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1 Marcela Oliveira – Medicina 2021 CONCEITOS BASICOS Fora da célula temos uma maior concentração de íons sódio, por isso o meio fica positivo. Já dentro da célula temos uma maior concentração de íons potássio, por isso o meio fica mais negativo. No entanto, ocorre uma entrada de íons sódio e saída de íons potássio, gerando uma despolarização da célula, levando a uma propagação de corrente elétrica. Portanto, a entrada de sódio causa a despolarização e a saída de potássio gera repolarização. Mas qual o objetivo do coração produzir energia elétrica? Produzir a contração do coração. Toda vez que a energia elétrica estiver passando pelo coração gera uma despolarização. O coração bate de 50 a 100x por minuto. O potencial de repouso é de -90. Quando vai ocorrendo a despolarização o potencial vai ficando positivo. As células do nó sinoatrial tem um potencial de ação diferente das outras células. VETORES Vetor é uma representação gráfica de uma força que tenha amplitude, direção e sentido. Interpretando o eletrocardiograma 2 Marcela Oliveira – Medicina 2021 O QUE MOSTRA NO ELETRO: O Nó sinusal fica no teto do átrio direito. Dele sai alguns feches que saem em direção ao nó atriventricular. Do nó atrioventricular sai e forma o feche de His, que se divide em dois ramos (direito e esquerdo). O ramo direito da origem a rede de Purkinke capilariazndo o musculo ventricular. O no sinusal determina a frequência cardíaca. Mas por quê? Isso porque ela despolariza mais. Portanto, o nó sinusal é o marca passo fisiológico do coração. FC normal = 50 a 100 bpm. COMPONENTES DO TRAÇADO DO ECG – VISÃO GERAL Quando o nó sinusal gera um estimulo tanto no átrio direito quanto no átrio esquerdo, vamos ter um resultante de vetores apontando para baixo e para esquerda. E como isso aparece no ECG? Depende da derivação que vamos ver. 3 Marcela Oliveira – Medicina 2021 Se considerarmos a derivação A, o vetor vai estar se aproximando dele, portanto vamos ter uma onda positiva. Essa onda é chamada de onda P, e ela representa a despolarização dos átrios. Qual a função do nodo AV? Impedir que átrios e ventrículos contraiam-se simultaneamente. As células que estão dentro do nó AV contraem-se mais lentamente e isso permite a sincronia entre átrios e ventrículos. No ECG isso irá aparecer como uma linha reta, pois teoricamente a condução está parada. Logo depois, essa corrente percorre pelo septo. E lá, vamos ter um vetor apontando para baixo e vários vetores apontando da esquerda para direita, que podemos resumir em um vetor grande indo para direita e para baixo. No ECG, se olharmos da derivação A, a onda vai estar se afastando, portanto gera uma onda negativa. Essa onda é denominada de onda Q. Ela representa a despolarização do septo interventricular. Depois o estimulo vai para a parede livre do ventrículo direito e esquerdo. Com isso, vamos ter formados vários vetores em ambos os ventrículos de dentro para fora. É importante observar que o ventrículo esquerdo tem uma espessura muito maior do que o direito, consequentemente a amplitude do vetor vai ser maior do lado esquerdo. Já que vamos ter um vetor maior para o lado esquerdo, a resultante desse vetor será para o lado esquerdo e para baixo. No ECG, da derivação A vemos uma onda positiva denominada onda R, de amplitude grande, pois devido à espessura de musculo temos uma amplitude maior. 4 Marcela Oliveira – Medicina 2021 A última parte a ser despolarizada é a parte superior dos ventrículos. Como ambos os lados possuem vetores para cima, apenas com uma diferença de amplitude, a resultante dos vetores é para cima. No ECG, a partir da derivação A, vamos ter um vetor se distanciando, portanto uma onda negativa. Essa onda é denominada de onda S. O complexo QRS nem sempre terá as 3 ondas. Obs.: a repolarização dos átrios não aparece no ECG, pois acontece no mesmo tempo da despolarização. Já a repolarização dos ventrículos é possível se observar através da onda T, que via de regra, quando o QRS é positivo a onda T também é positiva. Qual a diferença de intervalo e segmento? 