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Fernanda Carvalho, 4º semestre – tutoria 04 CASO 5- INSUFICIÊNCIA CARDÍACA: ANATOMIA DO CORAÇÃO: O sistema circulatório transporta líquido por todo o corpo. Ele é formado pelo coração, pelos vasos sanguíneos e vasos linfáticos. O coração e os vasos sanguíneos formam a rede de transporte de sangue. Por intermédio desse sistema, o coração bombeia sangue ao longo da vasta rede de vasos sanguíneos do corpo. O coração é uma bomba dupla de sucção e pressão, que impulsiona o sangue pela dupla alça infinita formada pelos circuitos pulmonar e sistêmico. As câmaras direitas do coração servem ao pulmonar e as câmaras esquerdas, ao sistêmico. O seu formato é de uma pirâmide inclinada, com o ápice em direção anteroinferior e para a esquerda, e a base oposta ao ápice (posterior). Cada lado do coração tem uma câmara de recepção (átrio) e uma câmara de sucção, compressão e expulsão (ventrículo). Tem o tamanho um pouco maior do que uma mão fechada. Então, anatomicamente se encontra no mediastino médio da cavidade torácica, voltado de trás para diante, para a esquerda e para baixo. Como correlações anatômicas temos, que o coração está superior ao músculo diafragma, medialmente aos pulmões, posterior ao osso esterno, anterior ao esôfago e inferior à veia cava superior. O pericárdio é um tecido em forma de saco que envolve todo o coração e as raízes dos seus vasos (artéria aorta, veia cava superior, veia cava inferior, tronco pulmonar e veias pulmonares). O pericárdio é considerado um Ângulo esternal Diafragma Primeira costela Mediastino superior Mediastino inferior Mediastino anterior Mediastino médio Mediastino posterior tecido fribrosseroso por possuir duas porções: o pericárdio fibroso (externo), que possui apenas uma camada, e o seroso (interno) que possui duas. As duas camadas do pericárdio seroso são separadas pela cavidade pericárdica, na qual se encontra um líquido lubrificante que faz parte do sistema hidrostático cardíaco que diminui o atrito do coração com os tecidos adjacentes. O coração pode ser dividido em três camadas. O endocárdio, miocárdio e epicárdio. o Endocárdio: é uma lâmina fina presente em toda a superfície interna do órgão e suas valvas podendo ser granular ou liso (granular quando contém trabéculas e liso quando não as tem); o Miocárdio: é a parte muscular da parede do órgão e está entre o endocárdio e o pericárdio. Ele é muito visível no septo interventricular, além de possuírem células especializadas nos ventrículos; essas células, dispostas em orientação perpendicular ao tecido de revestimento, aumentam a força de contração; o Epicárdio: faz parte na verdade do próprio pericárdio, sendo apresentado como a lâmina visceral do pericárdio seroso. FLUXO SANGUÍNEO DO CORAÇÃO: O fluxo sanguíneo através do coração é bastante lógico. Ele acontece com o ciclo cardíaco, que consiste em contrações e relaxamentos periódicos do miocárdio atrial e ventricular (tecido muscular cardíaco). A contração do miocárdio é chamada de sístole, enquanto o seu relaxamento é chamado de diástole. Note que sempre que os átrios se contraem, os ventrículos se relaxam, e vice-versa. 1. O átrio direito recebe sangue desoxigenado das veias cavas superior e inferior e do seio coronário; 2. O átrio direito contrai, empurrando sangue através da valva atrioventricular direita até o ventrículo direito. O ventrículo então se contrai, passando o sangue para o tronco pulmonar através da valva pulmonar, até que o sangue chegue aos pulmões; 3. Nos pulmões o sangue é oxigenado e em seguida se move de volta ao coração, Fernanda Carvalho, 4º semestre – tutoria 04 entrando no átrio esquerdo através das veias pulmonares; 4. O átrio esquerdo se contrai e empurra o sangue para o ventrículo esquerdo através da valva atrioventricular esquerda; 5. O ventrículo esquerdo empurra o sangue oxigenado através da valva aórtica para a aorta, a partir da qual o sangue é distribuído para todo o corpo. O ciclo cardíaco é controlado involuntariamente por um plexo autonômico nervoso chamado de plexo cardíaco. SE LIGA! São duas circulações acontecendo em paralelo: a pulmonar, que vai oxigenar o sangue, e a sistêmica, que vai levar sangue para o organismo. ÁTRIO DIREITO: O átrio direito forma a margem direita do coração e recebe sangue venoso da veia cava superior (VCS), veia cava inferior (VCI) e seio coronário. A aurícula direita, que tem formato de uma orelha, é uma bolsa muscular cônica que se projeta do átrio direito como uma câmara adicional, aumenta a capacidade do átrio e se superpõe à parte ascendente da aorta. VENTRÍCULO DIREITO: O ventrículo direito forma grande parte da face esternocostal do coração, uma pequena parte da face diafragmática e quase toda a margem inferior do coração. ÁTRIO ESQUERDO: O átrio esquerdo forma a maior parte da base do coração. Os pares de veias pulmonares direita e esquerda, avalvulares, entram no átrio de paredes finas. Possui uma porção de paredes lisas a partir da incorporação do desenvolvimento de uma porção das veias pulmonares e um apêndice auricular que é sulcado pelos músculos pectinados e que era o átrio esquerdo primitivo. A aurícula esquerda muscular, de formato tubular e sua parede trabeculada com músculos pectíneos, forma a parte superior da margem esquerda do coração e cavalga a raiz do tronco pulmonar. VENTRÍCULO ESQUERDO: O ventrículo esquerdo forma o ápice do coração, quase toda sua face esquerda (pulmonar) e margem esquerda e a maior parte da face diafragmática. Como a pressão arterial é muito maior na circulação sistêmica do que na circulação pulmonar, o ventrículo esquerdo (VE) trabalha mais do que o ventrículo direito (VD). Consequentemente, o VE tem quase o dobro da espessura do VD. VÁLVULAS CARDÍACAS: As válvulas cardíacas regulam o fluxo sanguíneo através dessas quatro câmeras do coração que eu acabei de citar. Cada ventrículo tem uma válvula de entrada e outra de saída. Cada válvula é composta por abas (cúspides ou folhetos) que se abrem e fecham como portas de um só sentido. No ventrículo direito, a válvula de entrada é a válvula tricúspide, que se abre desde o átrio direito, e a válvula de saída é a válvula pulmonar, que se abre para a artéria pulmonar. No ventrículo esquerdo, a válvula de entrada é a válvula mitral, que se abre desde o átrio esquerdo, e a válvula de saída é a aórtica, que se abre para o interior da aorta. MAU FUNCIONAMENTO DA VÁLVULA: As válvulas cardíacas podem funcionar mal devido a: o Vazamento (denominado regurgitação), incompetência ou insuficiência); o Não abertura adequada e, dessa forma, bloqueio parcial do fluxo de sangue pela válvula (denominado estenose). Ambos os problemas podem afetar intensamente a capacidade de bombeamento de sangue do coração. Às vezes, uma válvula tem ambos os problemas. Válvulas defeituosas normalmente produzem Fernanda Carvalho, 4º semestre – tutoria 04 sopros e outros sons cardíacos anormais que um médico pode ouvir com um estetoscópio. Válvulas defeituosas podem ser identificadas por meio de ecocardiografia. Muitas vezes, pequenos graus de regurgitação não são detectados com um estetoscópio, mas são detectados durante a ecocardiografia. Os médicos costumam considerar esse achado normal. Em sua maioria, as válvulas defeituosas não apresentam anormalidades graves, e não afetam a pessoa em nada. Os sintomas podem incluir inchaço da perna, falta de ar, palpitações, fadiga, dor torácicae desmaio. Muitas vezes os médicos fazem exames periódicos, pois algumas válvulas defeituosas pioram com o tempo, chegando ao ponto em que a intervenção (reparo ou substituição) é necessária para reduzir os sintomas ou prolongar a sobrevida. Os sintomas não são uma orientação confiável para a existência ou gravidade dos problemas nas válvulas. Portanto, faz-se o ecocardiograma (ultrassonografia do coração) para detectar problemas já no início. Às vezes, os médicos utilizam o teste de esforço para ajudar a monitorar as pessoas com certos distúrbios da válvula cardíaca. Em geral, nem mudanças no estilo de vida e tampouco o tratamento com medicamentos conseguem retardar a deterioração de uma válvula anormal. INSUFICIÊNCIA CARDÍACA: A insuficiência cardíaca é uma síndrome clínica caracterizada pela incapacidade do coração de atuar adequadamente como bomba, quer seja por déficit de contração e/ou de relaxamento, o que acaba comprometendo o funcionamento do organismo e, quando não tratada adequadamente, reduzindo a qualidade de vida e a sobrevida do paciente. FISIOLOGIA: Determinam-se contratilidade cardíaca (força e velocidade da contração), desempenho ventricular e demanda de oxigênio miocárdico por: o Pré-carga; o Pós-carga; o Disponibilidade do substrato (p. ex., oxigênio, ácidos graxos ou glicose); o Frequência e ritmo cardíacos; o Quantidade do miocárdio viável. O débito cardíaco é igual ao volume de ejeção multiplicado pela frequência cardíaca, mas também é influenciado por retorno venoso, tônus vascular periférico e fatores neuro-humorais. Pré-carga é a condição de carga do coração no final da sua fase de relaxamento e enchimento (diástole) um pouco antes da contração (sístole). A pré-carga representa o grau de