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CRIMES-PREVIDENCIÁRIOS

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SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 3 
2 DOS CRIMES CONTRA A PREVIDÊNCIA SOCIAL ..................................... 4 
2.1 O regime da Lei n. 9.983/2000 ................................................................ 5 
2.2 Apropriação indébita previdenciária ........................................................ 6 
2.2.1 Qualificação jurídica ............................................................................. 7 
2.2.2 Tipos similares de apropriação indébita previdenciária ...................... 13 
2.2.3 A prescindibilidade do animus rem sibi habendi e o crime omissivo 
próprio.................................................................................................................... 15 
2.2.4 Extinção da punibilidade .................................................................... 16 
2.2.5 Perdão judicial .................................................................................... 17 
2 REFIS ....................................................................................................... 18 
2.1 Princípio da insignificância ................................................................. 19 
2.2 Pendência de recurso administrativo.................................................. 20 
3 INSERÇÃO DE DADOS FALSOS (ART. 313-A, CP)................................ 21 
4 ALTERAÇÃO NÃO AUTORIZADA NO SISTEMA INFORMATIZADO DA 
PREVIDÊNCIA (ART. 313-B, CP) ............................................................................. 23 
5 SONEGAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO (ART. 337-A)................................... 25 
6 DIVULGAÇÃO DE INFORMAÇÕES SIGILOSAS OU RESERVADAS ..... 28 
7 FALSIDADE DOCUMENTAL .................................................................... 29 
8 FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO ......................................... 30 
8.1 Falsificação de documento público previdenciário ............................. 32 
9 ESTELIONATO PREVIDENCIÁRIO ......................................................... 33 
9.1 Estelionato Previdenciário na Ótica do Superior Tribunal de Justiça . 36 
9.2 Princípio da insignificância ................................................................. 38 
9.3 Natureza do crime .............................................................................. 40 
9.4 Divergência ........................................................................................ 41 
 
2 
9.5 Extinção da punibilidade ..................................................................... 42 
10 A FUNÇÃO ADMINISTRATIVA ............................................................. 43 
11 CONCEITO E CARACTERIZAÇÃO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO
 50 
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 59 
 
 
 
3 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - 
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum 
é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora 
que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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2 DOS CRIMES CONTRA A PREVIDÊNCIA SOCIAL 
O sistema de seguridade social brasileiro, moldado sob a forma de regime de 
repartição, impõe sejam coibidas condutas tendentes a desrespeitar as 
normas estatais que regem o seu financiamento. Uma vez desrespeitada a 
norma estatal cogente, incorre o indivíduo na prática de ato ilícito. Nem toda 
conduta ilícita é, todavia, caracterizada como crime, verbi gratia, a 
inadimplência de tributo pelo contribuinte, por não ter recursos financeiros 
para cumprir a obrigação. Tem-se então que é a norma penal que atribui ao 
Estado o poder de punir o indivíduo que a descumpra: poder abstrato, que se 
torna concreto no momento em que ocorre a violação. A possibilidade jurídica 
de apenar o infrator da lei denomina-se punibilidade. (DELMANTO, 1986. 
apud LAZZARI,2019). 
 
 
Fonte: oficinadenoticias.com 
Bem jurídico não é apenas o crédito público, mas os mais básicos interesses 
dos indivíduos: sua saúde, manutenção, previdência contra intempéries; enfim, uma 
vida digna. 
Seguridade e um dos objetivos é a diversidade da base de financiamento. 
Tutela-se a higidez do sistema securitário social. 
A Lei n. 8.212/1991 estabelecia, no seu art. 95, normas penais que tipificavam 
os crimes contra a Seguridade Social. Essas regras vigoraram até 14.10.2000, pois, 
a partir de então, entrou em vigor a Lei n. 9.983, de 14.7.2000, que deu novo 
tratamento à matéria, e, por ser lei mais benéfica, tem aplicação retroativa, segundo 
inteligência do art. 2º, parágrafo único, do Código Penal. 
 
5 
2.1 O regime da Lei n. 9.983/2000 
A Lei n. 9.983/2000 alterou o Decreto-lei n. 2.848, de 7.12.1940 – Código Penal, 
mediante a tipificação de condutas que constituem crimes contra a Previdência Social, 
e deu outras providências. Ou seja, levou para o Código Penal as condutas que 
caracterizam crimes contra a Previdência Social. 
O projeto de lei, de iniciativa do Poder Executivo, foi fruto de uma demorada 
maturação sobre a experiência adquirida após a lei de 1991 e de discussões 
internas dos diversos setores jurídicos e técnicos integrantes da instituição, 
visando dotar o aparelho repressivo e judiciário de instrumentos mais eficazes 
no combate a essa espécie de criminalidade. (EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS, 
1999. Apud, CASTRO, 2019). 
À Parte Especial do Código Penal foram acrescentados os arts. 168-A, 
313-A-B e 337-A e alterados os arts. 153, 296, 297, 325 e 327. 
Entre os crimes previstos estão: 
 a apropriação indébita previdenciária; 
 a inserção de dados falsos no sistema informatizado da Previdência; 
 a violação desse sistema; 
 a sonegação da contribuição; 
 a falsificação de documentos, 
 e o acesso sem autorização ao sistema. 
As penas previstas como punição variam de dois a doze anos de prisão e multa. 
Há a previsão, porém, da extinção de punibilidade se o agente espontaneamente 
declarar, confessar e efetuar o pagamento das contribuições. 
O art. 95 da Lei n. 8.212/1991 foi revogado, salvo o seu § 2º, que prevê sanções 
administrativas contra a empresa que transgredir as normas estabelecidas pela lei de 
Custeio da Seguridade Social. 
Em verdade, a redação desse dispositivo não apresentava boa técnica 
legislativa, pois se restringia a descrever a conduta ilícita, mas não previa cominação 
legal ao infrator. 
Somente em relação às alíneas d, e e f era prevista a pena, por meio de 
remissão ao art. 5º da Lei nº 7.492, de 16.6.1986 (crimes contra o Sistema Financeiro 
Nacional), que era de dois a seis anos de reclusão e multa. 
 
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2.2 Apropriação indébita previdenciária 
O art. 168-A, acrescentado ao Código Penal pela Lei n. 9.983/2000, detalha e 
aumenta o universo de condutas delituosas atribuídas aos contribuintes que, de 
alguma forma, visam à sonegação fiscal. O legislador buscou aperfeiçoar o tipo legal 
até então existente (art. 95 da Lei n. 8.212/1991), denominando-o de Apropriação 
Indébita Previdenciária, o qual possui a seguinte redação: 
Art. 168-A.Deixar de repassar à previdência social as contribuições 
recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional: 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. 
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem deixar de: 
I - recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à 
previdência social que tenha sido descontada de pagamento efetuado a 
segurados, a terceiros ou arrecadada do público; 
II - recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado 
despesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à prestação 
de serviços; 
III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou 
valores já tiverem sido reembolsados à empresa pela previdência social. 
§ 2º É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, 
confessa e efetua o pagamento das contribuições, importâncias ou valores e 
presta as informações devidas à previdência social, na forma definida em lei 
ou regulamento, antes do início da ação fiscal. 
§ 3º É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa 
se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que: 
I - tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a 
denúncia, o pagamento da contribuição social previdenciária, inclusive 
acessórios; ou (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) 
II - o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou 
inferior àquele estabelecido pela previdência social, administrativamente, 
como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais. 
(Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) 
 
Quando digo, deixar de repassar tenho um crime omissivo. As contribuições 
dos contribuintes já foram recolhidas. 
Crime de conduta mista, eu só posso deixar de repassar aquilo que de fato eu 
descontei e eu só posso descontar aquilo que eu tenho. 
Da leitura desse dispositivo conclui-se que o legislador pretendeu impor a 
sanção do crime de apropriação indébita previdenciária a quem deixar de repassar ou 
de recolher, no prazo estabelecido, contribuição ou qualquer valor destinado à 
Previdência Social que tenha sido descontado de pagamento efetuado aos segurados, 
a terceiros ou arrecadadas do público, bem como o não recolhimento de contribuições 
que tenham integrado despesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou 
à prestação de serviços. 
 
7 
Aplica-se, ainda, a quem deixar de pagar benefício devido a segurado, quando 
o respectivo valor já tiver sido reembolsado à empresa pela Previdência Social. 
Essa norma tem objetivo claro, qual seja, evitar a sonegação fiscal, inibindo o 
desvio de contribuições destinadas ao financiamento da Seguridade Social. Tutela 
subsistência financeira das ações destinadas a assegurar os direitos relativos à 
saúde, à previdência e à assistência social. 
Assim, podemos falar, que o crime de apropriação indébita previdenciária é tão 
somente apropriar-se indevidamente das contribuições descontadas e não 
repassadas à previdência social. 
O bem jurídico tutelado é o patrimônio da previdência social, é a previdência 
que está sendo prejudicada, em razão do agente pegar, descontar as contribuições e 
não repassar aos cofres da União. 
Digamos que um empresário, arrecadou as contribuições previdenciárias de 
seus empregados, descontando-as das respectivas remunerações, mas não recolheu 
esses valores aos cofres da previdência social, veja, ele descontou da remuneração 
as contribuições dos segurados, que é uma obrigação, mas ele deveria repassar e 
não o fez, o fato dele ter deixado de repassar para a Previdência Social as 
contribuições descontadas dos segurados e se apropriou desses valores, cometendo 
assim crime de apropriação indébita previdenciária. 
Porém, se até antes do início da ação fiscal ele confessar a dívida e efetuar 
espontaneamente o pagamento integral dos valores devidos, prestando as devidas 
informações ao órgão da previdência social, a punibilidade de sua conduta será 
extinta. Segundo o § 2º do art. 168-A. 
2.2.1 Qualificação jurídica 
a) Conceito e objetividade jurídica 
"Deixar de repassar" corresponde a não transferir ou recolher o valor recebido 
para o titular do crédito juridicamente reconhecido, isto é, a União. 
O núcleo do tipo é o verbo "deixar de repassar". 
A caracterização do crime depende da ausência de repasse após certo prazo, 
que é definido em lei para o recolhimento aos cofres da União. 
O objeto jurídico tutelado pela norma penal é o patrimônio da sociedade, uma 
vez que o art. 195, da CF, diz que: 
 
