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7 de Abril de 2021
Lei Penal no Tempo
Três são os fundamentais princípios aplicados no instituto da eficácia
da lei penal no tempo: a) legalidade, no sentido de anterioridade; b)
irretroatividade e c) retroatividade da lei mais benigna.
Não há infração ou sanção penal sem lei anterior, isto é, sem lei prévia.
Esse desdobramento do princípio da legalidade traduz a ideia da
anterioridade penal, segundo o qual a para a aplicação da lei penal,
exige-se lei anterior tipificando o crime e prevento a sua sanção.
O segundo princípio constitucional (irretroatividade), descrito no art.
5º, XL da CF, dispõe que a lei penal não retroagirá, salvo para
beneficiar o réu, impondo-se, assim, a irretroatividade da lei penal,
salvo quando a lei nova seja benéfica ao acusado.
Por fim, quanto à retroatividade da lei mais benigna, “é indispensável
investigar qual a que se apresenta mais favorável ao indivíduo tido
como infrator. A lei anterior, quando for mais favorável, terá
ultratividade e prevalecerá mesmo ao tempo de vigência da lei nova,
apesar de já estar revogada. O inverso também é verdadeiro, isto é,
quando a lei posterior foi mais benéfica, retroagirá para alcançar
fatos cometidos antes de sua vigência” (BITENCOURT, 2007. P. 162).
O Supremo Tribunal Federal tem adotado entendimento literal do
princípio: “Aleinova é lex in melius e por isso deve retroagir, por força
do disposto no art. 5º, inc. XL, da Constituição: alei penalnão
retroagirá, salvo para beneficiar.
LEGISLAÇÃO APLICÁVEL
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10641516/artigo-5-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10729247/inciso-xl-do-artigo-5-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10641516/artigo-5-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10729247/inciso-xl-do-artigo-5-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
CF, Art. 5º, XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o
réu;
CADH, art. 9º. Princípio da legalidade e da retroatividade. Ninguém
pode ser condenado por ações ou omissões que, no momento em que
forem cometidas, não sejam delituosas, de acordo com o direito
aplicável. Tampouco se pode impor pena mais grave que a aplicável
no momento da perpetração do delito. Se depois da perpetração do
delito a lei dispuser a imposição de pena mais leve, o delinquente será
por isso beneficiado.
CP, art. 2º. Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa
de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos
penais da sentença condenatória.
Parágrafo único. A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o
agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por
sentença condenatória transitada em julgado.
CP, art. 3º. A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o
período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a
determinaram, aplica-se ao fato praticado durante a sua vigência.
CP, art. 4º. Considera-se praticado o crime no momento da ação ou
omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.
TEMPO DO CRIME
Há três correntes quanto à determinação do momento da prática do
crime (tempus delicti). São elas: a) da atividade; b) do resultado e c)
mista.
Para a teoria da atividade, também chamada de teoria da ação,
considera-se o momento do crime quando o agente realizou a ação ou
a omissão típica. Ou seja, considera-se praticado o crime no momento
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10641516/artigo-5-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10729247/inciso-xl-do-artigo-5-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984002/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10639706/artigo-2-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984002/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10639634/artigo-3-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984002/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10639607/artigo-4-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
da conduta do agente, não se levando em consideração o momento do
resultado, se diverso. Essa é a teoria adotada pelo Código Penal, em
seu artigo 4º.
Cezar Roberto Bitencourt cita algumas exceções à teoria adotada.
Ensina que “o Código, implicitamente, adota algumas exceções à
teoria da atividade, como, por exemplo: o marco inicial da prescrição
abstrata começa a partir do dia em que o crime consuma-se; nos
crimes permanentes, do dia em que cessa a permanência; e nos de
bigamia, falsificação e alteração de assentamento do registro civil, da
data em que o fato torna-se conhecido” (BITENCOURT, 2007, p. 172).
A segunda corrente, denominada como do resultado, do evento ou do
efeito, defende que o momento do crime é aquele em que ocorreu o
resultado. Deste modo, considera-se praticado o delito no momento
em que ocorre o resultado, o efeito da conduta ilícita. Damásio leciona
que “Não é de aceitar-se a teoria do evento, principalmente quando a
ação ocorre antes de entrar em vigor uma lei que define um crime ex
novo e o resultado se produz no período de sua vigência. Se a conduta
é lícita perante o ordenamento jurídico, lícito é o resultado, ainda que
ocorra sob a eficácia da lei nova que define o fato (conduta e evento)
como crime. Mesmo que a ação ocorra durante o lapso da vacatio e o
resultado após a entrada da lei em vigor, a solução é a mesma: o fato
se considera cometido ao tempo da lei antiga, que não o considerava
crime, aplicando-se o princípio da reserva legal” (JESUS, 2006, p.
104).
A última corrente (mista, ubiquidade ou unitária) sustenta que o
tempo do crime é o da ação ou da omissão quanto o do resultado.
Assim, conforme ensinamento de Régis Prado “o tempo do crime pode
ser tanto o da ação como o do resultado” (PRADO, 2010, p. 46).
SUCESSÃO (CONFLITO) DE LEIS NO TEMPO
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984002/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10639607/artigo-4-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
Em uma situação ideal, de normalidade, a lei penal vigente na época
do fato delituoso é a que embasará o julgamento e a execução penal
do agente (tempus regit actum). Noutras palavras, praticado o ilícito,
fixa-se a lei penal aplicável que perdurará enquanto não extinta,
revogada ou modificada. A lei penal da época do fato dará supedâneo
para a aplicação das sanções penais e forma de execução.
