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8ª ETAPA – MÓDULO 01 – PROBLEMA 03.1: DIABETES TIPO I INTRODUÇÃO • DEFINIÇÃO: Denominado inicialmente diabetes insulinodependente ou diabetes juvenil, o diabetes melito tipo 1 (DM1) é causado por deficiência absoluta de insulina, consequente à destruição autoimune ou, bem mais raramente, idiopática das células beta pancreáticas, ocasionando deficiência completa na produção de insulina. • Uma característica marcante dos diabéticos tipo 1 é a tendência à cetose e a invariável necessidade de insulinoterapia como tratamento. • Cetoacidose diabética pode ser a manifestação inicial da doença em até 30% dos casos em adultos e em até cerca de 65% das crianças. EPIDEMIOLOGIA E CLASIFICAÇÃO • Predomina em pacientes jovens não obesos (crianças e adolescentes), mas até 30% aparece após a idade de 30 anos (o chamado “LADA” ou Latent Autoimune Diabetes of Adults – diabetes autoimune “latente” do adulto). • 5-10% de todos os casos de diabetes são tipo I • Subdivide-se em DM tipo 1A e DM tipo 1B, a depender da presença ou ausência laboratorial de autoanticorpos circulantes, respectivamente. o Tipo 1A (mecanismo autoimune – mais de 90% dos casos) o Tipo 1B (idiopático – 4-7%, particularmente em negros e asiáticos) • Forma mais frequente de DM1, confirmada pela positividade de um ou mais autoanticorpos. • Principais autoanticorpos encontrados no DM tipo 1 o 1) Anti-ilhota (ICA) = 80%. o 2) Anti-GAD = 70%. o 3) Anti-IA-2 = 60%. QUESTÃO INTERESSANTE: RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS – PE Paciente com 18 anos de idade chega a Pernambuco com diagnóstico de diabetes mellitus tipo 1 há 2 anos. Pensando na confirmação diagnóstica, qual dos anticorpos abaixo apresenta a maior chance de ainda estar positivo? a) Anticorpo anti-insulina. b) Anticorpo antitirosina-fosfatase (anti-IA2). c) Anticorpo anti-ilhota de Langerhans (ICA). d) Anticorpo antitireoperoxidase (anti-TPO). e) Anticorpo antidescarboxilase do ácido glutâmico (anti-GAD). Embora o anticorpo anti-insulina seja o primeiro a aparecer e também o presente em títulos mais elevados em crianças mais novas com DM1, eles estarão presentes dentro de duas semanas em qualquer paciente que utilize insulina subcutânea. Ou seja, num paciente com diagnóstico há dois anos e provavelmente já usando a insulina, este já não seria o melhor marcador... O anti-GAD, por sua vez, também é comum (70% dos pacientes) e pode permanecer positivo após dez anos em até 50% dos casos. Por essa razão, é normalmente o marcador autoimune ideal na investigação de pacientes com DM de longa duração, para classificação etiológica adequada. Resposta: letra E. O DM tipo 1 pode se associar a outras endocrinopatias autoimunes, configurando a SÍNDROME DE SCHMIDT, ou SÍNDROME POLIGLANDULAR AUTOIMUNE TIPO II: doença de Addison + tireoidite de Hashimoto + DM tipo 1. Anemia perniciosa e vitiligo também podem participar da síndrome. Surge em adultos (sobretudo em mulheres), as glândulas adrenais e a tireoide são hipoativas, embora a glândula tireoide às vezes se torne hiperativa. FATORES DE RISCO • Embora sua fisiopatologia não seja totalmente conhecida, envolve, além da predisposição genética, fatores ambientais que desencadeiam a resposta autoimune. • Entre as principais exposições ambientais associadas ao DM1 estão: o Infecções virais ▪ Cocksackie B, rubéola cong. ,enterovírus, rotavírus o Componentes dietéticos o Composições da microbiota intestinal • O peso da influência genética é comprovado pelo fato de 30-70% dos gêmeos univitelinos serem concordantes para a doença! o Parentes de primeiro grau de um portador de DM tipo 1A desenvolvem a doença cerca de dez vezes mais do que a população geral. • Até 50% dos parentes de primeiro grau desenvolvem a doença em questão de anos quando um ou mais autoanticorpos são positivos no soro. • A chance é ainda maior quanto mais precoce for a idade de surgimento dos mesmos. • A incidência do DM tipo 1 é bimodal o Apresenta um pico na faixa etária entre 4-6 anos o Outro por volta de 10-14 anos. • Não há diferença entre os sexos, porém observa-se ampla variabilidade em função da região geográfica e da etnia. o A incidência global aumenta em proporção direta à latitude (distância da linha do equador). o Migrantes que saem de áreas de baixa incidência para locais como o norte europeu (ex.: Finlândia, uma das maiores incidências mundiais) adquirem um risco aumentado de desenvolver a doença! o Tal fato fortalece a crença em fatores ambientais ainda não identificados. • Dependendo da etnia do indivíduo, mesmo migrando para áreas de alta incidência o risco pode continuar baixo (ex.: é o que se observa em asiáticos). LADA – LATENT AUTOIMUNE DIABETES OF ADULTS • Apesar de já ter sido chamado de “DM juvenil”, pelo fato de comumente aparecer na infância/ adolescência, sabemos que até 30% dos casos de DM tipo 1A se iniciam em maiores de 30 anos (LADA – Latent Autoimune Diabetes of Adults). o Apresentam outra característica peculiar, que os distingue do DM tipo 1A clássico: a progressão do deficit insulínico é relativamente lenta (passam-se DÉCADAS até a destruição total das células beta) o Quadro clínico mais arrastado, podendo levar à confusão diagnóstica com DM tipo 2. o Mais cedo ou mais tarde o hipoinsulinismo absoluto se estabelece (ex.: surgimento de cetoacidose), e a diferenciação diagnóstica se torna mais evidente. • A prevalência de diabetes autoimune latente em adultos (LADA) entre pacientes classificados como DM2 varia de 4 a 14% • Os pacientes com LADA habitualmente são diagnosticados como diabéticos tipo 2, dos quais se diferenciam pela presença de um ou mais autoanticorpos contra as células beta – anti-GAD65 (o mais prevalente) e ICA – e pelos níveis do peptídeo C (PC). o PC: Estão normais ou elevados no DM2 e quase sempre baixos no LADA, mas pode haver superposição de valores. • Os critérios diagnósticos do LADA incluem: o Idade no diagnóstico entre 25 e 65 anos. o Ausência de cetoacidose diabética (CAD) ou hiperglicemia acentuada sintomática no diagnóstico ou imediatamente após, sem necessidade de insulina por pelo menos 6 a 12 meses (diferenciando-se do DM1 do adulto). o Existência de autoanticorpos, especialmente anti-GAD65 (diferenciando-se do DM2) • Pacientes com LADA tendem a ser mais jovens, têm IMC mais baixo, menor prevalência de componentes da síndrome metabólica. • Pacientes com LADA apresentam maior prevalência de outros autoanticorpos: anti-TPO, anti-21-hidroxilase e anticorpos associados à doença celíaca ETIOPATOGENIA DIABETES MIELLITUS TIPO 1A • O DM tipo 1A é uma doença autoimune, e não raro coexiste com outras imunopatias, sugerindo existência de um distúrbio imunológico amplo em alguns casos o Tireoidite de Hashimoto o Doença celíaca o Vitiligo o Anemia perniciosa • O modelo etiopatogênico mais aceito na atualidade se baseia na interação entre fatores genéticos e ambientais. o Infecções virais, e/ou exposição a antígenos ainda desconhecidos, poderiam, através de mimetismo molecular, desencadear o processo de INSULITE (inflamação das ilhotas pancreáticas) em indivíduos geneticamente predispostos. • Diversos genes contribuem com essa predisposição, a maioria relacionada ao complexo principal de histocompatibilidade o Genes HLA, como DR3 e DR4 • As ilhotas de Langerhans são invadidas por linfócitos T citotóxicos (CD8+), que destroem seletivamente as células beta, deixando as demais células intactas. o É comum surgirem autoanticorpos característicos, porém estes NÃO parecem diretamente patogênicos, sendo apenas marcadores de autoimunidade direcionados contra antígenos das células beta • Os marcadores conhecidos de autoimunidade são: o Anticorpo anti-ilhota(islet cell antibody, ICA) o Autoanticorpo anti-insulina (insulinautoantibody, IAA) o Anticorpo antidescarboxilase do ácido glutâmico (anti-GAD65) o Anticorpo antitirosina-fosfatase IA-2 e IA-2B o Anticorpo antitransportador de zinco (Znt8). ▪ Mais recente ▪ Um estudo mostrou que anticorpos anti-Znt8A foram encontrados em 26% dos casos de DM1 classificados inicialmente como não autoimunes, com base nos marcadores previamente existentes (anti-GAD, IA-2, IAA e ICA). • Geralmente, esses autoanticorpos precedem a hiperglicemia por meses a anos, durante um estágio pré-diabético. • Hoje está claro que o DM tipo 1A possui uma fase assintomática, em que ocorre destruição progressiva das células beta antes que o pâncreas se torne incapaz de produzir insulina em níveis satisfatórios. • Quando a massa de células beta atinge um ponto “crítico” (80-90% de destruição), eventos como a puberdade e infecções intercorrentes – que promovem resistência à insulina – induzem a instalação abrupta dos sintomas o Dão assim a falsa impressão de que todo o processo teve início agudo o A insulina produzida passa a não ser mais suficiente para suprir as necessidades homeostáticas. o A presença de autoanticorpos num paciente assintomático é um importante preditor de risco para DM tipo 1A! • É importante reconhecer também que ao longo do tempo a maioria das células beta serão destruídas (ausência ABSOLUTA de insulina endógena) o Portadores de DM tipo 1 dependem, para o resto de suas vidas, da reposição de insulina exógena o Inexoravelmente desenvolvem cetoacitose diabética • Estágios do DM1 autoimune propostos pela Associação Americana de Diabetes (American Diabetes Association, ADA) para