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A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e 
indireta, nos termos da lei. 
O objeto ou bem jurídico tutelado pela norma penal é o patrimônio da 
Seguridade Social. 
O objeto material é a contribuição recolhida. 
A apropriação indébita previdenciária exige a conduta "deixar de repassar" e o 
objeto "as contribuições recolhidas dos contribuintes" e o elemento temporal "no prazo 
e forma legal ou convencional". 
A figura típica pressupõe a existência do recolhimento, contribuindo assim para 
a frustração dos recursos que se destinam ao financiamento dos bens e serviços 
ofertados pela Previdência Social. 
Há uma distinção entre descontar e recolher. Desconta-se do segurado e 
recolhe-se para a União. 
O caput do artigo trata da hipótese de substituição tributária, que consiste na 
atribuição, imposta legalmente a um responsável tributário, de deduzir do valor do 
tributo devido na ocorrência do fato gerador e deixá-lo de repassar ao erário. 
O art. 121, do CTN define a possibilidade de o responsável tributário ser sujeito 
passivo da obrigação: 
Art. 121. Sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao 
pagamento de tributo ou penalidade pecuniária. 
Parágrafo único. O sujeito passivo da obrigação principal diz-se: 
I - contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta com a situação que 
constitua o respectivo fato gerador; 
II - responsável, quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua 
obrigação decorra de disposição expressa de lei. 
b) Elemento subjetivo 
Não há no artigo, na regra, o crime citado na forma culposa, porém o STF 
entende que sim, apesar de não haver previsão expressa desse crime na modalidade 
culposa. Talvez foi um ajuste social, uma interpretação sociológica do STF. Temos, 
segundo o posicionamento isolado do STF, apesar de não estar expressamente 
previsto. 
 
c) Sujeitos ativo e passivo (crime próprio) 
O sujeito ativo é aquele que tinha a obrigação de repassar o valor à União. 
Por isso se diz que tal crime é próprio. 
 
9 
Trata-se de crime próprio, ou seja, é uma espécie de delito que segundo a lei 
só pode ser cometido por uma determinada pessoa, ao passo que o crime comum 
pode ser cometido por qualquer pessoa. 
Aqui o crime é próprio sob o aspecto do agente ativo, isto é, o autor será sempre 
aquele que tem a obrigação de recolher o valor descontado a título de contribuição 
previdenciária. 
O agente ativo é aquele a quem incumbe efetuar a retenção e o recolhimento 
das contribuições. 
Embora o art. 30, incisos I e IV, da Lei de Custeio, fale que a obrigação de 
arrecadação das contribuições previdenciárias é da empresa ou da consignatária ou 
da cooperativa, a punição não pode ser suportada pela pessoa jurídica, mas por seus 
representantes. 
O sujeito passivo seria a Previdência Social que representa o Estado por meio 
da União. (GRECO, 2009. apud, SALAZAR, 2018). 
Assim, enquadra-se na hipótese o titular de firma individual, os sócios 
solidários, os gerentes, diretores ou administradores. 
 
 
Fonte: www.disquedenunciape.com 
Ele é próprio também sob o aspecto do agente passivo que será sempre a 
União. 
Para evitar a responsabilização penal de quem não cometeu o crime, diz a 
jurisprudência que o sócio gestor é quem deve responder pelo crime (RTJ 49/388). 
http://www.disquedenunciape.com/
 
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O prefeito pode serresponsabilizado, conforme decidiu o antigo TFR (HC 
72271-7, de 14.10.1995, Min Moreira Alves, RDDT 5/173). 
 
d) Consumação e elemento temporal 
Segundo o STJ, a consumação do crime não decorre do desconto efetuado 
sobre a remuneração do contribuinte, mas ocorre com o não recolhimento tempestivo 
do valor que o agente abateu do crédito do contribuinte. 
 
e) Crime de mera conduta 
A figura típica do art. 168-A, levando-se em conta o resultado: 
É crime de mera conduta (Resp 433295/AL, 6ª T, DJ 4.6.2007, Rel. Paulo 
Gallotti). 
A teoria normativa afirma que inexiste crime sem resultado, já que todo ato 
delitivo resulta num dano ou perigo de dano, ao passo que a teoria naturalística diz 
que nem todo crime produz um resultado, isto é, a alteração no mundo físico. 
Assim, na lesão corporal há um resultado naturalístico, tendo em vista que há 
a alteração do aspecto físico. No crime de mera conduta não existe correlação com a 
alteração exterior, sendo bastante a conduta. Por isso que no crime de apropriação 
indébita previdenciária, o legislador descreve apenas a conduta (deixar de 
repassar…). 
Clarificando a qualificação ora discutida, Damásio faz uma distinção entre os 
crimes de mera conduta, a exemplo do previsto no art. 168-A, e os ditos crimes 
formais. 
"Distinguimos os crimes formais dos de mera conduta; estes são sem 
resultado; aqueles possuem resultado, mas o legislador antecipa a 
consumação à sua produção; no crime de mera conduta o legislador só 
descreve o comportamento do agente. Exs: violação de domicílio (art. 150), 
desobediência (art. 330). (…). No crime formal o tipo menciona o 
comportamento e o resultado, mas não se exige a sua produção para a 
consumação. No crime material o tipo menciona a conduta e o evento, 
exigindo a sua produção para a consumação. Exs crime contra a honra, 
ameaça…" (Damásio, 1992, p. 168). ” 
A jurisprudência do STJ vinha decidindo que o crime de apropriação indébita 
previdenciária não exigia um resultado naturalístico, caracterizando-se, portanto, 
como crime material (STJ, RHC 20.096/SC, DJ 13.8.2007, p. 389, Ministra Laurita 
Vaz). 
 
11 
Em decisão mais recente, o STJ modificou a sua posição (STJ 5 ª Turma, HC 
96348 / BA, julg. 24.6.2008, DJe 4.8.2008, Min. Laurita Vaz) para acompanhar o 
entendimento do STF cuja ementa segue: 
APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA - CRIME - ESPÉCIE. A 
apropriação indébita disciplinada no artigo 168-A do Código Penal 
consubstancia crime omissivo material e não simplesmente formal. 
INQUÉRITO - SONEGAÇÃO FISCAL - PROCESSO ADMINISTRATIVO. 
Estando em curso processo administrativo mediante o qual questionada a 
exigibilidade do tributo, ficam afastadas a persecução criminal e - ante o 
princípio da não-contradição, o princípio da razão suficiente - a manutenção 
de inquérito, ainda que sobrestado. (STF Pleno, nq-AgR 2537 / GO – GOIÁS, 
julg. 10.3.2008, pub. 13.6.2008, Relator(a): Min. Marco Aurélio). 
A mencionada decisão do STF tem uma grande repercussão, haja vista que 
sendo visto como crime material exige, além da conduta do agente, a descrição do 
evento danoso, isto é, um resultado, demandando, em consequência, a prova da 
intenção do agente. 
 
f) Tentativa 
A doutrina não tem uma posição firme sobre a questão da tentativa no crime do 
art. 168-A, do CP. 
Parece acertada a posição de Rogério Greco (2009, p. 448) ao entender que 
se trata de crime omissivo próprio de mera conduta que não admite a 
tentativa. 
 
g) Crime instantâneo e monossubsistente 
Trata-se de crime instantâneo, eis que a sua consumação se verifica no mesmo 
instante em que se vence o prazo para o agente efetuar o recolhimento e deixa de 
repassar a quantia a quem de direito. 
Isso significa que não há uma continuidade temporal, a exemplo do que ocorre 
no sequestro. 
Segundo Castro (2008), o crime pode ser continuado se persistirem os 
repetidos atos omissivos. 
 
 
12 
 
Fonte: favoritekherson.com 
Ele é monossubsistente porque se realiza com um só ato (deixar de repassar). 
Difere, portanto, dos crimes plurissubsistentes, a exemplo, do crime de estelionato 
que exige o emprego da fraude e, ainda, a vantagem ilícita em prejuízo alheio. 
 
h) Crime de forma vinculada 
O crime de apropriação indébita previdenciária é de forma vinculada porque o 
tipo penal descreve ou especifica a atividade do agente. É diferente do homicídio, p. 
ex., que é um crime de forma livre já que pode ser cometido por diversas formas. 
 
i) Crime não-transeunte 
O crime transeunte é aquele que não deixa vestígio, ao passo que o não-
transeunte guarda vestígio. No caso do crime em comento, o vestígio é a falta de 
recolhimento. 
 
j) Pena 
Em relação à disciplina contida na Lei de Custeio, houve a diminuição da pena 
máxima cominada que antes era de 06 anos e passou para 05 anos. 
O atual Código Penal prevê pena de reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e 
multa. 
 
k) Ação Penal e competência 
A ação penal é pública incondicionada. 
 
