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Capítulo do Livro genética e comportamento

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3ª edição
Genética
 Humana
Maria Regina Borges-Osório 
Wanyce Miriam Robinson
Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052
B732g Borges-Osório, Maria Regina.
 Genética humana [recurso eletrônico] / Maria Regina
 Borges-Osório, Wanyce Miriam Robinson. – 3. ed. – Dados
 eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2013.
 Editado também como livro impresso em 2013. 
 ISBN 978-85-65852-90-6
 1. Genética humana. I. Robinson, Wanyce Miriam. II. Tí-
 tulo.
CDU 608.1:575:612.6.05
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16.3 Características 
comportamentais 
normais
16.3.1 Inteligência
Essa característica é conceituada em geral como a capa-
cidade de entender, recuperar, mobilizar e integrar, de 
modo construtivo, os aprendizados anteriores ao depa-
rar-se com situações novas. Também é concebida como 
um conjunto de habilidades intelectuais medidas por tes-
tes, que geralmente avaliam as áreas verbal e de desem-
penho. Na primeira, são avaliadas funções como fluência 
verbal, vocabulário, raciocínio verbal, habilidade numéri-
ca e compreensão; na outra, percepção espacial, rapidez e 
exatidão, atenção, entre outras.
Em geral, os testes são influenciados por vários fato-
res, sobretudo a escolarização. O QI (quociente de inteli-
gência) é expresso em termos de percentis, sendo esta a 
sua classificação: abaixo de 70 � deficiente mental; 70-79 
� QI limítrofe; 80-89 � médio inferior; 90-109 � médio; 
110-119 � médio superior; 120-129 � superior; e acima
de 130 � muito superior.
A inteligência talvez seja a característica mais estu-
dada do comportamento, porém, até o momento, o que 
se pode afirmar quanto à sua determinação genética é que 
devem existir muitos genes condicionando-a, mostrando 
herança multifatorial. Algumas habilidades específicas pa-
recem ser mais influenciadas geneticamente do que outras. 
Em ordem decrescente: relações espaciais (para a qual pa-
rece haver um gene principal localizado no cromossomo X, 
sem exclusão de outros autossômicos), vocabulário, fluên-
cia verbal, habilidade numérica e raciocínio verbal.
16.3.1.1 Fatores ambientais que podem influir 
na inteligência
Nutrição – É um dos fatores que mais influem no desen-
volvimento neurológico, desde a concepção até, aproxi-
madamente, 7 anos, motivo pelo qual se deve dar a devida 
importância para a nutrição na gestação. Alguns traba-
lhos mostram, por exemplo, que gêmeos com baixo peso 
ao nascer apresentam QI mais baixo.
Estimulação precoce, o meio cultural e os mo-
tivos sociais – São adquiridos durante a fase de socia-
lização (dos 3 aos 6 anos) podem favorecer ou acentuar 
as diferenças frequentemente vistas nas características 
comportamentais, entre elas a inteligência.
Ordem de nascimento e tamanho da família – 
As pesquisas indicam que os primogênitos costumam ter 
QI mais alto. Famílias com dois ou três filhos oferecem 
maiores possibilidades para o desenvolvimento cognitivo 
da prole do que famílias com um único filho ou mais de 
três filhos. O nível de inteligência dos irmãos mais velhos 
influi também no desempenho dos mais jovens.
Atitudes dos genitores – Observou-se que genito-
res de baixo nível socioeconômico têm atitudes diferentes 
quanto à educação dos seus filhos (menores aspirações 
ocupacionais e intelectuais). Outros trabalhos mostram 
ainda que a hostilidade materna influi no QI dos meni-
nos, diminuindo-o, mas não sobre o QI das meninas, que 
são mais influenciadas pelo QI do lado paterno.
Relações interpessoais – Há indicações de que 
crianças com QI mais alto são mais competitivas, inde-
pendentes, com autoiniciativa e maior necessidade de 
realização. Além disso, crianças com aptidão verbal de-
senvolvida apresentam maior dependência dos adultos 
e menor interação social com seus contemporâneos. Por 
outro lado, crianças com grande aptidão numérica têm 
menor dependência dos adultos, alta interação interpes-
soal e autoafirmação.
16.3.2 Memória
A memória pode ser conceituada simplesmente como 
a retenção da informação aprendida,2 ou, de um modo 
mais abrangente, como aquisição, armazenamento e 
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evocação de informações.3 Segundo esse último autor, a 
memória abrange desde os mecanismos que operam um 
computador, até a história de cada cidade, país, povo ou 
civilização, e as memórias individuais dos animais e das 
pessoas, mas em cada caso a memória é única, porque os 
mecanismos de sua aquisição ou aprendizagem, armaze-
namento e evocação são diferentes.
Outros autores, como Gazzaniga e colaboradores,4 
subdividem hipoteticamente a aprendizagem e a memó-
ria em codificação, armazenamento e evocação. A codifi-
cação refere-se ao processamento da nova informação a 
ser armazenada e envolve duas fases: a aquisição e a con-
solidação. A aquisição registra as informações em arqui-
vos sensoriais e estágios de análise sensorial, enquanto a 
consolidação cria uma forte representação da informação 
ao longo do tempo. O armazenamento cria e mantém um 
registro permanente, e a evocação utiliza a informação 
armazenada para criar uma representação consciente ou 
para executar um comportamento aprendido como um 
ato motor.
A memória humana assemelha-se à dos demais ma-
míferos no que se refere aos seus mecanismos essenciais 
e às áreas neurológicas e mecanismos moleculares envol-
vidos, apesar de diferirem quanto ao seu conteúdo. Além 
disso, estudos em aves, répteis e invertebrados, como o 
molusco Aplysia californica (lesma-do-mar), indicam 
que os mecanismos essenciais da formação de memória 
são semelhantes aos dos mamíferos, podendo ser consi-
derados propriedades básicas dos sistemas nervosos em 
geral, seja qual for o organismo.
Alguns autores sugerem o uso do termo memória (no 
singular) para designar a capacidade de adquirir, armaze-
nar e evocar informações, e o uso desse termo no plural, 
memórias, para designar os diferentes tipos ou formas de 
memória.
As memórias são formadas nos neurônios e armaze-
nadas em redes neuronais, sendo evocadas por essas re-
des ou por outras. São moduladas pelas emoções, nível 
de consciência e estado de ânimo. A Figura 16.1 mostra 
um esquema da formação de uma memória, salientando 
o papel dos genes e das proteínas nessa formação.
16.3.2.1 Tipos
As memórias podem ser classificadas em diferentes ti-
pos, segundo seu conteúdo e tempo de duração. Além 
desses critérios, costuma-se incluir um terceiro critério 
– o funcional, estabelecendo o que se denomina memó-
ria de trabalho, um tipo de memória muito breve, tam-
bém chamada memória operacional ou imediata, que 
serve para gerenciar a realidade e determinar o contexto 
em que os diversos tipos de informação ocorrem, veri-
ficando, em alguns minutos, se esse tipo de informação 
já existe nos arquivos ou se deve ser criada uma nova 
memória para ele. Essa memória não produz arquivos, 
ao contrário de todos os demais tipos. Ela mantém a in-
formação presente durante tempo suficiente para poder 
ingressar ou não na memória propriamente dita. Esse 
tipo de memória é perturbado por um estado de ânimo 
negativo, causado, por exemplo, por falta de sono, de-
pressão ou tristeza.
Sinal desencadeador
Corpo celular
Prolongamento axonal
Criação de novas sinapses
Neurônio
pós-sinápticoAtivação
de genes
Síntese de novas
proteínasTálamo
DNA Nuclear
Dendrito
Hipocampo
Córtex
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Figura 16.1
Esquema da formação de uma memória.
