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INFORMATIVOS 997 a 1007 - STF

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Informativo XXX-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
 
Informativo comentado: 
 Informativo 997-STF 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS 
▪ É inconstitucional lei estadual que obriga as operadoras de telefonia a fornecer os dados de localização de celulares 
furtados ou roubados. 
▪ É constitucional lei estadual que preveja espaço exclusivo para produtos orgânicos nas lojas. 
▪ É constitucional lei estadual que responsabiliza Estado-membro por danos causados a pessoas presas na ditadura é 
constitucional. 
 
PODER JUDICIÁRIO 
▪ Lei estadual pode prever que os oficiais de justiça também auxiliem nos serviços de secretaria da vara. 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
FUNDAÇÃO 
▪ Fundação pública com personalidade jurídica de direito privado pode adotar o regime celetista para contratação de 
seus empregados. 
 
DIREITO TRIBUTÁRIO 
PIS/COFINS 
▪ É constitucional o art. 8º, § 9º da Lei 10.865/2004, que estabeleceu alíquotas de PIS-Importação e COFINS-
Importação mais elevadas para as importadoras de autopeças que não sejam fabricantes de máquinas e veículos. 
 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS 
É inconstitucional lei estadual que obriga as operadoras de telefonia 
a fornecer os dados de localização de celulares furtados ou roubados 
 
São inconstitucionais normas estaduais que imponham obrigações de compartilhamento de 
dados com órgãos de segurança pública às concessionárias de telefonia, por configurar ofensa 
à competência privativa da União para legislar sobre telecomunicações (arts. 21, XI e 22, IV, 
da CF/88). 
STF. Plenário. ADI 5040/PI, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 3/11/2020 (Info 997). 
 
A situação concreta foi a seguinte: 
No Piauí, foi editada a Lei estadual nº 6.336/2013 obrigando as operadoras de telefonia móvel a 
fornecerem aos órgãos de Segurança Pública, sem prévia autorização judicial, dados necessários para a 
localização de telefones celulares furtados, roubados ou utilizados em atividades criminosas. 
Veja o que diz o art. 1º: 
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Art. 1º Ficam obrigadas as operadoras de telefonia móvel que operam no Estado do Piauí a 
fornecer aos órgãos de Segurança Pública, dados necessários para a localização de telefones 
celulares e cartões “SIM” que tenham sido objeto de furto, roubo e latrocínio ou na utilização de 
atividades criminosas. 
 
A Associação Nacional das Operadoras de Celulares (Acel) ajuizou ADI contra a lei afirmando que ela 
usurpou competência privativa da União. 
 
O STF concordou com o pedido formulado? A referida lei estadual é inconstitucional? 
SIM. 
São inconstitucionais normas estaduais que imponham obrigações de compartilhamento de dados com 
órgãos de segurança pública às concessionárias de telefonia, por configurar ofensa à competência 
privativa da União para legislar sobre telecomunicações (arts. 21, XI e 22, IV, da CF/88). 
STF. Plenário. ADI 5040/PI, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 3/11/2020 (Info 997). 
 
O art. 21, XI, da CF/88 prevê que compete à União “explorar, diretamente ou mediante autorização, 
concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a 
organização dos serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais”. 
O art. 22, IV, por sua vez, afirma que compete privativamente à União legislar sobre “água, energia, 
informática, telecomunicações e radiodifusão”. 
Por conta disso, o STF tem julgado inconstitucionais as leis estaduais que, embora visando contribuir com 
as atividades dos órgãos de segurança pública, têm a consequência prática de interferir indevidamente 
em direitos individuais e na estrutura de prestação do serviço público. 
No caso, mesmo sendo uma lei necessária e importante para dar instrumentos aos órgãos de segurança 
pública a fim de que consigam reprimir os atos ilícitos, a definição de obrigações e procedimentos, no 
âmbito da prestação de serviços públicos, não se pode dar de forma não integrada, desvinculada do 
sistema como um todo. 
Nesses termos, inclusive medidas bem-intencionadas, ao desconsiderarem o funcionamento do sistema 
no nível mais amplo, se revelam ineficazes e, também, verdadeiramente contraproducentes na 
consecução dos fins a que se propõem. 
 
 
 
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS 
É constitucional lei estadual que preveja espaço exclusivo para produtos orgânicos nas lojas 
 
É constitucional norma estadual que disponha sobre a exposição de produtos orgânicos em 
estabelecimentos comerciais. 
STF. Plenário. ADI 5166/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 3/11/2020 (Info 997). 
 
A situação concreta foi a seguinte: 
Em São Paulo, foi editada a Lei estadual nº 15.361/2014 tratando sobre a exposição de produtos orgânicos 
nos estabelecimentos comerciais do Estado. Confira: 
Art. 1º Esta lei regula a exposição de produtos orgânicos, “in natura” ou processados, nos 
estabelecimentos comerciais do Estado de São Paulo. 
Parágrafo único. Para fins desta lei, considera-se produto orgânico “in natura” ou processado 
aquele obtido em sistema orgânico de produção agropecuária ou oriundo de processo extrativista 
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sustentável e não prejudicial ao ecossistema local, nos termos da Lei Federal nº 10.831, de 23 de 
dezembro de 2003. 
Art. 2º Os produtos orgânicos serão expostos em espaços exclusivos. 
§ 1º Os espaços a que se refere o “caput” serão devidamente identificados em cada área ou seção 
do estabelecimento comercial, de modo a segregar os produtos orgânicos dos demais. 
§ 2º A identificação a que se refere § 1º deverá ser de fácil visualização pelo consumidor e conterá 
os seguintes dizeres: “Produto Orgânico - sem agrotóxico”. 
Art. 3º A exposição comercial de produtos orgânicos em desacordo com o disposto no artigo 1º 
sujeitará o infrator às sanções previstas na Lei Federal nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, que 
dispõe sobre a proteção do consumidor. 
 
Associação Brasileira de Supermercados (Abras) ajuizou ADI contra a lei afirmando que ela seria 
inconstitucional. 
 
O STF concordou com o pedido formulado? A referida lei estadual é inconstitucional? 
NÃO. 
É constitucional norma estadual que disponha sobre a exposição de produtos orgânicos em 
estabelecimentos comerciais. 
STF. Plenário. ADI 5166/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 3/11/2020 (Info 997). 
 
A referida lei dispõe sobre a proteção do consumidor, matéria de competência concorrente da União e 
dos Estados. Não se trata, portanto, de direito comercial. O legislador pretendeu facilitar para o 
consumidor a localização dos produtos orgânicos e estimular seu consumo. 
Além disso, a lei estadual somente amplia uma obrigação que já é prevista no Decreto federal 6.323/2007, 
que regulamentou a Lei federal nº 10.831/2003, que estabelece normas para a comercialização de 
produtos orgânicos no mercado interno. 
O decreto federal determina que, no comércio varejista, os produtos orgânicos que não possam ser 
diferenciados visualmente dos similares não orgânicos devem ser mantidos em espaço delimitado e 
identificado. Já a lei paulista especifica que os orgânicos devem ser expostos em espaços exclusivos. 
Desse modo, o único acréscimo foi a ampliação de obrigação já contida em norma federal. 
O preenchimento dessa lacuna em nada contraria a legislação federal, mas age em consonância com ela, 
protegendo os interesses comuns da federação. 
Por fim, o STF também afastou o argumento de que os comerciantes não mais poderiam determinar o 
layout dos seus estabelecimentos, o que violaria o princípio constitucionalda livre iniciativa. Compete ao 
Poder Público encontrar mecanismos para influenciar o cidadão a tomar as melhores decisões. Não há de 
se falar em violação à livre iniciativa, mas de cumprimento do dever de informar o consumidor, princípio 
igualmente essencial para a garantia da ordem econômica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS 
É constitucional lei estadual que responsabiliza Estado-membro 
por danos causados a pessoas presas na ditadura é constitucional 
 
Importante!!! 
É constitucional a Lei nº 5.751/98, do estado do Espírito Santo, de iniciativa parlamentar, que 
versa sobre a responsabilidade do ente público por danos físicos e psicológicos causados a 
pessoas detidas por motivos políticos. 
STF. Plenário. ADI 3738/ES, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 3/11/2020 (Info 997). 
 
A situação concreta foi a seguinte: 
No Espírito Santo, foi editada a Lei estadual nº 5.751/98, que reconhece a responsabilidade do Estado do 
Espírito Santo por danos físicos e psicológicos causados a pessoas detidas por motivos políticos e 
estabelece normas para que sejam indenizados. Confira os trechos mais importantes: 
Art. 1º O Estado do Espírito Santo indenizará, nos termos desta Lei, as pessoas que, presas ou 
detidas, legal ou ilegalmente, por motivos políticos entre os dias 02 de setembro de l961 a 15 de 
agosto de l979, que tenham sofrido sevícias ou maus tratos, que acarretaram danos físicos ou 
psicológicos, quando se encontravam sob a guarda e responsabilidade ou sob poder de coação de 
órgãos ou agentes públicos estaduais ou tenham sofrido perdas e danos materiais, em razão de 
terem cerceados direitos inerentes ao exercício profissional, por motivos políticos, no período 
mencionado neste artigo. 
§ 1º Não terá direito a indenização a pessoa que já a tiver obtido judicialmente, em ação movida contra 
o Estado do Espírito Santo, ou que esteja acionando com este fim, ressalvada neste último caso, a 
hipótese de desistência da ação antes do encaminhamento do pedido de que trata o Artigo 3º. 
§ 2º O pagamento de eventual indenização pela União Federal fundada em iguais motivos, não 
inibe o recebimento da que ora se estabelece. 
 
