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1. CONHECER OS TRANSTORNOS DO ESPECTRO AUTISTA (TEA). O autismo é um distúrbio no desenvolvimento neurológico de etiologia desconhecida, porém com forte base genética. Desenvolve-se e é tipicamente diagnosticado antes dos 36 meses de idade. Caracteriza-se por um fenótipo do comportamento que inclui comprometimento qualitativo nas áreas do desenvolvimento da linguagem ou das capacidades de comunicação, das interações sociais recíprocas e da atividade imaginativa e da brincadeira. • Epidemiologia A taxa de prevalência de todos os transtornos globais do desenvolvimento parece ser de 58,7 por 10.000 crianças. Esta taxa de prevalência inclui autismo (22 em 10.000), sindrome de Asperger (11 em 10000), transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação 24,8 em 11 0.000) e transtorno desintegrativo da infância [O,9 em 10.000). Isto é consistente com pesquisa prévia que identificou a prevalência de todos os transtornos globais do desenvolvimento como sendo de 60 em 10000. A incidência do diagnóstico de autismo pode ter aumentado. Há evidências de que o aumento do número de crianças identificadas com autismo provavelmente está relacionado a alterações da definição e dos critérios de diagnóstico para autismo, bem como a melhoras do reconhecimento do autismo em idades mais baixas. Um aumento dos serviços de diagnóstico à disposição, dos serviços para tratamento e dos profissionais treinados em transtornos globais do desenvolvimento infantil aumentou demasiadamente a capacidade do sistema de assistência à saúde de identificar e tratar, em idades mais baixas, crianças com os transtornos do espectro autista. • Etiologia 1. Fatores genéticos A causa exata do autismo é desconhecida, acredita-se que seja multifatorial, com forte influência genética. Há uma taxa de concordância de 60% a 95% para gêmeos monozigóticos e 0% de taxa de concordância para gêmeos dizigóticos. Há uma taxa de concordância de 92% para gêmeos monozigóticos e uma taxa de concordância de 30% para gêmeos dizigóticos para o espectro mais amplo de dificuldades sociais e de comunicação. Acredita-se que o componente genético do autismo seja heterogêneo, atribuído a até 100 genes e foram identificados anormalidades genéticas do autismo nos genes mitocondriais e em todos os cromossomos, exceto no 14 e no 20. Acredita-se que múltiplos genes interajam com causas ambientais variadas para produzir o transtorno, e que os genes causadores podem variar de uma população para outra. Em razão da heterogeneidade complexa e do fenótipo comportamental variável do autismo, estudos de ligação não identificaram regiões cromossômicas específicas que se acredite universalmente abrigarem os genes causadores do autismo. Em comparação a outros distúrbios de um fenótipo comportamental semelhante, acredita-se que certos genes estejam mais fortemente implicados na hereditariedade do autismo, incluindo o cromossomo 7q [visto no fenótipo comportamental semelhante do transtorno com um comprometimento específico da linguagem), o cromossomo 2q e o cromossomo 15q11-13 (visto na síndrome de Prader-Willi e na síndrome de Angelman, ambas as quais manifestam traços de rigidez e comportamentos estereotipados). O autismo e o transtorno de Asperger são quatro a oito vezes mais prevalentes no sexo masculino que no feminino, respectivamente, sugerindo um forte componente ligado a X. O autismo também está ligado a outros distúrbios do neurodesenvolvimento, incluindo transtornos epilépticos, na síndrome do X frágil e esclerose tuberosa. Têm sido explorados vários componentes ambientais como causadores no autismo. Apesar de noções antes defendidas, o autismo não se associa a certos estilos de criação emocionalmente distantes (“mães geladeiras"- Essa teoria diz que a mãe geladeira é fria com o filho autista (por isso é chamada dessa forma).]. Muitos estudos epidemiológicos excelentes estabeleceram que não há associação entre a administração da vacina contra sarampo-caxumba- rubéola e o desenvolvimento de autismo. Alguns estudos genéticos identificaram dois sistemas biológicos que são influenciados no autismo: a descoberta consistente de níveis elevados de serotonina plaquetária (5-HT) e do alvo mTOR (do inglês mammalian target of rapamycin), ou seja, mecanismos de plasticidade sináptica ligados ao alvo da rapamicina em mamíferos, que aparentemente se rompe no transtorno do espectro autista. O mais comum desses transtornos hereditários é a síndrome do X frágil, um transtorno recessivo ligado ao X que está presente em 2 a 3% dos indivíduos com transtorno do espectro autista. A síndrome do X frágil apresenta uma repetição de nucleotídeos na região 5’ não traduzida do gene FMNR1. Via de regra, crianças com essa síndrome possuem in capacidade intelectual, problemas motores graves e finos, expressão facial atípica, macro-orquidismo e habilidade linguística expressiva significativamente reduzida. Esclerose tuberosa, outro distúrbio genético caracterizado pela presença de vários tumores benignos, herdada por transmissão autossômica dominante, é encontrada com maior frequência entre crianças com transtorno do espectro autista. Pesquisadores que rastrearam o DNA de mais de 150 pares de irmãos com transtorno do espectro autista encontraram evidências de duas regiões nos cromossomos 2 e 7 contendo genes que podem contribuir para a condição. Genes adicionais supostamente também envolvidos no transtorno foram encontrados nos cromossomos 16 e 17. 