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INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS

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Língua Portuguesa 
Interpretação de Texto 
Nivelamento 
Apostila 1
Introdução 
 É comum imaginar que a interpretação de texto é usada só para provas 
pontuais, como uma maneira de estudo e que não trará aplicações em nosso 
dia a dia.
 Será que você já parou para refletir em todas as áreas em que a interpre-
tação é aplicada?
Interpretação de Texto 
Pag. 2
Nivelamento 
Curso de Língua Portuguesa - Apostila 1
 Com o advento das redes sociais, o acesso a informação é rápido e di-
nâmico. É comum ver a mesma noticia em diversas fontes, e até mesmo no 
perfil dos impactados diretamente em suas próprias redes. Este é apenas um dos 
pontos onde a interpretação de texto entra: como saber quem tem razão?
Em alguns momentos, não será possível chegar a uma conclusão, mas com 
muito treino e foco, você alcançará um senso crítico necessário para obervar os 
diversos prismas de um mesmo fato.
 Seja ao ler uma crônica, ouvir uma música, ler uma tirinha, um e-mail, 
ou simplesmente navegando em suas redes sociais, é impossível se desvirtuar da 
interpretação de texto.
 Pensando nisso, a Escola Vésper elaborou um material denso, que pos-
sibilitará este treino, com o objetivo de trazer uma análise mais simplificada de 
seu dia a dia. Ao final deste material, esperamos que sua aptidão para interpretar 
o dia a dia esteja ainda mais aguçada.
 Comece a observar o seu dia a dia e notar a forma em que a intepreta-
ção de texto permeia diversos fatos, e este exercício trará uma nova visão sobre 
os diversos tipos de leituras que devemos fazer em nosso cotidiano:
- Imagens
 Como uma forma de comunicação não verbal, as imagens muitas ve-
zes demandam uma leitura específica para que sejam compreendidas. Alguns 
exemplos: charges, cartazes, flyers, anúncios;
-Notícias
Este gênero demanda uma leitura focada em decifrar a mensagem principal que 
o autor deseja transmitir, além de um senso crítico visando discernir ideologia 
de informação;
 
- Quadrinhos
 Além de entretenimento, muitas vezes, este tipo de comunicação é do-
tada de uma série de críticas, em formato de humor. É necessário saber fazer 
uma leitura aguçada para captar toda a mensagem transmitida pelo autor;
- Músicas
Pag. 3
Curso de Língua Portuguesa - Apostila 1
 As músicas refletem de forma cativante todo um contexto da sociedade. 
Uma boa letra faz com que possamos nos transportar para diversas realidades, 
analisando assim o meio de variados grupos e situações;
- Crônicas
 Podendo ser reais ou fictícias, as crônicas são grande fonte de conheci-
mento e análise, como textos curtos e de rápida compreensão;
- Livros
 Seja qual for seu gênero literário favorito, o livro só será totalmente 
compreendido e desfrutado através da interpretação de texto correta;
- Resenhas
 Em formato de críticas ou apresentação de novo produto ou serviço, é 
necessário analisar criticamente, interpretar, entender a opinião do autor e tirar 
suas próprias conclusões.
 Veja então algumas dicas para aperfeiçoar sua visão nesta área:
 1) Leia todo o texto pausadamente e com atenção. Nesta primeira etapa, 
grife as palavras que não entender, mas não “trave” nestes pontos – tente seguir 
o contexto para uma compreensão geral.
 2) Busque o significado das palavras grifadas, para ampliar seu vocabulá-
rio e verificar se existe alguma análise crítica vinculada a estes termos.
 3) Grife as informações mais importantes de cada parágrafo para facilitar 
sua compreensão e releitura. 
 4) Tente compreender o objetivo do autor de cada gênero durante sua 
leitura. O que ele quis dizer? Por que empregou determinados termos?
 5) Releia as questões antes de responder, grifando o ponto principal de 
cada uma.
Pag. 4
Práticas de Libras - Histórico da Educação dos Surdos no mundoPráticas de Libras - Histórico da Língua de SinaisCurso de Língua Portuguesa - Apostila 1
 6) Escreva respostas completas, se possível exemplificando com aspas 
de acordo com o que o texto menciona.
 7) Caso a questão seja de múltipla escolha, elimine as alternativas que 
julgar incorretas antes de tomar sua decisão final. Cuidado com pegadinhas!
 8) O segredo da interpretação de texto é treinar! Busque em seu dia a dia 
exemplos em que é necessário aplicá-la, e o trabalho será mais leve e divertido!
Leia a crônica Homem olhando o mar, de Fernando Sabino.
 Dica: durante a leitura, imagine-se no lugar da personagem principal, 
buscando vivenciar suas experiências e sensações. Este exercício tornará sua 
análise mais fácil e proveitosa!
 Ela carregava a pasta contra o peito e caminhava com estudada displi-
cência – o que, de certo modo, disfarçava a deselegância do 
uniforme... Deu uma corridinha para atravessar a rua e depois se compenetrou, 
tentando fazer-se adulta. Logo se distraía, de vitrine em vitrine, com seu próprio 
corpo que passava refletido no vidro – às vezes estacando para olhar um vesti-
do, uma bolsa, um sapato. “Bárbaro!”, murmurava. Na esquina se deteve junto à 
carrocinha de sorvete: – De chocolate!
 A mãe era capaz de dizer que não ficava bem uma moça de treze anos 
tomando sorvete pela rua afora. Ainda mais nesse passinho, saltitante, evitando 
as listras pretas da calçada, só pisando nas brancas. Pouco se importava: uma 
coisa que não ficava bem, ela gostavade fazer. Por exemplo: tirar o sapato ali 
mesmo e andar descalça, dava vontade. Outro exemplo: matar a última aula, 
pois não era isso mesmo? Sorvete acabado, ficou pensando se agora não 
seria o caso de comprar um saco de pipocas. Enquanto decidia, olhava os carta-
zes de cinema. Por um instantinho teve a tentação de entrar. Isto é, se o dinheiro 
desse. Isto é, se desse tempo. Isto é, se não tivesse visto aquele filme.
 – Amanhã vou pedir ao papai – afirmou, como se falasse para o pró-
prio sapatinho branco na vitrine logo adiante. “Bárbaro 
também”. O pai, naquele instante na cidade, trabalhando no escritório. O que 
eu estou precisando é de tomar juízo, concluiu. Mas, francamente: só a última 
aula. Ainda mais numa tarde tão bonita como aquela. Virou a esquina e seguiu 
Pag. 5
Práticas de Libras - Histórico da Educação dos Surdos no mundoPráticas de Libras - Histórico da Língua de SinaisCurso de Língua Portuguesa - Apostila 1
Pag. 6
em direção ao mar. O mar... Ondas que se quebravam lá adiante, espumando 
verde. Ao longe, cruzando a barra, um navio branco. O azul do céu sem uma 
nuvem, a areia dourada. Foi andando devagar ao longo da praia, passo a pas-
so,reconciliada com o mundo, leve, distraída, olhando o mar. De repente esta-
cou, surpresa. Num dos bancos, logo adiante, um homem também olhando o 
mar. Um homem alto como seu pai, meio curvado como seu pai, olhando o mar. 