Porém, nem sempre haverá estabilidade (no sentido de manutenção)
da lei penal; nem sempre a lei penal vigente na época do fato
regulará toda persecução penal do fato criminoso. Assim, entre a
data do fato e o término do cumprimento da pena poderá haver
alteração das leis penais, ocorrendo a sucessão ou conflito de leis
penais no tempo. Nesse caso, “torna-se necessário encontrar qual a
norma que é aplicável ao fato; se aquela que vigia quando o crime foi
praticado, ou a que entrou depois em vigor” (DELMANTO, 2010, p.
85).
Para resolver esses casos de sucessão de lei, basta observar um único
critério: aplica-se a regra penal mais benéfica ao acusado, na forma
retroativa ou ultra-ativa. A lei penal mais favorável é aplicada
mesmo que o fato punível tenha sido julgado, com trânsito em julgado
(retroatividade) ou mesmo que tenha sido revogada com o advento da
lei nova (ultra-atividade).
Consequentemente,a lei penal será irretroativa quando colocar o
agente em situação pior àquela prevista por outra lei anterior. Desta
maneira, “toda lei penal, que, de alguma forma, represente um
gravame aos direitos de liberdade, que agrave as consequências
penais diretas do crime, criminalize condutas, restrinja a liberdade,
provisoriamente ou não, caracteriza lei penal mais grave, e
consequentemente, não pode retroagir” (BITENCOURT, 2007, p. 163).
A fim didático, separar-se-á em tópicos a forma de sucessão de leis
penais no tempo: a) abolitio criminis; b) novatio legis incriminadora;
c) novatio legis in pejus; d) novatio legis in mellius.
ABOLITIO CRIMINIS
Haverá abolição de crime quando a lei nova deixa de considerar
crime/contravenção penal o fato anteriormente tipificado como ilícito
penal. Nesse caso, o legislador retira a ilicitude da conduta,
descriminalizando o ato que outrora era considerado como delito.
O instituto da abolitio criminis está descrito no caput do art. 2º do
Código Penal, sendo causa de extinção de punibilidade (art. 107,
inciso III, do CP).
Para Rogério Sanches Cunha “a abolição do crime representa a
supressão da figura criminosa. Trata-se de revogação de um tipo
penal pela superveniência de lei descriminalizadora” e ocorre “sempre
que o legislador, atendendo às mutações sociais (e ao princípio da
intervenção mínima), resolve não mais incriminar determinada
conduta, retirando do ordenamento jurídico-penal a infração que a
previa, julgando que o Direito Penal não mais se faz necessário à
proteção de determinado bem jurídico” (CUNHA, 2013, p. 100).
Importante esclarecer que o instituto da abolitio criminis não ofende
a coisa julgada, tendo em vista que a coisa julgada resguarda a
garantia do indivíduo frente ao Estado e não a pretensão punitiva do
Estado contra o indivíduo.
Ainda, reconhecendo a abolitio criminis de determinado crime, isto é,
lei posterior revogando a conduta que antes era tipificada como
infração penal, a lei retroage, atingindo todas as situações que se
enquadrem na abolição, desaparecendo, por conseguinte, todos os
efeitos penais. Entretanto, os efeitos extrapenais (rectius: cíveis,
administrativos) não são atingidos pela descriminalização da
conduta. A propósito, Paulo Queiroz aconselha que “embora não
subsistindo quaisquer dos efeitos penais (v.g. reincidência) persistem
todas as consequências não penais (civil, administrativo) do fato,
como a obrigação civil de reparar o dano, que independe do direito
penal” (QUEIROZ, 2008, P. 108).
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10639706/artigo-2-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984002/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10627547/artigo-107-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10627418/inciso-iii-do-artigo-107-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984002/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
NOVATIO LEGIS INCRIMINADORA
Em se tratando de novatio legis incriminadora, ou seja, uma lei
posterior que criminaliza determinada conduta, aplica-se a regra
geral da irretroatividade penal. Segundo Capez “é a lei posterior que
cria um tipo incriminador, tornando típica a conduta considerada
irrelevante penal pela lei anterior” (CAPEZ, 2007, p. 56). Como se vê,
nesta hipótese, a regra é aquela insculpida no princípio da legalidade
e da anterioridade: não haverá crime ou pena sem lei prévia.
Portanto, em decorrência da máxima nullum crimen nullum poena
sine praevia lege, as condutas que superveniente tornaram-se crime
não retroagem, sendo aplicáveis a partir de sua vigência.
NOVATIO LEGIS IN PEJUS
Entende-se por novatio legis in pejus, também chamada de lex
gravior, a lei posterior que, de qualquer modo, agrava a situação do
agente.
Aplicando-se o critério supracitado, a lei nova que prejudica o agente
não retroage, isto é, deve ser mantida a lei revogada (ultra-atividade
da lei vigente na época do fato). Destarte, havendo inovação
legislativa para pior, “A lei que terá incidência, nesse caso, é a antiga
(que vai continuar regendo os fatos ocorridos em seu tempo). Esse é o
princípio da ultra-atividade da lei penal anterior mais benéfica (leia-
se a lei anterior, embora já tenha perdido sua vigência, diante da lei
nova, continua válida e aplicável para os fatos ocorridos durante o
seu tempo; se alei nova é prejudicial, ela não retroage, não alcança os
fatos passados; desse modo, eles continuam sendo regidos pela lei
anterior, mesmo tendo essa lei anterior já perdido sua vigência; aliás,
justamente porque já não está vigente é que se fala em ultra-
atividade, ou seja, a lei acaba tendo atividade mesmo depois de
‘morta’)” (GOMES e MAZZUOLI, 2008, p. 126).