estadiamento, baseados nos níveis glicêmicos e na sintomatologia. Vale ressaltar que, apesar da natureza autoimune da doença, não há evidências que corroborem o uso profilático de imunossupressores! O risco-benefício em longo prazo nunca se mostrou favorável (são muitos os paraefeitos do tratamento) Sabe-se que basta suspender ou reduzir a dose dos fármacos para o processo de destruição das células beta retomar seu curso a partir de onde havia parado. o Na prática clínica, não se recomenda rotineiramente a investigação de autoimunidade com dosagem dos autoanticorpos. • Outra literatura: O desenvolvimento do DM1A é dividido em 4 fases: o Pré-clínica, com suscetibilidade genética e autoimunidade contra a célula beta o Início clínico do diabetes o Remissão transitória (período de “lua de mel”) o Diabetes estabelecido associado a complicações agudas e crônicas. DIABETES MIELLITUS TIPO 1B • A etiopatogenia do DM tipo 1B é desconhecida. • Algumas evidências sugerem que mutações no gene da insulina seriam as responsáveis por boa parte dos casos. • Autoanticorpos não são detectáveis na circulação. • A maioria dos pacientes descritos até o momento são de ascendência africana ou asiática. QUADRO CLÍNICO • O diagnóstico de DM tipo 1 costuma ser fácil, pois em geral o quadro CLÁSSICO está presente e tem início AGUDO: o Criança ou adolescente que desenvolve – ao longo de dias ou semanas – poliúria, polidipsia, polifagia e emagrecimento (os famosos “polis”). • Em crianças pequenas, as primeiras manifestações podem ser enurese noturna e candidíase vaginal. • Eventualmente, a doença só é percebida na descompensação (cetoacidose diabética), mas a maioria dos casos de cetoacidose acontece em pacientes previamente diagnosticados. o 1/3 dos casos a CD é a primeira manifestação clínica percebida. • Na presença de descompensação aguda ou cetoacidose, podem ainda estar presentes dor abdominal, náuseas, vômitos, desidratação e alteração de nível de consciência. • Borramento visual, hálito cetótico e infecções fazem parte do quadro clínico, estando mais associadas a complicações da DM1 • Em crianças pequenas, as primeiras manifestações podem ser enurese noturna e candidíase vaginal. • O DM1 pode se apresentar de várias formas: o Início clássico de polidipsia crônica, poliúria e perda de peso com hiperglicemia e cetonemia (ou cetonúria) o A cetoacidose diabética o Descoberta incidental silenciosa (assintomática) INÍCIO CLÁSSICO • A hiperglicemia sem acidose é a apresentação mais comum do DM1 na infância na maioria das populações. • Os pacientes geralmente apresentam os seguintes sintomas: POLIÚRIA • Poliúria ocorre quando a concentração sérica de glicose aumenta significativamente acima de 180 mg / dL (10 mmol / L) o Excedendo o limiar renal para glicose, o que leva ao aumento da excreção urinária de glicose. • A glicosúria causa diurese osmótica (isto é, poliúria) e hipovolemia. • A poliúria pode se apresentar como: o Noctúria o Enurese noturna o Incontinência diurna em uma criança previamente continente. • Nas crianças que não são treinadas no banheiro, os pais podem notar um aumento na frequência de fraldas molhadas e / ou fraldas que são incomumente pesadas (molhadas). POLIDIPSIA • A polidipsia deve-se à sede aumentada devido ao aumento da osmolalidade sérica da hiperglicemia e hipovolemia. • Apesar da hipovolemia, os pacientes podem não apresentar os sinais clássicos de muco seco ou diminuição do turgor cutâneo. PERDA DE PESO • A perda de peso é resultado de hipovolemia e aumento do catabolismo. • A deficiência de insulina em crianças diabéticas prejudica a utilização de glicose no músculo esquelético e aumenta a gordura e a degradação muscular. • Inicialmente, o apetite aumenta, mas, com o tempo, as crianças têm mais sede do que fome e a cetose leva a náuseas e anorexia, contribuindo para a perda de peso. • Pacientes com esses sintomas geralmente apresentam-se em ambiente ambulatorial aparentando estar ligeiramente doentes, com queixas vagas, como perda de peso e letargia. • A perda de peso é um sintoma presente em cerca de metade das crianças. • Os sintomas clássicos de poliúria e polidipsia estão presentes em mais de 90% dos pacientes, mas nem sempre são as queixas iniciais e podem se tornar aparentes somente após uma história cuidadosa (por exemplo, noctúria e enurese noturna, aumento da frequência e / ou fraldas anormalmente úmidas e sede persistente). • Outras apresentações incluem candidíase perineal, que é um sintoma relativamente comum em crianças pequenas e meninas. • Distúrbios visuais são comuns devido a alterações no ambiente osmótico do cristalino e, em menor extensão, aos humores aquosos e vítreos, levando a mudanças no índice de refração. Crianças com hiperglicemia prolongada podem apresentar catarata. CETOACIDOSE DIABÉTICA • A cetoacidose diabética (hiperglicemia e cetoacidose) é a segunda forma mais comum de apresentação do DM1 na maioria das populações. • Os sintomas são semelhantes, mas geralmente mais graves que os de pacientes sem acidose. • Além da poliúria, polidipsia e perda de peso, os pacientes com cetoacidose podem apresentar hálito com cheiro de frutas e achados neurológicos, incluindo sonolência e letargia. • A CAD pode ser mal interpretada como uma doença aguda de vômito, pois os sintomas pediátricos clássicos de desidratação (diminuição da micção) são mascarados pela poliúria associada à glicosúria. • A frequência relatada de cetoacidose diabética (CAD) como apresentação inicial para o DM1 na infância é de aproximadamente 30% • Crianças com CAD requerem hospitalização, reidratação e terapia de reposição de insulina. APRESENTAÇÃO SILENCIOSA • Algumas crianças serão diagnosticadas com DM1 antes do início dos sintomas clínicos. • Esta apresentação é menos comum e geralmente ocorre em crianças que têm outro parente próximo com DM1 e estão sendo monitoradas de perto. • O diagnóstico geralmente é feito por um membro da família ou por um médico com um alto índice de suspeita. • Crianças com um familiar próximoafetado também podem ser submetidas a uma triagem de autoanticorpos pancreáticos para avaliar o risco para a doença, embora essa não seja uma recomendação de atendimento clínico. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAÇÃO ENTRE DM TIPO 1 E DM TIPO 2 • Início agudo, idade < 45 anos, ausência de obesidade, cetoacidose diabética e necessidade de insulina para controle dos sintomas sugerem muito DM tipo 1. • Por outro lado, idade > 45 anos, obesidade, e não ocorrência de cetoacidose na ausência de reposição de insulina sugerem o diagnóstico de DM tipo 2. • Todavia, nenhum critério clínico é absoluto para a diferenciação entre os dois principais tipos de DM! • O diagnóstico é feito com base em uma concentração elevada de glicose no sangue usando os critérios descritos abaixo • A confirmação diagnóstica é realizada por meio de glicemia plasmática de jejum ≥ 126 mg/dL ou glicemia casual, em qualquer hora do dia, ≥ 200 mg/dL. • • • TRATAMENTO • Como o DM1 se caracteriza por produção insuficiente de insulina, o tratamento medicamentoso depende da reposição desse hormônio, utilizando-se de esquemas e preparações variados e estabelecendo-se “alvos glicêmicos” pré e pós-prandiais para serem alcançados. • A reposição da insulina deve tentar atingir o perfil mais próximo possível do fisiológico, evitando-se tanto sequelas de hipoglicemias quanto alterações no SNC decorrentes de hiperglicemias alternadas com hipoglicemias. • O tratamento com insulina deve ser iniciado o mais rápido possível após o diagnóstico (geralmente dentro das 6 horas, em caso de cetonúria), para prevenir a descompensação metabólica e a cetoacidose diabética (CAD). • Para que a terapia seja mais segura e eficaz, o paciente deve adquirir um dispositivo capaz de medir a glicemia capilar (chamado de glucosímetro), a fim de acompanhar o efeito do tratamento e detectar o surgimento de hipoglicemia. o Idealmente, esta medida deveria ser feita no mínimo quatro vezes ao dia: pré- -prandial (antes do café da manhã, almoço e jantar) e antes de dormir. o Para certos pacientes, uma monitorização ainda mais frequente seria ideal (ex.: 6-10x/dia) • Para os adultos portadores dessa doença, recomendam-se os mesmos alvos glicêmicos do DM tipo 2 • A explicação para a adoção de metas glicêmicas diferenciadas em crianças (metas mais “relaxadas” que as dos adultos) é que o risco de hipoglicemia tende a ser maior neste subgrupo! o Crianças e adolescentes costumam ter dificuldade em reconhecer os sinais e sintomas de hipoglicemia, o que as impede de tomar as atitudes necessárias, aumentando o risco de hipoglicemia grave. • Desse modo, toleram-se níveis glicêmicos um pouco mais elevados, a fim de evitar um grande aumento no risco de hipoglicemia • A modificação terapêutica é OBRIGATÓRIA quando as metas não estiverem sendo alcançadas ou na presença de glicemias muito baixas. DIETA • Os diabéticos tipo 1 geralmente são magros, necessitando de aporte calórico suficiente para manter o seu peso ideal. • Podemos calcular este aporte multiplicando-se o peso ideal por 22. o O peso ideal para homens é 48 kg para os primeiros 152 cm de altura, somados a 2,7 kg para cada 2,5 cm a mais. o O peso ideal para mulheres é 45 kg para os primeiros 152 cm, somados a 2,3 kg para cada 2,5 cm a mais. • A insulinoterapia pode levar ao aumento de peso, devido ao efeito anabólico e lipogênico