Art. 2º Fica criada a Comissão Especial, composta por 7(sete) membros, que receberá e avaliará 
os pedidos de indenização e de Pensão Especial, fundados nesta Lei, pronunciando-se num prazo 
de 90 (noventa) dias, contados do recebimento, sobre sua procedência e fixando o montante da 
indenização de acordo com os critérios estabelecidos no Art. 4º. 
(...) 
 
Art. 4º O montante da indenização prevista nesta Lei não será superior a R$ 30.000,00 (trinta mil 
reais), nem inferior a R$ 5.000,00 (cinco mil reais), devendo sua fixação levar em conta a extensão 
e gravidade das sequelas apresentadas pelo ex-preso ou detido, considerando: 
I - Existência de danos físicos ou psicológicos; 
II - Existência de nexo de casualidade com detenção referida no Artigo 1º. 
Parágrafo único. Para a fixação do quantum da indenização a Comissão, sempre que necessário, 
determinará a realização de perícia. 
 
Vale ressaltar que a referida norma teve origem a partir de projeto de lei de um Deputado Estadual 
(iniciativa parlamentar). 
 
ADI 
O Governador do Estado ajuizou ADI contra a lei afirmando que ela seria incompatível com a regras 
constitucionais que definem a competência privativa do chefe do Poder Executivo para propor projetos 
de lei que acarretem a criação ou o aumento de despesa e a criação de órgão público. 
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Segundo a ADI, a matéria tratada na lei somente poderia ser disciplinada em lei de iniciativa do 
Governador do Estado, nos termos do art. 61, § 1º, II, “e” e art. 165, III, da CF/88, que devem ser aplicados 
em nível estadual por força do princípio da simetria: 
Art. 61 (...) 
§ 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: 
(...) 
II - disponham sobre: 
(...) 
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública, observado o disposto no 
art. 84, VI; 
 
Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: 
(...) 
III - os orçamentos anuais. 
 
Apontou, ainda, que o § 2º do art. 1º da Lei, segundo a qual eventual indenização pela União, com base 
em iguais motivos, não afasta o pagamento pelo estado, ofenderia os princípios da moralidade e da 
razoabilidade, pois configuraria enriquecimento sem causa do particular, em detrimento do patrimônio 
público. 
 
O STF concordou com o pedido formulado? A referida lei estadual é inconstitucional? 
NÃO. 
É constitucional a Lei nº 5.751/98, do estado do Espírito Santo, de iniciativa parlamentar, que versa 
sobre a responsabilidade do ente público por danos físicos e psicológicos causados a pessoas detidas 
por motivos políticos. 
STF. Plenário. ADI 3738/ES, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 3/11/2020 (Info 997). 
 
A lei estadual está em harmonia com o art. 37, § 6º da Constituição Federal, que estabelece que as pessoas 
jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos 
danos causados por seus agentes a terceiros. 
A situação descrita na lei é peculiar e não alcança matéria de iniciativa exclusiva do Poder Executivo (arts. 
61, § 1º, e 165 da Constituição). 
A lei é expressa ao estabelecer a responsabilidade do Estado por danos físicos ou psicológicos causados a 
presos pelo regime militar ou às pessoas que tenham sofrido perdas e danos materiais em razão do 
cerceamento de direitos inerentes ao exercício profissional, por motivos políticos, no período descrito na 
norma. Diversa é a situação da responsabilidade da União. Esta responde no tocante àqueles que, por si 
custodiados, tenham sofrido danos. 
Acompanharam o voto do relator os ministros Edson Fachin, Cármen Lúcia, Alexandre de Moraes, Rosa 
Weber, Luís Roberto Barroso, Ricardo Lewandowski e Luiz Fux. 
 
Divergência 
Os ministros Dias Toffoli e Gilmar Mendes ficaram vencidos, por entender que houve violação da iniciativa 
do Executivo para legislar sobre a criação de órgão da administração pública e estabelecer suas 
atribuições. Ainda segundo a divergência, a lei ultrapassa os limites da anistia fixada no ADCT da CF/88 e 
mostra-se irrazoável ao prever o direito ao recebimento de dupla indenização por danos praticados pelo 
Estado brasileiro no período de exceção. 
 
 
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PODER JUDICIÁRIO 
Lei estadual pode prever que os oficiais de justiça também auxiliem nos serviços de secretaria da vara 
 
É constitucional norma que inclui, entre as incumbências dos oficiais de justiça, a tarefa de 
“auxiliar os serviços de secretaria da vara, quando não estiverem realizando diligência.” 
STF. Plenário. ADI 4853/MA, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 3/11/2020 (Info 997). 
 
A situação concreta foi a seguinte: 
Lei do Estado do Maranhão previu que os oficiais de justiça poderiam também auxiliar nos serviços de 
secretaria da vara (ex: fazer juntada de documentos, armazenas processos físicos, atender o público etc.). 
Confira a redação do dispositivo: 
Art. 94. Aos oficiais de justiça incumbe: 
(...) 
VIII – auxiliar os serviços de secretaria da vara, quando não estiver realizando diligências. 
 
A Confederação dos Servidores Públicos do Brasil (CSPB) ajuizou ADI contra o dispositivo. 
A autora argumentou que o dispositivo impugnado afronta os princípiosda legalidade, da moralidade e 
da investidura abrigados nos arts. 37, caput e II, e 39, § 1º, I, II e III, da CF/88. 
Isso porque tais atribuições seriam incompatíveis com as funções do Oficial de Justiça por se tratarem de 
atividades concernentes aos funcionários das secretarias das varas e eventual transformação do cargo de 
oficial de justiça exigiria a realização de concurso público. 
 
O STF concordou com o pedido formulado? A referida lei estadual é inconstitucional? 
NÃO. 
É constitucional norma que inclui, entre as incumbências dos oficiais de justiça, a tarefa de “auxiliar os 
serviços de secretaria da vara, quando não estiverem realizando diligência.” 
STF. Plenário. ADI 4853/MA, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 3/11/2020 (Info 997). 
 
Oficial de justiça é um auxiliar da Justiça 
O objetivo dessa norma é o de aumentar a celeridade e a eficiência na prestação de serviços públicos, 
melhorando sua qualidade no âmbito do Poder Judiciário, mediante a distribuição de tarefas entre os 
servidores competentes. 
A competência para a realização de atos auxiliares ao juízo é intrínseca ao cargo de oficial de justiça. Nesse 
sentido, confira o que diz o art. 154 do CPC: 
Art. 154. Incumbe ao oficial de justiça: 
I - fazer pessoalmente citações, prisões, penhoras, arrestos e demais diligências próprias do seu 
ofício, sempre que possível na presença de 2 (duas) testemunhas, certificando no mandado o 
ocorrido, com menção ao lugar, ao dia e à hora; 
II - executar as ordens do juiz a que estiver subordinado; 
III - entregar o mandado em cartório após seu cumprimento; 
IV - auxiliar o juiz na manutenção da ordem; 
V - efetuar avaliações, quando for o caso; 
VI - certificar, em mandado, proposta de autocomposição apresentada por qualquer das partes, 
na ocasião de realização de ato de comunicação que lhe couber. 
Parágrafo único. Certificada a proposta de autocomposição prevista no inciso VI, o juiz ordenará 
a intimação da parte contrária para manifestar-se, no prazo de 5 (cinco) dias, sem prejuízo do 
andamento regular do processo, entendendo-se o silêncio como recusa. 
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Informativo XXX-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 7 
 
Além disso, o art. 149 reafirma que os oficiais de justiça são auxiliares da Justiça. 
 
Não se trata de mudança de cargo 
O dispositivo impugnado não representa mudança de cargo. A incumbência definida no preceito não 
desvirtua a função dos Oficiais de Justiça. Pelo contrário, firma sua posição como auxiliar do juízo. 
Não havendo transformação de cargos, alteração de funções nem ocupação de carreira diversa, bem como 
evidenciada a aderência da norma questionada às atividades atinentes aos Oficiais de Justiça, não há que 
se falar em violação dos princípios da investidura, da legalidade e da moralidade, e, em consequência, em 
ofensa aos arts. 37, caput e II, e 39, § 1º, I, II e III, da Constituição Federal. 
 
 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
 
FUNDAÇÃO 
Fundação pública com personalidade jurídica de direito privado 
pode adotar o regime celetista para contratação de seus empregados 
 
Importante!!! 
É constitucional a legislação estadual que determina que o regime jurídico celetista incide 
sobre as relações de trabalho estabelecidas no âmbito de fundações públicas, com 
personalidade jurídica de direito privado, destinadas à prestação de serviços de saúde. 
STF. Plenário. ADI 4247/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 3/11/2020 (Info 997). 
 
