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@resumosdamed_ 1 PUERPÉRIO E LACTAÇÃO PUERPÉRIO: O puerpério ou pós-parto é o período que sucede o parto e, do ponto de vista fisiológico, é caracterizado por uma série de processos involutivos e de recuperação do organismo materno. Ele se inicia após a dequitação e se estende por um período cuja duração ainda é bastante discutida na literatura. Embora a maioria considere que se estenda por 4 a 6 semanas a partir do parto, muitos consideram uma duração de 12 meses, pois nem todos os sistemas maternos voltam para o estado primitivo até a sexta semana – à exceção das mamas, que não retornam ao estado pré-gravídico. Existem algumas divisões propostas para o período do puerpério: • Puerpério imediato: vai do 1º ao 10º dia; • Puerpério tardio: vai do 10º ao 45º dia; e • Puerpério remoto: vai além do 45º dia. De uma forma ou de outra, é ainda mais importante entender o que ocorre nesse período com os diversos sistemas maternos, atentando-se para as possíveis consequências causadas pela gravidez e trabalho de parto. Além da relevância desses mecanismos fisiológicos para o restabelecimento do estado pré-gravídico da mulher, o puerpério é também caracterizado por marcantes mudanças em diversos outros aspectos da vida feminina, sejam eles conjugais, familiares, sociais ou profissionais. Nesse sentido, há de se compreender a importância de uma assistência materno-infantil multidisciplinar e integrada, projetada no sentido de favorecer uma experiência materna efetivamente saudável e de bem-estar MUDANÇAS ANATÔMICAS E FISIOLÓGICAS: SISTEMA REPRODUTOR: Os complexos fenômenos regenerativos que ocorrem no sistema reprodutor feminino após o parto desenrolam-se especialmente ao longo do pós-parto imediato e do pós-parto tardio. Enquanto, no pós-parto imediato, prevalece a crise genital, caracterizada por eventos catabólicos e involutivos das estruturas hiperplasiadas e/ou hipertrofiadas pela gravidez, no pós-parto tardio evidenciam-se mais claramente a transição e a recuperação genital, com progressiva influência da lactação. Em relação à involução uterina, ressalte-se a atuação conjunta de diversos mecanismos fisiológicos, que, em última instância, garantem a involução da matriz uterina e evitam quadros de hemorragia pós-parto. Dentre eles, assumem maior importância: miotamponamento, trombotamponamento e loquiação. • Miotamponamento: a retração e contração uterinas estão associadas a trombose e obliteração de vasos parietais formados ao longo da gestação. Imediatamente após o parto, mais especificamente com a saída da placenta, esses fenômenos de retração e contração são os principais responsáveis pela hemostasia da ferida placentária e por evitar os quadros de hemorragia pós-parto. É o denominado globo de segurança, o qual permite que as ligaduras vivas de Pinard causem acentuada constrição dos vasos miometriais parietais. @resumosdamed_ 2 O reflexo uteromamário, o qual permite que esses eventos involutivos uterinos ocorram mais intensamente nas mulheres que amamentam, devido a estimulação dos mamilos e da árvore galactófora, que acarreta contrações uterinas, identificadas pelas mulheres como cólicas (tortos), em virtude da liberação de ocitocina na circulação sanguínea. O remodelamento dos vasos pélvicos, representados pela circulação uterina e ovariana, cujos calibres retornam progressivamente ao pré- gravídico e contribuem para um estado de isquemia do tecido miometrial hipertrofiado. Esse processo é influenciado significativamente tanto pela contração e retração miometrial quanto pelo desaparecimento da fístula arteriovenosa, representada pela circulação uteroplacentária. • Trombotamponamento: leva a um aumento dos fatores de coagulação, principalmente ao aumento do fibrinogênio, que, consequentemente, aumenta o risco de trombose. • Loquiação: a involução e a regeneração do leito placentário, de toda a decídua e das demais superfícies genitais ocorrem, inicialmente, por meio da eliminação de grande quantidade de elementos deciduais e células epiteliais descamados, que, associados a eritrócitos e bactérias, compõem, então, o que denominamos lóquios. Ao longo dos três ou quatro primeiros dias pós-parto, temos os lóquios sanguíneos (lochia rubra), em função da considerável presença de sangue. A partir de então, a diminuição do conteúdo sanguíneo leva a lóquios progressivamente serossanguíneos (lochia fusca) – de coloração acastanhada – e, posteriormente, serosos (lochia flava). Por volta do 10º dia, os lóquios apresentam conteúdo líquido reduzido e significativa quantidade de leucócitos, assumem coloração esbranquiçada ou discretamente amarelada (lochia alba) e mantêm-se dessa forma por 4 a 8 semanas. SISTEMA ENDÓCRINO: No fim da gestação, os níveis de estrogênio e progesterona estão muito elevados, assim como os de prolactina (PRL). Com a saída da placenta, ocorre queda imediata dos esteroides placentários a níveis muito baixos e leve diminuição dos valores de PRL, que permanecem ainda bastante elevados. As gonadotrofinas e os esteroides sexuais atingem seus menores valores nas primeiras 2 a 3 semanas pós-parto. Já os níveis de gonadotrofina coriônica humana (hCG) retornam ao normal 4 a 6 semanas após o parto. Na ausência da lactação, nas primeiras semanas pós-parto, tanto o hormônio luteinizante (LH) como o hormônio folículo-estimulante (FSH) mantêm-se com valores muito baixos, para logo começarem a se elevar @resumosdamed_ 3 lentamente. No início do puerpério, os níveis de estrogênio mantêm-se baixos, e a progesterona não é detectável. A recuperação das gonadotrofinas até os níveis prévios da gravidez depende da ocorrência ou não da amamentação. A amamentação pode inibir a fertilidade pela ação direta do estímulo do mamilo sobre o hipotálamo por via neuroendócrina, elevando a PRL e inibindo o FSH e o LH. SISTEMA SANGUÍNEO: Ao longo do parto e puerpério imediato, é comum a leucocitose acentuada, a qual pode alcançar 30.000/μℓ e caracteriza-se por um predomínio de granulócitos, relativa linfopenia e eosinofilia absoluta. Em geral, esses parâmetros normalizam-se por volta de 5 a 6 dias pós-parto. Em relação à série vermelha, durante os primeiros dias após o parto, os níveis de hemoglobina (Hb de 10 g/dℓ) costumam flutuar moderadamente. Uma queda acentuada de seus valores costuma estar relacionada a perdas sanguíneas excessivas, e, por