2. Fatores imunológicos Há diversos relatos sugerindo que a incompatibilidade imunológica (i.e., anticorpos maternos direcionados ao feto) pode contribuir para o transtorno do espectro autista. Os linfócitos de algumas crianças autistas com anticorpos maternos permitem pensar que os tecidos neurais embrionários tenham sido lesionados durante a gestação. 3. Fatores pré e perinatais Os fatores pré-natais mais significativos associados a esse transtorno em descendentes são idade materna e paterna avançada no momento do nascimento do bebê, hemorragia gestacional materna, diabetes gestacional e bebê primogênito. Os fatores de risco perinatais incluem complicações no cordão umbilical, trauma no nascimento, desconforto fetal, feto pequeno para a idade gestacional, peso baixo ao nascer, baixo índice de Apgar no quinto minuto, malformação congênita, incompatibilidade do grupo sanguíneo ABO ou do fator Rh e hiperbilirrubinemia. Muitas das complicações obstétricas relacionadas ao risco do transtorno também são fatores de risco para hipoxia que, em si mesma, pode ser um fator de risco subjacente. Não há evidências suficientes para implicar isoladamente qualquer dos fatores de risco pré-natais e perinatais na etiologia do transtorno do espectro autista, e alguma predisposição genética para o transtorno pode estar interagindo com fatores perinatais. • Fisiopato Achados neuroanatômicos: A análise retrospectiva do perímetro cefálico em crianças com autismo,juntamente com estudos por RM, tem mostrado diferenças na estrutura cerebral de crianças com autismo, em comparação a crianças sem autismo. O perímetro cefálico das crianças com autismo é normal ou discretamente menor que o normal ao nascimento até dois meses de idade. Estudos longitudinais de crianças com autismo mostraram um aumento anormalmente rápido do perímetro cefálico dos 6 aos 14 meses de idade, o que se concluia ao final do segundo ano de vida. Estudos por RM feitos na idade de 2-4 anos mostram que os autistas desta faixa etária têm aumento do volume cerebral caracterizado por aumento do volume do cerebelo, do telencéfalo e do corpo amigdalóide, em comparação aos volumes normais. O crescimento anormal nos dois primeiros anos é mais acentuado nas regiões frontal, temporal, cerebelar e límbicado cérebro, as areas do cérebro responsaveis pelas funções cognitivasde ordem superior, de linguagem, emocionais e sociais, as que são mais comprometidas no autismo. Este período de crescimento acelerado inicial parece cessar cedo na infância e é seguido por crescimento anormalmente lento ou por parada do crescimento, resultando em subdesenvolvimento de áreas e em circuitos anormais em partes do cérebro. Levanta-se a hipótese de que o crescimento pós-natal do cérebro se dê em resposta a eventos pré-natais adversos; esta associação continua a ser especulativa. Estudos adicionais de neuroanatomia em crianças com autismo têm demonstrado alterações anatômicas no giro cingulado anterior, uma área do cérebro associada à tomada de decisões e à atribuição de sentimentos e pensamentos. Têm sido documentados déficits no sistema reticular ativador, alterações cerebelares estruturais, lesões prosencefálicas no hipocampo e anormalidades neurorradiológicas em áreas dos lobos pré-frontal e temporal, e achados neuroquímicos anormais também se associaram ao autismo; ademais, foram implicados os níveis ou as vias de dopamina, catecolaminas e serotonina. • Biomarcadores Há vários biomarcadores de sinalização anormal no sistema 5-HT, nos mecanismos de plasticidade sináptica ligados ao mTOR e nas alterações do sistema inibitório do ácido -aminobutírico (GABA, do inglês gamma- aminobutyric acid). O primeiro biomarcador identificado no transtorno do espectro autista foi um nível elevado de serotonina no sangue total, quase apenas nas plaquetas. Estas adquirem o 5-HT por meio do processo do transportador de serotonina (SERT, do inglês serotonin transporter), reconhecidamente hereditário, à medida que atravessam a circulação intestinal. Os genes que fazem a mediação do SERT (SLC64A) e o gene 5-HT 2A do receptor 5-HT (HTR2A) são mais herdáveis do que o transtorno do espectro autista e codificam a mesma proteína nas plaquetas e no cérebro. Considerando-se que o 5-HT está envolvido no desenvolvimento encefálico, é possível que as alterações em sua regulação resultem em alterações na migração neuronal e no crescimento do cérebro. Um dos estudos sobre o tema acompanhou desenvolvimento no tamanho da amígdala em um jovem com transtorno do espectro autista durante os primeiros anos de vida e, da mesma forma, observou que houve um aumento de tamanho nos primeiros anos, seguido por uma redução ao longo do tempo. Diversos estudos verificaram que houve também um aumento no tamanho do estriado em crianças mais jovens com esse transtorno, com uma correlação positiva entre o tamanho estriatal e a frequência de comportamentos repetitivos. O processo dinâmico do volume cerebral total atípico e em alteração, observado em crianças com o transtorno do espectro autista, dá suporte à hipótese abrangente de que há períodos sensíveis ou ”períodos críticos” na plasticidade cerebral que poderão ser rompidos de modo que contribuam para o surgimento do transtorno do espectro autista. Alguns desses estudos apresentaram evidências de que indivíduos com o transtorno do espectro autista têm a tendência a escanear faces de maneira diferente dos controles, visto que focalizam mais a região da boca do que a dos olhos, em vez de escanearem todo o resto diversas vezes; os indivíduos com esse