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Maria Eduarda de Alencar – Odontologia 2019.2 Carcinogênese Introdução - O câncer é a segunda causa de morte no Brasil; - Cerca de 30% dos casos de câncer poderiam ser evitados através de ações de prevenção primária – evitar a exposição a fatores carcinogênicos; - Cerca de 30% das mortes por câncer poderiam ser evitadas através de ações de detecção precoce articuladas a ampliação do acesso a tratamento adequado dos casos; → Carcinogênese - Processo de múltiplas etapas, tanto a nível fenotípico quanto a nível genético – epigenético (mudanças na expressão gênica que podem ser herdadas e que não alteram a sequência do DNA, como a metilação do DNA e a modificação de histonas) – resultante do acúmulo de múltiplas mutações, que antecede o aparecimento das neoplasias – aparecem clinicamente apenas quando já ocorreram uma série de modificações, e que a célula já estabeleceu um potencial proliferativo significativo; → Fatores Predisponentes - Fatores Ambientais; - Fatores Geográficos: Vão estar relacionados com a exposição à radiação, por exemplo, pois dependendo da localização no mapa essa pode ser maior ou menor; - Ambiente sociocultural que o indivíduo está inserido – hábitos e cultura; - Idade: > 55 anos, quanto mais velho, maior o tempo de exposição a certos carcinógenos; - Predisposição Genética: Mesmo com a predisposição genética, o indivíduo pode não desenvolver uma neoplasia, necessitando de outros fatores predisponentes; - Condições Predisponentes Não Hereditárias: Inflamação crônica e condição pré-cancerosa. Bases Moleculares da Carcinogênese - As neoplasias são resultado de agressões ambientais em um indivíduo geneticamente suscetível; → Genes - Proto-oncogenes: São genes que fazem a célula entrar no ciclo celular, de forma super controlada, em condições normais. Sendo de suma importância para o funcionamento básico das células; - Produtos dos Proto-oncogenes: - Fatores de crescimento: PDGF, por exemplo; - Receptores de fatores de crescimento: erbB – EGF; - Proteínas ligadoras de GTP, como a proteína RAS – mutada, ela perde a capacidade de ser estimulada pela GTPase, GTP a proteína RAS permanece na sua forma ativa estimula continuamente a proliferação celular; - Proteínas citoplasmáticas com atividade cinásica - Ciclinas, CDKs e seus inibidores: Possuem papel crucial na regulação da proliferação; - Proteínas nucleares (fatores de transcrição): Elas interagem com o DNA e atuam estimulando ou inibindo genes. São as responsáveis pela imortalização e também estão relacionadas a via de apoptose – p53 (proteína) estimula a apoptose; BCL-2 é anti-apoptótica. Ex.: myc, myb, fos; - Em casos de mutações, rearranjos, translocações ou alterações que alterem sua expressão, eles se tornam oncogenes – gene superexpresso, cuja expressão é responsável pelo aparecimento das neoplasias. Estes também fazem a célula entrar no ciclo celular, mas de maneira desordenada, aumentando a produção dos produtos do proto-oncogenes; - É preciso haver um acúmulo em mutações de oncogenes para haver transformação celular, normalmente; - A mutação que provoca a diferenciação de proto-oncogenes em oncogenes não é o suficiente para provocar a formação de uma neoplasia; - Existem genes que impedem a entrada das células no ciclo celular, e esses genes tem que ser inibidos: - Genes Supressores de Tumor: São “freios” que evitam a reprodução descontrolada da célula. Uma célula como com oncogenes ativados, mas com supressores de tumor íntegros não desenvolve processo neoplásico. Esses genes têm comportamento recessivo, portanto, precisam ter os dois alelos afetados para perder sua função; - Podem agir inibindo complexos ciclina/CDK ou fatores de crescimento estimulados por eles. Outros atuam em vias de ativação de apoptose ou que estimulam a diferenciação e inibem mitose; - O mais conhecido dos genes supressores de tumor é o gene do retinoblastoma (gene RB) – descoberto no retinoblastoma, por isso o nome. O seu produto é a proteína RB que, quando hiperfosforilada pelo complexo ciclina-CDK, atua como repressora da divisão celular, se ligando ao fator de transcrição EF2, impedindo que ele se ligue ao DNA e ative a transcrição dos genes que estimulam a replicação do material genético e a progressão das células no ciclo celular; - Outro gene supressor de tumor importante é o P53 – que codifica a proteína p53, considerada a guardiã do genoma, pois atua em várias vias – apoptótica, de reparo do DNA (checkpoint da fase S), de crescimento celular e angiogênese (ativação de mediadores que estimulam a angiogênese tecidual); - Além desses, os genes da apoptose e de reparo do DNA também precisam ser inibidos; - Genes da Apoptose: Estes podem inibir ou favorecer a