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Capítulo 1
Trajetória e desafios da universidade 
em nossa sociedade
Neste capítulo, abordam-se questões que se relacionam à história da 
universidade na Europa e no Brasil, bem como as finalidades da universidade, 
as quais são: ensino, pesquisa e extensão, e seus principais dilemas no cenário 
contemporâneo, principalmente, temas adjacentes que percorrem debates 
recorrentes na sociedade, pautados em valores, visões de mundo, como as 
questões étnico-raciais, as políticas de desenvolvimento sustentável e os 
direitos humanos. Tudo isso para que você possa ser competente na análise 
e compreensão de contextos e, assim, desenvolva habilidades como: refletir 
criticamente, detectar contradições, argumentar, entre outras.
Seção 1
História da universidade
Para entender a trajetória da universidade, como instituição, é necessário 
mergulhar no passado e contextualizar os momentos históricos que marcaram a 
sua formação, desde a antiguidade ocidental até sua trajetória no Brasil. Assim, 
abordam-se as etapas históricas que permitem localizar a universidade no tempo.
1.1 A universidade na Europa 
Tudo começa na antiguidade clássica, na Grécia e em Roma, quando aparecem 
as primeiras escolas de ensino superior, que objetivam a formação completa dos 
jovens, especializando-os nas áreas de Medicina, Filosofia, Retórica e Direito. 
Nessas escolas, cabia aos discípulos aprender lições do mestre, considerado 
espelho e modelo de aperfeiçoamento. 
MOTTA, Alexandre de Medeiros et. al. Universidade e Ciência. Palhoça: UnisulVirtual, 2016. p. 9-18.
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Capítulo 1 
Recorda-se, nesse contexto, que os romanos incorporaram a educação grega, 
preocupando-se basicamente com a oratória. A originalidade do ensino latino, 
decorrente da influência romana, consistiu na carreira jurídica, difundindo o ensino 
grego. Porém, com a crise no Império Romano e as consequentes invasões bárbaras, 
ocorridas nos séculos V a X, o processo de ensino superior foi interrompido.
Contudo, a universidade, como instituição que a conhecemos hoje, tem suas 
raízes no período medieval. Nesse sentido, com base em Trindade (2000), 
apresenta-se a seguir os quatro principais períodos que marcaram a história da 
universidade na Europa.
O primeiro, do século XII até o Renascimento, foi o período da invenção da 
universidade. Em plena Idade Média é que se constituiu o modelo da universidade 
tradicional, a partir das experiências precursoras de Paris e Bolonha, da sua 
implantação em todo território europeu, sob a proteção da Igreja.
Nesse período, o ensino torna-se um atributo exclusivo da Igreja Católica. 
As escolas leigas são substituídas pelas religiosas, transformando-se em um 
instrumento de aquisição e transmissão de cultura.
O segundo período iniciou-se no século XV, época em que a universidade renascentista 
recebe o impacto das transformações comerciais do capitalismo e do humanismo 
literário e artístico, mas sofre também os efeitos da Reforma e da Contrarreforma.
No terceiro, a partir do século XVII, marcado por descobertas científicas em 
vários campos do saber, e do Iluminismo do XVIII, a universidade começou a 
institucionalizar a ciência, não sem resistências, numa transição para os novos 
modelos de investigação em busca do conhecimento.
Nesse cenário, o do século XVIII, a universidade caracterizada pelas repetições 
dogmáticas de cátedras não consegue mais acompanhar as novas necessidades 
culturais oriundas do rápido desenvolvimento da mentalidade individualista e da 
ciência moderna. 
Assim, no século XVIII, o movimento iluminista questiona o saber medieval. 
O caráter canônico do ensino começa a ruir diante das pressões capitalistas. 
"Com a Revolução Industrial e a consolidação do modo de produção capitalista, 
surgiram exigências de especializações e técnicas que se ajustaram à nova 
divisão social do trabalho". (WANDERLEY, 1991, p. 18).
No quarto período, no século XIX, implantou-se a universidade estatal moderna, e 
essa etapa, que se desdobra até os nossos dias, introduz uma nova relação entre 
Estado e universidade, estabelecendo suas principais variantes institucionais.