transtorno focalizam mais as características individuais da face. Em resposta a alguns estímulos socialmente relevantes, os pesquisadores concluíram que esses indivíduos apresentam maior estimulação da amígdala. No que diz respeito à “teoria da mente”, isto é, a capacidade para atribuir estados emocionais a outras pessoas e a si próprios, os estudos de IRMf encontraram diferenças na ativação de regiões do cérebro, tais como o lobo temporal direito, e de outras áreas que reconhecidamente são ativadas em controles durante a execução de tarefas envolvendo a teoria da mente. Alguns pesquisadores levantaram a hipótese de que essa diferença represente uma disfunção no sistema de neurônios-espelho (MNS, do inglês mirror neuron system). Padrões atípicos de ativação do lobo central foram encontrados em diversos estudos do transtorno do espectro autista durante as tarefas de processamento da face, indicando que essa área do cérebro é de extrema importância na percepção social e no raciocínio emocional. Pesquisadores elaboraram a hipótese de que os indivíduos com esse transtorno utilizam mais as estratégias visuais durante o processamento da linguagem do que aqueles do grupo-controle, com base na ativação reduzida nesses indivíduos nas regiões frontais do lado esquerdo do cérebro durante a execução de tarefas que se fundamentam na memória e na linguagem. • Quadro clínico Apesar da variabilidade do padrão clínico, todas as crianças com autismo manifestam um certo grau de comprometimento nas áreas de interação social recíproca, comunicação e padrões restritivas e estereotipados repetitivos do comportamento, dos interesses ou das atividades. Embora não haja sintoma ou comportamento patognomôníco visto em todas as crianças com autismo, a maioria das crianças tem um certo comprometimento na atenção compartilhada ou nas brincadeiras de faz de conta. A atenção compartilhada ê a capacidade de usar o contato visual e o apontar para finalidades de compartilhar experiências com outros. É uma capacidade que tipicamente se desenvolve por volta dos 18 meses. Outras capacidades precursoras da atenção compartilhada que costumam estar ausentes nas crianças com autismo são o apontar protormperativo [uso do apontar para obter um objeto de desejo) e o apontar protodeclarativo (uso do apontar para um objeto de interesse simplesmente para compartilhar seu interesse com outra pessoa). Algumas crianças com autismo podem não fazer contato visual e parecem totalmente distantes, enquanto que outras podem mostrar envolvimento intermitente com seu ambiente e podem fazer contato visual inconsistente, sorrir e abraçar. Estes comportamentos sociais costumam vir sob as próprias condições da criança e são difíceis de desencadear de uma outra pessoa. As crianças com autismo também apresentam capacidades verbais variáveis. Elas podem variar de não-verbais à faia avançada, capacidade de imitar canções, rimas ou comerciais de televisão. O que é mais notável nas crianças com autismo é a qualidade de sua fala e linguagem. A fala pode ter uma prosódia ou entonação estranha e pode ser caracterizada por ecolalia, inversão de pronomes, rimas sem sentido e outras formas idiossincráticas de linguagem. As funções intelectuais podem variar do retardo mental às funções intelectuais superiores em áreas seletivas. Algumas crianças com autismo mostram um desenvolvimento típico em certas habilidadese podem até mostrar pontos fortes em áreas específicas, como quebra-cabeças, arte ou música. As capacidades de brincar das crianças com autismo são tipicamente aberrantes, caracterizadas por poucas brincadeiras simbólicas,rigidez ritualista e preocupação com partes de objetos. Também são comuns os movimentos corporais estereotipados, uma necessidade acentuada de uniformidade e uma faixa de interesses muito estreita. A criança autista costuma ser retraída e passa horas brincando solitariamente. Prevalece o comportamento ritualista, refletindo a necessidade da criança de manter um ambiente consistente e previsível. Os acessos de raiva podem acompanhar as rupturas da rotina. O contato visual tipicamente está ausente ou é mínimo. A varredura visual dos movimentos das mãos e dos dedos, o toque de objetos com a boca e o esfregar de superfícies podem indicar um aumento da consciência e da sensibilidade a alguns estímulos, enquanto que a diminuição das respostas à dor e a falta de respostas de susto a ruídos intensos e súbitos refletem baixa sensibilidade a outros estímulos. • Diagnóstico O desenvolvimento aberrante das capacidades sociais é a marca de autenticidadedos transtornos do espectro do autismo (TEAs), e os déficits iniciais das capacidades sociais podem incluir contato visual anormal, falta de orientação para o nome, falta de uso de gestos para apontar ou mostrar, falta de brincadeiras interativas, falta de sorriso, falta de compartilhar e falta de interesse em outras crianças. Atrasos combinados de linguagem e sociais e regressão dos marcos de linguagem ou sociais são alertas precoces importantes de um TEA e devem levar a urna avaliação imediata. Os sinais precoces incluem uso incomum da linguagem ou perda das capacidades de linguagem, rituais não-funcionais, incapacidade de se adaptar a novas situações, falta de imitação e ausência de brincadeiras imaginárias. A análise retrospectiva de vídeos domésticos mostra que os desvios do desenvolvimento social e emocional, como a diminuição do contato visual, a falta de orientação para o nome e a falta de atenção compartilhada, costumam ser detectados