da insulina. • Mulheres diabéticas portadoras de anorexia nervosa podem omitir doses de insulina propositalmente, aumentando o risco de cetoacidose e complicações crônicas. o Nesses casos, a internação hospitalar muitas vezes se faz necessária! • Hoje em dia o guideline da ADA recomenda que a composição da dieta seja individualizada, de modo a prover as necessidades específicas de cada paciente considerando, inclusive, suas preferências pessoais. • Classicamente, recomenda-se que a dieta contenha: o 55-60% de carboidratos ▪ Amido e fibras solúveis, presentes em alimentos como verduras, frutas e legumes o 10-20% de proteínas o 30-35% de lipídios ▪ Gorduras mono ou poli-insaturadas, contidas nos óleos vegetais e azeite • A preferência deve ser para os alimentos com baixo índice glicêmico (que elevam menos a glicemia pós-prandial), como o arroz integral, feijão e fibras solúveis (aveia, cereais, grãos). • Os açúcares refinados (sacarose) devem ser limitados, mas não totalmente proibidos. o É prudente substituí--los por adoçantes (ex.: sucralose) ou produtos diet. • A restrição de lipídios – principalmente ácidos graxos saturados, ácidos graxos trans e colesterol – é importante para o controle do colesterol LDL (“colesterol ruim”) e redução do risco cardiovascular. • Uma importante medida prática para indivíduos em uso de insulina é a ingestão, NA CEIA, de alimentos com baixo índice glicêmico (ou seja, de absorção mais lenta, como carboidratos complexos) em conjunto com lipídios e/ou proteínas (que retardam o esvaziamento gástrico), mantendo-se, assim, uma glicemia estável ao longo da noite, com menor risco de hipoglicemia durante o sono. ÁLCOOL • Deve ser desencorajado, por aumentar tanto o risco de hipoglicemia, em usuários de insulina (o metabolismo do álcool inibe a gliconeogênese hepática) • Pequenas doses diárias de vinho tinto, por outro lado, podem ser consumidas sem maiores problemas. EXERCÍCIO FÍSICO REGULAR • Medida promotora de saúde, indicada de rotina para diabéticos • No caso do DM tipo 1, vale ressaltar os riscos do exercício físico extenuante sobre o controle glicêmico: o Hipoglicemia (se os níveis de insulina estiverem relativamente altos antes do início do exercício – pois o exercício aumenta a sensibilidade do tecido muscular à insulina) o Hiperglicemia (se os níveis de insulina estiverem relativamente baixos antes do início do exercício – pois o estresse físico aumenta os hormônios contrarreguladores de insulina). • Recomendações: o 1- Não se exercitar se a glicemia capilar estiver < 90 mg/dl ou > 250 mg/dl ou na presença de cetose; o 2- Alimentar-se 1-3h antes, evitando a prática de exercícios físicos em jejum; o 3- Ingerir suplementos de carboidrato a cada 30min durante exercícios extenuantes e prolongados; o 4- Aplicar a insulina num músculo que não participará da atividade física; por vezes é conveniente reduzir a dose. INSULINOTERAPIA TIPOS DE INSULINA - ORIGEM INSULINA ANIMAL • Atualmente, as insulinas de origem animal têm apenas interesse histórico. • A insulina suína diferia da humana pelo aminoácido alanina no lugar da treonina, enquanto a bovina apresentava 3 aminoácidos distintos, o que conferia mais antigenicidade. • As insulinas animais tinham a desvantagem de ser absorvidas mais lentamente pelo tecido subcutâneo, com início e pico de ação mais lentos, além de apresentarem maior antigenicidade, o que causava processos alérgicos e lipodistróficos, potencialmente capazes de inviabilizar seu uso. INSULINA HUMANA • Hoje em dia, duas técnicas são usadas para se obterem insulinas com estrutura química idêntica à insulina humana. o Primeira utiliza a engenharia genética (técnica do DNA recombinante) o Segunda consiste na “humanização” da insulina suína quando, pelo processo de transpeptidação, o aminoácido alanina da cadeia B é substituído pela treonina. ANÁLOGOS DE INSULINA • São compostos sintéticos obtidos por alterações na estrutura química da molécula de insulina (troca de aminoácidos ou de suas posições, ou adição de novas moléculas), por meio da técnica de DNA recombinante. • Essas mudanças mantêm o poder biológico da insulina, mas alteram suas características físico-químicas, com consequentes maior rapidez na absorção e maior ou menor tempo de ação. • Com relação aosanálogos de ação ultrarrápida tem como representantes: o A insulina Lispro (Humalog®) o A insulina Aspart (NovoRapid®) o A insulina Glulisina (Apidra®) ▪ Os três análogos têm características farmacocinéticas semelhantes. • Atualmente dispomos de três análogos de longa ação: o A insulina Glargina (Lantus®) o A insulina Detemir (Levemir®) o A insulina Degludeca (Tresiba®): Para muitos autores, ela representa uma nova classe, a dos análogos de ação ultralenta, pois a duração do seu efeito ultrapassa 30 horas. TIPOS DE INSULINA - FARMACOCINÉTICA INSULINA DE AÇÃO RÁPIDA • Trata-se de uma insulina humana ligada a cristais de zinco e dissolvida em líquido transparente. • Por conta de sua ligação aos cristais de zinco, há agregação dos monômeros de insulina em hexâmetros, e após sua aplicação subcutânea, a forma hexamérica original vai se transformando em dímeros e monômeros, que conseguem ser absorvidos pelo endotélio para a circulação. • Isso provoca retardo parcial em sua absorção, fazendo com que esse tipo de insulina tenha um perfil de ação particular. • O único representante deste grupo é a insulina Regular (IR). o Uso subcutâneo o Início de ação: 30 a 60 min o Pico de ação: 2 a 4 h o Duração de ação: 6 a 8 h (8 a 10 h) o Aplicação: 30 min antes da refeição. • Assim sendo, o uso da insulina regular em sua forma usual (subcutânea) é indicado essencialmente para controle das glicemias pós-prandiais (GPP), tentando mimetizar de maneira aproximada o aumento da secreção de insulina endógena que ocorre nessas situações. • Apresentações comerciais o Frasco de insulina para aplicação com seringa (frascos de 10 mℓ): Humulin R, Novolin R, Isuman R, Isunorm R, Wosulin R. o Canetas descartáveis com insulina regular (3 mℓ): Humulin R, Novolin R o Canetas reutilizáveis com o respectivo refil (3 mℓ): Caneta Humapen Luxura e Humulin R refil, Caneta Novopen 3 e Novolin R refil. • A variabilidade inter e intraindividual é baixa, o que contribui para a previsibilidade de seus efeitos terapêuticos. • As duas principais indicações são controle da glicemia pós-prandial e correção de episódios ou períodos hiperglicêmicos (insulina pré-prandial/bolus). • Além disso, é a insulina mais empregada no tratamento da cetoacidose diabética. INSULINAS DE AÇÃO ULTRARRÁPIDA • São representadas pelos análogos Lispro, Aspart e Glulisina. • Têm início de ação mais rápido e duração mais curta, em comparação à insulina Regular (IR), com a qual compartilham as mesmas indicações: • Assim, podem ser aplicadas um pouco antes ou logo depois das refeições, enquanto a IR requer administração 30 minutos antes. • Têm o perfil farmacocinético que mais se aproxima da secreção fisiológica de insulina pelas células beta em resposta à alimentação rica em carboidratos em indivíduos não diabéticos. Dessa maneira, propiciam melhor controle da glicemia pós-prandial. • Causam menos hipoglicemias do que a IR. o Uso subcutâneo o Início de ação: 15 a 30 min o Pico de ação: 30 a 60 min o Duração de ação: 3 a 4 h (4 a 6 h) o Aplicação: 15 min ou imediatamente pré-prandial. INSULINA LISPRO • É um análogo de insulina com ação ultrarrápida. • Há uma modificação da molécula original da insulina, com o objetivo de evitar a agregação das moléculas dessa insulina no subcutâneo. o As diferentes moléculas comportam-se como monômeros de insulina, promovendo grande rapidez na absorção desta, mesmo quando aplicadas por via subcutânea. • Assim como a insulina regular, tem boa atuação no controle da GPP. • É formada pela inversão nas posições dos aminoácidos lisina (B29) e prolina (B28) da cadeia beta da insulina. • Se utilizada por via intravenosa, apresenta o mesmo perfil da insulina regular, com ação imediata e meia-vida de 10 min. • Apresentações comerciais: o Frasco de insulina para aplicação com seringa (frascos de 10 mℓ): Humalog o Canetas descartáveis com insulina lispro: insulina Humalog Kwikpen 3 mℓ o Caneta reutilizável com refil para caneta (3 mℓ): caneta Humapen Luxura e Humalog refil. INSULINA ASPART • É um análogo de insulina com ação ultrarrápida e que apresenta farmacocinética muito similar à da insulina Lispro. • É formada pela substituição de um aminoácido prolina por ácido aspártico com carga elétrica negativa na posição 28 da cadeia beta da insulina. • Apresentações comerciais: o Frasco de insulina para aplicação com seringa: Novorapid o Caneta descartável com insulina Aspart: insulina Novorapid Flexpen 3 mℓ o Caneta reutilizável com refil para caneta: caneta Novopen 3 e Novorapid refil. INSULINA GLULISINA • É um análogo da insulina mais recente, que mantém ações ultrarrápida e farmacocinética similares às das insulinas Lispro e Aspart. • É formada pela troca de asparagina por lisina na posição 3 da cadeia beta da insulina e de lisina por ácido glutâmico na posição 29 da mesma cadeia. • Apresentações comerciais: o Frasco de insulina para aplicação com seringa: Apidra o Caneta descartável com insulina glulisina: caneta Solostar e insulina Apidra o Caneta reutilizável com respectivo refil: caneta Clikstar e Apidra refil. INSULINAS DE AÇÃO INTERMEDIÁRIA • Neste grupo, incluem-se as insulinas