estiramento da fibra no final da diástole e o volume diastólico final, que é influenciado por pressão diastólica ventricular e composição da parede miocárdica. Tipicamente, a pressão diastólica final do VE, especialmente se estiver acima do normal, é uma medida confiável da pré-carga. Dilatação VE e HVE e alterações da distensibilidade miocárdica (complacência) modificam a pré-carga. A pós-carga é a força que resiste à contração da fibra miocárdica no início da sístole. Ela é determinada pela pressão, raio e espessura da parede da câmara do VE no momento da abertura da valva aórtica. Clinicamente, pressão arterial sistólica sistêmica no momento em que a valva aórtica se abre, ou logo após, se correlaciona com o pico sistólico de estresse da parede, aproximando-se da pós-carga. O princípio de Frank-Starling descreve a relação entre pré-carga e desempenho cardíaco. Afirma que, normalmente, o desempenho contrátil sistólico (representado pelo volume cardíaco ou DC) é proporcional à pré-carga dentro de intervalos fisiológicos Fernanda Carvalho, 4º semestre – tutoria 04 normais (Princípio de Frank-Starling). É difícil medir a contratilidade clinicamente (porque exige cateterismo cardíaco com análise pressão/volume), mas é razoavelmente refletida pela fração de ejeção (FE), que é a porcentagem do volume diastólico final ejetado com cada contração (volume cardíaco/volume diastólico final). Geralmente pode-se avaliar a FE de maneira adequada e não invasiva com ecocardiografia, imagem nuclear ou RM. Normalmente (curva superior), à medida que aumenta a pré-carga, o desempenho cardíaco também aumenta. Entretanto, a um determinado ponto, o desempenho alcança um platô e, em seguida, declina. Em insuficiência cardíaca decorrente de disfunção sistólica (curva inferior), toda a curva é rebaixada, refletindo a redução do desempenho cardíaco a uma determinada pré-carga e, à medida que aumenta a pré- carga, o desempenho cardíaco não aumenta na mesma proporção. Com o tratamento (curva média), há melhora do desempenho, embora ele não esteja normalizado. Reserva cardíaca é a capacidade do coração de aumentar seu desempenho acima dos níveis de repouso em resposta a estresse emocional ou físico; o consumo de oxigênio corporal pode aumentar de 250 para ≥ 1.500 mL/min durante esforço máximo. Os mecanismos envolvem aumento da frequência cardíaca, volume sistólico e diastólico, volume de ejeção e extração tecidual de oxigênio (a diferença entre o conteúdo de oxigênio no sangue arterial e venoso misto ou arterial pulmonar). Em adultos jovens bem treinados, na vigência de esforço máximo, a frequência cardíaca pode aumentar de 55 a 70 bpm em repouso, para 180 bpm; o débito cardíaco pode aumentar de 6 para ≥ 25 L/min. Em repouso, o sangue arterial contém cerca de 18 mL oxigênio/dL de sangue e o sangue venoso misto ou arterial pulmonar contém cerca de 14 mL/dL. A extração de oxigênio é, portanto, cerca de 4 mL/dL. Quando a demanda aumenta, o nível pode subir para 12 a 14 mL/dL. Esses mecanismos também ajudam a compensar pela redução do fluxo de sangue tecidual na insuficiência cardíaca. FISIOTATOLOGIA: Na insuficiência cardíaca, o coração pode não suprir os tecidos com a quantidade adequada de sangue para as necessidades metabólicas; a elevação relacionada ao coração da pressão venosa pulmonar ou sistêmica pode resultar na congestão de órgãos. Essa condição pode decorrer das alterações da função sistólica, diastólica ou, geralmente, de ambas. Embora uma anormalidade primária possa ser uma mudança na função do cardiomiócito, há também mudanças na rotação de colágeno da matriz extracelular. Os defeitos cardíacos estruturais (p. ex., congênitos, desordens valvares), anormalidades rítmicas (incluindo alta frequência cardíaca persistente) e altas demandas metabólicas (p. ex., decorrente de tireotoxicoses) também podem causar insuficiência cardíaca. Fernanda Carvalho, 4º semestre – tutoria 04 INSUFICIÊNCIA CARDÍACA COM FRAÇÃO DE EJEÇÃO REDUZIDA (ICFEr): Na ICFER (também chamada IC sistólica), predomina a disfunção sistólica global do VE. O VE contrai-se mal e esvazia-se de maneira inadequada, levando a volume e pressão diastólicos aumentados e fração de ejeção reduzida. Ocorrem muitas alterações no uso e suprimento de energia, funções eletrofisiológicas e interação dos elementos contráteis, com anormalidades na modulação do cálcio intracelular e produção de AMPc. A disfunção sistólica predominante é comum na IC decorrente de infarto do miocárdio, miocardite e miocardiopatia dilatada. A disfunção sistólica pode comprometer principalmente VE ou ventrículo direito; no entanto, a insuficiência VE muitas vezes conduz à insuficiência ventrículo direito. INSUFICIÊNCIA CARDÍACA COM FRAÇÃO DE EJEÇÃO PRESERVADA (ICFEP): Na ICFEP (também conhecida como insuficiência cardíaca diastólica), o enchimento do VE está comprometido, resultando em aumento da pressão diastólica final do VE em repouso ou durante esforços. A contratilidade global e, portanto, a fração de ejeção permanecem normais. Na maioria dos pacientes com ICFEP, o volume diastólico final do VE é normal. Entretanto, em alguns pacientes, restrição acentuada ao enchimento do VE pode causar volume diastólico final de VE inadequado e, portanto, causar baixos níveis de débito cardíaco e sintomas sistêmicos. O aumento da pressão atrial esquerda pode provocar congestão e hipertensão pulmonar. A disfunção diastólica geralmente resulta de comprometimento do relaxamento ventricular (processo ativo), aumento da rigidez ventricular, pericardite constritiva ou estenose de valva atrioventricular. A isquemia miocárdica aguda étambém a causa de disfunção diastólica. A resistência ao enchimento aumenta com a idade, refletindo tanto a disfunção de cardiomiócitos como perda de cardiomiócitos e aumento da deposição de colágeno intersticial; portanto, a disfunção diastólica é particularmente comum entre idosos. Presume-se que a disfunção diastólica seja predominante na miocardiopatia hipertrófica, nas doenças com hipertrofia ventricular (p. ex., hipertensão e estenose aórtica significativa) e na infiltração de amiloide no miocárdio. Enchimento e função do VE também podem ser comprometidos, se o aumento excessivo da pressão no ventrículo direito deslocar o septo interventricular para a esquerda. A disfunção diastólica está sendo cada vez mais reconhecida como uma causa de insuficiência cardíaca. Estimativas variam, mas cerca de 50% dos pacientes com ICFEP; a prevalência aumenta com a idade e em pacientes diabéticos. Sabe-se agora que a ICFEP é uma síndrome sistêmica complexa, heterogênea e multiorgânica, frequentemente com múltiplas fisiopatologias concomitantes. Dados atuais sugerem que múltiplas comorbidades (p. ex., obesidade, hipertensão, diabetes, doen ça renal crônica) levam à inflamação sistêmica, disfunção endotelial generalizada, disfunção microvascular cardíaca e, em última instância, alterações moleculares no coração que causam aumento da fibrose miocárdica e enrijecimento ventricular. Assim, embora a ICFER esteja tipicamente associada à lesão miocárdica primária, a https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/doen%C3%A7a-coronariana/infarto-agudo-do-mioc%C3%A1rdio-iam https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/miocardiopatias/miocardiopatia-dilatada https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/miocardiopatias/miocardiopatia-hipertr%C3%B3fica https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-nutricionais/obesidade-e-s%C3%ADndrome-metab%C3%B3lica/obesidade https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/hipertens%C3%A3o/vis%C3%A3o-geral-da-hipertens%C3%A3o https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-end%C3%B3crinos-e-metab%C3%B3licos/diabetes-melito-e-dist%C3%BArbios-do-metabolismo-de-carboidratos/diabetes-melito-dm https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-geniturin%C3%A1rios/doen%C3%A7a-renal-cr%C3%B4nica/doen%C3%A7a-renal-cr%C3%B4nica https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-geniturin%C3%A1rios/doen%C3%A7a-renal-cr%C3%B4nica/doen%C3%A7a-renal-cr%C3%B4nica Fernanda Carvalho, 4º semestre – tutoria 04 ICFEP pode estar associada à lesão miocárdica secundária devido a anormalidades na periferia. INSUFICIÊNCIA VENTRÍCULO ESQUERDO: Na insuficiência cardíaca devido à disfunção ventricular esquerda, o débito cardíaco diminui e a pressão venosa pulmonar aumenta. À medida que a pressão capilar pulmonar excede a pressão oncótica das proteínas plasmáticas (cerca de 24 mmHg), ela extravasa líquido dos capilares para espaço intersticial e alvéolos, reduzindo a complacência pulmonar e aumentando o trabalho respiratório. A drenagem linfática aumenta, mas não consegue compensar o aumento do líquido pulmonar. O acúmulo intenso de líquido nos alvéolos (edema pulmonar) altera significativamente a relação V/Q: o sangue arterial pulmonar desoxigenado passa através dos alvéolos pouco ventilados, diminuindo a oxigenação arterial sistêmica (PaO2) e desencadeando dispneia. Entretanto, pode ocorrer dispneia antes das alterações V/Q, provavelmente decorrente da elevação da pressão venosa pulmonar e do aumento do trabalho