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Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo Análogo de cetamina com potencial antagonismo de receptor de NMDA para o tratamento de depressão resiliente Chen Minzhen- 9328245 Gianfrancesco G. Antonangeli - 9328353 Gustavo Henrique Marques - 9328742 Thaina Brumatti - 8972076 Victor Hugo Alves - 9328096 São Paulo, julho de 2017 1. Introdução 1.1 Depressão A depressão é uma doença caracterizada pela perda de interesse ou prazer na maior parte das atividades do indivíduo, podendo causar prejuízo no funcionamento social, profissional, e outras áreas relevantes da vida do mesmo.[1] Além dos sintomas apresentados acima, existem diversos outros, dentre eles: tristeza, desânimo, apatia, insegurança, choro persistente, negativismo, desesperança, irritabilidade, falta de concentração, auto-estima depreciada, sentimentos de culpa, sentimentos de impotência, idéias de suicídio, entre outras. Pode ser causada por uma combinação de fatores tais como: desequilíbrio químico no cérebro, herança genética, características psicológicas e situações emocionais estressantes, porém popularmente é uma doença que gera sérios problemas sociais, por ter pouca visibilidade, existindo até crenças de que a depressão é uma “característica de pessoas frágeis”, sem ser tratada como um problema grave como de fato o é. Em geral, a psicoterapia é o tratamento mais comum para a depressão,[2] porém o conhecimento das causas e dos mecanismos dos desequilíbrios no sistema nervoso se tornou a base para a busca de intervenções farmacológicas nesses processos[3], a fim de tratar a doença de forma complementar à psicoterapia. O tratamento farmacológico associado à psicoterapia se mostra de grande ajuda aos pacientes, estabelecendo uma relação de complementariedade.[4] 1.2 Epidemiologia Considerando uma pesquisa realizada com mais de 89 mil pessoas em 18 países, foi obtido o percentual da população com pelo menos um episódio depressivo durante a vida, indicando a prevalência dessa doença na população global de maneira superficial. É possível notar que em alguns países como, por exemplo, a França, que mesmo sendo menor em tamanho, possui grande incidência da doença. Com tantos países afetados, a depressão passou a se tornar um problema de saúde pública mundial. Figura 1- Infográfico: Percentual da população/país com pelo menos um episódio depressivo durante a vida[5]; 1.3 Tratamento A origem dos antidepressivos vem do medicamento encontrado ao acaso nos anos 50, quando perceberam que a imipramina e a iproniazida poderiam ser usados no tratamento de depressão. Posteriormente seus mecanismos foram elucidados, mostrando que ambos os compostos aumentam a concentração de monoaminas extracelulares, seja bloqueando a as enzimas monoamina oxidases (iproniazida) ou inibindo os transportadores de serotonina e/ou de noradrenalina (como a imipramina). [7] 1.3.1 Classes de antidepressivos: 1.3.1.1 Inibidores seletivos da recaptação da serotonina (SSRIs) São moléculas que agem nas proteínas de membrana que retiram do meio extracelular o neuromediador serotonina. 1.3.1.2 Inibidores da recaptação de serotonina e norepinefrina (SNRIs) Seu mecanismo de ação é semelhante ao dos SSRIs, porém sua ação não fica limitada às proteínas de serotonina como as de Norepinefrina. 1.3.1.3 Inibidores da recaptação de norepinefrina e dopamina (NDRIs) Um dos poucos tipos não associados a efeitos colaterais sexuais. 1.3.1.4 Antidepressivos atípicos Não entram nas classes anteriores por não terem mecanismos parecidos com os explicados anteriormente. Esses fármacos são sedativos e de uso noturno (devido a sua ação sedativa), apresentam baixa incidência de efeitos colaterais sexuais. 