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Artigo - Etica e Relacionamento Interpessoal

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Ética e Relacionamento 
Interpessoal 
 
 
Johny Henrique Magalhães Casado 
 
 
 
Artigo científico 
 
 
 
 
2 
 
 
ÉTICA NAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS: COMPREENDENDO AS RELAÇÕES 
HUMANAS 
 
Johny Henrique Magalhães Casado* 
RESUMO 
 
A sociedade tem cobrado dos indivíduos e das organizações uma postura ética cada 
vez mais atrelada aos seus anseios, sendo assim, é natural que as organizações 
que buscam apresentar tal comportamento, acabem sendo privilegiadas na 
preferência de seus consumidores. Por outro lado, os indivíduos desenvolvem 
comportamentos com base em suas relações humanas, desde o momento que 
nascem e durante toda sua vida. Sendo assim, a compreensão sobre aspectos 
éticos, e também as relações interpessoais, faz-se necessária a todos que 
pretendem estudar sobre as organizações. Neste artigo, serão abordados diversos 
conceitos e teorias que estão relacionados ao estudo e à compreensão da ética das 
relações interpessoais no dia a dia da sociedade contemporânea. 
 
Palavras-chave: Ética. Sociedade. Relações Interpessoais. Organizações. Relações 
Humanas. 
 
INTRODUÇÃO 
 
 O presente artigo busca demonstrar a importância do estudo da ética na 
sociedade e de como ela influencia as relações humanas e o dia a dia dos 
indivíduos. Compreender a ética e todas as suas relações com a forma como a 
sociedade se organiza é de fundamental importância para todos, inclusive no 
estabelecimento de relações pessoais e no ambiente do trabalho. O estudo da ética, 
dada a fundamental importância que possui, deve ser promovido como forma de 
buscar melhores resultados nas relações humanas, bem como na promoção de uma 
sociedade mais justa e dotada de princípios igualitários e fraternos. 
 A sociedade cada vez mais tem passado por profundas transformações que 
ocasionam diversas reflexões sobre quais caminhos devem ser percorridos daqui em 
diante. As evoluções na sociedade têm provocado profundas mudanças na forma 
como os indivíduos se relacionam. Por isso a ética e a moral surgem como forma de 
equilibrar e garantir um ambiente mais justo para que as relações humanas ocorram 
de forma a garantir a boa convivência entre todos. 
 Objetiva-se, com este artigo, apresentar os conceitos de ética que estejam 
relacionados ao dia a dia da sociedade e, também, como ela afeta as relações 
humanas no dia a dia. A ética é algo que envolve desde as relações humanas 
desenvolvidas no seio familiar, como também as que permeiam as relações 
desenvolvidas no ambiente escolar e, principalmente, nas relações de trabalho, 
 
*Graduado em Administração e Ciências Contábeis pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), 
graduado em Comércio Exterior pelo Centro Universitário de Maringá (UNICESUMAR), pós-graduado 
em Gestão Pública pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e mestre em Contabilidade 
pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). E-mail: johny.hmc@gmail.com 
3 
 
afetando especificamente a forma como as organizações funcionam e tratam seus 
colaboradores. 
 
1. CONCEITO DE ÉTICA NA SOCIEDADE: EVOLUÇÃO E REFLEXÕES SOBRE 
VALORES 
 
 A sociedade evolui com o tempo e com isso as relações humanas também se 
modificam e avançam. As inovações e o desenvolvimento de novas tecnologias 
acabam afetando diretamente a forma como as pessoas se relacionam umas com as 
outras. Atualmente, a constituição social das cidades, dos estados e das nações é 
muito diferente do que era há dez anos, por exemplo, e muito mais diferente do que 
eram há vinte, trinta, cem anos atrás (ARRUDA; WHITAKER; RAMOS, 2003). Sendo 
assim, acompanhar como a sociedade evolui e se modifica se torna necessário para 
entender a evolução humana. 
A velocidade das mudanças também tem sido cada vez maior, por isso, tem 
sido difícil para os indivíduos acompanhar as inovações e as formas como as 
pessoas mais jovens se relacionam. As mudanças, apesar de frequentes, não 
podem ocasionar que uma parcela da população deixe de acompanhar as evoluções 
sociais (ARRUDA; WHITAKER; RAMOS, 2003). 
Considerar todos os processos de mudanças ocorridos na sociedade se torna 
cada vez mais necessário para que todos os indivíduos acompanhem o processo de 
evolução que a ética tem percorrido na sociedade. Acompanhar as mudanças se 
torna essencial para entender a ética e como ela interfere nas relações humanas. 
Além das mudanças, necessário é importante que todos compreendam que a 
ética não pode ser entendida somente acompanhando um aspecto social, ou seja, 
não se deve compreender a ética como um fator isolado. A ética se relaciona com 
todos, com tudo, por isso ela deve ser compreendida em toda sua amplitude 
(ARRUDA; WHITAKER; RAMOS, 2003). 
A ética envolve as relações humanas desenvolvidas no seio familiar, 
constituindo, assim, a formação dos seres humanos na sua individualidade. A ética, 
também está relacionada às relações vivenciadas no ambiente escolar, e afeta 
diretamente a forma como as pessoas se relacionam em seu ambiente de trabalho e 
no seu dia a dia nas empresas. 
Cada vez mais a sociedade tem passado por profundas transformações que 
ocasionam diversas reflexões sobre quais caminhos devem ser percorridos pela 
humanidade. Sabemos, também, que a ética permeia as relações familiares dos 
indivíduos, além de estar relacionada à vida escolar, social e, principalmente, 
permear as relações humanas no ambiente das organizações (MARTINS; BENCKE, 
2018). 
A ética é um assunto amplamente debatido em toda a sociedade, trazido à 
tona em discussões acadêmicas, profissionais e em alguns casos até pela mídia. 
Debater sobre ética é um grande desafio a todos, pois ao discutir este tema, nota-se 
que é exigido um grande aprofundamento em diversas áreas do conhecimento 
(ARRUDA; WHITAKER; RAMOS, 2003). Desde a época de Platão, o debate sobre 
postura ética já era evidente, segundo Leite (2011, p. 25): 
 
Na escola de Platão, pela primeira vez, a “Ética” surge ao lado da “Lógica” e 
da “Física” como disciplinas. É o momento em que esses conteúdos passam 
a ser pensados “disciplinadamente”, isto é, passam a ser sistematizados no 
âmbito do pensamento e, dessa forma, o próprio pensar é também 
4 
 
sistematizado. Como Heidegger afirma, “As disciplinas surgem ao tempo 
que permite a transformação do pensar em ‘Filosofia’, a Filosofia em 
epistéme (Ciência) e a Ciência mesma em um assunto de escola e de 
atividade escolar”. 
 
 Segundo Bencke e Martins (2018, p. 3), “conciliar ética profissional, com a 
moral e os valores pessoais, exige do contabilista e do discente, conhecimento das 
legislações, competência para exercer a profissão, consciência ética, e a capacidade 
de refletir e agir de maneira correta”. Sendo assim, ao se buscar estudar e 
compreender sobre a consciência ética na sociedade, deve-se levar em 
consideração algumas dúvidas pertinentes, dentre elas as principais podem ser 
compreendidas como “O que é ética?” e “O que é moral?”. 
 Compreender ética e moral na sociedade é algo que movimenta estudiosos 
desde o início da sociedade, por isso é amplamente debatido em vários aspectos 
sociais. A ética é reflexo da sociedade, sendo influenciada diretamente pela forma 
como os ínvidos se organizam. É possível afirmar ainda que a influenciam a 
compreensão do que é ética acontecimentos como “o avanço tecnológico, das 
relações e ações individuais, enfim, do desenvolvimento de toda a sociedade. Não é 
possível pensar em aspectos éticos, sem refletir sobre sustentabilidade, 
desenvolvimento e sobre as estruturas internas das organizações” (SANTOS, 2019, 
p. 4). 
Na busca por entender como a ética é compreendida, deve-se considerar que 
ela sofre influência do tempo e do local, por isso é de fundamental importância que, 
ao se realizar qualquer tipo de estudo sobre o assunto, não seja feito nenhum tipo 
de pré-julgamento que possa enviesar a compreensão dos aspectos sociais 
relacionados. 
A definição do que viria a ser ética pode variar entre os autores. Segundo 
Silva et al. (2010, p. 3),“a palavra ética deriva do grego ethos, que significa costume 
e índole. Semelhante ao sentido da palavra latina moris, da qual deriva a palavra 
moral”. A influência da Grécia para o estudo da ética é inegável, tendo em vista que 
inúmeras reflexões apresentadas por importantes filósofos como Sócrates, Platão e 
Aristóteles são vistas até os dias atuas como de grande importância para o estudo e 
a compreensão do que é ética e como ela afeta as relações na sociedade. 
Segundo Valls (1994, p. 24), “a reflexão grega neste campo surgiu como uma 
pesquisa sobre a natureza do bem moral, na busca de um princípio absoluto da 
conduta. Ela procede do contexto religioso, em que podemos encontrar o cordão 
umbilical de muitas”, por isso estudar ou buscar compreender a ética atualmente é 
impossível sem ao menos considerar que esses estudos perpassem gerações e têm 
acompanhado a sociedade desde os seus primórdios, algo inegável, quando se nota 
a importância da filosofia grega e de suas contribuições para a compreensão da 
ética e da moral. 
O estudo sobre o que é moral e como ela afeta a sociedade ocorre de 
maneira ampla e irrestrita em toda a sociedade, partes desses estudos visa 
relacionar a moral a razão, pois, segundo La Taille (2009, p. 68), “sejam quais forem 
os fundamentos e conteúdos escolhidos para a moral, a razão sempre está, de uma 
forma ou de outra, presente”. 
Se admitirmos que a moral foi criada por um Deus e que, portanto, ela nos é 
revelada, a tarefa da razão é interpretar tal revelação. A moral, em uma sociedade 
com crenças e religiões estabelecidas, ganha ainda mais importância na sociedade. 
Na sociedade, para que saibam que uma conduta de um indivíduo é moral ou 
não, esta conduta deverá ser avaliada em relação à fórmula geral da moralidade 
5 
 
previamente estabelecida, portanto, a definição se algo é moral ou não possui forte 
relação com a historicidade do fato em si. A definição do que é um fato moral, deve 
ocorrer para que toda a sociedade possa compreender a moral nas mais diferentes 
situações. Durkheim (2015, p. 32) “define a moral em função não da utilidade 
individual, mas do interesse social. Mas se essa expressão da moralidade é 
certamente mais compreensiva que a precedente, não se conseguiria, no entanto, 
vê-la como uma boa definição”. 
A psicologia tem realizado inúmeros estudos visando compreender como a 
razão pode estar associada à moral. Segundo La Taille (2009, p. 69), “acostumou-
nos a reconhecer o quanto a razão pode ser fraca, o quanto ela pode enganar-se. 
Sim, mas desse alerta quanto às limitações da razão não decorrem em absoluto 
afirmar que ela em nada contribui para guiar nossas ações”, sendo assim, pelo viés 
da psicologia pode-se afirmar que a razão acaba sendo um guia para o 
desenvolvimento moral1 da sociedade. 
Os autores também relacionam o conhecimento como importante componente 
da moral, para eles, a moral pode ser compreendida como um objeto do 
conhecimento. Segundo La Taille (2009, p. 69): 
 
