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Urologia Introdução ➤ Definida pela proliferação (hiperplasia) de células do epitélio e do estroma prostático, formando um tecido nodular adenomatoso. Isso gera um aumento de volume da glândula, associado a uma história clínica de sinais e sintomas obstrutivos/irritativos, mais comum em homens acima dos 45 anos. Anatomia ➤ A próstata normal de um homem adulto pesa cerca de 20g e está localizada inferiormente à bexiga; ➤ É um órgão constituído de tecido glandular e um componente de estroma fibromuscular, contendo músculo liso e tecido conjuntivo. ➤ Compartimento glandular: constituído de células epiteliais basais e secretoras, distribuídas em uma estrtura tubuloalveolar. Produz e armazena uma secreção constituído de ácido cítrico, frutose, fosforilcolina, espermina, aminoácidos livres, fosfatase ácida prostática e antígeno específico da próstata que compõe o ejaculado; ➤ Estroma anterior: Formado apenas por músculo liso e tecido conjuntivo, não contendo tecido glandular; ➤ Zona periférica: derivada do seio urogenital é o local mais frequente do aparecimento do câncer; ➤ Zona de transição: sítio exclusivo de origem da hipertrofia benigna; Etiopatogenia ➤ Determinantes mais importantes para o desenvolvimento da HPB: aumento da idade e a presença dos testículos; ➤ Atualmente, acredita-se que o desenvolvimento dessa hiperplasia resulte da ação de vários mecanismos interativos, em que se destacam a testosterona, a diidrotestosterona (DHT) e alguns fatores de crescimento teciduais; ➤ Nos casos de HPB, ocorre um aumento de ambos os componentes da próstata, com predomínio do crescimento do estroma fibromuscular. Tal componente, disperso dentro da glândula sob a forma de septos e presente na cápsula prostática, tem seu tônus regulado pelo sistema autônomo simpático (receptores alfa-1-adrenérgicos); ➤ Componente glandular: formado por células sensíveis às ações da testosterona e de fatores de crescimento. Isso torna a próstata dependente do eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal; ➤ Ao nível das células prostáticas, a testosterona é transformada em DHT por ação de uma enzima (5- alfa-redutase). Esses andrógenos se ligam a um receptor androgênico específico, e tal complexo migra para o núcleo e se fixa em segmentos específicos das moléculas de DNA, estimulando a transcrição de genes sensíveis aos andrógenos e promovendo, finalmente, a síntese proteica e a divisão celular. Nos pacientes com HPB, há um aumento de concentração tecidual de DHT, secretando fatores de crescimento. Hiperplasia Prostática Benigna Fisiopatologia ➤ Aparecimento de sintomas miccionais podem resultar de 3 fenômenos fisiopatológicos: → Componente estático (efeito mecânico): aumento volumétrico da próstata provoca diminuição do calibre e aumento da resistência uretral, com consequente dificuldade de esvaziamento vesical; → Componente dinâmico (efeito funcional): musculatura lisa presente na cápsula, na glândula prostática e no colo vesical, em que um aumento da atividade alfa-adrenérgica nas fibras musculares hipertrofiadas provoca a elevação da resistência uretral; → Componente Vesical: decorrente de alterações secundárias à obstrução produzida pela HPB na musculatura detrusora, traduzindo-se em hiperatividade, como resposta ao esforço contínuo na tentativa de esvaziamento, ou em hipoatividade, como resultante da falência muscular nas fases mais avançadas da doença; Manifestações Clínicas Sinais e sintomas clássicos do prostatismo ➤ Obstrutivos: decorrem da obstrução produzida pela massa tumoral e pelo tônus da musculatura lisa da uretra e do estroma prostático. Ocorrem durante a micção e incluem hesitação para iniciar a micção, diminuição da força do jato, diminuição do calibre do jato, sensação de esvaziamento incompleto da bexiga, jato intermitente, gotejamento pós-miccional e retenção urinária aguda. ➤ Sintomas irritativos: se devem a uma disfunção vesical. Polaciúria, nictúria, urgência miccional e incontinência de urgência. Estão relacionados a uma hiperatividade do detrusor em consequência da obstrução infravesical, embora possam ser relacionados com a presença de resíduo urinário. Escore Internacional de Sintomas Prostáticos (IPSS) ➤ Tabela de pontuação dos sintomas; ➤ Composto por 7 perguntas sobre os sintomas do paciente, com notas individuais de 0 a 5; ➤ Dependendo da intensidade do sintoma e de acordo com os resultados obtidos, os pacientes podem ser classificados em: → Sintomatologia leve: escore de 0 a 7; → Sintomatologia moderada: escore de 8 a 19; → Sintomatologia grave: escore de 20 a 35; • Os sintomas miccionais na HPB podem apresentar uma variação de intensidade em um mesmo paciente e está na dependência de múltiplos fatores, como estresse, frio, volume