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TUTORIA 1 1. Qual a diferença entre diarreia e disenteria? Na diarreia há aumento do volume das fezes, com diminuição na consistência ou aumento de aquosidade e/ou frequencia das evacuações. Na disenteria há aumento do volume e frequência de evacuações associada a presença de produtos patológicos nas fezes (sangue, muco, etc) 2. O que é diarreia, sua classificação, etiologia, epidemiologia, QC, fisiopatologia (diferenciação de diarreia alta e baixa e fases da digestão)? A diarreia é um sintoma/sinal caracterizado por dois componentes principais: aumento no número de evacuações (mais de três vezes ao dia) e diminuição da consistência. Um terceiro componente, o peso (mais de 200 g/dia), pode ser considerado, porém, é de difícil avaliação na clínica diária O ritmo intestinal normal varia de três vezes por semana a três vezes por dia. O aumento da frequência por mais de três vezes ao dia, com diminuição da consistência das fezes, que provocam urgência ou desconforto abdominal, provavelmente é um quadro de diarreia. A consistência é determinada pela relação entre água fecal e a capacidade de retenção de água dos sólidos insolúveis fecais. É importante ter em mente que diarreia é diferente de urgência fecal e de pseudodiarreia. A primeira, é a eliminação involuntária das fezes, geralmente por distúrbios neuromusculares ou problemas estruturais anorretais, sem alteração do peso e consistência. Já o último, é a eliminação frequente de pequenos volumes de fezes, geralmente com urgência, sem alteração também da consistência e do peso. EPIDEMIOLOGIA A diarreia ainda é uma das manifestações patológicas mais prevalentes em todo o mundo, constituindo a segunda causa de morte em crianças menores que 5 anos. Nessa faixa etária morrem, a cada ano, 760 mil crianças. Calcula-se que, nos países em desenvolvimento, cada criança de até 3 anos de idade apresente três episódios de diarreia por ano. Globalmente, calcula-se que ocorram 1,7 bilhão de casos de doenças diarreicas a cada ano. O Global Burden of Disease Study constatou que a diarreia foi a nona principal causa de morte em todo o mundo em 2015. A maioria dos casos de diarreia está associada a alimentos e fontes de água contaminados, e mais de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo não têm acesso ao saneamento básico. Mais de 1 bilhão de pessoas, no mundo, sofrem um ou mais episódios de diarreia aguda a cada ano. A diarreia infecciosa aguda continua sendo uma das causas mais comuns de mortalidade nos países em desenvolvimento, principalmente entre crianças pobres. A diarreia aguda, recorrente, em crianças de países tropicais resulta em enteropatia ambiental com impactos de longo prazo nos desenvolvimentos físico e intelectual. A doença diarreica ocorre com frequência inicial em países com recursos limitados, sobrepostos a casos epidêmicos de diarreia, disenteria ou diarreia aquosa. CLASSIFICAÇÃO A classificação das diarreias pode ser feita com base no tempo de duração do sintoma, nas características clínicas e topográficas e na fisiopatologia. Em relação ao tempo: Assim, diarreias agudas são aquelas com duração menor que 2 semanas, sendo a causa mais comum por infecções. A crônica acima de 4 semanas. Por fim, a diarreia persistente, aquela de duração entre 2 e 4 semanas. Em relação as características clínicas e topográficas: Pode ser classificada em alta e baixa e é diferenciada por meio do volume por evacuação, frequência, presença de tenesmo e restos alimentares/sangue e muco, conforme quadro a baixo: Denomina-se diarreia alta a originada no intestino delgado e baixa a relacionada com o intestino grosso. A importância dessa classificação está na diferenciação de causas mais frequentes em cada local, dirigindo melhor conduta médica investigativa e terapêutica iniciais. A maioria das etiologias que causam problemas ao trato gastrintestinal alto desencadeia diarreia de padrão secretor. Por outro lado, as diarreias baixas costumam apresentar padrão inflamatório. Em relação a fisiopatologia: Diarreia Secretora: resulta da hipersecreção de água e eletrólitos pelo enterócito, como ocorre pela ação das enterotoxinas bacterianas. Pode também resultar da produção excessiva de hormônios e outros secretagogos, como no gastrinoma (gastrina), na síndrome carcinoide (serotonina, prostaglandinas, calcitonina), na cólera pancreática (VIPomas), no adenoma viloso, na insuficiência adrenal e no hipoparatireoidismo. Ex: E. coli enterotoxigênica, Vibrio cholerae, Salmonella sp. Diarreia Osmótica: Ocorre por acúmulo de solutos osmoticamente ativos não absorvíveis no lúmen intestinal. Assim, ocorre retenção de líquidos intraluminais e consequentemente diarreia. É a partir desse mesmo mecanismo que funcionam os laxativos. O processo da digestão determina fisiologicamente a transformação do conteúdo intestinal em material isosmótico. Distúrbios da digestão presentes nas deficiências de dissacaridases, que mantêm um conteúdo hiperosmolar, determinam a passagem