volta de 6 semanas pós-parto, a hemoglobina encontra-se em níveis pré- gravídicos. As alterações induzidas pela gravidez nos fatores de coagulação sanguíneos persistem por períodos variados do puerpério, mantendo, então, o estado de relativa hipercoagulabilidade. Por exemplo, os elevados níveis de fibrinogênio plasmático persistem ao menos na 1ª semana pós-parto, enquanto a velocidade de hemossedimentação pode vir a se regularizar apenas entre a 5ª e a 7ª semana puerperal. SISTEMA CARDIOVASCULAR: A gestação, normalmente, evolui com acentuado aumento do conteúdo líquido extracelular, e a diurese pós-parto responde pela reversão fisiológica desse processo. Porém, nas primeiras horas após o parto, é comum nos depararmos com uma diurese escassa, resultante da desidratação relacionada ao trabalho de parto. A partir do 2º dia, inicia-se o processo de eliminação dessa hipervolemia característica da gestação, fenômeno geralmente completo por volta do 6º dia pós- parto. As alterações na função cardíaca e vascular observadas após o parto acompanham o padrão detectado em relação à redistribuição hídrica. A frequência e o débito cardíacos mantêm-se elevados por 24 a 48h após o parto e retornam aos valores pré-gravídicos por volta do 10º dia puerperal. Já a resistência vascular permanece reduzida ao longo das primeiras 48h pós-natais, e, então, progressivamente retorna aos níveisprévios à gestação ASSISTÊNCIA PÓS-NATAL: CUIDADOS HOSPITALARES: O período de internação hospitalar após o parto é muito importante para a saúde da mãe e do recém-nascido. Além dos cuidados médicos, a equipe de saúde é também responsável por instruir a mulher sobre alterações evolutivas e fisiológicas esperadas ao longo do puerpério imediato e tardio, especialmente a característica dos lóquios, a perda de peso, a diurese e a apojadura. Além disso, a mulher deve receber informação sobre os principais sinais e sintomas que sugerem a presença de complicações, incluindo febre, sangramento vaginal excessivo ou fétido, cefaleia acompanhada de @resumosdamed_ 4 distúrbios visuais e/ou náuseas e vômitos, dor, edema ou hiperemia dos membros inferiores. Este também é o momento ideal para promover o aleitamento materno e dar suporte para que ele ocorra de forma exclusiva pelos 6 meses seguintes. Dessa forma, a puérpera deve ser informada dos benefícios do aleitamento, do colostro, evitando a separação de mãe e bebê, encorajando o contato pele a pele e restringindo ao máximo o uso de fórmulas lácteas. Outra questão a ser abordada já na internação hospitalar é a retomada da atividade sexual. Embora não haja orientações cientificamente embasadas sobre o tema, é senso comum que, após 2 semanas pós- parto, pode-se reassumir a atividade sexual conforme o desejo e o conforto do casal. De qualquer maneira, a mulher deve ser orientada sobre eventuais dificuldades no ato sexual. Além de sensações dolorosas relacionadas ao processo de cicatrização da episiotomia ou de eventuais lacerações de trajeto, o estado de hipoestrogenismo característico do pós-parto está associado a um epitélio vaginal fino e à lubrificação vaginal reduzida. A OMS recomenda que a puérpera e seu bebê devam permanecer internados por pelo menos 24h. De qualquer maneira, esses prazos mostram-se razoáveis e servem de orientação para a maioria dos casos, ainda que a alta após a cesárea, em geral, não exceda 72h de pós- parto em nosso meio. Períodos maiores ou menores de internação podem ser adotados em situações específicas. MEDIDAS GERAIS: Durante a primeira hora após o parto, a mulher deve ser monitorada com cuidado, especialmente no intuito de se diagnosticarem precocemente eventuais hemorragias, decorrentes ou não de quadros de hipotonia uterina. Assim, a cada 15 min, a equipe de saúde deve aferir a pressão arterial e a frequência cardíaca materna, bem como se assegurar de que o sangramento vaginal esteja dentro da normalidade e o útero se encontre firmemente contraído. Quando o parto ocorreu com anestesia, a mulher deve ser acompanhada em ambiente adequado e por profissional especializado. Na ausência de complicações maternas e neonatais, a interação precoce entre mãe e filho (contato pele a pele) precisa ser estimulada, ainda na sala de parto. Nesse momento, a amamentação também deve ser encorajada. Em relação à dieta, mulheres que tiveram parto vaginal eutócico não requerem qualquer restrição alimentar. Na amamentação, as demandas calóricas, proteicas e hídricas são aumentadas; do contrário, são equivalentes àquelas do período pré-gestacional. Conforme os valores de hemoglobina (Hb < 10 g/dℓ), no momento da consulta de revisão pós-parto poderá haver necessidade de administração de ferro oral. DEAMBULAÇÃO: A mobilização e o caminhar precoce reduzem a incidência de retenção urinária, constipação intestinal e fenômenos tromboembólicos pós-natais. Após o parto normal, mesmo quando utilizado o bloqueio regional, a paciente poderá deambular tão logo se sinta em condições para tal. Contudo, ao menos a primeira deambulação após o parto deve acontecer sob vigilância (não necessariamente profissional de saúde), devido ao risco de síncope. CUIDADOS GENITAIS: Em relação ao cuidado da região perineal, a mulher deve ser orientada a fazer a higiene vulvar no sentido anterior-posterior, e o uso de gelo no primeiro dia pode reduzir o desconforto local, especialmente por @resumosdamed_ 5 ocasião da realização de episiotomia ou presença de laceração extensa. A utilização de antissépticos com anestésicos locais em solução aerossol, bem como de anti-inflamatórios (VO ou retal), nos dias subsequentes ao parto, também pode ser interessante nesses casos. Quando a mulher relata dor excessiva na região perineal, vaginal ou retal, cuidadoso exame físico faz-se necessário para excluir a presença de hematoma ou processo infeccioso. TEMPERATURA: A temperatura no pós-parto não deve ser interpretada pelos critérios normativos estabelecidos para condições extra-puerperais. Exceto para as primeiras 24h, quando pode haver certa pirexia, o normal é a ausência de febre, caracterizada aqui pela temperatura abaixo de 38°C. A chamada “febre do leite”, concomitantemente à apojadura, no 3º dia, é considerada por alguns um evento fisiológico, embora outros a encarem como resultante da ascensão de germes vaginais à cavidade uterina, comum nessa época. AVALIAÇÃO DA INVOLUÇÃO UTERINA: O