A moral é, antes de mais nada, um objeto de conhecimento. Ela “diz” coisas 
que a pessoa deve conhecer. Mas o que ela diz? Ela fala em regras, e 
assim diz o que deve ser feito e o que não deve ser feito. Ela fala em 
princípios, ou máximas, e, portanto, diz em nome do que as regras devem 
ser seguidas. E ela fala em valores, e assim revela de que investimentos 
afetivos são derivados os princípios. Por exemplo, a moral pode afirmar que 
a vida é um valor, derivar o princípio segundo o qual a vida deve ser 
respeitada, e ditar regras como “não matar”, “não ferir”, “promover o bem- 
-estar”. 
 
Compreender razão e conhecimento a partir dos estudos sobre moral 
colabora para que a sociedade possa ampliar a compreensão sobre como a moral 
está relacionada ao seu dia a dia. A área da educação tem grande importância no 
estudo da ética, pois a formação ética de uma sociedade acontece de forma 
consistente durante os anos escolares, segundo La Taille (2009, p. 8): 
 
[...] para que uma formação ética e uma educação moral possam dar seus 
frutos, faz-se necessário analisar o contexto cultural no qual elas serão 
implementadas. Imagino que o ensino de Matemática ou de Biologia possa 
ser proposto levando em conta, sobretudo, as dimensões psicológicas que 
presidem a construção desses conhecimentos. No entanto, isso é 
impossível quando se trata de ética (“vida boa”) e de moral (deveres) [...] 
debruço-me sobre as características da sociedade atual; apresento alguns 
“apontamentos” do que se poderia fazer na educação dos jovens. Assim, a 
parte dedicada ao plano ético é composta de análise da 
contemporaneidade, que intitulei “cultura do tédio”, e de outro, de cunho 
educacional, “cultura do sentido”. Na mesma lógica, a parte dedicada ao 
plano moral são “cultura da vaidade” e “cultura do respeito de si”. 
 
 Compreender como a ética está relacionada à fase em que o indivíduo está 
em busca da sua formação, ou seja, na fase onde ele anseia por educação se faz 
 
1A dimensão intelectual não somente está pressuposta pela própria definição de moral, como é 
reconhecida como condição necessária às ações reconhecidas como morais. Não podemos, portanto, 
descartar essa dimensão, sob pena de fugirmos totalmente a nosso tema, ou de reduzi-lo a 
dimensões biológicas, instintivas ou intuitivas (LA TAILLE, 2009. p. 73). 
6 
 
importante porque demonstra que o ambiente escolar deve fazer parte da 
compreensão sobre o que é ética e como ela deve ser compreendida na sociedade. 
 É importante destacar que os termos ética e moral podem ser aplicados “a 
pessoas quer a sistemas ou teorias morais, o que agrava, ainda mais, o estado de 
confusão, pois, quando desejamos classificar a natureza da ação humana e de 
sistemas mais alargados em que os sujeitos se inserem” (PEDRO, 2014, p. 485). O 
indivíduo comum acaba fazendo uso indiscriminado sobre cada um desses termos. 
Portanto, é na prática diária que as maiores dúvidas sobre o que ética e moral 
surgem. Segundo Gallo et al. (2010, p. 8): 
 
O fato é que à medida que uma sociedade, quer seja ela uma organização 
empresarial, uma entidade representativa de classe, ou a comunidade em 
geral, formaliza suas normas e práticas, baseadas em seus valores e 
padrões morais, isso representa uma síntese do consenso do grupo, ou 
seja, o que os seus integrantes acreditam e valorizam como certo ou errado, 
aceito ou não aceito. Assim, espera-se que o indivíduo siga essa referência 
ao custo de serem penalizados por condenação legal e/ou moral, muito 
embora o atendimento a essas normas seja uma decisão pessoal, em 
função do seu livre arbítrio. 
 
 Cotidianamente os conceitos de moral e da ética são utilizados como 
sinônimo. Parte da confusão está associada à origem e significado etimológico da 
palavra: moral vem do latim mos, e ética do grego ethos, ambas significam costume” 
(MARTINS; BENCKE, 2018, p. 4). Os conceitos de ética e moral demandam, 
também, que seja apresentado o significado de valor, ou seja, os três termos devem 
ser apresentados em conjunto para que possamos compreender como se forma a 
consciência na sociedade. 
Quando tratamos de valor, não estamos atribuindo valor pecuniário às coisas 
– aqui o significado de valor deve ser compreendido como a relação que o sujeito 
tem com algo. Segundo Pedro (2014, p. 492): 
 
Os valores constituem, assim, uma resposta natural às necessidades 
sentidas pelo sujeito; daí, a sua importância e contributo para a 
transformação da realidade; daí, o papel crucial que a educação pode 
representar no entrelaçar dos seus objetivos com o ganho de consciência 
reflexiva e prática acerca dos valores com vista à realização do sujeito, de 
acordo com as suas preferências. 
 
A compreensão do que são valores deve ocorrer a partir do entendimento de 
acordo com o seu caráter relacional, sendo assim, eles devem ser entendidos 
sempre de acordo com a ótica de algum sujeito em específico. Portanto, 
compreender o que são valores sempre se fará necessárioum sujeito e um objeto. 
Segundo Hessen (2001, p. 23), “valor é sempre valor para alguém, ele é a qualidade 
de uma coisa, que só pode pertencer-lhe em função de um sujeito dotado de uma 
certa consciência capaz de a registrar”. 
Segundo Durkheim (2017), a moral também possui intrínseca relação com os 
valores humanos, sendo assim, o campo de estudo responsável por essa 
compreensão deve considerar essa relação. Os valores morais, conforme são 
apresentados pelo das ciências sociais estão relacionados ao juízo moral2 que a 
sociedade promove. 
 
2“Uma habilidade técnica, embora grande, jamais se fez passar como virtude; jamais pareceu que um 
ato de improbidade pudesse ser compensado por uma feliz invenção, um quadro de gênio ou uma 
descoberta científica. Em que consiste esse valor, o que o caracteriza é o que nós não podemos dizer 
7 
 
À medida que as pessoas crescem e se desenvolvem elas passam por um 
processo no qual desenvolvem seus valores, por isso quando um indivíduo 
apresenta valores semelhante ao de outro indivíduo é comum que eles tenham 
passado por uma ou mais situações de vida semelhante. Segundo Abreu (2020, p. 
50), “à medida que crescemos, vamos criando abstrações – que são também 
chamadas de ’crenças’ – a respeito das mais variadas ocorrências do cotidiano. 
Desenvolvemos interpretações a respeito da vida e do comportamento dos outros”, 
sendo assim, os indivíduos desenvolvem o que é costumeiramente denominado de 
conglomerados mentais3. 
A compreensão do que é valor permite algumas compreensões de algumas 
características, são elas: ideais, irrealidade, apreciáveis, inexauríveis, atemporais, 
obrigatoriedade, qualidade, apetecibilidade, bipolaridade, objetividade, hierarquia, 
heterogeneidade e sistema lógico. Esses valores são importantes para que o 
indivíduo desenvolva o seu ponto de vista ético e atue da forma como a sociedade 
espera. 
A relação entre valor, ética e moral facilita o entendimento desses conceitos. 
Segundo Pedro (2014, p. 488): 
 
Assim, da relação tridimensional valores, moral e ética, podemos aduzir 
valores morais e valores éticos; todavia, nem a moral nem a ética reduzem, 
obviamente, a sua esfera de pensamento e de ação somente a este tipo de 
valores, dado que o mundo dos valores é imenso e infinito. Por isso, nunca 
é demais assinalar uma outra confusão que habitualmente ocorre ao 
identificar valores somente a valores morais, esquecendo a panóplia imensa 
do tipo de valores existentes (ex: políticos, éticos, morais, estéticos, 
ecológicos, vitais, espirituais, económicos, religiosos). Esta associação 
deve-se ao facto de, por razões culturais, ter existido ao longo dos séculos, 
uma proximidade histórica e cultural entre a esfera dos valores religiosos e a 
realidade social que, não obstante, se tem assumido, ultimamente, de cariz 
eminentemente laico e secular, mas ainda, de raiz judaico-cristã. 
 