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Tipos de memórias segundo o conteúdo – As me-
mórias declarativas são as que registram fatos, eventos 
ou conhecimentos, reunindo tudo que foi aprendido e 
pode ser expresso verbalmente. Esse tipo abrange a me-
mória episódica e a memória semântica. A primeira inclui 
os fatos ocorridos ao longo da vida, sendo, por isso, con-
siderada autobiográfica; a segunda inclui fatos, números, 
significados, abrigando conhecimentos gerais.
As memórias procedurais são também conhecidas 
como memórias não declarativas ou de procedimentos, 
e correspondema comportamentos, capacidades ou ha-
bilidades motoras ou sensoriais que se tornam automati-
zadas, como amarrar o cordão dos tênis, saltar e realizar 
tarefas domésticas comuns. Nesses casos, há dificuldade 
em se descrever com exatidão o que é feito, pois os res-
pectivos programas motores foram armazenados implici-
tamente pelo encéfalo.
A propósito, as memórias declarativas e procedurais 
também são classificadas em explícitas e implícitas. As 
memórias explícitas são adquiridas conscientemente, en-
quanto as implícitas são adquiridas de maneira automá-
tica, sem percepção clara de que estão sendo aprendidas. 
Em geral, as memórias declarativas são explícitas e as 
procedurais, implícitas. No entanto, muitas memórias se-
mânticas também são adquiridas implicitamente, como o 
aprendizado da língua materna. As memórias episódicas 
podem declinar com a idade, mas as semânticas e implí-
citas geralmente não sofrem esse declínio, e as pessoas 
continuam a acumular informações ao longo da vida.
Tipos de memórias segundo o tempo de duração 
– A memória de curta duração é a que dura de segundos 
a algumas horas, geralmente o tempo necessário para a 
consolidação das memórias de longa duração. Entende-
-se por consolidação o processo que conduz à fixação 
definitiva de uma memória no modo em que poderá ser 
evocada posteriormente. A memória de curta duração ne-
cessita das mesmas estruturas nervosas da memória de 
longa duração, mas envolve mecanismos próprios e di-
ferentes. Além disso, é muito resistente a alguns agentes 
que afetam os mecanismos de consolidação da memória 
de longa duração. Algumas memórias explícitas podem 
ser de curta duração, como manter um diálogo, escutar 
música ou ler.
A memória de longa duração é a que dura de dias 
(memória recente) a décadas ou por toda vida (memória 
remota). Algumas memórias explícitas podem durar me-
ses ou anos, enquanto as implícitas em geral duram toda 
vida. As memórias declarativas de longa duração neces-
sitam de tempo para serem consolidadas. Nas primeiras 
horas após sua aquisição, essas memórias são instáveis 
e suscetíveis à interferência de numerosos fatores, como 
a ocorrência de outras memórias, liberação excessiva de 
hormônios do estresse (adrenalina e glicocorticoides) ou 
traumatismos cranianos.
A bibliografia consultada sobre memória é unânime 
ao mencionar que as classificações das memórias, embo-
ra valiosas didaticamente, não devem ser consideradas de 
modo rigoroso, pois em sua maioria constituem misturas 
de memórias de vários tipos e/ou de memórias antigas 
com memórias recém-adquiridas. Enquanto determina-
do conhecimento ou procedimento é evocado, a memória 
de trabalho é acionada para se verificar se essa memória 
consta ou não nos “arquivos” individuais, e as memórias 
de conteúdo semelhante ou não também são evocadas, 
formando-se, naquele momento, uma nova memória.
16.3.2.2 Bases anatômicas e moleculares
A Figura 16.2 ilustra os diferentes tipos de memórias, 
relacionando-as com algumas zonas encefálicas que in-
tervêm em sua formação e em seu armazenamento. A 
representação física ou a localização de uma memória é 
denominada engrama ou traço de memória. Os sistemas 
biológicos da memória incluem o lobo temporal medial, 
principalmente a região CA1 do hipocampo, que é a prin-
cipal responsável pelos aspectos espaciais e contextuais 
na formação de memórias declarativas em mamíferos, 
a região CA3 do hipocampo, o giro denteado e o córtex 
entorrinal; o córtex pré-frontal e a área lateral intrapa-
rietal do neocórtex, que estão envolvidos na memória de 
trabalho, na consolidação e na evocação da informação; o 
córtex temporal, que armazena o conhecimento episódico 
e semântico; o estriado, que se relaciona com a memória 
procedural; os núcleos da amígdala, que contribuem para 
a formação de memórias de natureza vigilante ou aver-
siva e dão um colorido emocional aos acontecimentos; e 
o córtex sensório-associativo, envolvido no efeito de in-
dícios ou dicas (priming) para as memórias declarativa 
e procedural. O priming é uma forma de memória em 
que, para sua evocação, o indivíduo precisa ser exposto 
a alguns de seus aspectos. Por exemplo, a lembrança de 
uma letra de música pode requerer que alguém diga seu 
primeiro verso.
Não existe, portanto, um núcleo com pequeno nú-
mero de “células de memória” que armazenem nossas 
experiências de vida e comportamentos aprendidos de 
forma independente das demais funções cerebrais, nem 
todas as áreas corticais contribuem igualmente para essa 
capacidade, como já foi pensado antigamente. Muitos 
trabalhos indicam que a representação de percepções e 
memórias demanda a atividade coordenada de grandes 
populações de neurônios de diferentes áreas encefálicas, 
que são interconectadas, com um sistema de memória 
distribuída, em que muitos milhões a bilhões de sinap-
ses podem estar envolvidos. Quanto mais neurônios e 
sinapses estiverem envolvidos na memória distribuída, 
menores as consequências de se perder qualquer célula 
isoladamente, o que é uma grande vantagem. No encéfa-
lo humano, morrem neurônios todos os dias, e, provavel-
mente, é devido à natureza distribuída da memória que 
não perdemos de súbito a memória para determinadas 
pessoas ou eventos.
A aquisição de informações e a formação de me-
mórias podem ocorrer nas sinapses (regiões de contato 
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em que um neurônio transmite informação para outro 
neurônio). Independentemente da espécie, da localiza-
ção no encéfalo e do tipo de memória, muitos mecanis-
mos responsáveis pelos eventos relacionados com essa 
característica parecem ser universais. Esses eventos são 
representados, primeiramente, como mudanças na ati-
vidade elétrica do encéfalo, depois como moléculas quí-
micas de curta duração (denominadas segundos mensa-
geiros e formadas no citosol), que podem desencadear 
respostas bioquímicas, e a seguir como modificações 
em proteínas sinápticas preexistentes. Essas alterações 
temporárias são convertidas em modificações perma-
nentes – a memória de longa duração – por alterações 
na estrutura das sinapses.
Em muitos tipos de memórias, isso requer a síntese 
de novas proteínas e o estabelecimento de novos micro-
circuitos. Em outras formas de memórias, os circuitos 
existentes podem ser rearranjados. Uma característica 
universal é o envolvimento dos íons Ca2+ não só na secre-
ção de neurotransmissores e na contração muscular, mas 
em qualquer forma de plasticidade sináptica. Denomina-
-se plasticidade o conjunto de processos fisiológicos, nos 
níveis celular e molecular, que explicam a capacidade das 
células nervosas para mudar suas respostas a determina-
dos estímulos como função da experiência. Como um íon 
carregado e um potente segundo mensageiro, o Ca2+ tem 
a habilidade única de acoplar a atividade elétrica direta-
mente a alterações de longa duração no encéfalo. Esses 
conhecimentos comprovam que o encéfalo humano, até 
certo grau, é constantemente submetido à reformulação 
de seus circuitos, para que possa se adaptar às experiên-
cias da vida.