Deste modo, em se tratando de novatio legis in pejus, é inadmissível a
sua retroatividade, segundo posicionamento do Supremo Tribunal
Federal: “Fato ocorrido antes da vigência dalei. Retroatividadedelei
penalmais gravosa. Inadmissibilidade. (...) A garantia da
irretroatividade dalei penal mais gravosa impõe a aplicação, aos
fatos praticados antes da edição daLeinº 11.464/07, da regra geral do
art. 33, § 2, 'b', do CódigoPenal,para o estabelecimento do regime
inicial de cumprimento de pena”. (STF. HC 98365 / SP. Rel. Cezar
Peluso. 2ª T. Julg. 15/12/2009). E também o STJ: “A novatio
legis in pejus não pode retroagir para prejudicar o réu atingindo com
maior rigor situação fática anterior à sua vigência (art. 5º, inciso XL
da Lex Fundamentalis)”.(STJ. HC 155024 / RS. Rel. Min. Felix Fischer.
T5. DJe 02/08/2010).
NOVATIO LEGIS IN MELLIUS
Finalmente, a quarta hipótese de conflito de lei penal no tempo é a
novatio legis in mellius, vale dizer, ocorre quando a lei posterior que
traz um benefício, de certa forma, para o agente do fato (a lei nova
beneficia a situação do acusado). Rene Ariel Dotti leciona que “O
advento de uma lei nova poderá beneficiar o agente não apenas
quando descriminaliza o fato anteriormente punível, mas quando
institui uma regra de Direito Penal que: a) altera a composição do
tipo de ilícito; b) modifica a natureza, a qualidade, a quantidade ou a
forma de execução da pena; c) estabelece uma condição de
punibilidade ou processabilidade; d) de qualquer outro modo é mais
favorável” (DOTTI, 2010, p. 343).
O Supremo Tribunal Federal tem julgado da mesma forma: “Novatio
legis in mellius que, em razão do princípio daretroatividadedalei
penal menos gravosa, alcança a situação pretérita do paciente,
beneficiando-o (...). Por se tratar de novatio legis in mellius, nada
impede que, em razão do princípio daretroatividadedalei penalmenos
gravosa, ela alcance a situação pretérita do paciente, beneficiando-o”.
(STF. HC 114149 / MS . Rel. Dias Toffoli. 1ª T. Julg em 13/11/2012).
https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/7222271/habeas-corpus-hc-98365-sp
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/15470187/habeas-corpus-hc-155024-rs-2009-0232475-8
https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/22816396/habeas-corpus-hc-114149-ms-stf
Corroborando este entendimento, é o posicionamento do
Superior Tribunal de Justiça: “A Constituição Federal reconhece,
no art. 5º inciso XL, como garantia fundamental, o princípio da
retroatividade da lei penal mais benéfica. Desse modo, o advento de
lei penal mais favorável ao acusado impõe sua imediata aplicação,
mesmo após o trânsito em julgado da condenação. Todavia, a
verificação da lex mitior, no confronto de leis, é feita in concreto, visto
que a norma aparentemente mais benéfica, num determinado caso,
pode não ser. Assim, pode haver, conforme a situação, retroatividade
da regra nova ou ultra-atividade da norma antiga”. (STJ. REsp
1107275 / SP. Rel. Min. Felix Fischer. T5. DJe 04/10/2010).
Ocorrendo, portanto, essa novatio legis in mellius, aplicar-se-á a lex
mitior (lei melhor) ao caso concreto, retroagindo à data dos fatos.
Esse instituto estáprevisto no parágrafo único do artigo 2º do Código
Penal e também não encontra obstáculo à coisa julgada, não havendo
que se falar em direito adquirido do jus puniendi estatal.
Em suma, a novatio legis in mellius, assim como a abolitio criminis,
retroage para beneficiar o agente criminoso, aplicando-se de forma
imediata aos processos em andamento, sentenciados ou não, e
também à execução penal.
APURAÇÃO DA LEI PENAL MAIS BENÉFICA
Para verificar qual a lei penal mais benéfica, em regra, é possível a
sua verificação hipoteticamente. Quando ambas as leis penais
(anterior e posterior) forem de fácil constatação naquilo em que
houve o favorecimento ao agente, aplica-se desde logo a mais
vantajosa ao réu. É o que ocorreu, por exemplo, com o crime de “porte
ilegal de drogas para consumo próprio” do art. 16, da Lei nº 6368/76
revogada pelo artigo 28 da Lei nº 11.343/06 (lex mitior), que foi
possível a verificação literal da lei mais benéfica.
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/16802158/recurso-especial-resp-1107275-sp-2009-0000155-7
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10639666/par%C3%A1grafo-1-artigo-2-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10639706/artigo-2-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984002/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11265998/artigo-16-da-lei-n-6368-de-21-de-outubro-de-1976
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/103305/lei-de-drogas-de-1976-lei-6368-76
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10868007/artigo-28-da-lei-n-11343-de-23-de-agosto-de-2006
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/95503/lei-de-t%C3%B3xicos-lei-11343-06
Todavia, em casos mais complexos, “Não basta a comparação, em
abstrato, de duas leis penais, para descobrir-se qual é a mais
benéfica. Elas devem ser comparadas em cada casos concreto,
apurando-se quais seriam os resultados e consequências da aplicação
de uma e de outra” (DELMANTO, 2010, p. 85). Nesses casos, é
necessário que o julgador verifique, no caso concreto, comparando-a,
nas leis questionadas, qual será a mais benéfica ao acusado.