O valor denominado de ideais possui uma profunda ligação com o mundo das 
ideias e dos pensamentos, portanto está relacionado à forma como o sujeito pensa 
as diferentes situações do seu dia a dia. Os ideais, segundo Pedro (2014, p. 494), 
estão relacionados ao “sentido em que os valores pertencem ao mundo do 
pensamento que os pensa, à imagem dos objetos do pensamento lógico e 
matemático; não no sentido em que são absolutos ou transcendentais”. 
Esse valor ajuda o indivíduo a pensar e refletir sobre o que é certo ou errado, 
ou ainda, sobre como agir em uma situação em específico. Esta reflexão é 
necessária, pois a partir dela ele poderá tomar as melhores decisões possíveis 
baseadas nos valores que ele traz consigo. Segundo Valls (1994, p. 25), “os homens 
 
no início da pesquisa; tentaremos responder à questão no decorrer deste livro. Mas, desde já, essa 
incomparabilidade dos valores morais basta para estabelecer que os juízos morais ocupam um lugar 
à parte no conjunto dos juízos humanos, e é tudo o que nos importa” (DURKHEIM, 2017, p. 107). 
3“Este processo cria, ao longo do tempo, uma constelação de valores pessoais, altamente 
idiossincráticos e que são tidos como uma verdade absoluta por cada um. Desta forma, basta que 
uma situação se apresente para que, prontamente, possamos tirar do bolso uma explicação enlatada, 
’pronta’ e que serve de parâmetro para descrever o mundo. Veja só que curioso: nos casos mais 
extremos, esse mecanismo, quando aparece, é batizado pela mídia leiga de ’preconceito social’. 
Alguns exemplos? Vamos lá: branco, negro, gordo, de esquerda, de direita, homo, hétero, do Norte, 
do Sul e por aí vai. Este aglomerado de opiniões é tão poderoso que, com o passar do tempo, torna-
se impermeável, ao criar uma verdadeira blindagem ao desenvolvimento (e reconhecimento) de 
novos pontos de vista” (ABREU, 2020, p. 50). 
8 
 
deveriam procurar, então, durante esta vida, a contemplação das ideias, e 
principalmente da ideia mais importante, a ideia do Bem”. 
A irrealidade é outro valor que pressupõem reflexão no campo da ética, que, 
por sua vez, está relacionado ao fato de que nem tudo é palpável, ou seja, os 
valores podem não ser materiais, não possuindo, assim, uma existência objetiva 
(CARVALHO, 2004). O valor da irrealidade demonstra que nem sempre o sujeito 
conseguirá ver e pegar algo, pois muitas vezes ele tomará as suas decisões 
considerando algo relacionado às suas emoções, o que poderá afetar as suas 
decisões éticas, de acordo com a forma como ele encara esta irrealidade e 
desenvolve seus pensamentos. 
A falta de alguns aspectos em relação aos valores também pode influenciar o 
indivíduo em relação à sua postura ética, pois nem sempre os valores são 
apreciáveis, ou seja, eles nem sempre podem ser estimáveis ou admiráveis, o que 
pode provocar dúvidas e gerar frustrações entre os indivíduos. Portanto, a 
característica apreciável aos valores poderá influenciar muito a forma como a 
tomada de decisão ética ocorre por parte das pessoas, seja de forma individual, 
quando elas estiverem em sociedade. 
O fato dos valores não serem estimáveis impõe ainda a realidade de que eles 
não podem ser elencados, entre mais ou menos importantes, o que faz com que os 
indivíduos tomem as suas decisões morais e éticas sem poder considerar se o valor 
em si é de fato importante para a situação em si (CARVALHO, 2004). 
Uma característica que torna os valores necessários de serem compreendidos 
e estudos no campo da ética é o fato de que eles são inexauríveis, ou seja, os 
valores não se esgotam conforme eles são apresentados. Um exemplo da 
característica inexauríveis dos valores é a bondade, um valor que em muitas 
situações pode aparecer, entretanto, quanto mais a bondade é utilizada e aparece, 
isso não significa que ela acabará, pois algo bom poderá ser sempre bom. Valores 
sendo inexauríveis permitem que os indivíduos façam amplo uso dos mesmos, 
assim manifestações éticas e comportamentos ético não precisam ficar reféns do 
pouco uso de um valor em si. 
Os valores, dentre o rol de características que possuem, ainda são 
considerados como atemporais, ou seja, os valores não possuem relação com a 
questão do tempo, assim como os indivíduos, por exemplo. Em suma, o uso de um 
valor não estará especificamente atrelado a uma época ou ainda a um ano 
específico, por isso, ao fazer uso de um valor, o indivíduo não precisa considerar a 
relação temporal que esse valor possui ou apresenta. 
O valor não deverá estar além do devir temporal, por isso essa característica 
de atemporal é de grande importância no estudo e na compreensão dos valores 
quando estes estão sendo compreendidos para o estudo da ética e da moral na 
sociedade e nas relações humanas. 
A característica da obrigatoriedade apresenta que os valores são categóricos, 
pois, segundo Pedro (2014, p. 495), eles “não são neutros, é completamente 
impossível sermos-lhes indiferentes. Daí, que sintamos obrigação moral (dever ser) 
de sobre eles nos pronunciarmos e tomarmos uma posição”. Com essa 
característica é possível compreender que, aose adotar um valor no momento de 
uma tomada de decisão, ou ainda, no momento em que se for tomar uma atitude, o 
indivíduo deverá considerar que o valor deverá ser considerado em sua 
integralidade e de forma clara e transparente, não podendo se escolher apenas 
alguns aspectos deste valor, ou ainda, apenas uma parte do mesmo, por isso, a 
9 
 
obrigatoriedade ganha importância como um valor que de fato influencia o processo 
de apresentação de uma postura ética na sociedade de forma em geral. 
A qualidade é outra característica do valor, pois, de maneira em geral, os 
valores são dotados de qualidades que não são reconhecidas pelos indivíduos. A 
própria definição do que é qualidade é algo complicado e complexo, a qualidade tem 
sido um assunto que tem ganhando cada vez maior destaque nas discussões 
acadêmicas e profissionais nos últimos anos. Definir o que é qualidade, portanto, é 
importante para compreender como um valor pode ter qualidade atribuída por parte 
do usuário. 
A compreensão sobre o que é qualidade é condição indispensável para todos 
os indivíduos e profissionais. Sendo assim, é interessante ressaltar que o conceito 
de qualidade tem se modificado ao longo dos anos, em especial nos últimos 
cinquenta anos este conceito agregou uma série de subconceitos que foram 
derivados da evolução da sociedade (CARPINETTI; GEROLAMO, 2019). 
Segundo Paladini (2019, p. 4), “definir qualidade de forma errônea leva a 
Gestão da Qualidade a adotar ações cujas consequências podem ser extremamente 
sérias para a empresa (em alguns casos, fatais em termos de competitividade)”. 
A evolução do conceito de qualidade, principalmente sob o ponto de vista das 
organizações, sempre acompanhou a questão custos. Segundo Carpinetti e 
Gerolamo (2019, p. 10): 
 
[...] análise da qualidade do produto tem pouco sentido prático se não for 
acompanhada de correspondente análise da relação entre custo e 
benefício. O usuário incorre em custos com o produto desde o instante da 
aquisição até o descarte. A soma de todos os custos de responsabilidade 
do usuário, durante a vida útil do produto, é chamada de custo do ciclo de 
vida do produto, que pode ser desdobrado em: custos de aquisição; custos 
de operação; custos de manutenção e reparo; e custos de descarte. O uso 
do critério do custo do ciclo de vida do produto coloca em evidência o 
desempenho ao longo da sua vida útil, uma vez que esse custo é 
fortemente influenciado por atributos como confiabilidade, facilidade de 
manutenção, durabilidade e eficiência do produto. 
 
A qualidade é algo abstrato, sendo assim o que é qualidade para um indivíduo 
pode não ser para outro. Às organizações cabe a difícil missão de apresentar seus 
produtos e serviços e fazerem com que os seus clientes considerem todos os 
atributos apresentados como qualidade. Ao considerar o campo da ética e da moral, 
torna-se necessário que os ínvidos compreendam a importância da qualidade como 
forma de se estabelecer valores de qualidade ao seu processo de tomada de 
decisão. 
Segundo Pedro (2014, p. 495), os valores possuem algumas características. 
Dentre essas características, uma é que eles têm grande influência nas decisões 
éticas dos indivíduos, ela está ligada à apetecibilidade. Ainda segundo o mesmo 
autor, “esta característica verifica-se, na medida em que os valores não são 
indiferentes ao sujeito, mas exercem sobre si uma força atrativa que reside, mais 
precisamente, na sua dimensão ideal e significativa” (PEDRO, 2014, p. 495). Em 
suma, temos que os valores acabam ao serem utilizados para a tomada de 
decisões, atraindo outros valores que orbitam em seu entorno, tornando as decisões 
ainda mais coesas e dotadas de sentimento e características muito parecidas e 
também assemelhadas. 
A bipolaridade possui grande importância na análise dos valores sob o ponto 
de vista ética, pois em muitas análises a bipolaridade é atribuída a valores que 
10 
 
