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ASPECTOS LEGAIS E TRIBUTÁRIOS NAS SOCIEDADES DE COOPERATIVAS DE CRÉDITO Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autoras: Lucy Yuriko Pelliser Simone de Cássia Machado Müller CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Dr. Malcon Anderson Tafner Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Prof.ª Hiandra B. Götzinger Montibeller Prof.ª Izilene Conceição Amaro Ewald Prof.ª Jociane Stolf Revisão de Conteúdo: Prof. Luiz Salgado Klaes Revisão Gramatical: Prof.ª Sandra Pottmeier Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI 343.066 P391a Pelliser, Lucy Yuriko Aspectos legais e tributários nas sociedades de coope- rativas de crédito / Lucy Yuriko Pelliser e Simone de Cassia Machado Muller. Indaial : Uniasselvi, 2012. 208 p. : il. ISBN 978-85-7830-531-4 1. Cooperativas - tributos. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. Copyright © UNIASSELVI 2012 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Simone de Cássia Machado Müller Lucy Yuriko Pelliser Graduada em Ciências Contábeis (1996) e especialista em Gerenciamento de Marketing pela Fundação Universidade Regional de Blumenau, FURB (1999). Mestre em Liderança e Administração pela University of Texas System, UTS, Estados Unidos (2004). Publicou 2 artigos em periódicos especializados: Distance Learning in Higher Education: A Comparative Analysis of Brazil and the United States; e Comparative Research between Brazil and the United States in Distance Learning in Higher Education. Atua na área de administração, com ênfase em negócios internacionais. É graduada em Administração de Empresas pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIDAVI – especialista em Língua Inglesa pela Universidade Regional de Blumenau – FURB – e mestre em Administração de Negócios (2002). Tem experiência na área bancária, em que atuou durante 23 anos. Trabalhou como professora de Língua Inglesa com jovens no Seminário São Francisco de Assis em Ituporanga (SC) e, é seu primeiro trabalho na EAD UNIASSELVI. Sumário APRESENTAÇÃO ......................................................................7 CAPÍTULO 1 Análise e interpretação da Lei 5.764/71 e Legislação Complementar: Primeira Parte - Capítulos I a IX ................9 CAPÍTULO 2 Análise e Interpretação da Lei 5.764/71 e Legislação Complementar Parte II ..........................................................61 CAPÍTULO 3 O Cooperativismo e o Novo Código Civil Brasileiro .....105 CAPÍTULO 4 Legislação Tributária Aplicada às Cooperativas de Crédito ............................................................................137 CAPÍTULO 5 Legislação Complementar e Resolução do Banco Central ................................................................173 APRESENTAÇÃO Caro(a) pós-graduando(a): O crescimento do movimento cooperativista em nível mundial não poderiadeixar de ser acompanhado pelo Brasil. Os números são consideráveis: no mundo chega a 1 bilhão em mais de 100 países gerando cerca de 100 milhões de empregos. No Brasil são 9 milhões de associados distribuídos por 6.652 cooperativas, que geram mais de 300 mil empregos diretos, segundo dados da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras). No mundo já existem mais membros de Sociedades Cooperativas do que acionistas de Sociedades de Capital que somam 328 milhões, conforme aponta o relatório “Global Business Ownership 2012”, encomendado pela Organização das Cooperativas do Reino Unido (Cooperatives UK). Esses números mostram um momento especial para o desenvolvimento e crescimento da atividade cooperativista que ocupa cada vez mais os espaços econômico e social. Mostram ainda, que o Cooperativismo é um ideal socioeconômico que tem a força da cooperação e que nasceu das necessidades humanas em consonância com o Estado Democrático de Direito, em que vivemos no mundo atual. O que vemos hoje é o crescimento de uma consciência voltada para a convivência cada vez maior em redes, sejam sociais ou de trabalho. Acreditamos que seja esse um dos motivos da intensificação do espírito cooperativista. Esse ideal se faz notar pelas ações empreendidas pelas empresas e pela constante busca que o homem empreende por uma sociedade mais justa, voltada para o ser humano e por ações que busquem a sustentabilidade do planeta. 2012 foi designado pela ONU (Organização das Nações Unidas) como o Ano Internacional do Cooperativismo, com o objetivo de incentivar e destacar sua contribuição para o desenvolvimento socioeconômico e o impacto de suas ações na redução da pobreza, geração de emprego e integração social, conforme o Portal do Cooperativismo de Crédito. Assim, vemos que esse é um momento especial do Cooperativismo no Brasil e no mundo e, que, você está integrado nesse momento enquanto estuda e trabalha. Esse Caderno de Estudos foi elaborado para que você conheça a Lei nº 5.764/71 que é conhecida como a Lei das Cooperativas e quais foram as modificações que o Novo Código Civil Brasileiro introduziu nessa lei. Você vai conhecer um pouco da Legislação Tributária que é aplicada às Cooperativas em 8 Aspectos Legais e Tributários nas Sociedades de Cooperativas de Crédito geral e, por último, uma das mais importantes normas editadas em função das Cooperativas, que é a Lei Complementar nº 130/09, que trouxe mudanças significativas para as Cooperativas de Crédito, sendo a responsável pela introdução das mesmas no Sistema Financeiro Nacional. De modo especial, apresentamos a Governança Corporativa, uma ferramenta que está sendo adotada pelas grandes corporações e que visa dar maior transparência para a gestão das empresas, suas relações com associados e clientes, trazendo ainda, a padronização de determinados atos administrativos. CAPÍTULO 1 Análise e interpretação da Lei 5.764/71 e Legislação Complementar: Primeira Parte - Capítulos I a IX A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Conhecer a Lei 5.764/71 ou Lei das Cooperativas, que define a Política do Cooperativismo no Brasil e que institui o Regime Jurídico das Sociedades Cooperativas entre outras providências. � Relacionar os artigos da Lei 5.764/71 com a prática do Cooperativismo. 10 Aspectos legais e tributários nas sociedades de cooperativas de crédito 11 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX Capítulo 1 ConteXtualiZação Iniciamos os estudos desta disciplina apresentando a Lei 5.764/71 que defi ne a Política Nacional de Cooperativismo. Neste primeiro capítulo vamos apresentar a primeira parte desta Lei nº 5.764/71 fazendo uma análise e comentários da mesma. É a Lei 5.764/71 que defi ne a Política Nacional de Cooperativismo, instituindo o regime jurídico das sociedades cooperativas e que dá outras providências. Em virtude de ser uma Lei editada há praticamente 40 anos, existem muitas críticas sobre sua atualização e adequação ao cooperativismo contemporâneo de acordo com Fontenelle (2011), assessor jurídico da OCB/CE. Para ele, no entanto, a Lei 5.764/71 atende perfeitamente aos desafi os do cooperativismo necessitando maior discussão e divulgação do Direito Cooperativo para sua melhor compreensão. Desta forma iniciaremos a seguir os comentários sobre os artigos dessa Lei para conhecê-la melhor, utilizando para tanto o livro Direito Cooperativo Brasileiro (Comentários à Lei 5.764/71) de Paulo César Andrade Siqueira, além de citação de outros autores que contribuem para o entendimento da Lei das Cooperativas. Capítulo I a III da Lei 5.764/71 Primeiramente vamos conhecer os capítulos iniciaisda Lei 5.764/71, que falam do que é a Política Nacional de Cooperativismo, defi nindo também o que é uma Sociedade Cooperativa e quais são seus objetivos e como são classifi cadas. a) Da Política Nacional de Cooperativismo CAPÍTULO I Da Política Nacional de Cooperativismo Art. 1° Compreende-se como Política Nacional de Cooperativismo a atividade decorrente das iniciativas ligadas ao sistema cooperativo, originárias de setor público ou privado, isoladas ou coordenadas entre si, desde que reconhecido seu interesse público. 