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3ª edição Genética Humana Maria Regina Borges-Osório Wanyce Miriam Robinson Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052 B732g Borges-Osório, Maria Regina. Genética humana [recurso eletrônico] / Maria Regina Borges-Osório, Wanyce Miriam Robinson. – 3. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2013. Editado também como livro impresso em 2013. ISBN 978-85-65852-90-6 1. Genética humana. I. Robinson, Wanyce Miriam. II. Tí- tulo. CDU 608.1:575:612.6.05 G e n é ti ca H u m a n a 5 0 8 16.3 Características comportamentais normais 16.3.1 Inteligência Essa característica é conceituada em geral como a capa- cidade de entender, recuperar, mobilizar e integrar, de modo construtivo, os aprendizados anteriores ao depa- rar-se com situações novas. Também é concebida como um conjunto de habilidades intelectuais medidas por tes- tes, que geralmente avaliam as áreas verbal e de desem- penho. Na primeira, são avaliadas funções como fluência verbal, vocabulário, raciocínio verbal, habilidade numéri- ca e compreensão; na outra, percepção espacial, rapidez e exatidão, atenção, entre outras. Em geral, os testes são influenciados por vários fato- res, sobretudo a escolarização. O QI (quociente de inteli- gência) é expresso em termos de percentis, sendo esta a sua classificação: abaixo de 70 � deficiente mental; 70-79 � QI limítrofe; 80-89 � médio inferior; 90-109 � médio; 110-119 � médio superior; 120-129 � superior; e acima de 130 � muito superior. A inteligência talvez seja a característica mais estu- dada do comportamento, porém, até o momento, o que se pode afirmar quanto à sua determinação genética é que devem existir muitos genes condicionando-a, mostrando herança multifatorial. Algumas habilidades específicas pa- recem ser mais influenciadas geneticamente do que outras. Em ordem decrescente: relações espaciais (para a qual pa- rece haver um gene principal localizado no cromossomo X, sem exclusão de outros autossômicos), vocabulário, fluên- cia verbal, habilidade numérica e raciocínio verbal. 16.3.1.1 Fatores ambientais que podem influir na inteligência Nutrição – É um dos fatores que mais influem no desen- volvimento neurológico, desde a concepção até, aproxi- madamente, 7 anos, motivo pelo qual se deve dar a devida importância para a nutrição na gestação. Alguns traba- lhos mostram, por exemplo, que gêmeos com baixo peso ao nascer apresentam QI mais baixo. Estimulação precoce, o meio cultural e os mo- tivos sociais – São adquiridos durante a fase de socia- lização (dos 3 aos 6 anos) podem favorecer ou acentuar as diferenças frequentemente vistas nas características comportamentais, entre elas a inteligência. Ordem de nascimento e tamanho da família – As pesquisas indicam que os primogênitos costumam ter QI mais alto. Famílias com dois ou três filhos oferecem maiores possibilidades para o desenvolvimento cognitivo da prole do que famílias com um único filho ou mais de três filhos. O nível de inteligência dos irmãos mais velhos influi também no desempenho dos mais jovens. Atitudes dos genitores – Observou-se que genito- res de baixo nível socioeconômico têm atitudes diferentes quanto à educação dos seus filhos (menores aspirações ocupacionais e intelectuais). Outros trabalhos mostram ainda que a hostilidade materna influi no QI dos meni- nos, diminuindo-o, mas não sobre o QI das meninas, que são mais influenciadas pelo QI do lado paterno. Relações interpessoais – Há indicações de que crianças com QI mais alto são mais competitivas, inde- pendentes, com autoiniciativa e maior necessidade de realização. Além disso, crianças com aptidão verbal de- senvolvida apresentam maior dependência dos adultos e menor interação social com seus contemporâneos. Por outro lado, crianças com grande aptidão numérica têm menor dependência dos adultos, alta interação interpes- soal e autoafirmação. 16.3.2 Memória A memória pode ser conceituada simplesmente como a retenção da informação aprendida,2 ou, de um modo mais abrangente, como aquisição, armazenamento e 5 0 9 G e n é tica d o C o m p o rta m e n to evocação de informações.3 Segundo esse último autor, a memória abrange desde os mecanismos que operam um computador, até a história de cada cidade, país, povo ou civilização, e as memórias individuais dos animais e das pessoas, mas em cada caso a memória é única, porque os mecanismos de sua aquisição ou aprendizagem, armaze- namento e evocação são diferentes. Outros autores, como Gazzaniga e colaboradores,4 subdividem hipoteticamente a aprendizagem e a memó- ria em codificação, armazenamento e evocação. A codifi- cação refere-se ao processamento da nova informação a ser armazenada e envolve duas fases: a aquisição e a con- solidação. A aquisição registra as informações em arqui- vos sensoriais e estágios de análise sensorial, enquanto a consolidação cria uma forte representação da informação ao longo do tempo. O armazenamento cria e mantém um registro permanente, e a evocação utiliza a informação armazenada para criar uma representação consciente ou para executar um comportamento aprendido como um ato motor. A memória humana assemelha-se à dos demais ma- míferos no que se refere aos seus mecanismos essenciais e às áreas neurológicas e mecanismos moleculares envol- vidos, apesar de diferirem quanto ao seu conteúdo. Além disso, estudos em aves, répteis e invertebrados, como o molusco Aplysia californica (lesma-do-mar), indicam que os mecanismos essenciais da formação de memória são semelhantes aos dos mamíferos, podendo ser consi- derados propriedades básicas dos sistemas nervosos em geral, seja qual for o organismo. Alguns autores sugerem o uso do termo memória (no singular) para designar a capacidade de adquirir, armaze- nar e evocar informações, e o uso desse termo no plural, memórias, para designar os diferentes tipos ou formas de memória. As memórias são formadas nos neurônios e armaze- nadas em redes neuronais, sendo evocadas por essas re- des ou por outras. São moduladas pelas emoções, nível de consciência e estado de ânimo. A Figura 16.1 mostra um esquema da formação de uma memória, salientando o papel dos genes e das proteínas nessa formação. 16.3.2.1 Tipos As memórias podem ser classificadas em diferentes ti- pos, segundo seu conteúdo e tempo de duração. Além desses critérios, costuma-se incluir um terceiro critério – o funcional, estabelecendo o que se denomina memó- ria de trabalho, um tipo de memória muito breve, tam- bém chamada memória operacional ou imediata, que serve para gerenciar a realidade e determinar o contexto em que os diversos tipos de informação ocorrem, veri- ficando, em alguns minutos, se esse tipo de informação já existe nos arquivos ou se deve ser criada uma nova memória para ele. Essa memória não produz arquivos, ao contrário de todos os demais tipos. Ela mantém a in- formação presente durante tempo suficiente para poder ingressar ou não na memória propriamente dita. Esse tipo de memória é perturbado por um estado de ânimo negativo, causado, por exemplo, por falta de sono, de- pressão ou tristeza. Sinal desencadeador Corpo celular Prolongamento axonal Criação de novas sinapses Neurônio pós-sinápticoAtivação de genes Síntese de novas proteínasTálamo DNA Nuclear Dendrito Hipocampo Córtex S in ap se Figura 16.1 Esquema da formação