útero puerperal tem consistência firme, é indolor e altamente móvel em decorrência da flacidez dos seus elementos de fixação. Ao examiná-lo, é habitual palpar a bexiga. Em razão de suas conexões anatômicas com o útero, a bexiga cheia pode deslocar o útero para cima, falseando o resultado de suas medidas. A subinvolução uterina, com redução da consistência e da mobilidade do órgão, requer pronta atenção. Quando associada a dor, taquiesfigmia e febre, sugere processo infeccioso. Contudo, quando essa subinvolução conjuga-se apenas ao amolecimento da víscera, a hemorragia e a retenção de coágulos ou restos ovulares são os comemorativos mais habituais. MONITORAMENTO DA FUNÇÃO VESICAL: A ocorrência de retenção urinária e sobre distensão vesical podem acometer até 5% dos partos vaginais. Dentre os potenciais fatores de risco, ressaltam-se a primiparidade, doses elevadas de ocitocina, lacerações perineais, parto instrumental, cateterismo vesical durante o trabalho de parto, trabalho de parto com duração maior que 10h e realização de analgesia peridural ou raquidiana. Assim, mulheres com um mais desses fatores de risco devem ter seu débito urinário monitorado. Algumas mulheres podem apresentar também incontinência urinária e/ou fecal no puerpério. Ainda não está claro se programas de exercício do assoalho pélvico no pós-parto previnem a ocorrência dessas disfunções; porém, mulheres de alto risco, como aquelas que tiveram parto com fórceps ou de bebês macrossômicos, podem beneficiar-se dessa estratégia. CUIDADO COM AS MAMAS: Recomenda-se o uso de sutiãs apropriados, o que previne acotovelamentos vasculares responsáveis pela congestão sanguínea e pela galactoestase. Nos primeiros dias, observa-se apenas a saída de colostro e, no 3º dia do pós-parto, é comum ocorrer a apojadura, que pode levar a desconforto considerável às pacientes. É de fundamental @resumosdamed_ 6 importância orientar a pega adequada, a fim de prevenir fissuras mamilares. MORBIDADE MATERNA GRAVE E NEAR MISS: Em consonância aos esforços mundiais para a redução da morbimortalidade materna (e perinatal), a Organização Mundial da Saúde tem proposto que as complicações graves do ciclo grávido puerperal sejam sistematicamente identificadas. Dentre os diversos benefícios do monitoramento rotineiro dessas intercorrências, é importante ressaltar que tais informações possibilitam o reconhecimento, por parte de todos os profissionais envolvidos na assistência materno-infantil, de eventuais lacunas e falhas no cuidado obstétrico. Em geral, o momento mais oportuno para a identificação sistemática dos casos de morbidade materna grave e near miss é o puerpério. As condições a serem rastreadas incluem as complicações maternas graves (hemorragia pós-partograve, pré-eclâmpsia grave, eclâmpsia, sepse grave, ruptura uterina e complicações graves do abortamento); as intervenções críticas mais empregadas (admissão em unidade intensiva, intervenção radiológica, laparotomia e transfusão sanguínea), bem como todas as situações que caracterizam o near miss materno. AVALIAÇÃO DOS ASPECTOS PSICOSSOCIAIS: Em virtude da relação próxima estabelecida entre a equipe de saúde e a mulher durante o parto e os primeiros dias pós-natais, essa parece uma boa oportunidade para que médicos e demais profissionais de saúde identifiquem potenciais características da mulher que favorecem a ocorrência de eventos ominosos à saúde materno-infantil durante o primeiro ano de vida do recém-nascido. Mulheres com histórico de agravos psiquiátricos pessoais ou familiares, de classes socioeconômicas desfavorecidas, sem um companheiro fixo e com pouco suporte social estão mais propensas a desenvolver depressão pós-parto, uma das principais causas de morbidade materna, associada a consequências deletérias não só para a mulher, mas também para seus filhos e sua família. CUIDADOS DOMICILIARES: Encerrado o período de internação hospitalar, os meses que se seguem trazem à mulher uma complexa gama de sensações e emoções. Embora a chegada de um filho, em geral, represente grande alegria, também impõe uma série de mudanças ao núcleo familiar, especialmente à mulher. Além do cuidado com a própria saúde e da experiência relacionada com as mudanças físicas e hormonais impostas pelo ciclo grávido- puerperal, a mulher se depara com novas e crescentes responsabilidades, medos e interrogações em relação ao cuidado e à saúde de seu(s) filho(s). Frente a esse quadro, a puérpera e toda a família devem ser orientadas sobre todo esse processo, as principais dificuldades e as condutas a serem adotadas. CONSULTAS PÓS-PARTO: Em relação ao retorno da mulher aos serviços de saúde para o acompanhamento de sua evolução após o parto, recomenda-se que essas consultas ocorram entre 7 e 10 dias pós-natais e por volta de 6 semanas puerperais, quando o pós-parto tardio se encerra. A OMS recomenda que as puérperas devem ser contactadas no 3º dia (48 a 72h), entre 7 e 14 dias e com 6 semanas de pós-parto. @resumosdamed_ 7 O risco relativo de doença tromboembólica venosa (DTV) no puerpério está muito aumentado. Isso tem implicações no que diz respeito à duração da terapêutica anticoagulante no pós-parto e ao uso de anticoncepcional. ANTICONCEPÇÃO: O início da anticoncepção no pós-parto é importante para prevenir a gravidez indesejada e o pequeno intervalo interpartal e suas conhecidas implicações (recém-nascido pequeno para a idade gestacional, parto pré-termo). Mulheres que não amamentam podem ovular com 25 dias do pós- parto. Por outro lado, o risco de DTV nos primeiros 42 dias do pós-parto está aumentado de 22 a 84 vezes em relação a não grávidas. O risco é máximo logo após o parto, decresce nos primeiros 21 dias, mas só desaparece após 42 dias do pós-parto. Assim, as normas referendadas pela OMS em relação ao uso do anticoncepcional combinado são: • Não usar até 21 dias (OMS3); • Entre 21 e 42 dias – utilizar (OMS2); • Após 42 dias – utilizar (OMS1). Sabe-se que os anticoncepcionais combinados elevam o risco de DTV e, além disso, nas puérperas que amamentam, interferem na lactação. No pós-parto, tanto em lactantes como em não lactantes, a preferência é pelas pílulas de progesterona, que não prejudicam a amamentação nem elevam o risco de DTV. O DIU de cobre ou de progesterona também tem sido utilizado no pós-parto, exceto na infecção puerperal, quando está formalmente contraindicado. PRIMEIRA