A formação de uma determinada memória pode 
saturar os sistemas metabólicos das células envolvidas 
nesse processo e impedir a formação consecutiva de ou-
tra memória. É real a sensação quase física que alguém 
experimenta e refere como “não caber mais nada em sua 
cabeça”, ao término de uma atividade intelectual (como 
uma aula), pois a cada construção de memória é utiliza-
da uma grande porcentagem da capacidade bioquímica 
do hipocampo, comprometendo o aprendizado de outra 
tarefa similar ou diferente durante vários minutos ou ho-
MEMÓRIA DE
LONGA DURAÇÃO
de alguns minutos
a vários anos
MEMÓRIA
DECLARATIVA
(explica) “saber que”
PROCEDURAL
andar de bicicleta
FATOS
passar em
um exame
EVENTOS
eclipse do Sol em
11 de agosto de 1999
RESPOSTA
EMOCIONAL
medo de cobra
RESPOSTA
MUSCULAR
piscar os olhos
VIAS
REFLEXAS
LOBO
TEMPORAL
CORPO
ESTRIADO
CÓRTEX E
NEOCÓRTEX
AMÍGDALA CEREBELO
INÍCIOinfluência da apresentação
inconsciente de elementos
CONDICIONAMENTO
CLÁSSICO
pavioviano
APRENDIZADO
NÃO ASSOCIATIVO
hábito e sensibilização
MEMÓRIA NÃO
DECLARATIVA
(implícita) “saber como”
Figura 16.2
Tipos de memórias e zonas encefálicas que intervêm em sua formação e em seu armazenamento.
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ras. Por isso, é um fenômeno real a necessidade de um 
intervalo, após duas ou três aulas consecutivas.
As memórias são armazenadas mediante modifica-
ções permanentes ou duradouras da forma e da função 
das sinapses das redes neurais de cada memória, modi-
ficações essas que resultam do processo de consolidação 
da memória de longa duração, anteriormente resumido.
No momento da evocação, o encéfalo deve recriar, 
em instantes, memórias que levaram anos para ser for-
madas. Essa evocação será melhor quanto mais compo-
nentes dos estímulos condicionados forem apresentados 
nesse momento. A evocação não é uma simples repetição 
da consolidação, sendo um processo molecular complexo, 
que ocorre simultaneamente em várias áreas encefálicas, 
obedecendo a mecanismos bioquímicos próprios.
16.3.2.3 Transtornos da memória
De acordo com o DSM-IV-TR,5 os transtornos da memó-
ria dividem-se em:
 1. Amnésia – incapacidade parcial ou total de recordar 
experiências passadas, podendo ter origem orgânica 
ou emocional.
 a. Anterógrada: amnésia para eventos que ocorrem 
após determinado momento.
 b. Retrógrada: amnésia para eventos que ocorrem 
antes de determinado momento.
 2. Paramnésia – falsificação da memória por distorção 
da recordação.
 a. Fausse reconnaissance: falso reconhecimento.
 b. Falsificação retrospectiva: a memória é distor-
cida involuntariamente (inconscientemente), 
sendo filtrada pelo estado emocional, cognitivo 
e experimental atual do indivíduo.
 c. Confabulação: preenchimento inconsciente de 
lacunas na memória, por experiências imagina-
das ou falsas em que a pessoa acredita, mas não 
se baseiam em fatos; frequentemente associada 
a patologias orgânicas.
 d. Déjà vu: ilusão de reconhecimento visual em que 
uma nova situação é considerada incorretamen-
te como repetição de uma memória anterior.
 e. Déjà entendu: ilusão de reconhecimento auditivo.
 f. Déjà pensé: ilusão de que um novo pensamento 
é reconhecido como algo que já foi sentido ou ex-
pressado.
 g. Jamais vu: falsa sensação de desconhecimento 
de uma situação real que a pessoa experimentou.
 h. Falsa memória: recordação e crença em um 
evento que não aconteceu de fato.
 3. Hipermnésia – grau exagerado de conservação e evo-
cação de memórias.
 4. Imagem eidética – memória visual de nitidez quase 
alucinatória.
 5. Memória seletiva – memória conscientemente tole-
rável que encobre uma memória dolorosa.
 6. Repressão – mecanismo de defesa caracterizado por 
esquecimento inconsciente de ideias ou impulsos 
inaceitáveis.
 7. Letológica – incapacidade temporária de lembrar pa-
lavras ou nomes.
 8. Apagamento – amnésia experimentada por alcoolis-
tas quanto ao comportamento durante embriaguez; 
normalmente indica lesão cerebral reversível.
16.3.3 Personalidade
A personalidade é mais complexa do que a inteligência, 
sendo muito mais difícil de ser estudada geneticamente. 
Supõe-se que seu modo de herança seja multifatorial. Os 
testes utilizados para sua avaliação são bastante influen-
ciados pela cultura, polarizando-se na neurotização (in-
troversão) ou na extroversão. Em um desses testes (Es-
cala I-E), há uma medida contínua da atitude com que os 
indivíduos relacionam seu comportamento, consideran-
do-o governado por fatores internos (os acontecimentos 
dependem do próprio comportamento) ou externos (os 
acontecimentos dependem de sorte, acaso e destino).
Em Porto Alegre/RS, Telles da Silva e colaboradores6 
estudaram 45 pares de gêmeos monozigóticos e 46 pa-
res de dizigóticos, quanto a inteligência, personalidade e 
aproveitamento escolar. Calcularam uma herdabilidade 
de 46% para o QI, sendo que as habilidades específicas 
que apresentaram mais alta herdabilidade foram o racio-
cínio verbal, o raciocínio abstrato e as relações espaciais. 
Na personalidade, avaliada quanto a atividade, emotivi-
dade e repercussão das impressões (repercussão momen-
tânea ou experiência passada), verificaram que as duas 
últimas possuíam as mais altas herdabilidades: 48 e 47%, 
respectivamente, enquanto a atividade apresentava ape-
nas 34%. No aproveitamento escolar, houve maior her-
dabilidade para língua estrangeira (58%), estudos sociais 
(60%) e aproveitamento global (46%).
Estudos mais recentes concentraram-se em um mo-
delo de personalidade que abrange cinco fatores: extrover-
são ou capacidade de exteriorizar sentimentos, aderência 
ou capacidade de concordar, diligência ou ter o desejo de 
realizar, neurotização ou negatividade e inteligência. Esse 
último fator pode ser considerado separadamente da per-
sonalidade, mas é um traço que a influencia. Atualmente, 
considera-se que a personalidade global, baseada nesses 
cinco fatores, apresenta uma hereditariedade de cerca de 
50%, cifra não muito diferente das apresentadas antes. 
Outros estudos, baseados em lócus de traços quantitati-
vos, sugerem que os fatores genéticos contribuem com 40 
e até 60% da variância dos traços de personalidade.
Atualmente, pensa-se que os polimorfismos genéti-
cos possam explicar a hereditariedade de certas caracte-
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rísticas de personalidade. O primeiro polimorfismo gené-
tico relacionado a um traço comportamental específico 
foi o do transportador do neurotransmissor serotonina, 
conhecido como 5-HTT (OMIM 182138), bombeando o 
excedente desse neurotransmissor das sinapses, de modo 
a reduzir a estimulação neuronal. Quando esse transpor-
tador falha, o excesso de excitação elétrica nos neurônios 
serotonérgicos pode levá-los ao colapso. O polimorfismo 
no gene da proteína 5-HTT tem efeito sobre o modo como 
as pessoas lidam com situações estressantes. Existem 
pelo menos duas variantes: uma longa, devida ao alelo 
L, que resulta na maior expressão da proteína 5-HTT na 
membrana dos neurônios, e uma variante curta, devida 
ao alelo S, em que essa molécula aparece em menor quan-
tidade no encéfalo. Em um estudo que envolveu mais de 
500 indivíduos, submetidos a questionários de persona-
lidade e análise genética quanto ao gene 5-HTT, os resul-
tados mostraram que os indivíduos que apresentavam 
pelo menos um alelo S (variante curta) eram visivelmente 
mais ansiosos do que os que receberam dois alelos L para 
a variante longa desse gene. Outro estudo, usando neu-
roimageamento por ressonância magnética da amígdala 
e testes de visualização de faces com expressões de emo-
ções variáveis, mostrou que as pessoas com uma ou duas 
cópias da variante curta de 5-HTT reagiam com mais 
intensidade a expressões de fúria e ansiedade. Posterior-
mente, foi verificado que o gene 5-HTT influencia cons-
tantemente a atividade da amígdala, cuja hiperativação 
crônica parece estar relacionada à tendência à ansiedade 
ou a distúrbios psíquicos que são fatores de risco para a 
depressão. Os indivíduos com genótipo LL reagem com 
menos intensidade às possíveis fontes de estresse da vida 
(p. ex., doenças graves, sofrimento afetivo, desemprego 
e problemas financeiros). Mesmo com mais de quatro 
eventos gravemente estressantes, somente 17% desenvol-
vem sintomas de depressão. Entre os heterozigotos LS, 
essa porcentagem aumenta para 34%, e nos homozigotos 
SS, esse valor percentual chega a 43%.