de uma memória. G e n é ti ca H u m a n a 5 10 Tipos de memórias segundo o conteúdo – As me- mórias declarativas são as que registram fatos, eventos ou conhecimentos, reunindo tudo que foi aprendido e pode ser expresso verbalmente. Esse tipo abrange a me- mória episódica e a memória semântica. A primeira inclui os fatos ocorridos ao longo da vida, sendo, por isso, con- siderada autobiográfica; a segunda inclui fatos, números, significados, abrigando conhecimentos gerais. As memórias procedurais são também conhecidas como memórias não declarativas ou de procedimentos, e correspondema comportamentos, capacidades ou ha- bilidades motoras ou sensoriais que se tornam automati- zadas, como amarrar o cordão dos tênis, saltar e realizar tarefas domésticas comuns. Nesses casos, há dificuldade em se descrever com exatidão o que é feito, pois os res- pectivos programas motores foram armazenados implici- tamente pelo encéfalo. A propósito, as memórias declarativas e procedurais também são classificadas em explícitas e implícitas. As memórias explícitas são adquiridas conscientemente, en- quanto as implícitas são adquiridas de maneira automá- tica, sem percepção clara de que estão sendo aprendidas. Em geral, as memórias declarativas são explícitas e as procedurais, implícitas. No entanto, muitas memórias se- mânticas também são adquiridas implicitamente, como o aprendizado da língua materna. As memórias episódicas podem declinar com a idade, mas as semânticas e implí- citas geralmente não sofrem esse declínio, e as pessoas continuam a acumular informações ao longo da vida. Tipos de memórias segundo o tempo de duração – A memória de curta duração é a que dura de segundos a algumas horas, geralmente o tempo necessário para a consolidação das memórias de longa duração. Entende- -se por consolidação o processo que conduz à fixação definitiva de uma memória no modo em que poderá ser evocada posteriormente. A memória de curta duração ne- cessita das mesmas estruturas nervosas da memória de longa duração, mas envolve mecanismos próprios e di- ferentes. Além disso, é muito resistente a alguns agentes que afetam os mecanismos de consolidação da memória de longa duração. Algumas memórias explícitas podem ser de curta duração, como manter um diálogo, escutar música ou ler. A memória de longa duração é a que dura de dias (memória recente) a décadas ou por toda vida (memória remota). Algumas memórias explícitas podem durar me- ses ou anos, enquanto as implícitas em geral duram toda vida. As memórias declarativas de longa duração neces- sitam de tempo para serem consolidadas. Nas primeiras horas após sua aquisição, essas memórias são instáveis e suscetíveis à interferência de numerosos fatores, como a ocorrência de outras memórias, liberação excessiva de hormônios do estresse (adrenalina e glicocorticoides) ou traumatismos cranianos. A bibliografia consultada sobre memória é unânime ao mencionar que as classificações das memórias, embo- ra valiosas didaticamente, não devem ser consideradas de modo rigoroso, pois em sua maioria constituem misturas de memórias de vários tipos e/ou de memórias antigas com memórias recém-adquiridas. Enquanto determina- do conhecimento ou procedimento é evocado, a memória de trabalho é acionada para se verificar se essa memória consta ou não nos “arquivos” individuais, e as memórias de conteúdo semelhante ou não também são evocadas, formando-se, naquele momento, uma nova memória. 16.3.2.2 Bases anatômicas e moleculares A Figura 16.2 ilustra os diferentes tipos de memórias, relacionando-as com algumas zonas encefálicas que in- tervêm em sua formação e em seu armazenamento. A representação física ou a localização de uma memória é denominada engrama ou traço de memória. Os sistemas biológicos da memória incluem o lobo temporal medial, principalmente a região CA1 do hipocampo, que é a prin- cipal responsável pelos aspectos espaciais e contextuais na formação de memórias declarativas em mamíferos, a região CA3 do hipocampo, o giro denteado e o córtex entorrinal; o córtex pré-frontal e a área lateral intrapa- rietal do neocórtex, que estão envolvidos na memória de trabalho, na consolidação e na evocação da informação; o córtex temporal, que armazena o conhecimento episódico e semântico; o estriado, que se relaciona com a memória procedural; os núcleos da amígdala, que contribuem para a formação de memórias de natureza vigilante ou aver- siva e dão um colorido emocional aos acontecimentos; e o córtex sensório-associativo, envolvido no efeito de in- dícios ou dicas (priming) para as memórias declarativa e procedural. O priming é uma forma de memória em que, para sua evocação, o indivíduo precisa ser exposto a alguns de seus aspectos. Por exemplo, a lembrança de uma letra de música pode requerer que alguém diga seu primeiro verso. Não existe, portanto, um núcleo com pequeno nú- mero de “células de memória” que armazenem nossas experiências de vida e comportamentos aprendidos de forma independente das demais funções cerebrais, nem todas as áreas corticais contribuem igualmente para essa capacidade, como já foi pensado antigamente. Muitos trabalhos indicam que a representação de percepções e memórias demanda a atividade coordenada de grandes populações de neurônios de diferentes áreas encefálicas, que são interconectadas, com um sistema de memória distribuída, em que muitos milhões a bilhões de sinap- ses podem estar envolvidos. Quanto mais neurônios e sinapses estiverem envolvidos na memória distribuída, menores as consequências de se perder qualquer célula isoladamente, o que é uma grande vantagem. No encéfa- lo humano, morrem neurônios todos os dias, e, provavel- mente, é devido à natureza distribuída da memória que não perdemos de súbito a memória para determinadas pessoas ou eventos. A aquisição de informações e a formação de me- mórias podem ocorrer nas sinapses (regiões de contato 5 11 G e n é tica d o C o m p o rta m e n to em que um neurônio transmite informação para outro neurônio). Independentemente da espécie, da localiza- ção no encéfalo e do tipo de memória, muitos mecanis- mos responsáveis pelos eventos relacionados com essa característica parecem ser universais. Esses eventos são representados, primeiramente, como mudanças na ati- vidade elétrica do encéfalo, depois como moléculas quí- micas de curta duração (denominadas segundos mensa- geiros e formadas no citosol), que podem desencadear respostas bioquímicas, e a seguir como modificações em proteínas sinápticas preexistentes. Essas alterações temporárias são convertidas em modificações perma- nentes – a memória de longa duração – por alterações na estrutura das sinapses. Em muitos tipos de memórias, isso requer a síntese de novas proteínas e o estabelecimento de novos micro- circuitos. Em outras formas de memórias, os circuitos existentes podem ser rearranjados. Uma característica universal é o envolvimento dos íons Ca2+ não só na secre- ção de neurotransmissores e na contração muscular, mas em qualquer forma de plasticidade sináptica. Denomina- -se plasticidade o conjunto de processos fisiológicos, nos níveis celular e molecular, que explicam a capacidade das células nervosas para mudar suas respostas a determina- dos estímulos como função da experiência. Como um íon carregado e um potente segundo mensageiro, o Ca2+ tem a habilidade