Persistindo a dúvida, a doutrina tem entendido que se deve perguntar
ao acusado, aconselhado pelo seu defensor, qual das leis lhe parece
ser a mais favorável (Neste sentido: Sanches, Hungria, Delmanto e
Bacigalupo). Damásio finaliza que “nos casos de séria dúvida sobre a
lei mais favorável, deve a nova ser aplicada somente aos fatos ainda
não decididos, nada impedindo seja ouvido o réu a respeito” (JESUS,
2006, p. 93).
COMPETÊNCIA PARA APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO
TEMPO – SÚMULA 611 DO STF
Para saber qual o juiz competente para a aplicação da lei penal mais
benéfica, basta observar a existência de trânsito em julgado da
sentença. Inexistindo trânsito em julgado da sentença condenatória, a
competência é do juízo de conhecimento (primeiro grau ou o Tribunal,
caso seja ação penal originária) ou do tribunal recursal, caso esteja
em grau de recurso (Tribunais Estaduais, TRF, Superiores etc.).
Havendo o trânsito em julgado, compete ao Juízo da Execução, nos
termos do artigo 66, inciso I, da LEP, art. 13 LICPP e da Súmula 611
do STF: “transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao
juízo das execuções a aplicação de lei mais benigna”.
No mesmo sentido: “Caberá ao Juízo das Execuções, após a aplicação
da Lei 11.343/2006, o reconhecimento da eventual ocorrência da
prescrição.Súmula 611do STF”.(STF. HC 95626 ED / MG. Rel. Min.
Gilmar Mendes. 2a T. Julg. 27/03/2012). E também o STJ
“Encerrada a jurisdição da instância ordinária, tal matéria, a teor do
disposto no enunciado da Súmula n.º 611, do Supremo Tribunal
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11695883/artigo-66-da-lei-n-7210-de-11-de-julho-de-1984
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11695847/inciso-i-do-artigo-66-da-lei-n-7210-de-11-de-julho-de-1984
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/109222/lei-de-execu%C3%A7%C3%A3o-penal-lei-7210-84
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11702265/artigo-13-da-lei-n-7210-de-11-de-julho-de-1984
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/126681/lei-de-introdu%C3%A7%C3%A3o-ao-c%C3%B3digo-de-processo-penal-decreto-lei-3931-41
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/95503/lei-de-t%C3%B3xicos-lei-11343-06
https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/21270806/habeas-corpus-hc-95626-mg-stf
Federal, deve ser apreciada e decidida pelo juízo estadual das
execuções criminais”. (STJ. AgRg no HC 226700 / ES. Rel. Min.
Laurita Vaz. T5. DJe 21/06/2013).
Frise-se que, embora entendimento contrário, em regra, não é cabível
a revisão criminal para aplicação da lei mais benéfica, visto que a
hipótese não se enquadra nas situações previstas no artigo 621 do
CPP.
LEX MITIOR X VACATIO LEGIS
Uma das questões mais importantes desse estudo se refere à
incidência da lei penal que se encontra em vacatio legis. Sancionada,
promulgada e publicada uma lei penal mais benéfica, é possível sua
aplicação imediata? Isto é, antes mesmo de encerrar o prazo da sua
vacatio, caso existente?
Há duas teorias sobre o assunto. A primeira, seguida por Damásio de
Jesus, Guilherme de Souza Nucci e Frederico Marques, defende que
não é possível a lei nova abranger o fato anterior ou concomitante ao
período da vacatio. Isto é, “a lei penal não possui eficácia jurídica ou
social, devendo imperar a lei vigente. Fundamenta-se esta corrente no
fato de que a lei no período de vacatio legis não passa de mera
expectativa de lei. Esta é a corrente predominante” (CUNHA, 2013, p.
104).
A segunda corrente, defendida por Rene Dotti, Celso Delmanto e
Alberto Silva Franco, entende que, em se tratando de lex mitior, deve
a lei ser aplicada desde logo, independentemente se se encontra em
vacatio legis ou não. Isso porque “a lei em período de vacatio não
deixa de ser lei posterior, devendo ser aplicada desde logo, se for mais
favorável ao réu” (DOTTI, 2010, p. 344/345).
COMBINAÇÃO DE LEIS PENAIS – LEX TERTIA
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/23530692/agravo-regimental-no-habeas-corpus-agrg-no-hc-226700-es-2011-0286845-2-stj
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10614199/artigo-621-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1028351/c%C3%B3digo-processo-penal-decreto-lei-3689-41
Eis o ápice da aplicação da lei no tempo: é possível a conjugação de
leis penais, formando, o que a doutrina chama de terceira lei (lex
tertia)? Em outras palavras, pode o julgador utilizar-se de partes de
leis diferentes favoráveis ao réu para aplicação no caso concreto?
Duas são as teorias que respondem essa questão.
