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Biotecnologia e Reprodução Animal – Medicina Veterinária – Jennifer Reis da Silva – É PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO. CASO CLÍNICO 1 O tratador do rebanho de uma propriedade de gado de corte reuniu os animais num piquete para vaciná- los e observou uma vaca no cio sendo montada por um touro. Porém, quando chegou perto do touro notou que ele não tinha prepúcio, pênis, testículo e nem saco escrotal, mas sim uma vagina com clitóris desenvolvido. Explique este caso. O caso clínico acima se trata de intersexualidade, mais especificamente um Freemartinismo. Vejamos mais a respeito... Intersexualidade É a alteração de desenvolvimento orgânico que se contrapõe às características determinadas pelo sexo genético (cromossômico) fazendo com que o animal apresente características marcantes de ambos os sexos, ou seja, embora o animal seja uma fêmea, pode apresentar características de um macho em razão dessa alteração de desenvolvimento orgânico. Durante o desenvolvimento embrionário e fetal, há diferenciação sexual em 3 estágios. 1. SEXO CROMOSSÔMICO; 2. SEXO GONADAL; 3. SEXO FENOTÍPICO. Normalmente, na fecundação, há junção de um oócito com um espermatozoide. Os oócitos, sempre terão um cromossomo X, enquanto o espermatozoide poderá ter um cromossomo X ou Y. Se o cromossomo doado pelo espermatozoide for X, o animal será uma fêmea e se for Y, será um macho determinando assim o SEXO CROMOSSÔMICO. Na sequência, há a determinação do SEXO GONADAL, ou seja, desenvolvimento da gônada embrionária indiferenciada sendo os ovários nas fêmeas e testículos em machos. Um oócito fecundado por um espermatozoide Y carrega consigo o gene SRY e, por conta disso é responsável pela masculinização do organismo em formação além de desenvolver o sexo cromossômico. Biotecnologia e Reprodução Animal – Medicina Veterinária – Jennifer Reis da Silva – É PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO. A partir do momento de desenvolvimento do testículo embrionário há as células de Sertoli e células de Leydig sendo a última citada produtora de testosterona e um similar a testosterona que é o 5-DHT. A testosterona age fazendo com que haja o desenvolvimento dos ductos mesonéfricos e, sequencialmente, epidídimo, testículos propriamente ditos e ductos deferentes. Enquanto o 5-DHT realiza o fechamento do sino urogenital fazendo com que haja desenvolvimento da uretra, próstata, glândulas bulbouretrais, pênis, prepúcio e escroto sendo o SEXO FENOTÍPICO. A partir disso, podemos concluir que a ocorrência desses eventos é dependente da ação dos hormônios em questão Além disso, as células de Sertoli produzem hormônio anti-mülleriano (MIF) que bloqueia e impede o desenvolvimento paramesonéfrico, também chamados ductos de Müller que é responsável pelo desenvolvimento de útero, vagina e cérvix, logo, ao haver esse bloqueio, o macho não irá desenvolver útero, vagina e nem cérvix possuindo somente características masculinas. Quando o óvulo é fecundado por um espermatozoide X não há o gene SRY e também há ausência dos hormônios testosterona e 5-DHT, logo, o desenvolvimento do trato reprodutor feminino se dá com ausência dos hormônios presentes no desenvolvimento do trato reprodutor masculino. Por não haver testículos, não há células de Sertoli produtoras de hormônio anti mülleriano. Portanto, se não há o bloqueio, os ductos de Müller se desenvolvem dando origem ao útero, cérvix e vagina que são órgãos característicos do organismo de uma fêmea. Tipos de Intersexo HERMAFRODITA VERDADEIRO OU AMBIGLANDULAR É o indivíduo que possui órgãos genitais masculinos e femininos anatômica e funcionalmente ativos. São animais com gônadas dos dois tipos (ovários, testículos ou ovotestis que é uma estrutura resultante da fusão de testículo e ovário - muito raro). Acima podemos ver que o animal em questão possui testículos de um lado e ovários no outro havendo então as duas gônadas de ambos os sexos. O animal acima possui