respiratório; porém, o mecanismo não está esclarecido. Na insuficiência de VE grave ou crônica, desenvolvem-se de maneira característica derrames pleurais, agravando ainda mais a dispneia. A ventilação por minuto aumenta e, assim, a PaCO2 diminui e o pH sanguíneo aumenta (alcalose respiratória). O edema intersticial intenso das pequenas vias respiratórias pode interferir na ventilação, elevando a PaCO2 — um sinal de insuficiência. INSUFICIÊNCIA VENTRÍCULO DIREITO: Na insuficiência cardíaca devido à disfunção do ventrículo direito, a pressão venosa sistêmica aumenta, causando extravasamento de líquido e edema, principalmente nos tecidos dependentes (pés e tornozelos de pacientes ambulatoriais) e vísceras abdominais. O fígado é mais gravemente afetado, mas o estômago e intestino também se tornam congestionados; pode ocorrer acúmulo de líquidos na cavidade peritoneal (ascite). [A insuficiência ventrículo direito geralmente provoca disfunção hepática moderada, geralmente com aumentos modestos da bilirrubina conjugada e não conjugada, tempo de protrombina e enzimas hepáticas (especialmente fosfatase alcalina e gama- glutamiltransferase [GGT]). O fígado comprometido metaboliza menos aldosterona, contribuindo ainda mais para o acúmulo de líquido. A congestão venosa crônica das vísceras pode acarretar anorexia, má absorção de nutrientes e fármacos, bem como enteropatia perdedora de proteína (caracterizada por diarreia e hipoalbuminemia profunda), perda de sangue gastrointestinal crônica e, raramente, infarto intestinal isquêmico. RESPOSTA CARDÍACA: Na ICFEr, a função ventricular sistólica esquerda está excessivamente comprometida; assim é necessária uma pré- carga mais elevada para manter o DC. Consequentemente, os ventrículos são remodelados no decorrer do tempo: o VE torna-se menos ovoide e mais esférico, dilatado e hipertrofiado; o ventrículo direito dilata-se e pode hipertrofiar-se. Inicialmente compensatórias, essas alterações eventualmente aumentam a rigidez diastólica e a tensão de parede Fernanda Carvalho, 4º semestre – tutoria 04 (desenvolve-se disfunção diastólica), comprometendo o desempenho cardíaco, especialmente durante o estresse físico. O aumento do estresse da parede aumenta a demanda de oxigênio e acelera a apoptose (morte celular programada) das células miocárdicas. Dilatação dos ventrículos pode também causar regurgitação da valva mitral ou tricúspide (decorrente de dilatação anular) com aumentos adicionais nos volumes diastólicos finais. RESPOSTAS HEMODINÂMICAS: Com a redução do DC, a liberação para os tecidos de oxigênio é mantida pelo aumento da extração de oxigênio do sangue e, às vezes, pelo deslocamento da curva de dissociação de oxi-hemoglobina (Curva de dissociação da oxi-hemoglobina) para a direita a fim de favorecer a liberação de oxigênio. A redução do débito cardíaco com pressão arterial sistêmica mais baixa ativa os barorreflexos arteriais, aumentando o tônus simpático e diminuindo o tônus parassimpático. Como resultado, desenvolvem-se aumento da frequência cardíaca e contratilidade miocárdica, constrição de arteríolas de leitos vasculares selecionados, constrição venosa e retenção de sódio e água. Tais alterações compensam a redução do desempenho ventricular e ajudam a manter a homeostase hemodinâmica nos estágios iniciais da insuficiência cardíaca. Mas essas alterações compensatórias aumentam o trabalho cardíaco, pré e pós-carga, reduzem a perfusão coronariana e renal, provocam acúmulo de líquido que acarreta congestão, aumentam a excreção de potássio e podem causar necrose dos cardiomiócitos e arritmias. RESPOSTAS RENAIS: À medida que a função cardíaca se deteriora, diminui o fluxo sanguíneo renal (devido a baixo débito cardíaco). Além disso, pressões venosas renais aumentam, levandoà congestão venosa renal. Essas alterações resultam em diminuição na TFG e o fluxo sanguíneo dentro dos rins é redistribuído. A fração de filtração e o sódio filtrado diminuem, mas a reabsorção tubular aumenta, levando à retenção de sódio e água. O fluxo sanguíneo é redistribuído ainda mais para fora dos rins durante esforços, mas melhora durante repouso. A diminuição da perfusão dos rins (e possivelmente a diminuição do estiramento sistólico arterial secundário ao declínio da função ventricular) ativa o sistema renina- angiotensina-aldosterona (SRAA), aumentando a retenção de sódio e água, além dos tônus vascular renal e periférico. Esses efeitos são exacerbados pela ativação simpática intensa que acompanha a insuficiência cardíaca. O sistema renina-angiotensina- aldosterona- vasopressina (ADH) desencadeia uma cascata de efeitos potencialmente deletérios. Angiotensina II piora a insuficiência cardíaca causando vasoconstrição, incluindo vasoconstrição renal eferente, e aumentando a produção de aldosterona, que intensifica a reabsorção de sódio no néfron distal e também provoca deposição de colágeno e fibroses miocárdica e vascular. A angiotensina II aumenta a liberação de noradrenalina, estimula a liberação vasopressina e deflagra a apoptose. A angiotensina II pode estar envolvida nas hipertrofias vascular e miocárdica, contribuindo, dessa forma, para https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-pulmonares/exames-de-fun%C3%A7%C3%A3o-pulmonar/medi%C3%A7%C3%A3o-da-troca-gasosa#v912875_pt https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-pulmonares/exames-de-fun%C3%A7%C3%A3o-pulmonar/medi%C3%A7%C3%A3o-da-troca-gasosa#v912875_pt Fernanda Carvalho, 4º semestre – tutoria 04 o remodelamento do coração e da vasculatura periférica, piorando potencialmente a insuficiência cardíaca. A aldosterona pode ser sintetizada no coração e na vasculatura, independentemente da angiotensina II (talvez mediada por corticotropina, óxido nítrico, radicais livres e outros estímulos), podendo ter efeitos deletérios em tais órgãos. A insuficiência cardíaca que causa disfunção renal progressiva (incluindo aquela causada por fármacos usados para tratar a insuficiência cardíaca) contribui para o agravamento da insuficiência cardíaca e é denominada síndrome cardiorrenal. RESPOSTA NEURO-HUMORAIS: Em condições de estresse, as respostas neuro-humorais ajudam a aumentar função cardíaca e a manter pressão arterial e perfusão de órgãos, mas a ativação crônica dessas respostas é deletéria ao equilíbrio entre hormônios estimulantes do miocárdio e vasoconstritores e entre hormônios relaxantes do miocárdio e vasodilatadores. O coração contém muitos receptores neuro- humorais (alfa-1, beta-1, beta-2, beta-3, angiotensina II tipo 1 [AT1] e 2 [AT2], muscarínicos, endotelina, serotonina, adenosina e citosina e peptídeos natriuréticos); porém, o papel de todos esses receptores ainda não está totalmente definido. Nos pacientes com insuficiência cardíaca, receptores beta-1 (que constituem 70% dos beta receptores cardíacos) têm baixa regulação, provavelmente em resposta à ativação simpática intensa. O efeito da baixa regulação é o comprometimento da contratilidade do miócito e aumento da frequência cardíaca. ETIOLOGIA: Principais causas de ICC: o Doença isquêmica; o Hipertensão; o Cardiomiopatia idiopática; o Infecções (miocardite viral, doença de chagas); o Toxinas (álcool ou drogas citotóxicas); o Doença vascular; o Taquiarritmias. CLASSIFICAÇÃO: A classificação mais comum da insuficiência cardíaca atualmente em uso estratifica os pacientes em: o Insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida ("insuficiência cardíaca sistólica"); o Insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada ("insuficiência cardíaca diastólica"). Insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (ICFEr) é definida como insuficiência cardíaca com FEVE ≤ 40%. Insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEP) é definida como insuficiência cardíaca com FEVE ≥ 50%. Pacientes com FEVE entre 40% e 50% estão em uma zona intermediária, e foram categorizados recentemente como insuficiência cardíaca com FE na faixa média (ICFEmd) (1). A distinção tradicional entre insuficiência ventricular esquerda e direita é um tanto enganosa, uma vez que o coração é uma bomba integrada e as alterações em uma câmara comprometem consequentemente todo o coração. Entretanto, esses termos indicam o ponto principal da patologia que acarretou a insuficiência cardíaca, podendo ser útil para avaliação inicial e tratamento. https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca/insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca-ic#v935904_pt https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca/insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca-ic#v935904_pt https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca/insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca-ic#v31269678_pt Fernanda Carvalho, 4º semestre – tutoria 04 Outros termos descritivos comuns incluem agudo ou crônico; débito alto ou baixo; dilatado ou não dilatado; e isquêmico, hipertensivo ou miocardiopatia dilatada idiopática. O tratamento difere a depender de a apresentação da insuficiência cardíaca ser aguda ou crônica. Insuficiência do VE desenvolve-se caracteristicamente na cardiopatia isquêmica, hipertensão, insuficiência mitral, insuficiência