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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI MATEMÁTICA BÁSICA GUARULHOS – SP 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 5 2 NÚMEROS NATURAIS ........................................................................................... 6 2.1 Constituição dos números naturais ................................................................... 6 2.2 As quatro operações nas práticas cotidianas ................................................. 11 2.3 Expressões numéricas.................................................................................... 24 2.4 Diferentes formas de representação de um algoritmo .................................... 26 2.5 Subtração: algoritmo de riscar, método de subtração da esquerda para a direita.. ...................................................................................................................... 27 2.6 Multiplicação: método dos camponeses russos .............................................. 27 2.7 Divisão: método egípcio.................................................................................. 29 3 NÚMEROS INTEIROS E RACIONAIS .................................................................. 30 3.1 Números inteiros ............................................................................................. 30 3.2 Números racionais .......................................................................................... 31 3.3 Conjunto dos números inteiros ℤ .................................................................... 31 3.4 Conjunto dos números racionais (ℚ) .............................................................. 33 3.5 Propriedades do operador adição (+) sobre o conjunto dos números inteiros ℤ ............... ....................................................................................................................... 34 3.6 Propriedades do operador multiplicação (∙) sobre o conjunto dos números inteiros ℤ .................................................................................................................... 35 3.7 Divisibilidade no conjunto dos números inteiros ℤ .......................................... 36 3.8 Conectivos lógicos .......................................................................................... 37 4 NÚMEROS IRRACIONAIS.................................................................................... 40 3 4.1 Os irracionais - ............................................................................................. 44 4.2 Irracionais e seu ensino .................................................................................. 46 5 NÚMEROS REAIS ................................................................................................ 51 5.1 Uma definição objetiva.................................................................................... 52 5.2 Conjunto dos números reais ........................................................................... 52 5.3 Propriedades e operações com números reais .............................................. 54 5.4 Tipos de intervalos numéricos ........................................................................ 59 6 FUNÇÕES: GRÁFICOS, COMPOSTAS E INVERSAS ......................................... 65 6.1 Uma definição de função ................................................................................. 65 6.2 Função composta ........................................................................................... 68 6.3 Função Inversa ............................................................................................... 73 7 FUNÇÕES DO 1º E DO 2° GRAU ........................................................................ 79 7.1 Função de primeiro grau ou afim .................................................................... 79 7.2 Propriedades da função de primeiro grau ....................................................... 80 7.3 Classificação da função afim .......................................................................... 80 7.4 Raiz ou zero da função afim ........................................................................... 83 7.5 Gráfico função ................................................................................................ 83 7.6 Construção do gráfico da função afim ............................................................ 84 7.7 Função do segundo grau ................................................................................ 86 7.8 Resolução de equações de segundo grau ...................................................... 90 7.9 Fatoração de uma função de segundo grau ................................................... 91 7.10 Fórmula quadrática ......................................................................................... 