divergem entre si, seja em seu conceito ou por meio da sua aplicabilidade. 
Considerando uma tomada de decisão que envolva duas pessoas, ao se analisar os 
valores que fizeram essas pessoas tomarem decisões distintas, é possível atribuir 
características divergentes a essas decisões. Considerando o exposto, é possível 
afirmar que, em caso de uma das pessoas tomar uma decisão considerada boa e 
automaticamente a outra pessoa tomar uma decisão contrária a ela, a segunda terá 
sua decisão considerada ruim. 
A bipolaridade não fica, portanto, restrita ao bom e mau, ela também pode 
aparecer no negativo e positivo, no amor e no ódio, na guerra e na paz, ou ainda em 
situações como calma e agitação. A bipolaridade acaba aparecendo em várias 
situações do processo de tomada de decisões, sendo assim não pode ser 
desprezada no momento de se tomar qualquer tipo de decisão que envolva direta ou 
indiretamente a ética e a moral. Essa característica bipolar dos valores é visível 
desde as contribuições do filosofo grego Aristóteles, pois, segundo os estudos 
atribuídos a ele, o bem e o mal são presentes no campo dos estudos sobre a ética, 
com a respectiva natureza estará o seu bem, ou o que é bom para ele. Segundo 
Valls (1994, p. 35), “cada substância tem o seu ser e busca o seu bem: há um bem 
para o deus, um para o homem, um para a planta, etc. Quanto mais complexo for o 
ser, mais complexo será também o respectivo bem”. 
A complexidade do entendimento de como os valores são desenvolvidos na 
sociedade compreende diversos conceitos, sejam eles ligados à bipolaridade ou 
não. Um desses conceitos refere-se à complexidade que alguns indivíduos possuem 
em se definir como pertencentes a um grupo, sendo assim, é natural que as pessoas 
possam se autodenominar participantes de grupos sociais4. 
A característica da objetividade também possui influência sobre as decisões 
éticas dos indivíduos, o que faz com que ela seja considerada no momento de se 
compreender a ética e como ela é aplicada na sociedade. Segundo Pedro (2014, p. 
495), na objetividade “os valores são objetivos como as figuras matemáticas, na 
medida em que mesmo que tenhamos uma ideia pouco clara da sua representação, 
conseguimos intuí-la como sendo algo objetivo”. 
O valor objetividade possui uma grande relação com algumas profissões, 
dentre elas temos a profissão de jornalistas, pois buscar a objetividade nesse tipo de 
trabalho torna o mesmo dotado de ética e também de um maior simbolismo. 
Segundo Costa (2017, p. 152), “objetividade seria a ’pedra angular’ da ideologia 
profissional dos jornalistas nas democracias liberais. Nesse estudo, ela pretende 
enfrentar os críticos à objetividade, em especial aqueles que argumentam que a 
mídia deturpa pontos de vista ou não reporta suas atividades com imparcialidade5”. 
 
4“Os grupamentos constituem-se em microssociedades, em que se desenvolvem comportamentos 
peculiares, que fazem surgir novas crenças e valores. A compreensão desses fenômenos sociais e as 
prescrições para melhorar a produtividade e a qualidade dos agrupamentos constituem o principal 
campo da Sociologia aplicada à administração, trazendo para dentro da organização os 
conhecimentos obtidos com os grupos sociais. Outra preocupação da Sociologia aplicada ao contexto 
empresarial tende a ser o estudo da comunidade organizacional, a forma e a maneira pelas quais 
essa comunidade organiza as relações sociais de poder e autoridade” (ABREU, 2020, p. 3). 
5A palavra “objetivo”, que vem do latim objectivus, derivado de objectus, Costa define a ação de 
colocar adiante, exprime algo que está no campo da experiência sensível. O substantivo feminino 
“objetividade”, sempre conforme o dicionário, fixa a qualidade, caráter ou condição do que é objetivo; 
ou a qualidade do que dá, ou pretende dar, uma representação fiel de um objeto (a objetividade da 
ciência); caráter daquele que age rápido, que não perde tempo em lucubrações; é a característica do 
que não é evasivo, é direto ou, em filosofia, a realidade exterior ou dessemelhante ao sujeito(o 
intelecto cognitivo humano) passível de por ele ser conhecida ou transformada (COSTA, 2017, p. 
152). 
11 
 
Os valores que influenciam as decisões éticas possuem ainda a 
características de serem heterogêneos, ou seja, mesmo que a possibilidade de 
ordená-los de acordo com suas características específicas eles não se misturam e 
mantêm sua essência. A última característica dos valores é que eles devem seguir o 
sistema lógico, portanto deverão apresentar consistência ao serem utilizados no 
momento de uma tomada de decisão. Segundo Pedro (2014, p. 495), “coerente no 
tipo de relações que estabelece entre os diferentes valores”, os valores ao serem 
elencados no momento de uma tomada de decisão, deverão considerar, também, 
que, no caso de surgir a necessidade de serem justificados, os mesmos deverão 
seguir um sistema de justificativa lógica e concisa. 
Necessário notar que todas essas características apresentadas em relação 
aos valores devem ser consideradas de forma independente, mas também devem 
ser consideradas de forma conjunta, em que um valor poderia influir sobre o outro no 
momento em que o sujeito passar por uma situação de tomada de decisão. A 
compreensão sobre os valores é de fundamental importância para o estudo da ética 
nas relações humanas, pois são os valores que influem diretamente na forma como 
as pessoas adotam determinados comportamentos e que, portanto, agem em 
relação aos seus interesses e suas vontades. 
 Resgatando a filosofia grega e sua contribuição para o estudo da ética, é 
possível observar que os valores já faziam parte desse campo de estudo, pois eles 
apareciam de forma um pouco mais limitada, como importantes pontos que 
influenciam os indivíduos em suas tomadas de decisões. O filósofo Platão, somente 
para citar um exemplo, citava algumas virtudes como importantes para que os 
indivíduos pudessem ser considerados detentores de um perfil ético, essas virtudes 
podem ser apresentadas de diversas formas atualmente, entretanto Valls (1994, p. 
27) os apresenta como: 
 
Justiça (dike), a virtude geral, que ordena e harmoniza, e assim nos 
assemelha ao invisível, divino, imortal e sábio; Prudência ou sabedoria 
(frônesis ou sofía) é a virtude própria da alma racional, a racionalidade como 
o divino no homem: orientar-se para os bens divinos. Esta virtude, que para 
Platão equivale à vida filosófica como uma música mais elevada, é aquela 
que põe ordem, também, nos nossos pensamentos; Fortaleza ou valor 
(andréia) é a que faz com que as paixões mais nobres predominem, e que o 
prazer se subordine ao dever; Temperança (sofrosine) é a virtude da 
serenidade, equivalente ao autodomínio, à harmonia individual (VALLS, 
1994, p. 27). 
 
A formação da consciência ética na sociedade passa pelo entendimento do 
que de fato seja ética, moral e também de todas as características que os valores 
apresentam. A influência da internet na constituição dos valores na sociedade atual 
tem causado grandes mudanças nos padrões éticos da sociedade, principalmente 
quando se aborda a questão dos jovens e de como eles se relacionam pro meio da 
internet e das redes sociais. 
Segundo Abreu (2020, p. 94), “nossos jovens, ao se debruçarem cada vez 
mais nas realidades paralelas da internet, constroem sua autoestima apenas de 
maneira temporária, ou seja, são alguém e se orgulham apenas do que são do lado 
de lá, e, quando retornam ao mundo real possuem muito pouco”, essa vida nas 
redes sociais em confronto com a realidade, acaba cirando um descompasso entre a 
vida virtual e a vida pessoal. 
Para Silva et al. (2010, p. 4), “a consciência ética possui um aspecto particular 
de observação que vai desde seu conceito, até os conflitos com as práticas sociais e 
12 
 
profissionais”. Compreender a ética a partir dos valores permite aos estudiosos um 
ótimo campo de estudo, garantindo assim, uma visão da complexidade da mesma 
em toda a sua essência e também a sua aplicabilidade nos diferentes pontos das 
relações familiares, relações sociais e relações no ambiente de trabalho. 
 
2. ÉTICA EMPRESARIAL NAS RELAÇÕES DE TRABALHO 
 
 A ética permeia as relações humanas em diversos aspectos, seja nas 
relações familiares, no grupo de amigos, nos ambientes escolares, em espaços de 
convivência social e, principalmente, no ambiente de trabalho. Considerando o 
exposto, temos que a ética nas relações empresariais acaba sendo como um dos 
focos da gestão das organizações, pois a ética empresarial é algo que vem sendo 
discutido e abordado na sociedade de forma geral. 
 A profissão escolhida pelos indivíduos acaba por considerar uma série de 
aspectos relacionados que influem diretamente na forma como ele atua e age diante 
da sociedade. Sendo assim, a profissão pode ser entendida como dimensões de 
ordem prática, que somente se manifestam pro meio de uma ação concreta que, por 
sua vez, são transformadoras do mundo e da realidade (SOUZA, 2019). 
 
2.1 Ética Profissional e suas Especificidades 
 
Compreender a relação da ética com profissão deve ser uma tarefa de todos 
os gestores que almejam atingir altos postos de trabalhos nas organizações na 
atualidade. A visão de mundo desses gestores deve levar em consideração os 
sujeitos e a relação estabelecida entre política, economia, cultura na sociedade. 
Segundo Gonçalves (2007, p. 5): 
 
Entender o mundo do trabalho em suas múltiplas facetas, bem como 
perceber-se parte dessa totalidade, contribuindo, participando, autorizando 
e recusando diferentes práticas sociais é a exigência feita ao trabalhador 
cidadão, tanto em sua vida profissional, quando na própria constituição de 
sua identidade. 
 
O trabalho assume diversas facetas inesperadas e que impactam diretamente 
na vida humana, sendo assim, torna-se natural a necessidade de estudar o trabalho 
como um importante fator relacionado à ética. Dentre as facetas6 que o trabalho 
assume, temos o aspecto técnico, aspecto fisiológico, aspecto moral, aspecto social 
e aspecto econômico (KANAANE, 2017). 
A complexidade sobre o debate a respeito do que seja uma postura ética é 
cada vez mais evidente em toda a sociedade, é possível observar que os indivíduos 
são cobrados por adotarem comportamentos éticos em seu dia a dia, portanto a 
 
6Segundo G. Friedmann, o trabalho assume as seguintes facetas: aspecto técnico, que implica 
questões referentes ao lugar de trabalho e adaptação fisiológica e sociológica; aspecto fisiológico, 
cuja questão fundamental se refere ao grau de adaptação homem-lugar de trabalho-meio físico e ao 
problema da fadiga; aspecto moral, como atividade social humana, considerando especialmente as 
aptidões, as motivações, o grau de consciência, as satisfações e a relação íntima entre atividade de 
trabalho e personalidade; aspecto social, que considera as questões específicas do ambiente de 
trabalho e os fatores externos (família, sindicato, partido político, classe social etc.). “Há de se 
considerar sob tal perspectiva a interdependência entre trabalho e papel social e as motivações 
subjacentes; aspecto econômico, como fator de produção de riqueza, geralmente contraposto ao 
capital, e unido em sua função a outros fatores: organização, propriedade, terra” (KANAANE, 2017, p. 
99). 
13 
 
necessidade de se apresentar um comportamento ético na profissão também é 
necessária (SOUZA, 2019). 
A denominada crise de valores7, em que se observam, entre as pessoas, 
posturas mais individualizadas, cuja sociedade não apresenta situações de 
compartilhamento, onde a competição impera, tem feito com que seja experimentada 
na sociedade uma situação em que as pessoas se questionam a todo o momento se 
devem ou não adotar uma postura ética em sua tomada de decisão. 
A crise de valores é algo visível e presente em toda a sociedade, pois: 
 