de líquidos parietais para o lúmen intestinal e, consequentemente, diarreia. O mesmo pode acontecer pela ingestão de agentes osmoticamente ativos como a lactulose, o manitol, o sorbitol e os sais de magnésio. Diarreia Motora/Funcional: resulta de alterações motoras com trânsito intestinal acelerado, como ocorre nas enterocolopatias funcionais ou doenças metabólicas e endócrinas. Nesse tipo de diarreia, a absorção e secreção estão normais, porém não há tempo suficiente para ocorrer a absorção desses nutrientes corretamente. É um diagnóstico de exclusão, ou seja, quando ausência de doença orgânica justificável. Surge, também, por redução da área absortiva consequente de ressecções intestinais ou de fístulas enteroentéricas. Diarreia Exsudativa/Inflamatória: decorre de enfermidades causadas por lesões da mucosa resultantes de processos inflamatórios ou infiltrativos, que podem levar a perdas de sangue, muco e pus, com aumento do volume e da fluidez das fezes. É encontrada nas doenças inflamatórias intestinais, neoplasias, shigelose, colite pseudomembranosa, linfangiectasia intestinal. Diarreia Disabsortiva: resulta de deficiências digestivas e lesões parietais do intestino delgado que impedem a correta digestão ou absorção. Este processo pode causar diarreia com esteatorreia e resíduos alimentares. ETIOLOGIA O mecanismo de geração da diarreia aguda na maioria das vezes está associado à agressão por microrganismo. Porém, outras causas como sobrecarga de solutos hiperosmolares por abusos alimentares ou fármacos (diarreia osmótica) e estímulos de peristalse exacerbados como os induzidos por estresse emocional nas síndromes funcionais (diarreia motora) também podem acarretar quadros agudos. Nas populações mais pobres, predomina a etiologia bacteriana e, nas de melhor nível social, prevalece a viral. Os mecanismos fisiopatológicos das diarreias infecciosas são os secretórios ou os inflamatórios. Alguns microrganismos estão mais associados ao estímulo secretório e outros, ao inflamatório. A maioria das diarreias infecciosas é adquirida pela transmissão fecal-oral pela água, alimentos ou contato interpessoal. Pacientes com diarreia infecciosa se queixam de náuseas, vômitos e dor abdominal, apresentando diarreia aquosa, com má absorção ou com sangue (disenteria). Por isso é importante buscar as características da gastroenterite, como o tempo de incubação, fonte de contaminação e fatores de risco. Gastroenterite viral: São a causa mais comum de diarreias infecciosas, sendo o mais importante o rotavírus. Esse promove diarreia predominantemente em bebês, comumente no inverno, mas também diarreia aguda não sazonal, particularmente em idosos. O norovírus é o que causa mais quadro de gastroenterite em adultos. O rotavírus invade células intestinais a partir de receptores específicos e em seguida, escapa do endossomo, ficando livre no citosol para se multiplicar.Em seguida, passa a produzir uma proteína chamada de NSP4, que bloqueiam alguns transportadores como o SGLT1, o que interrompe a absorção de sódio, glicose e água, provocando diarreia. Além disso, ativa vias de sinalização, como a do AMP cíclico, que aumentam os níveis de cálcio e promovem hipersecreção e diarreia. Gastroenterite bacteriana: O principal agente é a E. coli. Essa é uma bactéria colonizadora da flora intestinal, porém existem algumas formas patogênicas que podem ser adquiridas e causar diarreias. Essa distinção entre cepas patogênicas e não patogênicas é feita pela cultura das fezes. A Shigella é uma bactéria Gram-negativa, resistente ao suco gástrico. Encontrada em alimentos e água contaminadas. Existem quatro fases: incubação, durando de 1 a 4 dias; diarreia aquosa inicial, disenteria e fase pós-infecciosa. As principais complicações são intestinais (megacólon tóxico, perfuração intestinal, prolapso intestinal) ou metabólicas (hipoglicemia, hiponatremia, desidratação). O tratamento de escolha é feito com ciprofloxacino. A Salmonella spp é uma bactéria gram negativa que induz sua fagocitose pela ação de um sistema que injeta algumas moléculas nas células do intestino. Essas moléculas injetadas causam uma polimerização da actina e mudança do metabolismo da nossa célula intestinal de forma a fagocitar a Salmonella. Essa forma de invasão é chamada de gatilho. Após ser fagocitada, a Salmonella fica dentro do endossomo, que se funde com os lisossomos, formando o fagolisossomo. A Salmonella não morre lá dentro pois começa a produzir o SPI II, que injeta novas proteínas que fazem a Salmonella sobreviver. E, além disso, o SPI II também produz proteínas que modelam a atividade de microtúbulos das nossas células. Basicamente, eles incentivam que as cinesinas (proteínas motoras) puxem o fagolisossomo com a Salmonella dentro até para próximo das extremidades da célula intestinal, favorecendo sua disseminação. A salmonelose pode levar a febre tifoide ao ganhar a circulação através de macrófagos, por isso, todo paciente com suspeita de salmonella, deve pesquisar o sangue. O S. aureus é capaz