por volta de um ano de idade. A ausência dos comportamentos sociais, de comunicação e lúdicas esperados costuma preceder a emergência de comportamentos estranhos ou estereotipados com uso incomum de linguagem que são vistos no autismo nos anos posteriores. Foram desenvolvidos vários instrumentos de triagem para auxiliar na detecção precoce de crianças com TEAs. A Checklist for Autism in Toddlers (CHAT) é um instrumento de triagem elaborado para uso com crianças de 18 meses em estabelecimentos de atendimento primário. A CHAT combina respostas dos pais a uma breve entrevista com observação direta das condições clínicas. Embora seu valor preditivo positivo seja alto, mostrou baixa sensibilidade.A Modified Checklist for Autism i.n Toddlers (M-CHAT] é um questionário de 23 itens para os pais que foi modificado a partir da CHAT. Tem mostrado sensibilidade e especificidade boas,o que sugere sua utilidade como instrumento de triagem. O Pervasive Developmental Disorders Screening 'Test (PDDST) é uma pesquisa respondida pelos pais e que visa a crianças do nascimento aos três anos de idade e incorpora uma abordagem em três níveis: um para a clínica de atendimento primário, um para a clínica de desenvolvimento e um para a clínica multidisciplinar de autismo. Todos os três níveis contêm itens que medem vários aspectos de linguagem, habilidades sociais, brincadeiras de faz-de-conta, fixação, respostas sensitivas e estereotipias motoras. Nas crianças com TEAs, a inteligência, medida por testes psicológicos convencionais, geralmente cai na faixa funcionalmente retardada; os déficits de linguagem e de socialização tornam difícil obter uma estimativa precisa do potencial intelectual da criança autista. Algumas crianças autistas têm desempenho adequado em testes não verbais, e aquelas com fala desenvolvida podem mostrar capacidade intelectual adequada. As crianças autistas também mostram déficits de compreensão sobre o que a outra pessoa possa estar sentindo ou pensando, o que é chamado falta de uma teoria da mente. Em alguns testes psicológicos, as crianças com autismo prestam mais atenção a detalhes especificos, enquanto não percebem a gestalt inteira de um objeto, demonstrando falta de coerência central. Uma avaliação abrangente deve sempre incluir exame físico minucioso, prestando-se atenção especial ao perímetro cefálico. Vinte e cinco por cento das crianças com um TEApodem ter macrocefalia, mas o aumento do tamanho da cabeça pode não ficar aparente até depois do segundo ano de vida. Na ausência de características dismórficas ou de sinais neurológicos focais, geralmente não estão indicadas neuroimagens adicionais para investigação da macrocefalia. Deve ser observada a presença de outros estigmas físicos e deve ser realizado o exame da pele com luz de Wood para procurar lesões hipopígmentadas que podem ser vistas na esclerose tuberosa. Deve-se prestar atenção especial para identificar as características dismórficas da síndrome do X frágil [face longa, orelhas grandes, testículos grandes) e da síndrome de Angelman (marcha atáxica, boca larga). Devem ser realizadas uma avaliação audiológica e uma avaliação abrangente da fala e da linguagem em qualquer criança com atrasos da linguagem. Deve ser verificado o nível de chumbo se a criança mostrar sinais de pica ou se morar num ambiente de alto risco. Deve ser realizada análise cromossômica se a criança tiver evidências de retardo mental e características dismórficas; deve ser realizado um eletroencefalograma em crianças com TEAs que tenham sintomas de regressão do desenvolvimento ou suspeita de crises convulsivas. 1. Triagem o M chat O M-CHAT é um teste de triagem e não de diagnóstico e é exclusivo para sinais precoces de autismo e não para uma análise global do neurodesenvolvimento. A recomendação da SBP é o Questionário Modificado para Triagem do autismo em Crianças entre 16 e 30 meses, Revisado, com Entrevista de Seguimento (M-CHAT-R/F). Baixo risco: pontuação total é de 0-2; se a criança for menor que 24 meses, repetir o M- -CHAT-R em 24 meses. Não é necessária qual quer outra medida, a não ser que a vigilância indique risco de TEA. Risco moderado: pontuação total é de 3-7; administrar a Entrevista de Seguimento (segunda etapa do M-CHAT-R/F, anexo 2) para obter informação adicional sobre as respostas de risco. Se a pontuação do M-CHAT-R/F continuar igual ou superior a 2, a criança pontua positivo para TEA na triagem, se for pontuação 0-1 pontua como negativo para triagem do autismo. Não é necessária qualquer outra medida, a não ser que a vigilância indique risco de TEA, a criança deverá fazer triagem novamente em futuras consultas de rotina. Alto risco: Pontuação total é de 8-20; pode-se prescindir da necessidade da Entrevista de seguimento e deve-se encaminhar a criança para avaliação diagnóstica e também para avaliação de necessidade de intervenção. o M chat R-F O M-CHAT-R/F é desenhado para ser utilizado com o M-CHAT-R, validado para rastreio em crianças de 16 a 30 meses de vida para avaliar o risco do TEA. Podem ser usados para fins clínicos, de pesquisa e educacionais, são instrumentos com direitos autorais e uso é limitado pelos autores e detentores do direito. Cada página da entrevista corresponde a um item do M-CHAT-R; siga o formato do organograma, fazendo perguntas até pontuar PASSA OU FALHA. O M-CHAT-R/F contém os mesmos itens do M-CHAT-R, porém as respostas obtidas são: passa ou falha, e não apenas sim ou não, e somente os itens em que a criança falhou inicialmente necessitam ser