NPH (Humulin N®, Novolin N®) e Lenta (deixou de ser comercializada). • Em geral requer duas aplicações diárias. INSULINA NPH • É uma insulina humana, ligada a moléculas de zinco e protamina. o Esta ligação com a protamina deixa a insulina humana com menos solubilidade e consequentemente promove o retardo em sua absorção após a aplicação em tecido subcutâneo, que é a única via permitida para administração. • Além disso, é a própria adição da protamina que faz com que essa insulina tenha aspecto leitoso, sendo que para a correta ação da insulina, esta deve ser agitada cuidadosamente, adquirindo aspecto homogêneo. • Por conta de sua lenta absorção, o seu uso está indicado essencialmente para o controle de glicemias basais ou pré-prandiais. o Uso subcutâneo o Início de ação: 1 a 3 h o Pico de ação: 6 a 8 h o Duração de ação: 12 a 16 h o Aplicar antes do café, antes do almoço e ao deitar. • Pode ser combinada a insulinas de ação rápida ou ultrarrápida, desde que a aspiração destas insulinas seja sempre antes da NPH, para não contaminar o frasco da insulina rápida com protamina e acabar retardando a sua absorção. • Também existem disponíveis formulações comerciais já pré-misturadas, com composição mista de insulina NPH e insulinas rápidas. • Apresentações comerciais o Frascos para aplicação com seringa: Humulin N, Novolin N, Insuman N, Insunorm N o Canetas descartáveis com NPH: Humulin N e Novolin N o Canetas reutilizáveis com refil para caneta: ▪ Caneta Humapen Luxura e Insulina Humulin N refil ▪ Caneta Novopen 3 e Insulina Novolin N refil. INSULINAS DE AÇÃO LENTA/PROLONGADA INSULINA GLARGINA • Este é um análogo de insulina de ação longa, praticamente sem pico, que cobre aproximadamente 24 h do dia. • Trata-se de uma insulina de pH ácido (pH 4) que, ao ser aplicada em tecido subcutâneo (única via de administração), sofre transformação de sua composição para pH neutro, ocorrendo transformação das moléculas em microprecipitados insolúveis de insulina, levando à absorção lentificada das substâncias, durando cerca de 24 h e não apresentando pico de ação. • Dessa maneira, são indicadas para controle da glicemia basal e pré-prandial. • Além disso, justamente por ser veiculada em meio ácido, esta é a única insulina que não pode ser misturada com as outras em um mesmo recipiente, e pode causar alguma dor leve à administração. • Está aprovada para uso em crianças a partir de 6 anos de idade. o Uso subcutâneo o Início de ação: 1 h o Pico de ação: não tem o Duração de ação: 11 a 24 h o Aplicar 1 vez/dia, sempre no mesmo horário. • Apresentações comerciais:o Frasco para aplicação com seringa: Lantus o Caneta descartável com insulina: insulina Lantus e caneta Solostar o Caneta reutilizável com o respectivo refil: caneta Clikstar e Lantus refil. • Recentemente foi lançada a insulina glargina em uma apresentação mais concentrada (Toujeo®), contendo 300 UI/mℓ – a Lantus® contém 100 UI/mℓ. o Essa apresentação seria vantajosa para pacientes com alta resistência à insulina, que requerem doses elevadas da medicação. INSULINA DETEMIR • É um análogo da insulina de ação longa, em pH neutro, com leve pico e duração menor que a glargina, com objetivo de manter a glicemia basal. • É formada pela remoção da lisina na posição 30 da cadeia B e adição de uma cadeia de ácido graxo à lisina na posição 29 da cadeia B. • Está aprovada para uso em crianças a partir de 2 anos de idade. o Uso subcutâneo o Início de ação: 1 h o Pico de ação: discreto em 3 a 9 h o Duração de ação: 6 a 23 h o Aplicar 1 ou 2 vezes ao dia. • Apresentações comerciais: o Frasco para aplicação com seringa: não há no mercado o Caneta descartável com insulina Detemir: insulina Levemir e caneta Flexpen o Caneta reutilizável com o respectivo refil: caneta Novopen 3 e insulina Levemir refil. INSULINA DE AÇÃO ULTRALENTA INSULINA DEGLUDECA • É um análogo da ação ultralonga de insulina, criada pela eliminação da treonina na posição 30 da cadeia B e adição de um ácido graxo ao resíduo de lisina na posição 29 da cadeia B. • Após a aplicação, forma multi-hexâmeros no tecido subcutâneo, que se dissociam lentamente, sendo absorvida de maneira contínua e lenta pela circulação, tornando-se uma insulina plana, sem pico de ação e com maior estabilidade, garantindo meia-vida mais prolongada. o Uso subcutâneo o Início de ação: 21 a 41 min o Pico de ação: não apresenta o Duração da ação: 42 h o Aplicação: uma vez ao dia. Permite flexibilização dos horários de aplicação. • Apresentações comerciais: o Frasco para aplicação com seringa: não há no mercado o Caneta descartável com insulina Degludeca: caneta FlexTouch® e insulina Tresiba o Caneta reutilizável com o respectivo refil: caneta Novopen® e insulina Tresiba Penfill INSULINAS PRÉ-MISTURA OU INSULINAS BIFÁSICAS • São apresentações comerciais já formuladas que utilizam composição mista de insulina basal e rápida com diferentes tipos de insulina e em diferentes proporções. • Seu uso permite a diminuição de aplicações e facilidade de adesão para pacientes com alguma restrição ao uso. • Apresentam algumas desvantagens em indivíduos com DM1, em especial pela impossibilidade de ajustes mais precisos, aumentando o risco de hipoglicemias. • O uso de pré-mistura, contudo, pode ser útil para pacientes com restrições visuais ou motoras, que tenham dificuldade na realização correta e segura da mistura de duas insulinas de ações diferentes, para indivíduos que se oponham a um esquema de insulinização mais intensivo e para pacientes com DM2 que tenham necessidade de insulinização plena. • No mercado brasileiro, existem formulações de pré-mistura com insulinas humanas (NPH e regular, na formulação 70/30) e com análogos de insulina (lispro protamina + lispro, nas formulações 75/25 e 50/50, e asparte protamina + asparte, na formulação 70/30). • Apresentações comerciais (uso subcutâneo) o Humulin 70/30 (70% NPH/30% Regular): refil para caneta Humapen Luxura ou frasco para aplicar com seringa o Humalog MIX 25/75 (25% Lispro/75% Lispro com Protamina): Kwikpen caneta o descartável ou refil para caneta Humapen Luxura o Humalog MIX 50/50 (50% lispro/50% Lispro com Protamina): Kwikpen caneta descartável ou refil para caneta Humapen Luxura o Novomix 70/30 (insulina Aspart com Protamina 70%/Aspart 30%): Flexpen caneta descartável ou refil para caneta Novopen 3. INSULINA INALÁVEL • Está em comercialização desde fevereiro de 2015, nos EUA, uma nova insulina inalável: Afrezza. • Trata-se de um análogo de insulina também produzido por técnica de DNA recombinante com perfil de ação semelhante às insulinas ultrarrápidas. • Está disponível em cápsulas para inalação contendo 4 e 8 UI. • Está contraindicada em pacientes com doença pulmonar crônica e fumantes. • Antes do início do uso, é recomendável a avaliação clínica e a realização de espirometria, a qual deve ser repetida em 6 meses e depois anualmente. • O uso não foi liberado para crianças. Ainda não está disponível no Brasil. ESQUEMAS DE INSULINOTERAPIA • Para o início da insulinização, deve-se calcular a dose total de insulina que será utilizada, de acordo com o peso da pessoa e as condições clínicas do paciente. • O início do tratamento deve ser feito com 0,3-0,5U/kg/dia, via subcutânea. o Em indivíduos adultos, a dose inicial de insulina calculada é 0,5 UI/kg/dia e a dose plena usual de insulina varia entre 0,7 e 1 UI/kg/dia, dependendo do grau de sensibilidade à insulina daquele indivíduo. o Nos idosos ou em outras condições que aumentem o risco de hipoglicemia, a dose total inicial pode ser reduzida para 0,3 UI/kg/dia. o Na gestação, em vigência de infecções graves, durante o uso de corticoides e no período da puberdade, geralmente a resistência à insulina é maior e, consequentemente, a dose calculada de insulina também precisa ser maior. • Existem três esquemas de insulinoterapia mais utilizados: ESQUEMA 1: DUAS APLICAÇÕES • Neste esquema, recomenda-se fazer 2/3 da dose diária na primeira tomada (manhã) e 1/3 na segunda tomada (noite). • A proporção NPH/regular deve ser de 70/30% na primeira tomada e de 50/50%, na segunda tomada. • Este esquema deve ser ajustado pelas três glicemias capilares pré-prandiais e uma antes de dormir. • Observe a seguinte regra prática: o 1- Glicemia matinal – depende da NPH do jantar da véspera; o 2- Glicemia pré-almoço – depende da regular da manhã; o 3- Glicemia pré-jantar – depende da NPH da manhã; o 4- Glicemia antes de dormir – depende da regular da noite. • O ideal é que se aplique a regular no subcutâneo da barriga (absorção mais rápida) e a NPH na coxa ou nádegas (absorção mais lenta), porém pode-se aplicar as duas insulinas misturadas na mesma seringa. • As demais insulinas não devem ser misturadas na mesma seringa. • A insulina regular deve ser aplicada cerca de 30-45min antes da refeição. • A troca da insulina regular pelos análogos da insulina de ação ultrarrápida – insulina lispro, glulisina ou aspart – permite a aplicação 15 minutos antes ou até na hora da refeição, com maior comodidade ao paciente (geralmente criança ou adolescente, pois permite que se aplique a dose de insulina com base na contagem de carboidratos que o indivíduo ingeriu a cada refeição, em média 1 U de insulina para cada 4 g de carboidratos). • Existem várias desvantagens com o esquema de duas aplicações: o (1) o período matinal antes da aplicação da insulina pode ficar relativamente “desprotegido”, permitindo a