticas (pneus) Corantes, explosivos, poliéster (tecidos etc.) CH2 C CH3 CH3 CH2 l CH k CH k CH2 CH3 CH3 CH3 CH3 CH3 INDÚSTRIA PETROQUÍMICA BÁSICA INDÚSTRIA PETROQUÍMICA DE TRANSFORMAÇÃO AS TRANSFORMAÇÕES PETROQUÍMICAS — PRINCIPAIS APLICAÇÕES POR PRODUTO Vista aérea da Petroquímica União, em Mauá (SP).Ilustração montada a partir de informações disponíveis em http://www.pqu.com.br (acessado em 24/6/2005). Nafta Cracking e outros processos JU C A M A R TI N S / O LH A R IM A G E M INDÚSTRIA DO REFINO R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 519 Capítulo 21 • HIDROCARBONETOS 3.3. Nomenclatura dos alcenos A. Alcenos não-ramificados Segundo a IUPAC, a nomenclatura dos alcenos é semelhante à dos alcanos, bastando trocar a terminação ANO pela terminação ENO. Por exemplo: Para cadeias maiores torna-se necessário citar a posição da ligação dupla (lembre-se de que a ligação dupla é sempre o “local” mais importante na estrutura de um alceno). Acompanhe os exemplos abaixo: CH2 L CH K CH2 K CH3 CH3 K CH L CH K CH3 CH3 K CH2 K CH L CH2 Como os dois primeiros compostos são diferentes, é claro que seus nomes deverão ser também diferentes. As regras da IUPAC mandam indicar a posição da ligação dupla por meio de um número. Deve-se então numerar a cadeia a partir da extremidade mais próxima da ligação dupla e citar o menor dos dois números que abrangem a ligação dupla, escrevendo-o antes da terminação ENO. Temos então: 1 2 3 4 1 2 3 4 CH2 L CH K CH2 K CH3 CH3 K CH L CH K CH3 Nomenclatura IUPAC: But-1-eno Nomenclatura IUPAC: But-2-eno Nomenclatura antiga: 1-buteno ou Buteno-1 Nomenclatura antiga: 2-buteno ou Buteno-2 Veja que, para o primeiro composto, é errado numerar e dizer: 4 3 2 1 CH2 L CH K CH2 K CH3 But-3-eno pois a numeração não partiu da extremidade mais próxima da ligação dupla (e, como consequência, não obedece à “regra dos menores números” da IUPAC). Veja também que, no segundo composto, a sequência da numeração é indiferente: 4 3 2 1 1 2 3 4 CH3 K CH L CH K CH3 pois, neste caso, a fórmula é simétrica em relação à ligação dupla. B. Alcenos ramificados A nomenclatura dos alcenos de cadeias longas e ramificadas é, ainda, semelhante à dos alcanos, lembrando-se, porém, que: 1. A cadeia principal é a mais longa que contém a ligação dupla. 2. A numeração da cadeia principal é sempre feita a partir da extremidade mais próxima da ligação dupla, independentemente das ramificações presentes na cadeia. No nome do alceno, a posição da dupla é dada pelo número do primeiro carbono da dupla. Esse número é escrito antes da terminação ENO. 1o exemplo 2o exemplo Fórmula estrutural Fórmula molecular Nome CH2 L CH2 C2H4 Eteno CH2 L CH K CH3 C3H6 Propeno São moléculas (e substâncias) diferentes, devido à posição da ligação dupla. É igual à primeira fórmula (basta ler da direita para a esquerda). CHCH3 CH2 CH CH CH3 56 4 3 2 1 CH3 CHCH2CH2CH3 CH2 CH2 CH2 CH3 3 2 1 4 5 6 7 CH CH2 Nomenclatura IUPAC: 5-metil-hex-2-eno Nomenclatura antiga: 5-metil-2-hexeno Nomenclatura IUPAC: 3-propil-hept-1-eno Nomenclatura
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