única de acoplar a atividade elétrica direta- mente a alterações de longa duração no encéfalo. Esses conhecimentos comprovam que o encéfalo humano, até certo grau, é constantemente submetido à reformulação de seus circuitos, para que possa se adaptar às experiên- cias da vida. A formação de uma determinada memória pode saturar os sistemas metabólicos das células envolvidas nesse processo e impedir a formação consecutiva de ou- tra memória. É real a sensação quase física que alguém experimenta e refere como “não caber mais nada em sua cabeça”, ao término de uma atividade intelectual (como uma aula), pois a cada construção de memória é utiliza- da uma grande porcentagem da capacidade bioquímica do hipocampo, comprometendo o aprendizado de outra tarefa similar ou diferente durante vários minutos ou ho- MEMÓRIA DE LONGA DURAÇÃO de alguns minutos a vários anos MEMÓRIA DECLARATIVA (explica) “saber que” PROCEDURAL andar de bicicleta FATOS passar em um exame EVENTOS eclipse do Sol em 11 de agosto de 1999 RESPOSTA EMOCIONAL medo de cobra RESPOSTA MUSCULAR piscar os olhos VIAS REFLEXAS LOBO TEMPORAL CORPO ESTRIADO CÓRTEX E NEOCÓRTEX AMÍGDALA CEREBELO INÍCIOinfluência da apresentação inconsciente de elementos CONDICIONAMENTO CLÁSSICO pavioviano APRENDIZADO NÃO ASSOCIATIVO hábito e sensibilização MEMÓRIA NÃO DECLARATIVA (implícita) “saber como” Figura 16.2 Tipos de memórias e zonas encefálicas que intervêm em sua formação e em seu armazenamento. G e n é ti ca H u m a n a 5 12 ras. Por isso, é um fenômeno real a necessidade de um intervalo, após duas ou três aulas consecutivas. As memórias são armazenadas mediante modifica- ções permanentes ou duradouras da forma e da função das sinapses das redes neurais de cada memória, modi- ficações essas que resultam do processo de consolidação da memória de longa duração, anteriormente resumido. No momento da evocação, o encéfalo deve recriar, em instantes, memórias que levaram anos para ser for- madas. Essa evocação será melhor quanto mais compo- nentes dos estímulos condicionados forem apresentados nesse momento. A evocação não é uma simples repetição da consolidação, sendo um processo molecular complexo, que ocorre simultaneamente em várias áreas encefálicas, obedecendo a mecanismos bioquímicos próprios. 16.3.2.3 Transtornos da memória De acordo com o DSM-IV-TR,5 os transtornos da memó- ria dividem-se em: 1. Amnésia – incapacidade parcial ou total de recordar experiências passadas, podendo ter origem orgânica ou emocional. a. Anterógrada: amnésia para eventos que ocorrem após determinado momento. b. Retrógrada: amnésia para eventos que ocorrem antes de determinado momento. 2. Paramnésia – falsificação da memória por distorção da recordação. a. Fausse reconnaissance: falso reconhecimento. b. Falsificação retrospectiva: a memória é distor- cida involuntariamente (inconscientemente), sendo filtrada pelo estado emocional, cognitivo e experimental atual do indivíduo. c. Confabulação: preenchimento inconsciente de lacunas na memória, por experiências imagina- das ou falsas em que a pessoa acredita, mas não se baseiam em fatos; frequentemente associada a patologias orgânicas. d. Déjà vu: ilusão de reconhecimento visual em que uma nova situação é considerada incorretamen- te como repetição de uma memória anterior. e. Déjà entendu: ilusão de reconhecimento auditivo. f. Déjà pensé: ilusão de que um novo pensamento é reconhecido como algo que já foi sentido ou ex- pressado. g. Jamais vu: falsa sensação de desconhecimento de uma situação real que a pessoa experimentou. h. Falsa memória: recordação e crença em um evento que não aconteceu de fato. 3. Hipermnésia – grau exagerado de conservação e evo- cação de memórias. 4. Imagem eidética – memória visual de nitidez quase alucinatória. 5. Memória seletiva – memória conscientemente tole- rável que encobre uma memória dolorosa. 6. Repressão – mecanismo de defesa caracterizado por esquecimento inconsciente de ideias ou impulsos inaceitáveis. 7. Letológica – incapacidade temporária de lembrar pa- lavras ou nomes. 8. Apagamento – amnésia experimentada por alcoolis- tas quanto ao comportamento durante embriaguez; normalmente indica lesão cerebral reversível. 16.3.3 Personalidade A personalidade é mais complexa do que a inteligência, sendo muito mais difícil de ser estudada geneticamente. Supõe-se que seu modo de herança seja multifatorial. Os testes utilizados para sua avaliação são bastante influen- ciados pela cultura, polarizando-se na neurotização (in- troversão) ou na extroversão. Em um desses testes (Es- cala I-E), há uma medida contínua da atitude com que os indivíduos relacionam seu comportamento, consideran- do-o governado por fatores internos (os acontecimentos dependem do próprio comportamento) ou externos (os acontecimentos dependem de sorte, acaso e destino). Em Porto Alegre/RS, Telles da Silva e colaboradores6 estudaram 45 pares de gêmeos monozigóticos e 46 pa- res de dizigóticos, quanto a inteligência, personalidade e aproveitamento escolar. Calcularam uma herdabilidade de 46% para o QI, sendo que as habilidades específicas que apresentaram mais alta herdabilidade foram o racio- cínio verbal, o raciocínio abstrato e as relações espaciais. Na personalidade, avaliada quanto a atividade, emotivi- dade e repercussão das impressões (repercussão momen- tânea ou experiência passada), verificaram que as duas últimas possuíam as mais altas herdabilidades: 48 e 47%, respectivamente, enquanto a atividade apresentava ape- nas 34%. No aproveitamento escolar, houve maior her- dabilidade para língua estrangeira (58%), estudos sociais (60%) e aproveitamento global (46%). Estudos mais recentes concentraram-se em um mo- delo de personalidade que abrange cinco fatores: extrover- são ou capacidade de exteriorizar sentimentos, aderência ou capacidade de concordar, diligência ou ter o desejo de realizar, neurotização ou negatividade e inteligência. Esse último fator pode ser considerado separadamente da per- sonalidade, mas é um traço que a influencia. Atualmente, considera-se que a personalidade global, baseada nesses cinco fatores, apresenta uma hereditariedade de cerca de 50%, cifra não muito diferente das apresentadas antes. Outros estudos, baseados em lócus de traços quantitati- vos, sugerem que os fatores genéticos contribuem com 40 e até 60% da variância dos traços de personalidade. Atualmente, pensa-se que os polimorfismos genéti- cos possam explicar a hereditariedade de certas caracte- 5 13 G e n é tica d o C o m p o rta m e n to rísticas de personalidade. O primeiro polimorfismo gené- tico relacionado a um traço comportamental específico foi o do transportador do neurotransmissor serotonina, conhecido como 5-HTT (OMIM 182138), bombeando o excedente desse neurotransmissor das sinapses, de modo a reduzir a estimulação neuronal. Quando esse transpor- tador falha, o excesso de excitação elétrica nos neurônios serotonérgicos pode levá-los ao colapso. O polimorfismo no gene da proteína 5-HTT tem efeito sobre o modo como as pessoas lidam com situações estressantes. Existem pelo menos duas variantes: uma longa, devida ao alelo L, que resulta na maior expressão da proteína 5-HTT na membrana dos neurônios, e uma variante curta, devida ao alelo S, em que essa molécula aparece em menor quan- tidade no encéfalo. Em um estudo que envolveu mais de 