12 Aspectos legais e tributários nas sociedades de cooperativas de crédito Art. 2° As atribuições do Governo Federal na coordenação e no estímulo às atividades de cooperativismo no território nacional serão exercidas na forma desta Lei e das normas que surgirem em sua decorrência. Parágrafo único. A ação do Poder Público se exercerá, principalmente, mediante prestação de assistência técnica e de incentivos fi nanceiros e creditórios especiais, necessários à criação, desenvolvimento e integração das entidades cooperativas (BRASIL, 1971). Você pode observar que o legislador reconhece o cooperativismo como tema estratégico para o país bem como a existência de um sistema cooperativo quando cria uma Política Nacional de Cooperativismo. É interessante verifi car que ao citar que o sistema cooperativo é oriundo do setor público ou privado o Legislador retira o monopólio do setor público em relação às iniciativas ligadas ao cooperativismo. A lei determina ainda que o papel do Estado na Política Nacional do Cooperativismo seja de coordenação e estímulo a essa atividade. Já no Parágrafo único observamos que a ação estatal para a criação, desenvolvimento e integração das cooperativas será efetivada através da assistência técnica e de incentivos fi nanceiros e creditórios especiais. Além disso, o Legislador buscou preservar a autonomia e independência do sistema cooperativo ao delimitar o campo de atuação e forma de agir do Estado na Política Nacional de Cooperativismo. Das Sociedades Cooperativas CAPÍTULO II Das Sociedades Cooperativas Art. 3° Celebram contrato de sociedade cooperativa as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício de uma atividade econômica, de proveito comum, sem objetivo de lucro. Art. 1° Compreende- se como Política Nacional de Cooperativismo a atividade decorrente das iniciativas ligadas ao sistema cooperativo, originárias de setor público ou privado, isoladas ou coordenadas entre si, desde que reconhecido seu interesse público. 13 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX Capítulo 1 Art. 4º As cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas à falência, constituídas para prestar serviços aos associados, distinguindo-se das demais sociedades pelas seguintes características: I - adesão voluntária, com número ilimitado de associados, salvo impossibilidade técnica de prestação de serviços; II - variabilidade do capital social representado por quotas- partes; III - limitação do número de quotas-partes do capital para cada associado, facultado, porém, o estabelecimento de critérios de proporcionalidade, se assim for mais adequado para o cumprimento dos objetivos sociais; IV - inacessibilidade das quotas-partes do capital a terceiros, estranhos à sociedade; V - singularidade de voto, podendo as cooperativas centrais, federações e confederações de cooperativas, com exceção das que exerçam atividade de crédito, optar pelo critério da proporcionalidade; VI - quórum para o funcionamento e deliberação da Assembleia Geral baseado no número de associados e não no capital; VII - retorno das sobras líquidas do exercício, proporcionalmente às operações realizadas pelo associado, salvo deliberação em contrário da Assembleia Geral; VIII - indivisibilidade dos fundos de Reserva e de Assistência Técnica Educacional e Social; IX - neutralidade política e indiscriminação religiosa, racial e social; X - prestação de assistência aos associados, e, quando previsto nos estatutos, aos empregados da cooperativa; XI - área de admissão de associados limitada às possibilidades de reunião, controle, operações e prestação de serviços (BRASIL, 1971). Art. 3° Celebram contrato de sociedade cooperativa as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício de uma atividade econômica, de proveito comum, sem objetivo de lucro. 14 Aspectos legais e tributários nas sociedades de cooperativas de crédito Aqui, podemos identifi car algumas palavras-chave sobre o que o Direito- jurídico brasileiro defi ne como cooperativa. Com o objetivo de melhor compreender esses conceitos vamos fazer algumas atividades. Que tal começar relendo o capítulo II da Lei 5.764/71 com atenção? As principais diferenças entre as sociedades empresarias e as sociedades cooperativas são: os objetivos sociais, a legislação que as rege e principalmente a destinação dos resultados. O principal objetivo das sociedades empresariais é a produção de bens e serviços e a geração de lucros, enquanto que as sociedades cooperativas também produzem bens e serviços, mas distribuem o resultado do exercício, chamado “sobras líquidas”, aos seus associados ou cooperados. Atividade de Estudos: 1) Quem são as pessoas que atuam na formação de uma Sociedade Cooperativa e qual é a fi nalidade de sua constituição segundo este capítulo da lei? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Quais são as principais características que distinguem as Sociedades Cooperativas das demais sociedades? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Muito bem. Você pode observar que são muitas as diferenças entre as Sociedades Empresariais e as Sociedades Cooperativas. No próximo capítulo, vamos estudar os objetivos a que se propõem as Sociedades Cooperativas e, ainda, sua classifi cação. Vamos lá? 15 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX Capítulo 1 Do Objetivo e Classifi cação das Sociedades Cooperativas CAPÍTULO III Do Objetivo e Classifi cação das Sociedades Cooperativas Art. 5° As sociedades cooperativas poderão adotar por objeto qualquer gênero de serviço, operação ou atividade, assegurando- se lhes o direito exclusivo e exigindo-se lhes a obrigação do uso da expressão “cooperativa” em sua denominação. Parágrafo único. É vedado as cooperativas o uso da expressão “Banco”. Art. 6º As sociedades cooperativas são consideradas: I - singulares, as constituídas pelo número mínimo de 20 (vinte) pessoas físicas, sendo excepcionalmente permitida a admissão de pessoas jurídicas que tenham por objeto as mesmas ou correlatas atividades econômicas das pessoas físicas ou, ainda, aquelas sem fi ns lucrativos; II - cooperativascentrais ou federações de cooperativas, as constituídas de, no mínimo, 3 (três) singulares, podendo, excepcionalmente, admitir associados individuais; III - confederações de cooperativas, as constituídas, pelo menos, de 3 (três) federações de cooperativas ou cooperativas centrais, da mesma ou de diferentes modalidades. § 1º Os associados individuais das cooperativas centrais e federações de cooperativas serão inscritos no Livro de Matrícula da sociedade e classifi cados em grupos visando à transformação, no futuro, em cooperativas singulares que a elas se fi liarão. § 2º A exceção estabelecida no item II, in fi ne, do caput deste artigo não se aplica às centrais e federações que exerçam atividades de crédito. Art. 7º As cooperativas singulares se caracterizam pela prestação direta de serviços aos associados objetivam organizar, em comum e em maior escala, os serviços econômicos e assistenciais de interesse das fi liadas, integrando e orientando suas atividades, bem como facilitando a utilização recíproca dos serviços. Parágrafo único. Para a prestação de serviços de interesse comum, é permitida a constituição de cooperativas centrais, às quais se associem outras cooperativas de objetivo e fi nalidades diversas. Art. 5° As sociedades cooperativas poderão adotar por objeto qualquer gênero de serviço, operação ou atividade, assegurando-se lhes o direito exclusivo e exigindo-se lhes a obrigação do uso da expressão “cooperativa” em sua denominação. 16 Aspectos legais e tributários nas sociedades de cooperativas de crédito Art. 9° As confederações de cooperativas têm por objetivo orientar e coordenar as atividades das fi liadas, nos casos em que o vulto dos empreendimentos transcender o âmbito de capacidade ou conveniência de atuação das centrais e federações. Art. 10. As cooperativas se classifi cam também de acordo com o objeto ou pela natureza das atividades desenvolvidas por elas ou por seus associados. § 1º Além das modalidades de cooperativas já consagradas, caberá ao respectivo órgão controlador apreciar e caracterizar outras que se apresentem. § 2º Serão consideradas mistas as cooperativas que apresentarem mais de um objeto de atividades. Art. 11. As sociedades cooperativas serão de responsabilidade limitada, quando a responsabilidade do associado pelos compromissos da sociedade se limitar ao valor do capital por ele subscrito. Art. 12. As sociedades cooperativas serão de responsabilidade ilimitada, quando a responsabilidade do associado pelos compromissos da sociedade for pessoal, solidária e não tiver limite. Art. 13. A responsabilidade do associado para com terceiros, como membro da sociedade, somente poderá ser invocada depois de judicialmente exigida da cooperativa (BRASIL, 1971). O artigo 5º. Trata do ramo de atividade em que os cooperados estão inseridos e que será utilizado para tornar viável a fi nalidade da cooperativa. Fala ainda da obrigatoriedade do uso do termo “cooperativa” na denominação social e a proibição do uso da palavra “Banco” pelas cooperativas. A classifi cação das cooperativas em ramos tem a fi nalidade de organizá-las de maneira que facilite a formação das federações, confederações e centrais, e também para sua própria organização política. Além disso, ao se agruparem por ramo de atividade (tais como: agropecuárias, educacional, crédito, consumo, mineração, trabalho, saúde, turismo e lazer etc.) as cooperativas conseguem ter maior competitividade de mercado e obtém maior ganho de escala para os seus associados. De Rose (2002 citado por SIQUEIRA, 2004, p. 47), considera que “a realização do objetivo social é o meio de exteriorização do Ato Cooperativo”. A classifi cação das cooperativas em ramos tem a fi nalidade de organizá-las de maneira que facilite a formação das federações, confederações e centrais, e também para sua própria organização política. 