administrados para a entrevista completa. A entrevista será considerada pontuando como positivo se a criança falhar em quaisquer itens na Entrevista de Seguimento, e então é fortemente recomendado que a família seja orientada pelo pediatra sobre a estimulação inserida no dia a dia da criança, e ela deve ser encaminhada para intervenção e avalição especializa da. O pediatra e os pais que tenham dúvidas ou preocupações relativas ao TEA, independente da pontuação de triagem, devem levar a criança para avaliação e/ou intervenção. o CARS É a escala mais antiga e largamente utiliza da52 e combina as observações dos domínios principais, pelos pais em atividades não estruturadas do dia a dia, podendo ser utilizada durante a consulta pelo clínico. Avalia 15 itens e busca discriminar entre não apresentar sintomas autistas, sintomas leves e sintomas graves. O tempo de administração é de 20 a 30 minutos. Atualmente existe uma versão revisada CARS-2, que mantém as mesmas características da escala original. A sensibilidade é de 80% e a especificidade de 88%. • Diagnósticos Diferenciais 1.1.Sindrome de Aspenger: às crianças com este transtorno têm um comprometimento qualitativo no desenvolvimento de interação social recíproca, muitas vezes demonstrando comportamentos repetitivos einteresses restritos, obsessivos e idiossincráticos. Elas têm déficits em características não-verbais e pragmáticas da comunicação [expressões faciais, gestos). Não têm os comprometimentos de linguagem graves que caracterizam o autismo. Embora um tanto conscientes socialmente, estas crianças parecem peculiares ou excêntricas para os outros. São desajeitadas e têm posturas e marcha incomuns. Para preencher os critérios diagnósticos para a síndrome de Asperger, uma criança precisa manifestar comprometimentos das interações sociais e mostrar padrões de comportamento, interesses ou realizações com outras pessoas restritivas e repetitivos; estes distúrbios precisam causar comprometimentos significativos das funções sociais ou ocupacionais. Diferentemente das crianças com autismo, aquelas com diagnóstico de síndrome de Asperger têm uma história de marcos de linguagem normais, sendo palavras isoladas usadas aos dois anos de idade e frases comunicativas aos três. Costuma haver traços semelhantes em familiares. Este distúrbio pode representar uma forma de autismo com função mais alta (crianças com autismo que não têm comprometimento cognitivo), embora esta distinção continue controversa. O treinamento de habilidades sociais em grupo é a marca de autenticidade da intervenção, embora as crianças com o transtorno de Asperger pareçam ter alto risco para outros transtornos psiquiátricos, particularmente transtorno desafiador e de oposição e transtornos afetivos. 1.2.déficits auditivos, com a diferença que não tem prejuízo na sociabilização e respondem a outros estímulos sonoros; 1.3.deficiência intelectual (DI) que cursa também com alterações no desenvolvimento cognitivo e comportamental, enfatizando que crianças com TEA pioram a sua comunicação com a ida de, ao contrário daquelas com o diagnóstico de DI onde a sociabilização tende a melhorar com o tempo; 1.4.transtornos de linguagem, que acabam interferindo na sociabilização, porém não vem acompanhados com gestos nem comportamentos repetitivos; 1.5.TDAH, porém a alteração da comunicação social e os comportamentos repetitivos são infrequentes no TDAH; 1.6.transtornos de ansiedade e transtorno do apego reativo (TAR) entram no rol do diagnóstico diferencial porque alteram a comunicação social e a sociabilização, porém estas crianças apresentam melhora nestas habilidades quando estão em ambientes onde se sentem confortáveis, seguras e mais adequados, o que não acontece com as portadoras de TEA; 1.7.Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) O início do TOC é mais tardio e geralmente não está associado a prejuízo na comunicação como no TEA. Além disso, no TOC, as estereotipias se apresentam como movimentos mais complexos que se destinam a aplacar a ansiedade resultante do pensamento obsessivo; 1.8.Esquizofrenia Assim como no TEA, se caracteriza por prejuízos na interação social e por padrões de pensamentos incomuns. Entretanto, a esquizofrenia costuma se manifestar após um período normal de desenvolvimento e apresenta também delírios e alucinações inexistentes no TEA; 1.9.Síndrome de Landau-Kleffner (ou afasia epiléptica adquirida) Trata-se de síndrome epiléptica que se inicia entre 2 e 8 anos com prejuízo significativo à linguagem. A alteração mais precoce é a perda da linguagem receptiva com afasia de expressão, na sequência. A piora do quadro é progressiva e pode abarcar prejuízo cognitivo e do comportamento global. Porém, além do início mais tardio, essa síndrome não apresenta todas as características do TEA. 1.10. Sindrome de Rett É um quadro genético caracterizado por prejuízos cognitivo e físicos significativos, assim como regressão no desenvolvimento psicomotor normal após os primeiros 6 meses. Há queda na curva do perímetro cefálico, perdas de habilidades manuais, de linguagem, de marcha e presença de estereotipias, além de comprometimento na comunicação e na interação social. 