1.3.1.5 Antidepressivos tricíclicos AD tricíclicos tem ação ampla. Elas agem nas proteínas que retiram neuromediadores do MEC (serotonina e Norepinefrina), agem como anticolinérgicos, sendo um antagonista de receptores muscarínicos.Eles também antagonizam receptores de epinefrina, podendo causar aumento da frequência cardíaca. (Preciso olhar com bastante cuidado essa parte.) 1.3.1.6 Inibidores de monoamina oxidase (MAOIs). Os inibidores de MAO tem ação nas enzimas que degradam a serotonina e dopamina no meio extra celular. Permitindo dessa forma que a concentração desses neurotransmissores na fenda sináptica não diminua tão rapidamente. 1.4 Latenciação A latenciação é um processo de modificação molecular que utiliza uma molécula latente derivada do fármaco ativo e que, por uma reação química ou enzimática in vivo, sofre a transformação em um composto ativo e o libera no local de ação ou próximo dele. É uma das modificações moleculares mais promissoras e mais utilizadas na atualidade. A criação de um pró-fármaco, em geral, deriva de um problema que o fármaco original apresenta: seja ele de origem farmacotécnica ou farmacocinética. A figura abaixo mostra algumas características importantes para considerar o desenvolvimento de um possível pró-fármaco: Figura 2 - Considerações para o desenvolvimento de pró-fármacos[8]. A liberação controlada é uma das principais melhorias que uma determinada alteração (seja ela uma modificação molecular ou adição de um transportador específico) pode proporcionar a um fármaco. Além de uma modificação molecular propriamente dita podemos inserir um transportador que auxilia no direcionamento e liberação controlada do fármaco, prolongando a ação do mesmo (aumentando até mesmo a adesividade do paciente ao tratamento), bem como reduzindo sua toxicidade por direcionar especificamente o fármaco para o local de ação e, geralmente, diminuir a dose terapêutica.[13] Os pró-fármacos são classificados em: bioprecursores, pró-fármacos clássicos, pró-fármacos recíprocos e fármacos dirigidos. Os pró-fármacos clássicos são formas latentes de fármacos que utilizam como transportadores pequenas moléculas, tais como os açúcares, aminoácidos ou peptídeos, com o objetivo de melhorar sua biodisponibilidade por aumento da hidrossolubilidade. Além disso, estas moléculas têm sido utilizadas, também, como transportadores com o objetivo de diminuir a toxicidade [14] Nesse contexto, temos os pró-fármacos que utilizam moléculas poliméricas (que podem ser análogas a proteínas ou não) e entre eles os pró-fármacos dendriméricos, ou seja, aqueles que utilizam de dendrímeros como transportadores. 1.5 Dendrímeros A palavra dendrímero vem de dendron que, em grego, significa árvore. Dendrímeros são macromoléculas sintéticas, que em sua maioria são polímeros que formam estruturas tridimensionais e complexas. Podem assumir um formato semelhante a uma esfera, com elementos como núcleo e ramos periféricos (como a copa de uma árvore), também chamados de “gerações” (G0, G1, G2.. etc), que são obtidos por reações sucessivas até chegar no composto final. Dendrímeros podem ser sintetizados por: síntese divergente, onde a molécula cresce de dentro pra fora (primeiro a obtenção do núcleo e a partir dele os respectivos ramos), ou por uma forma convergente, onde o dendrímero é construído a partir dos fragmentos da periferia. A escolha do método de síntese é determinada pelas reações químicas passíveis de serem realizadas, pelos requisitos estruturais ou pelo tipo de "blocos de construção" disponíveis para a síntese. Um polímero muito utilizado é o PAMAM poli(amidoamina), representado na figura 1, que foi sintetizado primeiramente em 1983 por Donald A. Tomalia. Tomalia utilizou o método denominado divergente, ou seja, partindo de um núcleo (etilenodiamina) e adicionando camadas, formando as gerações crescentes G1, G2, G3. O crescimento do