No século XIX, na França de Napoleão, a industrialização institui uma 
universidade voltada para a formação profissional, a partir da estruturação de 
escolas superiores. Nessa mesma época, a Universidade de Berlim (1810) torna-
se um centro de pesquisa e, na Irlanda, o Cardeal Newman (1851) funda uma 
universidade como lugar do ensino do saber universal. (LUCKESI et al, 1991).
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Universidade e Ciência 
Sob o influxo e a disseminação das ideias liberais, buscou-se 
a integração entre o ensino e a pesquisa [...]. Paulatinamente, 
as universidades terão que se adequar aos processos de 
desenvolvimento econômico e social segundo as características 
peculiares de cada nação. Pensadas então para formar os 
filhos da burguesia, logo, elas serão pressionadas a atender 
aos reclames de mobilidade social dos filhos da classe média. 
Pouco a pouco elas se transformaram no lugar apropriado para 
conceder a permissão para o exercício das profissões, através do 
reconhecimento dos títulos e diplomas conferidos por órgãos de 
classe e governamentais. (WANDERLEY, 1991, p. 18).
Como se observa, no decorrer da história da universidade, encontra-se o esforço 
pela transição da humanidade: da vida rural para a vida urbana, do pensamento 
dogmático para o racionalismo, do mundo eterno e espiritual para o mundo 
temporal e terreno, enfim, do medieval para o moderno. Nesse esforço, busca-
se pela livre autonomia, "[...] como condição indispensável para questionar, 
investigar, propor soluções de problemas levantados pela atividade humana". 
(LUCKESI et al, 1991, p. 33).
1.2 A universidade no Brasil
No Brasil Colônia, até a chegada da família real portuguesa, em 1808, os 
luso-brasileiros, em especial os religiosos, faziam seus estudos na Europa, 
principalmente na Universidade de Coimbra. Existiam na colônia apenas cursos 
superiores de Filosofia e Teologia, oferecidos pelos Jesuítas. 
Porém, após a implantação da Corte portuguesa em território brasileiro, cria-
se o ensino superior, para atender as necessidades militares de proteção às 
famílias portuguesas instaladas no Rio de Janeiro. A partir de então, em 1808, 
cria-se a Faculdade de Medicina da Bahia, seguida pelas Faculdades de Direito 
de São Paulo e do Recife, em 1854. Mais tarde, em 1874, no Rio de Janeiro, os 
cursos civis separam-se dos militares, formando-se a Escola Militar e a Escola 
Politécnica, e logo a seguir, em Ouro Preto, inaugura-se a Escola de Engenharia. 
Desse modo, por volta de 1900, o ensino superior brasileiro consolidava-se nos 
moldes de Escola Superior. (LUCKESI et al, 1991, p. 34).
Como se observa, no Brasil Império (1822 a 1889), a expansão do ensino superior 
continua muito lenta, por meio do surgimento de cursos isolados em várias áreas, 
já que o modelo econômico agroexportador não necessitava de profissionais com 
formação superior. (FIGUEIREDO, 2005).
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Capítulo 1 
Com a proclamação da República, em 1889, as discussões sobre a Educação, 
especificamente sobre as universidades, surgem com mais força. Em decorrência da 
industrialização e urbanização, ocorre pela primeira vez no Brasil uma ação planejada, 
visando à organização nacional da educação.
Com isso, após 1930, em plena Era Vargas, inicia-se o processo de transformação 
do ensino superior para a condição de universidade, a partir do agrupamento de 
três ou mais faculdades. Assim, neste mesmo ano, surgem as Universidades de 
Minas Gerais e de São Paulo, com a proposta de superar o simples agrupamento 
de faculdades, o que ocorre em 1934. Em seguida, em 1935, o professor Anísio 
Teixeira defende uma universidade como centro livre de discussão de ideias, isso 
é interrompido pela ditadura do Estado Novo de 1937. Apesar dessas iniciativas, 
nesse período, devido ao processo de industrialização, predomina a preocupação 
com o ensino profissionalizante.
Em geral, o populismo de Vargas somado àfederalização das faculdades 
estaduais e privadas, ocorridas no início da década de 50, torna-se responsável 
pela ampliação do ensino superior gratuito e pela criação das universidades 
federais, que hoje existem no país, inclusive no segmento militar.