2. DISCUTIR O TRATAMENTO MEDICAMENTOSO E NÃO MEDICAMENTOSO DOS TEA; Geralmente o paciente com autismo demanda tratamento psicofarmacológico para controle de sintomas associados ao quadro, quando estes interferem negativamente na sua qualidade de vida. Quando necessário, restringe-se a um pequeno grupo que manifesta comportamentos disruptivos, como: irritabilidade, impulsividade, agitação, auto e ou heteroagressividade e destrutividade. Merecem atenção também as comorbidades: ansiedade, depressão, transtorno obsessivo- compulsivo (TOC), transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), epilepsia e transtornos do sono. Entre as medicações mais utilizadas estão a risperidona, um antipsicótico atípico, bloqueador serotonérgico e também dopaminérgico, a olanzepina, a quetiapina, a ziprasidona, a clozapina e o aripiprazol. Sendo a risperinona e o aripripazol, os únicos medicamentos com indicação da Food and Drug Administration dos Estados Unidos para os sintomas relacionados ao TEA. Todos eficazes como antipsicóticos de segunda geração, mas podendo provocar efeitos colaterais importantes, como aumento de peso, síndrome metabólica, hiperprolactinemia, síndrome extrapiramidal, diminuição do limiar convulsígeno e, muito raramente, a síndrome neuroléptica malígna. Portanto, na ausência de sintomas que justifiquem seu uso, a criança pode e deve ser tratada sem o emprego de psicofármacos, e estas drogas poderão excepcionalmente ser administradas por especialistas que tenham hábito na sua indicação precisa. O uso de melatonina em pacientes com TEA tem sido associado a melhores parâmetros do sono, resultados adversos mínimos e melhor comportamento diurno. Uma revisão sistemática do uso de melatonina (v. placebo) em pacientes mostrou uma melhora de 73 minutos no sono total e 66 minutos no início do sono. Entretanto, pesquisas são necessárias para determinar quais problemas de sono respondem a higiene do sono e intervenções comportamentais e quais requerem intervenção médica. Há evidências convincentes de que a terapia comportamental intensiva, começando antes dos três anos de idade e direcionada para o desenvolvimento da fala e da linguagem, tenha sucesso em melhorar a capacidade de linguagem e a função social mais tarde. O método de treinamento enfoca a aquisição de comportamento colaborativo, atividades de imitação, aquisição de linguagem e integração com pares. O tratamento tem mais sucesso quando engrenado para os padrões de comportamento e a função de linguagem particulares do indivíduo. Orientação dos pais, treinamento e apoio estão sempre indicados, e a farmacoterapiapara certos sintomas-alvo pode ser útil. 3. CONHECER A SINDROME DE RETT (obs: é progressiva) • Epidemiologia Tem uma prevalência de 1 em 10.000 Atualmente, admite-se uma prevalência da doença de 1:12.000 a 1:22.000 em todas meninas nascidas vivas, representando uma das causas mais frequentes de deficiência mental severa que afeta o sexo feminino. • Quadro clínico O distúrbio de Rett é um distúrbio no desenvolvimento neurológico que resulta da mutação genética do gene MECP2 do cromossomo X. Este é um distúrbio dominante ligado ao X, afetando as meninas quase que exclusivamente; e poucos meninos. O desenvolvimento inicia normalmente, e regride rapidamente na metade final do primeiro ano. As crianças com síndrome de Rett inicialmente têm desenvolvimento pré-natal e perinatal normal, sendo normais o perímetro cefálico e o desenvolvimento psicomotor até os cinco meses de idade. Depois deste período de desenvolvimento normal, observam-se todos os seguintes: desaceleração do crescimento da cabeça dos 5 -48 meses, com desenvolvimento de microcefalia; perda das habilidades manuais intencionais previamente adquiridas com 5 -30 meses, havendo subsequente desenvolvimento de movimentos estereotipados das mãos [retorcer das mãos); perda de envolvimento social; marchaou movimentos do tronco com pouca coordenação; e comprometimento grave do desenvolvimento da linguagem receptiva e expressiva, com retardo psicomotor intenso. Estas meninas apresentam contorções das mãos estereotipadas na linha média, ataxia, disfunção respiratória, bruxismo, escoliose e profundo rebaixamento intelectual. Os comportamentos autistas são típicos, mas, com o passar do tempo, o estabelecimento de relações sociais pode melhorar. 0 comprometimento das extremidades inferiores pode prosseguir, levando à dependência de cadeira de rodas mais tarde na vida. Exames após autópsias revelaram tamanho e peso do cérebro muito reduzidos, bem como redução do número de sinapses. São detectadas anormalidades de eletroencefalograma em quase todas as crianças com síndrome de Rett. Nas pacientes que preenchem os critérios diagnósticos, deve-se analisar o DNA, a fim de confirmar se há mutação no gene MECP2. A síndrome evolui em estágios, que foram nomeados por Hagberg & Witt- Engerströ (1986) da seguinte forma: estagnação precoce, rapidamente destrutivo, pseudo-estacionário e deterioração motora tardia: 1. Primeiro estágio Inicia-se entre os 60 e 180 meses, conhecido como estagnação precoce. Neste período, os bebês podem ser demasiadamente “calmos”, tornando-se difícil para os pais, especialmente aqueles do primeiro filho, perceber alguma anormalidade. Até mesmo entre os profissionais da saúde estes primeiros sinais, podem passar de forma despercebida, visto que muitos desconhecem a SR. Este estágio quando proposto não apresentava alteração no padrão de desenvolvimento, porém, atualmente é possível encontrar alterações como hipotonia e atraso postural mesmo em fases mais precoces. Além disso, há evidências de que movimentos estereotipados podem também estar presentes precocemente. Esse estágio estende-se por alguns meses caracterizando-se por estagnação do desenvolvimento, desaceleração do perímetro cefálico, reflexo do prejuízo do sistema nervoso central. 