de produzir uma toxina termoestável. A intoxicação alimentar está intimamente associada a essa bactéria, com em maionese, cremes, ovos. Os sintomas se iniciam após algumas horas da ingestão do alimento, cursando com diarreia volumosa, náuseas, vômitos e cólicas. A colite pseudomembranosa é causa pela bactéria Clostridium difficile. Trata-se de uma bactéria gram-positiva cujos esporos são observados principalmente em ambiente hospitalar. O risco de contaminação também está relacionado a idade avançada, doença de base grave, cateteres, antiácidos, cirurgias gastrointestinais. Os esporos germinam no delgado e colonizam o cólon. Essas vivem pacificamente até que uma causa qualquer, como uso de antibióticos, destrua a flora e as clostidium se multiplica, causando a doença. Essas produzem duas toxinas, A e B, que promovem lesão direta do cólon e alteração do citoesqueleto, respectivamente. Assim, para a doença é necessário a contaminação pela bactéria, uso de antibióticos, como cefalosporinas, que irão alterar a flora, e a presença de IgG contra a toxina A. O quadro clínico desses pacientes varia de gravidade, podendo ter apresentação clínica desde uma diarreia sem colite até uma colite fulminante. Inicialmente, apresenta diarreia nos 4 a 9 dias após o início do uso de antibióticos. Quase nunca apresenta sangue visível, possui um odor característico e aumento da frequência das evacuações, podendo apresentar até mesmo 20 evacuações por dia. Uma das apresentações se caracterizam por formação de pseudomembranas que cobrem o cólon. O diagnóstico da colite pseudomembranosa é feito através de uma combinação de critérios: • Diarreia com mais de 3 episódios de fezes não moldadas por dia, durante um tempo de 2 dias e que não possua outra causa; • Detecção de toxina A e B nas fezes ou detecção de C. difficile na coprocultura/PCR ou pseudomembranas na endoscopia do cólon. O tratamento vai se iniciar suspendendo o antibiótico que causou o quadro. Depois a conduta irá se basear em infecção primária ou recorrente. Geralmente, no tratamento utiliza-se metronidazol em casos leves a moderados e vancomincina ou fidaxomicina, em casos graves, por 10 dias. Gastroenterites parasitárias: A grande parte dos parasitos estão associados a diarreias persistentes a crônicas. Causas medicamentosas: Os medicamentos mais associados a quadros de diarreia são os antibióticos, particularmente clindamicina, ampicilina, cefalosporina, eritromicina; antiinflamatórios não esteroidais; anti-hipertensivos, como betabloqueadores, hidralazina, IECA, diuréticos 3. Qual diagnóstico e tratamento da diarreia aguda? Na história do paciente, devem-se investigar o local e as condições em que a diarreia foi adquirida. Deve-se investigar a ingestão recente de água, frutas ou verduras potencialmente contaminadas, alimentos suspeitos, viagens recentes, presença de pessoas próximas também acometidas, uso recente de antibióticos e outros fármacos, história sexual, banho em locais públicos e contatos com animais. Na avaliação da origem da diarreia, há que se considerar o período de incubação no caso de infecções intestinais que podem levar de horas a 2 semanas. A diarreia inflamatória apresenta espectro clínico mais grave e exige tratamento mais criterioso. É causada por bactérias invasivas, parasitos e bactérias produtoras de citotoxinas que afetam preferentemente o íleo e o cólon. Promove ruptura do revestimento mucoso e perda de soro, hemácias e leucócitos para o lúmen. Manifesta-se por diarreia, em geral de pequeno volume, com muco, pus ou sangue, febre, dor abdominal predominante no quadrante inferior esquerdo, tenesmo, dor retal. Algumas vezes, apresenta, no início da evolução, diarreia aquosa, que só mais tarde se converte em típica diarreia inflamatória, quando os microrganismos ou suas toxinas lesam a mucosa colônica. A diarreia não inflamatória é, em geral, moderada, mas pode provocar grandes perdas de volume. É causada habitualmente por vírus ou por bactérias produtoras de enterotoxinas e afeta preferentemente o intestino delgado. Os microrganismos aderem ao epitélio intestinal sem destruí-lo, determinando diarreia secretora, com fezes aquosas, de grande volume e sem sangue; pode estar associada a náuseas e vômitos. As cólicas, quando presentes, são discretas, precedendo as exonerações intestinais. Na avaliação clínica, além de definir o padrão da diarreia aguda, devem-se também avaliar possíveis complicações, especialmente a desidratação. Relato de boca seca e sede, diurese concentrada, oligúria, associados a achados ao exame físico de pele e mucosas desidratadas e hipotensão postural com taquicardia, demonstram desidratação e sua gravidade. Sinais de toxemia indicam quadro mais grave e necessidade de maior cuidado clínico. Desta forma, presença de febre alta, taquipneia, vasodilatação periférica com hipotensão e pulsos rápidos e finos são sinais de alerta. O exame físico do abdome normalmente exibe dor leve difusa à palpação, com possibilidade de descompressão brusca levemente dolorosa