Em 2006, Canli e colaboradores7 demonstraram que 
a atividade de diferentes regiões encefálicas, após expe-
riências estressantes, depende realmente do genótipo, 
afetando não apenas a amígdala, mas também o hipo-
campo, área fundamental para a formação da memória 
(ver seção 16.3.2). Cada tipo da proteína transportadora 
5-HTT está relacionado a uma forma diferente de reação 
ao estresse. Os autores mencionados também percebe-
ram que as pessoas com genótipos SL ou SStendem a ser 
mais introspectivas, o que é considerado um fator de risco 
para a depressão, enquanto nos indivíduos homozigotos 
LL acontece o contrário: eles são mais calmos e passam 
menos tempo ruminando seus pensamentos. Essas dife-
renças genéticas podem explicar, de certa forma, por que 
algumas pessoas mostram reações exacerbadas e acabam 
se desesperando, até mesmo por motivos insignificantes.
Outro polimorfismo genético que influi na persona-
lidade é o do gene que codifica o receptor DRD4 do neu-
rotransmissor dopamina (DRD4; OMIM 126452), cujas 
variantes podem estimular o interesse das pessoas por 
novidades e desafios. Esse “gene da curiosidade” também 
está presente em outros organismos, como os chapins ou 
canários-da-terra. Em humanos, já foram detectadas três 
variantes do receptor DRD4: uma longa e duas mais cur-
tas, na sequência de 48 pb na terceira alça citoplasmática 
dessa proteína, podendo ser subjacentes a diferenças in-
dividuais na suscetibilidade a transtornos neuropsiquiá-
tricos e na responsividade à medicação antipsicótica.
A enzima monoaminoxidase A (codificada pelo 
gene MAOA, localizado no cromossomo Xp11.23; OMIM 
309850) oxida as aminas dos neurotransmissores (prin-
cipalmente serotonina, norepinefrina e dopamina) e da 
dieta, cuja regulação é importante para a manutenção do 
estado mental normal. Mutações no gene MAOA, acar-
retando baixos níveis dessa enzima, estão associadas a 
comportamento impulsivo, violento ou criminoso. Des-
cobriu-se também que a maioria dos indivíduos com esse 
tipo de comportamento, em geral, sofreu maus-tratos na 
infância, reforçando a ideia de que a violência resulta da 
combinação da experiência pessoal com a predisposição 
genética. No entanto, crianças maltratadas que têm ge-
nótipo com uma variante polimórfica no promotor des-
se gene, produzindo altos níveis de MAO-A, são menos 
suscetíveis a desenvolver problemas antissociais, o que 
explica, parcialmente, como os polimorfismos genéticos 
podem moderar a sensibilidade infantil aos danos am-
bientais e por que nem todas as vítimas de maus-tratos 
tendem a vitimar os outros.
16.3.4 Homossexualidade
Define-se homossexualidade como o padrão sexual de 
atração erótica ou atividade sexual preferencial ou exclu-
siva entre pessoas do mesmo sexo, independentemente 
da disponibilidade de parceiros heterossexuais. Essa ca-
racterística teve sua categoria diagnóstica marcantemen-
te alterada na segunda metade do século XX: no Manual 
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, DSM-
-I8 constava como “desvio sexual envolvendo comporta-
mento patológico”, incluído nos distúrbios sociopáticos 
da personalidade, enquanto no Manual Diagnóstico e Es-
tatístico de Transtornos Mentais, DSM-IV9 foi excluído 
de qualquer categoria diagnóstica específica. Assim, a 
homossexualidade é considerada uma variante de fre-
quência regular da sexualidade humana, e não mais um 
transtorno patológico.
Ninguém realmente sabe a razão pela qual as pessoas 
têm sentimentos de pertencer a um gênero ou ao outro, 
ou por que são heterossexuais, bissexuais ou homos-
sexuais. Os pesquisadores acreditam que a homossexuali-
dade seja controlada em partes iguais pelos genes e pelos 
fatores ambientais. Ela é mais comum do que se pensa, 
está presente em todas as culturas e vem ocorrendo há 
milhares de anos.
As atitudes em relação à homossexualidade variam 
muito entre as culturas. Por exemplo, nas Filipinas, é 
considerada uma variante natural da sexualidade. Nos 
Estados Unidos, alguns estados ainda possuem leis pu-
nidoras das práticas homossexuais. Por outro lado, o Có-
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digo Napoleônico Francês, escrito em 1810 e seguido por 
muitas nações até hoje, estabelece que as relações homos-
sexuais voluntárias entre adultos não constituem um ato 
criminoso.
Geneticamente, a homossexualidade (OMIM 
306995) pode ser considerada uma variante de um com-
portamento mais comum – assim como os olhos verdes 
são uma variante dos olhos azuis ou castanhos, mais co-
muns. A partir de uma compilação de muitos estudos, 
concluiu-se que 2% dos homens têm sentimentos ou 
atitudes homossexuais e 3% são bissexuais, sendo muito 
escassos os dados quanto às mulheres, segundo os quais 
a frequência de homossexualidade aproxima-se de 3%. 
De acordo com alguns autores, a frequência de homos-
sexualidade para ambos os sexos é de 6% ou um valor 
entre 1 e 10%.
Uma explicação para essa variante é a presença ou 
ausência de hormônios androgênicos durante o período 
crítico de diferenciação do cérebro para características 
masculinas ou femininas. A presença de androgênios or-
ganiza o sistema nervoso central para a mediação de com-
portamentos sexuais e sociais típicos do sexo masculino; 
a ausência de androgenização resulta em uma organiza-
ção diferente do sistema nervoso central, para mediar os 
comportamentos sexuais femininos. Na desandrogeniza-
ção experimental de fetos masculinos e androgenização 
de fetos femininos de roedores, durante seus períodos 
críticos, ocorre uma organização sexual neurológica in-
vertida: as fêmeas assim tratadas exibem comportamen-
tos sexuais e sociais masculinos e preferem fêmeas como 
parceiras; os machos desandrogenizados apresentam os 
padrões femininos correspondentes. Esses dados suge-
rem que o meio hormonal precoce desempenha um papel 
variável no desenvolvimento da orientação heterossexual 
ou homossexual, pelo menos em algumas pessoas. Em 
geral, os homens homossexuais mostram níveis mais bai-
xos de androgênios do que os heterossexuais; as mulhe-
res com hiperadrenocorticalismo apresentam homosse-
xualidade ou bissexualidade com mais frequência do que 
as mulheres heterossexuais.
Segundo alguns estudos familiares, homens homos-
sexuais têm mais irmãos com essa orientação sexual do 
que os homens heterossexuais, mostrando uma distri-
buição familiar dessa característica. Além disso, paren-
tes femininos pelo lado materno de homossexuais têm 
maior fecundidade do que parentes femininos maternos 
de heterossexuais, diferença que não é encontrada entre 
os parentes femininos pelo lado paterno. Outro resultado 
das pesquisas com famílias é o efeito da ordem de nasci-
mento: frequentemente os homossexuais masculinos são 
os irmãos mais novos, não os primogênitos, que em geral 
também são do sexo masculino, não do feminino.