2. Segundo estágio É o rapidamente destrutivo, surge por volta de 1 a 3 anos de idade, permanecendo por semanas ou meses. Nesta etapa, observa-se uma regressão psicomotora de forma acelerada, o choro surge sem motivos aparentes, acompanhado por irritabilidade crescente e perda da fala adquirida. Nesta fase as irregularidades respiratórias começam a ser observadas, assim como epilepsias e distúrbios do sono. Durante este período surge um comportamento autista, com perda da interação social e o aparecimento de movimentos estereotipados das mãos. 3. Terceiro estágio É denominada pseudo estacionária e ocorre entre 2 e 10 anos de idade. Este estágio pode durar anos e até mesmo décadas. Neste período ocorre uma melhora em alguns dos sinais clínicos, especialmente no que diz respeito ao contato social, surgindo melhora significativa neste aspecto. Entretanto, os distúrbios motores, como ataxia e apraxia permanecem, assim como a espasticidade, escoliose e bruxismo. Nesta fase perda de fôlego, aerofagia, expulsão forçada de ar e sialorréia ocorrem constantemente. 4. Quarto estágio Deterioração motora tardia é o quarto e último estágio. Tem início por volta dos 10 anos de idade. Nesta fase existem graves prejuízos motores e deficiência mental grave. Distúrbios nos neurônios motores periféricos estão presentes. Associação de movimentos involuntários atetóicos e coreicos podem também caracterizar o quadro. Neste estágio da SR, geralmente as crianças que caminhavam farão uso de cadeira de rodas, devido comprometimento da marcha. A fala está sempre muito comprometida e, muitas vezes, totalmente ausente. Algumas crianças chegam a falar, deixando de fazê-lo à medida que a deterioração avança. Poucas adquirem alguns vocábulos isolados. A maioria das meninas com SR mantém olhares intensos quando querem se comunicar ou desejam expressar algo. Acredita-se que essas meninas tenham desenvolvido um substituto para a perda de comunicação pela fala e do apontar objetos. Quanto ao aspecto cognitivo, resultados semelhantes a crianças normais com idade entre 2 e 3 anos quanto ao número de acertos. Outro estudo que abordou a temática da comunicação pelo olhar objetivou avaliar se crianças com SR, após serem expostas aos conceitos de cor, forma, tamanho e posição espacial, manifestam o reconhecimento desses conceitos com o olhar, avaliado com equipamento computadorizado de rastreamento ocular. Os autores puderam concluir que, com o método utilizado, as crianças não reconheceram os conceitos avaliados. Movimentos estereotipados são fortemente sugestivos da SR e geralmente estão associados com o desaparecimento dos movimentos manuais. Estes movimentos contínuos, repetitivos e compulsivos, de origem incerta, acontecem apenas durante a vigília, desaparecendo durante o sono. Indivíduos com SR tendem a manter as mãos ao longo da parte central do corpo realizando movimento estereotipados de "lavar as mãos", balançando as mãos na frente do rosto, colocando-as na boca e, ocasionalmente, até mesmo mordê-las. Algumas meninas com SR, principalmente as mais velhas, periodicamente, têm ataques de gritos violentos, que podem durar muitas horas. Tais gritos de horror são frequentemente suspeitados por parte dos pais e médicos como expressão a presença de dores intensas no corpo. Bruxismo, o ranger dos dentes, ocorre em praticamente todas as meninas com SR, mas varia em frequência e intensidade. Pode ser agravado por situações que geram ansiedade, excitação ou stress. Infelizmente, em geral, as medidas tomadas para reduzir o ranger dos dentes não são muito eficazes. Porém, o ponto positivo é que esta característica pode diminuir à medida que o tempo passa, em muitos casos, até desaparecer. Crises epilépticas são de ocorrência comum, em torno de 75% dos casos. Estas podem assumir várias formas: generalizadas, focais ou de presença atípica. Frequentemente crises de perda de fôlego, crises hipoxêmicas seguido de episódios de apnéia são diagnosticadas erroneamente como epilepsia, o que pode contribuir para prevalências superestimadas de epilepsia nessas crianças. A disfunção respiratória constitui uma sintomatologia característica e relevante na evolução da síndrome. Caracteriza-se, frequentemente por períodos irregulares de intensa hiperventilação interrompidos por contenções respiratórias ou apnéia. Além dessas alterações, algumas meninas com SR desenvolvem aerofagia, que favorece a distensão abdominal. O sono é caracterizado por despertares noturnos, e inquietude e risos espontâneos são frequentes. Como resultado, crianças com SR apresentam sonolência diurna, com cochilos repetitivos durante todo o dia. Respeitar uma rotina é essencial. Meninas com SR devem ser acostumadas a acordar sempre no mesmo horário. As mães podem contribuir com uma adequação do ambiente, como o uso da luz, para prover um ambiente mais propício para o sono ou para o despertar. Se mesmo tomando tais medidas o sono permanecer com muitas interrupções, prejudicando a qualidade de vida da criança, deve-se considerar a possibilidade do uso de medicações. Em geral, mastigação e deglutição encontram-se deficientes, há uma má coordenação do movimento dos alimentos da orofaringe para hipofaringe e dismotilidade para atravessar o esôfago. Engasgar-se é normal, em especial com fluidos, requerendo o uso de comidas mais pastosas para evitar o risco de broncoaspiração. Refluxo gastroesofágico também é comum e pode ser confirmado por estudos e testes de pH do trato gastrintestinal superior e deglutição. A constipação também é um