aórtica, estenose aórtica, a maioria das formas das miocardiopatias e cardiopatias congênitas (p. ex., defeito septal ventricular, ducto arterioso patente com grandes shunts). Insuficiência do VD é mais comumente causada por insuficiência VE prévia (que aumenta a pressão venosa pulmonar e leva à hipertensão pulmonar, sobrecarregando assim o ventrículo direito) pneumopatia grave (denominada cor pulmonale). Outras causas são embolia pulmonar múltipla, infarto do FD, hipertensão arterial pulmonar, regurgitação da tricúspide, estenose da tricúspide, estenose mitral,estenose arterial pulmonar,estenose valvar pulmonar, doença oclusiva venosa pulmonar, cardiopatia ventrículo direito arritmogênica ou doenças congênitas como anomalia de Ebstein ou síndrome de Eisenmenger. Algumas doenças mimetizam a insuficiência ventrículo direito, salvo que a função cardíaca pode ser normal, envolvendo sobrecarga de volume e aumento da pressão venosa sistêmica na policitemia ou transfusão excessiva, insuficiência renal aguda com retenção de sódio e água, obstrução de qualquer uma das veias cavas e hipoproteinemia devido a qualquer causa, resultando em baixa pressão de plasma oncótico e edema periférico. A insuficiência biventricular é decorrente de doenças que comprometem todo o miocárdio (p. ex., miocardite viral, amiloidose e doença de Chagas) ou insuficiência VE de longa duração causando insuficiência ventrículo direito. A insuficiência cardíaca de alto débito resulta da necessidade persistente de débito cardíaco elevado, que pode, eventualmente, resultar na incapacidade de um coração normal em manter débito adequado. Doenças que podem aumentar o débito cardíaco incluem anemia grave, beribéri, doença hepática em estágio final, tireotoxicose, doença de Paget avançada, fístula arteriovenosa e taquicardia persistente. SINAIS E SINTOMAS: As manifestações diferem, dependendo da extensão em que ventrículo direito e VE sãoinicialmente comprometidos. A gravidade varia significativamente, sendo geralmente classificada pelo sistema da New York Heart Association (Classificação de insuficiência cardíaca da New York Heart Association (NYHA); os exemplos de atividade normal podem ser modificados para pacientes idosos e debilitados. Como a gravidade da insuficiência cardíaca tem uma variação muito ampla, alguns especialistas sugerem subdividir a classe III da NYHA em IIIA ou IIIB. Tipicamente reserva-se a classe IIIB para aqueles pacientes que tiveram recentemente exacerbação da insuficiência cardíaca. O Colégio Americano de Cardiologia/American Heart Association defendeu um sistema de estadiamento para insuficiência cardíaca (A, B, C ou D) a fim de https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/pediatria/anomalias-cardiovasculares-cong%C3%AAnitas/defeito-do-septo-ventricular-dsv https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/pediatria/anomalias-cardiovasculares-cong%C3%AAnitas/defeito-do-septo-ventricular-dsv https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/valvopatias/estenose-pulmonar Fernanda Carvalho, 4º semestre – tutoria 04 destacar a necessidade de prevenção da IC. o A: alto risco de insuficiência cardíaca, mas nenhum sintoma ou anormalidade cardíaca funcional ou estrutural; o B: anormalidades cardíacas estruturais ou funcionais, mas sem sintomas de insuficiência cardíaca; o C: doença cardíaca estrutural com sintomas de insuficiência cardíaca; o D: insuficiência cardíaca refratária exigindo terapias avançadas (p. ex., suporte circulatório mecânico, transplante cardíaco) ou cuidados paliativos. Insuficiência VE grave pode causar: Edema pulmonar ou choque cardiogênico. HISTÓRIA: Na insuficiência VE, os sintomas mais comuns são dispneia e fadiga devido ao aumento das pressões venosas pulmonares e baixo débito cardíaco (em repouso ou inabilidade de aumentar o débito cardíaco durante esforço). Em geral, a dispneia ocorre durante o esforço, sendo aliviada por repouso. À medida que piora a insuficiência cardíaca, a dispneia pode ocorrer durante o repouso e à noite, provocando, às vezes, tosse noturna. É comum o desenvolvimento de dispneia logo ou imediatamente após o paciente assumir a posição supina, melhorando assim que assume a posição sentada (ortopneia). Na dispneia paroxística noturna (DPN), a dispneia acorda o paciente várias horas depois de ele ter se deitado e só melhora depois de permanecer sentado por 15 a 20 minutos. Na IC grave, a alternação periódica da respiração [respiração de Cheyne- Stokes — período curto de aumento da respiração (hiperpneia) seguido de curto período de ausência de respiração (apneia)] — pode ocorrer durante o dia ou à noite, a fase hiperpneica repentina pode despertar o paciente. A respiração de Cheyne-Stokes difere da DPN pelo fato de que a fase hiperpneica é curta, durando apenas 10 a 15 segundos, mas o ciclo volta a ocorrer regularmente, durando 30 segundos a 2 minutos. A DPN associa-se à congestão pulmonar e a respiração de Cheyne-Stokes ao DC baixo. As doenças respiratórias relacionadas ao sono, como apneia do sono, são comuns na insuficiência cardíaca e podem agravá-la. A redução grave do fluxo sanguíneo cerebral e hipoxemia podem provocar irritabilidade crônica e comprometer o desempenho mental. Na insuficiência ventrículo direito, os sintomas mais comuns são edema do tornozelo e fadiga. Às vezes, os pacientes referem sensação de plenitude em abdome ou pescoço. Congestão hepática pode causar desconforto no hipocôndrio direito do abdome e congestão do estômago e intestino pode causar saciedade precoce, anorexia e distensão abdominal. Sintomas menos específicos da insuficiência cardíaca incluem membros frios, sensação de desfalecimento relacionada à postura, noctúria e diminuição da micção durante o dia. Pode ocorrer definhamento da musculatura esquelética na insuficiência biventricular grave, podendo refletir algum grau de desuso, mas também o aumento do catabolismo associado à exacerbação da produção de citocina. A perda ponderal excessiva (caquexia cardíaca) é um sinal preocupante associado à mortalidade elevada. Em idosos, as queixas apresentadas podem ser atípicas, como confusão, delirium, quedas, diminuição funcional repentina, incontinência urinária noturna ou distúrbio de sono. A coexistência de comprometimento Fernanda Carvalho, 4º semestre – tutoria 04 da capacidade cognitiva e depressão pode também influenciar a avaliação e as intervenções terapêuticas, podendo ser agravadas pela insuficiência cardíaca. DIAGNÓSTICO: o Às vezes, somente avaliação clínica; o Radiografia de tórax; o Ecocardiografia, cintilografia miocárdica e/ou RM; o Às vezes, níveis de BNP ou N-terminal-pró- BNP (NT-pró-BNP); o ECG e outros testes para etiologia, se necessários. Os achados clínicos (p. ex., dispneia de esforço ou fadiga, ortopneia, edema, taquicardia, estertores pulmonares, B3, e distensão venosa jugular) sugerem insuficiência cardíaca, mas normalmente não são aparentes no início. Sintomas semelhantes podem ser decorrentes de DPOC, pneumonia recorrente ou ser erroneamente atribuídos a obesidade ou idade avançada. A suspeita de insuficiência cardíaca deve ser alta em pacientes com história de infarto do miocárdio, hipertensão, doenças valvares ou sopros, e deve ser moderada em qualquer paciente idoso ou diabético. Devem-se realizar radiografia de tórax, ECG e exames objetivos de função cardíaca, tipicamente ecocardiografia. Exames de sangue, exceto para níveis de BNP, não são utilizados para o diagnóstico, mas são úteis para identificar a causa e os efeitos sistêmicos. RADIOGRAFIA DE TÓRAX: Os achados radiográficos que sugerem insuficiência cardíaca envolvem aumento da silhueta cardíaca, derrame pleural, líquido na fissura principal e linhas horizontais na periferia dos campos pulmonares posteroinferiores (linhas B de Kerley). Esses achados refletem a elevação crônica da pressão atrial esquerda e o espessamento crônico dos septos intralobulares decorrentes de edema. Pode haver congestão venosa do lobo pulmonar superior e edema intersticial ou alveolar. A avaliação minuciosa da silhueta cardíaca na projeção lateral pode identificar dilatação específica de câmaras atrial e ventricular. As radiografias também podem sugerir diagnósticos alternativos (p. ex., DPOC, fibrose pulmonar idiopática, câncer de pulmão). ECG: Achados no ECG não são diagnósticos, mas ECG anormal, especialmente se revelar infarto do miocárdio prévio, hipertrofia ventricular esquerda, BRE ou taquiarritmia (p. ex., fibrilação atrial com alta resposta ventricular), aumenta a suspeita de insuficiência cardíaca e pode ajudar a identificar a causa. Um ECG completamente normal não é comum em insuficiência cardíaca crônica. EXAMES DE IMAGEM: Ecocardiografia pode ajudar a avaliar as dimensões das câmaras, função valvar, fração de ejeção VE, anormalidades no movimento da parede, hipertrofia VE, pressões de enchimento de VE e ventrículo direito, função ventrículo direito e derrame pericárdico. É possível detectar trombos e tumores intracardíacos, além de calcificações de valvas cardíacas, anel mitral e alterações da parede da aorta. Anormalidades segmentares ou localizadas no movimento da parede sugerem fortemente DAC de