O que é uma fundação? 
Em termos gerais, fundação é um patrimônio afetado (destinado) à realização de um fim, possuindo, por 
essa razão, personalidade jurídica própria distinta de seu instituidor. 
Desse modo, o instituidor da fundação separa (destaca) um determinado patrimônio (dinheiro, imóveis, 
créditos etc.) declarando que esses bens serão utilizados para a realização de um objetivo específico. 
Depois de instituída, a fundação ganha personalidade própria (“vida própria”), sendo, portanto, uma 
pessoa jurídica distinta da pessoa (física ou jurídica) que a criou. 
A fundação é um instituto disciplinado originalmente pelo Direito Civil. Isso porque as primeiras fundações 
foram criadas por particulares. 
Ocorre que, posteriormente, o Poder Público passou a também instituir fundações, razão pela qual esse 
tema também é estudado em Direito Administrativo. 
Gustavo Scatolino e João Trindade explicam muito bem esse tema: 
“Originalmente, ao final do século XIX, as fundações foram concebidas como entidades (pessoas 
jurídicas), para que pessoas físicas ou jurídicas pudessem destinar parte de seus recursos a um 
objetivo de caráter social, até mesmo para o patrimônio pessoal não se misturar com o patrimônio 
destinado à execução de atividades sociais. Normalmente, a pessoa destinava parte do seu capital 
a essa finalidade e constituía uma fundação. O termo fundação origina-se de “fundos” como 
sinônimo de recursos financeiros ou patrimoniais. Desde então, a fundação veio a ser entendida 
como um conjunto de recursos destinados a uma finalidade social, a quem a lei atribuía 
personalidade jurídica. 
Com isso, surgiram as fundações privadas, criadas por testamentos, quando o instituidor pretendia 
instituir a fundação após sua morte; ou por escritura pública, quando o instituidor pretendia 
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Informativo XXX-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
instituir a fundação ainda em vida. Também surgiram as fundações criadas por pessoas jurídicas, 
que, diferentemente das pessoas físicas, sempre instituem fundações por meio de escritura 
pública. 
Entre as fundações privadas, podemos citar como exemplos: Fundação Roberto Marinho, 
Fundação Bradesco, Fundação Perseu Abramo etc. Tais fundações existem e continuam sendo 
criadas; todavia, não fazem parte de nosso estudo, pois, sendo instituídas e mantidas por pessoas 
privadas (físicas ou jurídicas) não integram a Administração Pública Indireta. Essas entidades são 
disciplinadas pelo Código Civil. 
Ocorre que o Estado passou a criar fundações, isto é, destinar recursos públicos para fins sociais, 
criando uma pessoa jurídica para cal fim. Logo surgiu a dúvida sobre se tais pessoas — as 
fundações criadas e mantidas pelo Estado - eram de direito público ou privado.” (Manual Didático 
de Direito Administrativo. 6ª ed., Salvador: Juspodivm, 2018, p. 175-176). 
 
Espécies de fundação 
No ordenamento jurídico brasileiro, existem três tipos de fundação: 
a) fundação de direito privado, instituída por particulares; 
b) fundações públicas de direito privado, instituídas pelo Poder Público; e 
c) fundações públicas de direito público, que possuem natureza jurídica de autarquia. 
 
Como podemos conceituar as fundações públicas (fundações instituídas pelo Poder Público)? 
- Fundação pública é a pessoa jurídica de direito público ou privado 
- cuja criação foi autorizada por lei 
- sendo composta por um patrimônio 
- que foi reservado pelo instituidor para a realização de uma finalidade específica de interesse social, 
- como, por exemplo, atividades educacionais, culturais, de pesquisas científicas, de assistência social etc. 
 
Qual é o regime jurídico (regramento) aplicável às fundações instituídas pelo Poder Público? Elas estão 
sujeitas ao regime jurídico de direito público ou de direito privado? 
Depende. A fundação instituída pelo Estado pode estar sujeita ao regime público ou privado, a depender 
do estatuto da fundação e das atividades por ela prestadas. O STF definiu a seguinte tese: 
A qualificação de uma fundação instituída pelo Estado como sujeita ao regime público ou privado 
depende: 
i) do estatuto de sua criação ou autorização e 
ii) das atividades por ela prestadas. 
As atividades de conteúdo econômico e as passíveisde delegação, quando definidas como objetos de dada 
fundação, ainda que essa seja instituída ou mantida pelo poder público, podem se submeter ao regime 
jurídico de direito privado. 
STF. Plenário. RE 716378/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 1º e 7/8/2019 (repercussão geral) (Info 946). 
 
Assim, podemos identificar duas espécies de fundação pública (fundação instituída pelo Estado): 
Fundação pública de direito PÚBLICO Fundação pública de direito PRIVADO 
Estão sujeitas ao regime público. Estão sujeitas ao regime privado. 
São criadas por lei específica (são uma espécie de 
autarquia, por isso também chamadas de 
“fundações autárquicas”). 
Deve ser editada uma lei específica autorizando 
que o Poder Público crie a fundação. Em seguida, 
será necessário fazer a inscrição do estatuto dessa 
fundação no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, 
quando, então, ela adquire personalidade jurídica. 
 
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Informativo XXX-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
Imagine agora a seguinte situação adaptada: 
No Rio de Janeiro, foi editada lei autorizando a criação de uma fundação pública, com personalidade 
jurídica de direito privado, com o objetivo de prestar serviços na área de saúde. 
O ponto mais polêmico está no fato de a lei ter determinado que essa fundação adotaria o regime celetista 
para contratação de seus empregados. 
 
Isso é possível? 
SIM. 
É constitucional a legislação estadual que determina que o regime jurídico celetista incide sobre as 
relações de trabalho estabelecidas no âmbito de fundações públicas, com personalidade jurídica de 
direito privado, destinadas à prestação de serviços de saúde. 
STF. Plenário. ADI 4247/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 3/11/2020 (Info 997). 
 
Segundo a Lei editada pelo Estado do Rio de Janeiro, essa fundação pública, com personalidade jurídica 
de direito privado, é dotada de patrimônio e receitas próprias, autonomia gerencial, orçamentária e 
financeira para o desempenho de atividades na área de saúde. Nessa configuração, o Estado não toca 
serviço público na área da saúde. Ele se utiliza de pessoa interposta — de natureza privada — que, então, 
adentra o mercado de trabalho e contrata. 
Assim, havendo uma opção do legislador pelo regime jurídico de direito privado, é decorrência lógica dessa 
opção que seja adotado para o pessoal das fundações autorizadas o regime celetista. 
Com esse entendimento, o Plenário considerou constitucional a previsão da lei estadual de contratação 
por meio do regime celetista. 
Os ministros Dias Toffoli, Cármen Lúcia, Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes, Rosa Weber, Luiz Fux e 
Ricardo Lewandowski acompanharam o relator com ressalvas apenas para agregar fundamento específico 
acerca da distinção entre fundação pública de direito público e fundação pública de direito privado, nos 
termos do que decidido no RE 716.378, submetido à sistemática da repercussão geral. 
 
 
 
DIREITO TRIBUTÁRIO 
 
PIS/COFINS 
É constitucional o art. 8º, § 9º da Lei 10.865/2004, que estabeleceu alíquotas de PIS-Importação 
e COFINS-Importação mais elevadas para as importadoras de autopeças que não sejam 
fabricantes de máquinas e veículos 
 
É constitucional o § 9º do art. 8º da Lei nº 10.865/2004, a estabelecer alíquotas maiores, 
quanto à Contribuição ao PIS e à Cofins, consideradas empresas importadoras de autopeças 
não fabricantes de máquinas e veículos. 
STF. Plenário. RE 633345, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 04/11/2020 (Repercussão Geral – 
Tema 744) (Info 997). 
 
Lei nº 10.865/2004 
Os chamados PIS e COFINS são duas diferentes “contribuições de seguridade social”. 
A modalidade mais comum do PIS e da COFINS é aquela que tem como fato gerador o faturamento. 
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Informativo XXX-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
No entanto, o julgado aqui comentado trata sobre o PIS-Importação e a COFINS-Importação, duas 
contribuições que incidem sobre a importação de bens e serviços, sendo regulamentadas pela Lei nº 
10.865/2004. 
 
Polêmica em torno do § 9º do art. 8º 
O art. 8º, § 9º da Lei nº 10.865/2004 previu o seguinte: 
Art. 8º (...) 
§ 9º Na importação de autopeças, relacionadas nos Anexos I e II da Lei nº 10.485, de 3 de julho de 
2002, exceto quando efetuada pela pessoa jurídica fabricante de máquinas e veículos relacionados 
no art. 1º da referida Lei, as alíquotas são de: 
I - 2,62% (dois inteiros e sessenta e dois centésimos por cento), para a Contribuição para o 
PIS/Pasep-Importação; e 
II - 12,57% (doze inteiros e cinquenta e sete centésimos por cento), para a Cofins-Importação. 
 
O que esse dispositivo diz, na prática: 
• se a empresa importadora de autopeças não for fabricante de máquinas e veículos: irá pagar as alíquotas 
previstas no art. 8º, § 9º da Lei nº 10.865/2004. 
• se a empresa importadora de autopeças for fabricante de máquinas e veículos: irá pagar alíquotas 
menores. 
Em outras palavras, se a importadora de autopeças não for fabricante, ela irá pagar alíquotas maiores. 
 
Essa previsão é constitucional? 
SIM. 
É constitucional o § 9º do art. 8º da Lei nº 10.865/2004, a estabelecer alíquotas maiores, quanto à 
Contribuição ao PIS e à Cofins, consideradas empresas importadoras de autopeças não fabricantes de 
máquinas e veículos. 
STF. Plenário. RE 633345, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 04/11/2020 (Repercussão Geral – Tema 
744) (Info 997). 
 