93 7.11 Gráfico de uma função do segundo grau ........................................................ 94 8 TRIGONOMETRIA ................................................................................................ 98 4 8.1 Razões trigonométricas seno, cosseno e tangente no triângulo retângulo ..... 98 9 FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS E SUAS RELAÇÕES NO CÍRCULO UNITÁRIO................................................................................................................101 9.1 Funções seno e cosseno .............................................................................. 101 9.2 Função tangente ........................................................................................... 106 9.3 Função secante ............................................................................................ 108 9.4 Função cossecante ....................................................................................... 109 9.5 Função cotangente ....................................................................................... 109 10 FUNÇÕES EXPONENCIAIS E LOGARÍTMICAS ............................................... 110 10.1 Função exponencial ...................................................................................... 110 10.2 Gráfico da função exponencial ..................................................................... 113 10.3 Função logarítmica ....................................................................................... 116 10.4 Gráfico da função logarítmica ....................................................................... 121 10.5 Relação entre função exponencial e função logarítmica............................... 123 10.6 Aplicações das funções exponencial e logarítmica ....................................... 125 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 128 5 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazosdefinidos para as atividades. Bons estudos! 6 2 NÚMEROS NATURAIS Os números naturais, apesar de serem um conjunto “simples”, são fundamentais para a compreensão das operações matemáticas básicas. Foram as necessidades básicas de contagem que deram origem aos números naturais e às operações que os sucedem. Portanto, retomar o contexto histórico do surgimento dos números naturais e dominar as operações nesse conjunto são a base para o desenvolvimento do conhecimento matemático (SILVEIRA, 2018). Neste capítulo, você vai ver como o surgimento dos números naturais está ligado às necessidades dos homens primitivos. Também vai ver como aplicar as quatro operações fundamentais em problemas do cotidiano. Por fim, vai conhecer diferentes algoritmos para a resolução das operações fundamentais. Fonte: https://conhecimentocientifico.r7.com/ 2.1 Constituição dos números naturais Cerca de 20 mil anos antes de Cristo, as civilizações primitivas começaram a ter necessidades rudimentares de contagem. Nesse período, contagens realizadas 7 com meios simples, como pedras, riscos em ossos e nós em cordas, eram suficientes para se lidar com pequenas quantidades, que hoje são representadas pelos símbolos 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9 (SILVEIRA, 2018). É natural não contar algo que não se tem, não é? Por isso, os antigos sistemas de numeração, que utilizavam regras para a composição dos números de forma aditiva, não usavam o zero. Somente no século II d.C. é que surgem os primeiros inscritos babilônicos com uma lacuna vazia para representar o zero, já nos primórdios do sistema decimal. Segundo Boyer (1996), a mais antiga ocorrência indubitável de um zero na Índia se acha numa inscrição de 876. Ainda de acordo com Boyer (1996), é possível que o algarismo utilizado para o zero tenha sido importado dos gregos de Alexandria. Porém, ainda há autores que não consideram o zero como um número natural. O sistema decimal e a representação dos números naturais por meio dos algarismos indo-arábicos são, sem dúvidas, invenções incríveis. Tanto que ambas se espalharam e dominaram a cultura mundial, facilitando a representação e as operações numéricas. Os algarismos combinados no sistema decimal representam números que formam o conjunto N dos números naturais. Veja: N = {0, 1, 2, 3, 4, 5, ...} Um importante subconjunto de N está representado a seguir: N* = {0, 1, 2, 3, 4, 5, ...} O sinal * significa que o zero foi excluído do conjunto. No cotidiano, diversas situações envolvem representações com números naturais e também giram em torna das necessidades básicas que deram origem a eles. 8 O conjunto dos números naturais possui um menor elemento, independentemente de se considerar o zero ou não. Porém, ele não possui maior elemento. A sequência dos naturais é infinita à direita, de forma que você pode escrever o sucessor de todo número natural somando 1 a ele. Veja: O sucessor de um número natural é o número que vem imediatamente depois dele. Enquanto o sucessor é o número natural que vem imediatamente a seguir, o antecessor é o número natural que vem imediatamente antes, ou seja, com a subtração de 1. Números naturais consecutivos são agrupamentos formados por um menor natural e uma sequência de sucessores (SILVEIRA, 2018). 