500 indivíduos, submetidos a questionários de persona- lidade e análise genética quanto ao gene 5-HTT, os resul- tados mostraram que os indivíduos que apresentavam pelo menos um alelo S (variante curta) eram visivelmente mais ansiosos do que os que receberam dois alelos L para a variante longa desse gene. Outro estudo, usando neu- roimageamento por ressonância magnética da amígdala e testes de visualização de faces com expressões de emo- ções variáveis, mostrou que as pessoas com uma ou duas cópias da variante curta de 5-HTT reagiam com mais intensidade a expressões de fúria e ansiedade. Posterior- mente, foi verificado que o gene 5-HTT influencia cons- tantemente a atividade da amígdala, cuja hiperativação crônica parece estar relacionada à tendência à ansiedade ou a distúrbios psíquicos que são fatores de risco para a depressão. Os indivíduos com genótipo LL reagem com menos intensidade às possíveis fontes de estresse da vida (p. ex., doenças graves, sofrimento afetivo, desemprego e problemas financeiros). Mesmo com mais de quatro eventos gravemente estressantes, somente 17% desenvol- vem sintomas de depressão. Entre os heterozigotos LS, essa porcentagem aumenta para 34%, e nos homozigotos SS, esse valor percentual chega a 43%. Em 2006, Canli e colaboradores7 demonstraram que a atividade de diferentes regiões encefálicas, após expe- riências estressantes, depende realmente do genótipo, afetando não apenas a amígdala, mas também o hipo- campo, área fundamental para a formação da memória (ver seção 16.3.2). Cada tipo da proteína transportadora 5-HTT está relacionado a uma forma diferente de reação ao estresse. Os autores mencionados também percebe- ram que as pessoas com genótipos SL ou SStendem a ser mais introspectivas, o que é considerado um fator de risco para a depressão, enquanto nos indivíduos homozigotos LL acontece o contrário: eles são mais calmos e passam menos tempo ruminando seus pensamentos. Essas dife- renças genéticas podem explicar, de certa forma, por que algumas pessoas mostram reações exacerbadas e acabam se desesperando, até mesmo por motivos insignificantes. Outro polimorfismo genético que influi na persona- lidade é o do gene que codifica o receptor DRD4 do neu- rotransmissor dopamina (DRD4; OMIM 126452), cujas variantes podem estimular o interesse das pessoas por novidades e desafios. Esse “gene da curiosidade” também está presente em outros organismos, como os chapins ou canários-da-terra. Em humanos, já foram detectadas três variantes do receptor DRD4: uma longa e duas mais cur- tas, na sequência de 48 pb na terceira alça citoplasmática dessa proteína, podendo ser subjacentes a diferenças in- dividuais na suscetibilidade a transtornos neuropsiquiá- tricos e na responsividade à medicação antipsicótica. A enzima monoaminoxidase A (codificada pelo gene MAOA, localizado no cromossomo Xp11.23; OMIM 309850) oxida as aminas dos neurotransmissores (prin- cipalmente serotonina, norepinefrina e dopamina) e da dieta, cuja regulação é importante para a manutenção do estado mental normal. Mutações no gene MAOA, acar- retando baixos níveis dessa enzima, estão associadas a comportamento impulsivo, violento ou criminoso. Des- cobriu-se também que a maioria dos indivíduos com esse tipo de comportamento, em geral, sofreu maus-tratos na infância, reforçando a ideia de que a violência resulta da combinação da experiência pessoal com a predisposição genética. No entanto, crianças maltratadas que têm ge- nótipo com uma variante polimórfica no promotor des- se gene, produzindo altos níveis de MAO-A, são menos suscetíveis a desenvolver problemas antissociais, o que explica, parcialmente, como os polimorfismos genéticos podem moderar a sensibilidade infantil aos danos am- bientais e por que nem todas as vítimas de maus-tratos tendem a vitimar os outros. 16.3.4 Homossexualidade Define-se homossexualidade como o padrão sexual de atração erótica ou atividade sexual preferencial ou exclu- siva entre pessoas do mesmo sexo, independentemente da disponibilidade de parceiros heterossexuais. Essa ca- racterística teve sua categoria diagnóstica marcantemen- te alterada na segunda metade do século XX: no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, DSM- -I8 constava como “desvio sexual envolvendo comporta- mento patológico”, incluído nos distúrbios sociopáticos da personalidade, enquanto no Manual Diagnóstico e Es- tatístico de Transtornos Mentais, DSM-IV9 foi excluído de qualquer categoria diagnóstica específica. Assim, a homossexualidade é considerada uma variante de fre- quência regular da sexualidade humana, e não mais um transtorno patológico. Ninguém realmente sabe a razão pela qual as pessoas têm sentimentos de pertencer a um gênero ou ao outro, ou por que são heterossexuais, bissexuais ou homos- sexuais. Os pesquisadores acreditam que a homossexuali- dade seja controlada em partes iguais pelos genes e pelos fatores ambientais. Ela é mais comum do que se pensa, está presente em todas as culturas e vem ocorrendo há milhares de anos. As atitudes em relação à homossexualidade variam muito entre as culturas. Por exemplo, nas Filipinas, é considerada uma variante natural da sexualidade. Nos Estados Unidos, alguns estados ainda possuem leis pu- nidoras das práticas homossexuais. Por outro lado, o Có- G e n é ti ca H u m a n a 5 14 digo Napoleônico Francês, escrito em 1810 e seguido por muitas nações até hoje, estabelece que as relações homos- sexuais voluntárias entre adultos não constituem um ato criminoso. Geneticamente, a homossexualidade (OMIM 306995) pode ser considerada uma variante de um com- portamento mais comum – assim como os olhos verdes são uma variante dos olhos azuis ou castanhos, mais co- muns. A partir de uma compilação de muitos estudos, concluiu-se que 2% dos homens têm sentimentos ou atitudes homossexuais e 3% são bissexuais, sendo muito escassos os dados quanto às mulheres, segundo os quais a frequência de homossexualidade aproxima-se de 3%. De acordo com alguns autores, a frequência de homos- sexualidade para ambos os sexos é de 6% ou um valor entre 1 e 10%. Uma explicação para essa variante é a presença ou ausência de hormônios androgênicos durante o período crítico de diferenciação do cérebro para características masculinas ou femininas. A presença de androgênios or- ganiza o sistema nervoso central para a mediação de com- portamentos sexuais e sociais típicos do sexo masculino; a ausência de androgenização resulta em uma organiza- ção diferente do sistema nervoso central, para mediar os comportamentos sexuais femininos. Na desandrogeniza- ção experimental de fetos masculinos e androgenização de fetos femininos de roedores, durante seus períodos críticos, ocorre uma organização sexual neurológica in- vertida: as fêmeas assim tratadas exibem comportamen- tos sexuais e sociais masculinos e preferem fêmeas como parceiras; os machos desandrogenizados apresentam os padrões femininos correspondentes. Esses dados suge- rem que o meio hormonal precoce desempenha um papel variável no desenvolvimento da orientação heterossexual ou homossexual, pelo menos em algumas pessoas. Em geral, os homens homossexuais mostram níveis mais bai- xos de androgênios do que os heterossexuais; as mulhe- res com hiperadrenocorticalismo apresentam homosse- xualidade ou bissexualidade com mais frequência