[...] essa crise de valores vem sendo combatida ao se adotar uma postura 
mais ética em diversas situações. Para isso, muitos segmentos da 
sociedade unem-se em movimentos significativos com objetivo de acabarcom as injustiças sociais. Essa mesma tendência à mobilização se verifica 
no mundo do trabalho. E não são com iniciativas somente dos 
trabalhadores. Muitas empresas, preocupadas com a ética no trabalho, têm 
adotado uma nova política em relação a funcionários, empregados, chefes e 
líderes, bem como com o meio ambiente, buscando o bem-estar de todos. 
Tudo isso comprova que a postura ética tem sido, cada vez mais, um 
requisito para a valorização do profissional no mundo do trabalho. Daí a 
necessidade de reconhecer que devemos aprimorar nossa educação e a 
das novas gerações, tanto para melhorar a sociedade na qual atuamos 
como para sermos mais valorizados no mercado de trabalho, ao 
apresentarmos algo que hoje é visto como grande diferencial: nossa 
integridade moral. (BARBOSA, 2011, p. 9) 
 
 No ano de 1992, o Ministério da Educação (MEC) formaliza em portaria 
própria a necessidade de diversos cursos de graduação e inserir as discussões 
sobre ética em suas grades curriculares, portanto, a educação superior passaria a 
ter a discutir este assunto como uma disciplina curricular. Com a ação do MEC, 
estabeleceu-se no Brasil a necessidade de estudar ética ao longo da graduação, 
portanto, os profissionais formados a partir de então poderiam discutir tais temas 
ainda ao longo da sua formação superior. 
É importante considerar que a demanda pelo estudo da ética não faz parte de 
nenhum modismo passageiro, pois há uma clara cobrança por toda a sociedade que 
as mais diferentes profissões possam exercer suas profissões pautadas pela ética e 
transparência. Profissionais éticos têm sido uma demanda crescente e real entre 
todos os setores da sociedade, portanto as universidades, faculdades e demais 
centros de formação superior devem agregar em seus cursos o estudo da ética 
como forma de atender as demandas e aos anseios de toda a comunidade. 
A partir do momento em que a ética passa a integrar o currículo da maioria 
dos cursos superiores no Brasil, nota-se que a sociedade apresenta uma sutil 
mudança em seu mindset. Sendo assim, nota-se que os novos profissionais sejam 
capazes de fazer um juízo crítico da realidade que os cercam, bem como, possam 
avaliar situações, consultar normas estabelecidas, interiorizar ou recusar padrões de 
comportamento que entrem em choque com o que a sociedade espera de seu 
comportamento (GONÇALVES, 2007). 
 Existem inúmeros comportamentos que são esperados por parte dos 
profissionais como forma de serem reconhecidos como profissionais éticos. Dentre 
os comportamentos mais apontados pela teoria estão três características: 
 
7“A compreensão da conduta humana possibilita conceber atitude como resultante de valores, 
crenças, sentimentos, pensamentos, cognições e tendências à reação, referentes a determinado 
objeto, pessoa ou situação. Desta maneira, o indivíduo, ao assumir uma atitude, vê-se diante de um 
conjunto de valores que tendem a influenciá-lo” (KANAANE, 2017, p. 73). 
14 
 
conhecimento, não violência e também solução democrática. As diferenças entre as 
idades, dos novos e dos velhos profissionais, também implicam na forma como estes 
consideram a ética em seu desenvolvimento profissional. Ressalta-se aqui a 
importância de considerar, também, as características relacionadas às identidades 
geracionais: 
 
Ao se fazer o reconhecimento das identidades geracionais, pode-se 
compreender, por exemplo, a forma distinta com que antigamente e hoje 
mulheres ou homens investem no projeto de constituir uma família ou de 
construir uma carreira profissional; como são diferentes as formas de 
perceber, sentir e agir de mulheres e homens que vivem em cidades 
grandes em relação àqueles que vivem em cidades pequenas; a maior 
facilidade com que os jovens encaram a tecnologia em comparação com os 
mais velhos. (KANAANE, 2017, p. 148) 
 
A característica conhecimento é um dos principais pressupostos que ajudam 
a orientar a moral do indivíduo no momento em que ele está desempenhando a suas 
funções de trabalho (GONÇALVES, 2007). O conhecimento acaba sendo um 
balizador e um validador dos profissionais em toda a sociedade, com isso, 
profissionais que possuam conhecimento validado pela sociedade acabam sendo 
também apontados como indivíduos éticos e dotadas de moral importante diante de 
todos. 
 Na medicina é possível observar que os indivíduos que atuam 
profissionalmente nesta área acabam por utilizar do conhecimento obtido em sua 
formação profissional, como uma forma de demonstrar seu valor para seus clientes e 
pacientes. É comum, ao visitar um profissional médico em seu ambiente de trabalho, 
deparar-se com inúmeros certificados e diplomas no local, pois essa é uma forma de 
apresentar a sociedade que ele possui os conhecimentos necessários para o 
desempenho daquela função em que se está sendo demandando. 
 A característica da não violência é outra que faz parte do rol de aspectos que 
estão relacionados ao fato dos profissionais serem apontados como éticos para 
sociedade em geral. A decisão do indivíduo de não fazer uso da violência em 
situações de estresse em seu dia a dia transmite uma imagem de equilíbrio, que 
permite à sociedade referendar as suas ações e tomadas de decisão como dotadas 
de ética e moral. A não violência garante também que, em situações em que o 
profissional estiver passando por um processo de coação, ou seja, caso ele esteja 
sendo chantageado, ameaçado ou qualquer outro tipo de coação, ele não deverá ser 
julgado por essas ações, já que as mesmas independeram de sua vontade 
(GONÇALVES, 2007). 
 A terceira e última característica que possibilita que um profissional apresente 
comportamentos éticos na sociedade se apresenta como solução democrática. Essa 
característica apresenta que somente será possível ao indivíduo ter uma postura 
ética em suas atividades profissionais, caso ele zele e lute pelos direitos humanos e 
pela participação de todos nas decisões da sociedade de uma maneira geral. 
Agregar uma postura democrática é, ao menos teoricamente, uma forma de garantir 
que o profissional seja visto como ético pela sociedade de uma forma geral. 
A definição de um padrão ético para ser aplicado no dia a dia de profissionais 
é algo que ocorre a todo instante na sociedade, isso não se trata apenas de listar 
diversas regras e regulamentos, mas apresenta-se como algo mais amplo e dotado 
de grande responsabilidade. Toda a sociedade deve considerar que a ética no 
ambiente empresarial dependerá, sobretudo, do “projeto e do desejo da organização 
[...] o executivo precisa desejá-la, precisa acreditar na possibilidade de que dela 
15 
 
derivam princípios e valores que contribuam para a saúde inclusive financeira da 
empresa e da comunidade” (GONÇALVES, 2007, p. 68). 
Segundo Souza (2019, p. 6) o comportamento ético na sociedade é um objeto 
material formal e também: 
 
(...) é o ato humano, e seu objeto formal é a moralidade desse ato. Portanto, 
a Ética lida com questões do bem, do direito, da justiça, da honestidade, da 
transparência, da sinceridade e do bem comum. Segundo o dicionário 
Aurélio, Ética é “o estudo dos juízos de apreciação que se referem à 
conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do 
mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto”. 
Aristóteles afirmou que a finalidade da ética é promover o bem-estar. Disse 
ainda que o estudo do bem tem natureza política e que mais importante que 
o bem-estar do indivíduo é o bem-estar da coletividade. Ética diz respeito ao 
comportamento humano voluntário livre. O comportamento ético não se 
impõe: é uma adesão livre ao que se apresenta como bom, e não uma 
submissão exterior a um conjunto de regras e proibições. Obviamente, na 
maior parte dos casos, essa submissão é necessária, já que o 
comportamento ético é também um comportamento legal, mas não se reduz 
a ele. Em determinados casos, tratando-se de leis injustas, o 
comportamento ético exige o descumprimento dessas leis. 
 
Quando há a necessidadede se escolher entre dois profissionais, com 
conhecimentos parecidos, com formações idênticas e que possuem as mesmas 
condições de oferta dos serviços, a sociedade, de uma forma geral, tende a escolher 
os indivíduos que apresentam uma postura ética clara e transparente, por isso, aos 
profissionais se apresenta como condição necessária para o seu sucesso em sua 
profissão que eles exponham, sempre que possível, que a ética faz parte do seu dia 
a dia. A sociedade espera e cobra de todos os profissionais postura ética e que 
estejam de acordo com os padrões esperados por todos, sendo assim, cabe aos 
profissionais deixarem claro, sempre que possível, sua postura ética de forma 
visível. 
A compreensão da relação da ética e da profissão deve ser feita considerando a 
época histórica, a visão de mundo que impera entre os sujeitos e também a relação 
estabelecida entre política, economia, cultura na sociedade. Em relação aos 
comportamentos éticos que se espera de em uma sociedade, temos que a solução 
democrática (GONÇALVES, 2007). 
Algumas profissões, por ínfimos motivos, possuem uma relação com a ética 
mais estreita que outras. Por meio dos conselhos de classe, são estabelecidos 
código de ética e de conduta que devem ser rigorosamente seguidos por todos os 
profissionais que atuam nela. A existência de tais conselhos é uma forma 
encontrada pela sociedade para que os profissionais possam ser punidos e, muitas 
vezes, multados caso infrinjam alguma norma do código de ética da profissão 
escolhida. Geralmente, para que ocorra um julgamento justo e transparente, 
eventuais penalidades aos profissionais que optam por infringir normativas do código 
de ética, ocorrem por meio de comissões formadas por outros profissionais da 
mesma área. Sendo assim, os profissionais acabam sendo julgados através de seus 
pares e de pessoas que conhecem a realidade de suas profissões. 
Dentre esses profissionais, três chamam a atenção dada à grande quantidade 
de profissionais que nelas atuam, bem como, graças a ênfase dos códigos de ética 
dada a todos esses profissionais, a primeira é a profissão de advogado que tem o 
código de ética elaborado pela Ordem do Advogados do Brasil e que possui grande 
16 
 
importância na definição do que se pode e não se pode quando na prestação de 
serviço ligados a esta profissional. 
O código de ética do advogado é um dos instrumentos profissionais mais 
completos em relação aos preceitos éticos, segundo este código: 
 
