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9 Capítulo 1 Trajetória e desafios da universidade em nossa sociedade Neste capítulo, abordam-se questões que se relacionam à história da universidade na Europa e no Brasil, bem como as finalidades da universidade, as quais são: ensino, pesquisa e extensão, e seus principais dilemas no cenário contemporâneo, principalmente, temas adjacentes que percorrem debates recorrentes na sociedade, pautados em valores, visões de mundo, como as questões étnico-raciais, as políticas de desenvolvimento sustentável e os direitos humanos. Tudo isso para que você possa ser competente na análise e compreensão de contextos e, assim, desenvolva habilidades como: refletir criticamente, detectar contradições, argumentar, entre outras. Seção 1 História da universidade Para entender a trajetória da universidade, como instituição, é necessário mergulhar no passado e contextualizar os momentos históricos que marcaram a sua formação, desde a antiguidade ocidental até sua trajetória no Brasil. Assim, abordam-se as etapas históricas que permitem localizar a universidade no tempo. 1.1 A universidade na Europa Tudo começa na antiguidade clássica, na Grécia e em Roma, quando aparecem as primeiras escolas de ensino superior, que objetivam a formação completa dos jovens, especializando-os nas áreas de Medicina, Filosofia, Retórica e Direito. Nessas escolas, cabia aos discípulos aprender lições do mestre, considerado espelho e modelo de aperfeiçoamento. MOTTA, Alexandre de Medeiros et. al. Universidade e Ciência. Palhoça: UnisulVirtual, 2016. p. 9-18. 10 Capítulo 1 Recorda-se, nesse contexto, que os romanos incorporaram a educação grega, preocupando-se basicamente com a oratória. A originalidade do ensino latino, decorrente da influência romana, consistiu na carreira jurídica, difundindo o ensino grego. Porém, com a crise no Império Romano e as consequentes invasões bárbaras, ocorridas nos séculos V a X, o processo de ensino superior foi interrompido. Contudo, a universidade, como instituição que a conhecemos hoje, tem suas raízes no período medieval. Nesse sentido, com base em Trindade (2000), apresenta-se a seguir os quatro principais períodos que marcaram a história da universidade na Europa. O primeiro, do século XII até o Renascimento, foi o período da invenção da universidade. Em plena Idade Média é que se constituiu o modelo da universidade tradicional, a partir das experiências precursoras de Paris e Bolonha, da sua implantação em todo território europeu, sob a proteção da Igreja. Nesse período, o ensino torna-se um atributo exclusivo da Igreja Católica. As escolas leigas são substituídas pelas religiosas, transformando-se em um instrumento de aquisição e transmissão de cultura. O segundo período iniciou-se no século XV, época em que a universidade renascentista recebe o impacto das transformações comerciais do capitalismo e do humanismo literário e artístico, mas sofre também os efeitos da Reforma e da Contrarreforma. No terceiro, a partir do século XVII, marcado por descobertas científicas em vários campos do saber, e do Iluminismo do XVIII, a universidade começou a institucionalizar a ciência, não sem resistências, numa transição para os novos modelos de investigação em busca do conhecimento. Nesse cenário, o do século XVIII, a universidade caracterizada pelas repetições dogmáticas de cátedras não consegue mais acompanhar as novas necessidades culturais oriundas do rápido desenvolvimento da mentalidade individualista e da ciência moderna. Assim, no século XVIII, o movimento iluminista questiona o saber medieval. O caráter canônico do ensino começa a ruir diante das pressões capitalistas. "Com a Revolução Industrial e a consolidação do modo de produção capitalista, surgiram exigências de especializações e técnicas que se ajustaram à nova divisão social do trabalho". (WANDERLEY, 1991, p. 18). No quarto período, no século XIX, implantou-se a universidade estatal moderna, e essa etapa, que se desdobra até os nossos dias, introduz uma nova relação entre Estado e universidade, estabelecendo suas principais variantes institucionais. No século XIX, na França de Napoleão, a industrialização institui uma universidade voltada para a formação profissional, a partir da estruturação de escolas superiores. Nessa mesma época, a Universidade de Berlim (1810) torna- se um centro de pesquisa e, na Irlanda, o Cardeal Newman (1851) funda uma universidade como lugar do ensino do saber universal. (LUCKESI et al, 1991). 