Anos mais tarde, em 1962, Darcy Ribeiro, discípulo de Anísio Teixeira, em 
conjunto com outros intelectuais, funda a Universidade de Brasília, propondo o 
rompimento do modelo de universidade como mero agrupamento de escolas e 
faculdades. Porém, com o Golpe de 1964, que implantou a ditadura militar 
no Brasil, essas ideias inovadoras são derrubadas e os seus intelectuais 
(professores e cientistas) exilados do país.
Em 1968, o governo federal, para acabar com a autonomia da Universidade 
perante o Estado e manter o controle político e ideológico da educação, decreta 
a Reforma Universitária por meio da Lei n. 5540. O trinômio "racionalização, 
expansão e controle" passa a orientar a implantação de um novo modelo de 
universidade no Brasil.
A Lei 5540/1968 extingue a cátedra (especialista ou autoridade em determinado 
assunto), unifica o vestibular, passando a ser classificatório, aglutina as faculdades 
em universidade, visando a uma maior produtividade com a concentração de 
recursos, cria o sistema de créditos, permitindo a matrícula por disciplina. Além 
disso, conforme Aranha (1996, p. 214), a nomeação dos reitores e diretores de 
unidade (essa agora dividida em departamentos) dispensa a necessidade de ser do 
corpo docente da universidade, podendo ser qualquer pessoa de prestígio da vida 
pública ou empresarial. Houve também a fragmentação das Faculdades de Filosofia, 
Ciências e Letras, resultando na criação das Faculdades ou Centros de Educação.
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Universidade e Ciência 
A reforma universitária atendeu a demanda dos grupos ligados ao regime 
instalado com o Golpe de 1964, que buscava vincular mais fortemente o ensino 
superior aos mecanismos de mercado e à criação de mão de obra técnica para 
as multinacionais, no âmbito da expansão capitalista americana, assim como 
a incorporação naquelas que já estavam instaladas no país. Também houve a 
contenção de gastos governamentais, por meio da expansão das faculdades 
isoladas ou privadas, contrariando a expansão do ensino público gratuito. 
Concretiza-se, assim, o processo de privatização sem precedentes do ensino 
no país, caracterizando a educação enquanto um grande negócio, destinando 
verba pública para a iniciativa privada. Tal posicionamento tem continuidade nas 
décadas seguintes.
Em decorrência das políticas adotadas na década de 90, principalmente pelo 
Governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC), as universidades públicas sofrem 
cortes drásticos nas verbas, inclusive sem abertura de novos concursos públicos, 
ao contrário das faculdades particulares, que se multiplicam, assim como não se 
cria uma política efetiva de assistência estudantil.
Com a eleição de Lula para a presidência da República, as universidades 
federais ganham novo fôlego, concursos públicos são abertos e cria-se o Projeto 
Universidade para Todos (ProUNI), contribuindo, inclusive, para a expansão das 
universidades comunitárias. Porém, ainda são necessárias outras mudanças no 
modelo universitário, herança da reforma universitária da década de sessenta e 
do modelo sócio-político-econômico adotado pelo Brasil nas últimas décadas. 
Seção 2
Finalidades da universidade: ensino, pesquisa e 
extensão
A universidade é responsável pelo ensino, por meio do contato sistemático com 
a cultura universal. Além disso, deve ampliar e diversificar esses conhecimentos 
adquiridos, por meio da pesquisa, que produz novos saberes, vinculado ao ensino 
(e a aprendizagem), como atividade essencial para a formação acadêmica. O 
mesmo vale para a extensão ou prestação de serviços à comunidade, uma forma 
de garantir responsabilidade social à universidade e estimulá-la a aproximar-
se dos diferentes saberes, promover iniciativas comunitárias sustentáveis, 
reconhecer a diversidade cultural e aperfeiçoar o exercício das potencialidades 
humanas. Por isso, é fundamental que uma universidade seja reconhecida, 
sobretudo, como um espaço do ensino, da pesquisa e da extensão.
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Capítulo 1 
No Brasil, isso ocorreu em função da luta de entidades sindicais e científicas do campo 
da Educação, que se reuniram no Fórum da Educação na Constituinte, responsável 
pela inserção na carta constitucional de 1988 do artigo 207, o qual prescreve: "As 
universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão e 
obedecerão ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão".