hipertrofia de clitóris e excesso de pelos na região inferior de vulva. Biotecnologia e Reprodução Animal – Medicina Veterinária – Jennifer Reis da Silva – É PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO. PSEUDO-HERMAFRODITA MASCULINO: animal possui gônada masculina, porém há uma característica sexual secundária feminina. FEMININO: animal possui gônada feminina com característica sexual secundária masculina. As condições que acabamos de ver ocorrem quando há um problema na cadeia apresentada, como o testículo embrionário não produzir quantidades de testosterona o suficiente ou não produzir o hormônio anti- mülleriano. ETIOLOGIA Fatores genéticos; Fatores cromossômicos; Insuficiência endócrina do testículo; Aplicação de andrógenos exógenos na gestante, principalmente no começo da gestação. Freemartinismo O Freemartinismo é a forma característica de intersexualidade que geralmente ocorre em vacas quando há uma gestação gemelar contendo fetos de diferentes sexos. Em 90% das gestações gemelares em bovinos há Freemartinismo. Nessa condição há a anastomose (fusão) dos vasos corioalatoideanos da placenta e fusão da circulação das membranas fetais, logo a circulação é compartilhada entre os gêmeos havendo trocas recíprocas de sangue e estruturas orgânicas entre os fetos. Quando ocorrem essas trocas recíprocas há a junção das cadeias de diferenciação de macho e fêmea como vimos anteriormente, logo, os hormônios andrógenos (testosterona, 5- DHT e fator de diferenciação do testículo) produzidos pelo sistema reprodutor do macho age também sobre a fêmea, inclusive o fator inibidor dos ductos de Müller (MIF), impedindo com que haja desenvolvimento dos órgãos reprodutivos femininos. O macho, por sua vez, se torna um animal subfértil já que a produção de andrógenos Biotecnologia e Reprodução Animal – Medicina Veterinária – Jennifer Reis da Silva – É PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO. não será suficiente para suprir sua necessidade. A diferenciação em macho ocorre em torno do 30 a 40 dias de gestação, já a diferenciação das fêmeas ocorre mais tarde e, por conta da anastomose dos vasos placentários e fusão da circulação das membranas haverá passagem de várias substancias celulares como hemácias e leucócitos fazendo com que os indivíduos sejam quimeras, ou seja, contenham células XX e XY. SINAIS CLÍNICOS Masculinização da fêmea (tamanho maior); Alterações de temperamento; Maior massa muscular e acúmulo de gordura; Alterações de vulva: pequena, com pelos longos e pseudoprepúcio; Hipertrofia de clitóris a pênis hipoplásico (pouco desenvolvido); Vagina mais curta (4 a 6 cm) com fundo cego em porção cranial. NA PALPAÇÃO RETAL PODEMOS NOTAR Gônada indiferenciada e hipoplásica; Agenesia ou hipoplasia de corpo e cornos uterinos em razão do bloqueio do desenvolvimento dos ductos de Müller; Percepção de segmentos tubulares e glândulas rudimentares AVALIAÇÃO CITOGENÉTICA Observamos quimerismo, ou seja, há células XX e XY havendo 93% de segurança no diagnóstico. Essa avaliação não se faz tão necessária, uma vez que já é possível saber o diagnóstico observando os sinais clínicos e realizando palpação retal. Na imagem acima podemos comparar a vulva normal com a de um animal freemartin. O animal freemartin possui o clitóris hipertrófico e é possível notar maior quantidade de pelos na região inferior da vulva. Além disso, o animal freemartin possui um fundo cego na porção cranial da vagina como mostrado na imagem acima. Biotecnologia e Reprodução Animal – Medicina Veterinária – Jennifer Reis da Silva – É PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO. O Freemartinismoé mais frequente em bovinos, não sendo comum em outras espécies já que não há anastomose de vasos corioalantoidianos. Essa condição acaba gerando grandes prejuízos econômicos (0,3 a 0,9% por ano). Na bovinocultura de leite, os machos não são tão importantes na produção, logo não há um grande prejuízo econômico. A fêmea, por sua vez, será estéreis não podendo ser