hiperglicemia matinal; o (2) eventualmente, a insulina NPH da manhã pode ser insuficiente para controlar o pico glicêmico pós-almoço; o (3) o paciente não pode “flexibilizar” suas refeições ou exercício físico – isto é, ele tem que seguir uma rotina muito rigorosa no tocante aos horários e quantidade de alimentos ingeridos. ▪ Glicemia matinal – depende da NPH do jantar da véspera; ▪ Glicemia pré-almoço – depende da regular da manhã; ▪ Glicemia pré-jantar – depende da NPH da manhã; ▪ Glicemia antes de dormir – depende da regular da noite. • O período final do sono e início do amanhecer é marcado pelo pico circadiano do GH, um hormônio hiperglicemiante, aumentando a produção hepática de glicose. o Hiperglicemia matinal no paciente que tomou a NPH antes do jantar, pois o seu efeito já está diminuído no momento em que o paciente acorda pela manhã. oA este evento denomina-se fenômeno do alvorecer ou, do inglês, dawn phenomenon. o É a principal explicação para a hiperglicemia matinal. o Para controlar o fenômeno do alvorecer, deve-se simplesmente passar a tomada para antes de dormir, em vez de antes do jantar, separando- -se da injeção de insulina regular, que continua sendo pré-jantar (agora três aplicações diárias). • O simples aumento da NPH pré-jantar pode desencadear o chamado efeito Somogyi, definido por uma hiperglicemia matinal de rebote provocada pelo pico dos hormônios contrarreguladores (glucagon, adrenalina, cortisol e hormônio do crescimento) em resposta à hipoglicemia da madrugada (às 3h). • O tratamento deste fenômeno seria a redução da insulina NPH noturna (do jantar) ou passar a tomada para antes de dormir (esquema de múltiplas aplicações). ESQUEMA 2: MÚLTIPLAS DOSES DE INSULINA (ESQUEMA BASAL-BOLUS) • Tentar reproduzir a resposta fisiológica. • Uma insulina de ação intermediária ou prolongada substitui a liberação basal de insulina pelo pâncreas, enquanto que uma insulina de ação rápida ou ultrarrápida simula o pico pós-prandial. o É o esquema basal/bolus! • Um adulto não diabético e de peso normal, aproximadamente 25 unidades de insulina chegam diariamente ao sistema porta, sendo: o 50 a 60% de forma gradual e lenta (insulinemia basal); o 40 a 50% é liberada de maneira rápida em picos (bolus de insulina) • Na prática, são possíveis as seguintes combinações: o NPH (ou detemir) antes do café da manhã e antes do jantar ou ceia (insulina basal) + insulina regular (ou, de preferência, lispro, aspart ou glulisina) antes do café da manhã, almoço e jantar (bolus); o NPH antes do café da manhã, almoço e jantar (insulina basal) + insulina regular (ou, de preferência, lispro, aspart ou glulisina) antes do café da manhã, almoço e jantar (bolus); o Glargina/degludec antes do café da manhã (insulina basal) + insulina regular (ou, de preferência, lispro, aspart ou glulisina) antes do café da manhã, almoço e jantar (bolus); o Glargina (ou detemir) antes do café da manhã e antes do jantar (insulina basal) + insulina regular (ou, de preferência, lispro, aspart ou glulisina) antes do café da manhã, almoço e jantar (bolus). • OBS.: Alguns pacientes podem necessitar de doses de ultrarrápida antes de outras refeições, como lanche ou ceia, para atingir um controle adequado. • A escolha do esquema ideal dependerá da preferência do paciente, seu estilo de vida, resposta individual ao tratamento e custo. • A grande vantagem dos esquemas com análogos é o menor risco de hipoglicemia; • A dose da insulina bolus a ser administrada antes das refeições pode ser calculada de diversas maneiras. Como vimos, a dose total de insulina bolus deve corresponder a aproximadamente 50% das necessidades de insulina do paciente. A melhor maneira de calcular a dose é através da contagem de carboidratos. ESQUEMA 3: INFUSÃO SUBCUTÂNEA CONTÍNUA OU BOMBAS DE INSULINA • Uma bomba de infusão injeta de maneira constante a insulina através de um cateter colocado pelo próprio paciente no tecido subcutâneo, sendo substituído a cada três dias. • Esse dispositivo funciona com insulina ultrarrápida, podendo ser programado para liberar uma dose basal de insulina e, através de um toque antes das refeições, liberar um bolus para cobrir o período pós-prandial (utilizando o mesmo cálculo da dose conforme o esquema com múltiplas doses). • Este método, assim como o anterior, é considerado adequado para o tratamento intensivo dos pacientes com DM tipo 1, possuindo vantagens e desvantagens com relação ao esquema de múltiplas doses. • As vantagens são: o Elimina a necessidade de múltiplas aplicações de insulina; o Frequentemente melhora os níveis de A1C; o Obtêm-se menores variações da glicemia; o Reduz os episódios de hipoglicemia grave; o Elimina os efeitos imprevisíveis das insulinas de ação intermediária ou longa; o Permite a prática de exercícios físicos sem ingerir grandes quantidades de carboidratos. • As desvantagens são: o Elevado custo do aparelho e sua manutenção; o Risco de infecção no local de inserção do cateter; o Risco de obstrução do cateter, levando à cetoacidose diabética. • A ADA recomenda que este método seja utilizado por profissionais com experiência, com equipe multiprofissional treinada e em pacientes motivados e que estejam dispostos a seguir as recomendações do tratamento (contagem de carboidratos, automonitoração glicêmica etc.) e sejam capazes de manusear o aparelho. PASSOS PARA O CÁLCULO DA DOSE DE INSULINA BOLUS PRÉ-PRANDIAL CONFORME CONTAGEM DE CARBOIDRATOS PASSO 1: calcular a razão insulina/carboidrato. Esta razão é calculada pela fórmula: 500/dose diária total de insulina. PASSO 2: calcular a dose do bolus “alimentação” de acordo com a quantidade de carboidratos a ser ingerida na refeição. PASSO 3: calcular a dose de bolus “corretiva”, ou seja, a dose necessária para corrigir uma possível hiperglicemia pré-refeição. A dose corretiva = glicemia atual – meta glicêmica/fator de sensibilidade. O fator de sensibilidade é definido como a quantidade de glicose sanguínea que diminuirá após duas a quatro horas de uma unidade de insulina bolus. O fator de sensibilidade é calculado pela fórmula: 1.500/dose diária total de insulina. PASSO 4: calcular a dose total de bolus = dose bolus alimentação + dose bolus corretiva. COMPLICAÇÕES AGUDAS DA DIABETES MIELLITUS TIPO 1 • Entre as diversas complicações agudas do diabetes, quatro se distinguem pela sua frequência: hipoglicemia, cetoacidose diabética, estado hiperosmolar não cetótico e cetoacidose alcoólica HIPOGLICEMIA • Hipoglicemia é a complicação mais frequente do tratamento do DM e a causa mais comum de coma nesses pacientes • Geralmente em pacientes sabidamente diabéticos, que deixam de se alimentar regularmente, abusam de insulina ou submetem-se a algum exercício físico imprevisto. • Pode também ser precipitada por falência renal ou hepática, etilismo agudo, drogas ou associação com outras endocrinopatias, como a doença de Addison. • Classificação ADA: o HIPOGLICEMIA GRAVE: evento que requer a assistência de outra pessoa para administração de carboidrato, glucagon etc. Esta forma implica em neuroglicopenia suficiente para induzir convulsão, alteração do comportamento ou coma; o HIPOGLICEMIA SINTOMÁTICA DOCUMENTADA: evento com sintomas e glicemia < 70 mg/dl; o HIPOGLICEMIA ASSINTOMÁTICA: evento sem sintomas típicos, mas com glicemia < 70 mg/dl; o HIPOGLICEMIA SINTOMÁTICA PROVÁVEL: evento no qual os sintomas não são confirmados por glicemia; o HIPOGLICEMIA RELATIVA: evento no qual o paciente com DM apresenta sintomas de hipoglicemia com glicemia > 70 mg/dl. • Deve-se pensar em hipoglicemia em todo paciente que dê entrada em um serviço de emergência em coma sem causa evidente, principalmente se for diabético ou houver suspeita de etilismo. QUADRO CLÍNICO • Tríade de Whipple: o Glicemia <45 mg/dl o Sintomas Adrenérgicos ou neuroglicopênicos o Resolução de sintomas com correção da glicemia • Sinais e sintomas relacionados ao excesso de adrenalina circulante (sudorese, tremor, taquicardia, ansiedade e fome) e à disfunção do sistema nervoso central por deficiência de seu principal substrato energético (cefaleia, vertigem, mal estar, escurecimento da visão, confusão mental, convulsão e coma). • Há casos de deficit neurológico focal reversível desencadeado pela hipoglicemia. CONDUTA • Na suspeita clínica de hipoglicemia grave é a imediata coleta de sangue para avaliação da glicemia seguida da administração de 25 a 50 g de glicose intravenosa (50 a 100 ml de glicose a 50%), enquanto se aguarda o resultado. • Sempre que houver a possibilidadede associação com etilismo crônico ou desnutrição, a administração de glicose deverá ser precedida pela aplicação intramuscular – ou intravenosa lenta – de 100 mg de tiamina ou 5-10 ampolas de complexo B, para prevenção do desenvolvimento de encefalopatia de Wernicke. • Pacientes conscientes com sintomas de hipoglicemia devem ingerir alimento contendo açúcar. • Para pacientes inconscientes, que apresentam hipoglicemia em ambiente extra-hospitalar, um acompanhante (familiar, amigo etc.) pode aplicar glucagon IM ou SC (1 mg para adultos e 0,5 mg para crianças), caso disponível, que costuma restaurar a consciência do paciente em 10-15 minutos. • Uma vez consciente, o paciente deve ingerir algo com açúcar. • A resposta à infusão de glicose é imediata. • Entretanto, se a hipoglicemia for consequente do uso excessivo de insulina de liberação lenta (NPH) ou de hipoglicemiante oral, poderá