1. Intervalo: engloba uma ou mais ondas; 2. Segmento: não engloba ondas. O intervalo QT engloba tanto a despolarização dos ventrículos (QRS) quanto a repolarização. Ele vai ser bastante importante na pratica clinica. 5 Marcela Oliveira – Medicina 2021 POSICIONANDO OS ELETRODOS O que é uma derivação? É uma medida de diferença de potencial entre dois pontos distintos. Brasil do lado esquerdo – Flamengo do lado direito; Juntando todos esses pontos, conseguimos fazer 6 derivações. No qual de 0º para baixo seria positivo e para cima negativa. 6 Marcela Oliveira – Medicina 2021 Todas essas derivações são conhecidas como periféricas ou frontais. Derivações do plano frontal são aquelas criadas pelos eletrodos posicionados nos braços e pernas dos pacientes: DI, DII, DII, aVL, aVF, aVR. Essas derivações permitem definir se o estimulo elétrico está indo para cima, para baixo, para esquerda ou direita. Elas não permitem dizer se o estimulo esta indo para trás ou para frente. ONDE ISSO APARECE NO ECG? Essas derivações estão enxergando a mesma coisa por ângulos diferentes; OUTRAS DERIVAÇÕES 1. Derivações precordiais ou do plano horizontal; As derivações colocadas no precórdio do paciente são 6: V1, V2, V3, V4, V5, V6. Dessa forma conseguimos ver se o estimulo esta indo para frente ou para trás; 7 Marcela Oliveira – Medicina 2021 COMO FAÇO PARA DEFINIR SE UM ESTIMULO ELÉTRICO ESTA INDO PARA FRENTE OU PARA TRÁS? Olhar V1!! Isso porque, se o estimulo estiver indo para trás, ou seja, se distanciando de V1, a onda será negativa. E se estiver indo para frente, será positiva, pois está aproximando de V1. QRS positivo em V1 (não é o normal): estimulo indo para frente. QRS negativo em V1: estimulo está indo para trás; Como suspeitar que os eletrodos precordiais estejam mal colocados? Basta saber qual o padrão normal esperado. Ou seja, de V1 para V6 a onda R vai crescendo lentamente até V5. Pulo do gato para pensar em dextrocardia pelo ECG? Tudo negativo em DI + QRS negativos em precordiais. DEFININDO O EIXO NO ECG Hemicampo: a partir da derivação que você escolher + 90º para um lado e para o outro, tudo que estiver nesse hemicampo será positivo e o campo oposto negativo. Olhando D1 8 Marcela Oliveira – Medicina 2021 Ex: Onda em amarelo. Vamos olhar pela derivação avr. Resultado: a onda será negativa em AVR. ANALISANDO SE O QRS ESTÁ COM O EIXO NORMAL OU NÃO; Porque o eixo normal fica entre -30º e +90º? Como estamos falando de QRS, a despolarização do ventrículo tem mais ou menos 3 fases (do septo, parede livre, parte basal do septo). No entanto, o mais importante é a da parede livre, que vai estar apontando para baixo e para esquerda. 1º PASSO: definir a derivação em que o QRS é isodifásico (perpendicular ao eletrodo); Se uma onda/complexo é isodifásico em uma derivação, significa que está perpendicular (90º graus) aquele local; Para saber o eixo agora, basta ver as outras derivações, e olhar quem está no grau do extremo. Ex: achamos a onda isodifásica em AVL, portanto olhamos no eixo e 90º para um lado e para outra deve estar positivos. Agora devemos olhar as derivações próximas. Olhar o complexo em AVR e em D2 e analisa se está positivo ou negativo. Em AVR o complexo está totalmente negativo, ou seja, fugindo do campo. Em D2 o complexo está totalmente positivo, isso significa que o eixo de QRS está em +60º. 9 Marcela Oliveira – Medicina 2021 Agora olhamos se esse valor está normal ou alterado, lembrando que normal é de -30 até +90.OBS: eixo indeterminado é quando temos varias derivações com QRS isodifásico. RESUMINDO: 10 Marcela Oliveira – Medicina 2021 EXISTE UMA FORMA RÁPIDA DE OLHAR E DIZER SE O EIXO ESTÁ NORMAL? SIM, BASTA OLHAR PARA DI E DII. Ou seja, QRS