13 
Nos termos do art. 109, inciso IV, da Constituição Federal, compete à Justiça 
Federal processa e julgar o autor do crime citado. 
 
l) Prisão 
Discute-se sobre a constitucionalidade do art. 168-A, do Código Penal, sob a 
alegação de que este instituiu a prisão por dívida, ferindo o teor do artigo 5º, inciso 
LXII que afirma: 
"não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo 
inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do 
depositário infiel. O STF entende que não há inconstitucionalidade, mesmo 
porque o fato que enseja a pena não é a dívida, mas a conduta de efetuar o 
repasse a quem de direito. 
EMENTA: HABEAS CORPUS. APROPRIAÇÃO INDÉBITA 
PREVIDENCIÁRIA. CONDUTA PREVISTA COMO CRIME. 
INCONSTITUCIONALIDADE INEXISTENTE. VALORES NÃO 
RECOLHIDOS. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE AO 
CASO CONCRETO. ORDEM DENEGADA. 1. A norma penal incriminadora 
da omissão no recolhimento de contribuição previdenciária - art. 168-A do 
Código Penal - é perfeitamente válida. Aquele que o pratica não é submetido 
à prisão civil por dívida, mas sim responde pela prática do delito em questão. 
Precedentes. 2. Os pacientes deixaram de recolher contribuições 
previdenciárias em valores muito superior àquele previsto no art. 4º da 
Portaria MPAS 4910/99, invocada pelo impetrante. O mero fato de a denúncia 
contemplar apenas um dos débitos não possibilita a aplicação do art. 168-A, 
§ 3º, II, do Código Penal, tendo em vista o valor restante dos débitos a 
executar, inclusive objeto de outra ação penal. 3. Ordem denegada. (STF, 2ª 
Turma, HC 91704 / PR – PARANÁ, julg. 06.5.2008, pub. 20.6.2008, Relator 
(a): Min. JOAQUIM BARBOSA). 
Conforme demonstra o acórdão o sacrifício da liberdade decorre de um delito, 
isto é, de uma conduta descrita como típica de crime e não como um mero 
inadimplemento obrigacional que constitui uma dívida civil. 
2.2.2 Tipos similares de apropriação indébita previdenciária 
O § 1 º, do art. 168-A descreve os tipos similares de apropriação indébita 
previdenciária: 
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem deixar de: (Incluído pela Lei nº 9.983, 
de 2000) 
I - recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à 
previdência social que tenha sido descontada de pagamento efetuado a 
segurados, a terceiros ou arrecadada do público; 
 
14 
A hipótese do inciso I consiste no ato omissivo "deixar de recolher" o valor que 
é descontado do pagamento efetuado, o que é diverso daquele previsto no caput que 
é "deixar de repassar" o valor das contribuições recolhidas dos contribuintes. 
O sentido do inciso caput do art. 168-A está bem explicitado nas palavras de 
Martinez (2000, p. 885): 
"Repassar é fazer o pagamento: a) na rede bancária; b) no próprio INSS (por 
exemplo, quando ele paga o salário-maternidade) e até c) na Justiça Federal. 
Desses agentes arrecadadores obtendo a prova (v.g. GPS quitada ou outra 
modalidade), pouco importando o destinoposterior da importância, nem 
mesmo se chega efetivamente aos cofres do FPAS. Arrecadado o deduzido 
da remuneração ou da nota fiscal, apropriado do contribuinte de fato (v.g. 
segurado, produtor rural, clube de futebol etc.) impõe-se vertê-lo à 
Previdência Social (consoante as prescrições legais). (…) "[. No inciso I] 
diferentemente do caput aqui o legislador fala em quem deixar de recolher 
(…) é a dedução cujo valor foi ou não repassado." 
O Procurador da República Francisco Dias Teixeira (2001, p. 387) explicita o 
alcance do caput do art. 168-A: 
"Essa hipótese refere-se aos estabelecimentos bancários, ou quaisquer 
outros, autorizados a receber, do contribuinte, o recolhimento de contribuição 
previdenciária e que, no entanto, deixem de repassar à Autarquia, no prazo 
legal (…)". 
Assim, o caput do art.168-A, do CP, reflete a responsabilidade de quem recolhe 
do contribuinte (ex. agência bancária) e a hipótese do inciso I descreve a 
responsabilidade de quem desconta do pagamento efetuado a segurados (exemplo: 
empregador que desconta do empregado), terceiros (tomador que desconta da nota 
fiscal do prestador de serviços) ou arrecadada do público (exemplo: a federação de 
futebol que desconta da renda do espetáculo). 
II - recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado 
despesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à prestação 
de serviços; 
O inciso II trata de quem deixa de recolher contribuições de quem embutiu no 
valor da despesa contábil ou no custo relativo à comercialização ou à prestação do 
serviço. 
Assim, a finalidade é evitar que o agente se aproprie do valor cujo ônus 
previdenciário foi suportado pelo cliente. 
 
 
15 
 
Fonte: www.fbtedu.com 
III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou 
valores já tiverem sido reembolsados à empresa pela previdência social. 
O inciso III refere-se ao exemplo clássico do salário-família. 
O art. 68, da Lei 8.213, diz que as cotas do salário-família serão pagas pela 
empresa, mensalmente, junto com o salário, efetivando-se a compensação quando 
do recolhimento das contribuições. 
O art. 69, da mesma lei, prevê que o salário-família devido ao trabalhador 
avulso poderá ser recebido pelo sindicato de classe respectivo, que se incumbirá de 
elaborar as folhas correspondentes e de distribuí-lo. 
Em tais situações, incidirá a hipótese do inciso III se a empresa sonegar o 
pagamento, mesmo que tenha recebido o valor a título de reembolso. 
Atualmente a hipótese não se aplica em caso de salário-maternidade, haja vista 
que o citado benefício é pago diretamente pelo INSS, conforme parágrafo único, do 
art. 71-A, da Lei 8213. 
2.2.3 A prescindibilidade do animus rem sibi habendi e o crime omissivo próprio 
O crime de apropriação indébita previdenciária é delito omissivo próprio ou de 
pura omissão, independentemente do resultado posterior. 
Segundo Damásio de Jesus (1992, p. 170) os crimes omissivos próprios "se 
denominam os que se perfazem com a simples abstenção da realização de 
um ato, independentemente de um resultado posterior. O resultado é 
imputado ao sujeito pela simples omissão normativa." 
 
16 
Assim, não há a necessidade do animus rem sibi habendi (vontade de ter a 
coisa para si), conforme decidiu o STJ. 
RECURSO ESPECIAL. PENAL. APROPRIAÇÃO INDÉBITA DE 
CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. DEMONSTRAÇÃO DO ANIMUS REM 
SIBI HABENDI. DESNECESSIDADE. VIOLAÇÃO AO ART. 156 DO CÓDIGO 
DE PROCESSO PENAL. 1. O crime de apropriação indébita de contribuição 
previdenciária é omissivo próprio e o seu dolo é a vontade de não repassar à 
previdência as contribuições recolhidas, dentro do prazo e das formas legais, 
não se exigindo o animus rem sibi habendi, sendo descabida a exigência de 
se demonstrar o especial fim de agir ou o dolo específico de fraudar a 
Previdência Social, como elemento essencial do tipo penal. 2. No sistema 
processual penal brasileiro, em regra, o ônus da prova pertence à acusação, 
mas, no caso concreto, não é possível exigir do órgão ministerial 
demonstração de elementares que inexistem no tipo penal. 3. Recurso 
especial parcialmente conhecido e, nessa parte, provido. (STJ, 5ª Turma, 
REsp 866394 / RJ, julg. 27.3.2008, DJe 22.4.2008, Ministra Laurita Vaz). 
Súmula TRF/4ª nº 69: "A nova redação do art. 168-A do Código Penal não 
importa em descriminalização da conduta prevista no art.95, "d", da Lei 
8.121/91" 
2.2.4 Extinção da punibilidade 
Diz o § 2º, do art. 168-A que será extinta a punibilidade se o agente, 
espontaneamente: 
- declara, confessa e efetua o pagamento das contribuições, importâncias ou 
valores; 
- presta as informações devidas à previdência social, na forma definida em lei 
ou regulamento, antes do início da ação fiscal. 
Se antes da ação fiscal resolve-se pagar a punibilidade é extinta, a ação fiscal 
inicia-se com a entrega da notificação, e essa notificação tem que ser válida. Então, 
se o agente paga integralmente o débito, é extinta a punibilidade. 
A extinção está condicionada a ocorrência de quatro ocorrências por parte do 
agente que deve: informar, declarar, confessar e pagar. Informa sobre o fato delituoso. 
Declara sobre o seu débito, confessa a autoria do delito e paga o valor do principal e 
dos acessórios. 
Há certa imprecisão do legislador ao dizer que a confissão e o pagamento 
devem ocorrer antes da ação fiscal. Numa interpretação literal gera-se uma 
ambiguidade que consiste em se saber se a ação de que fala o Código é a ação 
judicial ou o procedimento administrativo fiscal. A jurisprudência afirma que se trata 
da atuação da fiscalização da Secretaria da RFB que constata o fato e lavra o auto de 
infração e notifica o infrator. 
 
17 
Em 30.5.2003, foi aprovado § 2º, do art. 9º, da Lei 10.684 que estabeleceu o 
seguinte: 
Art. 9º. É suspensa a pretensão punitiva do Estado, referente aos crimes 
previstos nos arts. 1º e 2º da Lei no 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e nos 
arts. 168A e 337A do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – 
Código Penal, durante o período em que a pessoa jurídica relacionada com 
o agente dos aludidos crimes estiver incluída no regime de parcelamento. 
§ 1º A prescrição criminal não corre durante o período de suspensão da 
pretensão punitiva. 
§ 2º Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos neste artigo quando a 
pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos 
débitos oriundos de tributos e contribuições sociais, inclusive acessórios. 
Com base no dispositivo transcrito, o STJ tem admitido que o pagamento 
integral da dívida extingue a punibilidade do agente, ainda que ocorrido após a 
denúncia. 
2.2.5 Perdão judicial 
A hipótese de perdão judicial consta do § 3º, do art. 168-A, do Código Penal, 
concede a possibilidade de o juiz deixar de aplicar a pena ou limitar esta somente à 
multa: 
§ 3º É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa 
se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que: 
I - tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a 
denúncia, o pagamento da contribuição social previdenciária, inclusive 
acessórios; ou 
II - o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou 
inferior àquele estabelecido pela previdência social, administrativamente, 
como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais. 
 