O advogado, no exercício de sua profissão, está diante de deveres 
relacionados à sua conduta pessoal. Quando o advogado se forma é um 
Bacharel em Direito e, sendo assim, assume compromissos indeléveis que 
perduram por toda sua vida profissional. A priori, compromete-se em 
obedecer e defender a ordem jurídica, cumprir integralmente a Constituição 
e as Leis do País. Além disso, deve, obrigatoriamente, observar as regras 
instituídas pelo Estatuto e pelo Código de Ética da Ordem dos Advogados 
do Brasil (OAB), onde estão estabelecidas as normas de conduta do 
advogado e de seu relacionamento profissional, não somente com os 
colegas de profissão, mas primordialmente com os clientes, com todas 
autoridades constituídas e também com a comunidade em geral. (GAMA; 
MENDONÇA; ALMEIDA, 2020, p. 51) 
 
A segunda profissão se trata dos profissionais ligados à área da medicina. 
Estes profissionais devem seguir rigorosamente o seu código de ética, bem como, 
devem seguir o exposto pelo Conselho Federal de Medicina. A terceira profissão que 
possui um apego ético muito grande, bem como possui também um código de ética 
robusto e dotado de muitos preceitos e conceitos, trata-se da profissão de contador, 
através do Conselho Federal de Contabilidade, esta profissão possui um robusto 
código de ético que estabelece punições e multas a todos os profissionais que 
optarem por infringir tais dispositivos. 
 
2.2 Ética Empresarial na Sociedade 
 
 Os profissionais precisam apresentar uma postura ética que seja aceita e 
referendada por toda a sociedade, sendo assim, torna-se natural também que as 
organizações também sejam cobradas a apresentar uma postura que esteja dentro 
das expectativas da sociedade de forma geral. Ultimamente, as organizações têm 
sido responsabilizadas pelos impactos das suas ações perante a sociedade. Desse 
modo esse tem sido um novo desafio aos gestores, de equilibrar as pressões por 
lucro por parte dos acionistas e, também, das expectativas que são impostas pela 
sociedade. 
O avanço atual da sociedade impõe que as organizações ofereçam um 
ambiente adequado aos seus colaboradores, pede, também, que elas apresentem 
respeito ao aspecto legal que a sociedade impõe para suas atividades e que elas 
respeitem o meio ambiente (SOUZA, 2019). O desenvolvimento de atividades 
empresariais não pode, em hipótese alguma, entrar em choque com as expectativas 
que a sociedade tem da organização. Portanto, ao buscar compreender as 
organizações, devemos partir do pressuposto de que elas devem apresentar uma 
postura adequada e de acordo com o que acionistas, colaboradores, clientes, 
governo e sociedade espera delas. Segundo Souza (2019, p. 10), “a sociedade 
consumidora tem consciência de seu papel, percebe e valoriza as ações adotadas 
pela empresa e passará a consumir produtos feitos por quem atua com 
responsabilidade”, sendo assim, é importante respeitar os desejos da sociedade 
para que a organização possa aumentar suas receitas e obter lucros em suas 
operações. 
17 
 
As organizações devem se preocupar em construir uma identidade própria e, 
a esta identidade, elas devem buscar alinhar suas expectativas de negócios e os 
anseios de todos seus stakeholders. A identidade da organização é composta pela 
forma como ela atua na sociedade de forma geral, mas também de sua missão, 
visão e valores internos que acabam por considerar todas as especificidades que 
envolvem o se negócio. 
A cultura organizacional faz parte da construção da identidade da organização 
que, por sua vez, acaba por influenciar muito o desenvolvimento da ética na 
sociedade, sendo assim, o estudo da ética passa pela compreensão de todo o 
aspecto cultural que cerca o indivíduo. A alta competitividade, que começa desde 
quando criança e avança com o passar do tempo, acaba impregnando a cultura 
escolar, social e também a cultura empresarial. 
 As organizações têm enfrentado um ambiente de grande competitividade, 
sendo assim, há a necessidade de se estabelecer vencedores e perdedores no 
campo da concorrência empresarial, portanto, isso acaba influenciando que algumas 
organizações acabem tomando decisões ou adotando padrões de comportamento 
longe da ética que lhes é esperada. Um ambiente de grande competitividade é 
aquele em que, segundo La Taille (2009, p. 172), “o ‘vencedor’ não é apenas quem 
se dá bem na vida, mas quem se dá melhor que os outros. E quem são os 
‘perdedores’? Ora, são justamente esses outros e, evidentemente, aqueles que 
estão excluídos do mundo do trabalho”. Está realizada, por sua vez, acaba por 
hierarquizar as pessoas dando maior ou menor importância as suas conquistas, 
causando assim, um aumento da competitividade entre as organizações. 
 Em ambientes onde a figura dos “vencedores” e “perdedores” são frequentes, 
temos que a individualidade impera sobre a coletividade, portanto, as decisões 
acabam sendo tomadas de forma a garantir que “vencedores” continuem 
prevalecendo, o que pode provocar injustiças e conflitos. Esse ambiente de grande 
competitividade possibilita uma intersecção entre o que é ética individual e o que é 
ética empresarial. Segundo Souza (2019, p. 12): 
 
Não podemos esquecer que o ser humano é o principal agente das 
empresas e que os princípios e valores de seus proprietários e dirigentes é 
que criam a cultura da empresa. As empresas que desejam atuar de forma 
ética terão de projetar essa atitude junto a seus stakeholders. As pessoas é 
que atuam de forma ética. As empresas apenas espelham o caráter daspessoas que desempenham suas atividades em nome dela. Decisões e 
condutas inadequadas podem comprometer a própria empresa, gerando 
prejuízos irrecuperáveis e desgastes de imagem. A constatação de que 
ética assimilada e praticada pelos funcionários da empresa é o caminho 
para se buscar a correção nas decisões é ainda muito recente. 
Considerando que as empresas, na qualidade de pessoa jurídica, são 
apenas figura do direito, reafirmamos que a ética está nas pessoas que 
compõem a empresa. São elas que efetivamente agem e interagem, que 
inferem e diferenciam o que é certo do que é errado sob a influência de 
suas reais intenções ou escolhas. O discernimento do que é ético para com 
a própria empresa é que determina se uma decisão está optando pelo que é 
melhor para a empresa e não para quem está decidindo. 
 
Santos (2019) aponta que, para compreender a ética empresarial, é 
necessário criar compreender as suas duas dimensões. Estas, por sua vez, são o 
resultado do conjunto de experiências corporativas, das vivências dos indivíduos e 
das pesquisas realizadas pela academia. 
18 
 
As dimensões da ética empresarial se apresentam por meio de diferentes 
aspectos do dia a dia das organizações, sendo assim, ela pode ser observada 
também no processo de desenvolvimento, implantação e validação das políticas 
institucionais. Considerar que a ética perpassa a forma como as organizações agem 
e atuam é uma das formas que a sociedade encontra para cobrar das empresas e 
de seus gestores a adoção de princípios éticos (SANTOS, 2019). 
A ética corporativa pode ser observada por meio de duas dimensões distintas. 
A primeira dimensão é a referente à abordagem, que se apresenta por meio da 
sustentabilidade e do respeito à multicultura. Respeitar o meio ambiente é algo 
esperado de todas as organizações, principalmente das que atuam explorando a 
fauna e a flora nacional, portanto é esperado que as organizações desenvolvam 
programas que visem repor tudo que elas extraem da natureza. 
O comportamento ético da organização ganha cada vez mais importância na 
análise das organizações, principalmente quando se trata de organizações que por 
suas particularidades estão mais expostas na mídia. Brandão et al. (2017, p. 21) 
afirma que “não há dúvidas quanto à importância de um comportamento empresarial 
ético, alinhado aos imperativos legais e regulatórios, ao respeito às boas práticas da 
concorrência, à atenção com o respeito ao meio ambiente e aos costumes da 
sociedade em que a empresa atua”. 
O respeito à multicultura também é muito forte. Dada a miscigenação 
presente na constituição do Brasil, é natural que as organizações tenham em seus 
quadros de colaboradores pessoas de raças, religião e culturas diferentes, portanto, 
elas devem respeitar e proporcionar o respeito cultural de todas as culturas em sua 
estrutura, bem como, devem também se adaptar para atender clientes de culturas 
diferentes. O respeito, segundo Brandão et al. (2017, p. 60), “é a conduta de 
acolhida e consideração favorável à presença e à existência do outro; sua prática 
inclui o cuidado para que nossas escolhas, decisões ou atos não o prejudiquem”. 
A segunda dimensão é a dimensão operacional e do desenvolvimento da 
organização. Ela está relacionada a três itens específicos: aprendizado contínuo, 
inovação e governança corporativa (SANTOS, 2019). A sociedade muda, as 
tecnologias evoluem e as pessoas alteram seus gostos e costumes, portanto as 
organizações devem acompanhar esse ambiente em constante mudança para que 
possam se adaptar as necessidades de colaboradores e clientes. Sendo assim, as 
organizações precisam estar em constante desenvolvimento para que possam 
atender as mudanças impostas pelo seu ambiente. 
A inovação possui intrínseca relação com a qualidade8 ofertada, fazendo 
parte, também, da dimensão operacional e do desenvolvimento da organização. Ela 
é importante para que as empresas que desejam melhorar seu desempenho possam 
se adequar aos anseios de seus clientes e do mercado (SANTOS, 2019). A inovação 
ganha grande importância no desenvolvimento organizacional, pois a partir dela é 
que se torna possível à empresa oferecer novos produtos e serviços. Segundo 
Kanaane (2017, p. 110): 
 
Essa afirmação está estreitamente relacionada com os objetivos da 
empresa que são: buscar constantemente informações junto ao mercado e 
desenvolver inovações e tecnologias com o intuito de oferecer alternativas 
que atendam cada vez mais às necessidades e expectativas dos viajantes. 
 