17 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX Capítulo 1 Para saber quais são os ramos mais comuns de cooperativas no Brasil, sugerimos que consulte o seguinte artigo: SIQUEIRA, Paulo César Andrade. “As Cooperativas e a Terceirização”, artigo posto em Problemas Atuais de Direito Cooperativo, Renato Lopes Becho, coordenador, Dialética, São Paulo, 2002, p. 206/233. Consulte também os ramos de cooperativa existentes no site da OCB Organização das Cooperativas Brasileiras: Disponível em http://www.ocb.org.br Do artigo 6º ao artigo 10º, a Lei das Cooperativas trata de classifi car as cooperativas quanto ao nível de cooperação. Assim sendo, elas podem ser singulares (de primeiro grau) quando se tratarem daquelas constituídas pelo número mínimo de 20 pessoas físicas; podem também ser admitidas pessoas jurídicas desde que suas atividades sejam idênticas às das suas sócias pessoas físicas ou que não possuam fi ns lucrativos. A seguir vem as Cooperativas Centrais e as federações de cooperativas que são entidades constituídas de no mínimo três cooperativas singulares ou de segundo grau. Países como o Brasil, Estados Unidos da América, Rússia, China e Índia que têm um continente muito vasto “dependem do reconhecimento de que nenhuma instituição humana, que fi casse limitada as suas fronteiras, poderia desenvolver-se adequadamente e ter importância nacional” (SIQUEIRA, 2004, p. 54). Assim, quando há interesse de somar, os interesses de várias cooperativas são constituídas às Cooperativas Centrais ou federações com a fi nalidade de viabilizar um melhor desempenho das cooperativas singulares e não com o propósito de atender aos reclamos de seus cooperados. Novamente para atender às necessidades de competitividade frente ao mercado internacional, à globalização da economia mundial e aos mercados comuns internacionais GATT (General Agreement on Tariff s and Trade – Acordo Geral de Tarifas e Comércio), CEE (Comunidade Econômica Europeia), MERCOSUL (Mercado Comum do Sul), NAFTA (North-American Free Trade Agreement – Acordo de Livre Comércio Norte-americano) e outros, faz-se necessário a centralização nacional em entidades representativas (de terceiro 18 Aspectos legais e tributários nas sociedades de cooperativas de crédito grau) que são as confederações de cooperativas; constituídas de no mínimo três federações de cooperativas ou Cooperativas Centrais que podem ser inclusive de modalidades diferentes, reúnem-se quer para uniformizar interesses, reduzir os custos das forças políticas e jurídicas, reduzir custos da corporação e, assim, são capazes de uma governança corporativa efi caz. A partir do artigo 11º. Ao 13º. Trata da responsabilidade jurídica das sociedades cooperativas bem como a de seus dirigentes e sócios. Para facilitar a compreensão do termo responsabilidade, que tal analisarmos algumas defi nições jurídicas desse termo? Siqueira (2004, p. 59-60) faz as seguintes afi rmações com relação à responsabilidade. Responsabilidade é a aptidão que têm os obrigados pela lei ou pelo contrato a pagarem com seu patrimônio os danos materiais ou morais, que seus atos individualmente considerados, ou seus contratos, causem a terceiros. A responsabilidade por atos ilícitos, chamada de responsabilidade extracontratual, decorre dos atos da vida, que, sem justifi cativa jurídica, causem danos de qualquer monta a outrem. A responsabilidade por infração à obrigação contratual, denominada de responsabilidade contratual, decorrer da infração de regras contratuais, ou do cumprimento defeituoso do contrato, de modo a causar dano de qualquer monta a outra parte contratante. Há várias teorias da responsabilidade, segundo a valoração que cada nacionalidade empresta ao valor da propriedade e interesses em jogo. Nesse contexto assim, como em todas as sociedades, as cooperativas têm sua responsabilidade não só pelos seus atos,mas também pelo cumprimento de contratos. Dessa forma responde diretamente com seu patrimônio quer pelas obrigações assumidas quer pelos danos que venha a causar a outros. Por outro lado os dirigentes das cooperativas, agindo de acordo com os termos da lei e seus estatutos não poderão ser responsabilizados pessoalmente pelos atos que praticarem no exercício de seus mandatos. No entanto, havendo dolo ou culpa proveniente de seus atos, responderão solidariamente no que é As cooperativas têm sua responsabilidade não só pelos seus atos, mas também pelo cumprimento de contratos. 19 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX Capítulo 1 chamado de infração a dever. Esse caso será avaliado mais a frente quando analisarmos o artigo 49 dessa mesma lei. Quanto à responsabilidade nas sociedades em geral bem como nas Sociedades Cooperativas, ela pode ainda ser: • Limitada: Os sócios respondem apenas até o limite do valor de suas cotas vertidas na sociedade; • Ilimitada: A responsabilidade dos sócios é pessoal, solidária e não tem limite, como diz a Lei em si mesma. Já o Artigo 13 aborda em que momento o sócio é invocado com sua responsabilidade e para isso é necessário que abordemos alguns aspectos relevantes. São eles: A responsabilidade dos sócios para com a cooperativa; a responsabilidade dos sócios para com outros sócios; a responsabilidade dos sócios para com terceiros por fato da cooperativa e a responsabilidade da cooperativa pelo fato do sócio. Veremos a seguir cada um desses aspectos que são importantes no relacionamento entre o sócio e a cooperativa. • A responsabilidade dos sócios para com outros sócios Quanto à responsabilidade dos sócios para com a cooperativa, é o estatuto desta que funciona como a lei que governa essa relação. O sócio, ao associar-se a uma cooperativa assume o dever de cumprir e respeitar o estatuto, porém vai além da obrigação de um contrato onde poderia descumprir suas obrigações assumindo a responsabilidade por perdas e danos. O descumprimento do estatuto pode acarretar sua eliminação dessa sociedade. Além disso, a cooperativa é a administradora dos bens comuns que os sócios colocam a seu dispor (bens, mercadorias e serviços) podendo proceder a um acerto de créditos e débitos, caso haja prejuízos e perdas pelos quais os sócios sejam responsáveis. Em relação à cooperativa, a responsabilidade do sócio é subjetiva, ilimitada e individual. O sócio, ao associar-se a uma cooperativa assume o dever de cumprir e respeitar o estatuto, porém vai além da obrigação de um contrato onde poderia descumprir suas obrigações assumindo a responsabilidade por perdas e danos. 20 Aspectos legais e tributários nas sociedades de cooperativas de crédito • A responsabilidade dos sócios para com outros sócios Já a responsabilidade dos sócios para com outros sócios é tão somente civil, desde que os meios e formas de cooperação não resultem em dano causado por ato ou fato jurídico. Isso se deve ao fato que essas relações acontecem através da cooperativa e são, portanto, regidas pelo seu estatuto. • A responsabilidade dos sócios para com terceiros Tratando-se da responsabilidade dos sócios para com terceiros por fato da cooperativa, ou seja, quando a cooperativa gera um dano ou prejuízo a terceiros, ela é defi nida pela defi nição de limitada ou ilimitada quando da constituição da sociedade. Sendo a sociedade de responsabilidade limitada, cabe aos sócios responderem proporcionalmente ao valor de suas cotas e limitadas ao valor do capital subscrito; no caso das sociedades de responsabilidade ilimitada, ao valor total do crédito. Em qualquer dos casos, entretanto, a responsabilidade dos sócios será exigida somente após ter sido exigida da cooperativa, através de via judicial, sua responsabilidade. • A responsabilidade da cooperativa pelo fato do sócio Finalmente chegamos à responsabilidade da cooperativa pelo fato do sócio. Aqui chegamos a uma matéria polêmica. O Código Civil, tanto o antigo quanto o atual, diz que “a culpa do preposto obriga o proponente” (art. 932 do Código Civil 2002), ou seja, a culpa da cooperativa obriga o cooperado. E quando acontece o contrário? Quando o sócio usando dos serviços da cooperativa causa dano a um terceiro? Seria a cooperativa responsável por esse dano? • Vejamos o que diz o Código de Proteção e Defesa do Consumidor: Art. 28 - O Juiz poderá desconsidera a personalidade jurídica da sociedade, quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica, provocados por má administração (BRASIL, 1990). Já a responsabilidade dos sócios para com outros sócios é tão somente civil. À responsabilidade da cooperativa pelo fato do sócio. O Código Civil, tanto o antigo quanto o atual, diz que “a culpa do preposto obriga o proponente” (art. 932 do Código Civil 2002), 21 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX Capítulo 1 É uma questão bastante discutida e você poderá buscar leitura complementar para melhor compreender essa situação. Além do texto que está nas páginas 64 a 67 do livro indicado, há também decisões judiciais nas notas de rodapé do mesmo autor. Não deixe de ler. SIQUEIRA, Paulo Cesar de Andrade. Direito Cooperativo Brasileiro. Comentários à Lei 5.764/71. São Paulo. Dialética, 2004. Na verdade a responsabilidade recairá sobre os administradores da cooperativa, uma vez que o cooperado não interfere nos negócios da cooperativa que pelos estatutos e pela própria lei são realizados pelos órgãos sociais de administração. Novamente nos deparamos com uma polêmica, visto que essa situação amparada pelo Código de Consumidor e chamada de “desconsideração da pessoa jurídica em caso de abuso contra a lei ou os estatutos da sociedade”, é uma violação ao artigo 49 da Lei 5.764/71 que defi ne essa responsabilidade. Atividade de Estudos: E você? O que pensa disso? 