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RAFAELLA BONFIM TXXIX Semiologia do Aparelho Respiratorio INTRODUÇÃO Para que a análise do aparelho respiratório seja feita de maneira correta, é necessário descrever de forma clara a localização das alterações presentes no tórax do paciente Isso é possível através da combinação dos eixos horizontais e verticais do tórax Linhas torácicas verticais o Linha medioesternal: Localizada na porção mediana do esterno, divide o tórax em hemitórax direito e esquerdo o Linha hemiclavicular ou mamilar Utiliza como parâmetro o ponto médio da clavícula o Linhas axilares Se divide em anterior (prega axilar anterior), posterior (prega axilar posterior) e média (equidistante às linhas anterior e posterior) o Linha vertebral Localizada na face posterior do tórax, passa pelas apófises espinhosas vertebrais o Linha paravertebral o Localizada tangente à borda lateral das vertebras PROJEÇÕES DOS PULMÕES NA PAREDE TORÁCICA EXAME FÍSICO Antes de iniciar o exame físico do tórax, o médico já deve ter feito o exame físico geral, incluindo cabeça, tronco e membros, a fim de identificar eventuais alterações que podem estar relacionadas com doenças pulmonares Existem doenças do aparelho respiratório que ocorrem geralmente em regiões específicas, portanto, a localização do achado no exame físico é muito importante RAFAELLA BONFIM TXXIX O exame físico do aparelho respiratório é dividido em 4 tempos: inspeção (estática e dinâmica), palpação, percussão e ausculta. Para a melhor visualização da parede torácica, é indicado: ✓ Tórax descoberto ✓ Iluminação adequada e ambiente silencioso ✓ Inspeção das partes anterior, laterais e posterior ✓ Os músculos estarem relaxados e braços suspensos na lateral do tórax Inspeção o Inspeção estática A avaliação do aparelho respiratório inicia-se pela inspeção estática. O examinador avalia a descrição da pele e dos músculos, a presença de circulação colateral, retrações, abaulamentos e lesões Observa o tipo morfológico e a presença de anormalidades estruturais, congênitas ou adquiridas, sendo localizadas ou difusas, simétricas ou não o Inspeção dinâmica Na inspeção dinâmica, é observado e classificado os movimentos respiratórios do paciente, tendo como parâmetro: a frequência, o ritmo, a presença de apneia e as alterações nos espaços intercostais FR normal (eupneia): entre 16 e 20 RPM • Bradipneia: FR diminuída • Taquipneia: FR aumentada • Dispneia: sensação de desconforto respiratório • Apneia: parada dos movimentos respiratórios OBSERVAÇÕES CLÍNICAS Tórax “peito de pombo” (cariniforme): nota-se uma saliência em forma de peito de pombo, geralmente resultado de raquitismo infantil Pectum excavatum: quando intenso pode levar a um transtorno pulmonar restritivo Tórax em tonel ou enfisematoso: quando ocorre horizontalização das costelas e aumento do diâmetro anteroposterior – comum em DPOC e idosos Tórax cariniforme Tórax excavatum RITMOS RESPIRATÓRIOS Ritmo normal: eupneia, ciclos constantes e expiração mais duradoura que a inspiração Ritmo de Kussmaul: aumento tanto do tempo de inspiração quanto de expiração, intercaladas com curtos períodos de apneia Acidose metabólica avançada (cetoacidose diabética) Ritmo de Cheyne-Stokes: fase de apneia seguida de incursões respiratórias que aumentam gradativamente até um máximo, para depois decrescer até uma nova pausa Alterações neurológicas – AVC, hipertensão intracraniana, meningite e traumatismo cranioencefálico e insuficiência cardíaca Ritmo de Biot (respiração atáxica): respiração com irregularidade imprevisível (movimentos superficiais ou profundos) e frequência, alternando com períodos de apneia Traumatismos cranioencefálicos, estados de coma, hemorragias ventriculares, meningite RAFAELLA BONFIM TXXIX Palpação A palpação do tórax tem como finalidade avaliar: ✓ As paredes torácicas ✓ Sensibilidade ✓ Expansibilidade ✓ Elasticidade ✓ Vibrações ou frêmitos • Exame das paredes A palpação da parede deve examinar anormalidades da pele, do tecido subcutâneo e da musculatura Verifica-se também a presença de linfonodos palpáveis na região periclavicular e na axilar, além de realizar a palpação das mamas nas mulheres Por meio desse exame, é possível identificar a presença de enfisema subcutâneo, mais bem observado nas fossas supraclaviculares e nos espaços intercostais • Sensibilidade Um tórax normal não apresenta dor a palpação Se o paciente referir pontos dolorosos, é um sinal de alerta que deve ser considerado Processos inflamatórios pleuropulmonares manifestam-se clinicamente por zonas de maior sensibilidade