9 Além disso, os naturais podem ser agrupados de acordo com sua paridade. Os números pares são os múltiplos de 2. Eles podem ser escritos de forma genérica como 2n, sendo que n é um número natural. Veja: 0, 2, 4, 6, 8, 10, 12, 14, 16, 18, ... Por sua vez, os números naturais ímpares são representados genericamente por 2n + 1, sendo que n é um número natural: 1, 3, 5, 7, 9, 11, 13, 15, 17, ... Além da classificação entre pares e ímpares, os números naturais podem ser divididos em primos ou compostos. Um número natural é primo quando ele só tem dois divisores naturais: 1 e o próprio número (SILVEIRA, 2018). Os primeiros números primos são: 2, 3, 5, 7, 11, 13, 17, 19, 23, ... 10 Os números primos são infinitos, porém 2 é o único primo par. Se um número não é primo, então ele é composto, por se tratar do produto de primos (SILVEIRA, 2018). Reta natural A reta dos números naturais, também conhecida como reta numérica, é um auxílio visual posicional dos números. Observe: Determina-se o ponto para representar o zero. Seguindo para a direita e mantendo determinada distância, são marcados os sucessores naturais 1, 2, 3, 4 e assim por diante. Agora, veja como comparar os números naturais em: < MENOR QUE > MAIOR QUE = IGUAL Dados dois números naturais representados na reta numérica, o maior será o que estiver posicionado à direita do outro. 11 2.2 As quatro operações nas práticas cotidianas As quatro operações aritméticas fundamentais são: adição, subtração, multiplicação e divisão. A seguir, você vai ver cada uma delas. 12 2.2.1 Adição Considere as seguintes situações. 1. Na escola X, havia 280 alunos. Foram matriculados outros 70. Com quantos alunos a escola ficou? 2. Na escola Y, existem duas turmas de 1º ano do ensino fundamental. Uma delas tem 32 alunos e a outra tem 33. Quantos alunos de 1º ano há na escola? Observe que na primeira situação a ideia envolvida é de acréscimo. Já na segunda situação, a ideia é de junção. Em ambos os conceitos, acrescentar e juntar, há a operação de adição. O algoritmo base da adição é representado da seguinte forma: Nessa representação, os números devem ser escritos e posicionados para que as ordens de cada número estejam sobrepostas. Dessa forma, eles estarão alinhados da direita para a esquerda. A operação também se dará da direita para a esquerda. A nomenclatura usual da adição é: Sempre que a soma dos algarismos de uma mesma ordem igualar ou superar 10 unidades da ordem, uma unidade deverá ser adicionada à ordem imediatamente à esquerda (SILVEIRA, 2018). Dessa forma: 13 Propriedades da adição Propriedade comutativa: a ordem das parcelas não altera a soma. Dessa forma, na adição de dois números naturais a e b, você tem: a + b = b + a Propriedade associativa: o agrupamento associado de adições não interfere na soma. Dessa forma, na adição de três números naturais a, b e c, você tem: a + b + c = (a + b) + c = a + (b + c) Existência do elemento neutro: o zero é o elemento neutro aditivo, de forma que não influencia uma operação de adição. Assim, considerando um número natural a, você tem: a + 0 = 0 + a = a Propriedade do fechamento: toda adição de naturais tem como soma outro número natural. 2.2.2 Subtração Considere as seguintes situações. 14 1. Carlinhos tem R$ 500,00 na sua conta-poupança. Ele pediu aos seus pais se poderia utilizar R$ 150,00 para comprar um jogo novo para seu videogame. Quanto restará na sua poupança? 2. A empresa ALFA contratou 400 funcionários. Sabendo que ela deve fechar seu quadro de contratações com 680 funcionários, quantos ainda precisa contratar? Observe que na primeira situação a ideia envolvida é uma retirada, ou seja, uma subtração. Já na segunda situação, a ideia envolvida é uma comparação, ou seja, deseja-se saber quanto falta para completar determinada quantidade. Subtrair, comparar e completar são ideias básicas da subtração. O algoritmo base da subtração é representado da seguinte forma: Os números devem ser escritos e posicionados de forma semelhante à utilizada na adição. Assim, eles ficam alinhados da direita para a esquerda. A operação segue a mesma ordem da adição, de modo que os números são subtraídos um a um, da direita paraa esquerda (SILVEIRA, 2018). A nomenclatura usual da adição é: Quando um dos algarismos do minuendo for menor do que o do subtraendo, será necessário que uma unidade imediatamente à esquerda seja convertida em 10 novas unidades da ordem que for insuficiente para subtrair. Essa operação é 15 comumente conhecida como “pedir emprestado”. Se a ordem imediatamente à esquerda não tiver algarismo significativo, o “pedido” segue para a próxima ordem à esquerda. Veja este exemplo. 