base, mas também podem existir na miocardite focal. A ecocardiografia com Doppler ou Doppler colorido detecta com precisão valvopatias e https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-pulmonares/doen%C3%A7a-pulmonar-obstrutiva-cr%C3%B4nica-e-doen%C3%A7as-relacionadas/doen%C3%A7a-pulmonar-obstrutiva-cr%C3%B4nica-dpochttps://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-pulmonares/pneumonia/vis%C3%A3o-geral-da-pneumonia Fernanda Carvalho, 4º semestre – tutoria 04 shunts. A combinação da avaliação com Doppler do influxo mitral com Doppler tecidual do ânulo mitral pode ajudar a identificar e quantificar a disfunção diastólica do VE e as pressões de enchimento do VE. Medição da FEVE pode distinguir entre ICFEP predominante (FE ≥ 0,50) e ICFER (FE ≤ 0,40). É importante reenfatizar que a insuficiência cardíaca pode ocorrer com FEVE normal. Ecocardiografia com rastreamento do speckle (útil para detectar a função sistólica subclínica e padrões específicos da disfunção miocárdica) pode se tornar importante, mas atualmente só está disponível em centros especializados. Os métodos de imagem com radionuclídeos também podem ajudar a avaliar a função sistólica e diastólica IM prévio e isquemia induzível ou hibernação miocárdica. A RM cardíaca produz imagens precisas das estruturas cardíacas, e sua disponibilização está se tornando cada vez mais ampla. RM cardíaca é útil para avaliar a causa da doença miocárdica e para detectar fibrose miocárdica focal e difusa. Amiloidose cardíaca, sarcoidose, hemocromatose e miocardite são causas da insuficiência cardíaca que podem ser detectadas ou suspeitadas pelos achados de RM cardíaca. EXAMES DE SANGUE: Níveis séricos de BNP (concentração sanguínea do peptídeo natriurético tipo-B) costumam ser altos na insuficiência cardíaca; essa descoberta pode ajudar quando os achados clínicos não são claros ou outros diagnósticos (p. ex., DPOC) precisam ser excluídos. Isso pode ser particularmente útil para os pacientes com história de doenças pulmonares e cardíacas. NT-proBNP, uma fração inativa criada quando proBNP é clivado, pode ser usado de maneira similar ao BNP. Entretanto, um nível normal de BNP não exclui o diagnóstico de insuficiência cardíaca. Na ICFEP, 30% dos pacientes têm nível de BNP abaixo do limiar comumente usado de 100 pg/mL. Obesidade, que está se tornando uma comorbidade cada vez mais comum na insuficiência cardíaca, está associada à produção reduzida de BNP e ao aumento da depuração do BNP. Além do BNP, os exames de sangue recomendados incluem hemograma completo, creatinina, ureia, eletrólitos (incluindo magnésio e cálcio), dextrose, albumina e exames de função hepática. Recomendam-se exames de função tireoidiana para portadores de fibrilação atrial e para pacientes selecionados, especialmente idosos. PROGNÓSTICO: Geralmente, pacientes com insuficiência cardíaca têm prognóstico reservado, a menos que a causa seja corrigível. A sobrevida em cinco anos após hospitalização por insuficiência cardíaca é cerca de 35%, independentemente da FE do paciente. Na insuficiência cardíaca crônica oculta, a mortalidade depende da gravidade dos sintomas e da disfunção ventricular e pode variar de 10 a 40%/ano. Fatores específicos que sugerem um prognóstico reservado incluem hipotensão, baixa fração de ejeção, presença de DC, liberação de troponina, elevação de ureia, redução da TFG, hiponatremia e baixa capacidade funcional (p. ex., testada por meio de teste de caminhada de 6 minutos). TRATAMENTO: o Mudanças de dieta e estilo de vida; o Tratamento da causa; Fernanda Carvalho, 4º semestre – tutoria 04 o Fármacos (numerosas classes); o Às vezes, terapia com dispositivo (p. ex., cardio-desfibrilador implantável, terapia de ressincronização cardíaca, suporte circulatório mecânico); o Algumas vezes, transplante cardíaco; o Tratamento multidisciplinar. É necessário o tratamento imediato em regime de internação aos portadores de insuficiência cardíaca decorrente de certas enfermidades (p. ex. infarto agudo do miocárdio IAM], fibrilação atrial com frequência ventricular rápida, hipertensão grave e insuficiência valvar aguda), bem como aos pacientes comedema pulmonar, sintomas graves, insuficiência cardíaca de início recente ou que não respondem ao tratamento em regime ambulatorial. Os pacientes com exacerbações leves de insuficiência cardíaca diagnosticada previamente podem ser tratados em domicílio. O objetivo principal é diagnosticar e corrigir ou tratar a doença que conduziu à insuficiência cardíaca. Os objetivos a curto prazo envolvem a melhora dos sintomas e da hemodinâmica, evitando hipopotassemia, disfunção renal e hipotensão sintomática, além da correção da ativação neuro-humoral. Objetivos a longo prazo incluem correção da hipertensão, prevenção de infarto do miocárdio e aterosclerose, melhora da função cardíaca, redução das hospitalizações, bem como melhora de sobrevida e qualidade de vida. O tratamento envolve mudanças dietéticas e no estilo de vida, fármacos e, às vezes, cirurgia ou intervenções coronarianas percutâneas. O tratamento é adaptado ao paciente, considerando-se causas, sintomas e resposta aos fármacos, incluindo efeitos adversos. Existem atualmente várias terapias baseadas em evidências para ICFER crônica (1). Existem menos tratamentos baseados em evidências para ICFEp crônica, síndromes agudas de insuficiência cardíaca e falha do ventrículo direito. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO: Tratamento medicamentoso da insuficiência cardíaca envolve: Alívio dos sintomas: diuréticos, nitratos ou digoxina; Tratamento prolongado e melhor sobrevida: inibidores da ECA, betabloqueadores, antagonistas da aldosterona, bloqueadores do receptor da angiotensina II ou inibidores do receptor da angiotensina/neprilisina (RAINs). Na ICFEr, todas essas classes de fármacos foram estudadas e mostraram benefícios para o tratamento a longo prazo. Na ICFEP, poucos fármacos foram adequadamente estudados. Mas geralmente utilizam-se inibidores da ECA, bloqueadores dos receptores da angiotensina II e betabloqueadores para tratar ICFEP. RAINs estão sendo estudados atualmente. Estudos randomizados e controlados sugerem que antagonistas da aldosterona são benéficos, mas nitratos provavelmente não são. Em pacientes com ICFEP grave, a redução da frequência cardíaca (p. ex., com um betabloqueador) pode exacerbar os sintomas porque eles têm um volume sistólico relativamente fixo devido à disfunção diastólica grave. Nesses pacientes, o débito cardíaco é dependente da frequência cardíaca e a redução da frequência cardíaca pode, portanto, https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca/edema-pulmonar https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca/f%C3%A1rmacos-para-insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca/insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca-ic#v31269763_pt https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca/f%C3%A1rmacos-para-insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca#v31269896_pt https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca/f%C3%A1rmacos-para-insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca#v31269903_pt https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca/f%C3%A1rmacos-para-insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca#v31269845_pt https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca/f%C3%A1rmacos-para-insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca#v31269845_pt https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca/f%C3%A1rmacos-para-insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca#v31269883_pthttps://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca/f%C3%A1rmacos-para-insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca#v31269873_pt https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca/f%C3%A1rmacos-para-insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca#v31269873_pt https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca/f%C3%A1rmacos-para-insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca#v31269855_pt https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca/f%C3%A1rmacos-para-insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca#v31269855_pt https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca/f%C3%A1rmacos-para-insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca#v31269865_pt https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca/f%C3%A1rmacos-para-insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca#v31269865_pt Fernanda Carvalho, 4º semestre – tutoria 04 diminuir o débito cardíaco em repouso e/ou com esforços. TERAPIA COM DISPOSITIVOS: O uso de cardio-desfibrilador implantável (CDI) ou terapia de ressincronização cardíaca (TRC) é apropriado para alguns pacientes. Recomenda-se CDI para pacientes com boa expectativa de vida se tiverem taquicardia ventricular sustentada sintomática ou fibrilação ventricular ou se eles permanecem sintomáticos e com FEVE persistentemente < 0,30, enquanto recebem terapia médica direcionada por diretrizes. Os dados para uso de CDI na ICFER são mais fortes para miocardiopatia isquêmica do que para