CONSULTA (7 A 10 DIAS PÓS-PARTO): Embora não seja habitualmente adotada, a consulta por profissional especializado entre 7 e 10 dias puerperais é importante no sentido de assegurar a saúde da mulher e do recém-nascido, uma vez que boa parte das situações de morbidade e mortalidade materna e neonatal acontece na primeira semana após o parto. A realização do hemograma dirigido, visando especialmente avaliar a possibilidade de anemia pela dosagem da hemoglobina, resulta em menos transfusões, custos mais baixos e melhor qualidade de assistência pré-natal à paciente do que o exame rotineiro. O hemograma dirigido é proposto a partir do quadro clínico exibido pela paciente caracterizado por taquicardia, oligúria e tontura. Nessa consulta, recomenda-se avaliar o estado de saúde da mulher e do recém-nascido; apoiar a família para a amamentação; orientar sobre os cuidados básicos com o recém-nascido; avaliar a interação da mãe com o recém-nascido; identificar situações de risco ou intercorrências e conduzi-las, bem como recomendar o planejamento familiar. SEGUNDA CONSULTA (6 SEMANAS PÓS-PARTO): Ações semelhantes àquelas realizadas na primeira consulta pós-parto devem ser adotadas quando a mulher retorna ao serviço de saúde. Então, recomendam-se: • Investigar as condições gerais de saúde da mulher e do recém- nascido, registrando e conduzindo adequadamente eventuais alterações; • Caracterizar o padrão de amamentação, reafirmando as boas práticas no sentido de garantir o aleitamento materno exclusivo até 6 meses de vida do recém-nascido; • Avaliar o retorno do fluxo menstrual e da atividade sexual; @resumosdamed_ 8 • Oferecer adequada orientação sobre os diferentes métodos anticonceptivos, estimulando a adoção daquele que mais se adapte às características e preferências maternas. Além disso, a consulta de revisão pós-parto é o espaço ideal para que as complicações eventualmente vivenciadas ao longo do ciclo grávido-puerperal sejam revistas em relação às suas causas, ao risco de recorrência e às medidas preventivas, quando possível. Mulheres que cursaram com diabetes melito gestacional (DMG), por exemplo, devem realizar novo teste de tolerância oral à glicose e ser encaminhadas à assistência clínica especializada, se necessário. Aquelas que apresentaram distúrbios hipertensivos na gestação também merecem atenção redobrada. Por fim, a ingesta de ácido fólico peri-concepcional deve ser estimulada visando gestações futuras, especialmente entre aquelas cujos bebês apresentaram algum defeito do tubo neural (DTN). PUERPÉRIO PATOLÓGICO: FEBRE PUERPERAL: Alguns fatores podem causar febre – temperatura igual ou maior que 38º C – no puerpério. A maioria dos casos de febre persistente depois do parto é causada por infecções do trato genital. É importante enfatizar que os picos febris de 39ºC ou mais que ocorrem nas primeiras 24 horas depois do parto podem estar associados à infecção pélvica grave causada por estreptococos do grupo A. Outras causas de febre puerperal são ingurgitação mamária, infecções urinárias, episiotomia e incisões abdominais, lacerações perineais e complicações respiratórias depois da cesariana. Cerca de 15% das mulheres que não amamentam apresentam febre puerperal associada à ingurgitação mamária. A incidência de febre é menor entre as mulheres que amamentam. A “febre do leite” raramente passa de 39ºC nos primeiros dias depois do parto e, em geral, dura menos de 24 horas. INFECÇÃO PUERPERAL: Classifica-se como infecção puerperal qualquer infecção bacteriana que se origina no aparelho genital, após parto recente. Junto com a pré-eclâmpsia e a hemorragia obstétrica, constitui uma das principais causas de mortalidade materna, sendo a terceira maior causa no Brasil. Devido à dificuldade de caracterizar a infecção que ocorre após o parto, parece melhor conceituar a morbidade febril puerperal: temperatura de, pelo menos, 38ºC, durante 2 dias quaisquer dos 10 primeiros dias pós-parto, com exceção das primeiras 24h. A principal causa é a infecção puerperal, sendo que a sua presença indica presença de endometrite, miometrire ou endoparametrite.Existem alguns fatores de risco relacionados à elas: tipo de parto – o fator mais importante, com aumento substancial do risco nas cesáreas; menor nível socioeconômico; colonização bacteriana do trato genital inferior por bactérias como: Streptococcus grupo B, Chlamydia trachomatis, Mycoplasma hominis; Ureaplasma urealyticum e Gardenerella vaginalis; cesariana para gestações multifetais; pouca idade materna; nuliparidade; indução prolongada de trabalho de parto; amniorrexe prolongada; rotura prematura de membranas ovulares (RPMO); exames cervicais repetidos, monitoração fetal interna; obesidade; e líquido amniótico tinto de mecônio. O uso de antibiótico profilático antes da cesárea tem constituído uma ótima medida de prevenção da infecção puerperal. A maioria das @resumosdamed_ 9 infecções é causadas por microorganismos já presentes no trato genital feminino, que frequentemente é colonizado por bactérias do ânus e períneo. Em condições normais, essas bactérias não causam qualquer doença. No entanto, na presença de hematomas ou tecido desvitalizado, sua virulência pode se intensificar e torná-la patogênica. No geral, as infecções são polimicrobianas. As bactérias mais frequentemente isoladas são: Streptococcus agalactiae, Enterococcus spp., Escherichia coli, Bacteroides bivius e Bacteroides visiens. Não é recomendado fazer culturas rotineiras! Culturas do trato genital, além de pouca utilidade clínica, traz custos adicionais. Hemoculturas raramente modificam conduta. É sempre bom saber porque e quando usar recursos. Há uma transição, provavelmente na junção cervicouterina, que divide duas regiões: uma colonizada – abaixo dela, incluindo o cérvix e a vagina; e outra não-colonizada, a cavidade uterina mais especificamente. Durante o parto, as bactérias da cérvice e da vagina conseguem ter acesso ao líquido amniótico e, posteriormente, aos tecidos uterinos desvitalizados. Na cesariana, a infecção uterina se desenvolve das incisões cirúrgicas. A contração uterina, involução puerperal, reação leucocitária e hemóstase trombótica são mecanismos de defesa contra essa infecção. A infecção puerperal afeta principalmente o local de implantação da placenta, a decídua e o miométrio adjacente, além das lacerações cervicovaginais. Há, em seguida, celulite