Os estudos gemelares também fornecem evidên-
cias de uma influência genética na homossexualidade. É 
mais provável que os gêmeos monozigóticos ou idênticos 
sejam ambos homossexuais do que os gêmeos dizigóti-
cos ou fraternos de mesmo sexo, o que aponta para um 
componente genético. Foi analisada a orientação sexual 
de mais de uma centena de pares gemelares ou adotivos 
do sexo masculino, nos quais pelo menos um deles era 
homossexual, encontrando uma taxa de 50% para ho-
mossexualidade entre os monozigóticos, praticamente 
o dobro da calculada para os gêmeos dizigóticos (24%) 
e quase o triplo da verificada entre os irmãos adotivos 
(19%). Dois anos mais tarde, um estudo semelhante fei-
to pelos mesmos autores, envolvendo pares de gêmeas e 
irmãs adotivas, mostrou taxas de concordância de 48% 
(gêmeas monozigóticas), 16% (gêmeas dizigóticas) e 6% 
(irmãs adotivas). Esses resultados seguem o padrão es-
perado para uma característica genética: os gêmeos que 
são mais semelhantes geneticamente (os pares monozi-
góticos) apresentam uma taxa de concordância mais alta 
do que os gêmeos que não são tão similares (os pares 
dizigóticos) e as irmandades adotivas. Por outro lado, é 
intrigante verificar-se que os adotivos, que não são ge-
neticamente relacionados, mostram uma taxa de con-
cordância quase tão alta quanto os gêmeos dizigóticos, 
que apresentam forte relação genética. Esse resultado foi 
atribuído a uma diferença na disposição dos diferentes 
grupos voluntários de homossexuais para permitirem o 
contato com seus irmãos adotivos. Os gêmeos homos-
sexuais permitiam que seus cogêmeos fossem testados, 
independentemente de estesserem homossexuais ou 
heterossexuais, enquanto os homens homossexuais do 
outro grupo de estudo relutavam em permitir o contato 
com seus irmãos adotivos, quando estes não eram ho-
mossexuais. Isso certamente ocasionou a tendência para 
uma concordância mais elevada de homossexualidade 
entre pares de irmãos adotivos.
Além disso, existe a hipótese de que pelo menos al-
guns indivíduos apresentam diferenças neuroanatômi-
cas e neurofisiológicas que poderiam contribuir para a 
conduta homossexual: (a) anatomicamente, dois núcle-
os hipotalâmicos, o INAH-3 (de intersticial nucleus of 
anterior hypothalamus 3) e o SCN (de suprachiasma-
tic nucleus), apresentam tamanhos diferentes nos ho-
mens heterossexuais e homossexuais: o primeiro deles 
apresenta-se nos homossexuais com tamanho e número 
de células semelhantes aos das mulheres, enquanto o 
segundo está aumentado nos homossexuais masculinos, 
em relação aos indivíduos heterossexuais de ambos os 
sexos; (b) alguns dados fisiológicos mostram que ho-
mens homossexuais apresentam eletrencefalogramas 
diferentes dos de homens e mulheres heterossexuais; e 
(c) pelo menos alguns homossexuais masculinos apre-
sentam respostas hormonais hipotalâmicas semelhantes 
ao padrão feminino.
Em 1993, Hamer e colaboradores10 rastrearam a he-
rança de cinco sequências de DNA no braço longo do cro-
mossomo X, mais especificamente na banda Xq28, em 40 
pares de irmãos homossexuais. Embora essas sequências 
de DNA sejam muito variáveis na população geral, eram 
idênticas em 33 desses pares de irmãos. Os referidos au-
tores interpretaram esse resultado, propondo que os ge-
nes que causam ou predispõem à homossexualidade em 
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homens situam-se no cromossomo X. Em estudo poste-
rior, esses dados foram confirmados para irmãos homos-
sexuais do sexo masculino, mas não para irmãs com essa 
orientação sexual, o que se mostrava compatível com ou-
tras investigações que não evidenciavam relação genética 
entre a homossexualidade masculina e a feminina. Pes-
quisas posteriores não conseguiram repetir os resultados 
obtidos por Hamer,10 o que sugere a existência de outros 
genes envolvidos na homossexualidade, além dos locali-
zados no Xq28.
O primeiro relato de um estudo de varredura ou aná-
lise genômica ampla (ver Cap. 18) da orientação sexual 
em homens foi feito por Mustanski e colaboradores,11 que 
estudaram 456 indivíduos de 146 famílias (73 já estuda-
das por outros autores e 73 compondo sua nova amos-
tra) com dois ou mais irmãos homossexuais. Devido à 
sugestão prévia de efeito materno na orientação sexual, 
que indicaria fatores epigenéticos atuantes nos genes au-
tossômicos, os escores das estimativas de máxima veros-
similhança (mlod) foram calculados separadamente para 
transmissão materna, paterna e conjunta. Na nova amos-
tra, foi encontrado um efeito de origem materna próximo 
ao marcador D10S217 em 10q26, com escore de mlod de 
1,81 para as meioses maternas, e nenhuma contribuição 
paterna. Em toda a amostra, entretanto, não se encontrou 
ligação ao Xq28 (mlod � 0,35).
Não podem ser ignoradas as influências ambientais, 
porém sua fonte e modo de ação não são bem claros. Al-
guns autores propõem um modelo de influência familiar 
sobre características da personalidade, caracterizando 
um perfil de indivíduo com baixos valores de procura de 
novidades, altos em evitação de dano e busca de recom-
pensa, com rejeição por parte das figuras masculinas e 
mãe superprotetora, no qual é provável o aparecimento 
de preferências homossexuais.
A considerável frequência populacional da homos-
sexualidade constitui um paradoxo. Se a contribuição 
genética para essa característica é próxima a 50%, como 
se explica a manutenção de um ou mais genes a ela rela-
cionados em frequências tão altas, já que diminuem ou 
eliminam as possibilidades de reprodução dos indivíduos 
portadores e, consequentemente, de si próprios? Que 
vantagens teriam esses genes, diante da diminuição de 
fertilidade dos homossexuais, pelo menos masculinos? 
Uma das hipóteses mais difundidas, a da “seleção por pa-
rentesco”, de E. O. Wilson,12 propõe que apenas alguns 
portadores desses genes desenvolveriam um comporta-
mento homossexual. Esses, sem as obrigações impostas 
pelos deveres da paternidade, teriam condições de atuar 
com mais eficiência no auxílio de parentes, possibilitan-
do-lhes taxas mais altas de sobrevivência e reprodução. 
Tais genes continuariam existindo ao longo das gerações, 
mesmo que alguns de seus portadores não se reproduzis-
sem. Outra hipótese leva em conta o fato de que os mes-
mos genes, colocados em ambientes diferentes, podem 
levar a resultados fenotípicos diversos; desse modo, os 
genes apenas predisporiam os indivíduos à homossexua-
lidade em situações ambientais específicas.
16.4 Características 
comportamentais 
patológicas
16.4.1 Complicações mais frequentes no 
estudo genético das características 
comportamentais patológicas
O Quadro 16.1 apresenta alguns dos fatores que com-
plicam o estudo das características patológicas do com-
portamento, frustrando as tentativas de identificação dos 
genes que as condicionam. A fim de serem evitados os 
efeitos desses fatores, são observados os seguintes cuida-
dos: utilização de categorias e critérios diagnósticos bem 
definidos; métodos padronizados e objetivos para a ava-
liação fenotípica; estudos do tipo duplo-cego, nos quais 
psiquiatras e geneticistas não conheçam previamente a 
condição dos indivíduos estudados quanto aos marcado-
res genéticos e aos diagnósticos, respectivamente; aces-
so a todas as informações relevantes à especificação do 
modo de herança da doença; e utilização de métodos de 
análise ampliados, a fim de abranger tanto o estudo com 
enfoque monogênico, como com enfoque poligênico.