11 Universidade e Ciência Sob o influxo e a disseminação das ideias liberais, buscou-se a integração entre o ensino e a pesquisa [...]. Paulatinamente, as universidades terão que se adequar aos processos de desenvolvimento econômico e social segundo as características peculiares de cada nação. Pensadas então para formar os filhos da burguesia, logo, elas serão pressionadas a atender aos reclames de mobilidade social dos filhos da classe média. Pouco a pouco elas se transformaram no lugar apropriado para conceder a permissão para o exercício das profissões, através do reconhecimento dos títulos e diplomas conferidos por órgãos de classe e governamentais. (WANDERLEY, 1991, p. 18). Como se observa, no decorrer da história da universidade, encontra-se o esforço pela transição da humanidade: da vida rural para a vida urbana, do pensamento dogmático para o racionalismo, do mundo eterno e espiritual para o mundo temporal e terreno, enfim, do medieval para o moderno. Nesse esforço, busca- se pela livre autonomia, "[...] como condição indispensável para questionar, investigar, propor soluções de problemas levantados pela atividade humana". (LUCKESI et al, 1991, p. 33). 1.2 A universidade no Brasil No Brasil Colônia, até a chegada da família real portuguesa, em 1808, os luso-brasileiros, em especial os religiosos, faziam seus estudos na Europa, principalmente na Universidade de Coimbra. Existiam na colônia apenas cursos superiores de Filosofia e Teologia, oferecidos pelos Jesuítas. Porém, após a implantação da Corte portuguesa em território brasileiro, cria- se o ensino superior, para atender as necessidades militares de proteção às famílias portuguesas instaladas no Rio de Janeiro. A partir de então, em 1808, cria-se a Faculdade de Medicina da Bahia, seguida pelas Faculdades de Direito de São Paulo e do Recife, em 1854. Mais tarde, em 1874, no Rio de Janeiro, os cursos civis separam-se dos militares, formando-se a Escola Militar e a Escola Politécnica, e logo a seguir, em Ouro Preto, inaugura-se a Escola de Engenharia. Desse modo, por volta de 1900, o ensino superior brasileiro consolidava-se nos moldes de Escola Superior. (LUCKESI et al, 1991, p. 34). Como se observa, no Brasil Império (1822 a 1889), a expansão do ensino superior continua muito lenta, por meio do surgimento de cursos isolados em várias áreas, já que o modelo econômico agroexportador não necessitava de profissionais com formação superior. (FIGUEIREDO, 2005). 12 Capítulo 1 Com a proclamação da República, em 1889, as discussões sobre a Educação, especificamente sobre as universidades, surgem com mais força. Em decorrência da industrialização e urbanização, ocorre pela primeira vez no Brasil uma ação planejada, visando à organização nacional da educação. Com isso, após 1930, em plena Era Vargas, inicia-se o processo de transformação do ensino superior para a condição de universidade, a partir do agrupamento de três ou mais faculdades. Assim, neste mesmo ano, surgem as Universidades de Minas Gerais e de São Paulo, com a proposta de superar o simples agrupamento de faculdades, o que ocorre em 1934. Em seguida, em 1935, o professor Anísio Teixeira defende uma universidade como centro livre de discussão de ideias, isso é interrompido pela ditadura do Estado Novo de 1937. Apesar dessas iniciativas, nesse período, devido ao processo de industrialização, predomina a preocupação com o ensino profissionalizante. Em geral, o populismo de Vargas somado àfederalização das faculdades estaduais e privadas, ocorridas no início da década de 50, torna-se responsável pela ampliação do ensino superior gratuito e pela criação das universidades federais, que hoje existem no país, inclusive no segmento militar. Anos mais tarde, em 1962, Darcy Ribeiro, discípulo de Anísio Teixeira, em conjunto com outros intelectuais, funda a Universidade de Brasília, propondo o rompimento do modelo de universidade como mero agrupamento de escolas e faculdades. Porém, com o Golpe de 