parametrial com infecção do tecido conjuntivo fibroareolar retroperitoneal pélvico. QUADRO CLÍNICO: Didaticamente, o quadro clínico pode ser subdividido conforme a topografia acometida pela infecção. • Períneo – vulvovaginite e cervicite: clinicamente se caracterizam por dor, rubor, edema e, eventualmente, secreção purulenta. A febre é moderada (38,5oC). • Infecção da episiotomia: grande maioria não é grave e raramente é letal. Pode ser uma infecção simples, limitada à pele e fáscia superficial adjacente, com edema e eritema e, posteriormente, deiscência da zona suturada; infecção de fáscia superficial: por ter continuidade com as fáscias da parede abdominal, glútea e das pernas, o edema e vermelhidão costumam se estender a esses locais; necrose da fáscia superficial: infecção muito grave, com manifestações cutâneas tardias. Edema e eritema inicialmente e, posteriormente, a pele fica mais azulada ou acinzentada, de aspecto gangrenoso, com vesículas e bolhas. Há sinais tóxicos de septicemia em todas as pacientes e o choque pode estar presente; e mionecrose: atinge os músculos perineais, geralmente como consequência da infecção por Clostridium perfringens, e a dor é desproporcional aos sinais físicos. • Endometrite: infecção puerperal mais frequente. Habitualmente, quadro se instala no 4º ou 5º dia do pós-parto. Condições gerais seguem boas a não ser que haja infecção grave. Clinicamente, há aumento da temperatura (38,5 a 39ºC); lóquios se tornam purulentos e fétidos em infecções por anaeróbios. Ao exame pélvico, o útero está amolecido, doloroso, aumentado, colo permeável à polpa digital, escoando secreção purulenta quando manipulado. No geral, a miometrite acompanha esta infecção, com apresentação semelhante ou mais intensa. • Parametrite: é a infecção do tecido conjuntivo fibroareolar, parametrial, decorrente às vezes de infecção vaginal ou da laceração que se dissemina por via linfática. O local de eleição é o sítio parametrial laterocervical, podendo haver invasão anterior ou posterior (paracistite ou pararretite). Temperatura elevada persistente por mais de 10 dias @resumosdamed_ 10 sugere parametrite, aumentando progressivamente e com remissões matutinas. Ao toque vaginal, há dor intensa, com endurecimento do paramétrio. Sem tratamento, progride para supuração e flutuação, causando abcesso. • Anexite (salpingite ou ovarite): é representada pela infecção ou inflamação das trompas ou ovários, sendo a primeira mais comum. Clinicamente, há dor abdominal aguda – predominando em fossas ilíacas, febre alta (39 a 39,5ºC) e discreta defesa abdominal. Ao toque genital, há grande sensibilidade dos anexos. Na evolução mais tardia da doença, a palpação de tumoração anexial é notada – quando a salpingite forma tumor inflamatório anexial. INFECÇÕES PERINEAIS: As infecções das episiotomias não são comuns porque esses procedimentos cirúrgicos são realizados muito menos comumente hoje que no passado. Quando há infecção, o risco de deiscência é preocupante. Nenhum dado indica que a deiscência estivesse relacionada com a reparação defeituosa. A infecção de uma laceração de quarto grau pode ser mais grave. Foram detectadas complicações associadas às feridas em 7,3% das mulheres com lesões dos esfincteres. Além disso, esses autores observaram que os antibióticos administrados durante o parto conferiam proteção contra infecção. Embora o choque séptico potencialmente fatal seja raro, isso pode ocorrer em consequência da infecção da episiotomia. Em alguns casos também pode ocorrer fasceíte necrosante. PATOGENIA E EVOLUÇÃO CLÍNICA: A deiscência da episiotomia está associada mais comumente à infecção. Outros fatores incluem distúrbios da coagulação, tabagismo e infecção por papilomavírus humano. Dor localizada e disúria com ou sem retenção urinária são queixas comuns. Nos casos extremos, toda a vulva pode tornar-se edemaciada, ulcerada e coberta de exsudato. As lacerações vaginais podem ser infectadas diretamente ou por extensão de um foco infeccioso do períneo. A mucosa torna-se vermelha e edemaciada e, em seguida, pode sofrer necrose e desprender-se. A disseminação parametrial pode causar linfangite. As lacerações cervicais são comuns, mas raramente têm infecção perceptível, o que pode se evidenciar por metrite. As lacerações profundas que se estendem diretamente aos tecidos localizados na base do ligamento largo podem ser infectadas e causar linfangite, parametrite e bacteriemia. TROMBOFLEBITE PÉLVICA SÉPTICA: Antes da era dos antibióticos, essa complicação era comum. A embolização séptica era comum e causou 33% dos óbitos maternos durante esse período. Com o advento dos antibióticos, o coeficiente de mortalidade e a necessidade de realizar intervenção cirúrgica nessas infecções diminuíram. A flebite séptica ocorre como extensão ao longo dos trajetos venosos e pode causar trombose. Em geral, também há linfangite. Em seguida, as veias ovarianas podem ser afetadas porque drenam a parte superior do útero e, desse modo, o sítio de implantação da placenta. Experiências sugerem que a tromboflebite séptica puerperal provavelmente afete um ou ambos os plexos venosos ovarianos. Em 25% das mulheres, o trombo estende-se até a veia cava inferior e, por vezes, até a veia renal. Embora algumas pacientes se queixem de dor em um ou nos dois quadrantes inferiores, essas mulheres geralmente são assintomáticas, exceto por apresentarem calafrios. @resumosdamed_ 11 O diagnóstico pode ser confirmado por TC ou RMda pelve. Com a utilização dessas duas modalidades de exame, foi demonstrado que 20% de 69 mulheres com metrite, que apresentavam febre apesar de cinco dias ou mais de tratamento antibiótico apropriado, tinham tromboflebite pélvica séptica. Nenhum estudo confirmou que o uso de heparina intravenosa reduza febre e flebite séptica. MAMAS E LACTAÇÃO: FISIOLOGIA DA LACTAÇÃO: A fisiologia mamária está intimamente relacionada com a esfera neuroendócrina e pode ser dividida, fundamentalmente, em três processos: • Mamogênese: o desenvolvimento da glândula mamária; • Lactogênese: o início da lactação; e • Lactopoese: a manutenção da lactação. MAMOGÊNESE: A unidade morfofuncional das mamas é o ácino mamário, forrado por camada única de células epiteliais secretoras de leite. Cada ácino está envolvido por células mioepiteliais e rede capilar encorpada. Células contráteis musculares abraçam os canais intralobulares