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Daniela Carvalho – Turma LVI SÍNDROME NEFRÍTICA ou GLOMERULONEFRITE DIFUSA AGUDA PÓS-ESTREPTOCÓCICA (GNPE) GNDA: processo inflamatório não-supurativo que acomete todos os glomérulos de ambos os rins, após período de latência de estreptococcia, em indivíduos suscetíveis. Pensar no diagnóstico quando: pré-escolar ou escolar apresentar aparecimento súbito de edema, hematúria e/ou oligúria e hipertensão arterial, com antecedente positivo de estreptococcia (impetigo ou faringite). Definição: A glomerulonefrite difusa aguda pós-estreptocócica (GNDA) é uma doença aguda de base imunológica que se caracteriza por um processo inflamatório não supurativo em todos os glomérulos de ambos os rins, sendo considerada, junto com a febre reumática, seqüela tardia de uma estreptococcia. EPIDEMIOLOGIA • É a mais freqüente das glomerulopatias na infância. • Sexo masculino é mais acometido (2:1). • Doença é rara antes dos 2 anos de idade, atingindo o pico ao redor dos 7 anos. ETIOLOGIA • A doença manifesta-se após infecção pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A e, ocasionalmente, pelo grupo C ou G. • Somente cepas nefritogênicas são capazes de causar a glomerulonefrite. • O risco médio de um indivíduo desenvolver a glomerulonefrite após uma faringite ou impetigo é de 15%, e, durante epidemias, essas taxas podem variar entre 5 e 25%, dependendo do sorotipo envolvido e da localização da infecção estreptocócica. ETIOPATOGENIA • A GNDA é uma doença imunologicamente mediada associada a faringite ou amidalite com determinadas cepas nefritogênicas. No entanto, etiopatogenia permanece desconhecida, e na literatura várias teorias tentam explicá-la: o Antígeno estreptocócico capaz de desencadear um processo imunológico com formação de imunocomplexos nos glomérulos: teoria heteróloga (teoria catiônica de Vogt – proteínas catiônicas dos estreptococos capazes de se ligarem a MBG e com isto a formação de imunocomplexos); teoria autóloga (teoria das neuroaminidades – o estreptococos beta- hemolítico do grupo A produz neuroaminidases que alteram a composição da IgG, facilitando sua fixação na MBG e com isto a formação de imunocomplexos). o Proteínas relacionadas com fatores nefritogênicos: endoestreptosina, a exotoxina B pirogênica estreptocócica e o receptor de plasmina de nefrite-associada (NaPlr). Imunocomplexo depositado na região subendotelial do capilar → ativação do sistema de complemento, pela via clássica ou, mais freqüentemente, pela via alternativa →liberação de substâncias quimiotáxicas por meio de neutrófilos e secreção de proteases → alterações na membrana basal glomerular com perda da sua integridade. FISIOPATOLOGIA • Processo inflamatório na MBG → perda da sua integridade → passagem de elementos que normalmente não são filtrados: hemácias, leucócitos, proteínas. Daniela Carvalho – Turma LVI o Esse intenso processo inflamatório endocapilar glomerular reduz a luz desses capilares, determinando uma diminuição da filtração glomerular com decorrente retenção de alguns compostos, como creatinina, uréia e potássio, entre outros, e, dependendo do comprometimento glomerular, leva à insuficiência renal aguda. • Redução da filtração glomerular → diminuição da oferta de água e eletrólitos aos túbulos renais → promoverão a reabsorção de sódio e água → oligúria e aumento do volume extracelular circulante → edema, hipertensão arterial e congestão circulatória. PATOLOGIA • Imunofluorescência: observam-se depósitos granulares de C3, IgG e beta-1-C-globulina ao longo das paredes capilares e, em menor intensidade, na matriz mesangial. Depósitos de properdina e fibrinogênio podem ser observados. • Há também alterações à microscopia óptica e eletrônica. QUADRO CLÍNICO • Contato com o estreptococo → infecção na orofaringe ou na pele → latência de 1 a 3 semanas → GNDA = edema, hipertensão arterial e hematúria. o Edema: principalmente em face; não é muito intenso; as vezes é só subclínico (aumento brusco de peso ou roupas e sapatos apertados); em alguns casos pode ser importante. o Hipertensão arterial: usualmente assintomática; em alguns pacientes pode surgir encefalopatia hipertensiva. o Hematúria macroscópica (25-35% dos casos) ou microscópica (na maioria dos casos). o Oligúria: geralmente está presente. COMPLICAÇÕES • Congestão cardiocirculatória: hipervolemia (taquicardia, dispnéia, tosse, estertores subcreptantes em bases pulmonares e hepatomegalia). Alguns poderão desenvolver franca insuficiência cardíaca congestiva. • Encefalopatia hipertensiva: hipertensão arterial grave, cefaléia, vômitos, diplopia, amaurose, agitação, sonolência, convulsões e coma. • Insuficiência renal aguda (IRA): oligoanúria com retenção de escórias. EXAMES COMPLEMENTARES • Alterações Urinárias (Urina 1, Urina de 24 horas) o Geralmente a proteinúria é discreta a moderada. o No sedimento urinário existe hematúria, leucocitúria e cilindrúria. Os cilindros hemáticos indicam que o sangramento é de origem renal. • Bioquímica sérica (Uréia, Creatinina e Eletrólitos) o Os níveis de uréia e creatinina podem estar dentro do limite da normalidade; às vezes, estão elevados em grau discreto ou moderado. Se alto, pensar em DRC com agudização ou evolução para IRA e glomerulonefrite rapidamente progressiva. o As alterações no sódio, potássio e bicarbonato depen dem do grau de déficit da função renal. • Hematologia (Hemograma) o Discreta anemia dilucional (hipervolemia). • Complemento sérico (Dosagem do complemento sérico) o C3 diminuído em 95% dos casos, a normalização de seus níveis ocorre dentro de 4 a 8 semanas → importante para confirmação diagnóstica. • Título de antiestreptolisina O (ASO) (ASLO, antihialuronidase) Daniela Carvalho – Turma LVI o Pode estar elevado, dependendo do local da infecção e do sorotipo infectante (mais elevado nas amigdalites). • Bacteriologia o As culturas de secreção de orofaringe e da pele têm pouca importância porque a infecção antecede em 1 a 3 semanas o aparecimento do quadro clínico da GNDA. • Biópsia renal o Deve ser realizada em casos atípicos: ▪ anúria ou oligúria importante por mais de 72 horas; ▪ proteinúria nefrótica por mais de 4 semanas; ▪ hipertensão ou hematúria macroscópica por mais de 6 semanas; ▪ C3 baixo por mais de 8 semanas; ▪ azotemia acentuada ou prolongada. • Pode-se solicitar também colesterol, TG e US renal para fazer DD. TRATAMENTO Deve-se dar preferência ao tratamento ambulatorial; a hospitalização restringe-se aos casos de oligúria intensa, de insuficiência cardíaca ou de encefalopatia hipertensiva. Medidas gerais • Repouso relativo, conforme a criança for melhorando, a atividade física será progressivamente liberada. • Retrição hídrica e dieta hipossódica o A quota hídrica deve ser restrita a 20 mL/kg/dia ou 300 a 400 mL/m² /dia. Quando houver regressão do edema, deve-se acrescentar as perdas do dia anterior (diurese e/ou vômitos). o A ingestão de sódio deve ser di minuída (menos que 2 g de NaCl/m2 /dia), também durante a fase de edema, hipertensão e oligúria. o A restrição proteica é necessária quando houver queda importante da filtração glomerular. A quota de potássio tem de ser diminuída se houver hiperpotassemia. Tratamento medicamentoso • Antibióticos o Têm como objetivo erradicar o estreptococo. A administração precoce do antibiótico não altera o tempo nem a gravidade da doença. A droga mais utilizada é a penicilina (Penicilina V). • Diuréticos o Furosemida na dose de 1 a 4 mg/kg/dia, VO ou IM, utilizada nos casos de congestão cardiocirculatória importante e de hipertensão arterial sintomática ou quando, apesar da dieta, a pressão arterial elevada não cede. • Hipotensores o Somente utilizados nos casos em que há desaparecimento do edema e da oligúria, sem o desaparecimento da hipertensão ou, ainda, nos casos de hipertensão sintomática. As drogas maisutilizadas são a hidralazina e a nifedipina. ▪ Nifedipina 0,10 a 0,25 mg/kg/dose, a cada 3 a 4 horas, ou, para crianças maiores de 6 anos, amlodipina 0,1 a 0,2 mg /kg, a cada 24 horas, dose máxima de 10 mg/dia; captopril 0,2 a 0,5 mg/kg/dose a cada 8 a 12 horas, dose máxima de 5 mg/kg/dia; monitorar K+ e creatinina. ▪ Nos casos de encefalopatia hipertensiva, deve-se utilizar o nitroprussiato de sódio 0,5 a 8 mcg/kg/min em uma unidade de tratamento intensivo. Daniela Carvalho – Turma LVI • Anticonvulsivantes o Nos casos de convulsões associadas a encefalopatia hipertensiva ou distúrbios metabólicos, usa-se Diazepam 0,1 a 0,5 mg/kg/dose, EV, lentamente; quando a convulsão ceder, suspender o medicamento. A diálise peritoneal está indicada nos casos de oligoanúria, hipercalemia e insuficiência renal aguda. EVOLUÇÃO E PROGNÓSTICO • O primeiro sinal de melhora é o aumento da diurese com a conseqüente diminuição do edema e a normalização dos níveis da pressão arterial. • A hematúria macroscópica desaparece na 1ª ou 2ª semana de doença. Já a hematúria microscópica pode permanecer até 18 meses, sem indicar um mau prognóstico. • A proteinúria nefrótica deve desaparecer em até 4 semanas, e uma proteinúria discreta deve desaparecer nos primeiros 6 meses de evolução. • O prognóstico da GNDA é bom27. Aproximada mente 5% dos pacientes podem evoluir para cronicidade. Fonte – resumo baseado em: Tratado de pediatria: Sociedade Brasileira de Pediatria. – 2.ed. – Barueri, SP: Manole, 2010.
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