incluídas na produção e reprodução devendo ser descartadas. PROGNÓSTICO Quanto a vida o prognóstico é bom, porém quanto a função, é mau já que as fêmeas são estéreis e não há forma de tratamento. CASO CLÍNICO 2 Você é chamado às pressas em uma fazenda para atender uma ovelha que está com uma “bola pendurada pela vulva”. O que pode ser esse tecido exteriorizado? O caso acima trata-se de um prolapso vagina. Vejamos mais a respeito... Prolapso vaginal É a saída da mucosa vaginal pela rima vulvar. Trata-se de uma afecção multifatorial com várias causas que pode desencadeá-la. Para que ocorra o prolapso vaginal deve haver 3 fatores ocorrendo ao mesmo tempo: 1. RELAXAMENTO DA PAREDE VAGINAL; 2. AUMENTO DE LÚMEN VULVAR; 3. FORÇA (ACABA DESLOCANDO A VAGINA DE SUA POSIÇÃO ORIGINAL). O prolapso vaginal pode ocorrer em qualquer espécie sendo mais frequente em bovinos e ovinos. CAUSAS Aumento da pressão intra-abdominal, principalmente ao final da gestação podendo ser observada quando o animal está em decúbito; Defecação frequente; Micção; Hidropisia dos envoltórios fetais – aumento do líquido placentário, gestação gemelar; Cervicites e vaginites também podem ser fatores predisponentes; Agentes mecânicos como estábulos inclinados; Transportes; Obesidade. Fêmea idosa; Fêmeas pluríparas Os sinais clínicos variam com o grau que pode ser desde um prolapso parcial da vagina ou até mesmo um prolapso total. PROLAPSO PARCIAL: há a saída de uma porção da mucosa vaginal sendo visualmente avermelhada, lesionada e inflamada. Na maior parte dos casos, nas vacas, Biotecnologia e Reprodução Animal – Medicina Veterinária – Jennifer Reis da Silva – É PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO. observamos o prolapso somente quando o animal está em decúbito desaparecendo quando os animais estão em estação. Já em pequenos ruminantes o prolapso parcial é permanente. PROLAPSO TOTAL DA VAGINA: exteriorização permanente de toda mucosa vaginal e porção vaginal da cérvix. A mucosa exposta é edematosa, inflamada, infectada, necrótica e, dependendo de como foi o prolapso, pode haver retenção urinária por constrição uretral. O diagnóstico é realizado por meio dos sinais clínicos. Importante se atentar ao diagnóstico diferencial com tumores vaginais e hiperplasia de vagina. É ideal realizar um exame ultrassonográfico para verificar a viabilidade fetal (em fêmeas gestantes) e posicionamento da vesícula urinária. TRATAMENTO Limpeza e desinfecção correta; Redução do prolapso (colocar a vagina no local original). Esse processo gera dor, logo é necessário aplicar anestesia epidural. Sondagem vesical; Tratar a causa base (hidropisia, vaginite etc). O tratamento também pode ser realizado por técnicas de manutenção com suturas vulvares como vemos a seguir: Sutura com processo de Flessa É realizado posicionamento da mucosa prolapsada e utilizar aparelho de Flessa que consistem em dois trilhos de ferro em que se passa 3 pinos perfurando os lábios vulvares para diminuir o seu volume. O primeiro pino não pode ser muito ventral já que o prolapso pode sair por cima do mesmo e também não pode ser muito dorsal para não dificultar a micção da fêmea. No Biotecnologia e Reprodução Animal – Medicina Veterinária – Jennifer Reis da Silva – É PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO. trabalho de parto ou em outras situações em que houver necessidade, a sutura é retirada. Sutura de Flessa Sutura com processo de Bühner É o modelo de sutura mais utilizado e considerado o mais simples. Há uma agulha própria para o procedimento contendo um colchete na ponta (semelhante a uma agulha de costureira). A agulha é então introduzida, margeando a comissura ventral por uma lateral do subcutâneo saindo pela comissura dorsal da vulva. É passado então uma fita pelo colchete e então puxamos a agulha (como uma costura). O procedimento é realizado da mesma forma no outro lado. Fazemos então um nó fazendo com que o lúmen vulvar fique menor. Sutura com Caslick modificado É uma sutura frequente em