16.4.2 Deficiência mental
16.4.2.1 Conceito, diagnóstico, epidemiologia, 
caracterização e etiologia
A deficiência mental é definida como o funcionamento 
intelectual inferior à média, que se manifesta geralmente 
antes dos 18 anos, com limitações significativas no fun-
cionamento adaptativo em pelo menos duas das seguin-
tes áreas de habilidades: comunicação, autocuidados, 
vida doméstica, habilidades sociais/interpessoais, uso de 
recursos comunitários, autossuficiência, habilidades aca-
dêmicas, trabalho, lazer, saúde e segurança. Destaca-se 
o comportamento adaptativo, porque uma pessoa com 
QI igual a 60, que mantenha seu emprego e suas relações 
interpessoais de maneira satisfatória, não seria conside-
rada deficiente. A rigor, a deficiência mental não é uma 
Quadro 16.1 Fatores que complicam o estudo 
genético das características patológicas do 
comportamento
Critérios diagnósticos variáveis
Erro diagnóstico e heterogeneidade clínica
Classificação inadequada dos fenótipos básicos e 
intermediários (espectro fenotípico)
Heterogeneidade etiológica
Efeitos de idade, sexo e coorte
Idade variável de início
Modos de herança complexos
Comorbidade
Fonte: Adaptada de Moldin & Gottesman.13
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doença; é o resultado de um processo patológico no encé-
falo caracterizado por limitações no nível final do funcio-
namento intelectual e adaptativo.
De acordo com o DSM-IV-TR,5 o diagnóstico de de-
ficiência mental depende da presença de QI abaixo da 
média, medido por um teste padronizado, e do déficit na 
função adaptativa, presente em pelo menos duas áreas de 
funcionamento.
Estima-se que 1% da população apresenta deficiên-
cia mental. Dessa parcela, 90% têm deficiência mental 
leve (QI entre 50 e 70) e 10% deficiência mental grave 
(QI abaixo de 50). Esse último nível pode ser subdividi-
do em deficiência mental moderada (QI entre 35 e 50), 
grave (QI entre 20 e 35) e profunda (QI abaixo de 20). A 
deficiência mental é aproximadamente 1,5 vez mais co-
mum em homens do que em mulheres. Em pessoas mais 
idosas, a prevalência é menor, porque nos casos graves 
ou profundos a taxa de mortalidade é alta, devido a com-plicações de distúrbios físicos associados. A Tabela 16.1 
apresenta algumas características diferenciais entre a de-
ficiência mental grave e a deficiência mental leve.
Com relação à etiologia, os casos de herança mono-
gênica abrangem, principalmente, os erros metabólicos 
hereditários (p. ex., fenilcetonúria, galactosemia, síndro-
me de Lesch-Nyhan e mucopolissacaridoses) e as síndro-
mes neurocutâneas (p. ex., neurofibromatose I, esclerose 
tuberosa, adrenoleucodistrofia e síndrome de Sturge-
-Weber); os casos devidos a alterações cromossômi-
cas evidentes correspondem, com maior frequência, às 
trissomias autossômicas do 21, 13 e 18 e às síndromes do 
X frágil, enquanto as anormalidades cromossômicas sutis 
(p. ex., microdeleções) resultam nas síndromes de genes 
contíguos (p. ex., síndrome de Zellweger, síndrome de Di 
George, síndromes de Prader-Willi e de Angelman). Cabe 
considerar que, até recentemente, a deficiência mental 
leve era atribuída praticamente só à herança multifa-
torial, mas o uso de técnicas citogenéticas sofisticadas 
evidenciou, em alguns casos, microalterações cromossô-
micas que seriam responsáveis pelo quadro leve de de-
ficiência mental e outras características clínicas, consti-
tuindo o grupo das síndromes de genes contíguos, 
anteriormente referido.
A etiologia ambiental está presente tanto na defi-
ciência mental grave como na leve, por meio de infecções 
virais, exposição a teratógenos físicos e/ou químicos, 
hipoxia ou trauma perinatal, ou, ainda, doença mater-
na (seu efeito, em geral, dependendo do estágio do de-
senvolvimento em que se dá a exposição a esses agentes 
etiológicos; ver Cap. 7). O aconselhamento, na deficiência 
grave, trata de evitar a recorrência em novos membros da 
irmandade do afetado; já na deficiência leve, a ênfase é na 
prevenção de descendentes deficientes.
Um tipo especial de deficiência mental é a ligada ao 
cromossomo X, cuja prevalência é de cerca de 2/1.000 
meninos, apresentando grande heterogeneidade genéti-
ca e fenotípica. Atualmente, são conhecidos mais de 200 
tipos de deficiência mental ligada ao cromossomo X, sub-
divididos em sindrômicos e não sindrômicos. A seguir, 
são apresentados alguns tipos mais frequentes: as sín-
dromes do X frágil e o transtorno de Rett.
Na mesma localização (Xq28) do sítio frágil FRAXE, 
foi detectado outro sítio frágil, denominado sítio frágil 
tipo ácido fólico, FRAXF (OMIM 300031), causado por 
uma mutação no gene FAM11A, que silencia sua transcri-
ção. Esse gene origina-se da ilha CpG (ver Cap. 1) do sítio 
frágil FRAXF e contém repetições do trinucleotídeo CGG 
na região não traduzida 5’. A expansão e a metilação des-
se trinucleotídeo na ilha CpG resulta em silenciamento 
Tabela 16.1 Características diferenciais da deficiência mental grave e leve
Características Deficiência mental grave Deficiência mental leve
Sinonímia Deficiência mental clínica Deficiência mental subclínica, familiar ou 
subcultural
Anomalias anatômicas Presentes (isoladas ou múltiplas) Geralmente ausentes
Cromossomos Com alterações evidentes Normais ou com alterações sutis
Estatura e perímetro cefálico Crescimento reduzido e perímetro cefálico 
anormal
Ambos dentro dos limites normais
QI Inferior a 50 Entre 50-70
Problemas predominantes Distúrbios neurológicos Problemas emocionais
Erros metabólicos hereditários Frequentes Raros
Fertilidade Geralmente ausente Inferior à da população em geral
Nível socioeconômico Variado Geralmente baixo
Tipo de herança Monogênica (erros metabólicos), 
cromossômica (síndromes cromossômicas) 
ou ambiental (infecção, drogas, etc.)
Multifatorial (maioria dos casos), 
microdeleções cromossômicas (síndrome 
dos genes contíguos) ou ambiental
Genitores e irmãos dos afetados QI normal Geralmente apresentam baixo QI
Fonte: Sadock e Sadock,1 Bregman e Harris14 e Vogel e Motulsky.15,16
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Síndromes do X frágil e transtorno 
de RETT
Síndrome de deficiência mental do X 
frágil (FRAXA; OMIM 300624)
Sinonímia – Síndrome do X frágil, síndrome de 
Martin-Bell, síndrome da deficiência mental ligada ao 
X com macrorquidia, síndrome do X marcador, defi-
ciência mental ligada ao X associada ao marXq28. No 
sexo feminino, insuficiência ovariana prematura ou 
primária associada ao X frágil.
Localização cromossômica – Xq27.3.
Frequência – Encontra-se entre 1/1.000 
homens e 1/2.000 mulheres e 1/4.000 homens e 
1/8.000 mulheres, sendo a forma mais comum de de-
ficiência mental hereditária. A FRAXA responde por 
3 a 6% dos casos de deficiência mental entre meninos 
com história familiar positiva de deficiência mental 
e nenhum defeito de nascimento. É responsável por 
50% dos casos de deficiência mental ligada ao cro-
mossomo X e é a segunda causa mais comum de defi-
ciência mental depois da trissomia 21.