que se relacionam com o lúmen dos ácinos e alcançam o mamilo pelos canais galactóforos. O desenvolvimento da glândula mamária inicia-se com a puberdade e termina com o climatério ou com a castração, com acelerado crescimento durante a gravidez. Na menacme, os esteroides sexuais ovarianos exercem, por meio dos estrogênios, efeitos proliferativos nos canais mamários, enquanto a progesterona, em atuação conjunta com aqueles, é responsável pelo crescimento e pela expansão dos ácinos. A diferenciação completa do tecido funcional da mama requer, além dos esteroides sexuais, a participação de diversos outros hormônios que constituem o complexo lactogênico: prolactina (PRL), hormônio do crescimento humano (hGH), cortisol e, secundariamente, tireoxina e insulina. Com a produção acentuada de estrogênios e de progesterona, acentua-se o crescimento das estruturas glandulares mamárias. A elevação dos níveis de PRL na gravidez ocorre à custa da hiperplasia e da hipertrofia das células lactóforas situadas na adeno-hipófise. A elevação dos níveis de PRL parece ter íntima relação com a menor produção de dopamina hipotalâmica, o fator inibidor da prolactina (PIF). LACTOGÊNESE: Durante os primeiros 2 dias pós-parto há poucas transformações nas mamas. É possível observar apenas secreção de colostro, substância amarelada já existente na gravidez, com grande concentração de proteínas, anticorpos e células tímicas, que ajudam a imunizar o bebê contra infecções, particularmente as gastrintestinais. Por volta do 3º dia pós-parto, todavia, ocorre aumento na consistência das mamas, que se tornam pesadas, congestas e dolorosas, levando algumas pacientes a relatar a sensação de parestesia (formigamento). Ocorre o processo de um afluxo volumoso de leite às mamas da mulher que amamenta, denominado apojadura. Esse fenômeno indica a mudança da regulação hormonal da lactação, deixando de ser endócrina para se tornar autócrina. O aumento do fluxo sanguíneo local e a intensificação dos fenômenos secretórios produzem calor na região, @resumosdamed_ 12 que pode ser confundido com elevação térmica patológica (febre do leite). O leite materno é constituído por proteínas, carboidratos, lipídios, sais minerais e vitaminas. A lactogênese é considerada o início da produção láctea, que não ocorre na gravidez em função da progesterona, que impede a atuação da PRL nos seus receptores nas células mamárias. Após o parto, com o declínio acentuado dos esteroides ovarianos placentários, desaparecem os efeitos inibidores sobre os receptores de PRL, que se constitui como o principal hormônio da lactogênese. A produção láctea adequada pressupõe que a glândula mamária esteja plenamente desenvolvida, sendo relevante a contribuição de outros hormônios, como insulina, corticoide, tireoxina. Os mecanismos neuroendócrinos envolvidos na lactação são complexos. A progesterona, o estrogênio e o lactogênio placentário humano (hPL), assim como a PRL, o cortisol, a tireoxina e a insulina, agem em conjunto para estimular o crescimento e o desenvolvimento do aparelho lácteo-secretor da glândula mamária. Após o parto, há queda abrupta e profunda dos níveis de progesterona e de estrogênio, o que anula a influência inibitória da progesterona na produção da lactalbumina-a pelo retículo endoplasmático, promovendo a ação da PRL. O aumento da lactalbumina-a estimula a secreção da lactose láctea. LACTOPOESE: Iniciada a lactação (lactogênese), ela é mantida (lactopoese) pela existência do reflexo neuroendócrino da sucção do mamilo pelo lactente, que age no eixo hipotalâmico-hipofisário e culmina por determinar a liberação de PRL (aumento dos níveis de 6 a 9 vezes) e de ocitocina. O ato da sucção por via medular inibe a dopamina hipotalâmica, também conhecida como fator inibidor da prolactina (PIF), promovendo a liberação da PRL. A PRL mantém a secreção láctea (proteínas, caseína, ácidos graxos, lactose) e a ocitocina age nas células mioepiteliais e musculares situadas, respectivamente, ao redor dos ácinos e dos canais intralobulares e determina a contração deles com a ejeção láctea. A solicitação repetida do mamilo, com o esvaziamento continuado dos ácinos, resulta em intensificação da produção de leite. A intensidade e a duração da lactação são controladas, em parte, pelo estímulo repetitivo da amamentação. A PRL é essencial para a lactação. Embora, após o parto, a PRL plasmática caia a níveis inferiores aos da gravidez, cada ato de sucção do mamilo estimula a sua produção. Provavelmente o estímulo do mamilo refreia o PIF hipotalâmico, possibilitando o aumento da secreção de PRL. A neuro- hipófise também secreta ocitocina em pulsos. Isso estimula a ejeção do leite ao causar a contração das células mioepiteliais do alvéolo mamário. O leite é produzido no intervalo das mamadas, de modo a ficar armazenado na glândula mamária. A síntese do leite é um processo lento e não poderia completar-se no decurso da amamentação, um episódio fisiológico relativamente rápido. Na 1ª semana pós-parto forma-se o colostro e depois, um leite de transição por 2 a 3 semanas, para, finalmente, surgir o leite maduro, definitivo. Metade do elevado conteúdo proteico do colostro é composto de globulinas, que parecem idênticas às gamaglobulinas do plasma. Por esse meio, há proteção imunológica pós-natal, pois os anticorpos maternos assim veiculados são absorvidos no intestino sem @resumosdamed_ 13 digestão (presença de inibidor da tripsina). Os corpúsculos de Donné, compostos de leucócitos, histiócitos, linfócitos e células epiteliais descamados, são típicos do colostro. ENDOCRINOLOGIA DA LACTAÇÃO: Os mecanismos humorais e neurais exatos envolvidos na lactação são complexos. A progesterona, o estrogênio e o lactogênio placentário – além da prolactina, do cortisol e da insulina – parecem atuar conjuntamente de forma a estimular o crescimento e o desenvolvimento do sistema lactífero. Com o parto, há redução súbita e profunda dos níveis de progesterona e estrogênio. Essa redução anula a ação inibitória da progesterona na produção de a-lactalbumina e estimula a lactose-sintetase a aumentar a lactose do leite. A ausência da progesterona também permite que a prolactina atue sem oposição de forma a estimular a produção de a- lactalbumina. A serotonina é sintetizada nas células epiteliais mamárias e desempenha um papel importante na manutenção da produção de leite. Isso