Mas àquela hora, sentado sozinho num banco de praia, paletó largado ao colo, 
olhando o mar? Virou rapidamente o rosto, porque ele se movera e já podia 
tê-la visto. Deu-lhe as costas e atravessou a rua, aturdida com a descoberta: ele 
também matava aula para ficar olhando o mar. Antes de desaparecer na esquina, 
arriscou ainda um olhar furtivo para confirmar: lá estava ele. Teve a impressão de 
que agora ele é que virava o rosto para não ser reconhecido. Por via das dúvidas, 
foi logo para casa. Já era tempo mesmo. Chegou à hora de sempre. A noite, 
ele também chegou à hora de sempre. E, durante o jantar, a uma pergunta da 
mulher, enfrentou toda a família com o costumeiro sorriso de cansaço. Olhou a 
filha meio ressabiado, mas ela já lhe devolvia o olhar, com ternura. Uma ternura 
de cúmplice.
Leia o poema LEMBRANÇAS DO MUNDO ANTIGO
 Clara passeava no jardim com as crianças. 
 O céu era verde sobre o gramado,
 a água era dourada sob as pontes,
 outros elementos eram azuis, róseos, alaranjados, 
 o guarda-civil sorria, passavam bicicletas,
 a menina pisou a relva para pegar um pássaro,
 o mundo inteiro, a Alemanha, a China, tudo era tranquilo em redorde 
Clara.
 As crianças olhavam para o céu: não era proibido.
 A boca, o nariz, os olhos estavam abertos. Não havia perigo. 
 Os perigos que Clara temia eram a gripe, o calor, os insetos. 
 Clara tinha medo de perder o bonde das 11 horas,
 esperava cartas que custavam a chegar,
Superdotação e Altas Habilidades - Mitos e Preconceitos sobre o aluno com superdotação / altas habilidades Marketing de RelacionamentoPráticas de Libras - Histórico da Educação dos Surdos no mundoPráticas de Libras - Histórico da Língua de SinaisCurso de Língua Portuguesa - Apostila 1
 nem sempre podia usar vestido novo. Mas passeava no jardim, pela ma-
nhã!!!
 Havia jardins, havia manhãs, naquele tempo!!!
Carlos Drummond de Andrade. Sentimento do Mundo, in Poesia 
E Prosa. Vol. Único. Ed. Nova Aguilar. Rio de Janeiro, 1992.
Leia o poema Roda-Viva
 Tem dias que a gente se sente 
 Como quem partiu ou morreu 
 A gente estancou de repente
 Ou foi o mundo então que cresceu 
 A gente quer ter voz ativa
 No nosso destino mandar 
 Mas eis que chega a roda-viva 
 E carrega o destino pra lá
 Roda mundo, roda-gigante 
 Roda moinho, roda pião
 O tempo rodou num instante 
 Nas voltas do meu coração
 A gente vai contra a corrente 
 Até não poder resistir
 Na volta do barco é que sente 
 O quanto deixou de cumprir 
 Faz tempo que a gente cultiva 
 A mais linda roseira que há 
 Mas eis que chega a roda-viva 
 E carrega a roseira pra lá
 A roda da saia, a mulata
 Não quer mais rodar, não senhor 
 Não posso fazer serenata
 A roda de samba acabou 
Pag. 7
Práticas de Libras - Histórico da Educação dos Surdos no mundoPráticas de Libras - Histórico da Língua de SinaisCurso de Língua Portuguesa - Apostila 1
Pag. 8
 A gente toma a iniciativa 
 Viola na rua, a cantar
 Mas eis que chega a roda-viva 
 E carrega a viola pra lá
 O samba, a viola, a roseira
 Um dia a fogueira queimou 
 Foi tudo ilusão passageira 
 Que a brisa primeira levou 
 No peito a saudade cativa 
 Faz força pro tempo parar
 Mas eis que chega a roda-viva 
 E carrega a saudade pra lá.
Chico Buarque de Hollanda
Leia a notícia As abelhas estão ameaçadas; o que isso pode significar para 
a nossa existência?
Por Metro Internacional - 27 de julho 2019
 A atividade humana colocou em ameaça uma das maiores aliadas dos 
ecossistemas do planeta: as abelhas. De acordo com especialistas, esta crise 
grave precisa ser solucionada rapidamente, já que, por ironia, grande parte da 
nossa existência depende delas.
 “O destino da humanidade e o das abelhas está interligado”, diz David 
Goulson, professor de biologia na Universidade de Sussex, no Reino Unido. 
“Nós não podemos alimentar um mundo de 7 bilhões de pessoas, que logo 
será de 10 bilhões, sem a polinização das abelhas e outros insetos, como mos-
cas-das-flores, mariposas e
besouros. Cerca de um terço da comida depende de polinizadores.”
 E, embora as abelhas não sejam os únicos polinizadores do planeta 
(há também borboletas, morcegos, beija-flores, para nomear alguns), elas são 
consideradas os mais importantes.
 “Existem muitas espécies de abelhas, aproximadamente 20 mil que 
conhecemos. E há evidências claras de que muitas espécies selvagens estão 
Curso de Língua Portuguesa - Apostila 1
em declínio, e algumas – como a Bombus franklini – já foram extintas. Nossas 
abelhas selvagens estão em perigo,
o que deve causar grande preocupação”, diz Goulson. 
 De acordo com Guillermo Fernández, da organização Honeybee Con-
servancy, nós realmente temos razão para preocupação. “80% das espécies de 
plantas precisam das abelhas para serem polinizadas. Sem as abelhas, não há 
polinização, e algumas das nossas frutas e vegetais favoritos poderiam desa-
parecer da face da Terra. Nós já vimos isso em algumas partes da China, onde 
pesticidas mataram as colônias de abelhas, o que forçou os próprios produto-
res a polinizarem suas plantações.”
Previsão No Brasil
 Uma análise publicada em agosto de 2017 por pesquisadores da USP 
(Universidade de São Paulo) prevê que a população de abelhas e outros polini-
zadores deve diminuir em 13% no Brasil até 2050.