do que as mulheres heterossexuais. Segundo alguns estudos familiares, homens homos- sexuais têm mais irmãos com essa orientação sexual do que os homens heterossexuais, mostrando uma distri- buição familiar dessa característica. Além disso, paren- tes femininos pelo lado materno de homossexuais têm maior fecundidade do que parentes femininos maternos de heterossexuais, diferença que não é encontrada entre os parentes femininos pelo lado paterno. Outro resultado das pesquisas com famílias é o efeito da ordem de nasci- mento: frequentemente os homossexuais masculinos são os irmãos mais novos, não os primogênitos, que em geral também são do sexo masculino, não do feminino. Os estudos gemelares também fornecem evidên- cias de uma influência genética na homossexualidade. É mais provável que os gêmeos monozigóticos ou idênticos sejam ambos homossexuais do que os gêmeos dizigóti- cos ou fraternos de mesmo sexo, o que aponta para um componente genético. Foi analisada a orientação sexual de mais de uma centena de pares gemelares ou adotivos do sexo masculino, nos quais pelo menos um deles era homossexual, encontrando uma taxa de 50% para ho- mossexualidade entre os monozigóticos, praticamente o dobro da calculada para os gêmeos dizigóticos (24%) e quase o triplo da verificada entre os irmãos adotivos (19%). Dois anos mais tarde, um estudo semelhante fei- to pelos mesmos autores, envolvendo pares de gêmeas e irmãs adotivas, mostrou taxas de concordância de 48% (gêmeas monozigóticas), 16% (gêmeas dizigóticas) e 6% (irmãs adotivas). Esses resultados seguem o padrão es- perado para uma característica genética: os gêmeos que são mais semelhantes geneticamente (os pares monozi- góticos) apresentam uma taxa de concordância mais alta do que os gêmeos que não são tão similares (os pares dizigóticos) e as irmandades adotivas. Por outro lado, é intrigante verificar-se que os adotivos, que não são ge- neticamente relacionados, mostram uma taxa de con- cordância quase tão alta quanto os gêmeos dizigóticos, que apresentam forte relação genética. Esse resultado foi atribuído a uma diferença na disposição dos diferentes grupos voluntários de homossexuais para permitirem o contato com seus irmãos adotivos. Os gêmeos homos- sexuais permitiam que seus cogêmeos fossem testados, independentemente de estesserem homossexuais ou heterossexuais, enquanto os homens homossexuais do outro grupo de estudo relutavam em permitir o contato com seus irmãos adotivos, quando estes não eram ho- mossexuais. Isso certamente ocasionou a tendência para uma concordância mais elevada de homossexualidade entre pares de irmãos adotivos. Além disso, existe a hipótese de que pelo menos al- guns indivíduos apresentam diferenças neuroanatômi- cas e neurofisiológicas que poderiam contribuir para a conduta homossexual: (a) anatomicamente, dois núcle- os hipotalâmicos, o INAH-3 (de intersticial nucleus of anterior hypothalamus 3) e o SCN (de suprachiasma- tic nucleus), apresentam tamanhos diferentes nos ho- mens heterossexuais e homossexuais: o primeiro deles apresenta-se nos homossexuais com tamanho e número de células semelhantes aos das mulheres, enquanto o segundo está aumentado nos homossexuais masculinos, em relação aos indivíduos heterossexuais de ambos os sexos; (b) alguns dados fisiológicos mostram que ho- mens homossexuais apresentam eletrencefalogramas diferentes dos de homens e mulheres heterossexuais; e (c) pelo menos alguns homossexuais masculinos apre- sentam respostas hormonais hipotalâmicas semelhantes ao padrão feminino. Em 1993, Hamer e colaboradores10 rastrearam a he- rança de cinco sequências de DNA no braço longo do cro- mossomo X, mais especificamente na banda Xq28, em 40 pares de irmãos homossexuais. Embora essas sequências de DNA sejam muito variáveis na população geral, eram idênticas em 33 desses pares de irmãos. Os referidos au- tores interpretaram esse resultado, propondo que os ge- nes que causam ou predispõem à homossexualidade em 5 15 G e n é tica d o C o m p o rta m e n to homens situam-se no cromossomo X. Em estudo poste- rior, esses dados foram confirmados para irmãos homos- sexuais do sexo masculino, mas não para irmãs com essa orientação sexual, o que se mostrava compatível com ou- tras investigações que não evidenciavam relação genética entre a homossexualidade masculina e a feminina. Pes- quisas posteriores não conseguiram repetir os resultados obtidos por Hamer,10 o que sugere a existência de outros genes envolvidos na homossexualidade, além dos locali- zados no Xq28. O primeiro relato de um estudo de varredura ou aná- lise genômica ampla (ver Cap. 18) da orientação sexual em homens foi feito por Mustanski e colaboradores,11 que estudaram 456 indivíduos de 146 famílias (73 já estuda- das por outros autores e 73 compondo sua nova amos- tra) com dois ou mais irmãos homossexuais. Devido à sugestão prévia de efeito materno na orientação sexual, que indicaria fatores epigenéticos atuantes nos genes au- tossômicos, os escores das estimativas de máxima veros- similhança (mlod) foram calculados separadamente para transmissão materna, paterna e conjunta. Na nova amos- tra, foi encontrado um efeito de origem materna próximo ao marcador D10S217 em 10q26, com escore de mlod de 1,81 para as meioses maternas, e nenhuma contribuição paterna. Em toda a amostra, entretanto, não se encontrou ligação ao Xq28 (mlod � 0,35). Não podem ser ignoradas as influências ambientais, porém sua fonte e modo de ação não são bem claros. Al- guns autores propõem um modelo de influência familiar sobre características da personalidade, caracterizando um perfil de indivíduo com baixos valores de procura de novidades, altos em evitação de dano e busca de recom- pensa, com rejeição por parte das figuras masculinas e mãe superprotetora, no qual é provável o aparecimento de preferências homossexuais. A considerável frequência populacional da homos- sexualidade constitui um paradoxo. Se a contribuição genética para essa característica é próxima a 50%, como se explica a manutenção de um ou mais genes a ela rela- cionados em frequências tão altas, já que diminuem ou eliminam as possibilidades de reprodução dos indivíduos portadores e, consequentemente, de si próprios? Que vantagens teriam esses genes, diante da diminuição de fertilidade dos homossexuais, pelo menos masculinos? Uma das hipóteses mais difundidas, a da “seleção por pa- rentesco”, de E. O. Wilson,12 propõe que apenas alguns portadores desses genes desenvolveriam um comporta- mento homossexual. Esses, sem as obrigações impostas pelos deveres da paternidade, teriam condições de atuar com mais eficiência no auxílio de parentes, possibilitan- do-lhes taxas mais altas de sobrevivência e reprodução. Tais genes continuariam existindo ao longo das gerações, mesmo que alguns de seus portadores não se reproduzis- sem. Outra hipótese leva em conta o fato de que os mes- mos genes, colocados em ambientes diferentes, podem levar a resultados fenotípicos diversos; desse modo, os genes apenas predisporiam os indivíduos à homossexua- lidade em situações ambientais específicas. 