éguas, não sendo muito realizada em ruminantes. Nesse caso fazemos aplicação de lidocaína subcutâneo nos dois lados da porção dorsal da vulva. É então retirado um pequeno pedaço da mucosa dos dois lados para ativar o tecido. A partir disso, é realizada a sutura, normalmente simples contínua para futuramente ser retirada e a mucosa ter se Biotecnologia e Reprodução Animal – Medicina Veterinária – Jennifer Reis da Silva – É PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO. aderido. Dessa forma, iremos diminuir o lúmen de forma permanente. CASO CLÍNICO 3 você é chamado para avaliar uma vaca que foi inseminada, mas ficou vazia ao diagnóstico de gestação. no exame ginecológico, observa que há secreção vaginal purulenta. Ao realizar a palpação trans retal não detecta alterações em útero e ovários. Onde pode estar o problema? Trata-se de uma infecção vaginal já que não há alteração em útero e ovário. Vejamos mais a seguir: Infecções vaginais A microbiota vaginal dos ruminantes é variável em relação a numero e composição de microrganismos. Todavia diversos fatores podem interferir na composição dessa microbiota podendo haver um desequilíbrio causando possíveis infecções. As infecções vulvovaginais são caracterizadas por HIPEREMIA, PRESENÇA DE EXSUDATO PURULENTO e INFILTRADO INFLAMATÓRIO LEUCOCITÁRIO. Vírus, bactérias ou protozoários podem ser transmitidos pelo coito quando os animais são submetidos a monta natural. Podemos citar como exemplo Ureaplasma diversum, Mycoplasma bovigenitalium, Herpesvirus bovino tipo 1. SINAIS CLÍNICOS Descarga purulenta vulvar; Mucosa hiperêmica; Infertilidade indireta (por conta da mucosa infeccionada há dor e a fêmea não aceita a monta); Pústulas / erosões; Nódulos marrons ou avermelhados; Nódulos brancos HVB O tratamento depende do microrganismo envolvido. Biotecnologia e Reprodução Animal – Medicina Veterinária – Jennifer Reis da Silva – É PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO. CASO CLÍNICO 4 Em uma propriedade de vacas leiteiras, um inseminador experiente tentou pela primeira vez inseminar uma vaca jovem, que já tinha sido coberta por um touro e ficado gestante. Ele ficou por mais de 15 minutos manipulando a cérvix da vaca e não conseguiu passar o aplicador pelos anéis cervicais. Quais as possibilidades de etiologia para este caso e qual o tratamento? O caso clínico acima trata-se de uma cervicopatia. Vejamos mais a seguir: Cervicopatias As cervicopatias são problemas relacionados a cérvix podendo ser congênitas ou adquiridas. CONGÊNITAS: aplasia segmentar, dupla, curta, retorcida e outras. ADQUIRIDA: cervicite CAUSAS Prolapso dos anéis cervicais externos; Vaginite; Endometrite; Uso incorreto de pipetas de Inseminação Artificial Agente: actinomyces pyogenes. SINAIS CLÍNICOS Descarga mucopurulenta; Repetição de cio; Infertilidade; Dificuldade de passagem da pipeta de Inseminação Artificial. NO EXAME GINECOLÓGICO IREMOS OBSERVAR cérvix externa edematosa, vermelha e escura Descarga purulenta; Abcessos. TRATAMENTO Antibioticoterapia;Swab com antisséptico nos anéis afetados. Constrição do anel cervical Biotecnologia e Reprodução Animal – Medicina Veterinária – Jennifer Reis da Silva – É PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO. Cérvix tortuosa Divertículos cervicais Cérvix dupla verdadeira Cérvix dupla Biotecnologia e Reprodução Animal – Medicina Veterinária – Jennifer Reis da Silva – É PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO. CASO CLÍNICO 5 você é chamado para avaliar uma vaca que apresenta fertilidade reduzida em comparação às demais, sendo necessárias varias inseminações para emprenha-la. Ao realizar exame ginecológico, não há alterações à palpação retal. Porém, ao avaliar útero pelo ultrassom, nota-se uma pequena quantidade de líquido de baixa celularidade no lúmen. Ovários se mostram normais. O caso relatado acima pode tratar-se de uma uteropatia, mais especificamente uma endometrite já que não houve alterações observadas na palpação retal e o líquido