POSSÍVEIS SOLUÇÕES
 De acordo com especialistas, para prevenir a extinção em massa das 
abelhas devemos encontrar jeitos verdadeiramente sustentáveis de produzir 
comida. “Para isso, precisamos superar a agricultura intensiva, reduzir massiva-
mente o uso de pesticidas, e introduzir mais flores e mais diversidade à paisa-
gem”, conclui Dave Goulson.
Como salvá-las:
 Plante: Dê às abelhas alimento que elas gostam criando plantas nativas 
no seu jardim. Plantando um conjunto diverso de plantas nativas que florescem 
em diferentes momentos do ano pode fazer uma grande diferença para os 
polinizadores
 Evite pesticidas: Tente não utilizar pesticidas, assim como fungicidas 
ou herbicidas, no seu jardim. Procure por soluções naturais para cultivar suas 
plantas de uma forma saudável e que não afete os polinizadores
Pag. 9
Curso de Língua Portuguesa - Apostila 1
Pag. 10
 Supere seu medo: Abelhas não são tão perigosas quanto parecem. 
Nem todas picam – e as que picam o fazem por uma razão. Lembre-se, pica-
das e enxames são mecanismos de autodefesa. Elas não machucam humanos 
intencionalmente
 Apoie agricultores locais: Muitos agricultores locais de pequeno porte 
mantêm práticas de apicultura sustentáveis. Você pode dar uma mão com-
prando mel cru, cera de abelha ou outros produtos derivados diretamente 
deles
Fonte: Food and Agriculture Organization of the United Nations
Curso de Língua Portuguesa - Apostila 1
Direitos reservados à UniFAJ, 2019.
www.escolavesper.com.br 
vesper@escolavesper.com.br
Língua Portuguesa 
Interpretação de Texto 
Nivelamento 
Apostila 2
Introdução
 
Leia o texto Apelo
 Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, 
para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa 
de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato 
na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.
Interpretação de Texto 
Nivelamento
Práticas de Libras - Aspectos Gramaticais da Língua de Sinais 
Pag. 12
Curso de Língua Portuguesa - Apostila 2
Pag. 13
Práticas de Libras - Cultura, identidade e universo visual do surdoSuperdotação e Altas Habilidades - Mitos e Preconceitos sobre o aluno com superdotação / altas habilidades Conceitos e tipos de deficiência física - Paralisia cerebralTipos de deficiência física - Espinha bífidaMarketing - Surgimento, cenário atual e estratégiasSuperdotação e Altas Habilidades - Mitos e Preconceitos sobre o aluno com superdotação / altas habilidades Marketing de Relacionamento
 Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua per-
da veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo 
da escada. Toda a casa era um corredor deserto, e até o canário ficou mudo. 
Para não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da 
noite eles se iam e eu ficava só, sem perdão de sua presença a todas as aflições 
do dia, como a última luz na varanda.
 E comecei a sentir falta das pequenas brigas por causa do tempero na 
salada – o meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas, 
na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa, 
calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolhas? Nenhum de nós sabe, sem a 
Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, 
Senhora, por favor.
Dalton Trevisan. Os desastres do Amor. Civilização Brasileira. 3a ed.. Rio de
Janeiro, 1974.
Leia o poema CONFIDÊNCIA DO ITABIRANO
 Alguns anos vivi em Itabira. 
 Principalmente nasci em Itabira.
 Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. 
 Noventa por cento de ferro nas calçadas. 
 Oitenta por cento de ferro nas almas.
 E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.
 A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
 vem de Itabira, de suasnoites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
 E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, é doce herança itabirana.
 
 De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço: 
 este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
 este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas; 
 este orgulho, esta cabeça baixa...
Práticas de Libras - Aspectos Gramaticais da Língua de Sinais Curso de Língua Portuguesa - Apostila 2
 Tive ouro, tive gado, tive fazendas. 
 Hoje sou funcionário público.
 Itabira é apenas uma fotografia na parede. 
 Mas como dói!
Carlos Drummond de Andrade. Sentimento do mundo, in Poesia e Prosa. 
Volume único. Editora Nova Aguilar. Rio de Janeiro, 1992.
alheamento = distração, afastamento 
porosidade = caráter de poroso, que tem poros 
prendas = presentes
santeiro = escultor de imagens de santos
Leia o texto SAMPA
 alguma coisa acontece no meu coração
 que só quando cruza a ipiranga e a avenida são joão 
 é que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi 
 da dura poesia concreta de tuas esquinas
 da deselegância discreta de tuas meninas 
 ainda não havia para mim rita lee
 a tua mais completa tradução
 alguma coisa acontece no meu coração
 que só quando cruza a ipiranga e a avenida são joão 
 quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto 
 chamei de mau gosto o que vi de mau gosto o mau gosto 
 é que narciso acha feio o que não é espelho
 e à mente apavora o que ainda não é mesmo velho 
 nada do que não era antes quando não somos mutantes 
 e foste um difícil começo afasto o que não conheço
 e quem vem de outro sonho feliz de cidade 
 aprende depressa a chamar-te de realidade 
 porque és o avesso do avesso do avesso do avesso 
 do povo oprimido nas filas nas vilas favelas
 da força da grana que ergue e destrói coisas belas 
Superdotação e Altas Habilidades - Mitos e Preconceitos sobre o aluno com superdotação / altas habilidades Marketing de RelacionamentoPráticas de Libras - Cultura, identidade e universo visual do surdoCurso de Língua Portuguesa - Apostila 2
Pag. 14
 da feia fumaça que sobe apagando as estrelas
 eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços 
 tuas oficinas de florestas teus deuses da chuva
 panaméricas de áfricas utópicas túmulo do samba mais possível novo
[quilombo de zumbi e os novos baianos passeiam na tua garoa 
 e os novos baianos te podem curtir numa boa
VELOSO, Caetano. Caetano Veloso. Sel. De textos por Paulo Franchetti e Alcyr Pécora. 
São Paulo. Abril Educação, 1981. p. 79-80 (Literatura Comentada).
Leia o texto OTIMISMO
 “Se é duro, difícil, carregar a pedra até o alto da montanha e é uma 
grande decepção ver a pedra descer, só há uma conclusão: é preciso empurrar 
novamente a pedra até o alto”.
 A imagem da lenda antiga, que apresenta uma verdadeira punição do in-
ferno de Dante, nos ensina que é preciso ficar eternamente empurrando a pedra 
que cai sempre.
 Precisamos recomeçar a cada instante. Hoje, aos 80 anos, tenho mais fé 
na vida do que aos 20 anos. Estou absolutamente convencido de que o mundo 
moderno não caminha para uma destruição coletiva, e acho até que o Brasil vai 
vencer suas dificuldades. A Igreja, que todo mundo afirma atravessar uma grave 
crise, está apenas vencendo uma etapa a mais de sua existência. Para mim, as 
crises são um encontro de forças equivalentes; elas podem se transformar aos 
poucos.
