Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
A CULTURA DO ESTUPRO E A CULPABILIZAÇÃO DA VÍTIMA Naathany Cechetto Monitora do Grupo DIVERGE – Unibrasil Estupro Segundo o art. 213 do Código Penal: “Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso.” De acordo com a Convenção de Belém do Pará: “(...) entender-se-á por violência contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera privada”. Com a nova redação da lei em 2009, o estupro passou a abranger a prática de qualquer ato libidinoso, conjunção carnal ou não, ampliando a sua tutela legal, para abarcar não só a liberdade sexual da mulher, mas também a do homem. É comum jogar a culpa da violência sexual no comportamento das mulheres Cultura DO Estupro A sociedade aceita o crime como uma ocorrência normal; A cultura do estupro se insere no seio das diversas violências suportadas pelas mulheres; O agressor, na maioria das vezes, é alguém do convívio da vitima, não um estranho; 143 mil mulheres foram estupradas no Brasil em 2013; Por medo, por vergonha ou por culpa, a maioria das vitimas não denuncia o crime, nem seu agressor. O IPEA estima que os dados oficiais representam apenas 10% dos casos ocorridos, ou seja, faz com que o crime do estupro seja um dos crimes mais subnotificados. Entre universitários, 4% dos rapazes admitem que já obrigaram alguém a fazer sexo com eles. Desses, 83% têm o hábito de embebedar as meninas antes do sexo. CULPABILIZAÇÃO DA VÍTIMA O IPEA constatou que muitos brasileiros culpam as mulheres vítimas de estupro pela conduta dos seus agressores. 58% dos entrevistados pelo IPEA concordam que “se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros” 99% dos agressores sexuais estão soltos. O estupro é o único crime no qual a vítima é julgada junto com o criminoso. Todas as instâncias trabalham para abafar o crime e jogar o assunto para baixo do tapete. SOCIEDADE patriarcal “A gente sempre fica de olho nas meninas mais gatas. As mais fáceis são as calouras porque elas não sabem beber ainda, aí a gente convida elas para a festa e serve qualquer bebida muito doce e cheia de álcool. Tem que ter talento pra isso, escolher as gatinhas já durante a semana e jogar o papo. Aí quando elas estiverem muito bêbadas, eu dou o bote. Levo prum quarto e tento tirar a roupa. Elas reagem, dizem que não querem, mas eu insisto e uma hora elas acabam capotando mesmo. Aí eu como elas.” Na Idade Média consentimento não era premissa para o sexo. O bispo de Óstia, Itália escreveu: “As mulheres sempre estão prontas para o sexo e não precisam de preparação”. Outro documento do século 13 recomendava: “Levante o vestido dela com uma mão e coloque a outra sobre seu sexo. Deixe que ela grite e faça o que quiser com ela”. Não basta a existência de um ordenamento que tenha vigência jurídica. Ele deve ter vigência social, isto é, deve ser aceito e aplicado pelos membros da sociedade. Nesse viés, o combate ao fenômeno da violência contra mulher não é função exclusiva do Estado. A sociedade deve se responsabilizar, no sentido de não aceitar conviver com este tipo de violência, pois, ao se manter inerte, ela contribui para a perpetuação da impunidade. REFERêNCIAS Capez, Fernando; Prado, Stela. Código Penal Comentado. 6ª edição. São Paulo, 2015. Marcão, Renato; Gentil, Plínio. Crimes Contra a Dignidade Sexual – Comentários ao Título VI do Código Penal. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015. Magalhães, Lívia. A culpabilização da mulher, vítima de estupro, pela conduta do seu agressor. Cabette, Eduardo Luiz Santos; Paula, Verônica Magalhães de. Crime de estupro: até quando julgaremos as vítimas? Sudário, Sandra; Almeida, Paulo César de; Jorge, Maria Salete Bessa. Mulheres Vítimas de Estupro: Contexto e Enfrentamento Dessa Realidade.
Compartilhar