8Pode ser que você acredite firmemente em oferecer a maior qualidade possível para seus produtos 
com uma boa dose de inovação, mas em virtude de crises econômicas e diminuição nas receitas, 
você se veja obrigado a trabalhar com preços mais baixos – mesmo sabendo que se cobrasse mais, 
poderia oferecer produtos melhores (BRANDÃO et al., 2017, p.81). 
19 
 
Desse modo, percebe-se que, apesar de os colaboradores não saberem de 
forma clara a missão da organização, conhecem os objetivos da 
organização e entendem que esta deseja ser uma empresa inovadora no 
seu segmento, ganhando destaque dentre as concorrentes. Por ser uma 
empresa consolidada e com grande número de franquias, vários negócios 
são realizados, o que gera uma movimentação no mercado de viagens e 
afeta inúmeros stakeholders da empresa. Partindo para uma compreensão 
da dinâmica interna da organização, buscando compreender a 
produtividade da equipe, os colaboradores afirmam trabalhar com alta 
produtividade, pois respondem a uma grande quantidade de solicitações por 
dia, e, portanto, precisam ser ágeis nas respostas. Contudo, quando 
dependem de respostas de terceiros (fornecedores) para executar suas 
tarefas, a produtividade diminui, visto que os fornecedores também estão 
com excesso de trabalho, gerando um círculo vicioso. 
 
Para que as organizações possam atender a esta dimensão, elas deverão 
repensar constantemente programas e processos sempre que possível, 
reinventados para que possam atender as necessidades de todos os stakeholders 
que possuam algum tipo de relação com a organização. 
Dentre os processos de inovação que a organização pode implementar, o 
desenvolvimento de novos de produtos e serviços é uma das mais utilizadas, outra 
questão que pode ser promovida pelas organizações é a implantação de estratégias 
de inovação que devem se espalhar por todos os departamentos, bem como deve 
integrar o esforço que lida com a cultura organizacional. Brandão et al. (2017, p. 19) 
apresenta que “todo esse esforço exige reflexão para alcançar avanços profundos 
de atitude, conduta e cultura organizacional, pois será inútil se nada mais 
representar que outro estágio da governança meramente formal”. 
A inovação acabou se tornando algo capaz de nortear as ações de pessoas e 
organizações na sociedade atual. O aumento da competitividade somado ao avanço 
tecnológico tem provocado uma série de mudanças nos paradigmas organizacionais 
nos últimos anos. A liderança possui grande importância em relação à criação de 
organizações inovadoras, pois “constatou-se que os colaboradores consideram que 
seus gestores são democráticos, flexíveis, atenciosos e estão sempre abertos a 
diálogos, e esses colaboradores sentem-se sempre convidados a participar com 
suas ideias sobre a empresa” (KANNANE, 2017, p. 111). 
A busca por criar o novo e recriar o velho tem sido frequente em todas as 
organizações, portanto cabe aos gestores buscarem formas de buscar um ambiente 
de inovação constante, atendendo os anseios da economia e também os preceitos 
da boa gestão (BRILLO; BOONSTRA, 2019). 
O terceiro item que faz parte da dimensão operacional e de desenvolvimento 
trata da governança corporativa, esse item auxilia os gestores a tornar claros e 
transparentes a forma como a organização realiza seus processos internos e 
externos, como ela estabelece suas políticas comerciais, como ela organiza os seus 
regulamentos e como tratam a ética dentro de suas operações, sendoque algumas, 
chegam até a possuir códigos de ética interno9. 
 
9A cada dia novas empresas lançam seus respectivos Códigos de Ética e criam comitês ou conselhos 
responsáveis por salvaguardar a adoção e a prática de atitudes éticas. Não existe receita para 
elaborar um código de ética, visto que cada empresa tem sua maneira de atuar no mercado, o que 
abrange os próprios valores, sua cultura e seus conceitos. Por isso, não se pode simplesmente copiar 
o código de ética de outra organização. Também “é recomendável que o código seja revisto e 
atualizado periodicamente, com base no histórico de ocorrências verificadas na própria empresa, de 
modo a torná-lo cada vez mais abrangente e condizente com a própria cultura organizacional. Não se 
20 
 
Para Brandão et al. (2017, p. 20): 
 
A governança corporativa vem sendo, e deverá continuar a ser, um assunto 
bastante discutido e, entre os temas de que trata, os dilemas e desafios da 
integridade empresarial devem receber atenção especial neste momento em 
que o assunto compliance (conformidade) ocupa crescente espaço no 
noticiário e nas agendas das empresas brasileiras. Entretanto, há o risco de 
se concentrar o foco sobre as ferramentas, processos de “blindagem”, 
mecanismos de segurança e esquecer o que foi, e continua sendo, o 
fundamental: a falta de uma verdadeira cultura ética em muitas 
organizações, tanto empresariais quanto nas instituições do poder público, 
inclusive na relação entre elas. 
 
Segundo Souza (2019, p. 11), “o conceito de Governança Corporativa 
incorpora a questão da sustentabilidade e implica a relação com todos os públicos: 
internos e externos”. Sendo assim, as organizações que possuem governança 
corporativa, são dirigidas, administradas e controladas considerando boas práticas 
de gestão, bem como, considerando preceitos éticos estipulados pela sociedade 
(SANTOS, 2019). Atualmente é necessário “compreender todo esse panorama e 
implementar as boas práticas de gestão por meio de um modelo sustentável 
baseado em diretrizes estratégicas e atreladas ao plano de negócios, com o objetivo 
de potencializar o valor da empresa” (BRANDÃO et al., 2017, p. 130). 
A necessidade de as empresas acompanharem as tendências sociais, faz 
com que elas estejam sempre atentas aos questionamentos éticos que surgem por 
meio da sua atividade. Dentre as principais mudanças na forma como a sociedade 
tem atuado Barbosa (2011, p. 42) apresenta os seguintes: 
 
[...] as novas necessidades e possibilidades que foram incorporadas ao 
nosso cotidiano, como acesso à escolaridade, à informação, ao emprego, 
aos progressos da medicina e aos meios de locomoção mais rápidos; a 
ampliação de nossa visão de mundo, decorrente do maior acesso à 
informação, por meio de diferentes mídias, e da possibilidade de viajar a 
lugares mais distantes e em menor tempo (ainda que virtualmente); a 
progressiva transformação da natureza pelo ser humano, devido a 
descobertas científicas, à exploração de novas matérias-primas, às obras de 
engenharia, ao desenvolvimento do turismo até lugares antes preservados e 
até há pouco intocáveis, entre outros motivos; a luta, por meio dos diversos 
movimentos sociais, de pessoas que foram ou ainda são excluídas da 
cidadania plena; a exposição maior do indivíduo, com relação à sua 
identidade e privacidade, devido aos meios de comunicação e técnicas de 
informação que podem construir e destruir sua imagem pessoal. 
 
 A necessidade de atender as necessidades da sociedade é constante, 
considerando que as mudanças são muitas, e isso impõem um grande desafio aos 
gestores e as organizações. Segundo Santos (2019, p. 89), “a sociedade está em 
constante evolução e a ética é resultante dessa sociedade, portanto é comum 
surgirem novas demandas e devemos nos adaptar a elas. Uma falta de postura ou 
de ação da empresa pode levar até a uma crise ou desgaste na imagem do produto 
ou da instituição”. 
 As mudanças necessitam de um ambiente específico para que possam 
ocorrer, sendo assim, é importante considerar que: 
 
 
trata de um manual de procedimentos operacionais, nem deve estar voltado apenas para compliance, 
ou seja, procedimentos de controle top-down na estrutura hierárquica” (SOUZA, 2019, p. 15). 
21 
 
[...] a sociedade civil, no âmbito da cidadania, deverá ter uma atitude de 
engajamento na busca da solução dos problemas nacionais, organizando-
se de forma a efetuar o controle social sobre as atividades exercidas pela 
administração pública. Essa nova atitude de comprometimento e ação por 
parte da sociedade civil, demandando produtividade e economicidade do 
serviço público, pressupõe a existência de transparência e prestação de 
contas por parte dos agentes públicos (BRANDÃO et al., 2017, p. 153). 
 
A velocidade das mudanças também impacta e traz complexidade à gestão 
das organizações. Para Souza (2019, p. 10), “a velocidade da informação existente 
no mundo atual vem tornando a sociedade cada vez mais consciente e participativa. 
O senso crítico mais apurado, a noção dos direitos individuais, a constatação de que 
pessoas satisfeitas e valorizadas produzem mais e melhor”. 
Esse ambiente de grandes desafios faz das organizações interessante campo 
de estudos para a ética empresarial. Sendo assim, estudos acadêmicos devem se 
debruçar diante do ambiente empresarial para buscar compreender como a ética 
organizacional é influenciada pela sociedade e, principalmente, como as 
organizações acabam ajudando a mudar o ambiente ético da sociedade. 
 