1964, que implantou a ditadura militar no Brasil, essas ideias inovadoras são derrubadas e os seus intelectuais (professores e cientistas) exilados do país. Em 1968, o governo federal, para acabar com a autonomia da Universidade perante o Estado e manter o controle político e ideológico da educação, decreta a Reforma Universitária por meio da Lei n. 5540. O trinômio "racionalização, expansão e controle" passa a orientar a implantação de um novo modelo de universidade no Brasil. A Lei 5540/1968 extingue a cátedra (especialista ou autoridade em determinado assunto), unifica o vestibular, passando a ser classificatório, aglutina as faculdades em universidade, visando a uma maior produtividade com a concentração de recursos, cria o sistema de créditos, permitindo a matrícula por disciplina. Além disso, conforme Aranha (1996, p. 214), a nomeação dos reitores e diretores de unidade (essa agora dividida em departamentos) dispensa a necessidade de ser do corpo docente da universidade, podendo ser qualquer pessoa de prestígio da vida pública ou empresarial. Houve também a fragmentação das Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras, resultando na criação das Faculdades ou Centros de Educação. 13 Universidade e Ciência A reforma universitária atendeu a demanda dos grupos ligados ao regime instalado com o Golpe de 1964, que buscava vincular mais fortemente o ensino superior aos mecanismos de mercado e à criação de mão de obra técnica para as multinacionais, no âmbito da expansão capitalista americana, assim como a incorporação naquelas que já estavam instaladas no país. Também houve a contenção de gastos governamentais, por meio da expansão das faculdades isoladas ou privadas, contrariando a expansão do ensino público gratuito. Concretiza-se, assim, o processo de privatização sem precedentes do ensino no país, caracterizando a educação enquanto um grande negócio, destinando verba pública para a iniciativa privada. Tal posicionamento tem continuidade nas décadas seguintes. Em decorrência das políticas adotadas na década de 90, principalmente pelo Governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC), as universidades públicas sofrem cortes drásticos nas verbas, inclusive sem abertura de novos concursos públicos, ao contrário das faculdades particulares, que se multiplicam, assim como não se cria uma política efetiva de assistência estudantil. Com a eleição de Lula para a presidência da República, as universidades federais ganham novo fôlego, concursos públicos são abertos e cria-se o Projeto Universidade para Todos (ProUNI), contribuindo, inclusive, para a expansão das universidades comunitárias. Porém, ainda são necessárias outras mudanças no modelo universitário, herança da reforma universitária da década de sessenta e do modelo sócio-político-econômico adotado pelo Brasil nas últimas décadas. Seção 2 Finalidades da universidade: ensino, pesquisa e extensão A universidade é responsável pelo ensino, por meio do contato sistemático com a cultura universal. Além disso, deve ampliar e diversificar esses conhecimentos adquiridos, por meio da pesquisa, que produz novos saberes, vinculado ao ensino (e a aprendizagem), como atividade essencial para a formação acadêmica. O mesmo vale para a extensão ou prestação de serviços à comunidade, uma forma de garantir responsabilidade social à universidade e estimulá-la a aproximar- se dos diferentes saberes, promover iniciativas comunitárias sustentáveis, reconhecer a diversidade cultural e aperfeiçoar o exercício das potencialidades humanas. Por isso, é fundamental que uma universidade seja reconhecida, sobretudo, como um espaço do ensino, da pesquisa e da extensão. 