dendrímero PAMAM é limitado pelo congestionamento da superfície, quando nenhuma reação adicional é possível devido ao impedimento estérico. Figura 3: Dendrímero de PAMAM de terceira geração. O núcleo está representado em azul e as gerações em cores diferentes;[9] A capacidade dos dendrímeros para o encapsulamento e liberação de uma moléculaou fármaco é conhecida e muitas vezes é realizada através da atração ou repulsão eletrostática. Por estar relacionada a tal, alterar o pH do meio pode resultar em liberação ou encapsulamento do mesmo[10]. Figura 4: Esquema de liberação e encapsulamento da molécula ou fármaco pelo dendrímero, relacionado principalmente ao pH do meio;[10] O processo de síntese de PAMAM, representado na figura 3, geralmente envolve o método divergente, utilizando-se de etilenodiamina e acrilato de metila. Ao final do processo é possível observar a formação da “árvore molecular”. Figura 5: Síntese do polímero poliamidoamina (PAMAM) Tomando como base a imagem acima, podemos observar que a primeira reação, que não passa de uma adição de Michael, entre o nitrogênio do etilenodiamina com o carbono sp2 insaturado (da ponta), resulta, após sucessivas vezes, no que seria o núcleo dendrimérico. Esse núcleo inicial, reage com o etilenodiamina formando uma ligação amida. As aminas primárias da ponta continuam a reagir com o acrilato de metila e com etilenodiamina, até se tornarem aminas secundárias e posteriormente terciárias, sobrando outras aminas primárias nas respectivas pontas em sucessivas cadeias poliméricas, até que o impedimento estérico seja tal que a reação seja impedida de prosseguir. A maior geração alcançada é a geração 10 (G10). Um estudo avaliou a citotoxicidade de dendrímeros PAMAM modificados em sua superfície com polietilenoglicol (PEG-dendrímeros)[11] e mostrou através de testes in vitro que a droga doxorrubicina, um fármaco para tratamento de tumores no cérebro, tem sua toxicidade reduzida comparada quando conjugada a outros tipos de polímeros. Estes resultados tornam dendrímeros PAMAM a serem importantes agentes para quimioterapia envolvendo tumores no cérebro. Outro fator para a redução da toxicidade é reduzir a dosagem, visto que a dose terapêutica devido ao direcionamento mais específico do fármaco junto ao polímero é menor e que pode contribuir para amenizar estes efeitos. 1.6 Características da Cetamina e Norcetamina As propriedades físico-químicas, bem como a fórmula estrutural da cetamina, 2-(2-Clorofenil)-2-(metilamino)ciclo-hexanona estão representadas na figra e tabela abaixo: Fórmula estrutural da cetamina.[19] Propriedade Valor Peso molecular 237.727 g/mol Doadores de hidrogênio 1 Aceptores de hidrogênio 2 XLogP3 2.2 Carga formal 0 Ponto de ebulição 93°C Absorção em UV 220 nm Tabela 1 - Propriedades físico-químicas da Cetamina.[19] As propriedades físico-químicas, bem como a fórmula estrutural da norcetamina, 2-amino-2-(2-clorofenil)ciclo-hexan-1-ona, estão representadas abaixo: Fórmula estrutural da norcetamina.[19] Propriedade Valor Peso molecular 237.727 g/mol Doadores de hidrogênio 1 Aceptores de hidrogênio 2 XLogP3 1.7 Carga formal 0 Ponto de ebulição 92°C Absorção UV 268 nm Tabela 2 - Propriedades físico-químicas da Norcetamina[19] 1.6.1 Espectro de massa 1.7 Processo de síntese da Cetamina: Segue abaixo uma proposta de síntese da Cetamina: Figura 6 - Processo de obtenção da Cetamina; [20] A síntese começa com a reação do ciclopentil Grignard e orto-clorobenzonitrila, resultando em orto-clorofenil-ciclopentilcetona, seguido de halogenação da cetona e reação do composto resultante com metilamina. A imina resultante desse processo é então aquecida e dá origem a Cetamina propriamente dita. A base experimental é que o rendimento da reação gira em torno de 60%. 