Fonte: www.geramilaw.com 
 
18 
Alguns tribunais entendem que a real situação da empresa pode caracterizar a 
inexigibilidade de conduta, admitindo que tais agentes comprovem a excludente. 
Súmula TRF/4ª nº 68: 
"A prova de dificuldades financeiras, e consequente inexigibilidade de outra 
conduta, nos crimes de omissão no recolhimento de contribuições 
previdenciárias, pode ser feita através de documentos, sendo desnecessária 
a realização de perícia" 
O STJ não acata como excludente de antijuridicidade a tese da inexigibilidade 
de conduta diversabaseada nas dificuldades financeiras enfrentadas pela 
empresa (STJ 5 ª Turma, HC 115499 / SP, julg. 27.11.2008, DJE 19.12.2008, 
Ministra Laurita Vaz). 
2 REFIS 
A sigla Refis significa Recuperação Fiscal, e este é um programa de 
recuperação fiscal instituído pelo governo brasileiro com o objetivo de aumentar as 
arrecadações em curto prazo, e garantir desta forma com que as empresas cumpram 
com as suas obrigações tributárias sem que haja sobressaltos ou aplicação de multas 
sobre elas. 
E vale lembrar que o Refis é um regime jurídico, ou seja, é constituído por 
princípios informadores de um conjunto de atos normativos, o que quer dizer que o 
sistema do Refis pode vir a sofrer implicações de outras normas jurídicas. Portanto, 
na sua análise é preciso olhar a lei em geral, pois como dá a entender o citado 
anteriormente, este programa não se baseai somente em suas leis concretas. 
Mas apesar de carecer de um bom estudo, o esforço chega a valer apena, já 
que o contribuinte poderá pagar os seus débitos de forma fraccionado, o que ajuda 
bastante quando este não tem em determinadas ocasiões condições de realizar o 
pagamento a vista. E também fazendo este parcelamento o contribuinte deixa de ser 
inadimplente e já pode requerer a certidão positiva com efeito negativo, segundo o 
artigo 2015 do código tributários Nacional. 
Sem falar que outros benefícios são atribuídos aos contribuintes que aderem 
ao parcelamento, como o desconto nas multas aplicadas, redução de juros 
acumulados, aumento na quantidade de parcelas para a quitação da dívida, etc. Por 
isso, vale mesmo a pena que os empresários botem essa possiblidade na mesa na 
hora de planejar o futuro da empresa. 
 
19 
O REFIS é um Programa de Recuperação Fiscal instituído pela Lei 9.964, de 
10 de abril de 2000, que tem como objetivo renegociar dívidas, de modo a permitir o 
parcelamento com base num percentual do faturamento da empresa, que pode variar 
entre 0,3% e 1,5%. Logo, em tal hipótese, não existe a fixação de um prazo para o 
pagamento dos débitos fiscais e previdenciários. Ao invés da quitação pelo valor total 
dividido em parcelas fixas, os devedores fazem amortizações de acordo com o 
faturamento da empresa. 
Uma das finalidades do REFIS é a regularização de créditos da União, 
notadamente aqueles comumente arrecadados pela Secretaria da Receita Federal. O 
§ 3º, do art. 1º, prescreve que o REFIS não alcança os seguintes débitos: 
I – de órgãos da administração pública direta, das fundações instituídas e 
mantidas pelo poder público e das autarquias; 
II – relativos ao Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural – ITR; 
III – relativos a pessoa jurídica cindida a partir de 1o de outubro de 1999. 
Após optar pelo REFIS, a empresa optante concede, no mínimo, um tipo de 
garantia (fiança, hipoteca, penhor, anticrese e seguro) no valor do débito consolidado 
objeto do parcelamento, ocorrendo a suspensão da pretensão punitiva, desde que a 
adesão ao programa tenha ocorrido antes do recebimento da renúncia, consoante se 
deduz da letra do art. 15, da Lei 9.964/2000. O mesmo entendimento aplica-se ao 
optante do PAES, conhecido por REFIS-II e instituído pela Lei 10.684, de 30.5.2003. 
2.1 Princípio da insignificância 
O princípio da insignificância é uma construção doutrinária e, mais, ainda de 
índole jurisprudencial que consiste em excluir da incidência da legislação criminal a 
conduta que, embora descrita como crime, não representa relevante poder ofensivo 
ao objeto tutelado juridicamente. 
Há certa oscilação na jurisprudência no tocante ao valor que se toma como 
referência para a determinação da insignificância. 
A jurisprudência vem tomando como base os valores fixados pelo Ministro ao 
qual está vinculado os órgãos arrecadador, com base na Lei 8212: 
"Art. 54. Os órgãos competentes estabelecerão critério para a dispensa de 
constituição ou exigência de crédito de valor inferior ao custo dessa medida." 
 
20 
Há decisões do STJ considerando que o valor insignificante é o de até R$ 
1.000,00, conforme Portaria MPAS 4.943/1999. 
Segundo decisão do STF insignificante é valor máximo de R$ 5.000,00, fixado 
no art. 4º da Portaria MPAS 4910/99 (STF, 2ª Turma, HC 91704 / PR – 
Paraná, julg. 6.5.2008, DJE 19.6.2008, Relator Min. Joaquim Barbosa). 
A Portaria MPS 296, de 8.8.2007, autoriza o não ajuizamento da ação em 
R$ 10.000,00, considerada por devedor, exceto quando, em face da mesma pessoa, 
existirem outras dívidas que, somadas, superem o montante mencionado. 
Através da Portaria, 283, de 01.12.2008, o Ministro da Fazenda, determinou 
que: 
Em relação à execução de ofício das contribuições sociais perante a Justiça 
do Trabalho, a União poderá deixar de se manifestar quando o valor do 
acordo, na fase de conhecimento, for inferior ao valor teto de contribuição e 
o valor total das parcelas que integram o salário de contribuição constantes 
do cálculo de liquidação de sentença for inferior ao valor teto de contribuição. 
O ato diz que se a medida provocar decréscimo na arrecadação das 
contribuições sociais perante a Justiça do Trabalho fica delegada, ao 
Procurador-Geral da Fazenda Nacional e ao Procurador-Geral Federal, competência 
para reduzir, em ato conjunto, o piso de atuação previsto no art. 1º, para até 
R$ 1.000,00 (mil reais). 
2.2 Pendência de recurso administrativo 
O esgotamento da via administrativa é prescindível, tendo em vista que não 
existe uma vinculação entre o contencioso administrativo e o judicial, pois do contrário 
estaria sendo violado o princípio da inafastabilidade da jurisdição. Nesse sentido 
trilhou o STJ: 
HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. CRIMES DE SONEGAÇÃO E 
APROPRIAÇÃO INDÉBITA DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. 
DELITO FORMAL. O NÃO-ESGOTAMENTO DA VIA ADMINISTRATIVA 
NÃO É CONDIÇÃO DE PROCEDIBILIDADE PARA A INSTAURAÇÃO DE 
INQUÉRITO POLICIAL. PRECEDENTES DO STJ. 1. Nos crimes de 
sonegação e apropriação indébita previdenciária, por serem crimes formais 
(não exigem para sua consumação a ocorrência de resultado naturalístico, 
consistente em dano para a previdência, restando caracterizado com a 
simples supressão ou redução do desconto da contribuição), o não-
esgotamento da via administrativa não é condição de procedibilidade, 
existindo, nesse caso, total independência das esferas administrativa e penal. 
2. Precedentes do Superior Tribunal de Justiça. 3. Ordem denegada. (STJ, 
 
21 
5ª Turma, HC 86783 / SP, julg. 12.2.2008, DJe 3.3.2008, Ministra Laurita 
Vaz). 
Diante da polêmica entre as posições da doutrina da jurisprudência, a Instrução 
Normativa MPS-SRF nº 3, estabelece, em seu art. 159, que a falta de recolhimento, 
no prazo legal, das importâncias retidas configura, em tese, crime de apropriação 
indébita previdenciária, ensejando a emissão de Representação Fiscal para Fins 
Penais – RFFP. 
A esse respeito, a Portaria RFB nº 665, de 24.4.2008, estabeleceu os 
procedimentos a serem observados na comunicação, ao Ministério Público Federal, 
de fatos que configurem crimes relacionados com as atividades da Secretaria da 
Receita Federal do Brasil (RFB). 
3 INSERÇÃO DE DADOS FALSOS 
O crime previsto no art. 313-A, do Código Penal, concebido como uma espécie 
de peculato eletrônico, está descrito nos seguintes termos: 
Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados 
falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas 
informatizados ou bancos de dados da Administração Pública com o fim de 
obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano: 
(Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)) 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. 
É um crime próprio, que só pode ser praticado por funcionário público e 
autorizado. 
O agente autorizado muda os dados prejudicando a administração e 
favorecendo seu próprio bolso, favorecendo aquele que compra essa tal facilidade 
com que eletem de senhas, pois ele é um agente de confiança do poder público. 
Agindo assim, vem a pena e me diz: 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. 
Pena essa que fere o princípio da proporcionalidade, da individualização da 
pena. Onde deixo para o juiz uma margem de dosimetria de pena que pode começar 
em 02 ou pode começar em 12 anos, ele sai do regime aberto para o regime fechado 
em uma tacada de dosimetria, diga-se de passagem, em um piscar de olhos. Uma 
pena totalmente inconstitucional. 
 
22 
É uma norma penal em branco, pois não sei quais são esses sistemas 
informatizados. Cada hora tem um sistema informatizado, e o sistema quem vai dizer 
é na hora do cometimento do delito. 
O delito em questão é perpetrado por meio da rede de acesso aos sistemas 
informatizados que interferem diretamente no banco de dados da Previdência, e 
consiste na alteração de cadastro de segurados, na alimentação fraudulenta de 
informações quanto a tempo de serviço, quitação de débito, emissão de notificações 
e de aviso de cobrança, etc. 
Porém, só há o crime se os dados excluídos forem os corretos, de modo que - 
em tese - não seria crime a exclusão de dados incorretos. 
 