em situações de maior distensão de alças e dor mais intensa. Os ruídos hidroaéreos estão frequentemente aumentados. Dor localizada, sinais de irritação peritoneal intensa, massas ou visceromegalias, distensão abdominal importante e ausência de ruídos são achados que devem direcionar para avaliação cuidadosa pela possibilidade de outras afecções abdominais. Na maioria dos casos, a avaliação clínica é suficiente para definição diagnóstica e para determinar a gravidade do quadro. O estado imunológico do hospedeiro também é importante na conduta diagnóstica e terapêutica. Exemplos disso são: deficiência de IgA e giardíase, acloridria e salmonelose, transplantados e infecçãopor citomegalovírus, AIDS e criptosporidíase, idosos residentes em asilo e infecção pelo Clostridium difficile, imunodeprimidos e candidíase intestinal. A partir disso, a base para o diagnóstico é a cultura das fezes, para bactérias e vírus, parasitológico de fezes e imunoensaios para toxinas de vírus, bactérias e protozoários. Além disso, solicitação de hemograma, para avaliar leucocitose; bioquímica séria, para avaliar perda de eletrólitos. • Esses exames devem ser solicitados em pacientes com mais de 70 anos, duração maior que uma semana, ≥ 6 episódios/dia, desidratação grave, toxemia, imunossupressão, etiologia hospitalar ou sinais de diarreia inflamatória. EXAMES LABORATORIAIS: Hemograma: Em pacientes que evoluem com formas mais graves da diarreia aguda, podem-se encontrar anemia e hemoconcentração. Nas diarreias por vírus, linfocitose pode estar presente. Leucocitose com neutrofilia e desvio à esquerda é frequente nas infecções bacterianas mais invasivas com diarreia inflamatória. Função renal e eletrólitos: A desidratação causa hipovolemia que altera a perfusão renal, fazendo com que haja elevação da creatinina e, principalmente, da ureia em hipovolemias maiores. Essa complicação da diarreia deve ser prontamente diagnosticada principalmente em pacientes idosos. O distúrbio eletrolítico tem relação com perdas entéricas e deve ser corrigido quando presente ESTUDO DAS FEZES: É o teste mais utilizado na avaliação de diarreia aguda e identifica processos inflamatórios mais intensos. Entretanto, a simples presença dos polimorfonucleares nas fezes não caracteriza diarreia infecciosa, pois estes são encontrados também em outras afecções do intestino grosso. Do mesmo modo, em alguns casos de diarreia inflamatória, a pesquisa pode ser negativa no início do quadro. Coprocultura: A realização da coprocultura deve ser reservada para casos suspeitos de diarreia infecciosa por bactérias invasivas, na presença de sangue oculto e leucócitos fecais ou para os casos de interesse epidemiológico. Quando a coprocultura é solicitada, o laboratório deve ser informado sobre o agente etiológico suspeito, a fim de adequar o meio de cultura. Pesquisa de toxinas e antígenos de patógenos: Pesquisa de toxinas no diagnóstico de algumas bactérias pode ser mais útil do que a tentativa de sua cultura. O principal exemplo são as cepas patogênicas do Clostridium difficile que produzem as toxinas A e B. Essas toxinas podem ser identificadas nas fezes por teste por ELISA que comprova a presença de infecção pelo microrganismo. Na infecção viral pelo rotavírus, a pesquisa de antígenos virais nas fezes por ELISA é a melhor forma de confirmar presença do microrganismo. Giardia e Cryptosporidium também podem ser identificados pelo mesmo método EXAMES DE IMAGEM: Radiografia simples do abdome, nos casos mais graves, é útil para avaliar complicações como íleo paralítico e megacólon tóxico. A retossigmoidoscopia flexível deve ser feita nos pacientes com clínica de proctite (tenesmo, dor retal) e, também, se há suspeita de colite pseudomembranosa. Nesses casos, a biopsia é importante para excluir doença inflamatória intestinal. TRATAMENTO A base do tratamento de diarreias agudas é a hidratação e correção de distúrbios hidroeletrolíticos, realimentação, uso de antibióticos e de probióticos Pode-se também utilizar agentes antidiarreicos em pacientes sem febre e sem disenteria e agentes probióticos. Os probióticos são espécies de bactérias que colonizam e se replicam no trato intestinal humano e promovem um efeito benéfico no hospedeiro. Existem baixas evidências quanto ao seu resultado eficiente nos casos de diarreia, entretanto, é conhecido seu benefício nos pacientes com diarreias provocadas por uso de antibióticos. A terapêutica obstipante só deve ser instituída após diagnóstico etiológico e se a dieta e medidas de suporte, hidratação e correção de alterações eletrolíticas forem insuficientes. Nenhum destes medicamentos ataca as causas básicas promotoras de diarreia ou promovem o restabelecimento de água, eletrólitos e nutrientes perdidos durante o surto. • Agentes antidiarreicos como loperamida ou difenoxilato podem ser úteis para reduzir o número de evacuações em pacientes com doença leve. Anticolinérgicos (tintura de beladona, clidínio, brometo de propantelina e cloridrato de diciclomina) são úteis para