observado tem baixa celularidade. Vejamos mais a respeito... Uteropatias em vacas Uteropatias são afecções que acometem o útero das vacas podendo ser: Endometrite: inflamação do endométrio – mais superficial; Metrite: inflamação de todas as camadas uterinas envolvendo endométrio, camadas glandulares e muscular (miométrio) – maior profundidade; Perimetrite: inflamação do tecido laminoso que cerca o útero; Piometra: coleção de exsudato purulento na cavidade uterina. Endometrite Endometrite é uma infecção uterina envolvendo somente o endométrio (tecido que reveste internamente o útero). A causa pode estar relacionada a ação de microrganismos e medicamentos que causam irritação da mucosa. Pode ocorrer também após monta natural ou inseminação artificial como uma reação aos espermatozoides que atuam como antígenos no útero. SINAIS CLÍNICOS Não há comprometimento sistêmico então a fêmea não apresenta febre ou apatia. O útero apresenta-se normal a palpação já que não há tanto acumulo de secreção. Sendo assim, a diminuição das taxas de fertilidade é o sinal clinico mais frequente. TRATAMENTO Administração intrauterina de cefapirina (antibiótico do grupo das cefalosporinas da 1ª geração). Piometra É uma coleção de exsudato purulento em quantidades variáveis no interior da cavidade uterina. Por mais limpo que seja o ambiente de parto, há contaminação bacteriana. Quando ocorre a primeira ovulação após o parto, antes de haver a completa limpeza e eliminação de bactérias uterinas há desenvolvimento da piometra. Isso ocorre porque quando há a ovulação, há formação Biotecnologia e Reprodução Animal – Medicina Veterinária – Jennifer Reis da Silva – É PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO. do corpo lúteo produzindo progesterona que suprime as defesas uterinas havendo proliferação de bactérias e produção de secreção purulenta inibindo a produção de PGF2α que realizaria luteólise havendo assim, persistência de corpo lúteo fazendo com que a fêmea entre em anestro já que o corpo lúteo produz progesterona, o que impede que o LH alcance seu pico e faça a fêmea ovular. Normalmente a piometra ocorre na primeira ovulação do pós parto, mas não somente nessa situação já que durante a estação de monta pode haver contaminação por Trichomonas fetus fazendo com que a fêmea desenvolva piometra mesmo sem estar na ovulação pós parto. É fundamental não confundir piometra com prenhez já que, mesmo que haja anestro e os cornos uterinos estejam com tamanhos diferentes, o conteúdo que está no útero é pus. SINAIS CLÍNICOS Esse conteúdo pode levar a um comprometimento sistêmico causando sinais como hipertermia, anorexia, hipertermia. TRATAMENTO é realizado com antibiótico local com a realização de lavagem uterina. Penicilina (inefetiva nas primeiras semanas pós parto devido à produção de penicilinase): 1x106 U; Oxitetraciclina (algumas preparações causam irritações uterina): 4 a 6g/ dia. Vacas leiteiras devem ter seu leite descartado no período de carência indicado pelo fabricante do medicamento por conta dos resíduos de antibióticos. Como há comprometimento sistêmico há a necessidade de antibioticoterapia e terapia de suporte sistêmicos como penicilinas: 20.000 a 30.000 U/kg BID (duas vezes ao dia); Oxitetraciclina: não atinge nível terapêutico uterino; Ceftiofur: 2,2mg/kg, 5 dias; Fluidoterapia caso seja necessário. Solução de iodo para lavagem uterina é utilizada em equinos, mas não é recomendada para vacas já que é um agente irritante para mucosa desses animais. Biotecnologia e Reprodução Animal – Medicina Veterinária – Jennifer Reis da Silva – É PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO. Para que não haja repetição desse problema podemos realizar terapia hormonal aplicando PGFα induzindo luteólise e proporcionando retorno a ciclicidade. Podemos também aplicar Ocitocina: 20 a 40 U, a cada 6 horas, até 3 dias pós parto para que haja auxílio na limpeza da secreção purulenta. CASO CLÍNICO 6 Um tratador pergunta ao veterinário como é que pode