 
Fonte: www.gabarra.adv 
A figura típica é de crime comissivo próprio (inserir) ou omissivo (facilitar) 
quanto ao sujeito ativo, eis que somente o funcionário é quem pratica o crime. 
Trata-se de crime comum quanto ao sujeito passivo, eis que qualquer pessoa 
pode ser prejudicada, não somente o Estado. 
Porém, o conceito de funcionário público é o previsto no art. 327, do Código 
Penal: 
Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, 
embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou 
função pública. 
Pelo texto acima, se a inserção de dados é realizada por trabalhador de 
empresa terceirizada, este – em tese - pode ser considerado funcionário público. 
 
23 
O § 2º, do dispositivo citado prevê que a pena será aumentada da terça parte 
quando os autores dos crimes forem ocupantes de cargos em comissão ou de função 
de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de 
economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público. 
O agente ativo do crime pode ser tanto quem insere quanto quem facilita, por 
exemplo, possibilitando o acesso de pessoa não autorizada à rede, seja fornecendo a 
senha ou apenas proporcionando o acesso ao sistema de dados. 
A ação cabível é pública incondicionada. 
O elemento subjetivo exigido é o dolo. 
Admite-se a tentativa, mas não existe a possibilidade de figura culposa. 
4 ALTERAÇÃO NÃO AUTORIZADA NO SISTEMA INFORMATIZADO DA 
PREVIDÊNCIA 
O art. 313-B, do Código Penal estabelece: 
Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou 
programa de informática sem autorização ou solicitação de autoridade 
competente: 
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa. 
Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a metade se da 
modificação ou alteração resulta dano para a Administração Pública ou para 
o administrado. 
Só na conduta de ação, estamos dizendo em modificar o sistema inteiro de 
informações. 
Norma penal em branco, crime de mera conduta, o dano só majora a pena. 
Há certa semelhança entre as figuras típicas dos arts. 313-A e 313-B, sendo 
que este último pode ser praticado por qualquer funcionário, diferentemente daquele 
que exige funcionário autorizado a modificar os dados. A intenção do legislador foi 
punir de forma menos intensa o funcionário não autorizado. 
O objeto jurídico tutelado é a integridade da Administração Pública, ao passo 
que o objeto material é o sistema de informações ou o programa de informática. 
O elemento subjetivo exigido é o dolo, mas não se torna possível a figura 
culposa. 
Poderá haver concurso formal de crimes nas hipóteses previstas nos 
arts. 313-A e 313-B? Relembre-se que o concurso formal, nos termos do art. 70 do 
 
24 
Código Penal, ocorre quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica 
dois ou mais crimes, idênticos ou não. Difere do concurso material que em mais de 
uma ação ou omissão o agente pratica mais de um crime. Sobre a pergunta formulada 
esclarece Luís Flávio Gomes (2009, P. 1): 
Nossa conclusão: quem, com uma só conduta fraudulenta (dotada de 
periculosidade ex ante), produz vários resultados jurídicos (lesões ao bem 
jurídico tutelado, em contextos fáticos e momentos distintos), responde por 
concurso formal de crimes. O estelionato previdenciário reiterado, consistente 
no recebimento de parcelas mensais, configura, por conseguinte, hipótese de 
concurso formal (CP, art. 70). A prescrição, consequentemente, conta-se 
consoante o disposto no art. 119 do CP, que diz: "No caso de concurso de 
crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um, 
isoladamente". 
 
 
Fonte: academiadoconcurso.com 
Em suma, é possível o concurso formal, por exemplo, se um funcionário não 
autorizado altera o sistema para desviar recursos para a sua conta pessoal. 
 
(Precedente: STJ, REsp 642571 / RS, julg. 12.8.2008, pub. 29.9.2008, 
Ministro Arnaldo Esteves Lima). 
ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSO 
DISCIPLINAR. CONCESSÃO INDEVIDA DE APOSENTADORIAS. 
DEMISSÃO. REEXAME DAS PROVAS. VIA INADEQUADA. AUTORIDADE 
COMPETENTE. FORMALIDADES ESSENCIAIS. PROPORCIONALIDADE. 
COMPROVAÇÃO. ORDEM DENEGADA. 1. O Mandado de Segurança não 
se mostra adequado para o reexame de provas produzidas em Processo 
Disciplinar, especialmente quando a decisão administrativa foi exarada por 
autoridade competente e observando-se as formalidades essenciais do rito. 
2. No caso, a impetrante, na qualidade de Supervisora Operacional de 
Benefício e Arrecadação da Agência de Previdência Social de 
Itapetininga/SP, concedeu, indevidamente, 15 benefícios previdenciários, 
 
25 
forjando tempos de serviço e vínculos trabalhistas dos beneficiários, mediante 
a prática de alteração dolosa do sistema de dados da Previdência Social. 3. 
A materialidade da conduta infracional restou verificada na auditoria realizada 
pela Equipe do Setor de Controle Interno do Serviço de Benefícios da 
Gerência Executiva do INSS na APS de Itapetininga. Diante das 
irregularidades detectadas, foram instaurados processos de revisão dos 
benefícios concedidos indevidamente, que culminaram com o cancelamento 
dos mesmos e determinação de devolução dos valores auferidos pelos seus 
beneficiários aos cofres do INSS. 4. A autoria foi identificada tanto pela 
auditoria no sistema eletrônico de concessão de benefícios previdenciários, 
verificando-se que a impetrante atuou em todas as fases do processo 
concessório dos 15 benefícios citados, desde o protocolo do pedido até a 
formatação (concessão) das pensões e auxílio doença. Além disso, as 
testemunhas confirmaram a prática da impetrante de manter processos 
separados dos demais, nos quais fazia pessoalmente o trabalho de 
concessão dos benefícios via sistema informatizado e revelaram fortes 
indícios da existência de conluio entre a servidora e a advogada Marilene 
Leite da Silva, que agenciava os interessados na concessão de benefícios 
previdenciários, enquanto a outra garantia os tempos de serviço e vínculos 
empregatícios inexistentes, necessários para a obtenção das pensões. Logo, 
tanto as provas documentais, quanto as testemunhais, corroboram a 
existência da infração administrativa, que restou induvidosamente 
comprovada. 5. Há proporcionalidade na aplicação da pena de demissão a 
servidor público, decorrente de infração apurada em Processo Administrativo 
Disciplinar, quando devidamente comprovada a conduta e suficientemente 
motivadas as razões da punição. 6. Ordem denegada. (STJ, 3ª Seção, julg. 
27.2.2008, Dje 07.3.2008, Ministro Napoleão Nunes Maia Filho). 
No caso do concurso formal, aplica-se a pena mais grave das penas cabíveis 
ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada,em qualquer caso, de um sexto 
até metade. 
5 SONEGAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO 
 
Fonte: lassori.com 
 
26 
A redação do art. 337-A, embora extensa, vem atrelada a duas elementares do 
tipo que consistem em suprimir ou reduzir. 
Art. 337-A. Suprimir ou reduzir contribuição social previdenciária e qualquer 
acessório, mediante as seguintes condutas: I - omitir de folha de pagamento 
da empresa ou de documento de informações previsto pela legislação 
previdenciária segurados empregados, empresário, trabalhador avulso ou 
trabalhador autônomo ou a este equiparado que lhe prestem serviços; 
II - deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da contabilidade da 
empresa as quantias descontadas dos segurados ou as devidas pelo 
empregador ou pelo tomador de serviços; 
III - omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos, remunerações 
pagas ou creditadas e demais fatos geradores de contribuições sociais 
previdenciárias: 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. 
§ 1º É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara e 
confessa as contribuições, importâncias ou valores e presta as informações 
devidas à previdência social, na forma definida em lei ou regulamento, antes 
do início da ação fiscal. 
§ 2º É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa 
se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que: 
I - (VETADO) 
II - o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou 
inferior àquele estabelecido pela previdência social, administrativamente, 
como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais. 
§ 3º Se o empregador não é pessoa jurídica e sua folha de pagamento mensal 
não ultrapassa R$ 1.510,00 (um mil, quinhentos e dez reais), o juiz poderá 
reduzir a pena de um terço até a metade ou aplicar apenas a de multa. 
§ 4º O valor a que se refere o parágrafo anterior será reajustado nas mesmas 
datas e nos mesmos índices do reajuste dos benefícios da previdência social. 
Devem-se distinguir ilícitos tipicamente administrativos (meras faltas de 
recolhimento) dos delitos fiscais próprios (em que há uma conduta prévia mais grave 
visando a supressão ou redução do tributo). 
Sonegar, quer dizer esconder, ocultar. Ressaltemos que você não omitiu 
informação, mas não pagou. Ok, beleza, não houve crime nenhum, você está apenas 
inadimplente, cometeu apenas infração referente à obrigação. Acontecerá o crime, 
quando você escondeu, sonegou e não pagou contribuição previdenciária. 
Incorre nas mesmas penas do crime da apropriação indébita, inclusive 
extinguindo a punibilidade, como se o crime não estivesse ocorrido. 
Existe uma diferença com relação à extinção da punibilidade entre o crime de 
apropriação indébita e sonegação de contribuição, pois naquele você precisa informar 
e pagar os valores que você se apropriou indevidamente e no crime de sonegação de 
contribuição é mais referente à informação, basta informar, se pagar melhor ainda, 
mas basta tão somente informar que antes do início da ação fiscal está extinta a 
punibilidade. 
 