 Existem algumas crises mórbidas como as do fígado ou da puberdade. 
No fundo, o que devemos fazer é pegar nossas crises, dominá-las e dirigi-las. 
Temos que tirar o bem do próprio mal. Por isso continuo otimista, apesar de 
todas as críticas que se possam fazer às condições do mundo moderno, ou às 
pessoas que deturpam a fé cristã
– Mas não sou vítima de um otimismo idealista, vago, infundado.
 Meu otimismo é, pelo contrário, fruto de uma convicção muito profun-
da: podemos e devemos tirar das dificuldades um pouco mais de forças para a 
luta. Costumo dizer que, sob certos aspectos, nossos inimigos são os nossos 
Práticas de Libras - Aspectos Gramaticais da Língua de Sinais Curso de Língua Portuguesa - Apostila 2
Pag. 15
maiores amigos. Gosto de repetir que agora não procuro nem mesmo revidar os 
ataques dos inimigos. Sem saber, eles estão trabalhando a meu favor, ajudando a 
corrigir meus próprios erros. Procuro sempre fazer uma distinção, nas críticas que 
recebo, entre o justo e o injusto.
 Transformar o inimigo em colaborador... é a maior sabedoria de que é 
capaz o homem. Precisamos fazer com que os inimigos concorram para o nosso 
aperfeiçoamento pessoal.
Alceu de Amoroso Lima, em entrevista à revista “Manchete”, 
Publicada no no 1.126, de 17 de novembro de 1973, página 123.
Dante = poeta italiano (1265 – 1321) autor de A Divina Comédia
equivalente = com igual valor mórbido = doentio
deturpar = desfigurar
revidar = replicar, retrucar
Leia o texto EU SEI MAS NÃO DEVIA
 Eu sei, mas não devia. Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia. A 
gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista 
que não as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar 
para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir as cortinas. 
E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E à 
medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
 A gente se acostuma a acordar de manhã, sobressaltada porque está na 
hora. A tomar café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque 
não pode perder o tempo de viagem. A comer sanduíches porque não dá para 
almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está 
cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
 A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E aceitando a 
guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E aceitando os nú-
meros aceita não acreditar nas negociações de paz, aceita ler todo dia notícias de 
guerra.
 A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: “Hoje não 
posso ir”. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado 
quando precisava tanto ser visto.
Superdotação e Altas Habilidades - Mitos e Preconceitos sobre o aluno com superdotação / altas habilidades Marketing de RelacionamentoPráticas de Libras - Cultura, identidade e universo visual do surdoCurso de Língua Portuguesa - Apostila 2
Pag. 16
Práticas de Libras - Cultura, identidade e universo visual do surdo
 A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o que necessita. A 
lutar para ganhar o dinheiro com que se paga. E a ganhar menos do que precisa. 
E a fazer fila para pagar. E a pagar muito mais do que as coisas valem. E a saber 
que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, 
para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
 A gente se acostuma a andar nas ruas e ver cartazes. A abrir revistas e ver 
anúncios. A ligar a televisão e assistir comerciais. A ir ao cinema e engolir publici-
dade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos 
produtos.
 A gente se acostuma à poluição. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao cho-
que que os olhos levam na luz natural. Às bactérias de água potável. À contamina-
ção da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinhos, 
a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher a fruta 
do pé, a não ter sequer uma planta.
 A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses peque-
nas, tentando não perceber, vai se afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, 
uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente se senta na primeira fila e torce 
um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só o pé e sua 
no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim 
de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormircedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre o sono atrasado.
 A gente se acostuma para não ralar na aspereza, para preservar a pele. Se 
acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baione-
ta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos 
se gasta, e que de tanto se acostumar, se perde de si mesma.
Marina Colassanti
amplidão = vastidão, grande extensão 
sobressaltada = assustada
ignorado = desconhecido 
instigado = induzido, persuadido 
lançado = jogado
hidrofobia = raiva (doença contagiosa, que causa horror à água) r
essentimento = mágoa
Práticas de Libras - Aspectos Gramaticais da Língua de Sinais Curso de Língua Portuguesa - Apostila 2
Pag. 17
Leia o poema LIBERDADE
 Ai que prazer
 Não cumprir um dever, 
 Ter um livro para ler
 E não o fazer! Ler é maçada. 
 Estudar é nada. 
 O sol doira 
 Sem literatura.
 O rio corre, bem ou mal, 
 Sem edição original.
 E a brisa, essa,
 De tão naturalmente matinal, 
 Como tem tempo não tem pressa ...
 Livros são papéis pintados com tinta. 
 Estudar é uma coisa em que está indistinta 
 A distinção entre nada e coisa nenhuma.
 Quanto é melhor, quando há bruma, E
 sperar por D. Sebastião,
 Quer venha ou não!
 Grande é a poesia, a bondade e as danças... 
 Mas o melhor do mundo são as crianças, 
 Flores, música, o luar, e o sol, que peca
 Só quando, em vez de criar, seca.
 O mais do que isto 
 É Jesus Cristo,
 Que não sabia nada de finanças 
 Nem consta que tivesse biblioteca ...
Fernando Pessoa. Cancioneiro. In Obra Poética. 
Aguilar Editora. Rio de Janeiro, 1972
maçada = castigo, aborrecimento 
doirar = forma variante de dourar 
bruma = nevoeiro
D. Sebastião = rei de Portugal desaparecido na batalha de Alcácer-Quibir, em 
1680. Após sua morte, nasceu em Portugal a crendice de sua volta, o que levava 
as pessoas à inércia, enquanto aguardavam.
Superdotação e Altas Habilidades - Mitos e Preconceitos sobre o aluno com superdotação / altas habilidades Marketing de RelacionamentoPráticas de Libras - Cultura, identidade e universo visual do surdoCurso de Língua Portuguesa - Apostila 2
Pag. 18
Leia a crônica RECADO AO SENHOR 903
 Vizinho - 
 Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a 
visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o 
barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal – de-
via ser meia-noite – e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou 
desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é ex-
plícito e, se não o fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a Lei e a Polícia. Quem 
trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso noturno e é impossível repousar no 
903 quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor: é impossível ao 903 
dormir quando o 1003 se agita: pois como não sei o seu nome nem o senhor 
sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números, dois números empilhados 
entre dezenas de outros. Eu, 1003, me limito a Leste pelo 1005, a Oeste pelo 1001, 
ao sul pelo Oceano Atlântico, ao Norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e embaixo 
pelo 903 – que é o senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos; 
apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos 
horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos 
ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em 
diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha 
casa (perdão; ao meu número) será convidado a se retirar às 21:45, e explicarei: o 
903 precisa repousar das 22 às 7 pois às 8:15 deve deixar o 783 para tomar o 109 
que o levará até o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305. Nossa vida, vi-
zinho, está toda numerada; e reconheço que ela só pode ser tolerável quando um 
número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites 
de seus algarismos. Peço-lhe desculpas – e prometo silêncio.
 Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em 
que um homem batesse à porta do outro e dissesse: “Vizinho, são três horas da 
manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou”. E o outro respondesse: “Entra, 
vizinho, e come de meu pão e bebe de meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e 
cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela”.
 E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas 
do vizinho entoando canções para agradecer o Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da 
Práticas de Libras - Aspectos Gramaticais da Língua de Sinais Curso de Língua Portuguesa - Apostila 2
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brisa nas árvores, e dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz.
Rubem Braga. 200 Crônicas Escolhidas. Editora Record, 5a ed.. Rio de Janeiro, 1983
consternado = pesaroso, triste 
veemente = energético, intenso 
desolado = aflito, muito triste 
explícito = claro, expresso 
bramir = rugir; gritar
Leia o texto TENTAÇÃO
 Ela estava com soluço. E como se não bastasse a claridade das duas ho-
ras, ela era ruiva.
 Na rua vazia as pedras vibravam de calor – a cabeça da menina flamejava. 
Sentada nos degraus de sua casa, ela suportava. Ninguém, na rua só uma pessoa 
esperando inutilmente no ponto do bonde. E como se não bastasse seu olhar 
submisso e paciente, o soluço a interrompia de momento a momento, abalando 
o queixo que se apoiava conformado na mão. Que fazer de uma menina ruiva 
com soluço? Olhamo-nos sem palavras, desalento contra desalento. Na rua de-
serta nenhum sinal de bonde. Numa terra de morenos, ser ruivo era uma revolta 
involuntária.
 Que importava se num dia futuro sua marca ia fazê-la erguer insolente 
uma cabeça de mulher? Por enquanto ela estava sentada num degrau faiscante 
da porta, às duas horas. O que a salvava era uma bolsa velha de senhora, com alça 
partida. Segurava- a com um amor conjugal já habituado, apertando-a contra os 
joelhos.
 Foi quando se aproximou a sua outra metade neste mundo, um irmão 
em Grajaú. A possibilidade de comunicação surgiu no ângulo quente da esquina, 
acompanhando uma senhora, e encarnada na figura de um cão. Era um bassê 
lindo e miserável, doce sob sua fatalidade. Era um bassê ruivo.
 Lá vinha ele trotando, à frente de sua dona, arrastando seu comprimento.
 Desprevenido, acostumado, cachorro.
 A menina abriu os olhos pasmada. Suavemente avisado, o cachorro esta-
cou diante dela. Sua língua vibrava. Ambos se olhavam.
Entre tantos seres que estão prontos para se tornarem donos de outro ser, lá esta-
Curso de Língua Portuguesa - Apostila 2
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va a menina que viera ao mundo para ter aquele cachorro. Ele fremia suavemente, 
sem latir. Ela olhava-o sob os cabelos, fascinada, séria. Quanto tempo se passava? 
Um grande soluço sacudiu-a desafinado. Ele nem sequer tremeu. Também ela 
passou por cima do soluço e continuou a fitá-lo.
 Os pêlos de ambos eram curtos, vermelhos.
 Que foi que se disseram? Não se sabe. Sabe-se apenas que se comunica-
ram rapidamente, pois não havia tempo. Sabe-se também que sem falar eles se 
pediam. Pediam-se com urgência, com encabulamento, surpreendidos.
se quebraria, cedendo talvez à gravidade com que se pediam.
 Mas ambos eram comprometidos.
 Ela com sua infância impossível, o centro da inocência que só se abriria 
quando ela fosse uma mulher. Ele, com sua natureza aprisionada.
 A dona esperava impaciente sob o guarda-sol. O bassê ruivo afinal des-
pregou-se da menina e saiu sonâmbulo. Ela ficou espantada, com o aconteci-
mento nas mãos, numa mudez que nem pai nem mãe compreenderiam. Acom-
panhou-o com olhos pretos que mal acreditavam, debruçada sobre a bolsa e os 
joelhos, até vê-lo dobrar a outra esquina.
 Mas ele foi mais forte que ela. Nem uma só vez olhou para trás.
Clarice Lispector
desalento = desânimo
Grajaú = bairro da cidade do Rio de Janeiro 
ruivo = de cabelos vermelhos
fremir = rosnar
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Curso de Língua Portuguesa - Apostila 2
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Língua Portuguesa 
Interpretação de Texto 
Nivelamento 
Apostila 3
Apresentação
Leia o poema COTA ZERO
 Stop
 A vida parou
 Ou foi o automóvel?
Carlos Drummond de Andrade
Interpretação de Texto 
Nivelamento
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Curso de Língua Portuguesa - Apostila 3
Leia o texto MINHA ÁRVORE
 ... Havia, na Belo Horizonte de minha juventude, uma rua arborizada 
com magnólias, e na avenida que a cruzava morava uma namorada. Nas ma-
drugadas frescas, o perfume passeava na brisa, tomava quarteirões em volta, 
intrometia-se nos hábitos, nos beijos, nos sonhos e muitos anos depois se en-
fiou nas lembranças em minha vida de neo-paulistano. Quis então plantar um 
pé daquela árvore perturbadora em frente de minha casa, no Jardim Paulista. 
Secreta homenagem amorosa.
 Deu trabalho. Fui buscar em Belo Horizonte uma igualzinha, muda vi-
çosa e garantida. Sem espaço no terreno de casa, plantei-a na beira da cal-
çada, protegi-a com grades, reguei-a de esperanças. Quando ficava a ler no 
jardim, podia vê-la ali em frente, pequenina; ainda era tempo de muros baixos e 
de bons-dias entre vizinhos. Árvores de metrópoles são sistemáticas, custam a 
agradecer. Mas ela foi afinal, rompeu com os anos. Saí da casa e do bairro antes 
que ela chegasse a 3 metros.
 Ainda passo lá de vez em quando, para conferir. Está forte, copada, 
enorme, mas não deu uma flor nesses 24 anos. Chego a pensar que há algo de 
pessoal nisso. Será implicância comigo?
 Melhor pensar que ela sente saudades de Minas.
Ivan Ângelo
Leia o texto Uma esperança
 Aqui em casa pousou uma esperança. Não a clássica que tantas vezes 
verifica-se ser ilusória, embora mesmo assim nos sustente sempre. Mas a outra, 
bem concreta e verde: o inseto.
 Houve o grito abafado de um de meus filhos:
 - Uma esperança ! e na parede bem em cima de sua cadeira ! Emoção 
dele também que unia em uma só as duas esperanças, já tem idade para isso. 