O PIS-Importação e a COFINS-Importação são tributos de forte perfil extrafiscal, ou seja, atuam 
decisivamente na promoção ou no desestímulo de atividades econômicas. 
Conclui-se, portanto, que são tributos voltados não apenas para finalidades arrecadatórias, mas para a 
regulação do mercado, de forma que direcionam os contribuintes a certos comportamentos, de acordo 
com a política estipulada pelo governo. 
No caso dos autos, o objetivo notório da norma é o de estimular a fabricação de máquinas e peças no 
território nacional. 
Quanto à alegada violação aos princípios da isonomia em matéria tributária e da capacidade contributiva, 
a jurisprudência do STF é pacífica no sentido de que tais princípios destinam-se, primordialmente, ao 
legislador, de maneira que não cabe ao Poder Judiciário equiparar alíquotas diferenciadas, com 
fundamento no princípio da isonomia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Informativo XXX-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 11 
EXERCÍCIOS 
 
Julgue os itens a seguir: 
1) São inconstitucionais normas estaduais que imponham obrigações de compartilhamento de dados com 
órgãos de segurança pública às concessionárias de telefonia, por configurar ofensa à competência 
privativa da União para legislar sobre telecomunicações (arts. 21, XI e 22, IV, da CF/88). ( ) 
2) É inconstitucional norma estadual que disponha sobre a exposição de produtos orgânicos em 
estabelecimentos comerciais. ( ) 
3) É constitucional a Lei nº 5.751/98, do estado do Espírito Santo, de iniciativa parlamentar, que versa sobre 
a responsabilidade do ente público por danos físicos e psicológicos causados a pessoas detidas por 
motivos políticos. ( ) 
4) É inconstitucional norma que inclui, entre as incumbências dos oficiais de justiça, a tarefa de “auxiliar os 
serviços de secretaria da vara, quando não estiverem realizando diligência.” ( ) 
5) É constitucional a legislação estadual que determina que o regime jurídico celetista incide sobre as 
relações de trabalho estabelecidas no âmbito de fundações públicas, com personalidade jurídica de 
direito privado, destinadas à prestação de serviços de saúde. () 
6) É constitucional o § 9º do art. 8º da Lei nº 10.865/2004, a estabelecer alíquotas maiores, quanto à 
Contribuição ao PIS e à Cofins, consideradas empresas importadoras de autopeças não fabricantes de 
máquinas e veículos. ( ) 
 
Gabarito 
1. C 2. E 3. C 4. E 5. C 6. C 
 
OUTRAS INFORMAÇÕES 
 
CLIPPING DAS SESSÕES VIRTUAIS 
DJE DE 26 A 30 DE OUTUBRO DE 2020 
 
 
RECURSO EXTRAORDINÁRIO 719.870 
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO 
REDATOR DO ACÓRDÃO: MIN. ALEXANDRE DE MORAES 
Decisão: O Tribunal, por maioria, apreciando o tema 670 da repercussão geral, deu provimento ao recurso 
extraordinário, em maior extensão, para que os autos retornem ao Tribunal de origem, para rejulgamento dos Embargos 
de Declaração, à luz das diretrizes fixadas neste precedente, nos termos do voto do Ministro Alexandre de Moraes, Redator 
para o acórdão, vencidos os Ministros Marco Aurélio (Relator), Roberto Barroso e Dias Toffoli, que proviam o 
extraordinário, assentando a nulidade do pronunciamento decorrente dos declaratórios, a fim de que o Tribunal emita 
entendimento explícito relativamente à falta de razoabilidade evocada. Foi fixada a seguinte tese: "I – No julgamento 
de Ação Direta de Inconstitucionalidade proposta para questionar a validade de leis que criam cargos em comissão, 
ao fundamento de que não se destinam a funções de direção, chefia e assessoramento, o Tribunal deve analisar as 
atribuições previstas para os cargos; II – Na fundamentação do julgamento, o Tribunal não está obrigado a se 
pronunciar sobre a constitucionalidade de cada cargo criado, individualmente". Plenário, Sessão Virtual de 
2.10.2020 a 9.10.2020. 
EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL. REPRESENTAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE, PROPOSTA 
PERANTE TRIBUNAL DE JUSTIÇA. CRIAÇÃO DE CARGOS PÚBLICO, DE PROVIMENTO EM COMISSÃO, 
POR LEI MUNICIPAL. ALEGAÇÃO DE QUE OS CARGOS NÃO SE DESTINAM ÀS FUNÇÕES DE DIREÇÃO, 
CHEFIA E ASSESSORAMENTO. IMPERIOSIDADE DE ANÁLISE DAS ATRIBUIÇÕES DOS CARGOS, 
DESCRITAS NA LEI. DESNECESSIDADE DE QUE O TRIBUNAL SE MANIFESTE SOBRE CADA CARGO, 
INDIVIDUALMENTE. RECURSO EXTRAORDINÁRIO PROVIDO. 1. A Constituição Federal estabelece, na parte 
final do inciso V do art. 37, que os cargos em comissão destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e 
assessoramento. 2. Eventualmente, as leis que criam cargos em comissão conferem-lhes denominações que remetem às 
referidas funções, mas a descrição das atribuições revela tratar-se de atividades técnicas ou burocráticas. 3. Para 
concluírem se ocorre, ou não, esta inconstitucional burla ao concurso público, os Tribunais devem analisar a descrição 
 Informativo 
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Informativo XXX-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 12 
das atribuições dos cargos, constante na norma. 4. Por outro lado, o Tribunal não está obrigado, na fundamentação do 
julgamento, a se pronunciar sobre cada cargo, individualmente. 5. Recurso Extraordinário a que se dá provimento, em 
maior extensão, para que os autos retornem ao Tribunal de origem, para rejulgamento dos Embargos de Declaração, à luz 
das diretrizes fixadas neste precedente. Tema 670, fixada a seguinte tese de repercussão geral: “I - No julgamento de 
Ação Direta de Inconstitucionalidade proposta para questionar a validade de leis que criam cargos em comissão, ao 
fundamento de que não se destinam a funções de direção, chefia e assessoramento, o Tribunal deve analisar as atribuições 
previstas para os cargos; II - Na fundamentação do julgamento, o Tribunal não está obrigado se pronunciar sobre a 
constitucionalidade de cada cargo criado, individualmente". 
RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.263.641 
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO 
REDATOR DO ACÓRDÃO: MIN. ALEXANDRE DE MORAES 
Decisão: O Tribunal, por maioria, apreciando o tema 455 da repercussão geral, negou provimento ao recurso 
extraordinário, nos termos do voto do Ministro Alexandre de Moraes, Redator para o acórdão, vencidos os Ministros 
Marco Aurélio (Relator) e Edson Fachin. Foi fixada a seguinte tese: "A exigência de garantia para o exercício da 
profissão de leiloeiro, prevista nos artigos 6º a 8º do Decreto 21.981/1932, é compatível com o artigo 5º, XIII, da 
CF/1988". Falou, pelo recorrente, o Dr. Deivid Kistenmacher. Não participou deste julgamento o Ministro Ricardo 
Lewandowski. Plenário, Sessão Virtual de 2.10.2020 a 9.10.2020. 
EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL. LIVRE EXERCÍCIO PROFISSIONAL, ATENDIDAS AS 
QUALIFICAÇÕES QUE A LEI ESTABELECER. LEILOEIRO. PAGAMENTO DE CAUÇÃO PARA DESEMPENHO 
DA ATIVIDADE. CONSTITUCIONALIDADE. RECURSO EXTRAORDINÁRIO DESPROVIDO. 1. A cláusula da 
liberdade de profissão (art. 5º, XIII, da CF) assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no país o direito constitucional 
a exercer qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer. A 
jurisprudência do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL tem afirmado que essa norma socorre tanto a liberdade de escolha, 
como a liberdade de exercício de uma atividade a título de trabalho, ofício ou profissão. 2. Quanto ao exercício de trabalho, 
ofício ou profissão, a garantia de liberdade comporta alguma limitação pelo legislador infraconstitucional, conforme 
dispõe o art. 5º, XIII, da CF. Embora admissível, essa intervenção está materialmente submetida aos demais preceitos 
constitucionais, como o valor social do trabalho (arts. 1º, IV; 6º, caput, XXXII; 170, caput, e VIII; 186, III, 191 e 193, 
entre outros). 3. A legitimidade da atuação legislativa no campo do exercício do trabalho deve ser restrita apenas ao 
indispensável para viabilizar a proteção de outros bens jurídicos de interesse público igualmente resguardados pela própria 
Constituição, como a segurança, a saúde, a ordem pública, a incolumidade das pessoas e do patrimônio, a proteção 
especial da infância e outros. Somente quando a execução individual de determinada atividade puder implicar risco a 
algum desses valores, imprescindíveis para o bem-estar da coletividade, é que o legislador estará autorizado a restringir 
a liberdade de trabalho. 4. São diretrizes para a atividade legislativa tendente a condicionar o exercício de alguma 
profissão: (a) a lei não pode estabelecer limitações injustificadas, arbitrárias ou excessivas; (b) as limitações instituídas 
pela lei devem fundamentar-se em critérios técnicos capazes de atenuar os riscos sociais inerentes ao exercício de 
determinados ofícios; e (c) as limitações instituídas pela lei não podem dificultar o acesso a determinada categoria 
profissional apenas sob o pretexto de favorecer os seus atuais integrantes, mediante restrição exclusivamente 
corporativista do mercado de trabalho. 5. Enfim, exige-se, como requisito de validade das limitações normativas ao 
exercício profissional, que sejam elas obedientes a critérios de adequação e de razoabilidade que possam ser aferidos 
lógica e objetivamente. . 6. O Decreto 21.981/1932 dispõe, em seus artigos 6º, 7º e 8º, que “o leiloeiro, depois de habilitado 
devidamente perante as Juntas Comerciais fica obrigado, mediante despacho das mesmas Juntas, a prestar fiança, em 
dinheiro ou em apólices da Divida Pública federal (…)”; “a fiança responde pelas dívidas ou responsabilidades do 
leiloeiro”; e que “o leiloeiro só poderá entrar no exercício da profissão, depois de aprovada a fiança oferecida (...)”.7. O 
leiloeiro lida diariamente com o patrimônio de terceiros, de forma que a prestação de fiança como condição para o 
exercício de sua profissão busca reduzir o risco de dano ao proprietário - o que reforça o interesse social da norma 
protetiva, bem como justifica a limitação para o exercício da profissão. 8. Recurso Extraordinário a que se nega 
provimento. Tema 455, fixada a seguinte tese de repercussão geral: “A exigência de garantia para o exercício da profissão 
de leiloeiro,prevista nos artigos 6º a 8º do Decreto 21.981/1932, é compatível com o artigo 5º, XIII, da CF/1988”. 
OUTRAS INFORMAÇÕES 
26 A 30 DE OUTUBRO DE 2020 
Portaria STF nº 433, de 23/10/2020- Dispõe sobre as Comissões Permanentes previstas no artigo 27, § 1º, do Regimento Interno. 
Resolução STF nº 708, de 23/10/2020 - Institui o Laboratório de Inovação do Supremo Tribunal Federal - Inova STF. 
 