reduzir as cólicas, dores abdominais e urgência. Mas cuidado! Agentes antidiarreicos e anticolinérgicos não devem ser usados em doença grave pelo risco de precipitar megacólon tóxico. Já o subsalicilato de bismuto é a droga de escolha quando o vômito é a principal queixa (principalmente nas gastroenterites virais. Reduz as evacuações em 50%, podendo ser usado nas profilaxias de diarreia dos viajantes Em geral, o tratamento com antibiótico é feito com quinolonas, com base em alguns patógenos mais frequentes, como Shigella, Salmonella, E. coli e Campylobacter, e vai ser restrito a alguns grupos, como pacientes com: • Febre • Disenteria • Frequência de evacuações maior que 8x por dia • Idosos e imunocomprometidos • Pacientes hospitalizados 4. O que é doença celíaca, epidemiologia, etiologia, fisiopatologia, QC, diagnóstico, tratamento? A doença celíaca (DC) é uma doença induzida pelo consumo de proteínas presentes no trigo, centeio e cevada, que afeta primariamente o trato gastrintestinal em indivíduos geneticamente suscetíveis, levando a uma lesão característica, porém não espcífica da mucosa do intestino delgado, que resulta na má absorção de nutrientes pelo segmento envolvido, melhorando com a retirada do glúten na dieta. A apresentação da DC varia desde oligossintomático/assintomático até as manifestações clássicas da doença como o déficit de crescimento, a desnutrição e a diarreia crônica. EPIDEMIOLOGIA No Brasil, estudos de rastreamento realizados em banco de sangue em indivíduos saudáveis encontraram uma prevalência de 1 :681 até 1 :273 doadores. Essa prevalência é ainda maior em algumas subpopulações, como: • Crianças com baixa estatura (1:18) • Pacientes diabéticos tipo 1 (1:21) • Pacientes com queixas dispépticas (1:71) A DC acomete indivíduos de qualquer idade e de ambos os sexos, predominando no feminino, tanto em séries pediátricas como de adultos. Classicamente descrita em indivíduos de raça branca, ocorrendo, com maior frequência, nos países anglo-saxônicos e nórdicos. Pode ser considerada de distribuição mundial, pois tem sido relatada recentemente em nativos de diversos países e em minorias étnicas. Estima-se que atualmente a DC acometa cerca de 1% da última maioria das populações. O aumento da incidência da DC nos os anos pode ser explicado pela maior disponibilidade dos testes sorológicos, principalmente com a determinação dos anticorpos antiendomísio (EmA-IgA) e antitransglutaminase (antitTG-IgA), e pela facilidade de biopsias através de exames endoscópicos nos pacientes positivos ou com alterações macroscópicas detectadas durante a endoscopia. Os familiares de celíacos são o grupo de maior risco ao desenvolvimento da doença o que reforça a importância do rastreamento sorológico em todos os familiares de celíacos, enfatizando a indicação de biopsia intestinal nos positivos, mesmo na ausência de sintomatologia clínica. ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA A predisposição genética é um fator bem estabelecido, demonstrada por concordância de 75% da doença entre gêmeos monozigóticos, com risco atribuído ao antígeno leucocitário humano (HLA) classe II, HLA-DQ2 e HLA-DQS, encontrados cm cerca de 95% dos celíacos. A fisiopatogenia é complexa e envolve o sistema imune inato e adaptado com indivíduos geneticamente suscetiveis, além de fatores ambientais. Apesar de os anticorpos antitransglutaminase(TTG) e antiendomísio (EMA) serem utilizados como marcadores da doença, a lesão intestinal não é mediada pela resposta humoral, mas pela celular. Entre as células do sistema imune celular, os linfócitos intraepiteliais são de fundamental importância e estão diretamente envolvidos na atrofia das vilosidades, apresentando-se aumentados em todos os pacientes com doença celiaca, destacando-se que eles não retornam aos valores semelhantes ao da população normal mesmo após o tratamento. Por ação das IL-15, produzidas pelas células epiteliais ativadas pela gliadina ou por células apresentadoras de antígenos, os linfócitos intraepiteliais sofrem um processo de transformação com expressão de marcadores de células NK, proliferam, produzem citocinas pró-inflamatórias, reduzem a taxa de apoptose e, principalmente, adquirem a capacidade de lise celular pela liberação de granzima e perforina. Sabe-se que a transglutaminase tecidual é o antígeno-alvo do anticorpo antiendomísio e está envolvida na fisiopatogenia da doença celíaca de diversas maneiras. O anticorpo, quando se liga a transglutaminase, bloqueia sua ação e reduz a disponibilidade do TGF- beta na sua forma ativa. A gliadina, por ser uma proteína com alto teor de prolamina e glutamina, é o substrato natural da transglutaminase. Após a ação da transglutaminase, a gliadina sofre um processo de deaminação, alterando sua carga elétrica e favorecendo sua afinidade por moléculas de histocompatibilidade classe II. A gliadina também estimula os macrófagos via My88 e resulta na ativação do sistema imune adaptada de forma especifica com produção de citocinas inflamatórias. A