Antes surpresa minha: esperança é coisa secreta e costuma pousar diretamen-
te em mim, sem ninguém saber, e não acima de minha cabeça numa parede. 
Pequeno rebuliço: mas era indubitável, lá estava ela, e mais magra e verde não 
podia ser.
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Práticas de Libras - Estrutura Sintática da Língua de SinaisCurso de Língua Portuguesa - Apostila 3
 - Ela quase não tem corpo, queixei-me.
 - Ela só tem alma, explicou meu filho e, como filhos são uma surpresa 
para nós, descobri com surpresa que ele falava das duas esperanças.
 Ela caminhava devagar sobre os fiapos das longas pernas, por entre os 
quadros da parede. Três vezes tentou renitente uma saída entre dois quadros, três 
vezes teve que retroceder caminho. Custava a aprender.
 - Ela é burrinha, comentou o menino.
 - Sei disso, respondi um pouco trágica.
 - Está agora procurando outro caminho, olhe, coitada, como ela hesita.
 - Sei, é assim mesmo.
 - Parece que esperança não tem olhos, mamãe, é guiada pelas antenas.
 - Sei, continuei mais infeliz ainda.
 
 Ali ficamos, não sei quanto tempo olhando. Vigiando-a como se vigiava 
na Grécia ou em Roma o começo de fogo do lar para que não apagasse.
 - Ela se esqueceu de que pode voar, mamãe, e pensa que só pode andar 
devagar assim.
 Andava mesmo devagar – estaria por acaso ferida? Ah não, senão de um 
modo ou de outro escorreria sangue, tem sido sempre assim comigo.
 Foi então que farejando o mundo que é comível, saiu de trás de um qua-
dro uma aranha. Não uma aranha, mas me parecia “a” aranha. Andando pela sua 
teia invisível, parecia transladar-se maciamente no ar. Ela queria a esperança. Mas 
nós também queríamos e, oh ! Deus, queríamos menos que comê-la. Meu filho 
foi buscar a vassoura. Eu disse fracamente, confusa, sem saber se chegara infeliz-
mente a hora certa de perder a esperança:
 - É que não se mata aranha, me disseram que traz sorte ...
 - Mas ela vai esmigalhar a esperança ! respondeu o menino com feroci-
dade.
 - Preciso falar com a empregada para limpar atrás dos quadros – falei 
sentindo a frase deslocada e ouvindo o certo cansaço que havia na minha voz. 
Depois devaneei um pouco de como eu seria sucinta e misteriosa com a empre-
gada: eu lhe diria apenas: você faz o favor de facilitar o caminho da esperança.
 O menino, morta a aranha, fez um trocadilho, com o inseto e a nossa 
esperança. Meu outro filho, que estava vendo televisão, ouviu e riu de prazer. Não 
Superdotação e Altas Habilidades - Mitos e Preconceitos sobre o aluno com superdotação / altas habilidades Marketing de Relacionamento Práticas de Libras - Estrutura Sintática da Língua de Sinais
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Curso de Língua Portuguesa - Apostila 3
havia dúvida: a esperança pousara em casa, alma e corpo.
 Mas como é bonito o inseto: mais pousa que vive, é um esqueletinho ver-
de, e tem uma forma tão delicada que isso explica por que eu, que gosto de pegar 
nas coisas, nunca tentei pegá-la.
 Uma vez, aliás, agora é que me lembro, uma esperança bem menor que 
esta, pousara no meu braço. Não senti nada, de tão leve que era, foi só visualmen-
te que tomei consciência de sua presença. Encabulei com a delicadeza. Eu não 
mexia o braço e pensei: “e essa agora ? que devo fazer ?” Em verdade nada fiz. 
Fiquei extremamente quieta como se uma flor tivesse nascido em mim. Depois 
não me lembro mais o que aconteceu. E, acho que não aconteceu nada.
(Clarice Lispector, Felicidade Clandestina)
Vocabulário:
hesitar = vacilar, ficar em dúvida 
renitente = insistente
transladar = transportar 
sucinto = resumido
trocadilho = jogo de palavras, criando mais de um significado
Leia o texto O gênio brasileiro
 A edição de 24 de maio de 1947 da revista inglesa Nature trouxe um ar-
tigo que transformaria um brasileiro num dos mais notáveis físicos do mundo. A 
mais importante revista de ciência do mundo anunciava para os seus leitores que 
acabava de ser encontrada uma partícula decisiva na história do átomo. E, por 
trás dessa descoberta, estava ele, César Lattes. Trabalhando na Inglaterra, sob a 
orientação do inglês Cecil Frank Powell (1903-1969), Lattes ajudou a achar, no 
interior do núcleo atômico, a partícula que depois seria chamada de méson-pi (pi 
é a letra grega π). Ela já estava prevista em teoria mas, sem encontrá-la de fato, 
seria impossível comprovar as equações que calculavam a energia do coração 
dos átomos. Por ter criado essa equação, o japonês Hideki Yukawa (1907-1981) 
ganhou o prêmio Nobel em 1949. Em 1950, foi a vez de Powell receber a home-
nagem máxima da ciência.
 Lattes, então um jovem de 21 anos, bem que merecia estar entre os pre-
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Práticas de Libras - Estrutura Sintática da Língua de SinaisCurso de Língua Portuguesa - Apostila 3
miados, pois teve participação decisiva no achado. Mas, se não conquistou a láu-
rea, certamente conquistou seu lugar na história. Hoje, é o único físico brasileiro a 
aparecer na Enciclopédia Britânica. Entre nós, divide com o pernambucano Mário 
Schenberg (1916- 1990) o posto de gênio maior desse ramo da ciência. Ele não 
é elogiado apenas pelas descobertas, mas também pelo esforço que sempre de-
dicou à formação de novos pesquisadores. São mais do que justas, portanto, as 
homenagens que tem recebido em toda parte.
 Talvez o mais impressionante do trabalho de Lattes seja o fato de que 
suas experiências, apesar de realizadas há tantos anos, ainda não perderam sua 
influência na Física contemporânea.
(Cássio Leite Vieira e Antônio Augusto Passos Videira 
– Super-Interessante)
Leia o texto Um rei caído
 Há muito que penso nisso e muitas pessoas devem ter pensado a mes-
ma coisa. Mas ninguém fala, ninguém diz nada. Por que, não o sei. Trata-se do 
automóvel. Essa maravilha mecânica, que empolgou todo o nosso expirante sé-
culo 20, o veículo revolucionário que acabou com os carros de tração animal e 
expulsou o trem urbano para os longos percursos. E agora, esse totem da nossa 
era, o AUTOMÓVEL, também chegou ao seu fim, transformou-senum veículo 
obsoleto. Não serve mais.