pode explicar a redução da produção de leite nas mulheres que utilizam inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs). A profusão e a duração da lactação subsequente são controladas, em grande parte, pela estimulação repetitiva da amamentação e pelo esvaziamento do leite presente na mama. A prolactina é essencial à lactação, e as mulheres com necrose hipofisária grave – síndrome de Sheehan – não amamentam. Embora os níveis de prolactina plasmáticadiminuam depois do parto até níveis inferiores aos detectados durante a gravidez, cada episódio de amamentação aumenta suas concentrações. Aparentemente, um estímulo originado da mama suprime a secreção de dopamina (também conhecida como fator de inibição da prolactina) pelo hipotálamo. Por sua vez, isso aumenta transitoriamente a secreção de prolactina. A neuro-hipófise secreta ocitocina em padrão pulsátil. Isso estimula a expressão do leite da mama causando a contração das células mioepiteliais dos alvéolos e dos pequenos ductos lactíferos. A ejeção do leite, ou reflexo de descida, é estimulada principalmente pela sucção, que estimula a neuro-hipófise a secretar ocitocina. Esse reflexo também pode ser ativado pelo choro do bebê, mas pode ser inibido pelo medo ou estresse materno. ATO DA AMAMENTAÇÃO: O ato de amamentar institui uma das ações fundamentais da linha de cuidado voltada à proteção e à prevenção da saúde da criança. A amamentação integra a mãe, o recém-nascido, a família e a sociedade, além de ser um exercício de autonomia para a mulher, quando ela aprende a lidar com as intercorrências provenientes desse período e realiza o manejo da amamentação de modo a preservar o ato, prevenir complicações e garantir o alimento do lactente. Segundo a OMS e o Unicef, caso não haja contraindicações, a mãe deve ser estimulada a amamentar na primeira meia hora após o parto. Essa proposta visa estimular o contato pele a pele entre a mãe e o bebê “imediatamente após o parto por no mínimo uma hora e encorajar as mães a reconhecer quando seus recém-nascidos estão prontos para serem amamentados, oferecendo ajuda se necessário”. A amamentação na primeira meia hora de vida intensifica a formação de laços afetivos entre mãe e filho, viabiliza a colonização da pele do recém-nascido pela microbiota da mãe e promove o início do ato de amamentar, momento de suma importância para a mãe e o recém- nascido. São inúmeras as vantagens da amamentação natural para a mãe e para o filho: @resumosdamed_ 14 • O leite materno é altamente nutritivo e pode suprir todas as necessidades alimentares do recém-nascido durante os 4 a 6 primeiros meses de vida. De 6 a 12 meses, fornece 3/4 das proteínas de que carece a criança e daí em diante permanece como valioso suplemento proteico à dieta infantil. Além desses elementos, o leite materno contém açúcar, gorduras, sais minerais e vitaminas. Com exceção das gorduras e das vitaminas, sua composição é relativamente independente da nutrição materna. • Em função de sua composição e, principalmente, das substâncias imunológicas em seu conteúdo, o leite materno protege o recém-nascido contra infecções bacterianas do sistema gastrintestinal e infecções respiratórias. • O leite materno não é perecível e está isento de bactérias, eventos triviais na amamentação artificial em áreas tropicais, onde a esterilização e a refrigeração dos alimentos são deficientes ou inexistentes. • O ato de amamentar estimula o crescimento adequado da boca e mandíbula do recém-nascido, promovendo uma adequação anatômica do aparelho estomatognático, “diminuindo mais 50% cada um dos indicadores de maloclusões dentárias, que afetariam mais tarde a função dento-facial da criança”. • A amamentação cria uma ligação especial entre a mãe e o recém-nascido que repercute positivamente na vida da criança em termos de estimulação, fala, sensação de bem-estar e segurança e no seu modo de se relacionar com outras pessoas. • A amamentação diminui o risco de asma e leucemia na infância, além de reduzir os riscos de doenças crônicas na vida adulta, como obesidade, dislipidemia, hipertensão e diabetes. • É econômica e conveniente, desde que a mãe possa alimentar o filho quando queira, não havendo necessidade de preparo. • Ajuda a reduzir o risco de hemorragia pós-parto e é relativamente efetiva como método anticoncepcional, uma vez que as lactantes, enquanto amenorreicas, não concebem, e em longo prazo ajuda a reduzir o risco de diabetes tipo 2, câncer de mama, útero e ovários. O aconselhamento realizado ao casal para o ato de amamentar, não somente com base em técnicas para o manejo clínico da amamentação, mas que seja permeado, em todos os momentos, por uma escuta sensível e atitudes acolhedoras, considera e respeita a escolha da mulher por não amamentar, mesmo depois de toda orientação. Aconselha-se à mãe que o AME é a melhor alimentação para o lactente até os 6 meses de idade, não necessitando de outros complementos nutricionais. MANEJO CLÍNICO DA AMAMENTAÇÃO: O manejo clínico criterioso da amamentação por parte do profissional de saúde, junto à mãe, é crucial para assegurar o crescimento da prevalência do ato de amamentar na população materno-infantil. A atuação do profissional de saúde junto às mães de recém-nascidos é importante por favorecer o AME, reduzindo a mortalidade neonatal. O profissional de saúde deve estar habilitado para o bom manejo clínico da amamentação, compreendendo as bases principais a serem observadas, supervisionadas e orientadas: posicionamento, pega correta e sucção efetiva. A boa posição para a amamentação é aquela em que mãe e recém- nascido estão bem estabelecidos, confortáveis e relaxados. A mãe pode estar sentada, em pé ou deitada (sendo esta última posição mais indicada para incentivo à amamentação na primeira meia hora de vida, pós-cirurgia materna). A mãe deve apoiar com seu braço todo o @resumosdamed_ 15 eixo axial do recém-nascido (porção cefálica e toda coluna vertebral). O recém-nascido pode estar deitado ou sentado, desde que sua cabeça e seu corpo estejam alinhados, de modo a não ter de virar a cabeça para abocanhar a mama e iniciar a sucção. O queixo do recém-nascido deve estar tocando a mama da mãe. A fim de que o recém-nascido efetue uma pega correta para o ato da amamentação, a mãe inicia tal prática pela mama mais cheia, trazendo o recém-nascido à mama, encostando o mamilo no lábio inferior da boca