1.8 Farmacocinética da Cetamina: Para entendermos a norcetamina, que é um metabólito oxidativo da cetamina, vamos analisar algumas propriedades estruturais e cinéticas da mesma. A cetamina é um antagonista não competitivo do receptor NMDA, e funciona como um bloqueador no canal de íons Ca++ que tem como consequência impedir a excitação neuronal (despolarização), como será detalhado mais à frente no tópico relacionado a mecanismo de ação. Figura 7 – Estruturas químicas dos isômeros ópticos da molécula de cetamina; [16] A cetamina apresenta um carbono quiral, e portanto, apresenta isomerismo óptico. Os isômeros apresentam propriedades sistêmicas diferentes quando analisadas in vivo. A S-cetamina, por exemplo, tem um clearance sistêmico maior quando usada sozinha do que na mistura racêmica, sugerindo uma inibição do clearance da S-cetamina pela R-cetamina.[14] A cetamina é rapidamente distribuída para o cérebro e outros tecidos com alta perfusão, devido ao seu alto valor de volume de distribuição. Segue abaixo uma tabela que relaciona os valores cinéticos relevantes para o estudo da cetamina: Meia vida de absorção 2-4(min) Meia vida de eliminação 2-4(h) Volume de distribuição (Vd) 160-50L/70kg Clearance (Cl) 60-147 L/h/70kg Tabela 3 – Valores farmacocinéticos da Cetamina (R-S) - Analisados em humanos. [15] 1.8.1 Biotransformação A cetamina passa por oxidação metabólica extensiva, sendo substrato das enzimas da classe CYP450, principalmente: CYP2B6, CYP2A6 e CYP3A5. Sofre redução (formando norcetamina) e hidroxilação (formando 4-hidroxicetamina e 6- hidroxicetamina). A norcetamina é o metabólito mais presente em humanos, além de ser a molécula farmacologicamente ativa. Os metabólitos são excretados na bile e urina após glucuronidação. Ambos os isômeros ópticos (R-S) da cetamina são demetilados de maneira similar em hepatócitos humanos in vitro. Figura 8 – Metabolismo oxidativo in vivo dos isômeros de cetamina pelas diversas enzimas da classe CYP 450; 1.9 Estudos com a cetamina agindo como antidepressivo Em 2000, um estudo acompanhou nove pacientes apresentando depressão. O estudo avaliou o efeito de soluções de cloridrato de cetamina (0.5mg/kg) e soluções salinas (como placebo e controle). Os participantes não tinham consumido ou utilizado álcool ou drogas de abuso antes do início do tratamento, sendo que dois pacientes se alegaram ex-alcoólatras, mas estavam sem consumir bebidas alcoólicas por um período superior a 8 anos. Eles também não tinham histórico de outros síndromes axiais tipo 1 (classificação dentro do sistema DSM), com exceção de um participante com diagnóstico comorbid de síndrome do pânico. Todos os pacientes estavam sem usar drogas de abuso, em boa forma e sem usar medicamentos por pelo menos 2 semanas antes do início da pesquisa. Determinados por histórico médico, exames físicos, testes sanguíneos, eletrocardiogramas e análises da urina. Os pacientes receberam tratamento por dois dias seguidos antes do início do processo do uso de infusão de soluções controle. As soluções foram ministradas durante um período de 40 minutos. Para avaliar as condições dos pacientes, os seguintes testes foram utilizados: Hamilton Depression Rating Scale (HDRS), um questionário sobre os diversos sintomas encontrados em pessoas sofrendo com depressão. Avaliados na hora do início do tratamento, 80 min, 230 min, 24 horas, 48 horas e 72 horas após o início da infusão. Beck Depression Inventory (BDI), um sistema de avaliação semelhante ao HDRS. Avaliaram os mesmos tempos que o HDRS, mas também os tempos de 10 min, 40 min e 110 min após o início da infusão. E o Visual Analog Scales (VAS), usado para avaliar a quantidade de dor que o paciente está enfrentando naquele momento, observando as respostas: No início da infusão, 10 min, 40 min, 80 min e 110 min após o início da infusão. As infusões de cetamina