problema significativo, além de refletir motilidade pobre do trato intestinal. Em alguns casos, a retenção de fezes produz um notável aumento no cólon. Em relação as alterações nutricionais, é comum meninas com SR apresentarem perda de peso. Há um déficit generalizado no desenvolvimentomotor de crianças com SR. O primeiro indício é uma desaceleração do perímetro craniano a partir dos três meses de idade. Além disso, é evidente uma diminuição do ganho ponderal. Outra característica presente é a hipotonia. Porém, com o passar do tempo, pode ocorrer aumento do tônus muscular, rigidez e até espasticidade. O tamanho das mãos e dos pés também encontram-se diminuído, costumando ser menor do que da população geral. Além disso, estes podem apresentar-se frios e ter coloração roxa. Osteopenia é muito comum, especialmente nos indivíduos com alimentação deficiente em calorias e proteínas. Também ocorre em pacientes com a alimentação em quantidade adequada de calorias e proteínas, porém em menor quantidade. Devido à frequência e grau de osteopenia, fraturas são muito comuns. Deve-se considerar a possibilidade de uma fratura quando o indivíduo com SR parar de usar um membro de repente, afinal, estes podem ser incapazes de queixar- se de dor. Com o passar do tempo, alguns sinais clínicos tendem a melhorar, em contra partida, aparecem escoliose grave e atrofia muscular. A curva da escolise progride mais aceleradamente que na escoliose idiopática, em torno de 14 a 21° em um ano em pequenas séries. Além dessas características, ataxia (falta de coordenação dos movimentos que podem afetar a força muscular e o equilíbrio) e apraxia (perda da habilidade para executar movimentos e gestos precisos) também são comuns com o progredir da doença. O tono vagal cardíaco era suprimido no ápice da atividade simpática, tanto durante os períodos de hiperventilação, quanto nos de perda de fôlego, levando a um desequilíbrio com risco de arritmias cardíacas e possivelmente morte súbita. 5. RECONHECER AS POLÍTICAS PÚBLICAS EXISTENTES A CERCA DO TEMA • Lei 2573-2019 Altera as Leis nºs 12.764, de 27 de dezembro de 2012, e 9.265, de 12 de fevereiro de 1996, para instituir a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (CIPTEA), e dá outras providências Art. 2º A pessoa com Transtorno do Espectro Autista (TEA) é legalmente considerada como pessoa com deficiência para todos os efeitos, nos termos da Lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012. • Lei 12764-2012 Institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista; e altera o § 3º do art. 98 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990. § 1º Para os efeitos desta Lei, é considerada pessoa com transtorno do espectro autista aquela portadora de síndrome clínica caracterizada na forma dos seguintes incisos I ou II: I - deficiência persistente e clinicamente significativa da comunicação e da interação sociais, manifestada por deficiência marcada de comunicação verbal e não verbal usada para interação social; ausência de reciprocidade social; falência em desenvolver e manter relações apropriadas ao seu nível de desenvolvimento; II - padrões restritivos e repetitivos de comportamentos, interesses e atividades, manifestados por comportamentos motores ou verbais estereotipados ou por comportamentos sensoriais incomuns; excessiva aderência a rotinas e padrões de comportamento ritualizados; interesses restritos e fixos. Art. 2º São diretrizes da Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista: I - a intersetorialidade no desenvolvimento das ações e das políticas e no atendimento à pessoa com transtorno do espectro autista; II - a participação da comunidade na formulação de políticas públicas voltadas para as pessoas com transtorno do espectro autista e o controle social da sua implantação, acompanhamento e avaliação; III - a atenção integral às necessidades de saúde da pessoa com transtorno do espectro autista, objetivando o diagnóstico precoce, o atendimento multiprofissional e o acesso a medicamentos e nutrientes; Art. 3º São direitos da pessoa com transtorno do espectro autista: I - a vida digna, a integridade física e moral, o livre desenvolvimento da personalidade, a segurança e o lazer; II - a proteção contra qualquer forma de abuso e exploração; III - o acesso a ações e serviços de saúde, com vistas à atenção integral às suas necessidades de saúde, incluindo: a) o diagnóstico precoce, ainda que não definitivo; b) o atendimento multiprofissional; c) a nutrição adequada e a terapia nutricional; d) os medicamentos; e) informações que auxiliem no diagnóstico e no tratamento; IV - o acesso: a) à educação e ao ensino profissionalizante; b) à moradia, inclusive à residência protegida; c) ao mercado de trabalho; d) à previdência social e à assistência social Art. 3º-A. É criada a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Ciptea), com vistas a garantir atenção integral, pronto atendimento e prioridade no atendimento e no acesso aos serviços públicos e privados, em especial nas áreas de saúde, educação e assistência social. Art. 7º O gestor escolar, ou autoridade competente, que recusar a matrícula de aluno com transtorno do espectro autista, ou qualquer outro tipo de deficiência, será punido com multa de 3 (três) a 20 (vinte) salários-mínimos. Lei n. 13.438, com a qual passa a ser obrigatória a aplicação de instrumento de avaliação formal do neurodesenvolvimento a todas as crianças nos seus primeiros dezoito meses de vida.
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