A primeira, corrente tradicional, defendida principalmente por
Nelson Hungria, Aníbal Bruno, Heleno Cláudio Fragoso, Eugenio
Raul Zaffaroni, José Henrique Pierangeli, Costa e Silva, afirma não
ser possível a fusão de leis, isto é, que não é possível dividir a norma
para aplicar a parte mais benéfica, criando uma terceira lei (lex
tertia). Sobre o assunto: “Nessa tarefa deve-se analisar em separado
uma e outra lei, mas não é lícito tomar preceitos isolados de uma e
outra, mas cada uma delas em sua totalidade. Se assim não fosse,
estaríamos aplicando uma terceira lei, esta inexistente, criada
unicamente pelo intérprete” e continua afirmando que “o juiz não
pode criar uma terceira lei porque estaria aplicando um texto que, em
momento algum, teve vigência” (ZAFFARONI e PIERANGELI, 2004,
p. 219/220). O Superior Tribunal de Justiça corrobora com este
entendimento (HC 124782 / ES, RHC 22407 / PR).
Por outro lado, a corrente moderna, da qual fazem parte Basileu
Garcia, Damásio de Jesus, Frederico Marques, Celso Delmanto, Cezar
Roberto Bitencourt, Rene Ariel Dotti, Bustos Ramirez, Francisco de
Assis Toledo e Magalhães Noronha, admite a combinação de leis
favoráveis ao réu, sob o fundamento de queo juiz não cria uma
terceira lei, mas apenas efetua uma integração das normas, pois,
quem pode aplicar o todo, pode aplicar somente uma parte dela. A
propósito, Damásio disserta que “Se o juiz pode aplicar o todo de uma
ou de outra lei para favorecer o sujeito, não vemos por que não possa
acolher parte de uma e de outra para o mesmo fim, aplicando o
preceito constitucional. Este não estaria sendo obedecido se o Juiz
deixasse de aplicar a parcela benéfica da lei nova, porque impossível
a combinação de leis” (JESUS, 2006, p. 94/95).
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/21115866/habeas-corpus-hc-124782-es-2008-0284552-1-stj
O Supremo Tribunal Federal tem se posicionado majoritariamente
(contra: HC 107583 / MG, HC 96844 / MS eHC 68416 / DF)no
sentido da possibilidade da combinação das leis, quando houver
ineditismo penal, conforme julgamento do Recurso Extraordinário
em Repercussão Geral, em que analisou a minorante do art. 33, § 4º
da Lei n. 11.343/06 em conjunto com a Lei n. 6368/76: “No plano do
agravamento da pena de reclusão, a regra mais nova não tem como
retroincidir. Sendo (como de fato é) constitutiva de política criminal
mais drástica, a nova regra cede espaço ao comando da norma penal
de maior teor de benignidade, que é justamente aquela mais recuada
no tempo: o art. 12 da Lei 6.368/1976, a incidir por ultra-atividade. O
novidadeiro instituto da minorante, que, por força mesma do seu
ineditismo, não se contrapondo a nenhuma anterior regra penal,
incide tão imediata quanto solitariamente, nos exatos termos do
inciso XL do art. 5º da Constituição Federal” (STF. RE 596152 RG /
SP. Rel. p. Ac. Min. Ayres Britto. Pleno. Julg. 13.10.2011). No
mesmo diapasão: “A causa de diminuição de pena prevista no art.
33 da Lei nº 11.343/2006, mais benigna, pode ser aplicada sobre a
pena fixada com base no disposto no art. 12, caput, da Lei nº
6.368/76”. (STF. HC 95435 / RS. Rel. p. Ac. Min. Cezar Peluso. 2ª T.
Julg. 21/10/2008).
Sobre as duas correntes, Juarez Cirino perfeitamente resume a
combinação de leis sucessivas: “a) posição tradicional rejeita a
combinação de leis sucessivas, sob o argumento de construção de uma
lex tertia, proibida ao intérprete; b) posição moderna admite a
combinação de leis sucessivas, sob o argumento convincente de que a
expressão “de qualquer modo” (art. 2º, parágrafo único, CP) não
conhece exceções” (SANTOS, 2011, p. 26/27).
CRIME CONTINUADO E CRIME PERMANENTE
Em se tratando de crime continuado (ou continuidade delitiva, art. 71,
do Código Penal) ou de crime permanente (cuja consumação se
prolonga no tempo), a regra é que se aplica a lei mais nova, ainda que
maléfica ao acusado. Portanto, havendo a modificação da lei quando
https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/21840205/habeas-corpus-hc-107583-mg-stf
https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/7171581/habeas-corpus-hc-96844-ms
https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/750710/habeas-corpus-hc-68416-df
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10867208/artigo-33-da-lei-n-11343-de-23-de-agosto-de-2006
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10866965/par%C3%A1grafo-4-artigo-33-da-lei-n-11343-de-23-de-agosto-de-2006
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/95503/lei-de-t%C3%B3xicos-lei-11343-06
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/103305/lei-de-drogas-de-1976-lei-6368-76
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11266308/artigo-12-da-lei-n-6368-de-21-de-dezembro-de-2000
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/103305/lei-de-drogas-de-1976-lei-6368-76
https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/21273431/recurso-extraordinario-re-596152-sp-stf
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10867208/artigo-33-da-lei-n-11343-de-23-de-agosto-de-2006
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/95503/lei-de-t%C3%B3xicos-lei-11343-06
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10869293/artigo-12-da-lei-n-11343-de-23-de-agosto-de-2006
https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/2912094/habeas-corpus-hc-95435-rs
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10639706/artigo-2-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10639666/par%C3%A1grafo-1-artigo-2-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984002/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10631430/artigo-71-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984002/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
ainda em prosseguimento a prática de crime continuado ou
permanente, a lei nova é aplicada a toda a série de delitos praticados
(caso seja crime continuado) ou para o crime permanente.