apresentaram reduções no teste HDRS muito maiores do que as soluções salinas, porém seu resultado só foi observado após 3 dias de tratamento. As análises incluíram sete dos pacientes, pois dois desistiram do estudo para se tratarem com antidepressivos. Figura 9: Variação da resposta ao teste HDRS em relação ao inicial em função do tempo. Os pacientes tratados com cetamina desde o início apresentaram uma resposta muito boa ao tratamento visto que as respostas observadas diminuíram em mais de 10 pontos do valor inicial, enquanto o placebo se manteve sem mudança. Referente ao teste HDRS. Dos pacientes que receberaminfusão de cetamina, quatro em oito demonstraram queda de 50% ou mais em seus testes HDRS no período de 3 dias de acompanhamento, contudo dos oito pacientes recebendo controle apenas um demonstrou melhora semelhante ao outro grupo. No entanto, os resultados do teste HDRS voltaram ao normal após 1 até 2 semanas depois da infusão, com exceção de um indivíduo que começou o tratamento com antidepressivos. A cetamina aumentou as respostas do teste VAS dos pacientes que a receberam., sendo que todos os pacientes marcaram sobre a linha de 50 mm depois do início da infusão. Enquanto que nos pacientes que receberam a solução salina de controle não apresentaram aumento de resposta neste teste. Com o término da infusão as respostas foram voltando ao normal, indicando que os pacientes deixaram de sentir dor. Para determinar como a cetamina poderia melhorar alguns sintomas específicos. Se sentiam deprimidos (p = 0.0025), tendências suicidas (p = 0.02), sua capacidade de lidar com problemas (p = 0.008) e sua validação própria (p = 0.015). Com este estudo foi possível observar que em baixas concentrações a cetamina diminuiu os sintomas da depressão por um período de 3 dias e mostra que os antagonistas de NMDA tem ação antidepressiva (J. H. Krystal, et. al.). Em um outro estudo, foram testados os efeitos de alguns antidepressivos glutamatérgicos em roedores, dentre eles a cetamina. Os compostos usados foram: Compostos Concentração (mg/kg) Cetamina 0.5, 2.5 e 10 Imipramine 20 Dizocilpine 0.05, 0.1, 0.2 Ro25-6981 1, 3 e 10 NBQX 10 Tabela 4 - Antidepressivos glutamatérgicos e as concentrações usadas na pesquisa[21]. Procurando estimular caracteristicas semelhantes ao da depressão nos roedores alguns métodos foram aplicados, sendo eles: Learned helplessness paradigm, forced swim test e passive avoidance conditioning. Também foi utilizada a técnica de Western blot para encontrar a concentração dos antidepressivos no hipocampo dos roedores. Efeitos antidepressivos agudos foram observados com as infusões de cetamina nos roedores em relação ao Learned helplessness paradigm, pois os animais começaram a se mover mais cedo, indicando que eles sentiram menos a falta de controle em relação aos testes. Depois de observar que os efeitos agudos da cetamina em ratos é semelhante aos de humanos, um teste mais longo foi preparado. Grupos de roedores receberam solução salina, solução contendo cetamina ou solução de imipramine 30 minutos antes do teste. Os grupos que receberam a cetamina e a imipramine se moveram mais rápido para sair da zona de desconforto como esperado. Eles então foram colocados em suas gaiolas e duas semanas depois foram expostos ao mesmo teste de desconforto, depois das duas semanas apenas o grupo que recebeu a solução de cetamina apresentou resposta rápida para saída da zona de desconforto. Mostrando que os efeitos antidepressivos da cetamina duram ao menos 2 semanas, mas os da imipramine não. Os gráficos mostram como a cetamina diminui o efeito de helplessness e que apesar da imipramine de forma aguda ter uma resposta melhor do que a cetamina, num prazo maior a cetamina continua apresentando resultados. Apesar dos efeitos antidepressivos da