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@resumosdamed_ 1 SANGRAMENTO DE SEGUNDA METADE DA GESTAÇÃO PLACENTA PRÉVIA: Definição: Considera-se placenta prévia aquela situada total ou parcialmente no segmento inferior do útero. CLASSIFICAÇÃO 4 tipos: central, parcial, marginal e baixa FATORES DE RISCO o A cesárea anterior constitui o fator de risco mais importante para a placenta prévia e o risco aumenta progressivamente com o número de procedimentos. Constituem outros fatores de risco: qualquer cicatriz uterina, idade materna avançada, multiparidade, tabagismo e gravidez gemelar. QUADRO CLÍNICO HEMORRAGIA. o Sem dúvida, é um sinal pontual e o mais importante o A hemorragia indolor, de sangue vermelho, brilhante, desvinculada de quaisquer esforços ou traumatismos, ocorre em mais de 90% dos casos, em geral despontando no último trimestre. Habitualmente, as perdas se sucedem, hemorragias cada vez mais importantes, pausas que se amiúdam, espoliação maciça pela intensidade ou que, somadas as crises, exsanguinam lentamente a gestante. @resumosdamed_ 2 EXAME FÍSICO. o A palpação é capaz de identificar a estática fetal alterada: situações oblíquas e transversas (15%), apresentação pélvica (15%) e cefálicas altas, por motivo da interposição da placenta entre a cabeça e o andar superior da bacia. o A ausculta do abdome revela batimentos cardíacos e a cardiotocografia (CTG) demonstra ser boa a viabilidade fetal. o A exploração digital do canal cervical está proscrita, pois há muito perdeu validade em face da precisão do diagnóstico ultrassonográfico. EXAME ESPECULAR. o Confirma, sob visão direta, que a hemorragia tem origem no canal cervical. PARTO. o A hemorragia tende a crescer de intensidade com o progresso da dilatação, que é proporcional à superfície da placenta descolada. o Nas placentas baixas, o sangue tende a deter-se quando se realiza a miotomia. SECUNDAMENTO. o O acretismo é comum; as retenções placentárias são habituais; a deficiente miocontração do segmento inferior é outro fator a provocar dificuldades nos 3º e 4º períodos (atonia e hemorragia). PUERPÉRIO. o Restos placentários podem permanecer aderidos e se infectar, especialmente pela proximidade entre a zona de inserção e a vagina. A subinvolução uterina e a anemia favorecem o aparecimento da infecção puérpera. DIAGNÓSTICO o O diagnóstico da placenta prévia deve ser realizado por ultrassonografia transabdominal de 20 a 24 semanas, mas a confirmação é feita pela ultrassonografia transvaginal, muito mais precisa que a abdominal, bem aceita pela paciente e segura, pois não causa sangramento. o Estima-se que cerca de 90% das placentas prévias diagnosticadas na ultrassonografia de 2º trimestre resolvam-se no exame de 36 semanas, pela expansão do segmento inferior no 2ºe no 3ºtrimestre, fenômeno conhecido como “migração placentária”. o A despeito de 2/3 das mulheres com placenta prévia sangrarem no período anteparo, esses raramente são episódios graves a ponto de exigirem interrupção da gravidez. Acredita-se que as mulheres com placenta prévia que apresentam sangramento (sintomáticas) e que permaneçam hemodinamicamente estáveis possam ser conduzidas ambulatoriamente. o O achado de área sonolucente na margem placentária que recobre o orifício interno (OI) do colo (seio marginal) eleva em 10 vezes o risco de hemorragia grave anteparo. o O colo com comprimento < 3 cm, pela ultrassonografia de 3º trimestre, indica possibilidade elevada de cesárea de emergência, antes de 34 semanas, por sangramento importante anteparo. o Pacientes que apresentam distância entre a borda da placenta e o OI ≥ 2 cm podem ser candidatas ao parto vaginal. Aquelas com essa @resumosdamed_ 3 distância < 4 cm (placenta baixa) apresentarão sangramento intenso no pós-parto. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ENTRE A PLACENTA PRÉVIA E O DESCOLAMENTO PREMATURO DA PLACENTA (DPP) NORMALMENTE INSERIDA. @resumosdamed_ 4 PLACENTA ACRETA E VASA PRÉVIA o Duas condições estão intimamente associadas à placenta prévia: placenta acreta e vasa prévia. Elas elevam sobremaneira a morbiletalidade materna e fetal; a acreta, a da mãe; e a vasa prévia, a do feto. PLACENTA ACRETA o A classificação do acretismo baseia-se na profundidade da invasão: • placenta acreta adere ao miométrio; • placenta increta invade o miométrio; • placenta percreta perfura o peritônio, alcançando, por vezes, órgãos vizinhos como a bexiga e os paramétrios • A placenta acreta corresponde a 80% dos casos de acretismo; a increta, a 15%, e a percreta, a 5%. o A placenta acreta é responsável por mortalidade materna elevada, tão alta quanto 6 a 7%, ou até maior em países em desenvolvimento FATORES DE RISCO o O fator de risco mais importante para o acretismo é a placenta prévia em mulheres desareadas (placenta prévia-cesárea); e o risco aumenta com o número de procedimentos. A placenta prévia-acreta-cesárea ocorre pela deficiência de decídua basal na zona da cicatriz uterina. o A elevação do número de cesáreas aumenta a taxa de placenta prévia, e a de acreta acompanha. Quanto maior o número de cesáreas anteriores, maior o risco de placenta acreta. o Incidência de acretismo em casos com placenta prévia de acordo com o número de cesáreas anteriores: QUADRO CLÍNICO o Os principais achados sonográficos sugestivos de acretismo incluem: perda/irregularidade da zona hipoecoica retroplacentária, adelgaçamento do miométrio (< 1 cm), lagos placentários anômalos com fluxo turbulento ao Doppler colorido, hipervascularização ou disrupção da interface serosa- parede vesical com protrusão do tecido placentário para dentro da bexiga o Tanto a