miocardiopatia não isquêmica. TRC pode aliviar os sintomas e reduzir internações por insuficiência cardíaca para pacientes com insuficiência cardíaca, FEVE < 0,35 e um complexo QRS alargado com padrão de bloqueio de ramo esquerdo (> 0,15 s — quanto mais largo o QRS, melhor o potencial benefício). Dispositivos de TRC são eficazes, mas dispendiosos, e os pacientes devem ser apropriadamente selecionados. Muitos dispositivos TRC também têm um mecanismo CDI incorporado. Um dispositivo implantável que monitora remotamente a hemodinâmica invasiva (p. ex., pressão arterial pulmonar) pode ajudar a orientar o tratamento da insuficiência cardíaca em pacientes altamente selecionados. Por exemplo, associou-se a titulação de fármacos (p. ex., diuréticos) com base em leituras a partir de um desses dispositivos a uma redução acentuada na hospitalização por insuficiência cardíaca em um ensaio clínico que incluiu pacientes com ICFER e ICFEP. O dispositivo usa a pressão diastólica da artéria pulmonar como substituto da pressão capilar pulmonar (e, portanto, da pressão atrial esquerda) em pacientes com insuficiência cardíaca. Mas só foi avaliado em pacientes da classe III da NYHA que apresentaram exacerbações recorrentes da insuficiência cardíaca. Outras evidências ajudarão a orientar como essa tecnologia deve ser implementada. Ultrafiltração (filtração veno-venosa) pode ser útil em pacientes hospitalizados selecionados com síndrome cardiorrenal grave e sobrecarga de volume refratária a diuréticos. Mas ultrafiltração não deve ser usada rotineiramente porque ensaios clínicos não demonstram benefício clínico a longo prazo. Uma bomba com balão para contrapulsação intra-aórtica é útil em pacientes selecionados com IC aguda que têm boa chance de recuperação (p. ex., insuficiência cardíaca aguda após infarto do miocárdio) ou naqueles que precisam de uma ponte para uma solução mais permanente como cirurgia cardíaca (p. ex., para corrigir doença valvular grave ou revascularização para o tratamento de doença coronariana multiarterial), um dispositivo de assistência ao VE ou transplante cardíaco. Os dispositivos de assistência VE são bombas implantáveis que aumentam o débito VE. São comumente usados para manter pacientes com insuficiência cardíaca grave que aguardam transplante e também são usados como "terapia de destino" (como uma solução a longo prazo) em alguns pacientes que não são candidatos a transplantes. https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/arritmias-e-doen%C3%A7as-de-condu%C3%A7%C3%A3o/terapia-de-ressincroniza%C3%A7%C3%A3o-card%C3%ADaca-trc https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/arritmias-e-doen%C3%A7as-de-condu%C3%A7%C3%A3o/terapia-de-ressincroniza%C3%A7%C3%A3o-card%C3%ADaca-trc Fernanda Carvalho, 4º semestre – tutoria 04 CIRURGIA: A cirurgia pode ser apropriada quanto certas doenças subjacentes estão presentes. Deve- se realizar a cirurgia em pacientes com insuficiência cardíaca avançada em centros especializados. A oclusão cirúrgica de shunts intracardíacos congênitos ou adquiridos pode ser curativa. Revascularização miocárdica (CRM) para reduzir a isquemia não melhorou a sobrevida geral em 5 anos em um grande estudo clínico de pacientes com insuficiência cardíaca com disfunção sistólica isquêmica do VE; mas associou-se a cirurgia de revascularização miocárdica à redução da mortalidade geral em 10 anos e à redução da mortalidade em 10 anos e hospitalizações por causas cardiovasculares. Assim, deve-se tomar a decisão de revascularizar um paciente que tem insuficiência cardíaca com DC multiarterial com base em cada caso. Se a insuficiência cardíaca for principalmente decorrente de valvopatia, considera-se reparo ou substituição da valva. Os pacientes com regurgitação mitral primária têm maior probabilidade de obter benefício que os pacientes com regurgitação mitral secundária à dilatação VE, nos quais a função miocárdica tem probabilidade de continuar a ser precária no pós-operatório. É aconselhável realizar a cirurgia antes que a dilatação e a lesão miocárdica se tornem irreversíveis. Transplante cardíaco é o tratamento de escolha para pacientes com < 60 anos de idade, portadores de insuficiência cardíaca refratária e grave, sem outras condições potencialmente fatais e que atendam às recomendações de tratamento. Normalmente também consideram-se alguns pacientes mais velhos (cerca de 60 a 70 anos) com boa saúde se atenderem outros critérios para transplante. A sobrevida é de 85 a 90% no 1º ano, e a taxa de mortalidade depois disso é 4% ao ano; contudo, a taxa de mortalidade de quem espera um doador é de 12 a 15%. PULSO VENOSO JUGULAR: SEMIOLOGIA CARDIOVASCULAR: A semiologia cardiovascular consiste em um aparato fundamental para qualquer médico, independentemente de sua área de atuação. O conhecimento adequado do funcionamento cardíaco aliado à correta interpretação de seus sinais semiológicos fornece um grande aparato diagnóstico, capaz de guiar o raciocínio clínico do médico diante de determinada queixa do paciente. Ainda, ele é capaz de nos indicar a condição do paciente no que tange ao prognóstico e situação de estadiamento de determinadas patologias, podendo nos ajudar a topografar lesões anatômicas ou possíveis locais de acometimento quanto ao sistema cardiovascular. Na prática diária, os sintomas mais comuns relacionados ao aparelho cardiovascular são: dor torácica, dispneia, cansaço, síncope, palpitações e edema. A realização do exame físico, aliada à uma anamnese coerente, pode fazer com que o exame cardiovascular por si só seja suficiente para realizar o diagnóstico de 90% das patologias desse sistema.Fernanda Carvalho, 4º semestre – tutoria 04 ANAMNESE CARDIOVASCULAR: Além dos dados que estão presentes em todas as anamneses, um exame clínico cardiovascular adequado busca ativamente por manifestações cardíacas. Para isso, é importante que as queixas sejam comparadas com o nível de atividade basal do paciente, a qual deve ser mensurada. Isso é importante porque, como muitas doenças cardíacas possuem características crônicas, não basta simplesmente perguntar se o paciente está conseguindo se locomover normalmente. Um exemplo disso consiste no uso dessa pergunta para um paciente que a responde de modo positivo. Porém, se o médico investigasse mais profundamente essa questão, o paciente teria dito que há um ano corria maratonas, mas que ultimamente não tem mais forças para realizar uma caminhada sequer. Na visão do paciente, a sua locomoção está normal, mas para nós isso seria um dado de extrema relevância, pois demonstra progressão de doença incapacitante, com importante perda funcional. Um paciente que se queixa de dispneia, por exemplo, deve ser interrogado quanto à intensidade dessa dor (geralmente por meio de uma mensuração de 0 a 10), fatores associado à dor (acontece somente em determinado tipo de movimento?, ao realizar esforços maiores?, limita sua força?), se essa é progressiva, o quanto é incapacitante para realizar atividades (sente-se fraco para andar até qual distância?). Por meio dessa caracterização, podemos estabelecer a gravidade dos sintomas do paciente, bem como a sua importância, a fim de que sejam consideradas as próximas etapas do tratamento. A dor torácica consiste em um dos mais graves sintomas referidos pelos pacientes, consistindo na manifestação mais frequente da doença arterial coronariana. Uma vez que o paciente se queixa de dor torácica, deve- se ter em mente sempre os diagnósticos eminentemente fatais, como angina instável, infarto agudo do miocárdio, aneurisma dissecante de aorta e embolia pulmonar. A caracterização da dor é importante, principalmente nos casos atípicos (considerando que ninguém deixará passar uma dor tipicamente anginosa). As palpitações consistem numa percepção desconfortável quanto aos batimentos cardíacos. Os pacientes podem se queixar desse sinal de diversos modos, como se o coração estivesse pulando, acelerado, tremendo, batendo forte etc. As palpitações podem decorrer de batimentos cardíacos irregulares, rápido aumento ou redução da frequência cardíaca, bem como de uma contração cardíaca mais vigorosa. A falta de ar consiste numa queixa comum dos pacientes, podendo representar quadros de dispneia, ortopneia ou dispneia paroxística noturna. A dispneia consiste na percepção consciente e desconfortável da respiração, incompatível com o nível de esforço realizado pelo paciente. Essa queixa é mais comum nos casos de pacientes com doenças cardíacas ou pulmonares. Fernanda Carvalho, 4º semestre – tutoria 04 A ortopneia consiste na dispneia que ocorre com o paciente deitado, melhorando quando esse se senta. De modo geral, pode- se classificá-la numerando-se a quantidade de travesseiros que o paciente utilizar para conseguir dormir, uma vez que esse carece de dormir sentado. Deve-se realizar a certificação de que o paciente utiliza esses travesseiros extras ou dorme em posição ereta em decorrência da falta de ar ao deitar-se e não por outros motivos. A ortopneia ocorre na insuficiência cardíaca (IC) ventricular esquerda ou na estenose mitral, bem como na doença pulmonar obstrutiva crônica. A dispneia paroxística noturna consiste em episódios