cetamina, o medo não é afetado pelo tratamento. Inicialmente, os ratos foram estimulados a entrarem em quartos onde foram eletrocutados. Depois disso, receberam as infusões salina ou de cetamina e foram colocados na mesma antesala com uma passagem para o quarto onde eles foram préviamente eletrocutados e ambos os grupos não entraram como antes do choque, evidenciando que a cetamina não age na memória de eventos ruins em roedores. Figura 10 - A) Número de desistência de fuga antes do LH, após LH e com infusão salina e após LH e infusão de cetamina. B) Tempo de imobilidade até o início da tentativa de fuga da zona de desconforto, mesmos padrões que o eixo x do gráfico A. C) Tempo de imobilidade até a tentativa de fuga da zona de desconforto com infusões salina, de cetamina e de imipramine - 30 minutos após o término da infusão. D) Tempo de imobilidade até a tentativa de fuga da zona de desconforto com infusões salina, de cetamina e de imipramine - 2 semanas após o término da infusão. Procurando verificar se a cetamina possui um mecanismo antidepressivo interagindo com as proteínas AMPA, os seguintes testes foram feitos usando um inibidor das proteínas AMPA, o NBQX. Figura 11: Gráficos comparativos entre o efeito dos antidepressivos com e sem NBQX. O inibidor de AMPA quando administrado sozinho não alterou os tempos de fuga. Quando foi ministrado junto à imipramine não houve diferença nos tempos reduzidos para fuga, porém quando ele foi ministrado junto a cetamina os tempos de fuga foram aumentados bastante chegando aos níveis observados anteriormente. Ainda avaliando os efeitos do NBQX, para elucidar se o seu efeito é apenas sobre o receptor e não sobre a molécula de cetamina, outros 2 antidepressivos, o Ro25-6981 e o MK-801. Sendo, o Ro25-6981 um antidepressivo de ação semelhante à cetamina e o MK-801 um inibidor da enzima NR2B escolhido pelos desenvolvimentos clínicos dessa classe de antidepressivos. Primeiro sem a adição de NBQX, os tempos de fuga (do teste FST) foram diminuídos em função da dose. Posteriormente com a adição do inibidor, os efeitos observados anteriormente sumiram. Figura 12 - A) Efeitos do composto MK-801 em diferentes concentrações. B) Efeitos MK-801 na presença de NBQX. C) Efeitos da infusão de MK-801 uma semana depois. D) Efeitos da infusão de Ro25-6981 em diferentes concentrações. E) Efeitos de Ro25-6981 na presença de NBQX. F) Efeitos de Ro25-6981 três dias após a infusão. A imagem acima mostra como o inibidor de AMPA bloqueia diretamente a AMPA e essa via de tratamento da depressão. Além disso, também vale ressaltar que a cetamina ainda apresenta o maior período com efeito após a infusão. Neste mesmo estudo foi avaliada a capacidade da cetamina de dessensibilizar os receptores AMPA frente a fosforilação, como ocorre quando há grande quantidade de glutamato. Figura 13 - Efeito na fosforilação dos receptores AMPA de hipocampo de roedores na presença de cetamina ou imipramine com e sem pré tratamento de NBQX. Os gráficos da figura 13 mostram que a taxa de receptor fosforilado cai na presença de cetamina, como se houvesse uma grande quantidade de glutamato, sugerindo como ela pode agir nele. A partir desses estudos foi possível evidenciar que os inibidores de NMDA e NR2B agem pela regulação da ação de receptores NMDA e AMPA. Mecanismo de ação da cetamina[18] O receptor do N-metil-D-aspartato (NMDA) é um receptor ionotrópico que é ativado pelo glutamato/aspartato e seu agonista NMDA que possui importante função na mediação de ações como: cognição, memória, plasticidade neural e neurotoxicidade. Ele altera também o funcionamento dos receptores dopaminérgicos, serotoninérgicos, colinérgicos e opióides, além dos canais de sódio. A cetamina é um antagonista não competitivo do receptor NMDA, o qual é o principal responsável pelos