Supremo Tribunal Federal – STF Secretaria de Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação Coordenadoria de Difusão da Informação 
codi@stf.jus.br 
 
https://www.stf.jus.br/arquivo/djEletronico/DJE_20201023_257.pdf
https://www.stf.jus.br/arquivo/djEletronico/DJE_20201026_258.pdf
mailto:codi@stf.jus.br
 
Informativo 998-STF (12/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
 
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 Informativo 998-STF 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
LIBERDADE DE EXPRESSÃO 
▪ Viola a liberdade de expressão a decisão de retirar da Netflix o especial de Natal do Porta dos Fundos porque seu 
conteúdo satiriza crenças e valores do cristianismo. 
 
LIBERDADE PROFISSIONAL 
▪ É válida a norma da CVM que impõe a rotatividade de auditores independentes. 
 
DIREITOS SOCIAIS 
▪ Não é possível atrelar-se ao salário mínimo o valor alusivo a benefício social e os respectivos critérios de admissão. 
 
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 
▪ É possível que uma emenda constitucional seja julgada formalmente inconstitucional se ficar demonstrado que ela 
foi aprovada com votos “comprados” dos parlamentares e que esse número foi suficiente para comprometer o 
resultado da votação. 
 
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS 
▪ É inconstitucional norma de iniciativa parlamentar que preveja a criação de órgão público e organização 
administrativa. 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
SERVIDORES PÚBLICOS 
▪ Lei estadual não pode prever paridade e integralidade para os policiais civis nem conceder a eles adicional de final 
de carreira para que recebam aposentadoria em classe superior ao que estavam na ativa. 
▪ A vedação da SV 37 se aplica tanto para as verbas remuneratórias como também para as parcelas de caráter 
indenizatório. 
▪ Judiciário não pode obrigar que o chefe do Poder Executivo encaminhe o projeto de lei para revisão geral anual dos 
servidores. 
 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
LIBERDADE DE EXPRESSÃO 
Viola a liberdade de expressão a decisão de retirar da Netflix o especial de Natal do Porta dos 
Fundos porque seu conteúdo satiriza crenças e valores do cristianismo 
 
Retirar de circulação produto audiovisual disponibilizado em plataforma de “streaming” 
apenas porque seu conteúdo desagrada parcela da população, ainda que majoritária, não 
encontra fundamento em uma sociedade democrática e pluralista como a brasileira. 
STF. 2ª Turma. Rcl 38782/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 3/11/2020 (Info 998). 
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Informativo 998-STF (12/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2 
 
A situação concreta foi a seguinte: 
O grupo de comédia “Porta dos Fundos” produziu, em 2019, um programa de humor satírico denominado 
“Especial de Natal Porta dos Fundos: A Primeira Tentação de Cristo”. 
No filme, lançado na plataforma de “streaming” Netflix, são feitas diversas sátiras com as crenças e valores 
das religiões cristãs e Jesus é retratado como gay. 
A Associação Centro Dom Bosco de Fé e Cultura ajuizou ação civil pública contra a “Porta dos Fundos” e a 
Netflix pedindo a não exibição do especial e a condenação dos requeridos em danos morais coletivos. 
Em 08/01/2020, um Desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro deferiu medida liminar para 
que a Netflix suspendesse a exibição do filme. 
A Netflix ingressou com reclamação, no STF, contra esta decisão alegando que a suspensão da exibição do 
filme é incompatível com o entendimento firmado pelo STF no julgamento da ADPF 130, na qual o 
Supremo afirmou não ser possível qualquer tipo de censura prévia e de restrição à liberdade de expressão 
não prevista na Constituição. 
Em 09/01/2020, o Presidente do STF deferiu a liminar para suspender a decisão do Desembargador e, com 
isso, permitiu a exibição do filme. Para o Min. Dias Toffoli, o STF, na ADPF 130, assegurou a plenitude da 
liberdade de expressão como decorrência da dignidade da pessoa humana e como meio de reafirmação 
ou potencialização de outras liberdades constitucionais. 
 
A questão foi apreciada pela 2ª Turma do STF? O que foi decidido? O filme pode continuar na Netflix? 
SIM. 
Retirar de circulação produto audiovisual disponibilizado em plataforma de “streaming” apenas porque 
seu conteúdo desagrada parcela da população, ainda que majoritária, não encontra fundamento em 
uma sociedade democrática e pluralista como a brasileira. 
STF. 2ª Turma. Rcl 38782/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 3/11/2020 (Info 998). 
 
Liberdade de expressão 
A obra não incita a violência contra grupos religiosos. Trata-se de mera crítica, realizada por meio de sátira 
a elementos do Cristianismo. 
Por mais questionável que possa vir a ser a qualidade da produção artística, não se identifica, em seu 
conteúdo, fundamento que justifique qualquer tipo de ingerência estatal. 
A liberdade de expressão artística está em posição preferencial em relação às demais liberdades. Eventual 
colisão entre ela e outros direitos constitucionalmente garantidos deve levar em conta o fato de que o 
conceito de arte tem sentido amplo, incluindo-se aí obras provocativas, que pretendem atingir fins 
políticos ou religiosos também por meio de sátiras. 
Somente seria possível proibir a exibição do conteúdo se fosse caracterizado ato ilícito de incitação à 
violência ou violador de direitos humanos, o que não se verificou no caso. 
Há diversas formas de indicar descontentamento com determinada opinião e de manifestar-se contra 
ideais com os quais não se concorda — o que, em verdade, nada mais é do que a dinâmica do chamado 
“mercado livre de ideias”. A censura, com a definição de qual conteúdo pode ou não ser divulgado, deve-
se dar em situações excepcionais, para que seja evitada, inclusive, a ocorrência de verdadeira imposição 
de determinada visão de mundo. 
 
Acesso é voluntário e controlado pelo usuário 
Por se tratar de conteúdo veiculado em plataforma de transmissão particular, na qual o acesso é voluntário 
e controlado pelo próprio usuário, é possível optar-se por não assistir ao conteúdo disponibilizado, bem 
como é viável decidir-se pelo cancelamento da assinatura contratada. 
 
 
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Informativo 998-STF (12/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 3 
Classificação indicativa 
Vale ressaltar, ainda, que a Netflix cumpre as exigências das normas de classificação indicativa e apresenta, 
de forma clara ao seu público, aviso etário, de gênero e demais informações que permitem a escolha 
individual da programação, conforme o art. 76 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e as 
recomendações contidas na ADI 2404. 
 
Censura 
A censura, com a definição de conteúdos que podem ser divulgados, deve se dar em situações 
excepcionais, para evitar verdadeira imposição de determinada visão de mundo. 
Retirar de circulação material apenas porque seu conteúdo desagrada parcela da população, ainda que 
majoritária, não encontra fundamento em uma sociedade democrática e pluralista como a brasileira. 
Atos estatais, de qualquer de suas esferas de Poder, praticados sob a justificativa da moral e dos bons 
costumes ou do politicamente correto, apenas servem para inflamar o sentimento de dissenso, de ódio 
ou de preconceito. 
 
 
LIBERDADE PROFISSIONAL 
É válida a norma da CVM que impõe a rotatividade de auditores independentes 
 
São constitucionaisas restrições impostas aos auditores independentes pelo art. 31 da 
Instrução 308/99 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). 
STF. Plenário. ADI 3033/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/11/2020 (Info 998). 
 
Instrução 308/99, da CVM 
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é uma autarquia federal que fiscaliza o mercado de ações, nos 
termos da Lei nº 6.385/76. 
No exercício dessa sua atribuição, a autarquia editou a Instrução 308/99, que dispõe sobre o registro e o 
exercício da atividade de auditoria independente no âmbito do mercado de valores mobiliários. 
Veja o que diz o art. 31: 
Art. 31. O Auditor Independente - Pessoa Física e o Auditor Independente - Pessoa Jurídica não 
podem prestar serviços para um mesmo cliente, por prazo superior a cinco exercícios sociais 
consecutivos, exigindo-se um intervalo mínimo de três exercícios sociais para a sua recontratação. 
 
A Confederação Nacional do Comércio (CNC) ajuizou ADI contra alegando que esse o art. 31 atenta contra 
os princípios constitucionais da livre iniciativa, da livre concorrência e da liberdade de exercício de 
qualquer profissão ou atividade econômica. 
 
O STF concordou com o pedido formulado na ação? Essa previsão é inconstitucional? 
NÃO. O STF entendeu que: 
São constitucionais as restrições impostas aos auditores independentes pelo art. 31 da Instrução 308/99 
da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). 
STF. Plenário. ADI 3033/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/11/2020 (Info 998). 
 
