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Câncer de esôfago Junyara Souza 2 ANATOMIA: O esôfago consiste na primeira porção do tubo digestivo. Ele é um tubo muscular (aproximadamente 25 cm de comprimento) com um diâmetro médio de 2 cm, que conduz alimento da faringe para o estômago. Ao longo de toda a sua extensão, sua mucosa apresenta numerosas pregas longitudinais com sulcos intermediários que dão a impressão de seu lúmen estar obstruído; entretanto, quando o esôfago é distendido, as pregas desaparecem e o lúmen torna-se evidente. Possui três constricções fisiológicas: cervical, torácica ou broncoaórtica e diafragmática. · A parte cervical do esôfago situa-se entre a traqueia e a coluna vertebral cervical. Contato com os nervos laríngeos recorrentes. · A parte torácica está em contato com o mediastino superior e inferior, pericárdio, coração, aorta etc. · A parte abdominal se continua diretamente com o estômago. O esôfago atravessa o hiato esofágico, de formato elíptico, no pilar muscular direito do diafragma, logo à esquerda do plano mediano, no nível da vértebra T10. O contato do esôfago com estruturas adjacentes tem grande importância nos casos de câncer pela sua capacidade de metástase. EPIDEMIOLOGIA: · 8º câncer mais comum, 6ª causa de morte por câncer · Carcinoma epidermóide · Variação geográfica (Oriente > Ocidente) · Entre grupos étnicos (negros e asiáticos > brancos) · Incidência maior em locais da África, Ásia e Europa Ocidental · América do Sul: Uruguai e sul do Brasil · Brasil: carcinoma epidermóide e adenocarcinoma em ascensão (INCA) · 50-70 anos · Proporção: Homens : Mulheres - 1,5:1 a 8:1 · 95%: carcinoma epidermóide ou adenocarcinoma · 1960 – 90% epidermóide (1/3 proximal e médio) · > 1990 – 60% adenocarcinoma (caucasianos e países ocidentais) (1/3 distal e cárdia) FATORES ETIOLÓGICOS: CARCINOMA EPIDERMÓIDE: · Pessoas de menor condição socioeconômica · Tabagismo · Etilismo (etanol → acetoaldeído) · Nitrosaminas e precursores (nitratos, nitritos) – alimentos em conserva, defumados · ↓ vitaminas A, C, E, niacina, riboflavina, selênio, molibdênio, manganês, zinco, magnésio · Alimentação pobre em frutas e vegetais frescos, e em proteínas · Bebidas quentes (ex. chimarrão, chá, café) > 65 °C, fumo de ópio · Papilomavírus humano (HPV) · Alguns fungos (Fusarium, Alternaria, Geotrichum, Aspergillus, Cladosporium, Penicillium) · Acalásia / megaesôfago – risco 7-33x maior (15-20 anos de doença) · Estenose cáustica (ingestão de cáustico acidentalmente ou com intenção suicida) · Síndrome de Plummer-Vinson: também conhecida como síndrome de Paterson-Kelly ou disfagia sideropênica, é conhecida pela presença da tríade clássica de disfagia cervical, anemia ferropriva e membrana no esôfago superior. · Tilose: formação de calosidades nas palmas das mãos e nas plantas dos pés. Distúrbio autossômico dominante que causa hiperceratose. · Doença celíaca: inflamação causada pelo glúten, cevada e centeio. Leva a atrofia das vilosidades intestinais. · Outros cânceres aerodigestivos (fatores de riscos em comum) sincrônicos ou metacrônicos · De cabeça e pescoço – 3% têm/terão também câncer esôfago · Múltiplos tumores primários em 9,5% dos tumores de esôfago ADENOCARCINOMA: · Maior na população caucasiana · Doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) · Esôfago de Barrett com metaplasia intestinal · 5-8% das DRGE · 0,5% ao ano transformação maligna · Obesidade e tabagismo · *H. pylori teria papel protetor contra DRGE e adenocarcinoma (controverso) DIAGNÓSTICO: Câncer inicial: · Fase assintomática · Minoria dos pacientes · Triagem populacional · Locais de alta incidência e/ou etilismo e tabagismo (ex. China, Japão, França) – citologia ou EDA · Sintomas de RGE crônico em > 50 anos – EDA · Diagnóstico precoce – 90% sobrevida aos 5 anos SINTOMAS SUGESTIVOS: · Disfagia progressiva de sólidos para líquidos (até afagia) · Odinofagia (dor ao deglutir) · Sialorréia · Regurgitação alimentar (retorno do alimento não deglutido. É diferente de vômito) · Hematêmese · Perda ponderal · Tosse produtiva (fístula ou pneumonia aspirativa) SINAIS DE DOENÇA AVANÇADA: · Dor torácica · Rouquidão (invasão do nervo laríngeo recorrente) · Síndrome de veia cava superior (tumor obstruindo a entrada da VCS no AD – causa circulação colateral no tórax) · Derrame pleural maligno (uni ou bilateral) · Hematêmese (fístula aortoesofágica ou sangramento tumoral) · Tosse ou aspiração traqueal (fístula broncoesofágica ou traqueoesofágica) EXAMES COMPLEMENTARES: O diagnóstico é feito principalmente com a esofagografia baritada e com a endoscopia digestiva alta com biópsia e escovados. · Endoscopia (+ biópsia): exame inicial. Altura e localização do tumor. · Laringoscopia / broncoscopia (avaliação da via aérea quando suspeita de infiltração) · Esofagograma (com bário ou iodo) · Ecoendoscopia (com ou sem punção) · TC / RMN: ressecabilidade / estadiamento tumoral · PET SCAN · Toracoscopia, laparoscopia, mediastinoscopia diagnóstica Lesão heterogênea, de bordas irregulares, friável. A lesão tumoral pode ser ulcerada ou polipoide. ENDOSCOPIA: A endoscopia, permite visualizar o tumor diretamente, avaliar diretamente o aspecto macroscópico da mucosa esofágica e realizar a biópsia para alcançar o diagnóstico de certeza do câncer, bem como realizar a classificação histológica do tumor e estadiamento. ESOFAGOGRAMA: Exame útil na investigação de pacientes com queixas como disfagia progressiva, por permitir avaliar a presença de contraturas, obstruções e até certo ponto, também alterações motoras do esôfago. Sinais sugestivos de câncer de esôfago na esofagografia baritada são: o sinal de maçã mordida ou de degrau. Sinal da maçã mordida ECOENDOSCOPIA: O ultrassom endoscópico (USE) é um aparelho de endoscopia que possui em sua ponta um pequeno transdutor de ultrassom, o qual permite que, além da visão endoscópica, tenhamos a visão ultrassonográfica. Dessa forma, especialistas podem estudar detalhes: das paredes do esôfago, estômago, duodeno e reto, órgãos externos adjacentes, como pâncreas, e vesícula biliar; realizar biópsias das lesões diagnosticadas (punção com agulha fina-PAAF). Ajuda no estadiamento da profundidade e avalia a presença de linfonodos. É melhor que a tomografia nos estágios de T1, T2 e T3. TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA: Avalia espessamento focal da parede esofagiana. Não diferencia T1, T2, T3. Papel da TC no estadiamento: avaliar a invasão de estruturas adjacentes (T4) (sensibilidade de 88-100% e especificidade 85-100%) e pesquisar metástases.Se necessário TIPO HISTOLÓGICO E LOCALIZAÇÃO: · Carcinoma epidermóide – 1/3 superior e 1/3 médio · Adenocarcinoma – 1/3 inferior Neoplasias avançadas à SEED: lesões infiltrativas, polipóides, ulcerativas ou varicosas, fístulas (invasão de estruturas mediastinais) Infiltrativas: + comuns, estenoses com características malignas, como contornos irregulares e lobulados, assimetria e transição abrupta com o esôfago normal DRGE E ESÔFAGO DE BARRETT: Esôfago de Barrett é uma condição na qual o epitélio do esôfago sofre metaplasia intestinal, ou seja, sofre diferenciação para um tecido semelhante ao do intestino. É uma