1) Após estudar esta primeira seção registre em poucas palavras o que você compreendeu a respeito da responsabilidade da cooperativa pelo fato do sócio. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 22 Aspectos legais e tributários nas sociedades de cooperativas de crédito Capítulo IV a VI da Lei 5.764/71 Nesta seção você vai saber como é a constituída uma Sociedade Cooperativa e quais são os requisitos fundamentais para a legalidade e o funcionamento dessa instituição. Também vai conhecer os livros necessários para a manutenção dos registros de uma cooperativa e a parte mais importante: como é a formação do capital social nas Sociedades Cooperativas. a) Da Constituição das Sociedades Cooperativas CAPÍTULO IV Da Constituição das Sociedades Cooperativas Art. 14. A sociedade cooperativa constitui-se por deliberação da Assembleia Geral dos fundadores, constantes da respectiva ata ou por instrumento público. Art. 15. O ato constitutivo, sob pena de nulidade, deverá declarar: I - a denominação da entidade, sede e objeto de funcionamento; II - o nome, nacionalidade,idade, estado civil, profi ssão e residência dos associados, fundadores que o assinaram, bem como o valor e número da quota-parte de cada um; III - aprovação do estatuto da sociedade; IV - o nome, nacionalidade, estado civil, profi ssão e residência dos associados eleitos para os órgãos de administração, fi scalização e outros; Art. 16. O ato constitutivo da sociedade e os estatutos, quando não transcritos naquele, serão assinados pelos fundadores (BRASIL, 1971). Dando prosseguimento ao conhecimento da Lei Cooperativa, passamos agora, ao ato que trata do momento propriamente dito da constituição da cooperativa. É a ata da constituição e não o estatuto em si que cria a cooperativa e aprova também o seu estatuto. Assim, o artigo 15 declara que num único ato jurídico, a constituição da cooperativa, deverá defi nir além da formalidade da sociedade 23 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX Capítulo 1 o seu estatuto. Este é, portanto, o primeiro ato de cooperação onde os sócios defi nem a fi nalidade e o objeto dessa sociedade e os meios pelos quais atingirão seus objetivos. Sobre as características e registro do ato constitutivo Siqueira, (2002, p. 71), faz as seguintes ponderações: A ata da assembleia geral de constituição da sociedade cooperativa é feita segundo o modelo tradicional, em livro de atas ou folhas soltas, numeradas e rubricadas pelo presidente. Neste documento devem-se historiar os fatos, resumidamente, de maior relevância ocorrida no evento. Em virtude da exigência da lei, a ata de constituição deve então ser assinada por todos os sócios fundadores, qualifi cando-os conforme o art. 997 do CC, não sendo de boa prática negocial incluir o estatuto, como permite a lei, no corpo da constituição. O ideal é que se leve para a assembleia uma minuta do estatuto, que, aprovado respeitado os ditames do art. 15 da Lei das Cooperativas e do art. 997 do CC seja assinado por todos os sócios fundadores. A separação do estatuto e da ata faz com que o uso diário do estatuto não seja complicado após as alterações dos órgãos estatutários da administração. No entanto, a ata de constituição deve referir-se expressamente ao estatuto aprovado, devendo, no ato constitutivo, deliberar-se ainda pela eleição dos cargos dos órgãos sociais estatutários. É bom ressalvar que algumas cooperativas como as que sejam do ramo de crédito e trabalho médico, têm legislação específi ca e órgãos estatais de controle, que fazem exigências formais que devem ser obedecidas na ata de atas das assembleias da sociedade. Para facilitar a sua tarefa, reproduzimos abaixo, o artigo 997 do Código Civil Brasileiro de 2002, citado no texto acima. Ele está inserido no Capítulo I, Da Sociedade Simples, Seção I Do Contrato Social da referida lei. Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará: I - nome, nacionalidade, estado civil, profi ssão e residência dos sócios, se pessoas naturais, e a fi rma ou a denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas; II - denominação, objeto, sede e prazo da sociedade; Algumas cooperativas como as que sejam do ramo de crédito e trabalho médico, têm legislação específi ca e órgãos estatais de controle, que fazem exigências formais que devem ser obedecidas na ata de atas das assembleias da sociedade. 24 Aspectos legais e tributários nas sociedades de cooperativas de crédito III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária; IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la; V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços; VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e atribuições; VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas; VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais. Parágrafo único. É inefi caz em relação a terceiros qualquer pacto separado, contrário ao disposto no instrumento do contrato (BRASIL, 2002). Depois de constituída a cooperativa, esta deve ser registrada. Como sociedade de pessoas que é uma cooperativa, de natureza civil, poderia se pensar que seu registro é feito no Registro Civil de Pessoas Jurídicas. Porém, isso jamais ocorreu. O fato é que o Legislador confundiu as Sociedades Cooperativas como sendo de natureza mercantil, conforme as normas de registro da Lei 8.934/94, Do Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afi ns (BRASIL, 1994). Art. 32. O registro compreende: I - a matrícula e seu cancelamento: dos leiloeiros, tradutores públicos e intérpretes comerciais, trapicheiros e adminis- tradores de armazéns-gerais; II - O arquivamento: a) dos documentos relativos à constituição, alteração, dissolução e extinção de fi rmas mercantis individuais, sociedades mercantis e cooperativas. Vemos, então, que numa lei tão recente ocorre ainda a confusão por parte do Legislador, da Sociedade Cooperativa, de natureza civil e sem fi ns lucrativos, com uma sociedade mercantil. Felizmente com o advento do Código Civil de 2002, essa situação foi reparada, assim o artigo 982 parágrafo único do Código Civil considera as cooperativas sendo equiparadas às sociedades simples. O art. 998 determina que as sociedades simples sejam registradas no Registro Civil de Pessoas Jurídicas no prazo de 30 dias de sua constituição. 25 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX Capítulo 1 Antes disso, o registro das cooperativas era feito nas Juntas Comerciais ou nos Registros Públicos de Empresas Mercantis. b) Da Autorização de Funcionamento SEÇÃO I Da Autorização de Funcionamento Art. 17. A cooperativa constituída na forma da legislação vigente apresentará ao respectivo órgão executivo federal de controle, no Distrito Federal, Estados ou Territórios, ou ao órgão local para isso credenciado, dentro de 30 (trinta) dias da data da constituição, para fi ns de autorização, requerimento acompanhado de 4 (quatro) vias do ato constitutivo, estatuto e lista nominativa, além de outros documentos considerados necessários. Art. 18. Verifi cada, no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, a contar da data de entrada em seu protocolo, pelo respectivo órgão executivo federal de controle ou órgão local para isso credenciado, a existência de condições de funcionamento da cooperativa em constituição, bem como a regularidade da documentação apresentada, o órgão controlador devolverá, devidamente autenticadas, 2 (duas) vias à cooperativa, acompanhadas de documento dirigido à Junta Comercial do Estado, onde a entidade estiver sediada, comunicando a aprovação do ato constitutivo da requerente. § 1° Dentro desse prazo, o órgão controlador, quando julgar conveniente, no interesse do fortalecimento do sistema, poderá ouvir o Conselho Nacional de Cooperativismo, caso em que não se