e uso de medicamentos (simpaticomiméticos, anticolinérgicos). Complicações ➤ Retenção Urinária Aguda: relacionada ao componente dinâmico da obstrução. Fatores que podem desencadear: uso de simpaticomiméticos ou anticolinérgicos, distensão aguda da bexiga (diurese forçada), prostatite aguda, cálculo vesical ou infarto prostático. ➤ Infecção Urinária e prostatite: resultam de colonização prostática ou da presença de urina residual e podem provocar quadros de bacteremia; ➤ Litíase vesical: pode surgir por estase local ou impossibilidade de eliminar cálculos migrados dos rins. Os pacientes podem apresentar bloqueio abrupto do jato urinário e, às vezes, hematúria macroscópica; ➤ Insuficiência renal aguda ou crônica: lesão renal causada pela própria obstrução prostática (nefropatia obstrutiva crônica), quadro de hidronefrose se instala de maneira insidiosa, frequentemente sem manifestações urinárias importantes. ➤ Hematúria: se deve à ruptura de vasos submucosos locais. Diagnóstico Deve ser feito por meio de história clínica, exame físico e exames laboratoriais; ➤ História Clínica: sintomas prostáticos característicos da HPB e o IPSS ➤ Exame Físico: exame físico geral + exame urológico (imprescindível). Deve-se observar micção, avaliando seu jato urinário, realizar a palpação do hipogástrio, para detectar massas ou globo vesical, e realizar toque retal. No exame digital da próstata devem ser avaliadas a contração e a sensibilidade do esfíncter anal, o reflexo bulbocavernoso, as características prostáticas (volume, consistência, regularidade, limites, sensibilidade e mobilidade), as vesículas seminais e a parede retal; A medida do resíduo urinário pode ser obtida com a passagem de uma sonda vesical após a micção ou por meio de ultrassonografia transabdominal. ➤ Exames laboratoriais obrigatórios: ✔ Exame de urina: investigar a presença de piúria (infecção) e hematúria; ✔ Ureia e creatinina: avaliar uma complicação importante da HPB, a nefropatia obstrutiva; ✔ PSA (antígeno prostático específico): glicoproteína produzida pelo tecido prostático que pode elevar seus níveis séricos em qualquer doença prostática inflamatória ou neoplásica. O valor normal é de até 4ng/mL. ✔ Outros exames não obrigatórios: Ultrassonografia (avalia a morfologia do trato urinário, o volume da próstata (Figura 4) e o resíduo pós- miccional; Urofluxometria (método urodinâmico recomendável, que registra, em gráfico, a curva do fluxo urinário, fornecendo dados como fluxo máximo, médio e perfil de curva. Deve ser efetuado com volume urinário acima de 150mL; Uretrocistoscopia (avalia a presença ou não de estenose de uretra, extensão da uretra prostática, aspecto da parede vesical (trabeculações e divertículos) e observação de doenças associadas (cálculos ou tumores vesicais); Urografia excretora (permite diagnosticar outras doenças (tumor, cálculo, cisto) e fornece imagens da bexiga, como trabeculações, divertículos, cálculos e tumores.Tratamento ➤ As indicações são baseadas no escore de sintomas e na avaliação clínica que poderão ser reforçados, sempre que possível, com parâmetros específicos, como ultrassom e urofluxometria; Observação e acompanhamento ➤ Devem ser anuais e estão indicados a todos os pacientes com sintomas leves e sem complicações (escore de sintomas entre 0 e 7). Tratamento farmacológico ➤ Indicado aos pacientes com sintomatologia moderada (escore de sintomas entre 8 e 19), deve ter morbidade mínima e boa aceitação, além de não interferir na sua qualidade de vida. → Bloqueadores alfa-adrenérgicos: O impedimento do fluxo urinário (dinâmico, estático ou mecânico) depende da quantidade de estroma e do tônus da musculatura lisa prostática, que é mediado pela estimulação simpática da musculatura lisa da próstata por meio de receptores alfa-adrenérgicos (alfa-1ª, específico para o tecido muscular prostático; alfa-1b específico para os vasos sanguíneos); Alfa- bloqueadores seletivos alfa-1 amenizam os sintomas miccionais com efeitos sistêmicos de intensidade e frequência menores (urosseletivos). Pacientes com sintomas urinários moderados/severos (pontuação AUA >7), afetando a qualidade de vida, e os que não aceitam ou não tem indicação absoluta de cirurgia são indicados para essa modalidade de terapia. • Contraindicações absolutas: Insuficiência renal pós- renal e/ou resíduo vesical elevado, causados pela HPB; Pacientes com história de hipotensão postural ou hipersensibilidade à droga. • Contraindicações relativas: doenças cerebrovascular; história de síncope; retenção urinária aguda repetida ou infecção urinária recorrente atribuída à HPB; ✔ Prozasina: atua promovendo a diminuição das pressões arterial e uretral. Vida média de 4 a 6 horas e dose habitual de 4 a 6mg (dividida em 2 ou 3 tomadas diárias, aconselhando-se