16 Propriedade fundamental da subtração Em uma subtração, o minuendo é igual à soma do subtraendo ao resto. Dessa forma, você tem: m – s = d ↔ m = s + d Veja ainda as seguintes considerações quanto à subtração. A soma dos três termos de uma subtração (minuendo, subtraendo e diferença) é o dobro do minuendo (SILVEIRA, 2018). Veja: m + s + d = 2m A subtração é a operação inversa da adição. Dessa forma, adicionar e subtrair um mesmo número é equivalente a não realizar nenhuma das operações. Veja: a + b – b = a A subtração não se restringe aos números naturais (SILVEIRA, 2018). Isso significa que nem toda subtração é possível nesse conjunto. Veja: 6 – 2 é natural, pois 6 > 2; 12 – 12 é natural, pois 12 = 12; 2 – 6 não é natural, pois 2 < 6. 17 2.2.3 Multiplicação Considere as seguintes situações. 1. Sr. Arthur tem 5 filhos e decidiu dar uma mesada de R$ 30,00 para cada um deles. Quanto Sr. Arthur gastará em mesada? Dessa forma, a multiplicação surge como uma alternativa para simplificar adições de parcelas repetidas. Assim, você tem: 5 × 30 = 150 2. Em um jogo de baralho, existem 4 naipes (copas, ouro, espada e paus). Cada naipe possui 13 cartas (ás, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, valete, dama e rei). Quantas cartas diferentes há em um baralho completo? Copas: ás, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, valete, dama e rei Ouro: ás, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, valete, dama e rei Espada: ás, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, valete, dama e rei Paus: ás, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, valete, dama e rei 18 4 × 13 = 52 Observe que a primeira situação consiste na ideia de adicionar parcelas iguais. Na segunda situação, acontece uma combinação entre naipes e cartas. A ideia de adicionar parcelas iguais e a ideia de combinar são a síntese da multiplicação. O algoritmo base da multiplicação é representado por: De forma semelhante à que caracteriza a adição, os números são operados da direita para a esquerda. E, da mesma forma, ao acumular mais de 10 unidades em uma ordem, uma nova unidade deve ser acrescida na ordem imediatamente à esquerda, caso exista. A nomenclatura usual da adição é: Como consequência da multiplicação, se diz que o produto é um múltiplo dos fatores envolvidos. Então, p é múltiplo de a e b. Quando um produto tiver ambos os fatores com mais de dois algarismos, cada algarismo do fator irá gerar uma parcela. Ao final, as parcelas deverão ser somadas (SILVEIRA, 2018). Veja: 19 4 × 5 = 20 unidades simples. Logo, você deve representar com zero unidade simples e duas unidades de dezena, que devem ser adicionadas na ordem das dezenas. Na sequência, você deve efetuar o produto 4 × 4 = 16 e só depois deve efetuar a adição com as duas unidades de dezena adicionais, de forma a obter 16 + 2 = 18. Porém, não há mais ordens à esquerda das dezenas. Agora, você deve repetir o processo efetuando os produtos com o algarismo 2. Veja: 2 × 5 = 10, ou zero unidade simples e uma unidade de dezena. O resultado do produto deve ser deslocado uma ordem à esquerda, como consequência do fato de o algarismo 2 representar uma quantidade superior ao algarismo 4 no fator 24. Veja: 2 × 4 + 1 = 9. Fique atento ao fato de ter de realizar o produto antes da soma. Por fim, basta somar as parcelas obtidas: 20 O processo será semelhante no caso de um dos fatores ter mais de dois algarismos, sempre adicionando uma parcela para cada algarismo e deslocando uma ordem à esquerda (SILVEIRA, 2018). Uma sugestão é utilizar o fator com menos algarismos na parte abaixo do algoritmo, de forma a obter menos parcelas a serem somadas. Propriedades da multiplicação Propriedade comutativa: a ordem dos fatores não altera o produto. Dados dois números naturais quaisquer a e b, você tem: a × b = b × a Propriedade associativa: o agrupamento associado de multiplicações não interfere no produto. Dados três números naturais quaisquer a, b e c, você tem: a × b × c = (a × b) × c = a × (b × c) Existência do elemento neutro: o número 1 é o elemento neutro multiplicativo, de forma que não interfere em uma operação de multiplicação. Assim, sendo um número natural a, você tem: a × 1 = 1 × a = a 21 Propriedade do fechamento: toda multiplicação de naturais tem como produto outro número natural. Propriedade distributiva da multiplicação em relação à adição: dados três números naturais quaisquer a, b e c, você tem: a × (b + c) = a × b + a × c Nesse caso, convém ressaltar que a operação de multiplicação tem prioridade em relação à adição. Portanto, deve ser operada primeiro. 2.2.4 Divisão Considere as seguintes situações. 