condição pré-neoplásica. A causa exata do esôfago de Barrett é desconhecida, mas a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) é um fator de risco para a condição. NA ENDOSCOPIA: Biópsia dos 4 quadrantes, 2/2cm de intervalo, com pinça grande: · SEM DISPLASIA: EDA de 3/3 anos · DISPLASIA DE BAIXO GRAU: EDA de 1/1 ano · DISPLASIA DE ALTO GRAU: · Tratamento cirúrgico ou endoscópico · Ou vigilância intensiva (biópsia dos 4 quadrantes, 1/1cm e EDA com biópsia de 3/3 meses até flagrar o câncer) · Risco da endoscopia perder algum foco de tumor inicial ESTADIAMENTO PRÉ-OPERATÓRIO: TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA: Melhor acurácia para estadiamento local (T) e linfonodal (N); Pode observar espessamento focal da parede esofageana; Não diferencia T1, T2, T3; Papel da TC no estadiamento: avaliar a invasão de estruturas adjacentes (T4) (S 88-100% e E 85-100%) e pesquisar metástases. CRITÉRIOS DE INVASÃO LOCAL À TC: · Pericárdio: perda do planode gordura entre a massa e o pericárdio, espessamento pericárdico, derrame pericárdico ou abaulamento do coração de aspecto côncavo · Fístula traqueobrônquica ou extensão direta intraluminal: invasão da via aérea pelo tumor · Traqueobrônquica: abaulamento da membrana posterior da traqueia ou brônquio pelo tumor · Invasão vascular (aorta ou outro grande vaso): contato do tumor com mais de 90° da circunferência do vaso ou obliteração do plano triangular de gordura entre o esôfago, a aorta e a coluna torácica · Ângulo de Picus: perda do plano de gordura periaórtica < 45° indica ausência de invasão. Perdas > 90° indicam invasão e consequente irressecabilidade. PET-SCAN · Linfonodos regionais suspeitos: se medem mais que 1 cm ou se realce heterogêneo pelo contraste com centro hipodenso (necrose). ESTADIAMENTO TNM: TRATAMENTO: · Tumor precoce (5%): · Esofagectomia · Mucosectomia endoscópica? · Tumor não avançado: · Esofagectomia + quimio-radioterapia adjuvante · Tumor avançado: · Ressecável: · QRT neo-adjuvante · Reestadiamento com TC · Esofagectomia · Irressecável ou inoperável: · QRT isolada CIRÚRGICO: Esofagectomia total com interposição do estômago ou cólon + linfadenectomia. Feito apenas em pacientes com estadiamento mais favorável, ou seja, lesões restritas à parede esofágica com evidência de no máximo poucos linfonodos regionais acometidos e sem metástase. VIAS: cervical e abdominal OU laparoscópica. Multimodal: · Quimio-radioterapia neoadjuvante: doença localizada e doença localmente avançada. Feito antes da cirurgia. T2, T3. · Quimio-radioterapia definitiva / ressecção endoscópica: tumores precoces. · QRT definitiva: · Geralmente T1, T1b, T2 · Doses maiores de QRT · No geral bons resultados · É mais para 1/3 superior e médio · Risco de recidiva · Ressecção endoscópica: · Tumores profundos não são retirados · Quimioterapia paliativa: Doença metastática. Doses menores de medicações (toxicidade). TRATAMENTO PALIATIVO: · 50-60% doença localmente avançada incurável ou metastática ao diagnóstico · Maioria: tratamento paliativo (radio e/ou quimioterapia) 1. STENT para melhor alimentação e menor desconforto 2. SNG ou SNE 3. Gastrostomia ou jejunostomia PROGNÓSTICO: 2010: revisão do TNM – diferenciou carcinoma epidermóide x adenocarcinoma de esôfago e junção esofagogástrica (JEG) Melhor tratamento com intenção curativa – ressecção cirúrgica completa (R0) (possível para tumores precoces) RT + QT → cirurgia → Melhora da ressecabilidade tumoral, controle locorregional em longo prazo e sobrevida global. endoscopia TC ecoendoscopia
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