aumento progressivo da dose inicial). Provoca hipotensão postural acentuada, podendo levar à síncope, além de baixa urosseletividade, por isso é usada com pouca frequência. ✔ Terazosina: ação similar à da prozasina, com menor atividade e mais urosseletividade. Vida média de 12 horas, dose habitual de 10 a 20mg, ao deitar, aconselhando-se igualmente um regime de titulação da dose; ✔ Alfuzosina: urosseletividade mais elevada que as drogas anteriores, menos efeitos colaterais. Vida média de 5 horas e pode ser usada em dose única (10mg/dia) ou fracionada (2,5 mg, 3x/dia). ✔ Doxazosina: afinidade elevada pelos receptores alfa-1, e a vida média é de 20 horas. Dosagem de 2 a 8 mg, em única dose, tomada ao deitar, ou doses múltiplas com titulação progressiva. Age favoravelmente com redução da pontuação dos sintomas, e seus efeitos colaterais são leves. ✔ Tansulosina: sintetizado para o tratamento das obstruções prostáticas de fundo dinâmico, com algum grau de especificidade para os receptores alfa-1- adrenérgicos. Usada em dose diária de 0,4mg. → Inibidores da 5-alfa-redutase: ✔ Finasterida: inibidor potente e reversível da 5-alfa- redutase tipo 2, o que impede a transformação, em nível intraprostático, de testosterona, em diidrotestosterona. Esse mecanismo inibitório leva à redução do volume, sobretudo em portadores de glândulas acima de 40g. Administração regular por >6 meses melhora o fluxo urinário e a redução do escore internacional de sintomas prostáticos. A finasterida comprovadamente diminui o risco de retenção aguda de urina e a necessidade de tratamento cirúrgico da HPB, além de ser usada na dose de 5mg/dia. Efeitos colaterais: diminuição da libido, do volume ejaculado e da capacidade erétil. ✔ Dutasterida: atua como inibidor seletivo tipo 1 e tipo 2, bloqueando a ação de uma enzima intracelular que converte a testosterona em DHT. Administração de 0,5mg/dia, pelo tempo mínimo de 3 a 6 meses, ameniza os sintomas de prostatismo, reduzindo o tamanho da próstata, melhorando o fluxo urinário e reduzindo o risco de retenção urinária e a necessidade de cirurgia relacionada à HPB. Reações adversas: disfunção erétil, diminuição da libido, distúrbios de ejaculação e ginecomastia. Tratamento Cirúrgico Situações em que o tratamento cirúrgico da HPB é absoluta: retenção urinária, infecção urinária recorrente, hidronefrose, hematúria macroscópica refratária, incontinência urinária paradoxal e sintomas urinários acentuados persistentes após tratamento clínico. Incisão Transuretral da Próstata ➤ Opção para pacientes com indicação cirúrgica, porém com sintomatologia leve ou moderada e próstata < 30mb. Oferece taxas razoáveis de melhora dos sintomas e da obstrução, mas por curto período (2 anos em média). Tratamentos minimamente invasivos ➤ Uso de anestesia local, menor morbidade, menor tempo de internação e melhor reabilitação dos pacientes. ➤ Uso de formas variadas de energia para a destruição do tecido prostático; → Métodos Inaceitáveis: dilatação por balão, hipertermia e uso de ultrassom de alta frequência; → Aceitável, com restrições: stent uretral; → Métodos aceitáveis: microondas transuretral, ablação por agulha (TUNA), coagulação intersticial por laser e eletrovaporização transuretral. Ressecção Transuretral de Próstata ➤ Tratamento cirúrgico mais utilizado, considerado padrão-ouro devido à sua alta taxa de sucesso e ao fato de preencher requisitos de técnica minimamente invasiva. ➤ Uso de microcâmera, menor tempo de cateterização vesical com deambulação, reabilitação e alta precoces, podendo ser utilizado em pacientes com risco cirúrgico elevado. Terapia a laser (GreenLight) ➤ Permite a chamada vaporização fotosseletiva da próstata (PVP), uma técnica de ablação da glândula, de elevadas eficácia e precisão. A cirurgia é feita sob anestesia geral, epidural ou raquidiana e dura cerca de 2 horas. ➤ Vantagens: ausência de hemorragias operatórias (até permite operar doentes que utilizam anticoagulantes), baixa taxa de disfunção erétil. Além de incontinência urinária pós-operatória também muito rara. ➤ Complicação: ocorrência de sintomas miccionais irritativos durante algumas semanas, queixa bem tolerada. Prostatectomia aberta - ➤ Forma de tratamento com taxas mais elevadas na melhoria dos sintomas e do fluxo urinário, porém com o maior índice de morbimortalidade. ➤ Indicada aos casos de próstatas volumosas (acima de 80g) pelo aumento nas taxas de complicações da RTUP e aos pacientes com contraindicações à RTUP. ➤ Técnica suprapúbica transvesical ou retropúbica. ➤ Desvantagens: abertura da parede vesical que necessita de cateterismo vesical prolongado, com risco de fístula urinária, e a dificuldade de hemostasia pelo acesso à loja prostática.
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