transglutaminase expressa na região subepitelial da mucosa intestinal, de maneira anômala, forma com a gliadina imunocomplexos capazes de ativar as células T, rearranjar o citoesqueleto e causar apoptose das células epiteliais. Além disso, um subtipo do anticorpo antitransglutaminase é capaz de estimular os monócitos via receptor tipo Toll 4. A gliadina induz ao aumento na permeabilidade intestinal, interferindo diretamente na sinalização da zona ocludente em todos os indivíduos, porem em pacientes com DC esse aumento é muito maior e mais prolongado. QUADRO CLÍNICO Deficiências nutricionais decorrentes da má-absorção de macro e micronutrientes, como, por exemplo, deficiência de ferro, ácido fólico, vitamina B12 e cálcio, devem ser diagnosticadas e tratadas. O dano nas vilosidades da mucosa intestinal pode ocasionar deficiência na produção das dissacaridases, na dependência do grau de seu acometimento. Por isso, deve-se verificar a intolerância temporária à lactose e sacarose, que se reverte com a normalização das vilosidades. Há relatos de uma série de manifestações não malignas associadas à DC, como, por exemplo, osteoporose, esterilidade, distúrbios neurológicos e psiquiátricos. Entre as doenças malignas, são relatadas associações com o adenocarcinoma de intestino delgado, linfoma e carcinoma de esôfago e faringe. O risco dessas manifestações está associado com a inobservância à dieta isenta de glúten e com o diagnóstico tardio, como nos sintomas neurológicos. DIAGNÓSTICO Para o diagnóstico definitivo da DC é imprescindível a realização de endoscopia digestiva alta com biópsia de intestino delgado com vista à realização de exame histopatológico, considerado o padrão-ouro para o diagnóstico. A biópsia deve constar de pelo menos quatro fragmentos, incluindo amostra do bulbo e das porções mais distais do duodeno. Os marcadores sorológicos são úteis para identificar os indivíduos que deverão ser submetidos à biópsia de intestino delgado e para acompanhamento do paciente celíaco, como, por exemplo, para detectar ver o funcionamento da dieta. Os principais testes sorológicos para a detecção da intolerância ao glúten são o anticorpo antigliadina, o anticorpo antiendomísio (EMA) e o anticorpo antitransglutaminase (IgA- tTG) • Com relação ao anticorpo antigliadina, determinado pela técnica de ELISA, a especificidade do anticorpo da classe IgA (71% a 97% nos adultos e 92% a 97% nas crianças) é maior do que da classe IgG (50%), sendo a sensibilidade extremamente variável em ambas as classes • O anticorpo antiendomísio (EMA) da classe IgA é identificado por meio de imunofluorescência indireta. Apresenta alta sensibilidade em adultos (87% a 89%) e em crianças maiores de dois anos (88% a 100%), e alta especificidade (91% a 100% nas crianças e 99% em adultos). Entretanto, apresenta pior relação custo/benefício e técnica mais trabalhosa. • Com relação ao TTG da classe IgA, determinado por ELISA, tem elevada sensibilidade (92% a 100% em crianças e adultos) e especificidade Considerando a maior facilidade da dosagem do IgA-tTG, aliado a elevadas sensibilidade e especificidade na população pediátrica e adulta, este é o teste sorológico de escolha para avaliação inicial dos indivíduos com suspeita de intolerância ao glúten. A deficiência de imunoglobulina A é responsável por resultados falsos negativos dos testes sorológicos antiendomísio e TTG da classe IgA. Por este motivo, indica-se como testes diagnósticos iniciais da DC a dosagem sérica simultânea do TTG da classe IgA e da imunoglobulina A. A avaliação sorológica deve ser feita em vigência de dieta com glúten A biópsia intestinal deve ser solicitada mesmo com sorologia negativa nos casos de deficiência de IgA e nos casos com alta suspeição clínica, como nos parentes de primeiro grau de doentes celíacos com sinais ou sintomas compatíveis. Em relação a biopsia do intestino delgado, a lesão clássica da DC consiste em mucosa plana ou quase plana, com criptas alongadas e aumento de mitoses, epitélio superficial cuboide, com vacuolizações, borda estriada borrada, aumento do número de linfócitos intraepiteliais e lâmina própria com denso infiltrado de linfócitos e plasmócitos. • Estágio 0 (padrão pré- infiltrativo), com fragmento sem alterações histológicas (normal); • Estágio I (padrão infiltrativo), em que a arquitetura da mucosa se apresenta normal com aumento do infiltrado dos linfócitos intraepiteliais (LIE); (> 40/100 entcrócitos) • Estágio II (lesão hiperplásica), caracterizado por alargamento das criptas e aumento do número de LIE; • Estágio III (padrão destrutivo), em que há presença de atrofia vilositária, hiperplasia críptica e aumento do número de LIE; • Estágio IV (padrão hipoplásico), caracterizado por atrofia total com hipoplasia críptica, considerada forma possivelmente irreversível. FLUXOGRAMA PARA DIGANÓSTICO: Na evidência de sintomas ou sinais das formas clássica e atípica da DC e para indivíduos que fazem parte de grupos de risco, especialmente se sintomáticos, deve-se solicitar, simultaneamente, a