A rotatividade dos auditores independentes visa assegurar os princípios constitucionais que regem a 
ordem econômica (art. 170) e insere-se no âmbito de competência da CVM para regular e fiscalizar o 
mercado de valores mobiliários. 
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Informativo 998-STF (12/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 4 
A CVM tem poder de polícia em relação às atividades dos auditores independentes no mercado de valores 
mobiliários, competência concedida pela Lei nº 6.385/76, que versa sobre o mercado de valores 
mobiliários e cria a CVM. 
A rotatividade não inviabiliza o exercício profissional, mas o regula, com base em decisão técnica adequada 
à atividade econômica por ela regulamentada. 
A norma é medida adequada para resguardar a idoneidade do auditor, “resguardando a imparcialidade 
do trabalho de auditoria e protegendo os interesses dos investidores, do mercado de capitais e da ordem 
econômica”. 
Vale ressaltar, por fim, que o STF, ao julgar caso análogo, considerou constitucionais restrições impostas 
aos auditores independentes por outros dispositivos da Instrução 308. Confira trechos da ementa desse 
outro julgado: 
(...) 1. O cerne da controvérsia diz respeito aos limites do poder regulamentar da CVM para editar, no 
âmbito do mercado de valores mobiliários, normas que envolvem o exercício da atividade profissional de 
auditor independente e das pessoas físicas e jurídicas a eles vinculadas. 
2. O art. 23, II, e parágrafo único, e o art. 27, ambos da Instrução CVM 308/1999, vedam, ao auditor 
independente e às pessoas físicas e jurídicas a ele ligadas, a prestação de consultoria às mesmas empresas 
em que estejam realizando auditoria. 
3. A Comissão de Valores Mobiliários - CVM, criada pela Lei 6.385/1976, tem natureza de entidade 
autárquica em regime especial, vinculada ao Ministério da Fazenda, e é legalmente responsável pela 
supervisão, disciplina e fiscalização do mercado brasileiro de valores mobiliários. 
4. A Lei 6.385/1976 conferiu à CVM competência para o exercício do poder de polícia, no âmbito do 
mercado de valores mobiliários, inclusive no que tange às atividades de auditoria e aos serviços de 
consultoria. Essa competência específica da CVM de regular os serviços de auditoria e consultoria, que se 
extrai da própria Lei 6.385/1976, inclui necessariamente a de definir, por meio de critérios técnicos e de 
segurança, regras que preservem a objetividade e a independência da atuação do auditor no âmbito do 
mercado de valores mobiliários. 
5. As regras da IN 308/1999, antes de configurar qualquer afronta ao direito de livre exercício da profissão 
ou da livre iniciativa, revelam medidas preventivas, adotadas no estrito cumprimento da função normativa 
e reguladora da CVM, em benefício da sociedade, tudo em observância aos princípios que regem a ordem 
econômica previstos no art. 170 da CF. 
6. Recurso Extraordinário a que se dá provimento, para denegar a segurança pleiteada. Tema 969, fixada 
a seguinte tese de repercussão geral: 
“Os artigos 23 e 27 da Instrução 308/1999, da Comissão de Valores Mobiliários, ao estabelecerem 
restrições razoáveis, proporcionais e adequadas ao exercício da atividade de auditoria independente, 
prestada às companhias sujeitas à sua fiscalização, são constitucionais, à luz dos arts. 5º, incs. II e XIII, 84, 
incs. II e VI, 87, parágrafo único e inc. II, 88, 170 e 174 da Constituição Federal de 1988 ". 
STF. Plenário. RE 902261, Rel. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão: Alexandre de Moraes, julgado em 
22/09/2020 (Repercussão Geral – Tema 969). 
 
 
DIREITOS SOCIAIS 
Não é possível atrelar-se ao salário mínimo o valor alusivo 
a benefício social e os respectivos critérios de admissão 
 
Lei estadual criou um benefício assistencial e previu que seu valor seria o do salário mínimo 
vigente. Tal previsão, em princípio, viola o art. 7º, IV, da CF/88, que proíbe que o salário 
mínimo seja utilizado como referência (parâmetro) para outras finalidades que não sejam a 
remuneração do trabalho. No entanto, o STF afirmou que seria possível conferir interpretação 
conforme a Constituição e dizer que o dispositivo previu que o valor do benefício seria igual 
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Informativo 998-STF (12/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 5 
ao salário mínimo vigente na época em que a lei foi editada (R$ 545). Após isso, mesmo o 
salário mínimo aumentando nos anos seguintes, o valor do benefício não pode acompanhar 
automaticamente os reajustes realizados sobre o salário mínimo, considerando que ele não 
pode servir como indexador. Em suma, o STF determinou que a referência ao salário mínimo 
contida na lei estadual seja considerada como um valor certo que vigorava na data da edição 
da lei, passando a ser corrigido nos anos seguintes por meio de índice econômico diverso. Com 
isso, o benefício continua existindo e será necessário ao governo do Amapá apenas reajustar 
esse valor por meio de índices econômicos. 
STF. Plenário. ADI 4726/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/11/2020 (Info 998). 
 
Benefício assistencial fixado em salário mínimo 
Em 2011, o Estado do Amapá editou uma Lei prevendo o pagamento de um benefício assistencial no valor 
de metade do salário mínimo às famílias que se encontrassem em situação de pobreza e extrema pobreza, 
consoante critérios de enquadramento nela definidos. 
Foi proposta ADI contra essa previsão afirmando que a lei violou a parte final do art. 7º, IV, da CF/88, já 
que criou uma vinculação entre o valor do benefício e o salário-mínimo. Veja o que diz o dispositivo 
constitucional: 
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de 
sua condição social: 
(...) 
IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades 
vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, 
higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder 
aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim; 
 
Proibição de que o salário mínimo seja utilizado como indexador 
A CF/88 realmente proíbe que o salário mínimo seja utilizado como referência (parâmetro)para outras 
finalidades que não sejam a remuneração do trabalho. Em outras palavras, é proibido que o preço de bens, 
serviços ou benefícios sejam fixados com base no salário mínimo (ex: 1 salário mínimo, 2 salários mínimos, 
1/2 do salário mínimo, 1/3 do salário mínimo etc.). 
Essa proibição tem como objetivo evitar que o salário mínimo se torne um “indexador econômico” (um 
índice de reajuste). 
Se a Constituição permitisse que o salário mínimo pudesse servir como indexador econômico, o valor e o 
preço de vários benefícios, produtos e serviços seriam fixados em salário mínimo. Ex: se não houvesse a 
vedação, o locador poderia estabelecer no contrato que o valor do aluguel seria de 2 salários mínimos, de 
forma que todas as vezes que ele aumentasse, o valor pago também seria majorado. Ex2: o colégio poderia 
fixar o valor da mensalidade em metade do salário mínimo; Ex3: a academia poderia estabelecer o valor 
da mensalidade em 1/3 do salário mínimo etc. 
Desse modo, se isso fosse permitido, haveria uma pressão muito grande no momento de aumentar o 
salário mínimo no país, considerando que ele iria influenciar direta e imediatamente no preço de inúmeros 
bens. Além disso, todas as vezes que o salário mínimo subisse, o preço desses bens e serviços iriam 
também aumentar automaticamente, gerando inflação e fazendo com que não houvesse ganho real para 
o trabalhador, já que todas as outras coisas também ficariam mais caras. 
 
O que o STF decidiu em relação à Lei do AP? 
A Lei do Amapá, ao dizer que o benefício assistencial teria o valor de 1/2 do salário mínimo, em tese, viola 
o art. 7º, IV, da CF/88. 
 
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Informativo 998-STF (12/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 6 
Não é possível atrelar-se ao salário mínimo o valor alusivo a benefício social e os respectivos critérios 
de admissão. 
STF. Plenário. ADI 4726/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/11/2020 (Info 998). 
 
No entanto, o STF, a fim de evitar que fosse declarada a inconstitucionalidade do dispositivo, conseguiu 
“salvá-lo”, conferindo à lei uma interpretação conforme a Constituição. 
Em outras palavras, o STF afirmou que, para que a lei do AP seja compatível com o art. 7º, IV, da CF/88 
devemos interpretá-la da seguinte forma: na época em que foi instituído o benefício (em 2011), o valor 
do auxílio era igual a metade do salário mínimo (metade de R$ 545). No entanto, mesmo o salário mínimo 
aumentando nos anos seguintes, o valor do benefício não pode acompanhar automaticamente os 
reajustes realizados sobre o salário mínimo, considerando que ele não pode servir como indexador. 
Em suma, o STF determinou que a referência ao salário mínimo contida na lei estadual seja considerada 
como um valor certo que vigorava na data da edição da lei, passando a ser corrigido nos anos seguintes 
por meio de índice econômico diverso. 
Com isso, o benefício continua existindo e será necessário ao governo do Amapá apenas reajustar esse 
valor por meio de índices econômicos. 
 
Interpretação conforme a Constituição 
O objetivo da interpretação conforme a Constituição é o de “preservar a vontade legislativa quando for 
possível extrair do dispositivo impugnado interpretação compatível com o Diploma Maior, ainda que não 
seja a mais óbvia. Preservam-se, por meio da técnica, o princípio da separação de poderes – conducente 
à valorização da manifestação do legislador democrático – e a efetividade da Constituição da República.” 
(Min. Marco Aurélio) 
 
Alguns de vocês podem estar se perguntando: mas eu conheço um benefício assistencial, chamado de 
LOAS (amparo assistencial), que é pago aos deficientes e idosos miseráveis e que é no valor de um salário 
mínimo. Este benefício é previsto no art. 20 da Lei n. 8.742/93. Essa Lei viola o art. 7º, IV, da CF/88? 
NÃO. Isso porque é a própria CF/88, em seu art. 203, V, que determina que esse benefício será pago no 
valor de um salário mínimo. Veja: 
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de 
contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: 
(...) 
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao 
idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por 
sua família, conforme dispuser a lei. 
 