14 Capítulo 1 No Brasil, isso ocorreu em função da luta de entidades sindicais e científicas do campo da Educação, que se reuniram no Fórum da Educação na Constituinte, responsável pela inserção na carta constitucional de 1988 do artigo 207, o qual prescreve: "As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão e obedecerão ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão". Essa "autonomia" e "indissociabilidade" passaram a formar um padrão de qualidade em um projeto de universidade voltado para os interesses da maioria da população. O tripé "ensino, pesquisa e extensão" apresenta-se então como uma expressão de responsabilidade social. Há um pensamento universal de integrar ensino e pesquisa, porém, no caso brasileiro, a ênfase quase sempre recaiu na formação profissional, tornando a integração bastante complicada. Por muito tempo, a universidade foi concebida como lugar da busca desinteressada do saber. Isso implica dizer que suas raízes ramificam-se na herança cultural greco-romana e católica. Além disso, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), n. 9394/96, em seu art. 45, ao estabelecer que "a educação superior será ministrada em instituições de ensino superior, públicas e privadas, com variados graus de abrangências ou especialização", abre caminho para que, pelo decreto n. 2.306/97, fosse introduzida uma nova tipologia das instituições de ensino superior. Nessa tipologia, os institutos e faculdades isolados podem prescindir da pesquisa e da extensão, valendo-se apenas do ensino para exercer sua função educativa. (BRASIL, 1996). Acredita-se que essa medida foi a forma ideal encontrada pelos legisladores para atender aos interesses de mantenedoras do setor privado, permitindo grande redução nos custos dos serviços oferecidos por tais instituições, se comparados às universidades, que garantem as três funções, organicamente associadas, além de cumprir exigências, como corpo docente titulado e contratado em regime de dedicação exclusiva, com produção intelectual qualificada. O cenário apresentado configurou a coexistência de dois modelos de ensino superior no Brasil, como argumenta Sguissardi (2004, p. 41): as IES neonapoleônicas, destinadas à formação técnico profissional dos estudantes, nas quais predominam critérios como não exigência de pesquisa e extensão, corpo docente majoritariamente sem qualificação para a produção de conhecimento, com dedicação exclusiva às atividades de ensino, alocados em unidades isoladas, entre outros. E as IES neohumboldtianas, voltadas à formação de profissionais pesquisadores, nas quais predominam critérios e indicadores como existência de produção científica, com programas de pós- graduação stricto sensu consolidados, docentes em regime de tempo integral e qualificados para a produção científica, estrutura acadêmica integrada em torno de projetos, entre outros. 15 Universidade e Ciência Para Mazzilli (2005), a consecução da associação entre ensino, pesquisa e extensão demanda: a existência de projetos institucionais que anunciem as diretrizes e os compromissos que os orientam e as ações previstas para sua realização; projetos coletivos de trabalho, associando ações acadêmicas e administrativas; práticas de avaliação institucional, abrangendo todo o trabalho realizado pela universidade, como instrumento de autoconhecimento institucional; modelos de gestão que possibilitem a participação de todos os segmentos no processo de decisão e de avaliação do trabalho acadêmico; corpo docente com sólida formação científica e pedagógica, organicamente vinculada ao projeto da universidade; e, principalmente, condições materiais para a realização do projeto pretendido. No caso da Unisul, por exemplo, a pesquisa,o ensino e a extensão são entendidos como atividades formativas inerentes ao ambiente acadêmico, constituindo-se em componentes curriculares. Nesse sentido, não se pensam estruturas específicas para a consolidação de cada uma dessas atividades em função de suas especificidades. Por isso, o tripé (pesquisa, ensino e extensão) deve estar inserido na integralização curricular dos itinerários formativos de cada curso desta instituição. Seção 3 Dilemas que desafiam a universidade no mundo contemporâneo Em nossa sociedade, o conhecimento científico ainda está profundamente ligado ao espaço da universidade. É imprescindível que a universidade seja um espaço democrático e, dessa forma, que esse conhecimento possa circular em todos os outros espaços, e, principalmente, trazer contribuições. A universidade, em seu papel social, deve voltar-se para a melhoria da qualidade de vida, atendendo tanto aos direitos individuais como aos da coletividade. No entanto, os desafios não se esgotam nessas ideias, requisitando questionamentos como: Qual o significado de universidade? A que e a quem ela serve? Que caminho está rumando? Certamente, as respostas a essas perguntas são muitas e, por isso, precisamos refletir nessa seção sobre o papel da universidade na formação do cidadão. Trindade (2000) ressalta que uma instituição de ensino superior não pode se deixar dominar pela lógica do mercado ou do poder. Essa é a questão que está no centro do conceito de autonomia universitária, mesmo que historicamente ele tenha se transformado nas diferentes etapas da evolução da sociedade em relação a sua forma medieval originária. 