Neste sentido, o Supremo Tribunal Federal editou a súmula 711: “A lei
penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime
permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade
ou da permanência”. Ao comentar a referida súmula, Roberval Rocha
Ferreira Filho aduz que “o STF discute sobre a aplicabilidade da lei
posterior mais gravosa aos fatos praticados pelo acusado,
responsável pela sequência de atos do crime continuado ou pelo crime
permanente. Conforme o entendimento [da] Corte, se o agente
permaneceu na prática de crimes (crime continuado) ou permaneceu
na prática delituosa (crime permanente), mesmo após edição de lex
gravior, a aplicação da pena deverá ocorrer na forma prevista pela
nova lei, ainda que sofra maior punição pelo crime”. (FERREIRA
FILHO, 2009, p. 228).
No caso de crime continuado, o Superior Tribunal de Justiça assim
decidiu: “Caracterizada a continuidade delitiva, a aplicação da Lei
11.343/06, mesmo quando mais gravosa ao sentenciado, mostra-se
adequada, já que a atividade delitiva prolongou-se até a entrada em
vigor da novel de legislação de drogas. Enunciado sumular 711 do
Supremo Tribunal Federal”. (STJ. RHC 30851 / GO. Rel. Min. Maria
Thereza de Assis Moura. T6. DJe 18/03/2013). E, em relação ao crime
permanente, vide acórdão do mesmo Tribunal Superior, HC 111120 /
DF (Rel. Min. Laurita Vaz. T5. DJe 17/12/2010).
PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE NORMATIVO-TÍPICA
Aplica-se o princípio da continuidade normativo-típica quando uma
lei é revogada, porém, a conduta ainda continua incriminada em
outro dispositivo legal, não ocorrendo, nessa hipótese, a abolitio
criminis.
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/95503/lei-de-t%C3%B3xicos-lei-11343-06
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/17995682/habeas-corpus-hc-111120-df-2008-0156982-7
Sobre o assunto, Rogério Sanches Cunha diferencia ambos os
institutos: “A abolitio criminis representa supressão formal e material
da figura criminosa, expressando o desejo do legislador em não
considerar determinada conduta como criminosa. É o que aconteceu
com o crime de sedução, revogado, formal e materialmente, pela Lei
nº 11.106/2005” E prossegue “O princípio da continuidade normativo-
típica, por sua vez, significa a manutenção do caráter proibido da
conduta, porém com o deslocamento do conteúdo criminoso para
outro tipo penal. A intenção do legislador, nesse caso, é que a conduta
permaneça criminosa” (CUNHA, 2013, p. 106).
Neste raciocínio tem decidido o Supremo Tribunal Federal, aplicando
o princípio da continuidade normativa-típica: “Abolitio
Criminis.Inocorrência. Princípio da continuidade normativo-típica.
Precedentes. (...). 1. A jurisprudência desta Suprema Corte alinhou-se
no sentido de que, nos moldes do princípio da continuidade
normativo-típica, o art. 3º da Lei nº 9.983/2000 apenas transmudou
a base legal de imputação do crime de apropriação indébita
previdenciária para o Código Penal (art. 168-A), não tendo havido
alteração na descrição da conduta anteriormente incriminada na Lei
nº 8.212/90. (...)” (STF. AI 804466 AgR / SP. Rel. Min. Dias
Toffoli. 1ª T. Julg. 13/12/2011). E também: “A revogação da lei
penal não implica, necessariamente, descriminalização de condutas.
Necessária se faz a observância ao princípio da continuidade
normativo-típica, a impor a manutenção de condenações dos que
infringiramtipos penais da lei revogada quando há, como in casu,
correspondência na lei revogadora” (STF. HC 106155 / RJ. Rel. p.
Ac. Min. Luiz Fux. 1ª T. Julg. 04/10/2011).
Ainda, no campo jurisprudencial, o Superior Tribunal de
Justiça tem entendido que não houve abolitio criminis em
relação ao crime de atentado violento ao pudor: “Diante do
princípio da continuidade normativa, descabe falar em abolitio
criminis do delito de atentado violento ao pudor, anteriormente
previsto no art. 214 do Código Penal. O advento da Lei n.º
12.015/2009 apenas condensou a tipificação das condutas de estupro
e atentado violento ao pudor no artigo 213 do Estatuto repressivo”.
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11172635/artigo-3-da-lei-n-9983-de-14-de-julho-de-2000
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/101722/lei-9983-00
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984002/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/22935106/agravo-de-instrumento-ai-804466-sp-stf
https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/20760752/habeas-corpus-hc-106155-rj-stf
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10611881/artigo-214-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984002/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
(STJ. HC 217531 / SP. Rel. Min. Laurita Vaz. T5. DJe 02/04/2013). No
mesmo diapasão: “O princípio da continuidade normativa típica
ocorre quando uma norma penal é revogada, mas a mesma conduta
continua sendo crime no tipo penal revogador, ou seja, a infração
penal continua tipificada em outro dispositivo, ainda que
topologicamente ou normativamente diverso do originário”. (STJ. HC
204416 / SP. Rel. Min. Gilson Dipp. T5. DJe 24/05/2012).
Assim, pelo princípio da continuidade normativo-típica não há
supressão do conteúdo penal, isto é, da conduta incriminadora,
inexistindo abolitio criminis. O que ocorre é uma migração do
conteúdo da norma penal para outro tipo penal, havendo apenas a
revogação formal do artigo, permanecendo, porém, o fato típico.