verifi cará a aprovação automática prevista no parágrafo seguinte. § 2º A falta de manifestação do órgão controlador no prazo a que se refere este artigo implicará a aprovação do ato constitutivo e o seu subsequente arquivamento na Junta Comercial respectiva. § 3º Se qualquer das condições citadas neste artigo não for atendida satisfatoriamente, o órgão ao qual compete conceder a autorização dará ciência ao requerente, indicando as exigências a serem cumpridas no prazo de 60 (sessenta) dias, fi ndos os quais, se não atendidas, o pedido será automaticamente arquivado. § 4° À parte é facultado interpor da decisão proferida pelo órgão controlador, nos Estados, Distrito Federal ou Territórios, recurso para 26 Aspectos legais e tributários nas sociedades decooperativas de crédito a respectiva administração central, dentro do prazo de 30 (trinta) dias contado da data do recebimento da comunicação e, em segunda e última instância, ao Conselho Nacional de Cooperativismo, também no prazo de 30 (trinta) dias, exceção feita às cooperativas de crédito, às seções de crédito das cooperativas agrícolas mistas, e às cooperativas habitacionais, hipótese em que o recurso será apreciado pelo Conselho Monetário Nacional, no tocante às duas primeiras, e pelo Banco Nacional de Habitação em relação às últimas. Art. 19. A cooperativa escolar não estará sujeita ao arquivamento dos documentos de constituição, bastando remetê- los ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, ou respectivo órgão local de controle, devidamente autenticados pelo diretor do estabelecimento de ensino ou a maior autoridade escolar do município, quando a cooperativa congregar associações de mais de um estabelecimento de ensino. Art. 20. A reforma de estatutos obedecerá, no que couber, ao disposto nos artigos anteriores, observadas as prescrições dos órgãos normativos (BRASIL, 1971). Você leu agora os artigos 17 a 20 da Lei 5.764/71. Esses artigos tratam da autorização para o funcionamento das cooperativas. Esses artigos foram editados à época da Emenda Constitucional no. 1/67. Naquela época o sistema de governo no Brasil era o Governo Militar e, por conta disso, poderia haver a necessidade de regulamentar e fi scalizar a atividade cooperativa de forma específi ca, bem como poderiam ser exigidas condições prévias de um juízo da oportunidade e conveniência de sua criação (SIQUEIRA, 2002). Segundo Siqueira, esses artigos violentam a liberdade das atividades lícitas e que o controle delas por parte de um órgão público é juridicamente inviável e, por esse motivo, não foram recepcionados. A Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 5 de outubro de 1988, 15 (quinze) anos passados, foi inspirada na Carta dos Direitos norte-americana, na Declaração Universal dos Direitos do Homem da Revolução Francesa, na Constituição Democrática do Brasil de 1946, não admitindo, assim, que o Estado invadisse impunemente a atividade do cidadão, sem qualquer pretexto ou fi nalidade (SIQUEIRA, 2004, p.74). Você deve estar questionado porque esses artigos continuam na Lei 5.764/71 se na realidade elas não produzem efeito, certo? 27 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX Capítulo 1 Embora as normas constitucionais revolucionem o sistema jurídico de um país, elas não conseguem promover alterações totais e imediatas no sistema vigente anterior. Existe no Direito um princípio que se chama “reenvio ou recepção”. Esse sistema promove a harmonia entre os conjuntos (de leis vigentes e anteriores), mantendo válidas as que não foram revogadas, excluindo aquelas que foram revogadas ou que são contrárias à nova ordem. Como resultado disso, esses artigos perderam a validade em virtude de não terem sido recepcionados por serem contrárias à Constituição. Tendo em vista que a Lei 5.764/71 é considerada uma Lei Ordinária, não pode ela cassar a liberdade garantida pela Constituição, que é considerada a Lei maior, de criação e funcionamento das cooperativas (art. 5º. Inciso XVIII da Constituição de 1988 – a criação de associações, e na forma da lei, de cooperativas, independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento). Contudo, lembramos que as cooperativas de crédito, por estarem inseridas dentro do Sistema Financeiro Nacional e obedecerem a uma legislação específi ca são as únicas que necessitam de autorização para funcionamento. Atividade de Estudos: 1) Apenas para complementar o seu saber, pesquise o que é uma Lei Ordinária e escreva o seu conceito de forma breve e sucinta. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Estamos avançando em nosso conteúdo. Até aqui tudo bem? Temos certeza de que você já sabe muitas coisas novas sobre as Sociedades Cooperativas. Agora, vamos ver como é o estatuto social de uma Sociedade Cooperativa, quais são os livros de escrituração que são obrigatórios e não apenas pela contabilidade. Você vai conhecer também um item muito importante que é o capital social e que pode até não ser exigido numa Sociedade cooperativa. Vamos lá? 28 Aspectos legais e tributários nas sociedades de cooperativas de crédito c) Do Estatuto Social SEÇÃO II Do Estatuto Social Art. 21. O estatuto da cooperativa, além de atender ao disposto no artigo 4º, deverá indicar: I - a denominação, sede, prazo de duração, área de ação, objeto da sociedade, fi xação do exercício social e da data do levantamento do balanço geral; II - os direitos e deveres dos associados, natureza de suas responsabilidades e as condições de admissão, demissão, eliminação e exclusão e as normas para sua representação nas assembleias gerais; III - o capital mínimo, o valor da quota-parte, o mínimo de quotas- partes a ser subscrito pelo associado, o modo de integralização das quotas-partes, bem como as condições de sua retirada nos casos de demissão, eliminação ou de exclusão do associado; IV - a forma de devolução das sobras registradas aos associados, ou do rateio das perdas apuradas por insufi ciência de contribuição para cobertura das despesas da sociedade; V - o modo de administração e fi scalização, estabelecendo os respectivos órgãos, com defi nição de suas atribuições, poderes e funcionamento, a representação ativa e passiva da sociedade em juízo ou fora dele, o prazo do mandato, bem como o processo de substituição dos administradores e conselheiros fi scais; VI - as formalidades de convocação das assembleias gerais e a maioria requerida para a sua instalação e validade de suas deliberações, vedado o direito de voto aos que nelas tiverem interesse particular sem privá-los da participação nos debates; VII - os casos de dissolução voluntária da sociedade; VIII - o modo e o processo de alienação ou oneração de bens imóveis da sociedade; IX - o modo de reformar o estatuto; X - o número mínimo de associados (BRASIL, 1971). 29 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX Capítulo 1 A nomenclatura que designa a cooperativa é dada por determinação legal do art. 1159 do Código Civil (2003), não cabendo o uso da expressão “Ltda.” que é de uso das sociedades limitadas. As relações de sócio devem ser bastante precisas no estatuto afi m de minimizar os confl itos que ocorram no desenvolvimento da atividade de cooperação. Embora o Código Civil prescreva a constituição de cooperativas sem Capital Social, as Sociedades Cooperativas de responsabilidade limitada devem ter um Capital Social mínimo que é a multiplicação da cota-parte de cada sócio pelo número de sócios. Como as cooperativas atuam na forma de exercício anual é preciso aguardar a aprovação das contas do exercício antes de reembolsar o capital ao sócio que saia da cooperativa por qualquer motivo. A forma de contabilidade adotada pelas cooperativas é a Norma de Contabilidade Técnica e o Conselho Federal de Contabilidade recomenda a elaboração de Planos de Conta das cooperativas. Você sabia que diferentemente das outras sociedades, os prejuízos do exercício de uma cooperativa são rateados e compostos pelos sócios? Em caso de resultado positivo eles receberão as sobras do exercício. A forma de efetuar esse rateio, quer positivo, quer negativo, deve ser disciplinado para que nãohajam infl uências momentâneas na regularidade desse rateio. Você já sabe que o estatuto é a norma fundamental da cooperativa. Logo, a validade de sua administração deve estar prevista e de acordo com o que estiver disposto no estatuto. Alguns detalhes da administração podem ser delegados a um Regimento Interno, que também deve ser aprovado pelo Conselho de Administração. Por exemplo: • horários de reunião; • forma de apresentação e andamento dos trabalhos; • entre outros. As relações de sócio devem ser bastante precisas no estatuto afi m de minimizar os confl itos que ocorram no desenvolvimento da atividade de cooperação. 