dosagem do anticorpo antitransglutaminase recombinante humana da classe IgA (TTG) e da imunoglobulina A (IgA). • Se ambas as dosagens se mostrarem normais, o acometimento do indivíduo pela DC é pouco provável. Entretanto, na forte suspeita de DC, deve- se encaminhar o paciente para serviço de referência em Gastroenterologia Pediátrica ou Clínica, para melhor avaliação quanto à indicação de realização de biópsia de intestino delgado • Em indivíduo assintomático com parente de primeiro grau acometido de DC, ou com diagnóstico de doença autoimune ou doença não autoimune relacionada à DC, recomenda-se repetir a dosagem do TTG no futuro. Se a dosagem do TTG for normal, mas a dosagem de imunoglobulina A (IgA) estiver alterada, deve ser considerada a possibilidade de falso negativo pela presença de imunodeficiência primária, e o indivíduo deverá ser encaminhado a serviço de referência em Gastroenterologia Pediátrica ou Clínica com vistas à realização de biópsia de intestino delgado Se a dosagem do TTG for anormal, o indivíduo deverá ser encaminhado ao serviço de referênciaem Gastroenterologia Pediátrica ou Clínica com vistas à realização de biópsia de intestino delgado. Caso o exame histopatológico seja positivo para lesão clássica da mucosa intestinal da DC, confirma-se o diagnóstico. Por último, TTG anormal, IgA normal e biópsia de intestino delgado com resultado do exame histopatológico negativo excluem o diagnóstico de DC, e o resultado da dosagem de TTG deve ser considerado falso positivo. Contudo, o exame histopatológico deve ser revisto e, se realmente for negativo, ou seja, se estiver ausente a lesão clássica da mucosa do intestino delgado, deve-se considerar a possibilidade de lesão em mosaico (acometimento em patchy) e indicar nova biópsia intestinal com a obtenção de múltiplos fragmentos. Se, novamente, o padrão histológico não for de DC, a existência desta doença é pouco provável TRATAMENTO O único tratamento para a doença celíaca é uma dieta estritamente livre de glúten por toda a vida. Nenhum alimento ou medicamento contendo glúten de trigo, centeio e cevada ou seus derivados pode ser ingerido. As aveias não são tóxicas em mais de 95% dos pacientes com doença celíaca, mas há um pequeno subgrupo para o qual a aveia não é segura. A eliminação completa do glúten da dieta dos pacientes com doença celíaca leva à remissão sintomática, sorológica e histológica na maioria dos pacientes. Com a aderência à dieta livre de glúten o crescimento e desenvolvimento das crianças se normalizam, e muitas complicações da doença nos adultos são evitadas. Aproximadamente 70% dos pacientes relata uma melhoria nos sintomas dentro das primeiras 2 semanas após ter iniciado a dieta sem glúten. Com controle dietético estrito, os níveis de anticorpos podem diminuir muito rápido após a instituição da dieta. Pelo contrário, nem sempre se consegue a resolução histológica completa, ou pode levar anos. Porém, no caso de diagnóstico tardio, pode haver alteração da permeabilidade da membrana intestinal por longo período de tempo e a absorção de macromoléculas poderá desencadear quadro de hipersensibilidade alimentar, resultando em manifestações alérgicas. Esse quadro deve ser considerado, quando o indivíduo não responde adequadamente à dieta sem glúten e apresenta negatividade nos exames sorológicos para DC. 5. O que são síndromes de má absorção (conceito, fisiopatologia)? Síndrome de má absorção intestinal é uma terminologia comumente empregada para descrever o resultado, tanto de hidrólise ineficiente de nutrientes (má digestão) quanto de defeitos na absorção intestinal pela mucosa (má absorção propriamente dita) e no transporte de nutrientes para a circulação sanguínea (no caso dos carboidratos e proteínas) e linfática (no caso das gorduras). Na síndrome de má absorção intestinal, o quadro clínico pode variar consideravelmente, desde manifestações clássicas, como diarreia, esteatorreia, emagrecimento e desnutrição, até apresentações mais discretas, como distensão abdominal e fatulência, ou mesmo manifestações extraintestinais, como anemia ferropriva, perda óssea, hipodesenvolvimento ponderoestatural e distúrbios da menstruação. Classicamente, a suspeita de má absorção intestinal em geral surgia apenas diante de diarreia/esteatorreia. Nos dias atuais, o conceito de má absorção engloba a absorção deficiente de um ou mais nutrientes da dieta, independentemente de haver diarreia ou esteatorreia. FISIOPATOLOGIA Basicamente, a digestão e a absorção dos nutrientes envolvem três fases: • Fase luminal: em que acontecem os processos de digestão intraluminal dos nutrientes • Fase mucosa: em que são observadas, tanto digestão complementar (hidrólise executada pelas oligossacaridases e peptidases da borda em escova) quanto absorção pela mucosa. • Fase de transporte: relacionada à passagem dos nutrientes para a circulação sanguínea e linfática. Assim, didaticamente, a má absorção intestinal pode, do ponto de vista fisiopatológico, ser classificada em condições que