na área torácica correspondente • Elasticidade Para a avaliação da elasticidade, o examinador deve apoiar uma mão na parede anterior e outra na parede posterior do tórax do paciente e realizar uma leve compressão em diversos pontos A diminuição da elasticidade torácica pode ser encontrada no enfisema, derrames, tumores etc. • Expansibilidade A expansibilidade permite avaliar o volume de ar mobilizado durante a respiração em cada segmento pulmonar É feita no ápice da face posterior e na base das faces posterior e anterior através da Manobra de Ruault Manobra de Ruault Com o paciente sentado ou em pé e o examinador atrás dele, é colocado uma mão em cada hemitórax do paciente de maneira simétrica, formando um “W” sob a linha vertebral na apófise espinhosa de C7. Pede-se para o paciente inspirar profundamente e verifica-se, comparando a elevação das mãos, se existe simetria É observado em 4 pontos: ✓ Na região anterior avaliando lobos médio e inferior do pulmão esquerdo (língula) ✓ Na região posterior superior e média para avaliar os lobos superiores ✓ Na região posterior inferior para avaliar os lobos inferiores (bases pulmonares) São considerados anormais os movimentos diminuídos da expansibilidade, sendo bilaterais ou unilaterais, como no enfisema pulmonar, atelectasia, derrame pleural/tumores ou fisiológicos RAFAELLA BONFIM TXXIX • Frêmitos O frêmito é a sensação vibratória percebida pela mão do examinador quando um paciente emite um som O examinador deve colocar a mão espalmada sobre a superfície do tórax e pedir para ele falar “trinta e três” em todo o tórax sob a barra grega Percussão A percussão consiste na aplicação de uma ação mecânica sobre os tecidos, levando a sua vibração e obtendo sons e ruídos diversos. Cada tecido possui uma densidade diferente e, assim, reproduz um som diferente à percussão Esse método permite avaliar o estado físico dos órgãos, a presença de processos patológicos e seus limites • Pulmão o Normal: som claro pulmonar o Anormalidades: sons timpânicos ou maciços o Técnica Existem várias técnicas para realizar a percussão do tórax, mas a mais utilizada é a percussão digito digital Com a mão dominante o examinador percute e a outra é apoiada na parede torácica. Durante a percussão, o examinador articula apenas o punho, mantendo o restante do membro superior imóvel o Tipos de sons obtidos na percussão do tórax/abdome Som claro pulmonar: obtido ao percutirem campos pulmonares normais Som timpânico: relacionado com a presença de uma quantidade anormal de ar na cavidade torácica em relação ao parênquima, como por exemplo no pneumotórax, enfisema pulmonar, crise de asma agudo Som submaciço: obtido ao percutir um parênquima pulmonar com densidade aumentada e diminuição da quantidade de ar armazenada, como por exemplo em processos inflamatórios, pneumonias, ou infarto pulmonares Som maciço: característicoda presença de líquido entre a parede torácica e o parênquima pulmonar, sendo encontrado nos derrames pleurais OBSERVAÇÕES CLÍNICAS O som da voz produzido pelas cordas vocais atravessa meios de densidade diferentes até atingir a superfície torácica. Logo, toda vez que um processo patológico tornar o meio mais heterogêneo, como em derrames pleurais, pneumotórax e enfisema, a transmissão será dificultada, portanto o frêmito estará diminuído Quando o meio se apresentar mais homogêneo, como em condensações e cavidades, o frêmito toracovocal será aumentado RAFAELLA BONFIM TXXIX o Achados na percussão do tórax normal Principais sons audíveis à percussão do tórax com sua representação orgânica. A: claro pulmonar (pulmão); B: maciço (coração); C: maciço (fígado); D: timpânico (espaço de Traube com fundo gástrico). Ao percutir o tórax normal, é possível delimitar os órgãos na cavidade torácica ✓ Face anterior região do primeiro e segundo espaço intercostal: som claro pulmonar mais nítido ✓ Face anterior do hemitórax direito: o som é submaciço a partir do 5º espaço intercostal e torna-se maciço no nível do sexto espaço intercostal (presença do parênquima hepático) ✓ Face anterior esquerda: no limite inferior esquerdo, encontra-se o espaço de Traube, onde o som é timpânico devido ao ar que se encontra no fundo gástrico Ausência de timpanismo e presença de som maciço é indicativo de esplenomegalia Espaço de Traube Ausculta É a parte mais importante no exame físico dos pulmões tendo em vista que analisa o funcionamento pulmonar O ambiente deve estar silencioso e o paciente com o tórax despido, respirando pausada e profundamente, com a boca entreaberta • Sons normais o Som traqueal Audível sobre