ocorrer nova queda após utilização da dose de glicose oferecida. o Nestes casos deve-se manter uma infusão contínua de glicose (soro glicosado a 10%) e estreita monitoração da glicemia por, pelo menos, 24 horas. • Pacientes que apresentam hipoglicemia relacionada ao uso de acarbose devem ser tratados também com glucagon, já que a ingestão de alimentos contendo açúcar pode não ser útil, pois a absorção intestinal de glicose está prejudicada pela medicação. CETOACIDOSE DIABÉTICA (CAD) • Representam de 4 a 9% das internações hospitalares em pacientes com DM • Tríade: o Glicemia maior que 250mg/dl o pH arterial <7,3 o Cetonemia positiva ▪ (na indisponibilidade da cetonemia, podemos inferir sua presença por cetonúria fortemente positiva). • O paciente apresenta-se com glicemias progressivamente maiores, ocorrendo assim o processo de diurese osmótica levando a desidratação e aumento da osmolaridade. • A acidose se soma ao quadro quando há alteração do metabolismo dos lipídios. o Isso ocorre quando a ausência relativa de insulina for absoluta ou quase absoluta o Há o aumento da produção de glucagon o Diminui a produção de uma enzima denominada malonil coenzima A, que tem a função de inibir a produção da carnitinapalmitil-transferase, que faz o transporte de ácidos graxos para as mitocôndrias hepáticas o Há produção de energia usando como substrato os lípides o O problema é que esse processo produz ácido aceto-acético, ácido betahidróxibutírico e acetona, estabelecendo o quadro de cetoacidose. o Há consumo da reserva alcalina e diminuição posterior do pH sanguíneo. o Ocorre também uma grande produção de lípides e triglicérides, podendo inclusive ser desencadeadas complicações da hipertrigliceridemia como a pancreatite. ACHADOS CLÍNICOS • Normalmente os pacientes apresentam pródromos com duração de dias de poliúria, polidipisia, polifagia e mal-estar indefinido. • O paciente apresentará, na maioria das vezes, desidratação, podendo estar hipotenso e muitas vezes taquicárdico, embora possa eventualmente estar com extremidades quentes e bem perfundido, devido ao efeito de prostaglandinas. • Os sinais e sintomas da acidose podem aparecer com taquipneia, surgindo o ritmo respiratório de Kussmaul quando o pH do paciente se encontra entre 7,0 7,2, sendo a cetona bastante volátil e, portanto, eliminada pela respiração, o que leva ao aparecimento do hálito cetônico que também é útil ao diagnóstico. • O paciente normalmente se encontra alerta, sendo as manifestações neurológicas e alterações do nível de consciência muito mais correlacionadas com a osmolaridade do que com a acidose e, portanto, muito mais prevalentes no doente com EHH em relação ao paciente com CAD. • Menos de 20% dos pacientes com CAD apresentam alteração do nível de consciência. • O achado de febre não é frequente nos pacientes com cetoacidose, embora mesmo com sua exclusão não se pode descartar que o fator precipitante seja infeccioso. • Pacientes com CAD apresentam frequentemente dor abdominal (30%), náuseas e vômitos. o Esses sintomas melhoram com a hidratação DIAGNÓSTICO • É baseado em critérios laboratoriais. • É necessária a coleta de glicemia, gasometria, corpos cetônicos e sódio para avaliação da presença de acidose, cetonemia e aumento da osmolaridade. • Outras alterações incluem leucocitose secundária ao episódio de estresse, embora valores de leucócitos > 25.000 céls./mm3 sugiram a presença de infecção. • Pode ocorrer também o aumento de hematócrito e hemoglobina e a desidratação, assim como o aumento de ureia e creatinina. • O potássio sérico inicialmente tenderá a estar elevado devido ao quadro de acidose, mas o potássio corporal total estará diminuído. • Com o tratamento da hipocalemia, talvez seja necessário repor esse eletrólito. • Fósforo e outros elementos também podem ser espoliados devido à diurese osmótica desses pacientes. • Os seguintes exames complementares devem ser solicitados nas emergências hiperglicêmicas: o Gasometria arterial inicialmente e depois venosa (repetir a cada 4 horas). o Glicemia e posteriormente glicemia capilar (de preferência a cada 1/1 hora). o Potássio, sódio, fósforo, cloro e outros eletrólitos (dosagem sérica de K inicialmente a cada 2 horas. Os outros, inclusive fósforo, a cada 12 horas). o Hemograma completo. o Urina tipo 1. o Cetonemia ou cetonúria: preferencialmente dosar o beta-hidroxibutirato, pois cerca de 80% da produção de corpos cetônicos é na forma de beta- hidroxibutirato, mas as fitas reagentes de urina só avaliam o ácido acetoacético. ▪ Em situações de sepse associada, o beta-hidroxibutirato se torna 100% dos corpos cetônicos, assim as fitas reagentes de urina podem ter resultados falso-negativos para corpos cetônicos. o Eletrocardiograma. o Radiografia de tórax (procura de foco infeccioso associado). o Outros exames solicitados conforme suspeita clínica. • Talvez o único paciente que prescinda da procura ativa por fator precipitante do episódio de cetoacidose seja o diabético do tipo 1, que apresenta crise correlacionada claramente com a interrupção do esquema terapêutico. • Ao avaliar pacientes com suspeita de EHH, lembre-se de que é necessário avaliar a osmolaridade, que é calculada através da seguinte fórmula: Osmolaridade efetiva = 2 × (Na+ corrigido) + glicemia/18 (valores > 320 mosm/kg indicam hiperosmolaridade) • Vale lembrar que a hiperglicemia pode falsear o resultado da mensuração de sódio, assim o ideal é sempre usar a fórmula do sódio corrigido para calcular a osmolaridade: Na+ corrigido = Na+ medido + + 1,6 × glicemia medida – 100 TRATAMENTO • A CAD era uma patologia invariavelmente fatal até 1926, quando pela primeira vez se aplicou insulina regular para o seu tratamento. • Hoje a mortalidade em centros de referência norte-americanos é menor que 3%, sendo grande parte dela atribuída aos fatores precipitantes como infecções e eventos cardiovasculares. • Deve-se pontuar que a CAD existe quando o pH é menor que 7,30. • A existência de hiperglicemia com cetose e sem acidemia (pH > 7,30) é denominada de cetose diabética. • Os quadros com tal descompensação diabética podem ser revertidos em algumas horas, na maioria das vezes sem a necessidade de internação. • O esteio do tratamento é a hidratação, insulinoterapia e correção de fatores precipitantes. HIDRATAÇÃO • A hidratação é fundamental no manejo inicial das emergências hiperglicêmicas e, isoladamente, pode diminuir em 12% os níveis glicêmicos. • A hidratação a princípio tem como alvo inicial a estabilização hemodinâmica. Iniciamos com 1.000-1.500 mL de solução de NaCl a 0,9% na primeira hora. • Se o paciente permanece hipotenso, pode ser necessário repetir ainda na primeira hora (no EHH, em particular, podem ser necessários vários litros).• • • • • • • • Na segunda fase da hidratação mantemos 250-500 mL (4 mL/kg) por hora. o Em pacientes com Na corrigido < 135 mEq/L mantemos solução salina a 0,9%. o Caso a natremia seja normal ou aumentada deve-se utilizar salina a 0,45%. • Quando a glicemia chegar a 250-300 mg/dL a hidratação continua, mas associando glicose a 5-10% com a solução salina. • A diluição pode ser feita usando-se 1 litro de solução glicosada acrescido de 20 mL de solução de NaCl 20%. • A velocidade de infusão continua de 250-500 mL/hora. INSULINOTERAPIA • A insulinoterapia é realizada concomitantememente com a hidratação endovenosa, exceto quando o paciente apresenta hipocalemia (com K < 3,3 mEq/L) e hipotensão arterial, caso em que se deve aguardar a hidratação e a reposição de potássio para iniciar o uso da insulina. o Se K < 3,3 mEq/L - deve-se repor 25 mEq de potássio antes de iniciar a insulinoterapia (aproximadamente 1 ampola de 10 mL de solução de KCl 19,1%). • Geralmente utiliza-se bomba de infusão contínua endovenosa, com dose inicial de 0,1 U/kg de insulina em bolus e depois inicia-se a infusão da bomba em 0,1 U/kg/hora. • Outra opção é infusão contínua inicial de 0,14 U/kg/hora sem bolus inicial. • A solução de insulina para infusão contínua pode ser preparada com 50 unidades de insulina em 250 mL de solução fisiológica; assim, 5 mL correspondem a 1 U de insulina. • O ideal no preparo desta solução é que se desprezem 50 mL da solução, pois a insulina é adsorvida no plástico. • Alternativamente, pode-se utilizar insulina regular IM ou subcutânea (SC), usando dose em bolo inicial de 0,4 unidades/kg, metade dessa dose inicial em bolus EV e metade via IM ou SC e depois mantendo dose de 0,1 unidade/kg/hora IM ou SC, observando a taxa de queda da glicemia, que deve ser mantida entre 50 a 70 mg/dL/hora. • A glicemia capilar é mensurada de 1/1 hora. • Espera-se uma queda da glicemia de 50-70 mg/dL/hora. • Caso a glicemia caia em níveis menores que 50 mg/dL é recomendável dobrar a taxa de infusão; se ocorrer redução maior que 70 mg/dL, recomenda-se diminuir a taxa de infusão pela metade. • A bomba de infusão pode ser desligada quando pelo menos dois dos três critérios estão presentes: o pH > 7,3. o Ânion gap ≤12. o Bicarbonato ≥15. • Para desligar a bomba de infusão contínua deve-se esperar pelo menos 1 hora da ação da primeira dose de insulina regular SC, e posteriormente prosseguir com insulina SC conforme glicemia capilar a cada 4/4 horas. • Calcula-se a dose de insulina de longa duração verificando as doses de insulina nas últimas 24 horas e utilizando dois terços dessa dose total ou 0,6 U/kg de insulina NPH, outra forma de longa