ultrassonografia quanto a ressonância magnética (RM) são altamente sensíveis e específicas para diagnosticar ou excluir a placenta acreta. • A ultrassonografia é o procedimento de escolha pela praticidade e pelo baixo custo. • A RM seria especialmente útil para caracterizar o tipo de acretismo (acreta, increta, percreta), assim como a invasão de estruturas vizinhas VASA PRÉVIA o Na condição conhecida como vasa prévia, os vasos umbilicais cursam através das membranas sobre o orifício interno do colo e à frente da apresentação fetal, desprotegidos da estrutura placentária e do cordão umbilical. o Existem 2 variantes de vasa prévia: @resumosdamed_ 5 • tipo 1, resultante da inserção velamentosa do cordão. • tipo 2, decorrente de vasos caminhando entre os lobos de uma placenta sucenturiada/bilobada. o Em 2/3 dos casos a vasa prévia está associada à placenta baixa e em cerca de 30% das vezes a vasa prévia relaciona-se com a placenta sucenturiada/bilobada. FATORES DE RISCO o Os fatores de risco para vasa prévia são fertilização in vitro, placenta sucenturiada/bilobada e placenta prévia no 2º trimestre. o Pouco mais de 35% dos casos de vasa prévia sangram no 3º trimestre da gravidez e cerca de 28% exigem cesárea de emergência. QUADRO CLÍNICO o O quadro clínico de vasa prévia no parto, após a ruptura das membranas, é o de exsanguinação fetal; a hemorragia de apenas 100 ml é suficiente para determinar choque e morte do feto. o O traçado sinusoidal da frequência cardíaca fetal (FCF) pode ser o evento terminal, a indicar o óbito iminente do feto. o É possível identificar o local de inserção do cordão umbilical na placenta em quase 100% dos exames sonográficos entre 20 e 24 semanas. O diagnóstico antenatal de vasa prévia, pelo Doppler colorido transvaginal no 3º trimestre, assegura a sobrevida de quase 100% dos fetos, enquanto o diagnóstico no parto, de apenas 40 a 50%. EXAME DA PLACENTA o Torna possível o diagnóstico retrospectivo da placenta prévia. As membranas apresentam-se rompidas junto à borda da placenta, que apresenta coágulos, a denunciar o descolamento. Por outro lado, esse exame identifica a inserção velamentosa docordão e a placenta bilobada/sucenturiada. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL o Deve ser realizado, especialmente, com as outras causas de hemorragia da segunda metade da gestação: descolamento prematuro da placenta (DPP) e ruptura uterina TRATAMENTO DA PLACENTA PRÉVIA E ACRETA o Pacientes com cesárea anterior constituem classe especial, pois apresentam dois problemas a serem excluídos: placenta prévia e placenta acreta. Se a placenta é prévia e anterior, a implantação na cicatriz uterina constitui a placenta prévia-cesárea, com elevado risco de ser também placenta prévia-acreta-cesárea. o Pacientes que sangram (sintomáticas) devem ter conduta individualizada e não há regras sobre como conduzi- las. O prosseguimento da gravidez depende principalmente da estabilidade hemodinâmica materna. o Pacientes de risco para parto pré-termo, entre 24 e 34 semanas, devem receber corticoide profilático. o Pacientes assintomáticas com placenta baixa devem ser reexaminadas por meio da ultrassonografia com 36 semanas de gestação. Aquelas com placenta prévia ou com suspeita de placenta acreta devem realizar novo exame sonográficos mais cedo, com 32 semanas, para que o planejamento no 3º trimestre seja mais bem conduzido. o Pacientes com placenta prévia definitiva no 3º trimestre devem ser informadas de que apresentam risco elevado de parto pré-termo e sangramento. As sintomáticas com placenta prévia devem ser hospitalizadas com 34 semanas, e as assintomáticas ou com placenta baixa podem ser conduzidas ambulatoriamente. @resumosdamed_ 6 o A boa conduta na paciente com placenta acreta demanda Identificação dos fatores de risco (história de cesárea ou de miomectomia, placenta prévia), correto diagnóstico pré-operatório (ultrassonografia e RM) e tratamento adequado no parto (histerectomia-cesárea). o O tratamento da placenta acreta deve ser realizado em centros terciários e por equipe multiprofissional. Deve- se operar tendo à mão 10 unidades de concentrado de hemácias e 10 unidades de plasma fresco congelado, que serão utilizados na proporção 1:1. o Algumas opções conservadoras têm sido sugeridas, incluindo o tratamento expectante, terapia com fármacos (metotrexato), embolização das artérias uterinas e cirurgia com preservação do útero PARTO o O parto vaginal pode ser tentado na placenta baixa, quando a borda placentária está a mais de 2 cm do OI do colo o Mulheres com placenta prévia cuja margem placentária está a menos de 2 cm do OI no 3o trimestre devem ser operadas por cesárea. A cesárea eletiva deve ser realizada com 38 a 39 semanas, nas assintomáticas com placenta baixa e com 36 a 37 semanas nas assintomáticas com placenta prévia. o As pacientes com placenta acreta serão operadas com 34 semanas – histerectomia-cesárea. TRATAMENTO DA VASA PRÉVIA o Para a vasa prévia diagnosticada na gravidez, é indicado corticoide entre 28 e 32 semanas, considerada a hospitalização com 30 a 34 semanas e interrompe a gravidez entre 34 e 37 semanas. PARTO o Em geral, a vasa prévia apresenta-se no parto, com sangramento vaginal após a ruptura das membranas e anormalidades na FCF, tais como bradicardia, desaceleração tardia e traçado sinusoide. o Diagnosticada a vasa prévia no parto, pelo quadro clínico já descrito, indica-se a cesárea de emergência. DESCOLAMENTO PREMATURO DA PLACENTA o O descolamento prematuro da placenta normalmente inserida (DPP) é a separação intempestiva da placenta implantada no corpo do útero, antes do nascimento