efeitos analgésicos; ela interfere na ação dos aminoácidos excitatórios, como o glutamato e aspartato. O glutamato é liberado na fenda sináptica por exocitose dependente de cálcio, onde pode atuar em diversos receptores, incluindo o NMDA. Esse receptor, além do glutamato, também requer glicina para abrir e é altamente permeável a cálcio, sódio e potássio. A cetamina possui dois principais mecanismos de ação: o bloqueio de canal aberto, levando a redução do tempo em que este permanece aberto e/ou a ligação ao receptor fechado, diminuindo a frequência de abertura do canal. Doses altas de cetamina levam a efeitos analgésicos e anestésicos pois há a ocorrência de ambos mecanismos. Já as baixas concentrações causam bloqueio do canal fechado, reduzindo o tempo médio durante o qual se encontra aberto por efeito alostérico. Imagem 14 - mecanismos de ação da cetamina O estresse diminui a neurogênese, principalmentea que ocorre no hipocampo. A administração crônica de antidepressivos leva a um aumento no número de novas células, mas não se tem controle sob as conexões novas a serem realizadas entre os neurônios - que é um fator de extrema importância para a recuperação da atividade cerebral, por isso o uso de cetamina se faz interessante. Figura 15 - Cetamina agindo no receptor NDMA (1) modulando o receptor local de glicina. Ativa o ácido propisóico (AMPA) na região de plasticidade neuronal. Começa a ação na liberação do glutamato (Gln) que aumenta a excitabilidade de fatores neurotróficos no cérebro. Fonte: Ketamine: leading the way toward fast-acting antidepressants. Abril, 2013. Ao analisar especificamente as conexões e árvores dendríticas do neurônio antes e após a depressão, nota-se tal mudança das conexões, devido a atrofia das árvores na doença. Imagem 16 - Árvores neuronais e sinapses em ratos em condições normais e após exposição a estresse.[23] BDNF O BDNF, fator neurotrófico derivado do cérebro, é associado à memória, capacidade cognitiva, concentração, volume de hipocampo e vulnerabilidade para depressão. Tal molécula ajuda na manutenção de neurônios e no crescimento e diferenciação de novos neurônios e sinapses. Sob estresse contínuo e depressão, o BDNF no hipocampo diminui muito, levando consequentemente a diminuição da memória, concentração e capacidade cognitiva.. Grande parte dos antidepressivos, como o prozac, possuem efeito reverso, levando a um aumento de BDNF, assim como a cetamina. Estudos recentes apontam como esse fator é importante para o desenvolvimento da depressão e bom andamento do tratamento. Por ser uma proteína, BDNF pode sofrer polimorfismo genético, ou seja, sua forma e resposta a diversos fatores pode ser diferente, individual, e tal forma de resposta pode ser passada geneticamente às outras gerações.[22] Figura 17 - O polimorfismo genético pode levar a uma mutação no gene expressor de BDNF. Vê-se, na figura acima, um neurônio em uma pessoa com expressão normal de BDNF e um apresentando polimorfismo genético negativo.[23] Os danos estruturais causados pela depressão são reversíveis - antidepressivos aumentam os fatores neurotróficos, muitas vezes conseguindo reverter o dano estrutural e funcional causado. Na imagem a seguir, vemos os resultados do uso de uma dose de cetamina, após 24 horas. As conexões ficam maiores e também mais funcionais. Figura 18 - Efeito da Cetamina em 24h - aumento das conexões neuronais.[23] A escolha da norcetamina Figura 19 - A cetamina e a norcetamina A escolha da norcetamina para nossas reações, ao invés da cetamina, se fez devido a maior facilidade de realizar a reação com o dendrímero PAMAM quando se trata de uma amina primária que uma secundária. 