duração. REPOSIÇÃO DE POTÁSSIO (K) • Em relação à reposição de K, caso os níveis de K sejam menores que 3,3 mEq/L, deve- se repor 25 mEq de potássio em 1 L de solução de NaCl 0,9% e repetir a dosagem de K. • Só se inicia a insulinoterapia após níveis de K > 3,3 mEq/L. • Pacientes com K entre 3,3-5,0 mEq/L devem repor 25 mEq de potássio a cada litro de solução de hidratação e dosar K a cada 2 ou 4 horas. • Pacientes com K > 5 mEq/L só devem iniciar a reposição de K quando os valores forem < 5 mEq/L. REPOSIÇÃO DE BICARBONATO • A reposição de bicarbonato de sódio não demonstrou benefício em estudos e só é indicada em pacientes com pH < 6,9 com reposição de 100 mEq EV de bicarbonato em 2 horas com coleta de gasometria após 1-2 horas (100 mL de solução de bicarbonato 8,4%). REPOSIÇÃO DE FÓSFORO • A reposição de fósforo só é indicada em pacientes com as seguintes condições: o Disfunção cardíaca grave e arritmias. o Fraqueza muscular e insuficiência respiratória. o Rabdomiólise e anemia significativa. o Concentração sérica < 1,0 mEq/L. • Quando indicada, a reposição é realizada com 25 mEq de fosfato de potássio, que repõe K além de fósforo, substituindo a solução de cloreto de potássio (KCl). SISTEMA DE DUAS BOLSAS • Devido às diferentes necessidades de fluidos, eletrólitos e glicose ao longo do tratamento, modificações frequentes são necessárias durante a terapia intravenosa da CAD. • No sistema convencional de uma bolsa, se um paciente, durante determinado momento do tratamento, estiver em uso de SG5% e apresentar queda dos níveis glicêmicos além do desejado, uma nova bolsa com maior conteúdo de dextrose será prescrita e a atual desprezada, gerando maiores custos. • Em resposta às situações como esta, o sistema de duas bolsas foi introduzido no Hospital da Filadélfia na década de 1990. • Consiste na administração simultânea de duas bolsas, que possuem o mesmo conteúdo de eletrólitos, porém diferentes concentrações de dextrose, conectadas por uma conexão em Y. INDICAÇÕES DE INTERNAÇÃO E TERAPIA INTENSIVA • Todos os pacientes com cetoacidose devem ser internados até resolução • As indicações de internação em UTI incluem as seguintes ocorrências: o Desconforto respiratório agudo. o Acidose com pH < 6,9. o Choque cardiogênico. o Edema cerebral. ESTADO HIPEROSMOLAR HIPERGLICÊMICO (EHH) • O EHH, por sua vez, é definido por: o Glicemia > 600 mg/dL. o Osmolaridade > 320 mosm/kg. o pH arterial > 7,3. COMPLICAÇÕES DA DIABETES MIELLITUS TIPO 1 COMPLICAÇÕES MICROVASCULARES RETINOPATIA DIABÉTICA • A retinopatia diabética é uma das principais causas de cegueira em indivíduos entre 20-74 anos nos países desenvolvidos, ocorrendo em quase 100% dos diabéticos tipo 1 após 20 anos, tratados com a terapia convencional, e em 60% dos pacientes diabéticos tipo 2 após o mesmo período. • No DM tipo 1, a retinopatia já pode aparecer após três a cinco anos de doença, porém raramente surge antes da puberdade, enquanto alguns diabéticos tipo 2 já apresentam retinopatia quando do seu diagnóstico, devido ao atraso no reconhecimento do DM tipo 2, que pode variar em média de 4-7 anos. • Estima-se que no diabético tipo 2 esta complicação apareça após cinco a oito anos do início da hiperglicemia, porém, há relatos de retinopatia diabética em pacientes com mera intolerância à glicose. • A Retinopatia Diabética (RD) é classificada em: o RD não proliferativa o RD proliferativa o Maculopatia diabética. • A RD não proliferativa é dividida em formas muito leve, leve, moderada e grave, esta última chamada de RD pré-proliferativa. • Na microcirculação da retina, a hiperglicemia pode contribuir para a perda de pericitos (células de reserva). • A perda dessas células, associada à perda de adesão entre as células endoteliais, parece contribuir para a formação de microaneurismas. • Essas condições favorecem o desenvolvimento de edema. • Ocorre ainda expansão de zonas avasculares entre os capilares que, associadas aos distúrbios da autorregulação vascular, modificam o aporte sanguíneo, levando à instalação de áreas de hipóxia crônica, que, em última análise, contribuem para a proliferação vascular observada na retina. RD NÃO PROLIFERATIVA (OU RETINOPATIA DE FUNDO) • Esta é a forma mais frequente de RD, sendo encontrada em 90% dos casos. • A lesão inicial ocorre no endotélio da microvasculatura retiniana. • A parede vascular torna-se frágil, levando à formação dos microaneurismas • O aumento da permeabilidade vascular permite o extravasamento de material proteináceo e lipídico em alguns pontos, levando ao aparecimento dos exsudatos duros • Com a progressão da doença, ocorre edema endotelial, descamação de células para o lúmen, bem como a proliferação intraluminal, levando à obliteração de pequenos vasos. • A agregação plaquetária e o sistema de coagulação ativado contribuem para esse fenômeno. • As hemorragias intrarretinianas em chama de vela são decorrentes da rotura de vasos adjacentesà obstrução. • Podem surgir pontos de isquemia retiniana, aparecendo como manchas algodonosas • A fragilidade venular leva à formação das chamadas “veias em rosário”. RD NÃO PROLIFERATIVA LEVE: • Microaneurismas ± exsudatos duros ± pequenas e esparsas hemorragias intrarretinianas em chama de vela. • Os exsudatos duros são resultado do extravasamento de lipídios e proteínas plasmáticas pelos microaneurismas e capilares com maior permeabilidade. • Como as partículas maiores não são reabsorvidas, formam os exsudatos duros, que se apresentam como lesões amareladas na fundoscopia. RD NÃO PROLIFERATIVA MODERADA: • mais que a RD leve e menos que a RD grave • A visão do paciente costuma ser poupada nesta fase, a não ser que as lesões ocupem a mácula (maculopatia diabética). RD NÃO PROLIFERATIVA GRAVE (PRÉ-PROLIFERATIVA) • Esta é a RD não proliferativa grave, marcada por múltiplas lesões isquêmicas na retina. • Há mais de 20 hemorragias intrarretinianas em cada um dos quatro quadrantes, e/ou veias em rosário em pelo menos dois quadrantes, e/ou alterações microvasculares intrarretinianas (IRMA) proeminentes em pelo menos um quadrante. • As lesões do tipo IRMA podem simular os neovasos da RD proliferativa. • Surgem também duplicações venosas e veias em “formato ômega”. • A chance da RD não proliferativa grave evoluir para RD proliferativa em um ano é de 50%. • É decorrente do agravamento da isquemia retiniana, que deriva da oclusão de capilares e de arteríolas. • Outras características dessa fase da doença são o aparecimento de alterações venosas marcantes (dilatação intensa, tortuosidade excessiva, aparência em contas de rosário, reduplicação etc.), agrupamentos de hemorragias, exsudatos moles ou algodonosos e extensas áreas de má perfusão capilar, vistas apenas por angiografia. • Os exsudatos moles, ao contrário dos duros, representam áreas de microinfartos retinianos, aparecendo na fundoscopia como áreas esbranquiçadas ou branco-cinzentas, de contornos imprecisos. • Não são específicos da RD, podendo ser observados na HAS, doenças do colágeno e oclusão da veia central da retina. RD PROLIFERATIVA • Este é o tipo mais grave e ameaçador de retinopatia diabética. • Devido à isquemia retiniana difusa e acentuada, são produzidos fatores locais de crescimento vascular, promovendo uma angiogênese descontrolada. Dentre esses fatores, destacamos o VEGF (fator de crescimento do endotélio vascular), o IGF-1 (fator de crescimento insulina-símile) e o fator de crescimento fibroblasto básico. • O VEGF é particularmente mitogênico para as células do endotélio vascular, levando ao aumento da vascularização – neovascularização – e aumento da permeabilidade da barreira hematorretiniana. • O fator derivado do epitélio pigmentado (PEDF) parece ter efeito contrário ao VEGF, inibindo a neovascularização. Evidências indicam aumento do VEGF e redução do PEDF na retinopatia proliferativa. • Os neovasos podem ser identificados na fundoscopia, geralmente acompanhando a trajetória das artérias ou veias retinianas. • Estes neovasos podem se estender para o corpo vítreo e fibrosar, promovendo um fenômeno de ancoramento. • Com o passar dos anos, o tecido neovascularizado evolui para fibrose e retração. Como a retina está ancorada ao vítreo, o resultado é o descolamento de retina do tipo tração. • Se este ocorrer na região da mácula, leva à amaurose. • Outra complicação grave pode ser o rompimento dos neovasos, produzindo hemorragia vítrea. • A perda de visão ocorre quando a hemorragia atinge o eixo visual. • A formação e a fibrose dos neovasos na íris provocam glaucoma agudo. • Portanto, há três formas de amaurose na RD proliferativa: o Descolamento retiniano, hemorragia vítrea e glaucoma agudo. • Na fase proliferativa o controle glicêmico não possui a mesma influência que a observada antes do aparecimento dos sinais clínicos. • Outros fatores, incluindo fatores genéticos, GH, IGF-1, podem estar envolvidos no desenvolvimento de neovascularização retiniana. MACULOPATIA DIABÉTICA • Caracteriza-se pelo edema macular reversível (causa mais comum de sintoma visual no diabético), múltiplos exsudatos duros em volta da fóvea ou ainda pela maculopatia isquêmica (caracterizada pela falta de perfusão macular • na angiografia, com aumento da zona avascular foveal). • As maculopatias são a principais causas de perda da visão central em diabéticos. FATORES DE RISCO • Alguns fatores de risco que interferem na origem e evolução da retinopatia diabética