 A finalidade a que se destinava, nas áreas urbanas: transporte individual, 
rápido, seletivo, perdeu o sentido. Você, hoje, para transpor alguns poucos mil 
metros, da sua casa para o centro, leva o mesmo tempo que gastaria se fosse 
caminhando a pé. As ruas de todas as cidades do mundo – pequenas, médias, 
grandes (ou imensas como São Paulo ou Nova York) – vivem atravancadas por es-
sas tartarugas ninjas, escuras, fechadas, malcheirosas com o seu bafo de petróleo 
queimado, andando a passo de tartaruga – sim de tartaruga mesmo –, cada uma 
ocupando um espaço que vai de 10 a 12 metros quadrados e transporta na sua 
grande maioria só uma ou duas pessoas, no máximo três, se houver o motorista.
 Arrogante, nas suas janelas de cristal, na pintura luzidia, nos metais poli-
dos, o automóvel é, acima de tudo, um monstro de egoísmo. A área que ele exige 
Superdotação e Altas Habilidades - Mitos e Preconceitos sobre o aluno com superdotação / altas habilidades Marketing de RelacionamentoPráticas de Libras - Porque a surdez é vista negativamente pela sociedade?Práticas de Libras - Estrutura Sintática da Língua de Sinais
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Curso de Língua Portuguesa - Apostila 3
para si, na via pública, em vez de dois personagens lhe ocupando os assentos, 
daria para, no mínimo, três bancos de três pessoas, folgadamente instaladas.
 Para quem vem, aqui no Rio, da Barra da Tijuca ao centro, tem de se 
inserir, logo na Avenida das Américas, num imenso, compacto cortejo, andando 
em velocidade de enterro (qual enterro, já vi enterro marchando em muito maior 
velocidade!) e carregando, todos juntos, um contingente de pessoas que caberia 
folgadamente dentro de um trem suburbano.
 E em meio de buzinadas, palavrões, batidas de parachoques ou outros 
incidentes mais graves, só vai alcançar o seu destino – se der sorte – dentro de, 
no mínimo, uma hora e meia. É, temos de livrar as ruas disso que Macunaíma 
chamava “a máquina veículo automóvel”.
 O carro puxado a cavalos também não desapareceu por obsoleto? Hoje 
nem rainha da Inglaterra o emprega, prefere seus reluzentes Rolls-Royces. Tal 
como não se podia mais suportar o atropelo e sujeira dos cavalos, das lerdas car-
ruagens do fim do século, assim também o automóvel acabou.
 Há que substituí-lo por um transporte coletivo de qualidade, rápido, lim-
po, confortável. Metrôs, ou mesmo grandes veículos de superfície, sei lá. A cabeça 
dos técnicos já deve estar trabalhando, a dos urbanistas, a dos chamados cientis-
tas sociais. Hoje em dia, se leva mais tempo viajando de casa para o trabalho, do 
que no trabalho propriamente dito. E como os patrões exigem as suas oito horas, 
tem-se que sair de casa em plena madrugada e chegar em casa depois das 10 da 
noite. Quem mora em subúrbio conhece bem essa tragédia. Os ônibus mesmo, 
que poderiam ser um grande recurso, têm o seu espaço disputado furiosamente 
pelos carros, e se embaralham, retardam e engarrafam, na confusão geral.
 Quem sabe vai se recorrer ao transporte aéreo, grandes helicópteros que 
seriam como ônibus voadores, pousando nos tetos dos grandes edifícios? Não 
sei... Porque logo apareceriam helicópteros particulares, cada executivo teria o 
seu, de luxo, importado. Acabava acontecendo com eles o que sucedeu com os 
ônibus. Ia embolar tudo, do mesmo jeito.
 Ou será que os engarrafamentos vão continuar por mais anos e anos, 
como os assaltos e os meninos de rua, as favelas e mais desgraças dos grandes 
ajuntamentos urbanos? Então a solução seria acabar mesmo com os próprios 
grandes ajuntamentos urbanos. Voltar todo mundo a se espalhar pelo campo, só 
procurando os centros quando a natureza do seu trabalho o exigisse.
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Práticas de Libras - Estrutura Sintática da Língua de SinaisCurso de Língua Portuguesa - Apostila 3
 Até que o campo se deteriorasse também – já que esse é o destino do 
homem sobre a Terra: acabar com tudo de bom e bonito que a natureza para ele 
criou.
Raquel de Queiroz
Leia o texto Ano novo, vida nova
 Vida é dor, e acordo com dor de dentes. O dia é belíssimo, um sol de 
verão invade o barraco; quanto a mim, choro de dor. Choro também por outras 
razões, mas principalmente de dor.
 Vida é combate. De nada me adianta ficar deitado. Levanto-me e começo 
a fazer ginástica. Ao fletir o tronco, dou com o bilhete de Francisca, em cima da 
cadeira.
 Escrever é uma conquista recente de Francisca, que frequenta, com mui-
to sacrifício, um curso noturno de alfabetização.
 A caligrafia melhora dia a dia, constato, desdobrando a mensagem que, 
infelizmente, não dá outros motivos de satisfação: Francisca acaba de me deixar, 
optando por um estivador – o que afinal de contas está bem de acordo com a 
falta de sensibilidade dela, mas se cria problemas: quem vai cozinhar? quem vai 
arrumar o barraco? quem vai me arranjar dinheiro para o cinema? Ai, vida é preo-
cupação.
 Mas vida também é alegria. O Sol brilha, a ginástica me faz bem, e, se 
Francisca me deixou, mulheres não me faltarão. Aliás, não guardo rancor a Fran-
cisca. Ela nunca esteve à minha altura. Porque, se hoje moro em barraco, é por 
opção: fui criado por um tio rico, e nada me faltou a não ser o tédio. Por causa 
deste me tornei hippie. Depois resolvi profissionalizar-me e me tornei pobre de 
verdade. Foi assim que vim morar neste barraco, a princípio sozinho; mais tar-
de trouxe Francisca, então uma simples empregada doméstica, uma analfabeta. 
Agora ela me deixou. Mas não tem nada, vamos em frente, amanhã será outro dia.
 A dor de dentes, momentaneamente aliviada, retorna feroz. Preciso ir a 
um dentista, concluo. Cachaça com fumo não vai me adiantar, principalmente se 
a gente não tem – como é o meu caso – nem cachaça nem fumo. Nestas horas 
me arrependo um pouco de ter deixado o lar do meu tio. Pelo menos, não deveria 
ter jogado fora o cartão de crédito que ele me deu.