16.4 Características comportamentais patológicas 16.4.1 Complicações mais frequentes no estudo genético das características comportamentais patológicas O Quadro 16.1 apresenta alguns dos fatores que com- plicam o estudo das características patológicas do com- portamento, frustrando as tentativas de identificação dos genes que as condicionam. A fim de serem evitados os efeitos desses fatores, são observados os seguintes cuida- dos: utilização de categorias e critérios diagnósticos bem definidos; métodos padronizados e objetivos para a ava- liação fenotípica; estudos do tipo duplo-cego, nos quais psiquiatras e geneticistas não conheçam previamente a condição dos indivíduos estudados quanto aos marcado- res genéticos e aos diagnósticos, respectivamente; aces- so a todas as informações relevantes à especificação do modo de herança da doença; e utilização de métodos de análise ampliados, a fim de abranger tanto o estudo com enfoque monogênico, como com enfoque poligênico. 16.4.2 Deficiência mental 16.4.2.1 Conceito, diagnóstico, epidemiologia, caracterização e etiologia A deficiência mental é definida como o funcionamento intelectual inferior à média, que se manifesta geralmente antes dos 18 anos, com limitações significativas no fun- cionamento adaptativo em pelo menos duas das seguin- tes áreas de habilidades: comunicação, autocuidados, vida doméstica, habilidades sociais/interpessoais, uso de recursos comunitários, autossuficiência, habilidades aca- dêmicas, trabalho, lazer, saúde e segurança. Destaca-se o comportamento adaptativo, porque uma pessoa com QI igual a 60, que mantenha seu emprego e suas relações interpessoais de maneira satisfatória, não seria conside- rada deficiente. A rigor, a deficiência mental não é uma Quadro 16.1 Fatores que complicam o estudo genético das características patológicas do comportamento Critérios diagnósticos variáveis Erro diagnóstico e heterogeneidade clínica Classificação inadequada dos fenótipos básicos e intermediários (espectro fenotípico) Heterogeneidade etiológica Efeitos de idade, sexo e coorte Idade variável de início Modos de herança complexos Comorbidade Fonte: Adaptada de Moldin & Gottesman.13 G e n é ti ca H u m a n a 5 16 doença; é o resultado de um processo patológico no encé- falo caracterizado por limitações no nível final do funcio- namento intelectual e adaptativo. De acordo com o DSM-IV-TR,5 o diagnóstico de de- ficiência mental depende da presença de QI abaixo da média, medido por um teste padronizado, e do déficit na função adaptativa, presente em pelo menos duas áreas de funcionamento. Estima-se que 1% da população apresenta deficiên- cia mental. Dessa parcela, 90% têm deficiência mental leve (QI entre 50 e 70) e 10% deficiência mental grave (QI abaixo de 50). Esse último nível pode ser subdividi- do em deficiência mental moderada (QI entre 35 e 50), grave (QI entre 20 e 35) e profunda (QI abaixo de 20). A deficiência mental é aproximadamente 1,5 vez mais co- mum em homens do que em mulheres. Em pessoas mais idosas, a prevalência é menor, porque nos casos graves ou profundos a taxa de mortalidade é alta, devido a com-plicações de distúrbios físicos associados. A Tabela 16.1 apresenta algumas características diferenciais entre a de- ficiência mental grave e a deficiência mental leve. Com relação à etiologia, os casos de herança mono- gênica abrangem, principalmente, os erros metabólicos hereditários (p. ex., fenilcetonúria, galactosemia, síndro- me de Lesch-Nyhan e mucopolissacaridoses) e as síndro- mes neurocutâneas (p. ex., neurofibromatose I, esclerose tuberosa, adrenoleucodistrofia e síndrome de Sturge- -Weber); os casos devidos a alterações cromossômi- cas evidentes correspondem, com maior frequência, às trissomias autossômicas do 21, 13 e 18 e às síndromes do X frágil, enquanto as anormalidades cromossômicas sutis (p. ex., microdeleções) resultam nas síndromes de genes contíguos (p. ex., síndrome de Zellweger, síndrome de Di George, síndromes de Prader-Willi e de Angelman). Cabe considerar que, até recentemente, a deficiência mental leve era atribuída praticamente só à herança multifa- torial, mas o uso de técnicas citogenéticas sofisticadas evidenciou, em alguns casos, microalterações cromossô- micas que seriam responsáveis pelo quadro leve de de- ficiência mental e outras características clínicas, consti- tuindo o grupo das síndromes de genes contíguos, anteriormente referido. A etiologia ambiental está presente tanto na defi- ciência mental grave como na leve, por meio de infecções virais, exposição a teratógenos físicos e/ou químicos, hipoxia ou trauma perinatal, ou, ainda, doença mater- na (seu efeito, em geral, dependendo do estágio do de- senvolvimento em que se dá a exposição a esses agentes etiológicos; ver Cap. 7). O aconselhamento, na deficiência grave, trata de evitar a recorrência em novos membros da irmandade do afetado; já na deficiência leve, a ênfase é na prevenção de descendentes deficientes. Um tipo especial de deficiência mental é a ligada ao cromossomo X, cuja prevalência é de cerca de 2/1.000 meninos, apresentando grande heterogeneidade genéti- ca e fenotípica. Atualmente, são conhecidos mais de 200 tipos de deficiência mental ligada ao cromossomo X, sub- divididos em sindrômicos e não sindrômicos. A seguir, são apresentados alguns tipos mais frequentes: as sín- dromes do X frágil e o transtorno de Rett. Na mesma localização (Xq28) do sítio frágil FRAXE, foi detectado outro sítio frágil, denominado sítio frágil tipo ácido fólico, FRAXF (OMIM 300031), causado por uma mutação no gene FAM11A, que silencia sua transcri- ção. Esse gene origina-se da ilha CpG (ver Cap. 1) do sítio frágil FRAXF e contém repetições do trinucleotídeo CGG na região não traduzida 5’. A expansão e a metilação des- se trinucleotídeo na ilha CpG resulta em silenciamento Tabela 16.1 Características diferenciais da deficiência mental grave e leve Características Deficiência mental grave Deficiência mental leve Sinonímia Deficiência mental clínica Deficiência mental subclínica, familiar ou subcultural Anomalias anatômicas Presentes (isoladas ou múltiplas) Geralmente ausentes Cromossomos Com alterações evidentes Normais ou com alterações sutis Estatura e perímetro cefálico Crescimento reduzido e perímetro cefálico anormal Ambos dentro dos limites normais QI Inferior a 50 Entre 50-70 Problemas predominantes Distúrbios neurológicos Problemas emocionais Erros metabólicos hereditários Frequentes Raros Fertilidade Geralmente ausente Inferior à da população em geral Nível socioeconômico Variado Geralmente baixo Tipo de herança Monogênica (erros metabólicos), cromossômica (síndromes cromossômicas) ou ambiental (infecção, drogas, etc.) Multifatorial (maioria dos casos), microdeleções cromossômicas (síndrome dos genes contíguos) ou ambiental Genitores e irmãos dos afetados QI normal Geralmente apresentam baixo QI Fonte: Sadock e Sadock,1 Bregman e Harris14 e Vogel e Motulsky.15,16 5 17 G e n é tica d o C o m p o rta m e n to Síndromes do X frágil e transtorno de RETT Síndrome de deficiência mental do X frágil (FRAXA; OMIM 300624) Sinonímia – Síndrome do X frágil, síndrome de Martin-Bell, síndrome da deficiência mental ligada ao X com macrorquidia, síndrome do X marcador, defi- ciência mental ligada ao X associada ao marXq28. No sexo feminino, insuficiência ovariana prematura ou primária associada ao X frágil. Localização cromossômica – Xq27.3. Frequência – Encontra-se entre 1/1.000 homens e 1/2.000 mulheres e 1/4.000 homens e 1/8.000 mulheres, sendo a forma mais comum de de- ficiência