a traqueia ou sobre a laringe; é um som tubular produzido pela passagem de ar em estruturas de grande calibre e pela alteração do fluxo na glote o Som brônquico É um som traqueal presente na zona de projeção dos brônquios de maior calibre; audível sobre as regiões próximas dos brônquios principais (1º e 2º espaço intercostal e na região interescapular) o Murmúrio vesicular/ Som vesicular Som suave audível sobre a maior parte na periferia dos pulmões, exceto onde se encontra o som brônquico Não tem intensidade homogênea em todo o tórax Produzido pelo fluxo turbulento do ar nos brônquios lobares e segmentares, e não nos alvéolos Quando encontrado na periferia, substituindo o murmúrio vesicular, indica aumento da densidade do parênquima pulmonar – condensações pulmonares, atelectasia Quando ausente, pode ser indicativo de derrame pleural Quando diminuído, pode ser indicativo de enfisema difuso RAFAELLA BONFIM TXXIX • Sons anormais/ Adventícios São sons que não são encontrados na ausculta respiratória normal, ou seja, não são achados em nenhum ponto do parênquima pulmonar normal Podem ser originados nas vias respiratórias, na pleura, ou em ambas o Descontínuos: São ruídos audíveis na inspiração ou na expiração, se superpondo aos sons respiratórios normais ➢ Estertores finos Ocorrem no meio/final da inspiração, são sons agudos de curta duração Não se modificam com a tosse Produzidos pela abertura sequencial de vias respiratórias anteriormente fechadas devido à pressão exercida pela presença de líquido ou exsudato no parênquima pulmonar (pneumonia) ou por alteração no tecido de suporte das paredes brônquicas (doenças intersticiais pulmonares) ➢ Estertores grossos Ocorrem no início da inspiração e durante toda a expiração, são sons com menor frequência e maior duração – alterações em vias de grosso calibre Sofrem alteração com a tosse e podem ser ouvidos em todas as regiões do tórax Possuem origem na abertura e fechamento de vias respiratórias contendo secreção viscosa e espessa, bem como pelo afrouxamento da estrutura de suporte das paredes brônquicas Comum na bronquite crônica e nas bronquiectasias o Contínuos: São representados pelos roncos, sibilos e estridor ➢ Roncos Sons graves, portanto, de baixa frequência, gerados pela passagem de ar através de estruturas de grosso calibre com secreções acumuladas O ruído é produzido através do deslocamento das secreções, logo, pode ser modificado com a tosse Podem ocorrer tanto na inspiração quanto na expiração ➢ Sibilos Sons agudos, formados por ondas de alta frequência Causado pela passagem rápida do ar por uma via que está com o calibre muito reduzido, cujas paredes oscilam entre pechada e pouco aberta Geralmente comum em asma, bronquite, bronquiectasias e obstruções localizadas Aparecem tanto na inspiração quanto na expiração (predominante nessa última) ➢ Estridor Som produzido pela semiobstrução da laringe ou da traqueia, sendo causado por difteria, laringites agudas, câncer da laringe e estenose da traqueia o Atrito pleural Em condições normais, os folhetos visceral e parietal da pleura deslizam-se um sob o outro, durante os movimentos respiratórios, sem produzir nenhum ruido Porém, em certas doenças, pode ser produzido um som de duração maior e frequência baixa com vibração palpável Frequente em pleurites RAFAELLA BONFIM TXXIX ROTEIRO DO EXAME FÍSICO • Inspeção estática ✓ Há abaulamentos ou retração? ✓ Há circulação colateral? ✓ Há anormalidades no esterno? ✓ Qual o tipo morfológico do tórax? • Inspeção dinâmica ff ✓ Qual a frequência respiratória? ✓ Qual o ritmo respiratório? ✓ Faz uso de musculatura respiratória acessória? ✓ Há tiragem intercostal? • Palpação ✓ Avaliação da elasticidade ✓ Avaliação da expansibilidade (Manobra de Ruault) ✓ Avaliação dos frêmitos (toracovocal, brônquico, pleural) • Percussão f ✓ Análise dos sons (claro-pulmonar, timpânico, submaciço ou maciço) ✓ Na suspeita de derrame pleural, o sinal de Signorelli está presente? ✓ Espaço de Traube livre? • Ausculta ✓ Existem sons pulmonares normais (som traqueal, respiração brônquica e murmúrio vesicular) ? ✓ Existem ruídos adventícios (estertores finos/grossos, ronco e sibilo) ? ✓ Existe atrito pleural? Sopros? ✓ Há broncofonia? DESCRIÇÃO DE UM EXAME FÍSICO DO APARELHO RESPIRATÓRIO NORMAL ✓ Tórax atípico, sem retrações, abaulamentos ou cicatrizes ✓ Expansibilidade preservada, simétrica com frêmitos tóracovocais presentes P ✓ Percussão com som claro pulmonar bilateralmente ✓ Murmúrios vesiculares + bilateralmente sem ruídos adventícios
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