3. RELAÇÕES INTERPESSOAIS: INDIVUALISMO E COLETIVIDADE 
 
 O ser humano é um ser sociável e que encontra na coletividade a melhor 
forma de apresentar suas necessidades, anseios e talentos. A interação humana 
vem sendo estudada por diversas ciências, desde as biológicas até as sociais 
aplicadas, portanto, existe uma enorme quantidade de materiais produzidos a 
respeito deste tema e que permite a todos os interessados alguns interessantes 
insights sobre as relações interpessoais. Os indivíduos nas “organizações participam 
de uma grande variedade de inter-relações. Seu trabalho pode exigir que se 
associem entre si como parte regular do desempenho do trabalho” (WAGNER, 
HOLLENBECK, 2020, p. 199). 
A sociedade é um ambiente de grandes desafios, por isso pessoas e 
organizações precisam aprender a lidar com esses desafios em seu dia a dia. Aos 
estudiosos sobre a ética empresarial, resta a tarefa de se debruçar diante do 
ambiente empresarial para buscar compreender como a ética organizacional é 
influenciada pela sociedade e, principalmente, como as organizações acabam 
ajudando a mudar o ambiente ético da sociedade (TIMOTHY, 2015). Estudar a ética 
e as relações interpessoais é se torna importante, pois permite a todos os 
interessados alguns interessantes insights sobre como a sociedade tem evoluído 
com o passar dos anos. 
 A característica de sociabilidade que é inerente do ser humano faz com que 
ele constantemente esteja interagindo com outros, participando de grupos e 
necessite sempre buscar formas de interagir e copiar comportamentos de outros 
indivíduos. No ambiente de trabalho, vários são os fatores que influenciam as 
relações humanas dentro das organizações, dentre esses fatores, o cargo10 que 
cada um ocupa é um agente influenciador das relações e, também, das interações 
que são desenvolvidas pelos indivíduos no ambiente organizacional. 
 
10 “Em relação aos cargos a maioria não leva em conta as características pessoais de seus ocupantes 
ou os ambientes complexos e dinâmicos nos quais os trabalhos devem ser executados. Assim, 
quando uma pessoa começa a fazer um trabalho, geralmente se evidencia que tarefas omitidas da 
descrição do cargo precisam ser executadas para que o papel seja desempenhado com sucesso” 
(WAGNER; HOLLENBECK, 2020, p. 199). 
22 
 
 Segundo Wagner e Hollenbeck (2020, p. 199): 
 
O cargo é uma posição formal e, geralmente, vem acompanhado de uma 
declaração escrita das tarefas que devem ser executadas.Essas 
declarações por escrito são chamadas descrições de cargos e em geral são 
preparadas por gestores ou especialistas em análise e descrição de cargos. 
Quando essas descrições são utilizadas, normalmente há uma dose 
razoável de consenso inicial quanto ao que constitui os elementos fixos das 
tarefas de um papel. Considerando que as descrições de cargos são 
preparadas de antemão por pessoas que de fato não executam o trabalho, 
muitas vezes elas são incompletas. 
 
Em se tratando do comportamento ligado às relações interpessoais, uma das 
principais formas de sociabilidade que o indivíduo faz uso para se tornar parte de um 
grupo é buscar grupos de interesse e que ele se sinta parte, interagindo e 
encontrando assuntos em comum. 
 O poder que os grupos de referência exercem sobre os indivíduos é chamado 
de poder social, este, por sua vez, possui algumas características especiais: 
referência, informação, legitimidade, expertise, recompensa e coercitivo. Os grupos 
são importantes, pois “cada membro do grupo aprende observando os outros 
membros ensaiar as habilidades e receber feedback sobre seu desempenho” 
(RAYMOND, 2018, p. 198). 
Estas características do poder social acabam influenciando muito a forma 
como os indivíduos agem na coletividade, mas também influenciam a forma quando 
eles estão sozinhos e agindo sem serem observados, portanto, o poder social 
necessita ser estudado e compreendido, tanto no campo das relações pessoais 
quanto no campo do comportamento macro-organizacional. 
 
O comportamento macro-organizacional coloca foco no entendimento dos 
“comportamentos” de organizações inteiras. As origens do comportamento 
macro-organizacional podem ser atribuídas a quatro disciplinas. A sociologia 
forneceu teorias de estrutura, status social e relações institucionais. A 
ciência política ofereceu teorias de poder, conflito, barganha e controle. A 
antropologia contribuiu com teorias de simbolismo, influência cultural e 
análise comparativa. A economia forneceu teorias de competição e 
eficiência. (WAGNER; HOLLENBECK, 2020, p. 7) 
 
A participação em grupos sociais possui uma enorme importância na 
formação do indivíduo, pois é natural observar que os indivíduos acabem replicando 
comportamentos aprendidos nos grupos do qual fazem parte em situações do seu 
dia a dia. O estudo de grupos sociais é importante, pois esse tipo de estudo ajuda a 
compreender a sociedade de uma maneira geral, sendo assim, cabe a todos os 
profissionais buscarem esse conhecimento (TIMOTHY, 2015). 
Compreender como os grupos influenciam as relações e como tirar o melhor 
desse conhecimento é uma tarefa de profissionais de áreas distintas, destacam-se, 
aqui, os profissionais do campo das ciências sociais que objetivam compreender 
como a sociedade evolui e para onde caminham. Destacam-se, também, os 
profissionais ligados à área da psicologia que buscam conhecimentos através da 
compreensão da mente humana, temos ainda, pedagogos e demais profissionais da 
área da educação. 
As ciências sociais é a ciência utilizada para compreender como este poder 
social está constituído e como ele vem sendo utilizado na sociedade para direcionar 
a forma como as pessoas agem e atuam em diferentes aspectos (TIMOTHY, 2015). 
23 
 
O poder social é dotado de uma série de características que o tornam complexo de 
ser entendido. 
A característica denominada de referência do poder social está associada 
diretamente ao fato das pessoas seguirem e copiarem outras que elas admiram, 
sendo assim é natural que pessoas que exercem grande admiração acabem por 
influenciar as outras em vários aspectos da sua vida. No ambiente das 
organizações, a referência também pode ser percebida, o denominado colaborador 
padrão, que é tido pela estrutura organizacional, como o profissional modelo para os 
demais. Esses trabalhadores, “que, aos olhos de seus colegas, desempenham muito 
bem em sistemas de remuneração por produção, muitas vezes ganham títulos 
pejorativos, como funcionário padrão” (WAGNER; HOLLENBECK, 2020, p. 227). 
A imitação, a partir da referência, poderá ocorrer por meio da imitação de 
gestos, estilos de vida e do consumo. Desse modo, os profissionais de marketing 
exploram muito a característica da referência no poder social, ao se utilizarem de 
artistas e esportistas para anunciar produtos e buscar aumento do consumo de 
produtos específicos. 
 O poder de referência cria uma sensação, mesmo que fantasiosa, de que, ao 
se assemelhar a um grupo, o indivíduo estará automaticamente possuindo as 
características daquele grupo, o que tornaria possível estabelecer um marcador de 
classe em relação a aquele grupo. Essa lógica do poder de referência pode ser 
compreendida pela psicologia através da contribuição de Mancebo et al. (2002, p. 
329): 
 
A produção do capital simbólico serve, assim, como um marcador de classe, 
contribui para a reprodução da ordem estabelecida e para a sua 
perpetuação; produz formas materiais e concretas de poder; mecanismos 
nem sempre perceptíveis e não raramente naturalizados. Em decorrência, 
nas sociedades contemporâneas, boa parte da racionalidade das relações 
sociais se constrói na disputa pela apropriação dos meios de distinção 
simbólica, processo imerso nas práticas de consumo. Como os fluxos de 
mercadorias são intensos, torna-se difícil uma avaliação do status ou da 
posição na hierarquia conforme o uso ou porte de determinada mercadoria. 
É neste contexto que o gosto, o julgamento e o conhecimento das 
mercadorias assumem importância, auxiliando classes e frações de classe 
na escolha dos bens, mecanismo que, por seu turno, tem parte ativa na 
recomposição das hierarquias e diferenciações sociais. 
 
 O poder da informação11 também possui grande influência na constituição do 
poder social nas relações interpessoais. Geralmente as pessoas buscam se 
informar, seja por meio de estudos ou acesso às informações em locais específicos, 
para que possam encontrar grupos em comum. Dentre os exemplos que temos mais 
comuns, podemos citar o caso do público que possui interesse em conhecer 
assuntos relacionados ao setor de moda. É natural que esse grupo vá buscar se 
relacionar com grupos que possuam o mesmo interesse que eles, e para se informar 
sobre o que está acontecendo neste setor, ele deverá buscar informações em 
revistas, sites, participará de eventos sendo todos relacionados ao setor de seu 
interesse. 
 
11“Na Era da Informação, o emprego está se tornando cada vez mais flexível, mutável, parcial e 
virtual. Daí a necessidade de ocupabilidade, ou seja, a capacidade de manter uma atualização 
profissional intensiva e constante que assegure flexibilidade, oportunidades de carreira, projetos e 
tarefas dentro ou fora da organização” (CHIAVENATO, 2014, p. 22). 
24 
 
 Os indivíduos têm acesso à informação a todo o momento, com o atual 
avanço da tecnologia é possível receber informações sobre diferentes assuntos de 
diferentes formas. Segundo Lisboa (2000, p. 7), “assistir à televisão, falar ao 
telefone, movimentar a conta no terminal bancário e pela internet, verificar multas de 
trânsito, comprar discos, trocar mensagens com o outro lado do planeta, pesquisar e 
estudar são hoje atividades cotidianas, no mundo inteiro e no Brasil”. 
A sociedade da informação está à disposição de todos, alguns com maior 
acesso e outros com menor acesso devido às condições financeiras, entretanto, há 
informações disponíveis a todos e que cada vez mais tem sido utilizada por pessoas 
e organizações para encontrar grupos de interesse e aumentar o seu poder social. A 
sociedade da informação cria ambientes em que os indivíduos se informem e 
conheçam um pouco de tudo, sendo assim, a informação passa a transitar com 
maior velocidade. Na Era da Informação, “estão predominando ativos intangíveis e 
bens intelectuais. A era do tijolo e do concreto está cedendo lugar para uma nova 
era de ideias e concepções. O capital intelectual está em alta" (CHIAVENATO, 2014, 
p. 15).