27 
Podemos visualizar que no crime de sonegação de contribuição o Juiz pode 
restringir a pena de reclusão prevista (de um terço até a metade) ou apenas aplicar a 
pena de multa. Ou seja, reduzir a pena ou deixar de aplicá-la, isso acontece no crime 
de sonegação de contribuição, quando o agente for réu primário, bons antecedentes, 
não seja pessoa jurídica e desde que o valor da folha de pagamento não seja superior 
ao previsto no § 3º, do Art. 337-A. 
O objeto jurídico tutelado é a integridade da Administração Pública, ao passo 
que o objeto material é o sistema de informações ou o programa de informática. 
O elemento subjetivo exigido é o dolo, mas não se torna possível a figura 
culposa. 
Trata-se de crime material e omissivo próprio. E por ser crime material 
exige-se a comprovação da constituição do crédito tributário. 
São sujeitos ativos o contribuinte ou outra pessoa que tem a obrigação legal de 
cumprir as condutas típicas, podendo ser o diretor, sócio, gerente, contador, chefe de 
setor ou responsável pela emissão do documento de arrecadação. 
Ao passo que o sujeito passivo é a Previdência Social. 
Omissão de folha de pagamento ou de documentos onde contém informações 
necessárias para previdência é uma conduta onde o agente usa de seus artifícios para 
querer esconder alguma informação que seria de fator imprescindível. 
Deixa de lançar mensalmente os títulos próprios e os descontos efetuados 
pelos contribuintes, sendo necessária tal informação e publicação do ato para que 
haja confiança por parte do empregado e até mesmo do empregador e que aquele 
desconto seja realmente o que esta prevista onde ninguém possa ser enganado e 
saber para onde seu dinheiro esta indo, essas informações não podem ser sigilosas. 
Omissão total ou parcial de receitas ou lucros, remunerações pagas ou outros 
fatos que ensejam contribuição previdenciária, em minha concepção esse fator 
omitido se dá por meio de não declarar fatores que não condiz com a conduta a ser 
devidamente tomada. 
A consumação ocorrerá no momento em que a GFIP ou GPS for recebida pelo 
órgão arrecadador. 
Admite-se a tentativa, mas não existe a possibilidade de figura culposa. 
Relativamente a aplicação da extinção da punibilidade, aplica-se o art. 34, da 
Lei 9249, conforme comentário já apresentado na análise do crime previsto no art. 
168-A. 
 
28 
O dispositivo traz como causa de redução de pena se o empregador é pessoa 
física e a sua folha de pagamento mensal não ultrapassa R$ 1.510,00 (um mil, 
quinhentos e dez reais). 
Em tal situação a pena pode ser reduzida de um terço até a metade ou poderá 
incidir apenas multa. 
Esses valores serão reajustados na mesma data do benefício da previdência, 
portanto são casos de diminuição da punibilidade e não excludentes de ilicitude, 
possível observar nestes casos a cooperação do agente para que se fale de 
diminuição de pena. 
6 DIVULGAÇÃO DE INFORMAÇÕES SIGILOSAS OU RESERVADAS 
 
Fonte: www.mbadvogados.net 
O Código penal considera criminosa a divulgação de segredo, estabelecendo 
no art. 153 que constitui crime “Divulgar alguém, sem justa causa, conteúdo de 
documento particular ou de correspondência confidencial, de que é destinatário ou 
detentor, e cuja divulgação possa produzir dano a outrem”. A redação desse 
dispositivo foi alterada pela Lei n. 9.983/2000, para proteger os sistemas e bancos de 
dados da Administração Pública. 
Art. 153. § 1º - A. Divulgar, sem justa causa, informações sigilosas ou 
reservadas, assim definidas em lei, contidas ou não nos sistemas de 
informações ou bancos de dados da Administração Pública: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
§ 1º (parágrafo único original). 
 
29 
§ 2º Quando resultar prejuízo para a Administração Pública, a ação penal 
será incondicionada. 
A pena originalmente prevista no Código Penal para o crime de divulgação de 
segredo era a detenção de um a seis meses, ou multa, sendo que somente se 
procederia mediante representação do ofendido. Pela nova redação, a pena é 
elevada, podendo chegar até a quatro anos de detenção, além de multa. A ação penal 
passou a ser incondicionada em caso de dano à Administração Pública. 
 
7 FALSIDADE DOCUMENTAL 
Tratamos da falsidade documental no art. 296 do Código Penal, que ganhou 
mais um inciso no § 1º, aplicando a pena de reclusão, de dois a seis anos, mais multa, 
a quem altera, falsifica ou faz uso indevido de marcas, logotipos, siglas ou quaisquer 
outros símbolos utilizados ou identificadores de órgãos ou entidades da Administração 
Pública. 
Art. 296 - Falsificar, fabricando-os ou alterando-os: 
I - selo público destinado a autenticar atos oficiais da União, de Estado ou de 
Município; 
II - selo ou sinal atribuído por lei a entidade de direito público, ou a autoridade, 
ou sinal público de tabelião: 
Pena- reclusão, de dois a seis anos, e multa. 
§ 1º - Incorre nas mesmas penas: 
I - quem faz uso do selo ou sinal falsificado; 
II - quem utiliza indevidamente o selo ou sinal verdadeiro em prejuízo de 
outrem ou em proveito próprio ou alheio. 
III - quem altera, falsifica ou faz uso indevido de marcas, logotipos, siglas ou 
quaisquer outros símbolos utilizados ou identificadores de órgãos ou 
entidades da Administração Pública. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) 
§ 2º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se 
do cargo, aumenta-se a pena de sexta parte. 
As características do crime de falsidade documental previdenciária são: 
 Comissivas: uma vez que, cabe a tentativa quando o verbo núcleo do 
tipo for inserir ou fazer inserir; 
 Omissivas próprias: quando o verbo do núcleo do tipo for omitir, não 
caberá a forma tentada; 
 Crime material: será quando a conduta descrita acarretar como resultado 
a supressão ou redução das contribuições previdenciárias; 
 
30 
 Exige o dolo: ou seja, a intenção de prejudicar, não cabendo a 
modalidade culposa; 
 Ação penal pública incondicionada: ou seja, independe da manifestação 
de qualquer pessoa, sendo a mesma proposta pelo Ministério Público 
Federal, permitida a assistência do INSS; 
 Sujeito passivo: é o Estado, na figura da Previdência Social Pública; 
 Sujeito ativo: pode ser qualquer pessoa. Não precisa ser funcionário 
público. 
 
8 FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO 
 “Toda materialização de um dado, fato ou narração ou, dito de forma mais 
precisa, todo objeto que seja capaz de acolher algum dado ou uma 
declaração de vontade ou pensamento atribuível a uma pessoa e destinado 
a ingressar no tráfego jurídico” (MUÑOZ CONDE. apud GRECO, Rogério. 
Curso de Direito Penal parte especial, volume IV, Página 286). 
O Código Penal distingue, os documentos em duas classes: 
 documentos públicos; 
 documentos particulares. 
Documento público é aquele confeccionado por servidor público, no exercício 
de sua função, e de acordo com a legislação que lhe é pertinente. Documento 
particular é todo aquele que não goza da qualidade de público, desde que apresente 
as funções expostas. 
Partiremos agora para analisar os elementos que compõe o tipo penal relativo 
aos delitos de falsificação de documento público, previsto no artigo 297 do Código 
Penal, sejam eles: I) a conduta de falsificar, no todo ou em parte, documento público; 
II) ou alterar documento público verdadeiro. 
O núcleo falsificar, utilizado pelo texto legal, passa a idéia de fabricação do 
documento de natureza pública. A alteração, também uma modalidade de falsificação, 
vem prevista na parte final do artigo. A diferença entre os núcleos falsificar e alterar, 
utilizados pelo caput do art. 297 do CPB, se dá no sentido de que no primeiro caso o 
agente vem a criar – total ou parcialmente – o documento que até então não existe; já 
 
31 
na segunda hipótese o documento existe, é verdadeiro, mas o agente o modifica, 
alterando assim o seu conteúdo. 
Trata-se de crime comum, logo admitindo a figura de qualquer pessoa como 
sujeito ativo. 
No caso de funcionário público ter cometido o fato com abuso de seus deveres, 
incidirá a qualificadora do § 2º do artigo 297. 
O sujeito passivo é o Estado. 
Caso a conduta venha a causar dano a terceiro, este será sujeito passivo 
secundário. 
Estão previstas duas condutas típicas alternativas: 
 Falsificar, no todo ou em parte, documento público; 
 Alterar documento público verdadeiro. 
O tipo exige um elemento normativo, na modalidade de expressão jurídica, 
contido na expressão “documento público”. 
Documento público, que também corresponde ao objeto material do delito - 
como vimos anteriormente - trata-se de documento elaborado por funcionário público, 
no exercício de sua função, de acordo com a legislação. 
O documento pode ser nacional ou estrangeiro (desde que seja considerado 
documento público no exterior). Como características estão a qualidade jurídica de 
quem o elabora (funcionário público); sua competência em razão do local, da matéria 
e do ofício; e a forma legal. 
Elemento subjetivo do tipo é o dolo, ou seja, a vontade livre e consciente de 
falsificar ou alterar documento público verdadeiro, abrangendo o conhecimento da 
potencialidade lesiva da conduta. Não é exigido nenhum outro elemento subjetivo 
além do dolo. 
Considera-se consumado o delito com a falsificação ou alteração do objeto 
material (documento público), independentemente de outro resultado. 
A tentativa é admissível, podemos destacar um exemplo: No caso do agente 
surpreendido no momento em que inicia a alteração de um documento público 
verdadeiro, caso a alteração seja frustrada, ocorre a tentativa. 
No § 1º do artigo 297 do Código Penal aduz que a pena é agravada: 
“Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do 
cargo”. 
 