de dispneia e ortopneia súbitas, que despertam o paciente do sono, cerca de uma ou duas horas após deitar-se. Quadros desse tipo podem ocorrer na insuficiência cardíaca ventricular esquerda ou na estenose mitral, podendo ser confundidas com crises asmáticas noturnas. O edema representa o acúmulo exagerado de líquido do espaço intersticial, ocorrendo absorção de grandes volumes de líquido, podendo cursar com grande aumento de peso (cerca de 10%) até que seja identificável. As causas variam de locais a sistêmicas. Deve-se concentrar a investigação nos quesitos de localização e cronologia, bem como nas circunstâncias de aparecimento de edema e nos sinais e sintomas associados. EXAME VASCULAR ARTERIAL: No tocante ao exame vascular periférico, busca-se avaliar os pulsos arteriais quanto à sua presença ou ausência, bem como a simetria desses, como seu enchimento e amplitude, uma vez que possíveis diferenças podem estar presentes por conta de obstruções parciais ou por vasoconstrições, bem como por diferenças de fluxo por acometimentos à montante, como ocorre na dissecção de aorta. É importante ressaltar aqui que o exame de simetria deve ser feito comparando cada pulso com o seu contralateral, podendo avaliar cada pulso separadamente ou comparando-os de modo simultâneo. SE LIGA! A simetria dos pulsos pode ser classificada e registrada da maneira rotineira com o uso das cruzes, sendo utilizado o seguinte sistema: Pulso normal: (++) Diminuído: (+) Ausente: (-) Não foi possível a verificação: ( ). De maneira geral, podemos dizer que os pulsos a serem aferidos os pulsos carotídeos (para esses, deve ser tomado cuidado especial com os barorreceptores em idosos, que podem estimular bradicardia, bem como há a possibilidade de embolização de placas ateromatosas, podendo levar a um AVC), braquiais, radiais, femorais, poplíteos, tibiais e pediosos. Principalmente no tocante ao pulso carotídeo, temos a presença de importantes achados, os quais são sugestivos, cada um, de determinados quadros patológicos. Os mais importantes e relevantes achados quanto aos pulsos são: Pulso parvus: amplitude pequena em razão da redução do volume ejetado, podendo ser decorrente de hipovolemia, insuficiência de ventrículo esquerdo, estenose aórtica ou mitral. Pulso tardus: amplitude tardia, podendo ser decorrente de estenose aórtica. • Pulso célere (hipercinético): circulação hipercinética, decorrente de insuficiência aórtica, persistência do canal arterial e Fernanda Carvalho, 4º semestre – tutoria 04 vasodilatação acentuada. Pulso bisferiens: pulsação sistólica dupla na insuficiência aórtica e miocardiopatia hipertrófica. Pulso alternante: alteração regular na amplitude da pressão de pulso (disfunção grave de ventrículo esquerdo). Pulso paradoxal: redução acentuada da pressão arterial sistólica durante a inspiração (> 10mmHg), podendo ser decorrente de tamponamento pericárdico e doença pulmonar obstrutiva grave. EXAME VASCULAR VENOSO: Quando da realização do exame venoso, tem-se que a distensão das veias jugulares ocorre na insuficiência cardíaca direita, pericardite constritiva, tamponamento pericárdico e obstrução da veia cava superior. Essa distensão é também chamada de turgência jugular, pela qual pode-se avaliar indiretamente o estado da pressão venosa central, que reflete a dinâmica das câmaras cardíacas direitas. Essa Turgência consiste em uma distensão decorrente do aumento de volume. E aí esse exame é realizado da seguinte maneira: Eleva-se a cabeceira do leito do paciente para 30º. A partir daí, identifica-se a veia jugular externa dos dois lados, prosseguindo- se com a pesquisa das pulsações venosas jugulares internas O paciente deve estar em decúbito dorsal, com o tronco inclinado a 30º, Deve ser traçada uma reta da fúrcula esternal atéo pescoço do paciente; Verifica-se se a visibilidade da veia jugular supera o nível traçado; Caso a resposta seja positiva, tem- -se que existe um comprometimento quanto ao retorno venoso; No caso de a turgência jugular ultrapassar o limite superior da linha traçada, tem-se a presença da chamada estase jugular. A distensão das veias jugulares ocorre na insuficiência cardíaca direita, na pericardite constritiva, no tamponamento pericárdico e na obstrução da veia cava superior. Geralmente, quando inspiramos, a pressão venosa jugular diminui (uma vez que a inspiração facilita o retorno venoso), mas em casos de pericardite constritiva, por exemplo, ela pode aumentar, gerando o chamado sinal de Kussmaul. A primeira elevação que observamos na curva consiste na onda pré-sistólica, que reflete o discreto aumento na pressão atrial, o qual é um reflexo da contração dessa câmara. Essa curva geralmente aparece um pouco antes de B1 e do pulso carotídeo. A queda subsequente denomina-se descenso x, o qual começa com o relaxamento atrial. Essa queda persiste enquanto o ventrículo direito, o qual está contraído durante a sístole, traciona o assoalho do átrio para baixo. É importante colocar aqui que durante a sístole ventricular, o sangue continua a fluir para o átrio direito a partir das veias cavas. Após isso, no ciclo cardíaco, tem-se que a valva tricúspide se encontra fechada, sendo iniciado o enchimento atrial, de modo que a Fernanda Carvalho, 4º semestre – tutoria 04 pressão no interior da câmara direita começa a se elevar mais uma vez, produzindo a onda v, que se apresenta como uma segunda elevação. Quando da abertura da valva tricúspide no início da diástole, o sangue do átrio direito flui de modo passivo para o ventrículo direito, levando a uma nova queda da pressão atrial direita, gerando uma queda da curva denominada descenso y. Pode-se pensar de modo simplificado nessas oscilações, associando o seguinte raciocínio sequencial: contração atrial, relaxamento atrial, enchimento atrial, esvaziamento atrial. A onda a pode ser considerada a contração atrial e a onda v, o enchimento venoso. Os dois colapsos são os mais notáveis no pulso venoso normal, sendo que a depressão abrupta no descenso x na parte final da diástole é mais proeminente, ocorrendo um pouco antes de B2. O descenso y ocorre após B2, na fase inicial da diástole. As anormalidades detectadas ao exame físico quanto ao pulso venoso jugular são: o Onda a ampla, que pode ser decorrente de estenose tricúspide, estenose pulmonar, dissociação atrioventricular (o átrio direito contrai com a valva tricúspide fechada); o Onda v ampla, que pode ser decorrente de insuficiência tricúspide e de defeito septo atrial; o Descenso y abrupto, que pode ser decorrente de pericardite constritiva; o Descenso y lentificado, que pode ser oriundo de uma estenose tricúspide. EDEMA: Uma das partes importantes quanto à avaliação do sistema vascular consiste na verificação da presença de edema. Esse achado, quando relacionado a causas metabólicas e cardíacas, é resultado do aumento da pressão hidrostática nos capilares arteriais, a tal ponto que essa supera a pressão oncótica para o vaso, gerando um gradiente pressórico a favor do extravasamento de fluido plasmático para o interstício. Em regiões edemaciadas, geralmente encontramos a pele local lisa e brilhosa. Quando palpamos a região, a digitopressão forma uma depressão local, que se desfaz lentamente. A esse achado chamamos de Sinal de Godet ou do cacifo. Uma vez que se busca pela presença de edema, deve-se comparar os membros quanto à sua simetria, verificando, caso haja edema, se esse acomete somente um membro ou ambos, e, caso acometa os dois, se o edema é simétrico e se apresenta sinais flogísticos (indicativos de inflamação), como calor, rubor e dor. Geralmente, o edema com causa cardiovascular ou metabólica, geralmente obedece a gravidade, sendo que acomete inicialmente extremidades para depois acometer regiões superiores. Por isso, podemos classificar tais edemas em cruzes, de acordo com a sua extensão, da seguinte maneira: o Edema somente nos pés, até o nível maleolar: + o Edema que se estende até o terço médio da perna: ++ Fernanda Carvalho, 4º semestre – tutoria 04 o Edema que acomete o membro inferior até o nível do joelho: +++ o Edema que acomete todo o membro superior, da extremidade até a raiz da coxa: ++++ o Edemas que se estendem superiormente, além da raiz da coxa, configuram quadro de edema generalizado, caracterizando um estado denominado de anasarca. EXAME DO TÓRAX: Inspeção: A inspeção do tórax tem o seu início no primeiro contato com o paciente, podendo colocá-lo deitado em decúbito dorsal para melhor examiná-lo. Como sempre, o examinador deve se posicionar em pé, à direita do paciente, buscando por abaulamentos, cicatrizes, assimetrias e quaisquer outras anormalidades que podem estar presentes no tórax do paciente. Palpação: Já a palpação consiste basicamente na identificação de frêmitos e do ictus cordis. O ictus cordis consiste em uma região geralmente pequena do tórax na qual é possível sentir claramente os batimentos cardíacos, decorrente do choque do coração com a parede torácica. Essa região pode chegar, em alguns casos, a ser até mesmo visível. Para a sua correta avaliação, deve-se inicialmente observar o tórax do paciente, averiguando de o ictus é visível (lembre-se que essa parte é componente