predominantemente positivo ou isodifásico em DI e DII significa eixo normal; E O EIXO EM RELAÇÃO AS DERIVAÇÕES PRECORDIAIS? Basicamente definimos se o vetor está indo para trás ou para frente. Para isso, observar V1, que normalmente deve está com o QRS negativo. Em casos de hiperplasia de ventrículo direito (hipertensão pulmonar, estenose pulmonar), por exemplo, o V1 vai está positivo. ROTEIRO PARA INTERPRETAR UM ECG 1. IDENTIFICAÇÃO 2. PADRONIZAÇÃO 3. RITMO E FC 4. ONDA P 5. INTERVALO PR 6. COMPLEXO QRS 7. SEGMENTO ST 8. ONDA T 9. INTERVALO QT IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE. Nome; Idade; Peso e altura; Sexo; Quadro clínico; PADRONIZAÇÃO Normal: 1mm=0,01mV e Vel = 25mm/s, ou seja, 1mm=0,04s Observar presença do retângulo com 10 quadradinhos =N 25. 11 Marcela Oliveira – Medicina 2021 DEFININDO O RITMO O nó sinusal determina normalmente a frequência cardíaca. Por isso, o ritmo fisiológico é o ritmo sinusal. 1º ver para onde está apontando o vetor de despolarização atrial; Ou seja, para ser sinusal, a onda P tem que estar localizada no quadrante inferior esquerdo (entre 0º e 90º) Portanto, olhar onda P se está positiva em DI e AVF. 2º Além disso, a cada onda P tem que se seguir um complexo QRS. Qualquer coisa diferente do ritmo sinusal = ARRITMIA. DEFININDO FREQUÊNCIA Para saber a frequência basta saber quantos quadradinhos separam cada batimento, ou seja, de uma onda QRS a outra. 1 minuto = 1500 quadradinhos. FC = 1500/quantidade de quadradinhos entre uma onda e outra. OU FC = 300/quadrados grandes Essa regra serve se o ritmo for regular; Como calcular frequência em uma paciente com ritmo irregular? Conte a quantidade de batimentos que existe no D2 longo e multiplique por 6. 12 Marcela Oliveira – Medicina 2021 Obs: bradicardia sinusal é comum em atletas de alto desempenho. ONDA P A onda P ajuda a diagnosticar sobrecargas atriais. E como diagnosticar? Sobrecarga de átrio direito A dilatação causa aumento da amplitude da onda P. Lembrar que o normal é ser < ou = 2,5mm. Ou seja, onda P com amplitude >2,5mm significa sobrecarga atrial. Principal critério para diagnosticar sobrecarga átrio direito = onda P >2,5mm quadradinhos em derivações inferiores (DII, DIII e AVF); Sobrecarga de átrio esquerdo Sobrecarga de átrio esquerdo aumenta a duração de onda P (> OU = 3 quadradinhos na horizontal); e isso não acontece na SAD. Também podemos ver dois morrinhos na onda P, principalmente se tiver 1 quadradinho de distancia entre eles. Além disso, devemos olhar para V1, pois geralmente a onda P é isodifásica. E se nesse caso, a parte negativa da onda P em V1 aumentar de tamanho (> 1 quadradinho de duração e amplitude), temos SAE. OBS: fibrilação atrial é sinal indireto de SAE. E se houver sobrecargas dos dois átrios ao mesmo tempo? Analisar os dois parâmetros anteriores. 13 Marcela Oliveira – Medicina 2021 Mulher jovem + dispneia + SAE = sempre pensar em estenose mitral. INTERVALO PR Intervalo PR – engloba a onda P Segmento PR- não engloba a onda. A linha reta depois da onda P representa a pausa no nó atrioventricular. Qual a duração normal do intervalo PR? 120 a 200 ms ou 3 a 5 quadradinhos. Se tiver menos do que 3 quadrinhos ou mais do que 5 está alterado. Se intervalo PR >200ms (5 quadradinhos) em todos os batimentos bloqueio AV de primeiro grau. Causas: medicações (betabloqueador ou medicamento que diminua a condução); Doenças do sistema de condução (principalmente com avançar da idade); Atletas; Endocardite (endocardite + PR longo = pensar em abcesso); Obs: endocardite de valvas esquerda – repetir ECG diariamente. Obs: Pr >240ms= cuidado com betabloqueador. Intervalo PR curto <3 quadradinhos = pensar em pré-excitação ventricular (Wolff-Parkinson- White); COMPLEXO QRS Dica para saber se o eixo está normal: Olhar QRS em DI e DII se negativo em uma das 14 Marcela Oliveira – Medicina 2021 derivações o eixo não está normal; Principal