Assim, não há problema se a própria CF/88 estabelecer vinculações a salário mínimo. Quem não pode 
fazer isso é a lei sem respaldo constitucional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 
É possível que uma emenda constitucional seja julgada formalmente inconstitucional se ficar 
demonstrado que ela foi aprovada com votos “comprados” dos parlamentares e que esse 
número foi suficiente para comprometer o resultado da votação 
 
Em tese, é possível o reconhecimento de inconstitucionalidade formal no processo 
constituinte reformador quando eivada de vício a manifestação de vontade do parlamentar no 
curso do devido processo constituinte derivado, pela prática de ilícitos que infirmam a 
moralidade, a probidade administrativa e fragilizam a democracia representativa. 
Caso concreto: ADEPOL ajuizou ADI pedindo a declaração de inconstitucionalidade formal da 
EC 41/2003 e da EC 47/2005 sob o argumento de que elas foram aprovadas com votos 
“comprados” de Deputados Federais condenados no esquema do “Mensalão” (AP 470). 
O STF afirmou que, sob o aspecto formal, as emendas constitucionais devem respeitar o devido 
processo legislativo, que inclui, entre outros requisitos, a observância dos princípios da 
moralidade e da probidade. Assim, é possível o reconhecimento de inconstitucionalidade 
formal no processo de reforma constituinte quando houver vício de manifestação de vontade 
do parlamentar, pela prática de ilícitos. Porém, para tanto, é necessária a demonstração 
inequívoca de que, sem os votos viciados pela ilicitude, o resultado teria sido outro. 
No caso, apenas sete Deputados foram condenados pelo Supremo na AP 470, por ficar 
comprovado que eles participaram do esquema de compra e venda de votos e apoio político 
conhecido como Mensalão. Portanto, o número comprovado de “votos comprados” não é 
suficiente para comprometer as votações das ECs 41/2003 e 47/2005. Ainda que retirados os 
votos viciados, permanece respeitado o rígido quórum estabelecido na Constituição Federal 
para aprovação de emendas constitucionais, que é 3/5 em cada casa do Congresso Nacional. 
STF. Plenário. ADI 4887/DF, ADI 4888/DF e ADI 4889/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 
10/11/2020 (Info 998). 
 
“Mensalão” 
“Mensalão” foi um escândalo político segundo o qual, durante o primeiro mandato do Presidente Lula, o 
Partido dos Trabalhadores (PT) teria pago a vários Deputados Federais a quantia mensal de R$ 30 mil para 
que votassem os projetos da Câmara dos Deputados em favor do Governo Federal. 
Em outras palavras, teria havido “compra de votos” ou “compra de apoio parlamentar”. 
O esquema teria começado em 2002 e sido descoberto em 2005. 
O Procurador-Geral da República ofereceu denúncia (AP 470) contra os envolvidos e diversas pessoas 
foram condenadas. 
Em suma, durante os anos de 2002 e 2005 alguns Deputados Federais foram “subornados” para votarem 
medidas provisórias, projetos de lei e propostas de emenda constitucional. 
 
Diante dessa constatação, indaga-se: eventual lei ou emenda constitucional aprovada nesse período e 
que teve, para a sua aprovação, o cômputo de votos “comprados”, estaria maculada por vício formal a 
ensejar a sua inconstitucionalidade? 
Na doutrina, o primeiro a tratar sobre o assunto foi Pedro Lenza. Escreveu o autor:“6.3.4. Vício de decoro parlamentar 
Como se sabe e foi publicado em jornais, revistas etc., muito se falou em um esquema de compra 
de votos, denominado “mensalão”, para votar de acordo com o governo ou em certo sentido. 
(...) 
O grande questionamento que se faz, contudo, é se, uma vez comprovada a existência de compra 
de votos, haveria mácula no processo legislativo de formação das emendas constitucionais a 
ensejar o reconhecimento da sua inconstitucionalidade. 
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Informativo 998-STF (12/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
Entendemos que sim, e, no caso, trata-se de vício de decoro parlamentar, já que, nos termos do 
art. 55, § 1.º, “é incompatível com o decoro parlamentar, além dos casos definidos no regimento 
interno, o abuso das prerrogativas asseguradas a membro do Congresso Nacional ou a percepção 
de vantagens indevidas”. 
Dito isso, cabe lembrar que, no julgamento da AP 470 (conhecida como “mensalão”), ficou 
demonstrado o esquema de corrupção para compra de apoio político. (...)” (LENZA, Pedro. Direito 
Constitucional Esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2020, p. 195-196). 
 
ADI 
A Associação dos Delegados de Polícia do Brasil – ADEPOL, invocando a argumentação acima exposta, 
ajuizou ADI no STF pedindo a declaração de inconstitucionalidade formal de dispositivos da EC 41/2003 e 
da EC 47/2005. 
A autora alegou que as normas impugnadas estão maculadas pelo: 
“vício insanável de violação de decoro parlamentar (CF, art. 55, § 1º) (…) [porque] a PEC 40/03 que 
foi promulgada sob o n. 41/03 (Reforma da Previdência) somente foi aprovada em razão de um 
conluio criminoso praticado por membros do Poder Executivo e do Poder Legislativo, conforme ficou 
demonstrado de forma clara na Ação Penal n. 470. 
(...) 
A inconstitucionalidade formal estaria evidenciada “em razão da afronta ao princípio da moralidade 
(CF, art. 37, caput, tendo em conta que o processo legislativo foi, inequivocadamente, imoral e 
fraudado, como já ficou demonstrado nos presentes autos (venda de votos). Maculada, destarte, ‘a 
essência do voto e o conceito de representatividade popular (CF, art. 1º, parágrafo único).” 
 
Para o STF, em tese, é possível reconhecer a inconstitucionalidade com base nesse argumento? 
Na teoria, sim. 
Em tese, é possível o reconhecimento de inconstitucionalidade formal no processo constituinte 
reformador quando eivada de vício a manifestação de vontade do parlamentar no curso do devido 
processo constituinte derivado, pela prática de ilícitos que infirmam a moralidade, a probidade 
administrativa e fragilizam a democracia representativa. 
STF. Plenário. ADI 4887/DF, ADI 4888/DF e ADI 4889/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 10/11/2020 
(Info 998). 
 
Para que se tenha um “devido processo constituinte reformador”, é necessário que se respeite não apenas 
as exigências expressas no art. 60 da Constituição Federal, sendo indispensável também que se observem 
os princípios que legitimam a atuação das casas congressuais brasileiras. 
Inclui-se, no devido processo legislativo, a observância dos princípios da moralidade e da probidade, 
voltados a “impedir que os dispositivos constitucionais sejam objeto de alteração através do exercício de 
um poder constituinte derivado distanciado das fontes de legitimidade situadas nos fóruns de uma esfera 
pública que não se reduz ao Estado”. 
Nesse sentido, o vício de corrupção da vontade do parlamentar e de seu compromisso com o interesse 
público subverte o regime democrático e deliberativo adotado pela Constituição e ofende o devido 
processo legislativo por contrariar o princípio da representação democrática que deve, obrigatoriamente, 
nortear a produção de normas jurídicas. 
Demonstrada a interferência ilícita na fase de votação pela prevalência de interesses individuais do 
parlamentar, admite-se o reconhecimento de inconstitucionalidade formal de emenda constitucional ou 
norma infraconstitucional. 
 
Como se adota a presunção de legitimidade, deve-se comprovar o vício e sua influência na votação 
Entretanto, de acordo com o princípio da presunção de inocência e da legitimidade dos atos legislativos, 
há de se comprovar que a norma tida por inconstitucional não teria sido aprovada, se não houvesse o 
 Informativo 
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Informativo 998-STF (12/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
grave vício a corromper o regime democrático pela “compra de votos”. Sem a demonstração inequívoca 
de que sem os votos viciados pela ilicitude o resultado do processo constituinte reformador ou legislativo 
teria sido outro, com a não aprovação da proposta de emenda constitucional ou com a rejeição do projeto 
de lei, não se há declarar a inconstitucionalidade de emenda constitucional ou de lei promulgada. 
 
Voltado ao caso concreto 
No caso concreto, o STF entendeu que não ficou demonstrado que as Emendas Constitucionais 41/2003 e 
47/2005 só foram aprovadas por conta do “esquema de compra de votos”. 
O número alegado de votos comprados não foi suficiente para comprometer o resultado das votações 
ocorridas na aprovação das emendas constitucionais, razão pela qual não fazia sentido declarar a 
inconstitucionalidade formal dos referidos atos normativos. 
Sete Deputados foram condenados pelo Supremo na AP 470, por ficar comprovado que eles participaram 
do esquema de compra e venda de votos e apoio político conhecido como Mensalão. Portanto, o número 
comprovado de “votos comprados” não é suficiente para comprometer as votações das ECs 41/2003 e 
47/2005. Ainda que retirados os votos viciados, permanece respeitado o rígido quórum estabelecido na 
Constituição para aprovação de emendas constitucionais, que é 3/5 em cada casa do Congresso Nacional. 
 