apoptose. O maior acúmulo de células neoplásicas ocorre por inibição apoptótica – mutação do p53 (guardiã do genoma) pode reduzir a expressão de pró-apoptóticos, como o BAX; - Genes de Reparo: São genes que codificam moléculas que participam do reconhecimento e reparo de lesões ao DNA. Quando há erros, lesões ou alterações no DNA, os genes de reparo possuem a capacidade de corrigir esses problemas, evitando que eles sejam passados às células-filhas. Caso esses genes não estejam nas condições normais de funcionamento, essas alterações serão passadas adiante favorecendo o surgimento de uma neoplasia; OBS: IMUNIDADE - Mesmo passando por todos esses mecanismos e sendo formadas, para que ocorra a formação de uma neoplasia, as células neoplásicas precisam ultrapassar outra barreira, a imunológica; - Células NK: As células neoplásicas só possuem o receptor de ativação, por isso as células NK reconhecem elas como um corpo estranho. Sendo, geralmente, é observada uma resposta inflamatória ao redor de tumores com células muito indiferenciadas; - A falha dessa vigilância, desenvolve um papel importante no processo neoplásico. - Tudo isso mostra que é muito difícil haver a formação de uma neoplasia, sendo necessário um processo com várias etapas para que isso aconteça; → Dano Genético Não Letal - Substâncias químicas, fatores físicos – radiação – e biológicos – vírus – podem funcionar como agentes carcinógenos; - Todo agente carcinógeno, seja físico, químico ou biológico tem como alvo DNA, mais precisamente nos genes de controle da diferenciação e proliferação celular; OBS.: CARCINOGÊNESE VIRAL - Existem cânceres associados a infecções virais tanto vírus de DNA podem induzir tumores: 1. O vírus introduz material genético entranho no material genético do hospedeiro; 2. Dá ordens para elaboração de fatores de crescimento e proteases; 3. Transforma proto-oncogenes em oncogenes; 4. Serve de vetor para oncogenes; 5. Altera funções imunes; - Proteínas virais ligam se a p53 e a RB inibindo- as. Como agente infeccioso, o vírus provoca inflamação crônica, com necrose e regeneração. Atuando então como promotor de alterações genômicas causadas por radicais livres, produzidos pelas células do exudato inflamatório; - Em humanos é mais comum que ocorra carcinogênese por vírus de DNA, e os mais importantes agentes virais são: HPV – mais comum – EBV, HBV e HHV8; - Outros agentes biológicos causadores de câncer, como bactérias e parasitos, também podem ser agentes carcinógenos, mas seus mecanismos ainda são pouco conhecidos. → Expansão Clonal - Após a primeira mutação, se nada for feito para parar esse processo, nas próximas divisões celulares, as células vão vir com o fenótipo cada vez mais agressivo; - A expansão de clones de células neoplásicas pode, portanto, levar ao acúmulo de mutações, que é o que leva a esse fenótipo mais agressivo; - Por isso é importante o diagnóstico precoce, visto que a medida que a neoplasia evolui, pode-se ter o surgimento de clones mais agressivos. Mutação - Modificação súbita e hereditária no conjunto gênico de um organismonão explicável pela recombinação da variabilidade genética pré- existente; - Nem toda mutação gera uma neoplasia, tudo vai depender de onde ocorreu a modificação, qual grupo de genes – só ocorre se a mutação for nos genes que controlam a proliferação e diferenciação celular; - As mutações nem sempre são maléficas. Elas são, inclusive, importantes para a evolução, pois levam a uma adaptação melhor do indivíduo ao meio em que ele se encontra: facilitando a invasão celular, produzindo toxinas que aumentam a virulência de uma bactéria, aumentando a resistência ao meio, dando características que facilitam o acasalamento, sendo, nesses casos, extremamente benéfica; → Tipos de Mutação - Modificação de bases: Deleções, inserções, recombinações e amplificação gênica. Alterações para Transformação Maligna 1. Autossuficiência nos sinais de crescimento; 2. Insensibilidade aos sinais inibidores do crescimento; 3. Evasão da apoptose; 4. Potencial de replicação ilimitado – inativação da telomerase, o que faz com que os telômeros não encurtem e a célula seja sempre uma célula jovem; - Essas alterações estão ligadas a imortalidade. Característica que faz com que o tratamento padrão ouro seja a ressecção cirúrgica. Seguida do acompanhamento, para observar se não restaram resquícios de células tumorais, que podem gerar uma recidiva; - Para não correr riscos, além da ressecção, também é realizada a radioterapia ou a quimioterapia; 5. Angiogênese mantida – o parênquima neoplásico estimula a formação do estroma neoplásico, para que ele possa crescer e ter sua nutrição garantida; 6. Capacidade de invadir e metastatizar – exclusiva de células tumorais malignas. Essa