2. Objetivo e Justificativa Devido a alta toxicidade da cetamina, é interessante, do ponto de vista terapêutico, a criação de um novo fármaco ou nova formulação do mesmo, que apresente propriedades biológicas semelhantes, porém com menor toxicidade que o existente. Além disso, como há a possibilidade de um direcionamento maior da molécula, este deve ser explorado, visto que sua toxicidade diminuiria. Unindo-se o fármaco ao dendrímero espera-se também uma ação prolongada deste - o uso do dendrímero como transportador da molécula pode gerar um pró-fármaco dendrimérico que provocará liberação controlada do composto e, muito possivelmente uma maior adesão do paciente ao tratamento, até mesmo por serem administradas menos doses. Para obtenção do novo fármaco serão unidos o PAMAM e a norcetamina por latenciação, um método de modificação molecular citado na introdução. 3. Metodologia Figura 20 - Esquema da primeira parte da reação a ser realizada. (Fonte: Estruturas desenhadas no software ChemBioDraw) A reação demonstrada acima deve ocorrer em meio básico, com piridina, pois a piridina funciona como ativadora do anidrido succínico. Figura 21 - Síntese do composto final. O composto escolhido foi um análogo da cetamina, a norcetamina, devido ao fato de que a amina primária desta torna a reação mais fácil de ocorrer. Possíveis problemas devido a existência de dois anéis - estereoquimicamente falando - devem ser contornados com o uso de excesso de norcetamina, visando um menor efeito do impedimento estérico que possa vir a dificultar a reação. A proporção recomendada para tal deve ser de 1,5 de norcetamina para cada amina livre do PAMAM. Identificação da nossa molécula após a síntese A purificação pós síntese é um passo muito importante e para realizar isso, precisamos do maquinário específico para que o pró fármaco esteja o mais puro possível. Desta forma, concluímos que utilizar um HPLC conjugado à um espectrômetro de massas duplo seja o caminho a ser seguido. O HPLC pela sua eficiência em separar os conteúdos de uma solução. Este método é ideal para avaliar os produtos da síntese de norcetamina. O espectrômetro de massas serve para averiguar como o fármaco e o dendrímero reagiram. Este espectrômetro deve ser do tipo que apresenta três quadripolos, pois o dendrímero é uma estrutura bastante grande. Ao passar por 3 quadripolos gerando campos elétricos ortogonais, diversos fragmentos que geram ruídos no detector são retirados antes de chegar à placa e não sendo isto o bastante, um massas normal ficaria com seu detector cheio dos fragmentos enormes dando muito trabalho para a limpeza posterior no mínimo inutilizando a máquina por algum período de tempo. Figura 22 - Perfil calculado da Norcetamina. Conclusão O custo causado pela doença chega a 100 bilhões anualmente nos Estados Unidos da América. No Brasil, o SUS é cada vez mais sobrecarregado pela procura de psiquiátricos, psicólogos e novos tratamentos - alternativos ou não - para a depressão. Devido ao fato de que os tratamentos convencionais levam de 15 dias a um mês para começar a ter efeito, não levando em consideração o tempo necessário para ajuste de dose - período ainda de risco ao paciente, a pesquisa e desenvolvimento de uma molécula promissora que promova resultados mais rapidamente é extremamente válida. Com isso, o objetivo foi tentar, com os recursos que possuímos e conhecimentos técnicos, fazer uma análise crítica e um planejamento racional. Referências bibliográficas 1 - Manual Diagnóstico e Estatistico de Transtornos Mentais 5ª edição, American Psychiatric Association (2000); 2- Cuijpers P., Sijbrandij M., Koole S. L., Andersson G., Beekman A. T., Reynolds C. F. (2013). The efficacy of psychotherapy and pharmacotherapy in treating depressive and anxiety disorders: a meta-analysis of direct comparisons. World Psychiatry 12, 137–148; 3- Kalsi N, Altavilla D, Tambelli R, et al. 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