LEI TEMPORÁRIA E LEI EXCEPCIONAL
Previstas no artigo 3º do Código Penal, a lei temporária (também
chamada de lei temporária em sentido estrito)é aquela que tem prazo
determinado de vigência, i.e., é a norma que foi instituída por certo e
determinado lapso temporal de vigência (Ex. art. 30 e seguintes da
Lei nº 12.663/2012). Já a lei excepcional (lei temporária em sentido
amplo)é aquela promulgada para vigorar em situações anormais,
tendo sua vigência subordinada à duração dessa circunstância
emergencial que a criou. Ambos os tipos de leis são espécies do gênero
leis auto-revogáveis (ou intermitentes, pois encerrado o prazo ou a
situação de anormalidade, a lei é revogada automaticamente), cuja
característica essencial é a ultra-atividade (aplica-se ao fato
realizado durante a sua vigência, mesmo após revogada).
Novamente, Régis Prado ensina que a lei excepcional “visa atender
situações excepcionais, de anormalidade social ou de emergência, não
fixando prazo para sua vigência; vale dizer, tem eficácia enquanto
perdurar o fato que a motivou. De sua vez, a lei temporária prevê
formalmente o período de tempo de sua vigência, ou seja, delimita de
antemão o lapso temporal em que estará em vigor. Exige duas
condicionantes: situação transitória de emergência e termo de
vigência”. (PRADO, 2010, p. 45).
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/23096082/habeas-corpus-hc-217531-sp-2011-0208840-7-stj
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/21837418/habeas-corpus-hc-204416-sp-2011-0087921-8-stj
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10639634/artigo-3-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984002/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
O fundamento para a ultra-atividade é, segundo Celso Delmanto, que
as leis “perderiam toda a sua força intimidativa, caso o agente já
soubesse, de antemão que, após cessada a anormalidade (no caso das
leis excepcionais) ou findo o período de vigência (das leis
temporárias) acabaria impune pela aplicação do princípio da
retroatividade” (DELMANTO, 2010, p. 90).
Discute-se aqui se as leis temporárias e excepcionais são
constitucionais. Para a primeira corrente, denominada como posição
constitucionalista, em que são adeptos Raul Eugênio Zaffaroni, José
Henrique Pierangeli e Paulo José da Costa Junior, sustenta que não é
possível a ultra-atividade das leis auto-revogáveis, pois o artigo 3º do
CP não teria sido recepcionado pela constituição (art. 5º, XL –
retroatividade da lei penal mais favorável). “Esta disposição legal é
de duvidosa constitucionalidade, posto que constitui exceção à
irretroatividade legal que consagra a Constituição Federal (“salvo
para beneficiar o réu”) e não admite exceções, ou seja, possui caráter
absoluto (art. 5º, inc. XL)” (ZAFFARONI e PIERANGELI, 2004, p.
221).
Por outro lado, a corrente legalista “fundamenta a ultra-atividade em
dilações processuais obstativas de aplicação da lei durante o tempo
ou o acontecimento determinados, ou sob o argumento técnico de que
o tempo ou o acontecimento integram o tipo de injusto, excluindo a
retroatividade da lei penal mais favorável” (SANTOS, 2011, p. 27).
Essa teoria é defendida por Nelson Hungria, Jescheck, Luiz Flávio
Gomes, Celso Delmanto e Fernando Capez.
SUCESSÃO DE LEIS PENAIS NO TEMPO E NORMA PENAL
EM BRANCO
Havendo alteração do complemento da norma penal em branco,
aplica-se a retroatividade penal da norma mais favorável? Para
Celso Delmanto, “Sem dúvida, a solução do problema reside na
análise sobre a natureza do complemento da norma penal, ou seja, se
tem ele nítido caráter excepcional ou temporário ou não”
(DELMANTO, 2010, P. 91).
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10639634/artigo-3-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984002/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
Porém, a questão não é de fácil resolução. Atualmente, existem cinco
teorias que explicam a retroatividade em casos de normas penais em
branco.
A primeira, defendida por Paulo José da Costa Junior e Basileu
Garcia, entende que sempre deve retroagir, desde que benéfico ao réu,
isto é, havendo alteração da complementação e, sendo favorável ao
acusado, há retroatividade.
A segunda, em que são adeptos Frederico Marques, Nelson Hungria,
Magalhães Noronha e Damásio de Jesus, afirma que é irretroativa a
mudança da complementação da lei penal em branco, inobstante ser
benéfico ou maléfico, pois a norma penal não é revogada. Neste
sentido, Cezar Roberto Bitencourt assevera que “as leis penais em
branco não são revogadas em consequência da revogação de seus
complementos. Tornam-se apenas temporariamente inaplicáveis por
carecerem de elemento indispensável à configuração da tipicidade”
(BITENCOURT, 2007, p. 171).
Já a terceira corrente defende que somente haverá retroação da
norma complementar no caso de haver uma real modificação na
norma penal em branco, isto é, havendo modificação da conduta
criminosa, há retroatividade. Julio Mirabete é o defensor desta teoria.
Para a quarta teoria, em que são partidários Fernando Capez e Luiz
Régis Prados, as normas penais em branco sujeitam-se as regras
gerais da sucessão de leis no tempo (irretroatividade e
retroatividade), porém, é necessário verificar o critério de
temporariedade no complemento da lei penal em branco. Existindo a
temporariedade (típico de normas de vigência temporária), haverá
ultra-atividade, no entanto, inexistindo a temporariedade, haverá a
retroatividade in mellius. Desta maneira, “ocorrendo modificação
posterior in mellius do complemento da norma penal em branco, para
se saber se haverá ou não retroação, é imprescindívelverificar se o
complemento revogado tinha ou não as características de
temporariedade” (CAPEZ, 2007, p. 65).