32 
Note-se que não basta a qualidade jurídica do sujeito ativo, exige-se ainda que 
o comportamento tenha sido realizado prevalecendo-se da facilidade decorrente do 
exercício da função. 
8.1 Falsificação de documento público previdenciário 
 
Fonte: tributarionosbastidores.com 
No art. 297 do Código Penal foi inserido o § 3º, para estabelecer que incorre na 
pena de reclusão de dois a seis anos, e multa, quem insere ou faz inserir: 
I - na folha de pagamento ou em documento de informações que seja 
destinado a fazer prova perante a previdência social, pessoa que não possua 
a qualidade de segurado obrigatório; 
II - na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em 
documento que deva produzir efeito perante a previdência social, declaração 
falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita; 
III - em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com 
as obrigações da empresa perante a previdência social, declaração falsa ou 
diversa da que deveria ter constado; 
Tais condutas eram previstas como criminosas pelo art. 95, letras g, h e i da 
Lei n. 8.212/1991, porém sem pena para os infratores. O novo tipo penal veio para 
corrigir essa distorção, instituindo penalidade rigorosa, que varia de dois a seis anos 
de reclusão, além de multa. 
De acordo com o § 4º da atual redação do art. 297 do Código Penal, nas 
mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados no § 3º, nome do 
https://jus.com.br/tudo/empregado
 
33 
segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de trabalho 
ou de prestação de serviços. 
Se na figura do agente reúnem-se a figura do falsário e usuário, ele responde 
por um só delito: o de falsidade, que absorve o de uso (CPB, art. 304). O uso, nesse 
caso, funciona como post factum impunível, aplicando-se o princípio da consunção na 
denominada progressão criminosa. 
Para o tipo simples, definido no caput do art.297, estão previstas duas penas: 
reclusão, de dois a seis anos, e multa. 
Tratando-se de sujeito ativo funcionário público, tendo cometido o delito 
prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de sexta parte (§ 1º). 
A ação penal é pública incondicionada. Senão, vejamos: 
HC 125878/MG - MINAS GERAIS HABEAS CORPUS Relator(a): Min. ROSA 
WEBER Julgamento: 09/06/2015 Órgão Julgador: Primeira Turma 
Publicação PROCESSO ELETRÔNICO DJe-151 DIVULG 
31-07-2015 PUBLIC 03-08-2015 Parte(s) PACTE.(S): BRUNO RODRIGUES 
DE ARAUJO IMPTE.(S) : MARCELO LEONARDO E OUTRO(A/S) 
COATOR(A/S)(ES) : RELATOR DO RHC Nº 54.348 DO SUPERIOR 
TRIBUNAL DE JUSTIÇA Ementa EMENTA HABEAS CORPUS. PROCESSO 
PENAL. CRIMES DE ESTELIONATO, ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA E 
FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO. CÓDIGO PENAL, ARTIGOS 
171, 288 E 297. PRISÃO PREVENTIVA. CONCESSÃO DE LIBERDADE 
PROVISÓRIA SUPERVENIENTE. PERDA DE OBJETO. 1. A concessão de 
liberdade provisória superveniente implica a perda de objeto do writ impetrado 
com o objetivo de revogar a prisão cautelar anteriormente decretada.2. Ordem de habeas corpus prejudicada, com extinção do feito sem resolução 
do mérito. Decisão: A Turma julgou prejudicada a impetração, com extinção 
do feito sem resolução do mérito, nos termos do voto da Relatora. Unânime. 
Presidência da Senhora Ministra Rosa Weber. 1ª Turma, 9.6.2015. Indexação 
- VIDE EMENTA. Legislação LEG-FED DEL-002848 ANO-1940 ART-00171 
ART-00288 ART-00297 CP-1940 CÓDIGO PENAL Observação Número de 
páginas: 6. Análise: 04/08/2015, MAD. Acórdãos no mesmo sentido HC 
128107 PROCESSO ELETRÔNICO JULG-25-08-2015 UF-SP TURMA-
01 MIN-ROSA WEBER N.PÁG-006 DJe-178 DIVULG 09-09-2015 PUBLIC 
10-09-2015. 
9 ESTELIONATO PREVIDENCIÁRIO 
 
O crime de estelionato previdenciário possui previsão legal no § 3º do 
artigo 171 do Código Penal. 
Na verdade, não é um figura delitiva autônoma, mas sim uma causa de 
aumento de pena para o estelionato praticado em desfavor do sistema de seguridade 
social. 
https://jus.com.br/tudo/minas-gerais
https://jus.com.br/tudo/habeas-corpus
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10616899/par%C3%A1grafo-3-artigo-171-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10617301/artigo-171-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984002/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
 
34 
Assim sendo, antes de analisar as peculiaridades do estelionato cometido 
contra a previdência, faz-se necessário diferenciar o crime de estelionato em relação 
aos demais crimes patrimoniais existentes no nosso Código Penal. 
De início, cumpre mencionar que o núcleo central do crime de estelionato 
consiste na utilização de artifícios para que a vítima incida em erro e entregue 
voluntariamente a coisa solicitada pelo estelionatário. 
Nota-se que, no estelionato, a coisa é entregue pela vítima com animus de 
alienação, o que não ocorre, por exemplo, nos crimes de furto e roubo, já que nestes 
casos, a coisa é retirada da vítima ou dela recebida sem o referido animus de 
alienação. 
 
Fonte: classificados.bhaz.com 
Ademais, o que diferencia o estelionato do crime de apropriação indébita é o 
dolo do agente, que no estelionato se manifesta de forma anterior ao recebimento da 
coisa, diferentemente do que ocorre na apropriação indébita. 
Assim, apesar da colaboração da vítima ser essencial para caracterização de 
ambos delitos, no estelionato, a obtenção da vantagem indevida se dá em virtude da 
situação de engano na qual a vítima fora inserida, o que não acontece na apropriação 
indébita. 
Dessa feita, no que tange ao crime de estelionato, Nucci (2015: 1006-1007) 
ressalta que: 
O fato de existir torpeza bilateral entre autor e vítima não é suficiente para 
afastar o delito de estelionato. Para o autor, ainda que autor e vítima desejem 
obter vantagem indevida, ainda, assim, o crime de estelionato restará 
caracterizado. 
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984002/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
 
35 
Assim sendo, o referido autor exemplifica a questão através do famoso caso do 
estabelecimento universitário que prometeu diplomas universitários - através de um 
curso rápido e compacto - para os alunos que se matriculassem no referido 
estabelecimento. 
Para Nucci: 
Apesar da torpeza bilateral - já que os alunos almejavam obter um certificado 
de graduação em ensino superior na contramão da realidade nacional -, o 
engodo utilizado pelo estabelecimento educacional restou configurado e o 
estelionato consequentemente também. 
Nesse diapasão, o mencionado autor ainda tece algumas críticas ao conceito 
abstrato de "homem médio" que ainda é utilizado pela doutrina e jurisprudência para 
verificação da potencialidade da farsa para fins de ludibriar a vítima e configurar a 
figura típica do estelionato. 
Partindo dessa premissa, passaremos a analisar especificamente a causa de 
aumento de pena relativa ao crime de estelionato praticado contra a previdência. 
Pois bem. Em primeiro lugar, cumpre afirmar que para os Tribunais Superiores 
o crime de estelionato previdenciário (art. 171, § 3º) praticado por terceiro não 
beneficiário é crime instantâneo de efeitos permanentes, o que implica em dizer que 
a consumação do crime para o terceiro que realiza a fraude para que o segurado 
receba indevidamente o benefício do INSS, só se dá após o recebimento do primeiro 
benefício. 
Assim sendo, quando quem é realiza a fraude é, por exemplo, um despachante, 
o prazo prescricional só começa a fluir após o recebimento pelo segurado do primeiro 
benefício, antes de tal recebimento o despachante poderá até ser preso em flagrante, 
em função do momento consumativo do delito perpetrado se prolongar no tempo. 
Por outro lado, para o segurado que realiza a fraude para recebe em benefício 
próprio valores indevidos, o crime de estelionato, pelo menos para os Tribunais 
Superiores, é de natureza permanente, o que implica em dizer que enquanto estiver 
recebendo os benefícios indevidos, o segurado poderá ser preso em flagrante, como 
também o prazo prescricional estará suspenso. 
Assim sendo, em recente decisão o STJ por meio do AgRg no AREsp 
962731/SC, corroborou a tese que já vinha sendo adotada no sentido de que o crime 
de estelionato quando praticado pelo próprio beneficiário assume as vestes de crime 
permanente (e não de crime continuado como a doutrina mais punitivista entende). 
https://canalcienciascriminais.com.br/?s=crime+de+estelionato
 