16 Capítulo 1 Como instituição que se dedica à produção e socialização de conhecimento, a universidade não tem como deixar de ser afetada pelo modo como as épocas históricas e as sociedades entendem o conhecimento. Mas essa ideia não é única e não resume jamais o papel da universidade. Em sua trajetória, a universidade pode ser vista como o lugar historicamente propício para a criação e divulgação do saber, para o desenvolvimento da ciência, para a formação de profissionais de nível superior, técnicos e intelectuais que os sistemas necessitam, bem como ser vista como a instituição social que articula pesquisa, ensino e extensão, para satisfazer os requisitos estabelecidos pela sociedade. Todavia, dentro de certos limites, é permitida à universidade relativa autonomia, desde que não se contraponha aos objetivos postos pelos governantes e setores privados mantenedores. (WANDERLEY, 1991). Quanto às concepções de universidade, há aqueles que a veem como um dos aparelhos ideológicos privilegiados da formação social capitalista, tanto na reprodução das condições materiais e da divisão social do trabalho em intelectual e manual, quanto para garantir as funções de inculcação política e ideológica dos grupos e classes dominantes. Outros procuram colocá-la dentro do contexto contraditório do capitalismo, analisando seus limites e possibilidades, inserindo-a no conjunto das lutas sociais. Existem também os que defendem o "otimismo pedagógico", acreditando em uma educação como mola propulsora da mudança social e do desenvolvimento. Por fim, há outro grupo que considera a universidade como ultrapassada, obsoleta, com a necessidade de ser totalmente reformulada ou acabada. (WANDERLEY, 1991). Sendo assim, entendemos que a universidade se torna um lugar específico para o conhecimento da cultura universal e das várias ciências, onde se cria e divulga o saber, desde que se desenvolva conjuntamente o ensino, a pesquisa e a extensão. Cumpre à universidade gerar pensamento crítico, organizar e articular os saberes, formar cidadãos, profissionais e lideranças pensantes. Porém, há questionamentos mais radicais que, em pleno ritmo de globalização capitalista e informacionalização, alertam para o fato do conhecimento ter se tornado um bem de mercado, como forma dos seus “consumidores” galgarem uma melhor adaptação ao mundo do trabalho extremamente competitivo. Por isso, faz-se necessário que a universidade enfrente seriamente o desafio de rever constantemente seus fundamentos propriamente acadêmicos, científicos e filosóficos. Mas isso não se resolve em um plano abstrato, além de que a universidade está sempre determinada pelo movimento histórico a que pertence. Ela não é perfeita nem inquestionável e não está acima da sociedade nem desvinculada dela. Seu corpo docente, sua estrutura administrativa, seus dirigentes, estatutos e tradições e seus estudantes incidem sobre sua imagem e seu desempenho. 17 Universidade e Ciência A universidade brasileira tem se debatido intensamente numa crise que não parece ter fim, uma vez que tumultua e desorganiza sua estrutura, mas que também se abre para novos horizontes e possibilidades, na medida em que se mostra essencialmente como desafio e derruba hábitos e procedimentos pouco funcionais ou referidos rigidamente a padrões anteriores de vida intelectual, educação e gestão. Como afirma Lukesi (1991, p. 41), “uma universidade que se propõe a ser crítica e aberta não tem o direito de estratificar, absolutizar qualquer conhecimento como um valor em si; ao contrário, reconhece que toda conquista do pensamento do homem passa a ser relativa, na medida em que se espacio-temporaliza. Há sempre a necessidade de um entendimento