30 Aspectos legais e tributários nas sociedades de cooperativas de crédito Alguns, no entanto, devem ser estabelecidos no estatuto. Por exemplo: • competência básica; • frequência das reuniões; • forma de dar publicidade aos atos; • representação causal judicial e extrajudicial; • entre outros. Situações traumáticas como impedimento de administradores seja por administração ruinosa, prevaricação ou outra situação grave, deve obrigatoriamente constar no estatuto, visto que assuntos tão importantes dessa natureza não devem ser tratados com improvisação. Geralmente as cooperativas defi nem prazos diferentes para a convocação de assembleias gerais usuais e para aquelas em que haja votação. No último caso deve ser acrescido ao prazo usual o prazo para a impugnação de candidaturas. Também é necessário delimitar uma ordem do dia mínima para as assembleias gerais ordinárias bem como o quórum para a instalação e votação da Assembleia Geral. Da mesma forma como a lei ampara a liberdade associativa, ela também permite a dissolução da cooperativa por deliberação de seus sócios. No entanto, a utilidade desse dispositivo visa garantir alguma segurança em relação ao número mínimo de sócios para garantir a continuidade da cooperativa, o tempo em que esta poderá operar em situação de prejuízo, garantindo que a cooperativa seja então, dissolvida independente da vontade dos sócios. A reserva da utilização do patrimônio social de uma empresa garante a sua solidez. Você sabia que a propriedade de uma cooperativa não é nem pública nem privada? Ela é cooperativa e como tal não se pode dispor dela em favor dos sócios. Interessante, não é mesmo? Quanto à mudança ou reforma do estatuto da cooperativa, ela depende da decisão de uma maioria qualifi cada em assembleia que deve ter a fi nalidade específi ca de alteração do estatuto. Embora haja um número mínimo de associados para compor os órgãos sociais o Código Civil não determina o número mínimo de cooperados. Ele só é importante para determinar a dissolução da sociedade quando estiver abaixo do mínimo previsto no estatuto e para dar validade aos atos da cooperativa. Passamos, então, a tratar dos livros que são necessários para que a cooperativa mantenha seus registros contábeis, administrativos e legais. 31 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX Capítulo 1 d) Dos Livros CAPÍTULO V Dos Livros Art. 22. A sociedade cooperativa deverá possuir os seguintes livros: I - de Matrícula; II - de Atas das Assembleias Gerais; III - de Atas dos Órgãos de Administração; IV - de Atas do Conselho Fiscal; V - de presença dos Associados nas Assembleias Gerais; VI - outros, fi scais e contábeis, obrigatórios. Parágrafo único. É facultada a adoção de livros de folhas soltas ou fi chas. Art. 23. No Livro de Matrícula, os associados serão inscritos por ordem cronológica de admissão, dele constando: I - o nome, idade, estado civil, nacionalidade, profi ssão e residência do associado; II - a data de sua admissão e, quando for o caso, de sua demissão a pedido, eliminação ou exclusão; III - a conta corrente das respectivas quotas-partes do capital social (BRASIL, 1971). Esse artigo fala dos livros que a cooperativa deve manter para o seu funcionamento. Você deve saber que eles são imprescindíveis sob a ótica da Administração, da Contabilidade e do Direito. O mais importante é que eles devem ser preenchidos e guardados de acordo com as normas e leis. Passamos agora, a tratar do Capital Social nas Sociedades Cooperativas. O capítulo trata de como é feita a subscrição de quotas nas cooperativas, quais são as regras e limites de subscrição para os diversos tipos de pessoas que queiram se tornar cooperados. Sabia que pode existir uma cooperativa que não tenha capital social? Não? Então, vamos ver como é. Art. 23. No Livro de Matrícula, os associados serão inscritos por ordem cronológica de admissão. 32 Aspectos legais e tributários nas sociedades de cooperativas de crédito e) Do Capital Social CAPÍTULO VI Do Capital Social Art. 24. O capital social será subdividido em quotas-partes, cujo valor unitário não poderá ser superior ao maior salário mínimo vigente no País. § 1º Nenhum associado poderá subscrever mais de 1/3 (um terço) do total das quotas-partes, salvo nas sociedades em que a subscrição deva ser diretamente proporcional ao movimento fi nanceiro do cooperado ou ao quantitativo dos produtos a serem comercializados, benefi ciados ou transformados, ou ainda, em relação à área cultivada ou ao número de plantas e animais em exploração. § 2º Não estão sujeitas ao limite estabelecido no parágrafo anterior as pessoas jurídicas de direito público que participem de cooperativas de eletrifi cação, irrigação e telecomunicações. § 3° É vedado às cooperativas distribuírem qualquer espécie de benefício às quotas-partes do capital ou estabelecer outras vantagens ou privilégios, fi nanceiros ou não, em favor de quaisquer associados ou terceiros excetuando-se os juros até o máximo de 12% (doze por cento) ao ano que incidirão sobre a parte integralizada. Art. 25. Para a formação do capital social poder-se-á estipular que o pagamento das quotas-partes seja realizado mediante prestações periódicas, independentemente de chamada, por meio de contribuições ou outra forma estabelecida a critério dos respectivos órgãos executivos federais. Art. 26. A transferência de quotas-partes será averbada no Livro de Matrícula, mediante termo que conterá as assinaturas do cedente, do cessionário e do diretor que o estatuto designar. Art. 27. A integralização das quotas-partes e o aumento do capital social poderão ser feitos com bens avaliados previamente e após homologação em Assembleia Geral ou mediante retenção de determinada porcentagem do valor do movimento fi nanceiro de cada associado. § 1º O disposto neste artigo não se aplica às cooperativas de crédito, às agrícolas mistas com seção de crédito e às habitacionais. 33 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX Capítulo 1 § 2° Nas sociedades cooperativas em que a subscrição de capital for diretamente proporcional ao movimento ou à expressão econômica de cada associado, o estatuto deverá prever sua revisão periódica para ajustamento às condições vigentes (BRASIL, 1971). Vejamos de forma resumida, alguns conceitos de capital: Conceito Econômico: Para Hunt, Smith e Marx, o capital é a soma dos bens econômicos sendo eles insumos, dinheiro, trabalho e ferramentas necessários para o desenvolvimento de uma atividade (SIQUEIRA). Conceito Contábil: O conceito fundamental de capital para a contabilidade é o resultado os ativos menos o total de passivos. É a relação entre uma entidade e a fonte de sua riqueza ou as contas de capital. Resumindo: é o patrimônio dos sócios na sociedade (SIQUEIRA, 2004). É importante ter em mente esses conceitos antes de analisarmos o capital social dentro do cooperativismo. Para isto vamos separar as cooperativas com e sem Capital Social. • Cooperativas com Capital Social No Brasil a norma para a constituição das cooperativas é de que ela tenhaalgum Capital Social. Como a fi nalidade de uma cooperativa não é o lucro, a subscrição do Capital Social é apenas uma moeda de ingresso do sócio à sociedade e tem a característica de “joia de associação”. Além de ser uma característica de fi liação, esse capital, numa sociedade limitada, determina uma responsabilidade que prevê sua perda em caso de responsabilização na forma da lei. No Brasil a norma para a constituição das cooperativas é de que ela tenha algum Capital Social. 34 Aspectos legais e tributários nas sociedades de cooperativas de crédito • Cooperativas sem Capital Social O Código Civil em seu artigo 1094 prevê que as cooperativas possam ser constituídas sem a exigência de Capital Social. Depois disso, a Lei 9.867/99 possibilitou a criação de cooperativas sociais como forma de integração social dos cidadãos. Mas mesmo as demais cooperativas podem de fato existir sem que possuam Capital Social. Nesse caso, obrigatoriamente deverão ser constituídas como sociedades ilimitadas em relação aos administradores e associados. Concluindo: A natureza jurídica do Capital Social das cooperativas é diferente do conceito de Capital Econômico e Contábil, pelo simples fato que a gestão da cooperativa é feita através do rateio de despesas e receitas. Logo, o Capital Social do ponto de vista cooperativo é meramente um padrão de ingresso na sociedade. O estabelecimento de um teto para a integralização de cotas deve-se ao fato de que a cooperativa não é uma sociedade de cotas, anônima ou mercantil; a ela não interessa que um cooperado detenha um poder muito grande e ao sair dessa sociedade possa levar a um estado de insolvência. Pela importância da participação do poder público em alguns segmentos cooperativos, como eletrifi cação, irrigação e telecomunicação, a lei permite uma participação maior. Até porque pelo princípio de legalidade que rege as ações do Poder Público, não interessaria a esse deixar uma cooperativa causando resultados negativos. Pronto. Agora que tal um pausa para uma atividade de estudos? Nesse momento você poderá rever alguns conceitos que aprendeu sobre capital. Atividade de Estudos: 1) Quais são as diferenças entre Capital Social e Econômico, segundo o texto apresentado? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ O Código Civil em seu artigo 1094 prevê que as cooperativas possam ser constituídas sem a exigência de Capital Social. 35 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX Capítulo 1 2) E para a cooperativa? O signifi cado de capital tem a mesma conotação de Capital Econômico e Social? Justifi que. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 3) Depois de compreender as diferentes abordagens sobre capital, aponte as diferenças fundamentais entre uma cooperativa com e sem Capital Social. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 36 Aspectos legais e tributários nas sociedades de cooperativas de crédito Capítulos VII a IX da Lei nº 5.764/71 A constituição dos fundos estabelecidos pela Lei 5.764/71 é uma das características que diferencia as Sociedades Cooperativas das demais sociedades empresariais. É a cooperativa a única sociedade em que os sócios devem contribuir para a manutenção da empresa tendo que honrar as despesas e prejuízos, além da obrigatoriedade da Sociedade Cooperativa de manter esses fundos como mais uma forma de garantir sua liquidez. Esta seção, trata ainda, do ingresso e as diversas formas de dissociação dos associados nas Sociedades Cooperativas. Vai conhecer o princípio das portas abertas, que é um dos ícones do cooperativismo. a) Dos Fundos CAPÍTULO VII Dos Fundos Art. 28. As cooperativas são obrigadas a constituir: I - Fundo de Reserva destinado a reparar perdas e atender ao desenvolvimento de suas atividades, constituído com 10% (dez por cento), pelo menos, das sobras líquidas do exercício; II - Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social, destinado a prestação de assistência aos associados, seus familiares e, quando previsto nos estatutos, aos empregados da cooperativa, constituído de 5% (cinco por cento), pelo menos, das sobras líquidas apuradas no exercício. § 1° Além dos previstos neste artigo, a Assembleia Geral poderá criar outros fundos, inclusive rotativos, com recursos destinados a fi ns específi cos fi xando o modo de formação, aplicação e liquidação. § 2º Os serviços a serem atendidos pelo Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social poderão ser executados mediante convênio com entidades públicas e privadas (BRASIL, 1971). Os fundos legais obrigatórios tem por objetivo, garantir o cumprimento das fi nalidades de uma sociedade e preservar seus compromissos. Esse fundo é de 37 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX Capítulo 1 natureza fi nanceira e deve representar efetiva reserva monetária, seja através de bens materiais ou imateriais, mas nunca meramente contábil. A parte do fundo de reserva constituída para a reparação de perdas é utilizada, na medida de sua disponibilidade, para reduzi-las até o total dessa disponibilidade. O restante constituirá as perdas a serem rateadas após deliberação em assembleia para sua aprovação. Siqueira (2004, p. 90-91) considera que a lei, quanto à parte do Fundo de Reserva destinada ao desenvolvimento das atividades, é muito subjetiva. Ele considera que toda atividade de uma cooperativa bem administrada deve ser direcionada ao seu desenvolvimento. A seu ver, portanto, essa destinação deve ser de uso em investimentos e serviços que visem o progresso da cooperativa e atenda melhor os seus fi ns. O Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social destina-se ao desenvolvimento de programas educacionais cooperativos ou relacionados à cooperação e também para atender pequenas necessidades dos associados. Desde que conste no estatuto da cooperativa também são extensivos aos empregados da cooperativa. Os programas desenvolvidos com recursos do FATES (Fundo de Assistência Técnica,Educacional e Social) poderão ser executados através de convênio com entidades públicas ou privadas. Quer conhecer um pouco mais sobre as formas de utilização do FATES (Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social)? No link abaixo você conhecerá uma minuta elaborada pela Confederação Nacional das Cooperativas do SICOOB. Acesse e consulte a minuta. www.sicoobpr.com.br/download/4398/Minuta_Regulamento_FATE. pdf b) Dos Associados CAPÍTULO VIII Dos Associados Art. 29. O ingresso nas cooperativas é livre a todos que desejarem utilizar os serviços prestados pela sociedade, desde que adiram aos propósitos sociais e preencham as condições estabelecidas no estatuto, ressalvado o disposto no artigo 4º, item I, desta Lei. 38 Aspectos legais e tributários nas sociedades de cooperativas de crédito § 1° A admissão dos associados poderá ser restrita, a critério do órgão normativo respectivo, às pessoas que exerçam determinada atividade ou profi ssão, ou estejam vinculadas a determinada entidade. § 2° Poderão ingressar nas cooperativas de pesca e nas constituídas por produtores rurais ou extrativistas, as pessoas jurídicas que pratiquem as mesmas atividades econômicas das pessoas físicas associadas. § 3° Nas cooperativas de eletrifi cação, irrigação e telecomunicações, poderão ingressar as pessoas jurídicas que se localizem na respectiva área de operações. § 4° Não poderão ingressar no quadro das cooperativas os agentes de comércio e empresários que operem no mesmo campo econômico da sociedade. Art. 30. À exceção das cooperativas de crédito e das agrícolas mistas com seção de crédito, a admissão de associados, que se efetive mediante aprovação de seu pedido de ingresso pelo órgão de administração, complementa-se com a subscrição das quotas- partes de capital social e a sua assinatura no Livro de Matrícula. Art. 31. O associado que aceitar e estabelecer relação empregatícia com a cooperativa perde o direito de votar e ser votado, até que sejam aprovadas as contas do exercício em que ele deixou o emprego. Art. 32. A demissão do associado será unicamente a seu pedido. Art. 33. A eliminação do associado é aplicada em virtude de infração legal ou estatutária, ou por fato especial previsto no estatuto, mediante termo fi rmado por quem de direito no Livro de Matrícula, com os motivos que a determinaram. Art. 34. A diretoria da cooperativa tem o prazo de 30 (trinta) dias para comunicar ao interessado a sua eliminação. Parágrafo único. Da eliminação cabe recurso, com efeito suspensivo à primeira Assembleia Geral. Art. 35. A exclusão do associado será feita: I - por dissolução da pessoa jurídica; II - por morte da pessoa física; III - por incapacidade civil não suprida; IV - por deixar de atender aos requisitos estatutários de ingresso ou permanência na cooperativa. 39 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX Capítulo 1 Art. 36. A responsabilidade do associado perante terceiros, por compromissos da sociedade, perdura para os demitidos, eliminados ou excluídos até quando aprovadas as contas do exercício em que se deu o desligamento. Parágrafo único. As obrigações dos associados falecidos, contraídas com a sociedade, e as oriundas de sua responsabilidade como associado em face de terceiros, passam aos herdeiros, prescrevendo, porém, após um ano contado do dia da abertura da sucessão ressalvado os aspectos peculiares das cooperativas de eletrifi cação rural e habitacionais. Art. 37. A cooperativa assegurará a igualdade de direitos dos associados sendo-lhe defeso: I - remunerar a quem agencie novos associados; II - cobrar prêmios ou ágio pela entrada de novos associados ainda a título de compensação das reservas; III - estabelecer restrições de qualquer espécie ao livre exercício dos direitos sociais (BRASIL, 1971). Polêmica: Para seu conhecimento!!! Você sabe a diferença entre sócio e associado? Você pode ver que nos artigos acima a expressão para designar o cooperado é sempre “associado”. O sistema jurídico utiliza a expressão: • Sócio para defi nir pessoas ligadas a entidades com fi ns lucrativos e • Associados para pessoas ligadas a entidades sem fi ns lucrativos. Muito bem! Mas você sabia que a Lei 10.406/02 que instituiu o Novo Código Civil separou as entidades com fi ns econômicos daquelas sem fi ns econômicos, de acordo com a fi nalidade de buscar para si ou para seus sócios a melhoria fi nanceira? E, como fi cam, as cooperativas amparadas a essa mudança? É correto afirmar que as cooperativas não têm como fi nalidade o lucro. Mas também é certo que as cooperativas buscam o desenvolvimento fi nanceiro de seus associados e que elas participam da economia fomentando seu desenvolvimento. 