Essa "autonomia" e "indissociabilidade" passaram a formar um padrão de 
qualidade em um projeto de universidade voltado para os interesses da maioria 
da população. O tripé "ensino, pesquisa e extensão" apresenta-se então como 
uma expressão de responsabilidade social. 
Há um pensamento universal de integrar ensino e pesquisa, porém, no caso 
brasileiro, a ênfase quase sempre recaiu na formação profissional, tornando a 
integração bastante complicada. Por muito tempo, a universidade foi concebida 
como lugar da busca desinteressada do saber. Isso implica dizer que suas raízes 
ramificam-se na herança cultural greco-romana e católica.
Além disso, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), n. 9394/96, em 
seu art. 45, ao estabelecer que "a educação superior será ministrada em instituições 
de ensino superior, públicas e privadas, com variados graus de abrangências ou 
especialização", abre caminho para que, pelo decreto n. 2.306/97, fosse introduzida 
uma nova tipologia das instituições de ensino superior. Nessa tipologia, os institutos 
e faculdades isolados podem prescindir da pesquisa e da extensão, valendo-se 
apenas do ensino para exercer sua função educativa. (BRASIL, 1996).
Acredita-se que essa medida foi a forma ideal encontrada pelos legisladores para 
atender aos interesses de mantenedoras do setor privado, permitindo grande 
redução nos custos dos serviços oferecidos por tais instituições, se comparados 
às universidades, que garantem as três funções, organicamente associadas, além 
de cumprir exigências, como corpo docente titulado e contratado em regime de 
dedicação exclusiva, com produção intelectual qualificada.
O cenário apresentado configurou a coexistência de dois modelos de ensino 
superior no Brasil, como argumenta Sguissardi (2004, p. 41): 
as IES neonapoleônicas, destinadas à formação técnico 
profissional dos estudantes, nas quais predominam critérios 
como não exigência de pesquisa e extensão, corpo docente 
majoritariamente sem qualificação para a produção de 
conhecimento, com dedicação exclusiva às atividades de 
ensino, alocados em unidades isoladas, entre outros. E as 
IES neohumboldtianas, voltadas à formação de profissionais 
pesquisadores, nas quais predominam critérios e indicadores 
como existência de produção científica, com programas de pós-
graduação stricto sensu consolidados, docentes em regime de 
tempo integral e qualificados para a produção científica, estrutura 
acadêmica integrada em torno de projetos, entre outros.
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Universidade e Ciência 
Para Mazzilli (2005), a consecução da associação entre ensino, pesquisa e extensão 
demanda: a existência de projetos institucionais que anunciem as diretrizes e 
os compromissos que os orientam e as ações previstas para sua realização; 
projetos coletivos de trabalho, associando ações acadêmicas e administrativas; 
práticas de avaliação institucional, abrangendo todo o trabalho realizado pela 
universidade, como instrumento de autoconhecimento institucional; modelos de 
gestão que possibilitem a participação de todos os segmentos no processo de 
decisão e de avaliação do trabalho acadêmico; corpo docente com sólida formação 
científica e pedagógica, organicamente vinculada ao projeto da universidade; e, 
principalmente, condições materiais para a realização do projeto pretendido. 
No caso da Unisul, por exemplo, a pesquisa,o ensino e a extensão são entendidos 
como atividades formativas inerentes ao ambiente acadêmico, constituindo-se em 
componentes curriculares. Nesse sentido, não se pensam estruturas específicas para 
a consolidação de cada uma dessas atividades em função de suas especificidades. 
Por isso, o tripé (pesquisa, ensino e extensão) deve estar inserido na integralização 
curricular dos itinerários formativos de cada curso desta instituição. 
Seção 3
Dilemas que desafiam a universidade no mundo 
contemporâneo 
Em nossa sociedade, o conhecimento científico ainda está profundamente ligado 
ao espaço da universidade. É imprescindível que a universidade seja um espaço 
democrático e, dessa forma, que esse conhecimento possa circular em todos os 
outros espaços, e, principalmente, trazer contribuições. 
A universidade, em seu papel social, deve voltar-se para a melhoria da qualidade de 
vida, atendendo tanto aos direitos individuais como aos da coletividade. No entanto, os 
desafios não se esgotam nessas ideias, requisitando questionamentos como: Qual o 
significado de universidade? A que e a quem ela serve? Que caminho está rumando?