mental hereditária. A FRAXA responde por 3 a 6% dos casos de deficiência mental entre meninos com história familiar positiva de deficiência mental e nenhum defeito de nascimento. É responsável por 50% dos casos de deficiência mental ligada ao cro- mossomo X e é a segunda causa mais comum de defi- ciência mental depois da trissomia 21. Genética – A FRAXA é causada por uma mu- tação no gene FMR1 (OMIM 309550); a maioria dos casos mostra expansão instável, na região não traduzida 5’, do trinucleotídeo (CGG)n, em geral com mais de 200 repetições, e metilação gênica anormal, silenciando o gene e suprimindo sua transcrição, com a consequente redução dos níveis de seu produto pro- teico no encéfalo, uma proteína de ligação ao mRNA. A ausência dessa proteína, envolvida na regulação de sua tradução e na de outros tipos de mRNA presentes no encéfalo, causa os aspectos clínicos da FRAXA. As pessoas que não têm essa mutação apresentam de 6 a 55 cópias do referido trinucleotídeo, herdadas de maneira estável; e as que apresentam de 56 a 200 repetições têm o que é chamado pré-mutação, cau- sando a síndrome de ataxia/tremor do X frágil (FX- TAS; OMIM 300623). Recentemente, uma revisão da síndrome do X frágil caracterizou a FRAXA como um distúrbio no desenvolvimento neurológico e a FXTAS, como um distúrbio neurodegenerativo. A FRAXA tem um padrão de herança peculiar: o gene FMR1 mostra 80% de penetrância nos homens e 30% nas mulheres. A baixa penetrância do gene e a expressividade variável no sexo feminino parecem relacionar-se com a inativação do X. As expansões do trinucleotídeo CGG tendem a se tornar maiores, nas gerações sucessivas, até caracterizarem uma pré-mu- tação (FXTAS) ou uma mutação completa (FRAXA). Quanto maior for o número dessas expansões, mais grave será o quadro clínico. A denominação de síndrome do X frágil é devida à aparência do cromossomo X, que mostra um sítio propenso a quebra, próximo ao telômero do braço longo desse cromossomo (banda Xq27.3). Esse sítio frágil apresenta-se como uma lacuna ou região não corada, geralmente envolvendo as duas cromátides, que pode quebrar facilmente e pode ser observada em preparações citogenéticas especiais (ver Cap. 4). Nas mulheres são utilizadas técnicas especiais para a iden- tificação das heterozigotas. Características clínicas – Peso normal ao nas- cer. Geralmente, os recém-nascidos têm peso e com- primento maiores do que seus irmãos normais, bem como grande perímetro cefálico; QI varia de 30 a 65, mas às vezes é normal; ocasionalmente, têm autismo ou hiperatividade na infância e temperamento amigá- vel, timidez e ausência de agressividade na adolescên- cia; fala repetitiva ou vacilante; face alongada, testa e mandíbula proeminentes, palato ogival, hipoplasia mediofacial, orelhas grandes e antevertidas; macror- quidia (3-4 cm3 na infância, quando o tamanho nor- mal é de 2 cm3; 30-60 cm3 na adolescência, quando o normal é inferior a 25 cm3); ocasionalmente, epilep- sia, reflexos aumentados nas extremidades inferiores, ginecomastia, pele fina, espessamento do escroto. Um quinto dos homens e dois terços das mulhe- res que apresentam a mutação do X frágil não mos- tram sinais clínicos. Síndrome de deficiência mental associada ao X frágil (FRAXE; OMIM 309548) Sinonímia – Síndrome de deficiência mental do sítio frágil E. Localização cromossômica – Xq28. Frequência – É um tipo de deficiência mental não sindrômica, presente em 1/50.000 recém-nasci- dos do sexo masculinoou em 1/100.000 a 1/150.000 indivíduos da população geral. Genética – A FRAXE é causada por uma mu- tação que silencia o gene FMR2 (OMIM 300806), também conhecido como AFF2; a maioria dos casos mostra expansão instável de um trinucleotídeo di- ferente, (CCG)n, na região não traduzida 5’ do gene FMR2, no sítio frágil FRAXE, cuja localização é distal à do sítio FRAXA. A expansão e a hipermetilação das repetições CCG resultam em deficiência mental nessa síndrome. Em pessoas normais, existem entre 6 e 25 repetições CCG, enquanto nos afetados são observadas cerca de 200 cópias. O mosaicismo é frequente e a deficiência mental menos grave do que nos pacientes com FRAXA. Características clínicas – Deficiência mental leve a moderada, associada a dificuldades de apren- dizagem; déficits de comunicação, problemas de atenção, hiperatividade e comportamento autista; G e n é ti ca H u m a n a 5 18 transcricional do gene. Todavia, existem poucos dados a respeito desse sítio frágil. A Figura 16.3 mostra crianças e adultos com a síndrome do X frágil (FRAXA) e um here- dograma ilustrativo da herança dessa síndrome. Em torno de um terço dos casos de deficiência men- tal de todos os tipos poderiam ser evitados da seguinte forma: de 7 a 9% são evitáveis mediante diagnóstico pré- -natal em mulheres com mais de 35 anos; de 7 a 10% são secundariamente evitáveis pelo aconselhamento genéti- co e amniocentese após o nascimento de uma primeira criança afetada; e de 20 a 22% poderiam ser prevenidos mediante uma melhoria do atendimento pré, peri e pós- -natal, prevenindo-se, por exemplo, os casos devidos à rubéola, por meio de vacinação das futuras mães, bem como muitas das paralisias cerebrais, por meio da profi- laxia obstétrica e perinatal, além de outras medidas. 16.4.3 Transtorno autista O transtorno autista é um dos cinco transtornos globais do desenvolvimento,5 e, com a síndrome de Asperger e o transtorno global do desenvolvimento sem outra espe- cificação, compõe a tríade denominada por alguns pes- quisadores como “transtornos do espectro do autismo”. O “fenótipo autista”, considerado em sentido amplo, abrange os indivíduos com alguns sintomas de autismo, mas que não preenchem todos os critérios diagnósticos desse transtorno. Desde 1867, já era conhecido um transtorno men- tal que afetava precocemente as crianças, incluído então no grupo das psicoses. Em 1907, Eugen Bleuler cunhou o termo autismo para designar um modo de estar no mundo, caracterizado por perda do contato com a reali- dade e grande dificuldade ou impossibilidade de comu- nicação. Em 1943, Leo Kanner retomou esse termo para designar uma doença autônoma da infância, de caracte- rísticas semelhantes às da doença designada por Bleuler, chamando-a autismo infantil e fazendo o primeiro rela- to abrangente desse transtorno. Kanner definiu-o como uma incapacidade precoce para desenvolver o contato afetivo comum interpessoal, propiciado biologicamente, e sugeriu a presença de um defeito inato, provavelmente genético, nos afetados. 