40 Aspectos legais e tributários nas sociedades de cooperativas de crédito Assim, embora a Lei Cooperativa utilize sempre a expressão associado, é correto designar atualmente de sócio o cooperado associado a uma cooperativa. Vamos tratar agora de continuar comentando os artigos da Lei 5.764/71 no seu artigo que trata da admissão dos seus cooperados, que podem ser chamados de associados ou sócios. Existem algumas restrições impostas pela lei além de questões técnicas ou mesmo políticas que podem levar a cooperativa a se negar a admitir uma pessoa interessada em associar-se. Para Siqueira (2004, p. 94-95), a restrição imposta pelo artigo 4º. Inciso I da Lei 5.764/71“... salvo impossibilidade técnica de prestação de serviços”, nos recorda que o objetivo primordial da cooperativa diante da lei é a de prestar serviços aos seus cooperados. E, que a lei não considera relevante a atividade do cooperado, mas, sim como ela será exercida diante dos serviços que a cooperativa prestará ao associado. Entende o autor que a impossibilidade técnica é da cooperativa e não do cooperado. Ainda assim, Siqueira (2004, p. 95), concorda que existe uma restrição lógica à associação: a cooperativa “somente poderia admitir uma pessoa que desempenhe a atividade objeto da cooperação, sob pena de ser inútil a associação”. Dessa forma, o princípio geral das portas abertas que signifi ca que “o sócio é livre para entrar, permanecer e sair quando lhe convier” (SILVA, 2001, p. 33), e que para Bulgarelli (1998, p. 20-21) é um “desdobramento do princípio da livre adesão, dá lugar à utilidade do associado para a associação”, seja: • Pelo objeto da cooperação – Podem associar-se os candidatos que detenham a atividade da cooperação; • Pela vinculação a uma entidade – Podem associar-se os integrantes de uma entidade, como exemplo as cooperativas de funcionários de um banco, entidade ou empresa. No caso das cooperativas de pesca, eletrifi cação rural, de irrigação e telecomunicações que admitem a participação de pessoas jurídicas, tendo em vista que as necessidades da pessoa física e jurídica na primeira se assemelham; no segundo caso existe o interesse social na difusão de tais serviços e a cooperação de todos que estejam desenvolvendo tal atividade econômica. O objetivo maior é fomento e o desenvolvimento das áreas que envolvem essas atividades. É correto afi rmar que as cooperativas não têm como fi nalidade o lucro. Mas também é certo que as cooperativas buscam o desenvolvimento fi nanceiro de seus associados e que elas participam da economia fomentando seu desenvolvimento. 41 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX Capítulo 1 O inciso 4º parece contrariar o que vimos até agora? As atividades desenvolvidas pelas pessoas jurídicas, com o propósito do desenvolvimento, são trazidas para dentro da cooperativa. Porém a lei excluí que uma pessoa física ou jurídica desempenhem os mesmos papéis dentro e fora da cooperativa. Essa é uma decisão que impede que haja o enfraquecimento daatividade cooperativa ou o favorecimento ilícito da atividade externa do concorrente com a aquisição de informações privilegiadas. Estamos conversados? Atividade de Estudos: 1) Para reforçar a sua compreensão, cite alguns exemplos de atividades que podem ser consideradas como incompatíveis com a cooperativa e que impediriam a admissão de uma pessoa física ou jurídica. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Para saber de que forma se completa a admissão de um associado numa cooperativa, exceto nas cooperativas de crédito e nas cooperativas agrícolas mistas com seção de crédito (SIQUEIRA, 2002, p. 97): Comprovando ter os requisitos legais e estatutários, o candidato faz seu requerimento, que é avaliado segundo os ditames estatutários, deferidos ou não pelo Conselho de Administração da cooperativa. Aprovado, assinará fi cha de matrícula, pagando as cota-partes da forma determinada no estatuto, passando a fazer jus aos direitos da associação. É muito importante que o estatuto, ou, se delegado, o regimento interno, decline o processo todo do ingresso, pois que este será o devido processo legal a ser transposto para adentrar na sociedade, sem o qual a associação, repita-se, é nula. 42 Aspectos legais e tributários nas sociedades de cooperativas de crédito Da mesma forma que a Constituição garante o direito à associação, ela também preserva o direito dos cidadãos de dissociar- se das entidades a que se associaram anteriormente. Assim, como as sociedades também, em casos legais, podem dissociar-se de seus sócios. Vamos ver então em que casos e de que forma isso pode ocorrer? • A dissociação por pedido No caso de interesse pessoal pode o sócio pedir demissão da sociedade e tendo manifestado seu desejo em demitir-se, a sociedade deve acatar esse pedido, concedendo os direitos previstos no estatuto dentro do prazo certo. • A dissociação em virtude de infração legal ou estatutária ou por fato especial previsto no estatuto Nesse caso o associado é eliminado da sociedade mediante um termo fi rmado por quem de direito no Livro de Matrícula com os motivos que levaram a essa eliminação. • A dissociação por infração a dever ou obrigação Caso o associado venha a infringir os limites legais da relação sócio/ cooperado e sociedade/cooperativa pode ocorrer a sua eliminação. As decisões da cooperativa serão validadas a partir da apuração dos fatos e de ser dado o direito de defesa ao associado. É evidente que a constituição prevê o devido processo legal e a defesa ampla, que então será exercido pelo Poder Judiciário onde serão exigidos os procedimentos processuais legais. O prazo da cooperativa para comunicar a eliminação ao interessado é de 30 (trinta) dias. Se no estatuto não houver especifi cação para que esse procedimento seja publicado formalmente, basta a prova de que o interessado tomou conhecimento das acusações e da decisão da cooperativa. Esse procedimento é no âmbito privado e, portanto, não tem o rigor dos processos públicos. Da mesma forma que a Constituição garante o direito à associação, ela também preserva o direito dos cidadãos de dissociar-se das entidades a que se associaram anteriormente. O prazo da cooperativa para comunicar a eliminação ao interessado é de 30 (trinta) dias. 43 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX Capítulo 1 Ao eliminado, insatisfeito com a decisão dos órgãos menores da cooperativa, cabe o direito de recurso na primeira Assembleia Geral que ocorrer após a decisão. O julgamento do recurso do cooperado deverá constar formalmente da ordem do dia. Saiba ainda que o recurso tem caráter suspensivo: isto é, enquanto não for julgado o cooperado tem o direito de continuar atuando normalmente na cooperativa, exceto nos casos em que a cooperativa julgar que a gravidade do caso (crimes, prejuízos etc.) recomende a suspensão baseada nos princípios de autotutela dos interesses de cada um. É também possível que o cooperado busque uma liminar de cautela ou antecipação, caso em que cabe à cooperativa provar em juízo sua cautela com embargos de declaração, agravos ou mandado de segurança. Que tal reforçar o que você aprendeu sobre a dissociação do cooperado da Sociedade Cooperativa? Atividade de Estudos: 1) Cite quais são as formas de dissociação previstas na Lei 5.764/71 e como elas ocorrem. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Para aumentar seu conhecimento, procure num dicionário jurídico os seguintes termos apresentados nos comentários acima: autotutela dos interesses comuns, liminar de cautela ou antecipação, embargos de declaração, agravo e mandado de segurança. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 44 Aspectos legais e tributários nas sociedades de cooperativas de crédito Chegamos então, ao artigo 35 e os motivos que podem levar a exclusão do associado e eles são bastante claros. A causa de exclusão se dá pela impossibilidade de cooperação do associado seja pela dissolução da pessoa jurídica: no caso de ser a existência da pessoa jurídica o fato que gerou a associação, sua extinção provoca o fi m da associação; pela morte da pessoa física que é a extinção dessa pessoa e inviabiliza a cooperação; pela incapacidade civil não suprida, ou seja, alguns fatores que determinam a cessação da incapacidade não acontecem e fi nalmente por não atender às condições estabelecidas no estatuto da cooperativa. Vamos ler o que diz a Lei 10.406/02 que estabeleceu o Novo Código Civil, no Livro I, Das Pessoas, Título I Das Pessoas Naturais, Capítulo I da Personalidade e da Capacidade: CAPÍTULO I - DA PERSONALIDADE E DA CAPACIDADE Art. 1º. Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. Art. 2º. A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. Art. 3º. São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I - os menores de dezesseis anos; II - os que, por enfermidade ou defi ciência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. Art. 4º. São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II
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