afetam as fases luminal (ou pré-entérica), mucosa (entérica) e de transporte (pós-entérica). Tal divisão é muito mais didática que um reflexo do que ocorre na prática, pois uma doença pode provocar má absorção por mais de um mecanismo. Por exemplo, na doença celíaca, a má absorção ocorre primariamente por lesão da mucosa. No entanto, a lesão da mucosa – e isso vale para todas as situações com lesão da mucosa intestinal – provoca redução na liberação de secretina e colecistocinina (CCK) e, por conseguinte, redução na estimulação pancreática e déficit na digestão. Ademais, há relatos de fibrose retroperitoneal na doença celíaca, o que, potencialmente, pode comprometer a circulação linfática. A absorção de nutrientes, vitaminas e sais minerais pelo trato gastrointestinal depende de várias etapas, e qualquer uma delas pode estar comprometida na síndrome de má absorção: solubilização, liberação do substrato ou ligação a fatores, alteração química, digestão de macromoléculas, funcionamento motor e sensitivo do intestino, funções hormonais e neuro-humorais, absorção e transporte pós-mucosa. Para fins didáticos, as causas de má absorção intestinal podem, ainda, ser divididas de acordo com as diversas fases dos processos de digestão e absorção normais: 1. Distúrbios na mistura: Os pacientes submetidos à gastrectomia parcial com reconstrução a Billroth II (gastrojejunoanastomose) podem desenvolver síndrome de má absorção resultante da liberação de secreções biliares e pancreáticas distante de onde o quimo chega ao jejuno. Os pacientes também apresentam uma tendência ao supercrescimento bacteriano, pelas anastomoses criadas pelo procedimento 2. Distúrbios na hidrólise luminal dos nutrientes, em especial a lipólise: Como já ressaltado, as situações de lesão da mucosa, em geral, acabam provocando déficit na digestão luminal dos nutrientes por falta de estímulo pancreático pela secretina e CCK.A lipase pancreática é a enzima responsável pela degradação dos lipídios ingeridos na dieta, particularmente os triglicerídios. Uma série de condições pode prejudicar sua síntese ou ativação, entre as quais: deficiência congênita de lipase pancreática, hipersecreção ácida gástrica, como no caso da síndrome de Zollinger- -Ellison ou gastrinoma, e destruição da glândula pancreática, por fibrose cística (mucoviscidose), infamação crônica (pancreatite crônica) ou neoplasia 3. Distúrbios na formação de micelas: Após a lipólise, o produto resultante (ácidos graxos e glicerol) interage com sais biliares e fosfolipídios para a formação de micelas, e sob essa forma ocorre a maior parte da absorção desses nutrientes. As micelas também incorporam colesterol e vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K) em seus centros hidrofóbicos. Existe uma concentração mínima de sais biliares necessária para a formação de micelas. Portanto, condições em que sua síntese (p. ex., cirrose hepática), transporte (p. ex., obstrução das vias biliares) ou reabsorção (p. ex., lesão do íleo terminal como na doença de Crohn ou ressecção ileal) estejam prejudicados, ou, ainda, em casos de remoção ou inativação luminal dos sais biliares ex., uso de colestiramina, quelando os sais biliares, desconjugação precoce dos sais biliares no supercrescimento bacteriano de delgado etc.) ocorre má absorção, a qual se caracteriza principalmente pela defciência de vitaminas lipossolúveis, uma vez que a absorção de ácidos graxos e glicerol pode se dar de outras formas, em menor grau. 4. Distúrbios na hidrólise da borda em escova: A deficiência adquirida de lactase é a causa mais comum de má absorção seletiva de carboidratos; ocorre principalmente por uma diminuição em sua síntese, mas também por defciência no transporte intracelular e na glicosilação da lactose. 5. Distúrbios na absorção pela mucosa: Um importante causa de má absorção intestinal, principalmente nos países em desenvolvimento, é a infecçãopor Giardia intestinalis, anteriormente chamada de Giardia lamblia. Nos casos de má absorção, o quadro histológico é de atrofa subtotal de vilos, com hiperplasia de criptas e infltração intraepitelial de linfócitos. Além da enteropatia produzida, outros fatores contribuem para o quadro clínico, como supercrescimento bacteriano, desconjugação de sais biliares e inibição de enzimas. 6. Distúrbios no transporte de nutrientes: O aumento na pressão do sistema linfático causa perda e até ruptura dos vasos linfáticos, com extravasamento para o lúmen intestinal de lipídios, gamaglobulina, albumina e linfócitos, acarretando um quadro de diarreia e edema, por hipoalbuminemia. Dentre as principais causas, destacam-se: linfangiectasia intestinal congênita primária (descrita em outro capítulo) e linfangiectasias secundárias ao linfoma, à tuberculose, à blastomicose, ao lúpus, à doença de Crohn, ao sarcoma de Kaposi, à fbrose retroperitoneal, à pericardite constritiva e à insufciência cardíaca congestiva em graus avançado. 7. Mecanismos não totalmente esclarecidos
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