Genética – A FRAXA é causada por uma mu-
tação no gene FMR1 (OMIM 309550); a maioria 
dos casos mostra expansão instável, na região não 
traduzida 5’, do trinucleotídeo (CGG)n, em geral com 
mais de 200 repetições, e metilação gênica anormal, 
silenciando o gene e suprimindo sua transcrição, com 
a consequente redução dos níveis de seu produto pro-
teico no encéfalo, uma proteína de ligação ao mRNA. 
A ausência dessa proteína, envolvida na regulação de 
sua tradução e na de outros tipos de mRNA presentes 
no encéfalo, causa os aspectos clínicos da FRAXA.
As pessoas que não têm essa mutação apresentam 
de 6 a 55 cópias do referido trinucleotídeo, herdadas 
de maneira estável; e as que apresentam de 56 a 200 
repetições têm o que é chamado pré-mutação, cau-
sando a síndrome de ataxia/tremor do X frágil (FX-
TAS; OMIM 300623). Recentemente, uma revisão da 
síndrome do X frágil caracterizou a FRAXA como um 
distúrbio no desenvolvimento neurológico e a FXTAS, 
como um distúrbio neurodegenerativo.
A FRAXA tem um padrão de herança peculiar: o 
gene FMR1 mostra 80% de penetrância nos homens 
e 30% nas mulheres. A baixa penetrância do gene e 
a expressividade variável no sexo feminino parecem 
relacionar-se com a inativação do X. As expansões do 
trinucleotídeo CGG tendem a se tornar maiores, nas 
gerações sucessivas, até caracterizarem uma pré-mu-
tação (FXTAS) ou uma mutação completa (FRAXA). 
Quanto maior for o número dessas expansões, mais 
grave será o quadro clínico.
A denominação de síndrome do X frágil é devida 
à aparência do cromossomo X, que mostra um sítio 
propenso a quebra, próximo ao telômero do braço 
longo desse cromossomo (banda Xq27.3). Esse sítio 
frágil apresenta-se como uma lacuna ou região não 
corada, geralmente envolvendo as duas cromátides, 
que pode quebrar facilmente e pode ser observada em 
preparações citogenéticas especiais (ver Cap. 4). Nas 
mulheres são utilizadas técnicas especiais para a iden-
tificação das heterozigotas.
Características clínicas – Peso normal ao nas-
cer. Geralmente, os recém-nascidos têm peso e com-
primento maiores do que seus irmãos normais, bem 
como grande perímetro cefálico; QI varia de 30 a 65, 
mas às vezes é normal; ocasionalmente, têm autismo 
ou hiperatividade na infância e temperamento amigá-
vel, timidez e ausência de agressividade na adolescên-
cia; fala repetitiva ou vacilante; face alongada, testa 
e mandíbula proeminentes, palato ogival, hipoplasia 
mediofacial, orelhas grandes e antevertidas; macror-
quidia (3-4 cm3 na infância, quando o tamanho nor-
mal é de 2 cm3; 30-60 cm3 na adolescência, quando o 
normal é inferior a 25 cm3); ocasionalmente, epilep-
sia, reflexos aumentados nas extremidades inferiores, 
ginecomastia, pele fina, espessamento do escroto.
Um quinto dos homens e dois terços das mulhe-
res que apresentam a mutação do X frágil não mos-
tram sinais clínicos.
Síndrome de deficiência mental associada 
ao X frágil (FRAXE; OMIM 309548)
Sinonímia – Síndrome de deficiência mental do 
sítio frágil E.
Localização cromossômica – Xq28.
Frequência – É um tipo de deficiência mental 
não sindrômica, presente em 1/50.000 recém-nasci-
dos do sexo masculinoou em 1/100.000 a 1/150.000 
indivíduos da população geral.
Genética – A FRAXE é causada por uma mu-
tação que silencia o gene FMR2 (OMIM 300806), 
também conhecido como AFF2; a maioria dos casos 
mostra expansão instável de um trinucleotídeo di-
ferente, (CCG)n, na região não traduzida 5’ do gene 
FMR2, no sítio frágil FRAXE, cuja localização é distal 
à do sítio FRAXA. A expansão e a hipermetilação 
das repetições CCG resultam em deficiência mental 
nessa síndrome. Em pessoas normais, existem entre 
6 e 25 repetições CCG, enquanto nos afetados são 
observadas cerca de 200 cópias. O mosaicismo é 
frequente e a deficiência mental menos grave do que 
nos pacientes com FRAXA.
Características clínicas – Deficiência mental 
leve a moderada, associada a dificuldades de apren-
dizagem; déficits de comunicação, problemas de 
atenção, hiperatividade e comportamento autista; 
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transcricional do gene. Todavia, existem poucos dados a 
respeito desse sítio frágil. A Figura 16.3 mostra crianças 
e adultos com a síndrome do X frágil (FRAXA) e um here-
dograma ilustrativo da herança dessa síndrome.
Em torno de um terço dos casos de deficiência men-
tal de todos os tipos poderiam ser evitados da seguinte 
forma: de 7 a 9% são evitáveis mediante diagnóstico pré-
-natal em mulheres com mais de 35 anos; de 7 a 10% são 
secundariamente evitáveis pelo aconselhamento genéti-
co e amniocentese após o nascimento de uma primeira 
criança afetada; e de 20 a 22% poderiam ser prevenidos 
mediante uma melhoria do atendimento pré, peri e pós-
-natal, prevenindo-se, por exemplo, os casos devidos à 
rubéola, por meio de vacinação das futuras mães, bem 
como muitas das paralisias cerebrais, por meio da profi-
laxia obstétrica e perinatal, além de outras medidas.
16.4.3 Transtorno autista
O transtorno autista é um dos cinco transtornos globais 
do desenvolvimento,5 e, com a síndrome de Asperger e o 
transtorno global do desenvolvimento sem outra espe-
cificação, compõe a tríade denominada por alguns pes-
quisadores como “transtornos do espectro do autismo”. 
O “fenótipo autista”, considerado em sentido amplo, 
abrange os indivíduos com alguns sintomas de autismo, 
mas que não preenchem todos os critérios diagnósticos 
desse transtorno.
Desde 1867, já era conhecido um transtorno men-
tal que afetava precocemente as crianças, incluído então 
no grupo das psicoses. Em 1907, Eugen Bleuler cunhou 
o termo autismo para designar um modo de estar no 
mundo, caracterizado por perda do contato com a reali-
dade e grande dificuldade ou impossibilidade de comu-
nicação. Em 1943, Leo Kanner retomou esse termo para 
designar uma doença autônoma da infância, de caracte-
rísticas semelhantes às da doença designada por Bleuler, 
chamando-a autismo infantil e fazendo o primeiro rela-
to abrangente desse transtorno. Kanner definiu-o como 
uma incapacidade precoce para desenvolver o contato 
afetivo comum interpessoal, propiciado biologicamente, 
e sugeriu a presença de um defeito inato, provavelmente 
genético, nos afetados.
16.4.4 Transtornos do humor
Essa categoria abrange um grande grupo de transtor-
nos psiquiátricos, cujo quadro clínico apresenta afetos 
patológicos e distúrbios vegetativos e psicomotores cor-
relatos. Anteriormente denominados de “transtornos 
afetivos”, sua denominação atual é preferida por se re-
ferir a estados emocionais persistentes e não meramen-
ocasionalmente, microcefalia, baixa estatura e atraso 
no desenvolvimento.
Transtorno de Rett (OMIM 312750)
Sinonímia – Síndrome de Rett, síndrome de 
Rett variante (com preservação da fala), síndrome de 
Rett atípica, síndrome de Rett, variante Zappella.
Localização cromossômica – Xq28.
Frequência – Esse transtorno ou síndrome é 
observado quase exclusivamente no sexo feminino, 
com frequência de 1/15.000 a 1/20.000 meninas.