do feto, em gestação de 20 ou mais semanas. Portanto, não se trata do descolamento pós-parto, como na dequitação normal, nem se confunde com a placenta prévia, cuja inserção ocorre na região do segmento inferior. o O DPP é causa importante de sangramento vaginal na segunda metade da gravidez, especialmente entre 24 e 26 semanas. o A mortalidade perinatal é consequência da asfixia intrauterina e da prematuridade, e 15 a 20% dos recém-nascidos podem apresentar sequelas neurológicas. ETIOLOGIA @resumosdamed_ 7 FATORES DE RISCO o Os fatores de risco para o DPP incluem a história do acidente em gravidez anterior, trauma, tabagismo, uso de cocaína, gravidez múltipla, hipertensão, pré-eclâmpsia, idade materna avançada, ruptura prematura das membranas pré-termo (RPMP), placenta circunvalada, infecção intrauterina (corioamnionite), dengue, polidramnia e Doppler de uterina anormal. PATOLOGIA ALTERAC ̧ÕES UTEROPLACENTÁRIAS o Não importa a etiologia do DPP, o sangue chega à zona de clivagem deciduoplacentária e inicia a separação; vasos maternos se abrem e o espaço retroplacentário é invadido. O útero, que reage com hipertonia, aumenta a tensão no local da coleção sanguínea, provocando o descolamento de novas áreas. o Parte do sangue coagula, fica aprisionada atrás da placenta e será́ eliminada somente após o parto, constituindo o hematoma retroplacentário. Outra parte descola as membranas e flui para o exterior, configurando a hemorragia externa, que ocorre em 80% dos casos; nos 20% restantes, o sangue fica totalmente retido, determinando a hemorragia oculta. o Tipos de descolamento prematuro da placenta (DPP): com hemorragia oculta (A) e com hemorragia externa (B). o Ocasionalmente, o sangue pode alcançar a cavidade amniótica, por soluções de continuidade das membranas, e causar o hemoâmnio. Quando as membranas permanecem íntegras e se encontram totalmente descoladas pelo sangue, o peso do hematoma retroplacentário e o da própria placenta podem determinar a rotação intrauterina do ovo, constituindo a eventualidade rara do prolapso da placenta (Figura B). o Em 10 a 20% dos casos de DPP, a hemorragia oculta é intensa; as hemácias e o soro, provenientes do coágulo retroplacentário, são impulsionados pelo miométrio, em que dissociam o sistema de miofibrilas. Trata-se do quadro da apoplexia uteroplacentária ou útero de Couvelaire. O útero, as tubas uterinas, os ovários e os ligamentos largos, à conta das efusões sanguíneas ou equimoses que se assestam sob a serosa, mostram coloração azulada marmórea característica. A atonia uterina que se observa no pós-parto é, em grande parte, proveniente dessa desorganização da estrutura miometrial. o O DPP, decorre da hemorragia na interface decíduo-placentária. o Atualmente, sabe-se que o DPP pode ter a sua origem no primeiro trimestre da gravidez, pela placentação defeituosa, em que é deficiente a invasão trofoblástica, com remodelação incompleta das artérias espiraladas – como mostram as biopsias do leito placentário e o Doppler da artéria uterina anormal (incisura) no exame realizado entre 20 e 24 semanas de gestação. O DPP, o crescimento intrauterino restrito (CIR), a toxemia, o parto pré-termo, a RPMP e o abortamento tardio teriam o mesmo modelo etiopatogênico, constituindo as Grandes Síndromes Obstétricas. o Certamente, em alguns casos, o DPP é processo agudo, como costuma ocorrer no trauma e na descompressão súbita que resulta da ruptura das membranas no polidrâmnio ou após o parto do primeiro gemelar. o A separação aguda da placenta corta o suprimento fetal de oxigênio e de nutrientes, e o feto geralmente morre quando o descolamento é maior que 50% o Em casos de DPP recente, o exame da placenta delivrada revela coágulo aderido à sua face materna; nos casos antigos, no local do descolamento, há depósitos de fibrina, infartos e depressão característica, conhecida como cratera. o Como referido, a incidência de placenta circunvalada é elevada. @resumosdamed_ 8 ALTERAC ̧ÕES RENAIS o O DPP é a causa mais comum de necrose cortical aguda na gravidez. Graus incompletos da afecção, a necrose tubular aguda, provocam oligúria temporária, com eventual recuperação; manifestações graves, responsáveis pela anúria completa, são raras. SÍNDROME DE SHEEHAN o A síndrome de Sheehan (ou necrose hipofisária pós-parto) é outracomplicação importante do DPP, principalmente nos casos com grande sangramento, choque e coagulação intravascular disseminada (CID) Além dos fatores de risco para a necrose hipofisária, a adeno-hipófise sofre hipertrofia na gravidez, devido ao aumento das células lactóforas, produtoras de prolactina (PRL), pelo estímulo estrogênico, o que demanda maior afluxo sanguíneo. o No pós-parto, a mulher tem agalactia, amenorreia e insuficiência da suprarrenal e hipotireoidismo. ALTERAC ̧ÕES DA HEMOCOAGULAC ̧ÃO o A cascata da coagulação é ativada pela liberação de tromboplastina (fator tecidual) na circulação materna, proveniente do hematoma, com o consumo dos fatores da coagulação determinando a CID. QUADRO CLÍNICO o O quadro clínico do DPP é variável, podendo haver desde casos assintomáticos até aqueles nos quais há morte fetal e grave morbidade materna. o Os sintomas clássicos são sangramento vaginal e dor abdominal. o O volume da hemorragia vaginal tem pouca correlação com o grau do DPP. Por outro lado, a extensão do descolamento está associada ao óbito fetal: separação > 50%, leva à natimortalidade com frequência. o A hipertonia uterina é pontual, acompanhada de contrações de elevada frequência e de baixa intensidade. À palpação, o útero é duro e doloroso. o A convergência de tantos fatores