36 
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. 
ESTELIONATO PREVIDENCIÁRIO COMETIDO PELO PRÓPRIO 
BENEFICIÁRIO. PRETENSÃO ABSOLUTÓRIA. SÚMULA 7/STJ. DISSÍDIO 
JURISPRUDENCIAL. SÚMULA 83/STJ. AGRAVO DESPROVIDO. 1. O 
acórdão recorrido encontra-se em consonância com a orientação desta Corte 
e do STF no sentido de que, nos casos de estelionato previdenciário cometido 
pelo próprio beneficiário e renovado mensalmente, o crime assume a 
natureza permanente, dado que, para além de o delito se protrair no tempo, 
o agente tem o poder de, a qualquer tempo, fazer cessar a ação delitiva. 
Incidência da Súmula 83/STJ. 2. Afirmado pelo acórdão recorrido que há 
provas da conduta dolosa do agravante, a revisão desse entendimento 
encontra óbice na Súmula 7/STJ. 3. Inadmissível o recurso especial pela 
divergência jurisprudencial quando não cumpridas as exigências legais e 
regimentais indispensáveis, especialmente a realização do cotejo analítico 
entre o acórdão recorrido e os paradigmas citados. 4. Agravo Regimental 
desprovido. (AgRg no AREsp 962731/SC. Relator (a): Min. Reynaldo Soares 
Da Fonseca. Quinta Turma. Publicado em: 30/09/2016) 
Como também ratificou o que já vinha sendo entendido em relação ao terceiro 
que realiza a fraude previdenciária. 
PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO 
ESPECIAL. ESTELIONATO PREVIDENCIÁRIO. ART. 171, § 3º, DO CP. 
AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA. SÚMULA 182/STJ. 
PRESCRIÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. CRIME INSTANTÂNEO DE EFEITOS 
PERMANENTES. SÚMULA 568/STJ. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. 
1. A agravante não apresentou argumentos novos capazes de infirmar os 
fundamentos que alicerçaram a decisão agravada, razão que enseja a 
negativa de provimento ao agravo regimental. 2. Dissociadas as razões do 
agravo regimental do decidido na decisão agravada. 3. É inviável o agravo 
que deixa de atacar, especificamente, o fundamento da decisão agravada. 
Incidência da Súmula 182/STJ. 4. A jurisprudência desta Corte tem entendido 
que o crime de estelionato previdenciário praticado para que terceira pessoa 
possa se beneficiar indevidamente da fraude tem natureza de crime 
instantâneo com efeitos permanentes, devendo ser contado o prazo 
prescricional a partir do recebimento da primeira prestação do benefício 
indevido. 5. Não tendo transcorrido período superior a 8 anos entre os marcos 
interruptivos do prazo prescricional, inviável o reconhecimento da prescrição 
da pretensão punitiva, como pretendido na irresignação. 6. Agravo regimental 
improvido.(AgRg no AREsp 1203461/SP. Relator (a): MIn. Sebastião Reis 
Júnior. Sexta Turma. Publicado em: 12/04/2018) 
Por último, vale ressaltar ainda que em qualquer das duas modalidades de 
estelionato previdenciário, é imprescindível a demonstração do dolo como elemento 
subjetivo do tipo, já que o nosso sistema está alicerçado no princípio da culpa e na 
responsabilização subjetiva do indivíduo. 
9.1 Estelionato Previdenciário na Ótica do Superior Tribunal de Justiça 
A reforma da previdência foi um assunto que ocupou as manchetes e mobilizou 
debates acerca das alterações que foram feitas no modelo de seguridade social. Um 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10617301/artigo-171-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10616899/par%C3%A1grafo-3-artigo-171-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984002/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
 
37 
dos pontos levantados no debate foi a existência de inúmeras causas de fraude na 
previdência, gerando frustração de receitas e despesas que não deveriam existir. 
Em janeiro, o governo federal editou a Medida Provisória 871/2019 para 
combater fraudes previdenciárias. O texto altera regras de concessão de benefícios, 
como auxílio-reclusão, pensão por morte e aposentadoria rural. 
Além disso, prevê a revisão de uma série de benefícios e "processos com 
suspeitas de irregularidades" concedidos pelo Instituto Nacional de Seguridade Social 
(INSS). São esforços para combater crimes como o estelionato previdenciário. 
 
 
Fonte: classificados.bhaz.com 
No Superior Tribunal de Justiça (STJ), a questão do estelionato previdenciário 
é um assunto comum desde a criação do tribunal. Uma das primeiras regras definidas 
pelo tribunal foi a Súmula 24, de abril de 1991. 
A Terceira Seção aprovou a Súmula 24, segundo a qual aplica-se ao crime de 
estelionato previdenciário a causa de aumento de terço da pena do parágrafo 3º do 
artigo 171 do Código Penal. A Súmula utilizou como precedente o julgamento do REsp 
2.169, relatado pelo ministro Dias Trindade, em 1990. 
A discussão surgiu na época porque a redação da Lei Orgânica da Previdência 
Social, no artigo 155, não prevê a causa de aumento do parágrafo 3º do artigo 171 do 
Código Penal, sendo necessária a uniformização do entendimento. 
Segundo o ministro, a causa é aplicável, pois o crime de estelionato é sempre 
praticado contra a autarquia pública, não existindo a possibilidade de o lesado ser 
outra pessoa. O entendimento dos ministros é que a regra da Lei Orgânica apenas 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Mpv/mpv871.htm
http://www.stj.jus.br/SCON/sumanot/toc.jsp?livre=%28sumula%20adj1%20%2724%27%29.sub.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm#art171%C2%A73
https://ww2.stj.jus.br/processo/pesquisa/?termo=resp+2169&aplicacao=processos.ea&tipoPesquisa=tipoPesquisaGenerica&chkordem=DESC&chkMorto=MORTO
https://ww2.stj.jus.br/processo/pesquisa/?termo=resp+2169&aplicacao=processos.ea&tipoPesquisa=tipoPesquisaGenerica&chkordem=DESC&chkMorto=MORTO
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/L3807.htm#art155
 
38 
caracteriza a conduta prevista no delito de estelionato, subsistindo a aplicação da 
causa de aumento prevista no Código Penal. 
Duas décadas após a edição da Súmula, mesmo com as mudanças na 
legislação específica da previdência, o STJ continuava aplicando o entendimento, 
como, por exemplo, no julgamento do REsp 756.356, relatado pelo ministro Arnaldo 
Esteves Lima, em 2010. O ministro citou que a jurisprudência do tribunal é pacífica 
desde a edição da súmula, não havendo razões para modificar o entendimento. 
Senão vejamos: 
EDcl no RECURSO ESPECIAL Nº 756.356 - RS (2005/0091798-5) 
RELATOR : MINISTRO ADILSON VIEIRA MACABU (DESEMBARGADOR 
CONVOCADO DO TJ/RJ) EMBARGANTE : HILÁRIO SCHMIDT ERTEL 
ADVOGADO : PEDRO FURIAN SESSEGOLO EMBARGADO : MINISTÉRIO 
PÚBLICO FEDERAL EMENTA PROCESSUAL PENAL. EMBARGOS DE 
DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL. ARTIGOS 619 E 620 DO CPP. 
DECISÃO EMBARGADA QUE NÃO SE MOSTRA AMBÍGUA, OBSCURA, 
CONTRADITÓRIA OU OMISSA. MATÉRIA NOVA. ANÁLISE. 
IMPOSSIBILIDADE. EMBARGOS REJEITADOS. 1. Os embargos de 
declaração constituem recurso de estritos limites processuais de natureza 
integrativa, cujo cabimento requer estejam presentes os pressupostos legais 
insertos na legislação processual, mais especificamente nos artigos 619 e 
620 do Código de Processo Penal. Assim, somente, são cabíveis nos casos 
de eventuais ambiguidade, obscuridade, contradição ou omissão, vícios 
inexistentes no julgado. 2. Em embargos de declaração não se apresenta 
viável a análise de tese não arguida nas razões ou contrarrazões do recurso 
especial, uma vez que se configura questão nova. Ausente, dessa forma, o 
indispensável prequestionamento. (Precedentes.) 3. Embargos de 
declaração rejeitados. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em 
que são partes as acima indicadas, acordam os Senhores Ministros da Quinta 
Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, em rejeitar os 
embargos. Os Srs. Ministros Laurita Vaz, Jorge Mussi e Marco Aurélio 
Bellizze votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente, justificadamente, o Sr. 
Ministro Gilson Dipp. Brasília, 15 de maio de 2012(Data do Julgamento) 
MINISTRO ADILSON VIEIRA MACABU (DESEMBARGADOR 
CONVOCADO DO TJ/RJ) Relator 
9.2 Princípio da insignificância 
Outro entendimento dos ministros sobre a matéria é que não se aplica, em 
casos de estelionato previdenciário, o princípio da insignificância. Em 2015, no 
julgamento do REsp 682.583, o ministro Reynaldo Soares da Fonseca explicou: 
É “inaplicável o princípio da insignificância ao crime de estelionato 
previdenciário, pois a conduta é altamente reprovável, ofendendo o 
patrimônio público, a moral administrativa e a fé pública”. 
Neste caso, o estelionatário buscou a aplicação do princípio diante da pouca 
ofensividade da conduta ao bem jurídico tutelado pela normal penal. A acusada, em 
https://ww2.stj.jus.br/processo/pesquisa/?termo=resp+756356&aplicacao=processos.ea&tipoPesquisa=tipoPesquisaGenerica&chkordem=DESC&chkMorto=MORTO
https://ww2.stj.jus.br/processo/pesquisa/?termo=aresp+682583&aplicacao=processos.ea&tipoPesquisa=tipoPesquisaGenerica&chkordem=DESC&chkMorto=MORTO
 
39 
seu interrogatório judicial, afirmou ter apresentado os exames falsos ao INSS com o 
fim de obter benefício previdenciário de auxílio-doença. 
Segundo as informações do processo, ela confirmou ter protocolado os pedidos 
de concessão do benefício, os quais foram instruídos com laudos e termos de 
encaminhamento forjados. A estelionatária teria procurado um médico para produzir 
um falso laudo de leucemia, com o objetivo de fraudar o INSS. Ao todo, foram 
desviados cerca de R$ 5 mil. 
“Quanto ao reconhecimento do estelionato privilegiado, o valor do prejuízo 
sofrido pelo ente público, ao contrário do alegado, é bem expressivo 
(aproximadamente R$ 5.000,00), bastante superior ao salário mínimo vigente 
à época dos fatos, utilizado como parâmetro nesses casos”, destacou 
Reynaldo Soares da Fonseca. 
Em um caso mais recente, de 2018, relatado pelo ministro Joel Ilan Paciornik, 
o acusado do estelionato previdenciário buscou a aplicação do princípio da 
insignificância em caso que envolveu a concessão de um benefício social bastante 
conhecido – o Bolsa Família. 
Apesar de não ser um benefício previdenciário, o programa é custeado pelo 
orçamento da seguridade social, e o crime foi enquadrado no parágrafo 3º do artigo 
171 do Código Penal. 
Ao votar no REsp 1.770.833, o ministro Joel Paciornik deu provimento ao 
recurso do MPF para afastar a aplicação do princípio, já que a jurisprudência do 
tribunal é sólida no sentido da inaplicabilidade de tal benesse em casos análogos. 
Em outro caso, a Sexta Turma negou a aplicação do princípio em uma situação 
de laudo médico forjado para o saque indevido de FGTS. A acusada

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