16.4.4 Transtornos do humor Essa categoria abrange um grande grupo de transtor- nos psiquiátricos, cujo quadro clínico apresenta afetos patológicos e distúrbios vegetativos e psicomotores cor- relatos. Anteriormente denominados de “transtornos afetivos”, sua denominação atual é preferida por se re- ferir a estados emocionais persistentes e não meramen- ocasionalmente, microcefalia, baixa estatura e atraso no desenvolvimento. Transtorno de Rett (OMIM 312750) Sinonímia – Síndrome de Rett, síndrome de Rett variante (com preservação da fala), síndrome de Rett atípica, síndrome de Rett, variante Zappella. Localização cromossômica – Xq28. Frequência – Esse transtorno ou síndrome é observado quase exclusivamente no sexo feminino, com frequência de 1/15.000 a 1/20.000 meninas. Genética – Esse transtorno parece ser causado por uma mutação no gene MECP2 (OMIM 300005), que codifica uma proteína de ligação à CpG metilada; essa proteína, estando associada à cromatina, pode ativar ou reprimir a transcrição e é necessária para a maturação dos neurônios. Alguns autores conside- ram que a encefalopatia epiléptica infantil precoce tipo 2 (OMIM 300672) seja uma forma atípica e grave da síndrome de Rett, causada por mutação no gene CDKL5 (OMIM 300203), localizado em Xp22 e codificador de uma proteinoquinase dependente de ciclina. Há também uma variante congênita (OMIM 613454), com características semelhantes à da sín- drome de Rett típica, porém de início muito precoce. Nesse caso, o gene envolvido é o FOXG1 (OMIM 164874), localizado no 14q13 e codificador de um fator de transcrição do desenvolvimento, com atividade repressora. Características clínicas – No transtorno de Rett típico, após o desenvolvimento pós-natal, apa- rentemente normal, o ritmo de desenvolvimento torna-se mais lento e, em torno do primeiro ano de idade, surgem os primeiros sinais de deterioração neurológica. A desaceleração do crescimento cefálico acompanha-se de deficiência mental, perda de habili- dades motoras, linguísticas e adaptativas, movimen- tos contínuos e estereotipados das mãos, apraxia e comportamento autista. Durante a adolescência e a vida adulta, aumentam as dificuldades esqueléticas e neuromusculares, ainda que, em alguns casos, as habilidades cognitivas e sociais possam apresentar uma pequena melhora. Outros aspectos ocasionais: convulsões, escoliose e respiração irregular, com epi- sódios de hiperventilação, apneia e respiração presa. Pacientes que alcançam a idade adulta permanecem em um nível cognitivo e social equivalente ao do pri- meiro ano de vida. Alguns indivíduos com transtorno de Rett re- cebem diagnósticos iniciais de transtorno autista, devido às suas dificuldades nas interações sociais, por isso deve ser realizado o diagnóstico diferencial entre ambos os transtornos. 5 19 G e n é tica d o C o m p o rta m e n to te a expressões externas (afetivas) do estado emocional presente. Esses transtornos são mais considerados como síndromes (em vez de doenças distintas) com sinais e sintomas mantidos durante semanas a meses, represen- tando um desvio significativo do funcionamento habi- tual do indivíduo e com tendência recorrente, de forma periódica ou cíclica. A maioria das pessoas tem um padrão característi- co de oscilações afetivas básicas que define seu tempe- ramento. De um modo geral, agrupam-se em três tipos de estado de humor: normal, elevado e deprimido (ou depressivo). Os indivíduos com estado de humor normal têm uma ampla gradação de estados de humor e expres- sões afetivas, mas se sentem no controle de seu tempe- A 50-55 repetições CGG 0% 0% I II III IV V 60-70 40% 16% 50% 20% 5% 9% NTM 40%0% 16% Pessoas afetadas têm > 200 repetições B 60-70 70-90 70-90 >90 Figura 16.3 A – Meninos e adultos com a síndrome do X frágil. Note as faces alongadas, mandíbula proeminente, orelhas grandes e as características similares de indivíduos de grupos étnicos diferentes. B – Um heredograma mostrando a herança da sín- drome do X frágil. As mulheres que têm uma pré-mutação (56 a mais de 200 repetições CGG) estão assinaladas com um ponto. As pessoas afetadas são representadas por símbolos escuros. Um homem transmissor normal, que tem uma pré- -mutação de 60 a 70 repetições, é chamado de NTM (do inglês normal transmitting male) Note que o número de repeti- ções aumenta cada vez que a mutação é transmitida por outra mulher. Apenas 5% das irmãs de NTM são afetadas, e só 9% de seus irmãos são afetados, enquanto 40% de seus netos e 16% das netas são afetadas. Fonte: Gelehrter e colaboradores,17 Jorde e colaboradores18 e Lewis.19 G e n é ti ca H u m a n a 5 2 0 ramento. Nos transtornos do humor, a sensação de con- trole é perdida e há uma experiência subjetiva de grande sofrimento. No temperamento depressivo, a pessoa ten- de na direção da tristeza; no temperamento hipertímico, a pessoa se inclina a humores alegres;no temperamento ciclotímico, a pessoa oscila entre humores alegres e tris- tes. A Tabela 16.2 apresenta as principais característi- cas dos temperamentos depressivo e hipertímico; o tem- peramento ciclotímico alterna características de ambos. Os temperamentos podem persistir por toda a vida do indivíduo ou podem ser o ponto de partida para trans- tornos do humor. Transtorno autista (OMIM 209850) Sinonímia – Autismo, autismo infantil precoce, autismo da infância, autismo de Kanner, transtorno do espectro do autismo, suscetibilidade ao autismo 1. Características clínicas – Esse transtorno manifesta-se geralmente antes dos 3 anos e se caracte- riza por ausência ou limitação da comunicação verbal, falta de interação social recíproca ou responsividade e padrões de interesses, atividades e comportamentos ritualizados, repetitivos, estereotipados e restritos. Cerca de 75% dos indivíduos afetados apresentam defi- ciência mental, sendo grave em 50%, e leve a moderada na porcentagem restante; presença de convulsões em cerca de 30% e anormalidades eletrencefalográficas em 20 a 50% dos casos; aumento ventricular detectado por tomografia computadorizada em 20 a 25% dos afetados; hipoplasia dos lóbulos VI e VII do verme do cerebelo e anormalidades corticais. Em 15 a 40% dos casos de transtorno autista, há comorbidade com doen- ças genéticas conhecidas (p. ex., síndrome do X frágil e esclerose tuberosa) ou com alterações cromossômicas (p. ex., síndrome de Down e duplicações do 15q), o que, segundo alguns autores, poderia refletir distúrbios em uma via neurobiológica comum, genes de suscetibilida- de em comum e desequilíbrio de ligação. Miles e colaboradores20 apresentaram um siste- ma de avaliação de características dismórficas, para facilitar a identificação de pacientes com autismo por profissionais da área clínica. As regiões corporais incluídas nessa avaliação são estatura, padrão de crescimento capilar, forma e localização das orelhas, tamanho do nariz, estrutura facial, filtrum, boca, lá- bios e dentes, mãos e pés, dedos e unhas. Esse sistema mostrou mais de 80% de sensibilidade e entre 95 e 99% de especificidade. Tabela 16.2 Principais características dos temperamentos depressivo e hipertímico Depressivo Hipertímico Sombrio, incapaz de divertir-se, queixoso Alegre e exuberante, expansivo Sem senso de humor Loquaz e brincalhão, com fuga de ideias Dificuldade de concentração Dificuldade de concentração Cético, pessimista e dado a preocupações intensas Excessivamente otimista e despreocupado Propenso a culpa, baixa autoestima e preocupado com inadequação e fracasso Superconfiante, elevada autoestima, conta vantagens e é grandioso Introvertido, com vida social restrita Extrovertido e sempre em busca de pessoas Lento e passivo, leva uma vida sem ação, baixo nível de energia Alto nível de energia, cheio de planos e atividades imprevidentes Poucos interesses, que podem ser abordados com relativa constância Versátil, com amplos interesses Ideias de morte ou suicídio Superenvolvido e intrusivo Confiável e devotado Desinibido e em busca de estímulos Geralmente dorme muito (� 10 h/noite) Geralmente dorme pouco (< 6 h/noite) Fonte: Sadock e Sadock,1 e Akiskal.21 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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