adversos à vitalidade fetal – diminuição da superfície de trocas placentárias, hipertonia uterina, hipotensão arterial, eventual toxemia associada – deflagra sinais de sofrimento no feto; ou em caso de óbito, a ausência dos batimentos cardíacos. o Em 50% dos casos, a cardiotocografia (CTG) revela traçados característicos de sofrimento fetal: desaceleração tardia, variabilidade reduzida, bradicardia. o Menos frequentemente, e em especial nos casos de DPP com hemorragia oculta e morte fetal, o primeiro sinal clínico é a coagulopatia. Nesse cenário, é comum o choque hipovolêmico materno. A necrose tubular ou a cortical, consequentes à hipovolemia e à CID, conduzem à oligúria e à insuficiência renal aguda. Estágios iniciais de isquemia renal determinam a necrose tubular, que é reversível; a necrose cortical, por sua vez, é irreversível. o O toque no início do DPP mostra colo imaturo, longo e com dilatação mínima; a bolsa das águas está tensa (pela hipertonia uterina) e, apenas rompida, despeja, em jato forte, o líquido amniótico, em um ou outro caso hemorrágico (hemoâmnio). o A cervicodilatação pode ser completada com rapidez surpreendente, e a expulsão fetal costuma ocorrer com a mesma agilidade. A placenta, já descolada, é expelida logo a seguir, juntamente com o hematoma retroplacentário; na face materna, mostra a cratera característica. Na oportunidade, é comum observar o parto em alude: feto, placenta e páreas, expulsos em turbilhão, com coágulo apegado. o No pós-parto, especialmente nas formas apopléticas, são frequentes as hemorragias incoercíveis, atribuídas não apenas à atonia uterina, mas @resumosdamed_ 9 associadas aos distúrbios da hemocoagulação, que não são privativos do quarto período ou do puerpério. o Já nas primeiras horas de evolução do descolamento, sobretudo quando a sintomatologia é mais ostensiva e grave, podem surgir os primeiros sinais da discrasia (sangue vaginal que não coagula, hematomas nos locais de punção, gengivorragias etc.), cujo diagnóstico pode ser confirmado por meio de testes específicos. o O desenvolvimento da sintomatologia do DPP é gradual e ocorre em algumas horas, acompanhando, juntamente, o aumento da área placentária descolada e a intensidade da hemorragia oculta. o O DPP pode ser classificado em quatro graus: • Grau 0 – assintomático: o diagnóstico é retrospectivo, pelo exame da placenta que mostra o hematoma retroplacentário • Grau 1 – leve: há sangramento vaginal, mas a paciente não relata dor ou age com discrição; mãe e feto estáveis • Grau 2 – intermediário: caracterizado por sangramento vaginal, dor abdominal intensa, hipertonia uterina; feto em sofrimento, mas vivo • Grau 3 – grave: associado ao óbito fetal. Esse tipo pode ser subdividido em grau 3A, sem coagulopatia, e grau 3B, com coagulopatia. DIAGNÓSTICO o O diagnóstico pode ser clínico ou obtido por meio da ultrassonografia ou da ressonância magnética. CLÍNICO o O diagnóstico do DPP é eminentemente clínico: sangramento e dor abdominal, por vezes história de trauma ou RPMP. o A sintomatologia é inconfundível e, em geral, torna o diagnóstico incontroverso; no entanto, há de ser afastada a placenta prévia. o Quando o descolamento se limita à pequena porção da placenta, pode confundir- se, uma vez afastadas possíveis lesões do colo uterino, com a ruptura do seio marginal. As dúvidas somente se resolvem pelo exame pós-parto dos anexos, que mostra a existência de trombo escuro, firme, organizado e aderente à luz do seio marginal. ULTRASSONOGRAFIA o O coágulo é identificado apenas à ultrassonografia em 25% dos casos. o A imagem sonográfica no DPP depende da extensão e da localização do coágulo, assim como da duração do acidente. o A localização mais frequente do hematoma é a subcoriônica. Na fase aguda, o hematoma costuma ser hiper/isoecoico comparado com a placenta; nesses casos, a ultrassonografia pode mostrar apenas placenta heterogênea e espessada (> 5 cm). Posteriormente, dentro de @resumosdamed_ 10 1 semana, o hematoma torna-se hipoecoico e, após 2 semanas, sonolucente. o Casos com separação > 50% ou coágulo > 50 ml oneram o prognóstico, determinando sofrimento e morte fetal. RESSONÂNCIA MAGNÉTICA o A ressonância magnética (RM) diagnostica 100% dos casos de DPP e tem importância no prognóstico. o A intensidade do sinal do hematoma pode ser correlacionada com o prognóstico clínico do DPP. As imagens magnéticas podem ser classificadas em quatro tipos: hiperaguda, aguda, subaguda precoce e subaguda tardia. o As imagens hiperaguda/aguda estão associadas aos quadros de DPP instável (graus 2 e 3); e as imagens subagudas precoce/tardia, ao DPP estável (grau 1). Do nosso ponto de vista, a RM estaria especialmente indicada nos casos de DPP “crônico”, que será́ comentado adiante. TRATAMENTO o O tratamento depende da extensão do DPP, do comprometimento materno e fetal e da idade da gravidez o Em casos de DPP com feto vivo e periviável (≥ 23 semanas), está indicada a interrupção da gravidez, de preferência pela operação cesariana. o Embora o útero de Couvelaire, por si só, não seja indicação de histerectomia (subtotal), a atonia uterina intratável pode indicá-la. Antes, a massagem uterina, o uso de ocitócicos (ocitocina, misoprostol) e a chamada “prova da sutura” são procedimentos válidos; então, inicia-se a síntese do miométrio e aguarda-se o resultado o Em casos de DPP grave com morte fetal ou feto inviável, o parto vaginal é o indicado. Em geral, após a miotomia, o útero se contrai vigorosamente e o parto progride de maneira muito rápida. Há risco iminente de coagulopatia e de choque hipovolêmicos que, caso ocorram, devem ser