causa de aumento da amplitude de QRS? Sobrecarga de ventriculo esquerdo (SVE); Como ver no ECG? Amplitude da onda R em V5 ou V6 + onda S em V1 >35mm Forma rapida de diagnosticar SVE: Olhar onda R em AVL>10mm (10 quadradinhos); Criterio de Cornell: somar onda R em AVL + onda S em V3. ALTERADO se: >28 em homens e >20 mm em mulheres. Principal causa de SVE: hipertensão,estenose aortica; miocardiopatia hipertrófica; Para ter uma sobrecarga de ventriculo direito a massa desse ventriculo tem que aumentar umas 3x para ser detectado no ECG. Principal criterio para diagnosticar SVD= onda R de grande amplitude (positiva) em V1. Baixa amplitude do QRS: Quando o QRS <5mm no plano frontal (D1, D2, D3..) E <10mm no plano horizontal (V1, V2, V3...); Quais as causas de baixa amplitude do QRS? Qualquer coisa que se interponha entre o coração e os eletrodos (derrame pericardico, obesidade, mamas grandes, enfisema, DPOS, pneumotorax, fibrose miocárdica); Obs: alternancia eletrica no ECG (ora QRS positivo, ora menos negativo)? Sempre lembrar de derrame pericardico grande; Qual a duração normal do QRS? <120 ms ou < 3 quadradinhos. Se QRS > ou = 3 quadradinhos = bloqueio de ramo! Como diferenciar bloqueio de ramo direito e esquerdo? Olhar para V1: se QRS estiver negativo = BRE. Se o QRS estiver positivo = BRD. Sempre que diagnosticar bloqueio de ramo deve investigar se hácardiopatia estrutural. SEGMENTO ST As sindromes coronarianas agudas (SCA) costumam se apresentar no ECG atraves de mudanças no segmento ST e na onda T. O segmento ST fica entre o final da onda S e inicio da onda T. e chamamos de ponto J essa transição. 15 Marcela Oliveira – Medicina 2021 O normal é o segmento ST estar na linha de base do ECG. Para traçar a linha de base devemos traçar uma linha reta do ponto anterior do complexo QRS. O segmento ST deve estar alinhado. Se estiver para cima, chamamos de supra de ST, e se estiver para baixo, chamamos infra de ST. Uma das principais causas de supra é infarto. Como medir o supra de ST? Passar uma linha no final do segmento PR e traçar outra linha no ponto J. Depois medir a distancia de uma linha para outra. Qual a importancia da forma do supra de ST? - Causas benignas de supra de ST: costumam ter concavidade para cima. - Causas malignas, principalmente IAM: maioria dos casos tem concavidade para baixo. DIAGNÓSTICO DE IAM COM SUPRA 1. Quadro clinico compativel (dor torácica, dispneia); 2. Supra do ponto j >= 1 mm em pelo menos 2 derivações contíguas. ONDA T A onda T corresponde ao final da fase 2 e a fase 3 do potencial de ação. A onda T costuma ser negativa em aVR (fisiológico). E pode ser negativa em D3, AVL e V1. 16 Marcela Oliveira – Medicina 2021 Se encontrar onda T negativa ou achatada em qualquer outra derivação, procurar doença! Obs: onda T invertida e simetrica – considerar coronariopatia. Alem de IAM, que outra causa tenho que lembrar quando ver ondas T apiculadas? HIPERCALEMIA. Onda T negativa em V5-V6, como diferenciar se é SVE ou DAC? 1. SOBRECARGA DE VENTRICULO ESQUERDO. Onda T assimetrica (desce lento e sobe rápido); Infra de ST associada. Onda mais profunda em V6 do que V4. Porção final da inda T positiva. 2. DAC Onda T simetrica. Frequentemente não tem infra de ST. Onda mais profunda em V4 do que em V6. Final da onda T negativa. INTERVALO QT Engloba tanto a despolarização quanto a repolarização dos ventriculos. Quandoaumentando, eleva o risco de arritimiais potencialmente fatais. Como medir o QT? Pega a distancia de um complexo QRS a outro e definir o ponto médio. Se a onda T não passar da metade significa que está normal. Caso a onda passe significa QT longo. Quais as causas de aumento do intervalo QT? Disturbios hidroeletroliticos (HIPOCALEMIA, HIPOCALCEMIA, HIPOMAGNESEMIA); Psicotrópicos. Amidarona. Procainamida; Eritromicina e outros macrolídeos. Remedio para fungos; Sotalol.
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