já foram identificados. • Entre os fatores sistêmicos, destacamos: controle glicêmico, HAS concomitante, insulinoterapia, tempo de evolução do DM, presença de nefropatia diabética, puberdade, gravidez e dislipidemia. • Entre os fatores locais, podemos citar: uveítes, cirurgia de catarata, doença oclusiva vascular, glaucoma e miopia (os dois últimos parecem ter efeito protetor). • Os principais fatores associados ao aparecimento e evolução da RD são o tempo de evolução do DM e o mau controle glicêmico. TRIAGEM E TRATAMENTO DA RETINOPATIA DIABÉTICA • Um exame fundoscópico cuidadoso, feito por um oftalmologista, deve ser obtido em todo diabético tipo 1 após cinco anos de doença. • A apresentação rica em sintomas dos diabéticos tipo 1 torna de certo modo fácil precisar o início da doença • No caso do DM tipo 2, como não existe precisão na determinação do início da doença, recomenda-se o exame fundoscópico em todos os pacientes quando do diagnóstico do DM. • A partir do primeiro exame, a triagem deve ser repetida anualmente para aqueles sem retinopatia e semestralmente, no mínimo, para aqueles com retinopatia. • É importante ressaltar que os estudos randomizados demonstraram que tanto o controle glicêmico rígido quanto o controle da hipertensão arterial reduzem a incidência e a progressão da retinopatia diabética. • Um fato surpreendente é a piora da retinopatia, especialmente pelo aparecimento de novas manchas algodonosas (isquemia local), nos primeiros meses após a terapia intensiva com insulina, devido, provavelmente, à obliteração de pequenos vasos retinianos previamente subocluídos, em resposta à diminuição do volume intravascular. • A RD não proliferativa, sem comprometimento macular, geralmente não requer tratamento específico. Já o edema de mácula indica o uso de anti-VEGF intraocular. • A fotocoagulação a laser localizada fica como opção em pacientes refratários ou não aderentes à terapia. • Este procedimento previne que a lesão atinja o centro macular (fóvea), responsável pela acuidade visual. • O mecanismo é a parada do extravasamento capilar pela destruição dos neovasos em determinados pontos. • Recentemente, foram introduzidos na prática médica os anticorpos monoclonais anti-VEGF (ex.: bevacizumab, ranibizumab – de administração intravítrea), que podem ser usados isoladamente ou em associação à fotocoagulação a laser para o tratamento do edema macular diabético. • A presença de retinopatia diabética proliferativa sempre indica o tratamento específico, que deve ser feito com fotocoagulação com laser panretiniana . • Este procedimento é feito em toda a periferia da retina e está associado à regressão dos neovasos. • O mecanismo é desconhecido, mas uma das hipóteses mais aceitas é que a necrose de uma extensa árearetiniana reduz a produção local de fatores de crescimento, responsáveis pela angiogênese descontrolada • Como a retina destruída é apenas a periférica, não há comprometimento iatrogênico da acuidade visual. • O que pode ocorrer é uma visão atunelada (perda da visão periférica). • A vitrectomia está indicada para os pacientes com hemorragia vítrea e/ou descolamento de retina, podendo ser também indicada na presença de neovascularização muito intensa mesmo na ausência de hemorragia vítrea.• Outras complicações oculares dos pacientes diabéticos são a catarata e o glaucoma. o A catarata pode ser explicada por dois mecanismos: glicosilação das proteínas do cristalino e excesso de sorbitol levando a alterações osmóticas do cristalino que resultam em opacificação e formação de catarata. o O glaucoma de ângulo aberto, que é indolor, é a forma mais comum de glaucoma em diabéticos, sendo 1,4 vezes mais comum em diabéticos do que na população geral. o O glaucoma neovascular, que é doloroso, ocorre menos frequentemente, sendo resultado da neovascularização da íris. NEFROPATIA DIABÉTICA • O comprometimento renal decorrente do diabetes mellitus dá-se no glomérulo. • A glomerulopatia diabética é um importante fator contribuinte para a morbimortalidade desses pacientes • Sua incidência varia entre 20-40% em ambos os tipos de diabetes mellitus. • A nefropatia ou glomerulopatia diabética geralmente se apresenta ao médico com proteinúria manifesta no exame de urina convencional (EAS) ou mais de 300 mg na urina de 24h. • Estes pacientes costumam ser assintomáticos do ponto de vista renal, porém, já possuem uma glomerulopatia avançada que leva ao estado de rins terminais em menos de sete anos. • Alguns pacientes, antes de evoluírem para insuficiência renal avançada, podem desenvolver proteinúriana faixa nefrótica (> 3,5 g/24h), eventualmente com repercussão clínica (síndrome nefrótica). • A Nefropatia Diabética (ND) é a causa mais comum de insuficiência renal crônica terminal nos EUA e Europa. • A maior importância da ND reside em ser um fator de risco para HAS e doenças do aparelho circulatório, aumentando a morbimortalidade dos pacientes. • A glomerulopatia diabética é caracterizada histopatologicamente pelo processo de glomeruloesclerose difusa ou focal (lesão de Kimmestiel-Wilson, que, embora seja a mais característica da ND, não é a mais comum, nem patognomônica, também podendo ser observada na doença de cadeia leve), associado à expansão do mesângio e ao espessamento da membrana basal. • Os marcos cronológicos da nefropatia diabética, desde fases subclínicas aos rins em estado terminal, serão citados de forma sucinta: o (1) hipertrofia e hiperfiltração glomerular (há aumento do tamanho renal e hiperfunção do órgão); o (2) espessamento da membrana basal glomerular e expansão mesangial; o (3) microalbuminúria; o (4) nefropatia manifesta, caracterizada pela proteinúria franca; o (5) insuficiência renal progressiva; o (6) rins em fase terminal – síndrome urêmica. • É interessante a constatação de que quase todos os diabéticos tipo 1 apresentam hiperfiltração glomerular, contudo apenas 30% desenvolvem a nefropatia. • Isso demonstra que, apesar de haver um importante papel patogênico da hiperfiltração, outros fatores devem estar presentes para a ocorrência da nefropatia. • Na fisiopatologia da ND está envolvida a deposição em excesso de proteínas da matriz extracelular nos glomérulos. • O fator de crescimento transformador beta (TGF-beta) é um dos principais mediadores do acúmulo de proteínas da matriz extracelular na ND. • A manifestação da ND é caracterizada por proteinúria, HAS e perda da função renal (síndrome urêmica). • Os produtos de glicosilação não enzimática podem provocar alterações tanto quantitativas quanto qualitativas nos componentes da matriz extracelular, o que pode contribuir para a ocorrência de oclusão vascular glomerular. • A ativação da via dos polióis também parece ter papel fisiopatogênico na ND. • Foi demonstrada a ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona pela hiperglicemia, contribuindo para muitas das alterações patológicas observadas na ND. • A angiotensina II parece estar envolvida em muitos processos patológicos da ND, entre eles alterações hemodinâmicas, hipertrofia, acúmulo de matriz extracelular, indução de fatores de crescimento etc. • As intervenções terapêuticas devem ser feitas nas fases mais precoces, uma vez que são bem menos eficazes quando já há proteinúria significativa ou insuficiência renal. • O grande avanço na abordagem precoce está na identificação e tratamento da denominada microalbuminúria. • Esta é definida como uma pequena quantidade de albumina eliminada na urina, incapaz de ser mensurada pelos métodos convencionais, porém acima dos valores normais. • Considera-se microalbuminúria a presença de 30-300 mg albumina na urina de 24h. • Esse estágio é conhecido como nefropatia incipiente. • A sua detecção pode ser feita de modo confiável em uma amostra aleatória de urina do paciente, medindo-se a relação albumina/creatinina. • Considera-se positivo um valor > 30 mcg/mg ou mg/g. • O mecanismo da microalbuminúria é atribuído à perda das cargas aniônicas da membrana glomerular, consequente ao acúmulo de moléculas positivas (heparan sulfato proteoglicana) em seus poros. • Este efeito é dependente da hiperglicemia persistente. • Após o surgimento da macroalbuminúria (> 300 mg/24h), ocorre redução gradativa da taxa de filtração glomerular, a uma velocidade média de 12 ml/min/ ano. • Uma observação importante é que pacientes com diabetes podem também ser portadores de uma doença glomerular primária, sendo que tal situação deve ser suspeitada nos casos de uremia sem proteinúria, pois a elevação das escórias nitrogenadas sempre ocorre depois da proteinúria ou quando não houver retinopatia em um diabético com proteinúria (nefropatia e retinopatia diabética geralmente apresentam gravidade compatível) ou ainda se houver evidência de nefropatia antes de cinco anos de doença, nos casos de DM tipo 1 ou após 30 anos do diagnóstico. • São fatores de risco para o aparecimento e progressão da ND: duração da doença, microalbuminúria, mau controle glicêmico, fatores genéticos, HAS, tabagismo, hipercolesterolemia, obstrução urinária, ITU de repetição, uso de drogas nefrotóxicas. • O tratamento da nefropatia diabética baseia-se o (1) no controle glicêmico rígido; o (2) no controle da hipertensão arterial com uso preferencial dos IECA (captopril, enalapril, lisinopril) ou dos antagonistas da angio II (losartan, ibesartan, candesartan).
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