tratados. Muitos casos de DPP estão associados à pré-eclâmpsia grave, que também deve ser medicada. Após o parto, a paciente deve ser meticulosamente monitorada pela grande incidência da atonia pós-parto o Em gestações pré-termo (< 34 semanas), quando o quadro do DPP não é grave (“crônico”) e os estados materno e fetal estão estáveis, pode- se recomendar a conduta conservadora com rigorosa vigilância das condições maternas e fetais. Entre 24 e 34 semanas, prescreve-se o corticoide para amadurecer o pulmão fetal, muitas vezes associado a tocolítico. Hospitalização prolongada e monitoramento materno e fetal (CTG) são necessários. A RM seriada avalia a evolução do hematoma (as imagens subagudas, especialmente a tardia, indicam um hematoma estável). TRAUMA NA GRAVIDEZ. o No caso de mulheres que sofreram trauma na gravidez, como acidente gravede carro, em até 40% das vezes está associado o DPP. Todas as mulheres envolvidas em trauma devem ter seu feto monitorado por pelo menos 4 h. O traçado anormal é indicação de DPP e de interrupção da gravidez. @resumosdamed_ 11 PROGNÓSTICO FETAL. o O DPP é responsável por 10% da natimortalidade. Cerca de 34% dos que sobrevivem desenvolvem leucomalacia periventricular ou hemorragia intraventricular. MATERNO. o Cerca de 20% das mortes maternas, por hemorragia, são decorrentes do DPP. Agravam o prognóstico antecedentes toxêmicos, CID, choque e insuficiência renal aguda. ACONSELHAMENTO PÓS-CONCEPCIONAL o Mulheres com DPP apresentam risco 10 vezes maior de repetir o acidente na próxima gestação. o Aquelas que fumam ou fazem uso de cocaína devem ser aconselhadas a parar; é necessário controlar a hipertensão. HIPERÊMESE GRAVÍDICA o A hiperêmese gravídica, vômitos simples do início da gestação, e a hiperêmese gravídica, vômitos incoercíveis da gravidez, diferem apenas na intensidade e na repercussão clínica de seus efeitos. Trata-se do mesmo processo, no entanto, a hiperêmese configura a forma grave. o Náuseas e vômitos da gravidez são condições comuns que afetam 70 a 85% das grávidas. Em 60% dos casos, cessam ao fim do 1o trimestre; em 90% dos casos, com 20 semanas. o Não há definição única para a hiperêmese gravídica, sendo a mais aceita aquela que considera a perda ponderal de, no mínimo, 5% do peso pré-gravídico; anormalidades como desidratação e desnutrição (cetonúria) costumam estar presentes. o A hiperêmese gravídica é a segunda causa mais frequente de internação hospitalar, após o parto pré-termo. ETIOLOGIA E FATORES DE RISCO o A etiologia de náuseas e vômitos da gravidez ainda é imprecisa. Especula-se como candidatos prováveis os hormônios placentários, gonadotrofina coriônica humana (hCG) e estrogênios, talvez inter-relacionados. Sabe-se, com certeza, que o pico dos sintomas de náuseas e vômitos da gravidez está associado ao da hCG. o Além disso, hCG e estrogênios têm seus níveis elevados nas gestações gemelar e molar, reconhecidamente relacionadas com o exagero de náuseas e vômitos da gestação. o Entre os fatores de risco, podem ser citadas a história de hiperêmese gravídica em gestação anterior, a história familiar (mãe, irmã̃) e a gravidez de feto feminino. o É provável que o conceito de que náuseas e vômitos da gravidez represente conflito psicológico tenha impedido o progresso para o conhecimento da verdadeira causa da doença QUADRO CLÍNICO o O quadro clínico decorre, inicialmente, de perdas hidroeletrolíticas; mais tarde, da desnutrição. Nas pacientes negligenciadas, a deficiência de carboidratos acelera o metabolismo dos lipídios, resultando no aparecimento de corpos cetônicos na urina: quadro denominado cetonúria. @resumosdamed_ 12 o Quando a desnutrição está muito avançada, ocorre deficiência de tiamina (vitamina B1), que conduz ao quadro neurológico/psiquiátrico da síndrome de Wernicke- Korsakoff. o A separação da hiperêmese gravídica em duas formas clínicas, de média e de grave intensidade, é clássica: • Formas médias: pacientes abandonadas na êmese simples, por 2 a 4 semanas, com perda ponderal discreta, de 5% do peso pré- gravídico; o pulso mantém-se abaixo de 100 bpm • Formas graves: a perda ponderal é acentuada, 6 a 8%, e o pulso mostra-se rápido, acima de 100 bpm; cetonúria pontual. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL E ULTRASSONOGRÁFICO o A maioria das pacientes com náuseas e vômitos não necessita de avaliação laboratorial. Em casos de hiperêmese gravídica, podem ser requisitados exames laboratoriais para avaliar a gravidade da doença e estabelecer o diagnóstico diferencial. o Anormalidades laboratoriais na hiperêmese gravídica incluem: aumento das enzimas hepáticas (< 300 UI/l), bilirrubina sérica (< 4 mg/dl) e amilase e lipase séricas (aumento de até 5 vezes o limite normal). O exame de urina pode revelar aumento da densidade e cetonúria. o Nos casos de hiperêmese gravídica, a ultrassonografia é útil para identificar gestação gemelar ou molar. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL o Náuseas e vômitos nas primeiras 9 semanas da gravidez acometem quase todas as grávidas. Quando a paciente experimenta náuseas e vômitos após 9 semanas, outras condições, em sua maioria intercorrentes na gravidez, devem ser cogitadas DOENÇAS GASTRINTESTINAIS o Gastrenterite, Hepatite, Obstrução intestinal, Úlcera péptica, Pancreatite, Colecistite, Apendicite DOENÇAS DO SISTEMA GENITURINÁRIO o Pielonefrite, Cálculo renal, Uremia, Torção do ovário, Degeneração miomatosa DOENÇAS METABÓLICAS o Cetoacidose diabética, Porfiria, Doença de Addison, Hipertireoidismo DOENÇAS NEUROLÓGICAS o Lesões vestibulares, Enxaqueca, Tumores do SNC OUTRAS o Intoxicação/Intolerância medicamentosa, psiquiátricas CONDIÇÕES RELACIONADAS COM A GRAVIDEZ o Esteatose hepática aguda da gravidez, Pré-eclâmpsia RUPTURA UTERINA o A ruptura uterina, episódio obstétrico da maior gravidade, pode ocorrer durante a gravidez ou no parto. Sua frequência é inversamente proporcional à @resumosdamed_ 13 qualidade da assistência pré-natal e, sobretudo, da dispensada durante o trabalho de parto. o A etiologia principal da ruptura uterina nos países desenvolvidos é a pós- cesárea; no mundo em desenvolvimento, é o parto obstruído. Outros fatores de risco incluem grande multiparidade, uso de uterotônicos, traumatismo, placenta percreta, versão interna e grande extração. RUPTURA UTERINA NA GRAVIDEZ o Atualmente, esta ruptura é rara; durante a gravidez, embora seja mais frequente na sua segunda metade, não é exclusiva desse período. ETIOLOGIA o As traumáticas são determinadas pelas quedas sobre o ventre, pancadas resultantes de acidentes de trânsito, ferimentos penetrantes de armas brancas ou de fogo, manuseio da cavidade uterina (dilatação do colo e curetagem, implantação de dispositivo intrauterino [DIU], uso de diversos objetos com fim abortivo ou propedêutico), versão por manobras externas. o Outras vezes, ocorre a ruptura espontânea, geralmente de processo lento, progressivo, que prospera de modo assintomático e ocorre no final da gestação, em cicatriz de cesariana, de miomectomia, de salpingectomia (quando ressecada a porção intramural da tuba uterina), de operação para corrigir útero duplo ou em zonas patológicas da matriz com resistência diminuída (inflamação, necrose, endometriose, adenomiose, acretismo placentário). Em geral, são fúndicas, excluindo-se as deiscências de cicatriz de cesárea no segmento inferior ou na face ventral do corpo (a última é rara, visto que são excepcionais as indicações para histerectomia clássica). QUADRO CLÍNICO o As rupturas uterinas, ocorrentes no início da gravidez, têm quadro clínico igual ao da gravidez ectópica, e o diagnóstico somente é confirmado após laparotomia. Há dor muito intensa, sinais nítidos de hemorragia interna com irritação peritoneal e sangramento vaginal. A ultrassonografia pode contribuir para o discrime diagnóstico. O choque geralmente ocorre. o Na segunda metade da gravidez, a sintomatologia costuma ser mais discreta. A evolução da ruptura é lenta e, mesmo quando completa, a extrusão do feto é progressiva no rumo da cavidade abdominal. A paciente relata dores no ventre e metrorragia; a palpação revela duas massas distintas: a matriz e o feto, este, em geral, inaudível. O choque instala-se gradativamente e, por vezes, a infecção também. O prognóstico fetal é o óbito; e o materno, muito grave. RUPTURA UTERINA NO PARTO ETIOPATOGENIA RUPTURAS ESPONTÂNEAS E PROVOCADAS. o As rupturas espontâneas ocorrem sem a interferência do parteiro, que, no entanto, pode ser responsável por omissão. o As rupturas provocadas, traumáticas, decorrem especialmente da tocurgia transpélvica. Há ainda aquelas consequentes ao aumentoexagerado da contratilidade uterina pela administração intempestiva de ocitócicos; embora induzidas, apresentam fisiopatologia semelhante à das espontâneas. @resumosdamed_ 14 FATORES PREDISPONENTES E DETERMINANTES. o Nas rupturas espontâneas, é necessário considerar os fatores predisponentes e determinantes. Os primeiros enfraquecem a parede do útero: multiparidade, processos infecciosos, adenomiose, penetração excessiva do trofoblasto (acretismo placentário, neoplasia trofoblástica), cicatrizes (cesárea, miomectomia etc.). Os segundos configuram o parto obstruído ou bloqueado: desproporção cefalopélvica (vícios pélvicos, macrossomia fetal), apresentações anômalas, tumores prévios, malformações uterinas. o Afastada a circunstância, rara, de acentuada debilidade da parede miometrial, na qual a ruptura pode ocorrer na vigência de contração normal, costumam ser observadas as contrações exageradas, tentando vencer a passagem obstruída. Na tentativa de superar o obstáculo, o útero redobra esforços com metrossístoles cada vez mais potentes. Excede-se sua dinâmica e o segmento inferior, muito solicitado, distende-se até alcançar limite perigoso. LOCAL E TIPO DE RUPTURA. o Com relação ao local, a ruptura uterina será́ corporal, segmentária ou segmento-corporal. Completa, quando alcançar a parede uterina em todas as suas camadas; incompleta, na hipótese de permanecer intacta uma estrutura (p. ex., o revestimento peritoneal), quando pode ser rotulada também de deiscência. No que se refere à propagação, poderá alcançar órgãos convizinhos (como a bexiga, a vagina, o reto e o ureter) e, nessas hipóteses, será́ classificada como ruptura complicada. o Figura A. Ruptura completa segmentária. B. Ruptura completa corporal. C. Ruptura incompleta, com grande hematoma distendendo o ligamento largo QUADRO CLÍNICO SÍNDROME DE DISTENSÃO SEGMENTÁRIA (OU DE BANDL- FROMMEL) o Na iminência de ruptura, a paciente fica agitada e ansiosa; as contrações são enérgicas e excessivamente dolorosas, subintrantes, exteriorizando-se em sofrimento contínuo de localização preferentemente hipogástrica. Tal fato desperta, na parturiente, o movimento inconsciente de colocar as mão no segmento inferior do útero cada vez que o órgãos se contrai. Nessa emergência, pela parede abdominal, distante da borda superior da sínfise, próximo ou já à altura da cicatriz umbilical, é possível notar o relevo do anel que separa o corpo uterino do segmento inferior (sinal de Bandl). Palpam-se, retesados, os ligamentos redondos, geralmente desviados para a face ventral do útero (sinal de Frommel), imprimindo ambos ao quadro clínico