Práticas de Libras - Estrutura Sintática da Língua de Sinais
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Curso de Língua Portuguesa - Apostila 3
 Decido ir ao dentista da associação beneficente da vila, que trata os po-
bres de graça. O dentista é uma bela pessoa, gordinho e simpático; examina-me 
rapidamente e decide que o caso é de extração. Posso escolher, informa-me; 
extração com anestesia (o que me custará uma módica quantia), ou sem. Escolho 
sem, e berro enquanto o dente é arrancado. O dentista pensa que é de dor que eu 
grito, mas se engana: berro de satisfação pelo dinheiro poupado. Gastar só para 
me tornar insensível? Absurdo. Vida é sofrimento; sofrer é tragar a vida a grandes 
goles, conforme explico ao dentista ao me despedir, com a boca cheia de sangue.
 Cuspindo glóbulos pelos caminhos empoeirados da vila, desço à cidade, 
com o propósito de arranjar um café, senão o da manhã, pelo menos o da tarde: 
são quase três horas.
 O movimento nas ruas do centro me surpreende. Uma quantidade enor-
me de pessoas, nas ruas, nas lojas. E aí me dou conta: é 31 de dezembro. O último 
dia do ano!
 Vida é emoção. Lembro-me de como eu e o tio comemorávamos a pas-
sagem do ano: muito doce, muito champanha. O tio, esquecia de dizer, era im-
portador de vinhos finos, de modo que o champanha era sempre do melhor, em-
bora eu custasse um pouco a me embebedar com ele. A noite de 31 de dezembro 
era de sonhos e esperanças. Lembrando-me disso, sento na sarjeta e choro, cho-
ro ...
Moacyr Scliar
A Balada do Falso Messias
Leia o texto A ilusão do fim de semana
 Há algo errado nisto.
 Onde havia florestas construímos cidades de concreto, asfalto e vidro. Aí 
vivemos. Ou melhor: trabalhamos. Mas como o lugar onde trabalhamos não é 
onde queremos viver, então no fim de semana rumamos para onde há floresta ou 
praia, onde, além do verde e do azul, se pode respirar.
 Chegamos. Acabamos de encostar o carro na garagem da casa de cam-
po, fazenda ou do hotel nas montanhas.
 Chegar aqui não foi fácil. Duas, cinco, às vezes dez horas de engarra-
famento. O verde e oazul, lá longe ainda, difíceis de alcançar. E a gente ali na 
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Práticas de Libras - Estrutura Sintática da Língua de SinaisCurso de Língua Portuguesa - Apostila 3
estrada, entalado num terrível rito de ultrapassagem.
 Mas digamos que a viagem foi normal. O simples fato de nos aproximar-
mos do verde já muda o clima psicológico dentro do carro. Vai ficando para trás 
a fuligem da cidade. E ao subir a serra começa uma descontração no diafragma. 
Aqueles que estavam tensos, indo para a natureza, já tornam suas frases mais ma-
cias, já começam a ficar mais amorosos. Algumas brigas de casal vão se diluindo 
na passagem da cidade para o campo.
 Enfim, chegamos. São desembarcadas as malas, as portas e janelas da 
casa e corpo se abrem e a clorofila começa a entrar pelos poros. As flores con-
tinuaram a elaborar suas cores em nossa ausência. Os pássaros continuaram a 
emplumar as estações.
 Começamos a inspeção ao jardim de nossos sentimentos, à horta de nos-
sas aspirações e ao curral de nossas expectativas. Conversar com o caseiro ou 
empregados nos remete a outro tempo, a outra sintaxe: alguns são personagens 
de Guimarães Rosa. Até para dizer um simples não ou sim, um bom-dia, gestua-
lizam a voz e emitem posturas filosóficas.
 Os comezinhos prazeres: distinguir o canto do sabiá do grito do gavião. 
Seguir o bando de maritacas alardeando o verão. Se deitamos na rede, pouco 
acima da cabeça zumbem as asas de um beija-flor.
 Jogar água nas plantas à tardinha ou à noite, num diálogo no escuro com 
aquilo que o escuro pulsa. Que força sai do chão, que força na escuridão. Um pio 
de coruja ali e alguns vaga-lumes adiante atravessam a íris da noite.
Alguns procuram a casa na montanha de uma estranha e inócua maneira. De-
sabam a dormir cerrando os sentidos para a própria natureza. Bebem, comem, 
bebem ou ficam jogando, jogando e mal olham lá fora. A natureza continua um 
cenário exteriorizado.
 Outros, no entanto, saem a cavalo sentindo entre as coxas o calor da 
alimária em movimento. Noutros caminhos pedalam-se bicicletas. As pessoas da 
cidade, em verdade, seguem meio desajeitadas por essas trilhas silvestres. Estão 
de bermuda ou jogging procurando a via natural de ser. Já os habitantes do inte-
rior olham os da cidade estranhando neles a inabilidade em deixar o corpo seguir 
à vontade no verde. Falta ao da cidade o sentimento de pertencimento a essa 
paisagem.
 À noite pode-se acender a lareira e ali se ficar prostrado com um copo de 
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Curso de Língua Portuguesa - Apostila 3
uísque ou vinho, uma xícara de chá ou café, olhando, olhando o fogo como um 
primitivo na caverna de si mesmo.
 Soa uma música ao piano, um concerto de Boccherini como se houvesse 
músicas fluindo diretamente do cosmos. Pode-se retomar um livro, desses que 
exigem lenta leitura, um ritmo especial de atenção, que não podem ser entendi-
dos entre um sinal verde e vermelho na pressa da cidade ou assimilado entre duas 
reuniões consecutivas de trabalho. Todavia, essa incursão no paraíso vai acabar. 
O fim de semana escoou-se. Já começamos a refazer as malas e a ficar ansio-
sos e de mau humor. Vamos começar a descer a serra para retornar ao campo de 
concentração urbana. Mal sinalizadas, as estradas vez por outra nos deixam ver 
um cão morto no asfalto. De repente, um carro destroçado, corpos jogados aqui 
e ali: luzes, polícia, compungidos curiosos. E a possibilidade de outro engarrafa-
mento.
 Aproximamo-nos da cidade. A temperatura começa a subir, um calor 
abafado vai grudando na pele. O mau cheiro irrita as narinas, o ruído agride os 
tímpanos. O ritmo do pulso é tenso e há um cruzar de buzinas, faróis, anúncios e 
sempre a possibilidade de uma emergente violência.
 Chegamos ao apartamento ou casa. Descarregamos tudo pelo elevador 
com ar de vitória e derrota. Na sala, jornais, correspondência acumulada. O dia 
seguinte já nos espreita na treva. Aí começaremos a fazer novos planos para fugir 
da cidade. Planejaremos outro feriado e contaremos quanto tempo falta para a 
aposentadoria.
 Há algo de errado nisto. E persistimos.
Affonso Romano de Sant’Anna
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