capacidade é dada pela secreção de proteases, que degradam a membrana basal, permitindo a invasão do estroma pelas células neoplásicas; 7. Defeitos no reparo do DNA. Etapas da Carcinogênese - A formação neoplásica é um processo complexo e multifásico; - As fases são: iniciação – mutação da célula – promoção – expansão clonal – progressão e disseminação; → Iniciação - O agente carcinogênico produz alterações genéticas permanentes na célula; - Corresponde a fase de transformação celular. As mudanças irreversíveis induzidas por carcinógenos físicos, químicos ou biológicos causam modificações genômicas nas células e alteram suas respostas ao microambiente, tornando-as potencialmente capazes de se multiplicar de modo autônomo; - Uma célula iniciada pode se tornar menos responsiva a fatores que inibem a proliferação celular, a indutores de diferenciação ou a apoptose. No entanto apenas uma célula iniciada não origina tumor; → Promoção - A célula iniciada é estimulada a proliferar, ampliando o clone transformado e há diminuição da morte celular; - Ocorre a proliferação ou expansão das células iniciadas. Isso é indispensável na “fixação” da alteração e para o aparecimento da neoplasia – muita proliferação aumenta as chances de novas mutações; - A promoção é um processo demorado e reversível – caso o agente promotor seja removido antes do término desse processo; → Progressão - O clone transformado prolifera, o tumor cresce e surgem células com potencial metastatizante (já visualizadas no exame clínico); - Modificações de biológicas tornam o tumor cada vez mais maligno e agressivo; - Por essa visão, a partir do clone original da neoplasia vão surgindo outros mais ou menos adaptados, que são diferentes sob os aspectos citogenéticos, de imunogenicidade, de velocidade de crescimento, de exigência de fatores de crescimento, de receptores de superfície, do poder de invasão e metastatização e de resistência a medicamentos; - Geralmente, à medida que o tempo passa, vão sendo selecionados clones mais agressivos e malignos; → Disseminação - A neoplasia se desenvolve em sítios distantes da sua origem, chegando a eles por via sanguínea ou linfática; - Para tal, é necessária a atuação de genes para metástase – H-RAS, MTA-1 e MTA-2 – e falta de expressão de genes de e-caderinas – faz a adesão entre células; OBS.: Fases da metástase → perda da adesão celular, adesão à membrana basal adjacente, degradação da matriz extracelular a partir da secreção de metabólitos e migração para a matriz extracelular. OBS.: O local para onde as células neoplásicas migrarão não é escolhido ao acaso, mas sim em função de um gradiente quimiotático. Existem receptores na superfície das células neoplásicas que percebem a secreção citocinas pelo órgão alvo da metástase – é como se o órgão estivesse “chamando as células tumorais”. Estadiamento do Tumor - Fazer o estadiamento, ou seja, avaliar o estágio de evolução do tumor é importante para saber o prognóstico, estimar e avaliar o tratamento; - Para realizar o estadiamento, um dos sistemas mais utilizados é o sistema TNM – tamanho, nodos metastáticos e metástase a distância. Este, usa critérios clínicos – tamanho do tumor, presença ou não de linfonodos metastáticos e metástase a distância; - Para cada tipo de câncer há um estadiamento diferente – o parâmetro de tamanho para um câncer na cavidade oral é diferente do utilizado para um câncer de pulmão, por exemplo; CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS → Tamanho - Quanto maior o T, maior o tamanho do tumor: T1 < T3, por exemplo; - TX: Nenhuma informação disponível sobre o tumor primário; - T0: Nenhuma evidência de tumor primário; → Nodos ou Linfonodos Metastáticos - Quanto maior o N, maior o tamanho dos linfonodos metastáticos: N1 < N3, por exemplo; - NX: Linfonodos regionais não podem ser detectados - T0: Não há metástases para linfonodos regionais; - Além do tamanho, o lado do tumor também importa na classificação, sendo metástases contralaterais mais graves; → Metástase a Distância - Só possui três categorias: - MX: Metástases distantes não podem ser acessadas; - M0: Não há metástases distantes; - M1: Metástases distantes; OBS.: Paciente M1 já é grave. → Categorias de Estadiamento - Ao final da avaliação determina-se o estágio, sendo essa classificação individual para cada tipo de câncer; - Estágio I: Tumor pequeno. Taxa de sobrevivência de 5 anos igual a 85%; - Estágio II: Tumor maior que o do estágio I. Taxa de sobrevivência de 5 anos igual a 66%; - Estágio III: Tumor grande ou metástase linfonodal. Taxa de sobrevivência de 5 anos igual a 41%; - Estágio IV: Tumor grande ou metástase linfonodal distante. Taxa de sobrevivência de 5 anos igual a 9%.
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