as características da síndrome de distensão segmentária o Nessa emergência, caso o socorro profissional não favoreça a parturiente com terapêutica pronta e exata ou o trabalho de parto não se paralise espontaneamente, quando o miométrio esgota, sobrevém, invariavelmente, a ruptura, geralmente dramática na exteriorização do seu quadro clínico ou, mais raramente, silenciosa, surgindo apenas tardiamente. RUPTURA UTERINA CONSUMADA o A ruptura uterina consumada pode ser caracterizada por sintomas e sinais característicos. DOR. o Na sequência de contrações uterinas cada vez mais fortes, a ocorrência de dor súbita, de violência maior que as anteriores, lancinante, localizada na região hipogástrica, denuncia o acidente. @resumosdamed_ 15 PARALISAÇÃO DO TRABALHO DE PARTO. o Útero roto não se contrai. Trata-se de um sintoma precoce na ordem cronológica e segue-se à dor penetrante provocada pela ruptura. Nas lesões completas, com extrusão do feto para a cavidade abdominal, o útero se retrai como no pós-parto. De certa maneira, o parto terminou, sendo feto e placenta evadidos para o abdome o Nas rupturas incompletas, o quadro não aparece de maneira tão clara e o útero pode continuar a esboçar contrações quase imperceptíveis. HEMORRAGIA. o Discreta ou profusa, relata-se por perda vaginal ou permanece oculta, mascarada nos hematomas dissecantes dos ligamentos largos ou nas coleções intracavitárias que enchem os fundos de saco e se espalham acima da pelve, de permeio com as vísceras abdominais. o Conforme a gravidade da hemorragia, sobrevém, ou não, o estado de choque. INSPEÇÃO. o Nas pacientes com pequeno panículo adiposo, notam-se duas saliências – uma representada pelo útero vazio e outra constituída de feto em situação indiferente. PALPAÇÃO. o Esta técnica confirma e minucia a última informação e, em alguns casos, possibilita que se perceba a crepitação produzida pela passagem de ar para o peritônio, em contiguidade com o tecido subcutâneo da parede abdominal (sinal de Clark), por meio da vagina e da solução de continuidade uterina. Nas hemorragias profusas, intracavitárias, o hemoperitônio pode se denunciar pela maciez nos flancos, que varia com a mudança de decúbito. TOQUE. o Possibilita a revisão da cavidade uterina quando ela está vazia e evidencia a sede e a extensão da lesão, confirmando o diagnóstico. Contrastando com os exames precedentes, nos quais se consignava a apresentação fixada à área do estreito superior ou encaixada, ela não é mais perceptível, consumada a ruptura. A pelve está vazia. A ascensão do polo apresentado é sinal patognomônico. AUSCULTA o Eventualmente, logo após o acidente, identificam-se os batimentos cardíacos do feto, sendo este um fato mais frequente nos casos de simples deiscência e naqueles em que o ovo se conserva na cavidade uterina. Nas rupturas de grande extensão, com extrusão do feto para o abdome ou lesões importantes comprometendo as artérias uterinas, a ausculta é negativa. RUPTURA UTERINA PÓS-CESÁREA o Atualmente, a ruptura uterina mais frequente ocorre em mulheres anteriormente desareadas que se submetem ao parto vaginal. o Define-se ruptura uterina sintomática quando acomete todas as camadas do útero, com sequelas adversas para a mãe ou para o feto (hemorragia, histerectomia, lesão de bexiga, extrusão de qualquer parte do feto, cordão ou placenta, sofrimento ou morte fetal). o A ruptura de cicatriz uterina prévia, assintomática, completa ou incompleta, sem sequelas para a mãe e para o concepto, é rotulada apenas como deiscência uterina o Inúmeros fatores elevam o risco da ruptura uterina no parto vaginal de mulheres que se submeteram anteriormente à cesárea: múltiplas cesáreas anteriores, principalmente com intervalo menor que 18 a 24 meses; idade materna avançada (> 30 anos); idade gestacional; peso fetal; febre pós-parto; amadurecimento do colo com prostaglandinas; @resumosdamed_ 16 indução de parto; sutura do útero em apenas uma camada; e anomalias uterinas. o Pacientes que deram à luz com ≥ 42 semanas têm risco maior em comparação com aquelas que pariram com idade gestacional entre 37 e 41 semanas. Do mesmo modo, mulheres que dão à luz bebês que pesam ≥ 4.000 g ao nascer apresentam o dobro de risco de terem ruptura uterina, quando comparadas às que têm crianças com peso ≤ 4.000 g o Mulheres que tiveram o trabalho de parto induzido apresentam o dobro de risco de ruptura uterina, em comparação com mulheres cujo início do trabalho de parto foi espontâneo, com ou sem cesariana prévia. CONTROLE DA HEMORRAGIA o Um dos elementos mais cruciais do controle das hemorragias obstétricas é definir sua gravidade. A estimativa visual da perda sanguínea, em especial quando é excessiva, é extremamente imprecisa e, em geral, o volume de sangue perdido é 2 a 3 vezes maior que as estimativas clínicas. o Também é importante considerar que, em obstetrícia, parte e, algumas vezes, até mesmo todo o sangue perdido pode estar oculto. o A estimativa também é complicada porque a hemorragia periparto - período no qual ocorre a maioria dos casos graves - também inclui o aumento sanguíneo induzido pela gestação. o Quando a hipervolemia gestacional não é levada em consideração,a perda sanguínea subsequente de 1.000 mL em geral faz o hematócrito diminuir em apenas 3 a 5 volumes percentuais na primeira hora. O nível mais baixo do hematócrito depende da rapidez da reposição dos cristaloides intravenosos infundidos. Vale lembrar que, quando há perda sanguínea anormalmente grande, o hematócrito em tempo real alcança nível máximo sempre que é determinado na sala de parto, no centro cirúrgico ou no setor de recuperação. o