ter uma vaca que apresenta um cio a cada semana, sendo que as outras demoram 3 semanas para apresentar um cio. E apesar dessa vaca entrar muito no cio e sempre ser coberta pelo touro ela não emprenha. Explique o caso. O caso acima trata-se de um cisto ovariano. Vejamos mais a respeito... Afecções ovarianas CISTOS OVARIANOS Cistos paraovárico; Cisto da rete ovarii; Cisto de inclusão germinal; Cisto do folículo atrésico; Cisto folicular; Cisto luteínico ou luteinizado; Cisto do corpo lúteo; Cisto tubo-ovárico; Cisto bursa-ovárico; Hidátide de Morgani Em condições normais, ao fim do diestro há luteólise e um folículo se desenvolvendo da 3ª onda. Há o crescimento desse folículo e, com ação de FSH e LH ele produz estrógeno. Com a lise do corpo lúteo há queda dos níveis de progesterona que estava inibindo o núcleo pulsátil do LH. Com isso, o estrógeno faz feedback positivo no núcleo pulsátil de LH havendo pico e ovulação. Quando há um cisto, há a persistência de uma estrutura folicular anovulatória (não ovula) que persiste por 10 dias. Logo, a fêmea não ovulou e não formou corpo lúteo havendo atividade ovariana anormal. CISTOS FOLICULARES São estruturas foliculares anovulatórias, que persistem por vários ciclos estrais e são encontradas em muitas espécies domesticas. Seu diâmetro é maior ou igual a 25mm e persistem por tempo indeterminado na ausência de corpo lúteo. Na bovinocultura leiteira, há 18% de incidência sendo uma grande causa de infertilidade. É muito frequente em climas quentes em razão do estresse térmico gerado. Biotecnologia e Reprodução Animal – Medicina Veterinária – Jennifer Reis da Silva – É PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO. Por conta da presença desse cisto, a fêmea irá sempre entrar em cio pois não irá ovular. CAUSAS Desequilíbrio endócrino envolvendo eixo hipotálamo hipófise gonadal; Estresse térmico em razão da ação do cortisol que suprime a liberação da secreção pulsátil de LH havendo insuficiência (comum em vacas leiteiras pois são de raças taurinas pouco resistentes ao calor). Falha no feedback positivo do estrógeno sobre o hipotálamo. Mas por que a fêmea apresenta frequentes cios? Como acabamos de mencionar, cisto ovariano é uma estrutura folicular que não ovulou. Se ainda houver células da granulosa e da teca haverá produção de estrógeno constantemente e, por isso, a fêmea apresenta sinais de cio frequentes e ninfomania. Essa estrutura folicular pode começar a sofrer luteinização havendo produção de andrógenos e umpouco de progesterona fazendo com que a fêmea entre em anestro e adquira virilismo (comportamento de macho). Logo, esse é um diagnostico difícil já que iremos pensar que a fêmea emprenhou já que na parede da estrutura anovulatória houve células que sofreram luteinização fazendo com que a fêmea entre em anestro, porém ela nem ao menos ovulou. DIAGNOSTICO Características comportamentais e físicas; Palpação retal; Exame Ultrassonográfico. TRATAMENTO Se o cisto for folicular podemos realizar uma indução hormonal à ovulação ou luteinização das células foliculares. Tratamos então utilizando os hormônios GnRH, LH, eCG. Se for um cisto luteínico podemos aplicar prostaglandinas, tratar com progesterona para regenerar responsividade do hipotálamo ao estradiol para então entrar com indutores de ovulação ou o próprio estradiol. Além disso, podemos também realizar protocolos de sincronização. Os cistos também podem ser rompidos manualmente. Biotecnologia e Reprodução Animal – Medicina Veterinária – Jennifer Reis da Silva – É PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO DESTE CONTEÚDO. Cistos de corpo lúteo Cisto de corpo lúteo é a formação de uma cavidade cística no interior do Corpo Lúteo, sendo de formato irregular e de tamanho variável. Não é patológico, mas sim um corpo lúteo cavitário por não ter sido irrigado em sua porção central. A função luteínica não é alterada, logo é um corpo lúteo com condições de manter uma gestação.
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