novo”. Sustentabilidade, crise econômica mundial, mudanças climáticas, escassez da mão de obra, inovação. Essas são as palavras-chaves que compõem o vocabulário das mudanças pelas quais passa o mundo e que, inevitavelmente, impõem a cada um de nós a busca por um novo modelo de vida no planeta. Nesse cenário, a educação tem peso de ouro e as universidades passam a assumir um papel fundamental no processo reflexivo da sociedade. (COELHO, 2009). Não há dúvidas de que o caminho do crescimento passa pela promoção do desenvolvimento profissional, pela sustentabilidade e pela inovação. A universidade precisa se voltar para a construção de um modelo social e ambiental mais justo. E como se inserem esses dilemas no espaço universitário? Será que a universidade continua sendo capaz de desempenhar suas históricas atribuições? Que conhecimento ela está gerando hoje? Como as posições geradas em seu interior entram em circulação, que função cumpre? Qual sua efetiva contribuição para o país? São muitas as interrogações que precisam urgentemente ser discutidas e nada melhor do que o espaço da própria universidade para instigar tais preocupações. Seção 4 Universidade: espaço de formação do cidadão A globalização é um fenômeno econômico, resultante do próprio sistema capitalista, na ânsia de conquistas por novos mercados, em decorrência da saturação de setores da economia, em alguns locais. Isso tem provocado transformações profundas em nossa sociedade, que precisam ser tratadas em suas relações, sem isolá-las. É nesse contexto que se insere a universidade, ou seja, um ambiente dinâmico com diversos conhecimentos. 18 Capítulo 1 A universidade deve ser o lugar da reflexão, das formulações das perguntas e das proposições de soluções, ponto de encontro de pessoas com objetivos em comum. É espaço em que se desenvolve o olhar crítico, sobretudo, um olhar capaz de considerar o currículo sob a perspectiva da sociedade em que estamos inseridos, a comunidade que nos circunda, buscando soluções para a efetividade de uma lugar mais humano e mais sustentável para se viver. É exatamente nessa perspectiva que temas atuais, os quais demandam reflexões e soluções da sociedade para a própria sociedade, emerjam na constituição do contexto universitário, principalmente no que diz respeito às questões étnico- raciais, às políticas de desenvolvimento sustentável e aos direitos humanos. Essas questões implicam não só reflexões, como também ações por parte de todos nós. É necessária a adoção de atitudes coerentes com uma educação centrada no exercício da cidadania. Nesse sentido, é possívelacreditar que temas recorrentes e fundamentais como os que são tratados nesta seção ampliem os horizontes das áreas de conhecimento, para além dos seus domínios específicos, para a formação integral do ser humano. Assim, a universidade se move no sentido de transformar a sociedade, não só por questões que discutem e permeiam as formações específicas dos seus cursos, mas, de maneira muito significativa, por aquelas que perpassam a formação de cidadãos críticos, investigativos e partícipes de uma sociedade justa e igualitária. Como você, estudante, durante a trajetória universitária se comportará em relação a esses temas? Como profissional, como se comportará em relação a esses temas? Como vai promover os direitos humanos em sua trajetória? E o desenvolvimento sustentável, o que é? Trata-se de um modismo, não se aplicará ao que você pretende para sua trajetória profissional? Para responder a todas essas perguntas é preciso conhecer os pressupostos básicos sobre esses temas. Para isso, disponibilizamos materiais na Midiateca do nosso Espaço Virtual de Aprendizagem (EVA). Esses materiais são os seguintes: 1. Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico- Raciais, publicado pelo MEC. 2. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, publicado pelo MEC. 3. A ecologia política e as relações e os conflitos socioambientais, autora Denize Demarche Minatti Ferreira. 4. O desenvolvimento sustentável: perspectiva histórica, autora Denize Demarche Minatti Ferreira. 5. Dimensões e impacto do desenvolvimento sustentável, autora Denize Demarche Minatti Ferreira.
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