 
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS 
É inconstitucional norma de iniciativa parlamentar que 
preveja a criação de órgão público e organização administrativa 
 
É inconstitucional, na acepção formal, norma de iniciativa parlamentar que prevê a criação de 
órgão público e organização administrativa, levando em conta iniciativa privativa do Chefe do 
Executivo – arts. 25 e 61, § 1º, II, alíneas “b” e “e”, da CF/88. 
STF. Plenário. ADI 4726/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/11/2020 (Info 998). 
 
A situação concreta foi a seguinte: 
Foi aprovada pela Assembleia Legislativa do Amapá uma lei, de iniciativa parlamentar, que instituiu o 
Programa Renda para Viver Melhor objetivando reduzir desigualdades sociais e pobreza por meio da 
transferência de renda mínima a cidadãos em situação de vulnerabilidade. 
Ocorre que essa lei instituiu um novo órgão público no âmbito do Poder Executivo estadual e, além disso, 
tratou sobre as atribuições de Secretarias. 
 
ADI 
O Governador do Estado ajuizou ADI alegando que essa lei possuía um vício de iniciativa considerando que 
não poderia ter sido proposta por um Deputado já que trata sobre estruturação e atribuições de órgãos 
da administração pública, matéria que é de iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo, nos termos 
do art. 61, § 1º, II, “e”, da CF/88. 
 
Argumento contrário 
Em defesa do ato normativo, a Assembleia Legislativa alegou que a lei que disponha sobre a estrutura e 
atribuições de órgãos da administração pública não é mais de iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo. 
Para a ALE isso mudou com a EC 32/2001, que alterou o art. 61, § 1º, II, “e”, da CF/88. Confira a mudança: 
Antes da EC 32/2001 Depois da EC 32/2001 
Art. 61. (...) 
§ 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da 
República as leis que: 
Art. 61. (...) 
§ 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da 
República as leis que: 
 Informativocomentado 
 
 
 
Informativo 998-STF (12/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
(...) 
II - disponham sobre: 
e) criação, estruturação e atribuições dos 
Ministérios e órgãos da administração pública. 
(...) 
II - disponham sobre: 
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da 
administração pública, observado o disposto no 
art. 84, VI; 
 
Perceba, portanto, que a EC 32/2001 retirou da alínea “e”, a expressão “estruturação e atribuições”. 
 
Isso significa que a tese da ALE está correta? A EC 32/2001 acabou com a exigência de que o projeto de 
lei que trate sobre estruturação e atribuições dos órgãos seja de iniciativa do chefe do Poder Executivo? 
NÃO. O objetivo da EC 32/2001, ao retirar a expressão “estruturação e atribuições” não foi o de acabar 
com a iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo para tratar sobre esses assuntos. Ao contrário. 
A EC 32/2001 alterou também o art. 84, VI, da CF/88 passando a dizer que o chefe do Poder Executivo 
pode dispor sobre estruturação e atribuições dos órgãos públicos por meio de DECRETO, desde que isso 
não ocasione aumento de despesa. Veja a redação do art. 84, VI, da CF/88 dada pela EC 32/2001: 
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: 
(...) 
VI - dispor, mediante decreto, sobre: 
a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de 
despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos; 
 
Desse modo, a intenção do constituinte reformador ao retirar a expressão “estruturação e atribuições” do art. 
61, § 1º, II, “e” foi a de permitir que o chefe do Poder Executivo tratasse sobre esse tema sem a exigência de 
lei, tanto que ele acrescentou, na alínea “e” a seguinte frase: “observado o disposto no art. 84, VI”. 
 
Mas a lei pode continuar tratando sobre “estruturação e atribuições” dos órgãos públicos? 
SIM. Não há nenhum problema. Mesmo com a previsão do art. 84, VI, da CF/88, a lei pode continuar 
versando sobre esses assuntos. O que a EC 32/2001 fez foi dar a faculdade (possibilidade) de o chefe do 
Poder Executivo editar um decreto, facilitando a tramitação do tema. 
Ocorre que, se a lei for tratar sobre “estruturação e atribuições” dos órgãos públicos, essa lei deve ser de 
iniciativa do Poder Executivo. 
Em suma, para o STF, a correta interpretação que deve ser dada ao art. 61, § 1º, II, “e” c/c o art. 84, VI, da 
CF/88 é a de que a iniciativa para leis que disponham sobre “estruturação e atribuições” dos órgãos 
públicos continua sendo do Poder Executivo, não tendo a EC 32/2001 tido a intenção de retirar essa 
iniciativa privativa. Ao contrário, tais matérias tanto são de interesse precípuo do Executivo que podem 
ser tratadas por meio de Decreto. 
Logo, a referida Lei do Amapá é inconstitucional por violar essa iniciativa privativa. 
 
Em suma: 
É inconstitucional, na acepção formal, norma de iniciativa parlamentar que prevê a criação de órgão 
público e organização administrativa, levando em conta iniciativa privativa do Chefe do Executivo – arts. 
25 e 61, § 1º, II, alíneas “b” e “e”, da CF/88. 
STF. Plenário. ADI 4726/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/11/2020 (Info 998). 
 
 (Analista TRF1 2017 CEBRASPE) Lei estadual, de iniciativa parlamentar, que crie atribuições para 
determinada secretaria do estado, deverá ser declarada inconstitucional por vício de iniciativa. (certo) 
 
 
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DIREITO ADMINISTRATIVO 
 
SERVIDORES PÚBLICOS 
Lei estadual não pode prever paridade e integralidade para os policiais civis 
nem conceder a eles adicional de final de carreira para que recebam 
aposentadoria em classe superior ao que estavam na ativa 
 
É inconstitucional norma que preveja a concessão de aposentadoria com paridade e 
integralidade de proventos a policiais civis. 
É inconstitucional norma que preveja a concessão de “adicional de final de carreira” a policiais 
civis. 
STF. Plenário. ADI 5039/RO, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 10/11/2020 (Info 998). 
 
A situação concreta foi a seguinte: 
Em Rondônia, foi editada a Lei Complementar estadual 672/2012 que estabeleceu regras próprias para a 
concessão e manutenção dos benefícios previdenciários concedidos aos policiais civis do Estado. 
 
Paridade 
Um dos pontos polêmicos dessa lei foi que ela previu a paridade de vencimentos entre os policiais civis 
ativos e inativos. 
Princípio da paridade era uma garantia que os servidores públicos aposentados possuíam segundo a qual 
todas as vezes que havia um aumento na remuneração percebida pelos servidores da ativa, esse 
incremento também deveria ser concedido aos aposentados. 
Ex.: João é servidor aposentado do Ministério da Fazenda, tendo se aposentado com os proventos do 
cargo de técnico A1. Quando fosse concedido algum reajuste na remuneração do cargo técnico A1, esse 
aumento também deveria ser estendido aos proventos de João. 
No dicionário paridade significa a qualidade de ser igual. Assim, o princípio da paridade enunciava que os 
proventos deveriam ser iguais à remuneração da ativa. 
Os pensionistas, ou seja, os dependentes dos servidores públicos falecidos beneficiados com pensão por 
morte também tinham direito à paridade. Ex.: João, quando faleceu, era servidor aposentado do 
Ministério da Fazenda ocupante do cargo de técnico A1. Sua esposa passou a receber pensão por morte 
em valor igual à remuneração do cargo de técnico A1. Se fosse concedido algum reajuste para o cargo de 
técnico A1, esse aumento também deveria ser estendido à pensão por morte. 
A regra da paridade estava prevista no art. 40, § 8º, da CF/88, incluído pela EC 20/1998. 
 
O legislador estadual poderia ter conferido essa paridade? 
NÃO. 
O princípio da paridade “foi revogado, restando somente para os servidores com direito adquirido, que já 
preenchiam os requisitos para a aposentadoria antes da edição da EC nº 41 (art. 3º, EC nº 41), ficando 
também resguardado o direito para aqueles que estão em gozo do benefício (art. 7º, EC nº 41) e os que 
se enquadrarem nas regras de transição do art. 6º da EC nº 41 e do art. 3º da EC nº 47.” (MARINELA, 
Fernanda. Direito Administrativo. 7ª ed., Niterói: Impetus, 2013, p. 774). 
Desse modo, se você ingressar no serviço público hoje, não terá a garantia da paridade quando se 
aposentar, já que ela foi extinta com a EC nº 41/2003. Da mesma forma, caso seja servidor público e morra, 
seus dependentes poderão receber pensão por morte, mas não terão direito à paridade. 
No lugar da paridade, existe hoje o chamado “princípio da preservação do valor real”, previsto no art. 40, 
§ 8º, da CF/88, segundo o qual os proventos do aposentado devem ser constantemente reajustados para 
que seja sempre garantido o seu poder de compra. 
 Informativo 
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Informativo 998-STF (12/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12 
Art. 40 (...) 
§ 8º É assegurado o reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter permanente, o 
valor real, conforme critérios estabelecidos em lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 
41/2003) 
 
Foi isso que decidiu o STF: 
É inconstitucional norma que preveja a concessão de aposentadoria com paridade e integralidade de 
proventos a policiais civis. 
STF. Plenário. ADI 5039/RO, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 10/11/2020 (Info 998). 
 
A Constituição Federal garantia, até o advento da EC 41/2003, a paridade entre servidores ativos e 
inativos, o que significava exatamente a revisão dos proventos de aposentadoria, na mesma proporção e 
na mesma data, sempre que se modificasse a remuneração dos servidores em atividade, sendo também 
estendidos aos aposentados e aos pensionistas quaisquer benefícios

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