Certamente, as respostas a essas perguntas são muitas e, por isso, precisamos 
refletir nessa seção sobre o papel da universidade na formação do cidadão.
Trindade (2000) ressalta que uma instituição de ensino superior não pode se 
deixar dominar pela lógica do mercado ou do poder. Essa é a questão que está 
no centro do conceito de autonomia universitária, mesmo que historicamente 
ele tenha se transformado nas diferentes etapas da evolução da sociedade em 
relação a sua forma medieval originária.
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Capítulo 1 
Como instituição que se dedica à produção e socialização de conhecimento, a 
universidade não tem como deixar de ser afetada pelo modo como as épocas 
históricas e as sociedades entendem o conhecimento. Mas essa ideia não é única 
e não resume jamais o papel da universidade.
Em sua trajetória, a universidade pode ser vista como o lugar historicamente 
propício para a criação e divulgação do saber, para o desenvolvimento da ciência, 
para a formação de profissionais de nível superior, técnicos e intelectuais que 
os sistemas necessitam, bem como ser vista como a instituição social que 
articula pesquisa, ensino e extensão, para satisfazer os requisitos estabelecidos 
pela sociedade. Todavia, dentro de certos limites, é permitida à universidade 
relativa autonomia, desde que não se contraponha aos objetivos postos pelos 
governantes e setores privados mantenedores. (WANDERLEY, 1991).
Quanto às concepções de universidade, há aqueles que a veem como um 
dos aparelhos ideológicos privilegiados da formação social capitalista, tanto 
na reprodução das condições materiais e da divisão social do trabalho em 
intelectual e manual, quanto para garantir as funções de inculcação política e 
ideológica dos grupos e classes dominantes. Outros procuram colocá-la dentro 
do contexto contraditório do capitalismo, analisando seus limites e possibilidades, 
inserindo-a no conjunto das lutas sociais. Existem também os que defendem o 
"otimismo pedagógico", acreditando em uma educação como mola propulsora da 
mudança social e do desenvolvimento. Por fim, há outro grupo que considera a 
universidade como ultrapassada, obsoleta, com a necessidade de ser totalmente 
reformulada ou acabada. (WANDERLEY, 1991).
Sendo assim, entendemos que a universidade se torna um lugar específico 
para o conhecimento da cultura universal e das várias ciências, onde se cria e 
divulga o saber, desde que se desenvolva conjuntamente o ensino, a pesquisa e 
a extensão. Cumpre à universidade gerar pensamento crítico, organizar e articular 
os saberes, formar cidadãos, profissionais e lideranças pensantes. 
Porém, há questionamentos mais radicais que, em pleno ritmo de globalização 
capitalista e informacionalização, alertam para o fato do conhecimento ter se 
tornado um bem de mercado, como forma dos seus “consumidores” galgarem 
uma melhor adaptação ao mundo do trabalho extremamente competitivo. 
Por isso, faz-se necessário que a universidade enfrente seriamente o desafio 
de rever constantemente seus fundamentos propriamente acadêmicos, 
científicos e filosóficos. Mas isso não se resolve em um plano abstrato, além de 
que a universidade está sempre determinada pelo movimento histórico a que 
pertence. Ela não é perfeita nem inquestionável e não está acima da sociedade 
nem desvinculada dela. Seu corpo docente, sua estrutura administrativa, seus 
dirigentes, estatutos e tradições e seus estudantes incidem sobre sua imagem e 
seu desempenho.
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Universidade e Ciência 
A universidade brasileira tem se debatido intensamente numa crise que não 
parece ter fim, uma vez que tumultua e desorganiza sua estrutura, mas que 
também se abre para novos horizontes e possibilidades, na medida em que se 
mostra essencialmente como desafio e derruba hábitos e procedimentos pouco 
funcionais ou referidos rigidamente a padrões anteriores de vida intelectual, 
educação e gestão. 
Como afirma Lukesi (1991, p. 41), “uma universidade que se propõe a ser crítica 
e aberta não tem o direito de estratificar, absolutizar qualquer conhecimento como 
um valor em si; ao contrário, reconhece que toda conquista do pensamento do 
homem passa a ser relativa, na medida em que se espacio-temporaliza. Há sempre a 
necessidade de um entendimento novo”.