do recém-nascido, e este abre a boca e abocanha a papila mamária e grande parte da aréola, estabelecendo a pega eficaz para uma sucção nutritiva, evitando a formação de fissuras e lacerações por uma pega incorreta para sucção. Ao sugar, o recém-nascido comprime a aréola com o seu maxilar, forçando para o exterior o leite acumulado nos canais galactóforos subareolares. Nesse sentido, para verificar se está ocorrendo uma sucção eficaz por parte do recém-nascido, o profissional de saúde necessita verificar o seguinte: a boca do recém-nascido deve ter abocanhado toda ou quase toda a aréola; na mama materna, os lábios superior e inferior do recém-nascido devem estar evertidos e cobrir quase toda a porção areolar materna (maior proporção de cobertura para a porção inferior); a língua do recém-nascido deve pressionar o mamilo e parte da aréola contra o palato duro, engajada ao processo de ordenha; as bochechas do recém-nascido devem ter aparência de cheias, e a sucção deve ser lenta, profunda e ritmada, apresentando os movimentos de apreensão, deglutição e respiração com o ritmo adequado de 1/1/1. A duração da mamada varia de um recém-nascido para outro. O ideal é que o recém-nascido se solte espontaneamente do peito, mas, ao perceber que ele está realizando uma sucção ineficiente ou que já é hora de trocar de peito, a mãe deve colocar a ponta do dedo mínimo no canto da boca do bebê para desfazer a pressão e soltar o peito sem provocar estiramentos na pele e possíveis lacerações. O profissional de saúde deve orientá-la a, na próxima mamada, oferecer o último peito dado na mamada anterior a fim de facilitar o esvaziamento das mamas. LACTAÇÃO E FERTILIDADE: A lactação condiciona efeito contraceptivo temporário. Assim como a sucção do mamilo inibe a liberação do PIF hipotalâmico, com elevação da PRL, o hormônioliberador de gonadotrofina (GnRH) está reduzido a níveis não ovulatórios. As mães que amamentam integralmente podem se tornar amenorreicas no pós-parto por 8 a 12 meses, enquanto as não lactantes, por menos de 2 meses. A amamentação de curta duração (poucas semanas) ou a parcial são menos eficientes para prolongar a amenorreia pós-parto. As amenorreicas que amamentam integralmente não conceberão (3 a 10% de falhas). Aconselha-se, a fim de evitar a gravidez, que as não lactantes, aos 30 a 40 dias, e as lactantes, após 3 a 6 meses, se ainda amenorreicas, ou indistintamente após o retorno das regras, procurem proteção anticoncepcional. Os anovulatórios orais combinados podem inibir a produção láctea e devem ser evitados. Têm preferência, nas nutrizes, os métodos físicos (DIU, diafragma, condom, esponjas), sendo permitidos os progestógenos em microdoses. Aparentemente, os hormônios elaborados pela mãe que amamenta não são capazes de atuar na criança através do leite. Entretanto, apesar de ainda não ser uma hipótese comprovada, atribuiu-se aos esteroides das pílulas anticoncepcionais a possibilidade de causar @resumosdamed_ 16 icterícia, e mesmo a ação inibidora sobre a própria lactação somente é verificada se instituída precocemente. CONTRAINDICAÇÕES DA AMAMENTAÇÃO: Existem contraindicações temporárias para a amamentação: mães com algumas doenças infecciosas como a varicela, herpes com lesões mamárias, doença de Chagas, tuberculose não tratada ou ainda quando tenham de fazer uso de uma medicação imprescindível referentes às categorias 2A e 2B, consideradas moderadamente seguras para uso durante a lactação, devendo ser usadas com cautela. Os agentes farmacológicos cruzam a membrana celular através de microporos, por difusão ou por transporte ativo; e, ainda, vão diretamente ao leite via espaços intercelulares do epitélio alveolar. Em sua maioria, as substâncias ingeridas aparecem no leite, em concentração que não costuma exceder 1% da dose, e é independente do volume da secreção. Durante esse período de tempo, os recém-nascidos devem ser alimentados com leite artificial por copo, e a produção de leite materno deve ser estimulada. As contraindicações definitivas da amamentação não são muito frequentes, mas existem e estão relacionadas com mães com doenças graves, crônicas ou debilitantes, mães infectadas pelo vírus da AIDS, ou pelo vírus HTLV-1, mães que fazem uso de medicamentos nocivos para os recém-nascidos e, ainda, bebês com doenças metabólicas raras, como fenilcetonúria ou galactosemia. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1. Rezende Obstetrícia/ Carlos Antônio Barbosa Montenegro, Jorge de Resende Filho. – 13o ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. 2. https://aluno.sanarflix.com.br/#/portal/sala aula/5deef8e2a6bf9b0013cbeded/5deef8e2a6bf9b0013cbedec/do mento/5deef8daa0f3de0027a06865 3. https://aluno.sanarflix.com.br/#/portal/sala- aula/5deef8e2a6bf9b0013cbeded/5deef8e2a6bf9b0013cbedec/docu mento/5deef8d6a0f3de0027a06863 4. https://aluno.sanarflix.com.br/#/portal/sala- aula/5dab06fe4340d20011fb3133/5dab06fc4340d20011fb3131/docume nto/5ed5251da8706e001ce35177 https://aluno.sanarflix.com.br/#/portal/sala aula/5deef8e2a6bf9b0013cbeded/5deef8e2a6bf9b0013cbedec/do mento/5deef8daa0f3de0027a06865 https://aluno.sanarflix.com.br/#/portal/sala aula/5deef8e2a6bf9b0013cbeded/5deef8e2a6bf9b0013cbedec/do mento/5deef8daa0f3de0027a06865 https://aluno.sanarflix.com.br/#/portal/sala aula/5deef8e2a6bf9b0013cbeded/5deef8e2a6bf9b0013cbedec/do mento/5deef8daa0f3de0027a06865 https://aluno.sanarflix.com.br/#/portal/sala-aula/5deef8e2a6bf9b0013cbeded/5deef8e2a6bf9b0013cbedec/documento/5deef8d6a0f3de0027a06863 4 https://aluno.sanarflix.com.br/#/portal/sala-aula/5deef8e2a6bf9b0013cbeded/5deef8e2a6bf9b0013cbedec/documento/5deef8d6a0f3de0027a06863 4 https://aluno.sanarflix.com.br/#/portal/sala-aula/5deef8e2a6bf9b0013cbeded/5deef8e2a6bf9b0013cbedec/documento/5deef8d6a0f3de0027a06863 4 https://aluno.sanarflix.com.br/#/portal/sala-aula/5deef8e2a6bf9b0013cbeded/5deef8e2a6bf9b0013cbedec/documento/5deef8d6a0f3de0027a06863 4 https://aluno.sanarflix.com.br/#/portal/sala-aula/5dab06fe4340d20011fb3133/5dab06fc4340d20011fb3131/documento/5ed5251da8706e001ce35177 https://aluno.sanarflix.com.br/#/portal/sala-aula/5dab06fe4340d20011fb3133/5dab06fc4340d20011fb3131/documento/5ed5251da8706e001ce35177 https://aluno.sanarflix.com.br/#/portal/sala-aula/5dab06fe4340d20011fb3133/5dab06fc4340d20011fb3131/documento/5ed5251da8706e001ce35177
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