Uma regra prudente é que, sempre que a perda sanguínea for avaliada acima da média, o hematócrito deve ser determinado e devem ser adotadas medidas de observação rigorosa para detectar deterioração fisiológica. o O débito urinário é um dos "sinais vitais" mais importantes que devem ser monitorados nas mulheres com hemorragia obstétrica. O fluxo sanguíneo renal é especialmente sensível às alterações do volume sanguíneo. A menos que sejam administrados diuréticos que poucas vezes estão indicados quando há sangramento em atividade as determinações precisas do fluxo urinário refletem a perfusão renal, que por sua vez, reflete a perfusão dos outros órgãos vitais. Por essa razão, é importante manter o débito urinário mínimo de 30 mL e, de preferência, em torno de 60 mL, por hora ou mais. Com as hemorragias potencial mente graves, um cateter urinário de longa permanência deve ser colocado para medir o débito urinário a cada hora CHOQUE HIPOVOLÊMICO o O choque hemorrágico tem vários estágios. o Nas fases iniciais de um sangramento profuso, há reduções da pressão arterial média, do volume ejetado, do débito cardíaco, da pressão venosa central e da pressão capilar pulmonar em cunha. O aumento do gradiente arteriovenoso de oxigênio reflete o aumento relativo da extração tecidual do oxigênio, embora o consumo sistêmico diminua. o O fluxo sanguíneo dos leitos capilares de vários órgãos é controlado pelas arteríolas, as quais são os vasos de resistência e são controladas parcialmente pelo sistema nervoso central. No entanto, cerca de 70% do volume sanguíneo total estão presentes nas vênulas, que são vasos de resistência passiva controlados por fatores humorais. A secreção de catecolaminas durante a hemorragia provoca um aumento generalizado do tono venular que acarreta uma "autotransfusão" a partir desse reservatório de capacitância. Essas alterações são acompanhadas de aumentos compensatórios da frequência cardíaca, das resistências vasculares pulmonar e sistêmica, bem como da contratilidade miocárdica. Além disso, há redistribuição do débito cardíaco e do volume sanguíneo por vasoconstrição ou vasodilatação @resumosdamed_ 17 arteriolar mediada por mecanismos centrais - autorregulação. Desse modo, embora a perfusão dos rins, dos vasos esplâncnicos, dos músculos, da pele e do útero diminua, fluxos sanguíneos relativamente maiores são mantidos no coração, no cérebro e nas glândulas suprarrenais. o Quando o déficit de volume sanguíneo ultrapassa o valor aproximado de 25%, os mecanismos compensatórios em geral não conseguem manter o débito cardíaco e a pressão arterial. É importante ressaltar que pequenos volumes adicionais de sangue perdido provocam então deterioração clínica rápida. Depois de uma fase inicial de extração de oxigênio total aumentada, a má distribuição do fluxo sanguíneo causa hipoxia tecidual local e acidose metabólica. Isso inicia um círculo vicioso de vasoconstrição, isquemia dos órgãos e morte celular. Outro efeito clínico importante da hemorragia é a ativação dos linfócitos e dos monócitos, que, por sua vez, causam ativação das células endoteliais e agregação das plaquetas. Isso estimula a liberação de mediadores vasoativos com obstrução dos vasos diminutos e deterioração adicional da perfusão da microcirculação. Outras síndromes obstétricas comuns - pré-eclâmpsia e sepse - também resultam na perda da integridade do endotélio capilar, na perda adicional de volume intravascular para o espaço extracelular e na agregação das plaquetas o Os fenômenos fisiopatológicos descritos antes provocam desvios importantes, ainda que geralmente despercebidos, de líquidos e eletrólitos extracelulares, que estão envolvidos na patogenia e no sucesso do tratamento do choque hipovolêmico. Isso inclui alterações do transporte celular de vários íons (p. ex., sódio) e de água para os músculos esqueléticos e perda de potássio. Por essa razão, é necessário repor os líquidos extracelulares e o volume intravascular. A sobrevivênda dos pacientes em choque hemorrágico agudo aumenta quando se administra sangue e solução cristaloide, em comparação com a administração simples de sangue. TRATAMENTO IMEDIATO E REANIMAC ̧ÃO o devem ser tomadas medidas simultâneas para detectar a origem da hemorragia e iniciar a reanimação. Quando a paciente ainda não deu à luz, a reposição do volume sanguíneo traz efeitos benéficos à mãe e ao feto e também prepara para o parto de emergência. Quando a gestante já deu à luz, é essencial detectar imediatamente atonia uterina, retenção de fragmentos placentários ou lacerações do trato genital. No mínimo um e preferencialmente mais de um sistema de infusão intravenosa calibroso deve ser estabelecido imediatamente para administração rápida de soluções cristaloides. o O tratamento específico da hemorragia depende de sua causa. REPOSIC ̧ÃO DE LÍQUIDOS o Tratamento da hemorragia grave requer reposição rápida e adequada do compartimento intravascular com soluções cristaloides. REPOSIC ̧ÃO DE SANGUE o Em geral, quando há hemorragia obstétrica persistente, recomendamos a infusão rápida de sangue quando o hematócrito é menor que 25%. Essa decisão depende de se o feto já foi retirado, se a intervenção cirúrgica é iminente ou se é esperado que haja perda sanguínea no campo cirúrgico, ou se há hipoxia aguda, colapso vascular ou outros fatores presentes. REFERÊNCIAS: o Rezende Obstetrícia/ Carlos Antônio Barbosa Montenegro, Jorge de Resende Filho. – 13o ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. o Obstetrícia de Wiliiams/ F. Gary Cunninghan et al. Tradução: Ademar Valadares Fonseca et al - 24a ed. – Porto Alegre: AMGH, 2016