Genética – Esse transtorno parece ser causado 
por uma mutação no gene MECP2 (OMIM 300005), 
que codifica uma proteína de ligação à CpG metilada; 
essa proteína, estando associada à cromatina, pode 
ativar ou reprimir a transcrição e é necessária para 
a maturação dos neurônios. Alguns autores conside-
ram que a encefalopatia epiléptica infantil precoce 
tipo 2 (OMIM 300672) seja uma forma atípica e 
grave da síndrome de Rett, causada por mutação no 
gene CDKL5 (OMIM 300203), localizado em Xp22 e 
codificador de uma proteinoquinase dependente de 
ciclina.
Há também uma variante congênita (OMIM 
613454), com características semelhantes à da sín-
drome de Rett típica, porém de início muito precoce. 
Nesse caso, o gene envolvido é o FOXG1 (OMIM 
164874), localizado no 14q13 e codificador de um fator 
de transcrição do desenvolvimento, com atividade 
repressora.
Características clínicas – No transtorno de 
Rett típico, após o desenvolvimento pós-natal, apa-
rentemente normal, o ritmo de desenvolvimento 
torna-se mais lento e, em torno do primeiro ano de 
idade, surgem os primeiros sinais de deterioração 
neurológica. A desaceleração do crescimento cefálico 
acompanha-se de deficiência mental, perda de habili-
dades motoras, linguísticas e adaptativas, movimen-
tos contínuos e estereotipados das mãos, apraxia e 
comportamento autista. Durante a adolescência e a 
vida adulta, aumentam as dificuldades esqueléticas 
e neuromusculares, ainda que, em alguns casos, as 
habilidades cognitivas e sociais possam apresentar 
uma pequena melhora. Outros aspectos ocasionais: 
convulsões, escoliose e respiração irregular, com epi-
sódios de hiperventilação, apneia e respiração presa. 
Pacientes que alcançam a idade adulta permanecem 
em um nível cognitivo e social equivalente ao do pri-
meiro ano de vida.
Alguns indivíduos com transtorno de Rett re-
cebem diagnósticos iniciais de transtorno autista, 
devido às suas dificuldades nas interações sociais, por 
isso deve ser realizado o diagnóstico diferencial entre 
ambos os transtornos.
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te a expressões externas (afetivas) do estado emocional 
presente. Esses transtornos são mais considerados como 
síndromes (em vez de doenças distintas) com sinais e 
sintomas mantidos durante semanas a meses, represen-
tando um desvio significativo do funcionamento habi-
tual do indivíduo e com tendência recorrente, de forma 
periódica ou cíclica.
A maioria das pessoas tem um padrão característi-
co de oscilações afetivas básicas que define seu tempe-
ramento. De um modo geral, agrupam-se em três tipos 
de estado de humor: normal, elevado e deprimido (ou 
depressivo). Os indivíduos com estado de humor normal 
têm uma ampla gradação de estados de humor e expres-
sões afetivas, mas se sentem no controle de seu tempe-
A
50-55 repetições CGG
0% 0%
I
II
III
IV
V
60-70
40% 16% 50% 20%
5% 9%
NTM
40%0% 16% 
Pessoas
afetadas
têm > 200
repetições
B
60-70
70-90
70-90 >90
Figura 16.3
A – Meninos e adultos com a síndrome do X frágil. Note as faces alongadas, mandíbula proeminente, orelhas grandes e 
as características similares de indivíduos de grupos étnicos diferentes. B – Um heredograma mostrando a herança da sín-
drome do X frágil. As mulheres que têm uma pré-mutação (56 a mais de 200 repetições CGG) estão assinaladas com um 
ponto. As pessoas afetadas são representadas por símbolos escuros. Um homem transmissor normal, que tem uma pré-
-mutação de 60 a 70 repetições, é chamado de NTM (do inglês normal transmitting male) Note que o número de repeti-
ções aumenta cada vez que a mutação é transmitida por outra mulher. Apenas 5% das irmãs de NTM são afetadas, e só 9% 
de seus irmãos são afetados, enquanto 40% de seus netos e 16% das netas são afetadas.
Fonte: Gelehrter e colaboradores,17 Jorde e colaboradores18 e Lewis.19
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ramento. Nos transtornos do humor, a sensação de con-
trole é perdida e há uma experiência subjetiva de grande 
sofrimento. No temperamento depressivo, a pessoa ten-
de na direção da tristeza; no temperamento hipertímico, 
a pessoa se inclina a humores alegres;no temperamento 
ciclotímico, a pessoa oscila entre humores alegres e tris-
tes. A Tabela 16.2 apresenta as principais característi-
cas dos temperamentos depressivo e hipertímico; o tem-
peramento ciclotímico alterna características de ambos. 
Os temperamentos podem persistir por toda a vida do 
indivíduo ou podem ser o ponto de partida para trans-
tornos do humor.
Transtorno autista (OMIM 209850)
Sinonímia – Autismo, autismo infantil precoce, 
autismo da infância, autismo de Kanner, transtorno 
do espectro do autismo, suscetibilidade ao autismo 1.
Características clínicas – Esse transtorno 
manifesta-se geralmente antes dos 3 anos e se caracte-
riza por ausência ou limitação da comunicação verbal, 
falta de interação social recíproca ou responsividade 
e padrões de interesses, atividades e comportamentos 
ritualizados, repetitivos, estereotipados e restritos. 
Cerca de 75% dos indivíduos afetados apresentam defi-
ciência mental, sendo grave em 50%, e leve a moderada 
na porcentagem restante; presença de convulsões em 
cerca de 30% e anormalidades eletrencefalográficas 
em 20 a 50% dos casos; aumento ventricular detectado 
por tomografia computadorizada em 20 a 25% dos 
afetados; hipoplasia dos lóbulos VI e VII do verme do 
cerebelo e anormalidades corticais. Em 15 a 40% dos 
casos de transtorno autista, há comorbidade com doen-
ças genéticas conhecidas (p. ex., síndrome do X frágil e 
esclerose tuberosa) ou com alterações cromossômicas 
(p. ex., síndrome de Down e duplicações do 15q), o que, 
segundo alguns autores, poderia refletir distúrbios em 
uma via neurobiológica comum, genes de suscetibilida-
de em comum e desequilíbrio de ligação.
Miles e colaboradores20 apresentaram um siste-
ma de avaliação de características dismórficas, para 
facilitar a identificação de pacientes com autismo 
por profissionais da área clínica. As regiões corporais 
incluídas nessa avaliação são estatura, padrão de 
crescimento capilar, forma e localização das orelhas, 
tamanho do nariz, estrutura facial, filtrum, boca, lá-
bios e dentes, mãos e pés, dedos e unhas. Esse sistema 
mostrou mais de 80% de sensibilidade e entre 95 e 
99% de especificidade.
Tabela 16.2 Principais características dos temperamentos depressivo e hipertímico
Depressivo Hipertímico
Sombrio, incapaz de divertir-se, queixoso Alegre e exuberante, expansivo
Sem senso de humor Loquaz e brincalhão, com fuga de ideias
Dificuldade de concentração Dificuldade de concentração
Cético, pessimista e dado a preocupações intensas Excessivamente otimista e despreocupado
Propenso a culpa, baixa autoestima e preocupado com 
inadequação e fracasso
Superconfiante, elevada autoestima, conta vantagens e é 
grandioso
Introvertido, com vida social restrita Extrovertido e sempre em busca de pessoas
Lento e passivo, leva uma vida sem ação, baixo nível de energia Alto nível de energia, cheio de planos e atividades 
imprevidentes
Poucos interesses, que podem ser abordados com relativa 
constância
Versátil, com amplos interesses
Ideias de morte ou suicídio Superenvolvido e intrusivo
Confiável e devotado Desinibido e em busca de estímulos
Geralmente dorme muito (� 10 h/noite) Geralmente dorme pouco (< 6 h/noite)
Fonte: Sadock e Sadock,1 e Akiskal.21
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para 
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual 
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

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