Por fim, a quinta corrente, seguida por Alberto Silva Franco e pelo
Supremo Tribunal Federal, entende que: a) em se tratando de norma
penal em branco homogênea, sempre haverá efeitos retroativos; b)
em se tratando de norma penal em branco heterogênea, revestindo-se
o complemento de excepcionalidade, não há retroatividade, no caso
contrário, isto é, não havendo excepcionalidade no complemento da
norma penal, incide a retroatividade.
LEI INTERMEDIÁRIA
Consiste a lei intermediária aquela que não era vigente ao tempo do
fato e nem ao tempo do julgamento, porém, vigorou durante o
processo criminal. Em outros termos, a lei intermédia surge no
interregno de tempo entre o fato criminoso e o julgamento e
prevalecerá, caso seja mais favorável, às demais leis (do tempo do
fato ou do julgamento).
O Supremo Tribunal Federal já decidiu: “Lei penalnotempo:
incidência da norma intermediária mais favorável. Dada a garantia
constitucional deretroatividadedalei penal mais benéfica ao réu, é
consensual na doutrina que prevalece a norma mais favorável, que
tenha tido vigência entre a data do fato e a da sentença: o contrário
implicaria retroação daleinova, mais severa, de modo a afastar a
incidência daleiintermediária, cuja prevalência, sobre a dotempodo
fato, o princípio da retroatividadein melius já determinara”. (STF.
RE 418876 / MT. Rel. Min. Sepúlveda Pertence. 1ª T. Julg.
30/03/2004).
Portanto, “Se a lei intermediária for a mais favorável, deverá ser
aplicada. Assim, a lei posterior, mais rigorosa, não pode ser aplicada
pelo princípio geral da irretroatividade, como também não pode ser
aplicada a lei da época do fato, mais rigorosa. Por princípio
excepcional, só poderá ser aplicada a lei intermediária, que é a mais
favorável. Nessa hipótese, a lei intermediária tem dupla extra-
atividade: é, ao mesmo tempo, retroativa e ultra-ativa!”
(BITENCOURT, 2007, p. 167/168).
https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/769032/recurso-extraordinario-re-418876-mt
RETROATIVIDADE DA LEI INTERPRETATIVA E DA
JURISPRUDÊNCIA
Para encerrar o estudo sobre lei penal no tempo, será respondida a
seguinte questão: É possível a retroatividade da lei interpretativa e
da jurisprudência?
No caso da lei interpretativa, Nelson Hungria entende que as leis
interpretativas não podem retroagir em desfavor do réu. Contudo,
para Frederico Marques e Fernando Capez, a interpretação autêntica
não cria nem inova o ordenamento jurídico, por isso, deve ser
aplicada de forma ex tunc. A lei interpretativa “limita-se a estabelecer
o correto entendimento e o exato alcance da regra anterior, que já
deveriam estar sendo aplicados desde o início de sua vigência”
(CAPEZ, 2007, p. 61).
Em relação á retroatividade da jurisprudência, o entendimento
majoritário, segundo Rogério Sanches Cunha, é da impossibilidade de
retroação. Isto é, mudando o entendimento jurisprudencial, salvo se
se tratar de recurso repetitivo, controle de constitucionalidade ou de
súmula vinculante, não há que se falar em irretroatividade. A
propósito, “não se pode negar a possibilidade de retroatividade
(benéfica) da jurisprudência quando dotada de efeitos vinculantes
(presente nas súmulas vinculantes e decisões em sede de controle
concentrado de constitucionalidade)”. (CUNHA, 2013, p. 110).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte
Geral. 11. Ed. São Paulo: Saraiva, 2007. Vol. 1.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: Parte Geral. 11. Ed. São
Paulo: Saraiva, 2007. Vol. 1.
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Geral.
Salvador: Jus Podivm, 2013.
DELMANTO, Celso. Et al. Código Penal Comentado. 8. Ed. São
Paulo: Saraiva, 2010.
DOTTI, Rene Ariel. Curso de Direito Penal: Parte Geral. 3. Ed. São
Paulo: RT, 2010.
FERREIRA FILHO, Roberval Rocha. Et al. Súmulas do Supremo
Tribunal Federal. 2. Ed. Salvador: Jus Podivm, 2009.
GOMES, Luiz Flávio. MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Direito
Penal: Comentários à Convenção Americana Sobre Direitos
Humanos. Org. por Luiz Flávio Gomes e Rogério Sanches Cunha. São
Paulo: RT, 2008. Vol. 4.
JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal: Parte Geral. 28ª
Ed. São Paulo: Saraiva, 2006. Vol. 1.
QUEIROZ, Paulo. Direito Penal: Parte Geral. 4. Ed. Rio de Janeiro:
Lumen Iuris, 2008.
PRADO, Luiz Régis. Comentários ao Código Penal. 5. Ed. São
Paulo: RT, 2010.
SANTOS, Juarez Cirino. Manual de Direito Penal: Parte Geral.
São Paulo: Conceito Editorial, 2011.
ZAFFARONI, Eugenio Raul. PIERANGELI, José Henrique. Manual
de Direito Penal Brasileiro: Parte Geral. 5. Ed. São Paulo: RT,
2004.
Disponível em: https://andreiapaivac.jusbrasil.com.br/artigos/795241712/lei-penal-no-tempo
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984002/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984002/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40

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