de inspeção). A sua posição habitual se dá, geralmente, no quinto espaço intercostal, na linha hemiclavicular esquerda. Ao buscá-lo, deve-se procurar uma pulsação da pele na região citada e em suas proximidades. Uma vez identificado, deve-se determinar com exatidão a sua localização com base nas linhas do tórax, avaliar a sua extensão (utilizando como medida as polpas digitais; geralmente usamos o indicador como medida, sendo um valor comum o de duas polpas, ou 2,5cm), classificando a sua intensidade pulsátil por meio do sistema de cruzes (+), sendo esse método bastante subjetivo, mas tem-se que um padrão de duas cruzes é considerado o normal. Em casos em que há dificuldade de se identificar o ictus, pode-se pedir ao paciente para se colocar em decúbito lateral esquerdo para aproximar o coração ainda mais da parede torácica e a partir daí, pesquisar a sua localização através da palpação. Caso ainda assim não o identificar, pode-se pedir para o paciente que expire completamente, mantendo a respiração presa por alguns segundos. Pacientes do sexo feminino podem requerer que a mama esquerda seja afastada para cima ou para o lado, devendo o examinador solicitar que ela mesma o faça. No caso da não identificação do ictus, mesmo diante das manobras citadas, pode- se descrever no prontuário que o paciente possui o ictus não palpável. Algumas anormalidades que podem ser identificadas quando da palpação do ictus são: Fernanda Carvalho, 4º semestre – tutoria 04 o Ictus apical propulsivo, que pode ser decorrente de hipertrofia ventricular esquerda. Deslocamento lateral e inferior do ictus, decorrente de uma dilatação do ventrículo esquerdo. o Ictus pré-sistólico proeminente, decorrente de hipertensão, estenose aórtica e miocardiopatia hipertrófica. o Ictus sistólico apicalduplo, de corrente de miocardiopatia hipertrófica. o Ictus proeminente na borda esternal inferior esquerda, decorrente de hipertrofia ventricular direita. o Ictus discinético (abaulamento externo), que pode ser oriundo de aneurisma ventricular, grande área discinética após infarto agudo do miocárdio e miocardiopatia. No tocante à palpação de frêmitos, esses são realizado com a mão espalmada, dando preferência ao contato da transição metacarpofalangeana da mão com o tórax do paciente, dado o fato de que essa região possui maior sensibilidade, tocando-se os focos de ausculta no precórdio do paciente. Os frêmitos nada mais são do que manifestações sensoriais e, em algumas vezes, auditivas, da presença de turbilhonamento do fluxo sanguíneo, geralmente decorrente de sopros. A sua percepção dá-se quando é sentida uma vibração ou zumbido, como consequência da turbulência vascular. Uma vez que o frêmito tenha sido identificado, a região em que esse foi sentido deve ser auscultada, buscando-se por sopros. AUSCULTA CARDIOVASCULAR: Por fim, chegamos à última parte da semiologia cardiovascular: a ausculta. Ela consiste em uma importante habilidade a ser aprendida, uma vez que conduz diretamente para vários diagnósticos. O foco pulmonar está localizado no segundo espaço intercostal esquerdo, junto do esterno. Ele possui grande relevância para a análise dos desdobramentos de B2, tanto fisiológicos quanto patológicos. Fenômenos sonoros advindos de acometimentos das valvas pulmonares, bem como os sons advindos do seu funcionamento fisiológico, são bem audíveis basicamente nesse foco, possuindo pouca ou nenhuma irradiação para outros campos. O foco aórtico está localizado contralateralmente ao foco pulmonar, ou seja, no segundo espaço intercostal direito, na região justaesternal. Porém, cumpre ressaltarmos que muitos dos fenômenos sonoros relacionados à valva aórtica podem ser mais bem auscultados no foco aórtico acessório, localizado entre o terceiro e quarto espaços intercostais, na região justaesternal. O foco mitral se localiza no quinto espaço intercostal esquerdo, na linha hemiclavicular, correspondente ao ictus cordis. Em pacientes com cardiomegalia em estágio avançado, esse foco se desloca lateralmente, em direção à linha axilar anterior. Justamente por isso é importante que o ictus seja localizado antes de se iniciar a ausculta, uma vez que na sua região serão mais bem percebidos os fenômenos oriundos de uma valva mitral estenótica ou insuficiente. Já o foco tricúspide está localizado na chamada área paraesternal, nas regiões entre o quarto e o sexto espaço intercostal, correspondendo à base do apêndice xifoide, ligeiramente para esquerda. Fenômenos sonoros advindos da valva tricúspide, como sopro sistólico, decorrente de insuficiência Fernanda Carvalho, 4º semestre – tutoria 04 dessa valva, são mais bem auscultados nas proximidades do foco mitral. Para podermos entender os significados da ausculta, precisamos entender o que significam cada um dos sons e, para isso, revisaremos brevemente o ciclo cardíaco: Aos sons cardíacos, denominamos bulhas, sendo que o índice de cada uma delas é posto de acordo com a sua posição em relação à sístole. Durante a diástole, o átrio esquerdo se encontra cheio de sangue, de modo que a pressão em seu interior supera discretamente aquela do ventrículo esquerdo relaxado. Isso propicia um gradiente pressórico que promove a passagem do sangue do átrio esquerdo para o ventrículo homolateral por meio da abertura da valva mitral. Um pouco antes do início da sístole ventricular, a contração atrial provoca um pequeno aumento da pressão nas duas câmaras. Durante a sístole, tem-se o início da contração ventricular esquerda, de modo que a pressão ventricular supera rapidamente a atrial, promovendo o fechamento da valva mitral. Esse fechamento da valva mitral produz a primeira bulha cardíaca, denominada B1, a qual define a duração da sístole. A pressão ventricular esquerda continua a aumentar, ultrapassando a pressão da raiz da aorta, induzindo a abertura da valva aórtica. Em condições patológicas, um sopro de ejeção protossistólico (logo após B1) acompanha a abertura da valva aórtica. Normalmente, a pressão ventricular esquerda máxima corresponde à pressão arterial sistólica. Começa a ocorrer a queda da pressão ventricular à medida que o ventrículo esquerdo ejeta a maior parte do volume sanguíneo armazenado. Quando a pressão ventricular esquerda cai abaixo da pressão aórtica, ocorre o fechamento da valva aórtica. Esse fechamento da valva aórtica produz a segunda bulha cardíaca, denominada B2, a qual define a duração da diástole. Durante a diástole, a pressão ventricular continua a cair, alcançando níveis inferiores ao da pressão atrial esquerda, ocorrendo novamente a abertura da valva mitral. Após a abertura da valva mitral, ocorre o enchimento ventricular rápido, com o fluxo de sangue do átrio esquerdo para o ventrículo esquerdo, logo no início da diástole. Em crianças e em adultos jovens, pode surgir desse evento uma terceira bulha, denominada B3, secundária à desaceleração rápida da coluna de sangue contra a parede ventricular. Quando B3 é auscultada em idosos (fenômeno denominado como galope por B3), geralmente é um indicativo de alteração patológica quanto a uma sobrecarga de volume. A quarta bulha (B4) assinala a contração atrial, que ocorre após o enchimento ventricular rápido, a fim de ejetar o restante de sangue contido no átrio esquerdo. Geralmente, ela não é audível em adultos e, quando é auscultada, precede B1 do batimento cardíaco seguinte, refletindo uma alteração patológica na complacência ventricular. Ou seja: temos uma contração atrial em direção a um ventrículo rígido, podendo ocorrer em casos de estenose aórtica, hipertensão arterial, miocardiopatia hipertrófica e doença arterial coronariana. Fernanda Carvalho, 4º semestre – tutoria 04 As bulhas devem ser classificadas quanto à sua fonética (normo, hiper ou hipofonéticas), quanto ao seu ritmo (se regular ou arrítmico) e quanto ao seu tempo (em dois ou três tempos). Com isso, em pacientes com exame normal, temos a famosa anotação dos prontuários de Bulhas Rítmicas, Normofonéticas em dois tempos. Durante a inspiração, ocorre o aumento do tempo de enchimento do coração direito, de modo a incrementar o volume sistólico ventricular direito, fazendo com que a duração da ejeção ventricular direita dure mais do que a esquerda, de modo a retardar o fechamento da valva pulmonar, gerando o chamado desdobramento de B2 em dois componentes audíveis. O desdobramento de B1 é melhor auscultado no foco tricúspide, ao longo da borda esternal inferior esquerda. Diferente do desdobramento de B2, o de B1 não varia com a respiração. Ela reflete um discreto e normal assincronismo da contração ventricular, podendo ser auscultada em jovens e em crianças. No caso de o desdobramento ser muito amplo, levanta-se a suspeita de bloqueio de ramo direito. Deve-se comparar as intensidades de cada bulha, deslocando-se o estetoscópio para os demais focos de ausculta, sendo que B2 costuma ser mais hiperfonética na base, enquanto B1 costuma o ser na região apical do coração. Por fim, vamos falar dos sopros cardíacos, os quais se diferenciam das bulhas tanto pela sua duração quanto pelo seu timbre, decorrentes da turbulência do fluxo de sangue de corrente
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