Sustentabilidade, crise econômica mundial, mudanças climáticas, escassez 
da mão de obra, inovação. Essas são as palavras-chaves que compõem o 
vocabulário das mudanças pelas quais passa o mundo e que, inevitavelmente, 
impõem a cada um de nós a busca por um novo modelo de vida no planeta. Nesse 
cenário, a educação tem peso de ouro e as universidades passam a assumir um 
papel fundamental no processo reflexivo da sociedade. (COELHO, 2009).
Não há dúvidas de que o caminho do crescimento passa pela promoção do 
desenvolvimento profissional, pela sustentabilidade e pela inovação. A universidade 
precisa se voltar para a construção de um modelo social e ambiental mais justo. E 
como se inserem esses dilemas no espaço universitário? Será que a universidade 
continua sendo capaz de desempenhar suas históricas atribuições? Que 
conhecimento ela está gerando hoje? Como as posições geradas em seu interior 
entram em circulação, que função cumpre? Qual sua efetiva contribuição para o 
país? São muitas as interrogações que precisam urgentemente ser discutidas e nada 
melhor do que o espaço da própria universidade para instigar tais preocupações. 
Seção 4
Universidade: espaço de formação do cidadão 
A globalização é um fenômeno econômico, resultante do próprio sistema 
capitalista, na ânsia de conquistas por novos mercados, em decorrência da 
saturação de setores da economia, em alguns locais. Isso tem provocado 
transformações profundas em nossa sociedade, que precisam ser tratadas em 
suas relações, sem isolá-las. É nesse contexto que se insere a universidade, ou 
seja, um ambiente dinâmico com diversos conhecimentos. 
18
Capítulo 1 
A universidade deve ser o lugar da reflexão, das formulações das perguntas e 
das proposições de soluções, ponto de encontro de pessoas com objetivos em 
comum. É espaço em que se desenvolve o olhar crítico, sobretudo, um olhar 
capaz de considerar o currículo sob a perspectiva da sociedade em que estamos 
inseridos, a comunidade que nos circunda, buscando soluções para a efetividade 
de uma lugar mais humano e mais sustentável para se viver.
É exatamente nessa perspectiva que temas atuais, os quais demandam reflexões 
e soluções da sociedade para a própria sociedade, emerjam na constituição do 
contexto universitário, principalmente no que diz respeito às questões étnico-
raciais, às políticas de desenvolvimento sustentável e aos direitos humanos.
Essas questões implicam não só reflexões, como também ações por parte de todos nós. 
É necessária a adoção de atitudes coerentes com uma educação centrada no exercício da 
cidadania. Nesse sentido, é possívelacreditar que temas recorrentes e fundamentais como 
os que são tratados nesta seção ampliem os horizontes das áreas de conhecimento, para 
além dos seus domínios específicos, para a formação integral do ser humano.
Assim, a universidade se move no sentido de transformar a sociedade, não só por 
questões que discutem e permeiam as formações específicas dos seus cursos, mas, 
de maneira muito significativa, por aquelas que perpassam a formação de cidadãos 
críticos, investigativos e partícipes de uma sociedade justa e igualitária. 
Como você, estudante, durante a trajetória universitária se comportará em 
relação a esses temas? Como profissional, como se comportará em relação a 
esses temas? Como vai promover os direitos humanos em sua trajetória? E o 
desenvolvimento sustentável, o que é? Trata-se de um modismo, não se aplicará 
ao que você pretende para sua trajetória profissional?
Para responder a todas essas perguntas é preciso conhecer os pressupostos 
básicos sobre esses temas. Para isso, disponibilizamos materiais na Midiateca do 
nosso Espaço Virtual de Aprendizagem (EVA). Esses materiais são os seguintes:
1. Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico-
Raciais, publicado pelo MEC.
2. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das 
Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura 
Afro-Brasileira e Africana, publicado pelo MEC. 
3. A ecologia política e as relações e os conflitos socioambientais, 
autora Denize Demarche Minatti Ferreira.
4. O desenvolvimento sustentável: perspectiva histórica, autora 
Denize Demarche Minatti Ferreira.
5. Dimensões e impacto do desenvolvimento sustentável, autora 
Denize Demarche Minatti Ferreira.

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