1. João vai repartir suas 21 bolinhas de gude com seus dois irmãos, de forma que todos fiquem com quantidades iguais. Com quantas bolinhas cada um ficará? A melhor maneira de entender a divisão é por meio do agrupamento dos objetos em quantidades iguais (SILVEIRA, 2018). Dessa forma: 21 ÷ 3 = 7 2. Na hora de fazer sua mudança, dona Maria precisou guardar sua coleção de copos em caixas. Sabendo que dona Maria possui 18 22 copos e que em cada caixa cabem 6 copos, de quantas caixas ela precisa? 18 – 6 = 12: primeira caixa fechada 12 – 6 = 6: segunda caixa fechada 6 – 6 = 0: terceira caixa fechada Portanto, dona Maria precisa de 3 caixas para guardar seus copos. Na primeira situação, a divisão é entendida como repartição em partes iguais. Já na segunda situação, a divisão pode ser interpretada pela quantidade de subtrações iguais, consecutivas. Observe que na primeira situação descrita as divisões ocorreram sem que nenhum irmão ficasse com quantidades diferentes de bolinhas, ou que sobrassem bolinhas. Na segunda situação, foram fechadas três caixas completas de copos. Esse tipo de divisão é chamada de divisão exata. Isso ocorre porque os valores a serem divididos são múltiplos do número pelo qual serão divididos. Observe: 21 ÷ 3 = 7, pois 7 × 3 = 21. 18 ÷ 6 = 3, pois 3 × 6 = 18. O algoritmo base da divisão é: A nomenclatura usual da divisão é: 23 De forma linear, você tem o seguinte: D = q × d + r Em uma divisão exata, o dividendo é divisível pelo divisor. Isso significa que o dividendo é múltiplo do divisor (SILVEIRA, 2018). Nesse caso, o resto sempre será igual a zero. Existem ainda algumas considerações relevantes quanto à divisão: a divisão é a operação inversa da multiplicação (e vice-versa); o resultado da divisão de zero por qualquer divisor será sempre zero; as divisões por zero são impossíveis. Observe: D ÷ 0 = q ↔ q × 0 = D 24 Porém, todo produto em que um dos fatores é zero resulta em zero. Logo: D = 0. Além das divisões exatas, que possuem resto zero, há as divisões não exatas, que possuem resto diferente de zero. Nesse caso, seu resultado pode ser representado em conjuntos numéricos naturais. Assim, o conjunto N dos naturais não é fechado para a divisão (SILVEIRA, 2018). 2.3 Expressões numéricas As expressões numéricas são os agrupamentos de operações matemáticas. Certas operações devem ser realizadas com prioridadeem detrimento de outras para se obter o valor da expressão. Veja este exemplo: 3 × 5 + 2 Uma expressão serve para representar matematicamente problemas e situações reais em que existam prioridades nas operações a serem realizadas. Entre as operações fundamentais, considere que há dois grupos relativos à ordem de prioridade: 1. multiplicações e divisões; 2. adições e subtrações. 25 Uma expressão numérica pode conter elementos que auxiliam nas relações de prioridade. Com relação a esses elementos, é fundamental que você se familiarize com o uso dos parênteses, ( ), dos colchetes, [ ], e das chaves { }. Entre esses elementos, também há uma ordem de prioridade: 1. resolver as operações entre parênteses; 2. resolver as operações entre colchetes; 3. resolver as operações entre chaves. Veja este exemplo: Como você pode notar, em alguns momentos existem sinais operatórios que antecedem os parênteses, os colchetes ou as chaves. Se os operadores forem × ou ÷, você pode aplicar a propriedade distributiva da multiplicação. Na divisão, o mesmo pode ser feito, pois a divisão é a inversa da multiplicação (SILVEIRA, 2018). Se o operador for +, ele conservará as operações internas. Você deve ter cuidado principalmente com as situações em que o operador que antecede os parênteses, os colchetes ou as chaves for de subtração. Nesse caso, você deve alterar os sinais de adição e subtração internos, ou ainda alterar o resultado operado no interior dos parênteses, dos colchetes ou das chaves. Considere este exemplo: 26 2.4 Diferentes formas de representação de um algoritmo Além dos algoritmos que você viu, existem outros modos de expressar e de operar as operações aqui descritas. A seguir, você vai ver algoritmos alternativos para as operações fundamentais. Além deles, existem muitos outro. Adição: método das somas parciais Nesse método, ocorre a decomposição dos números envolvidos de forma a expressá-los por meio de uma soma em que as ordens são inteiras (SILVEIRA, 2018). Veja este exemplo: 284 = 200 + 80 + 4 Agora veja essa decomposição alinhada no algoritmo tradicional: 284 + 592 O reagrupamento pode ser feito: 700 + 170 + 6 = 876. Esse processo é muito utilizado nos cálculos mentais. 27 2.5 Subtração: algoritmo de riscar, método de subtração da esquerda para a direita A seguir, veja o processo passo a passo: 2.6 Multiplicação: método dos camponeses russos A multiplicação que você viu até aqui utiliza como símbolo operador ×. Porém, o ponto (∙) também pode ser a representação do operador de multiplicação (SILVEIRA, 2018). Veja como os camponeses russos operavam a multiplicação. Observe: 36 ∙ 13 Agora considere os números colocados lado a lado: 36 13 28 A ideia é determinar a metade do primeiro e o dobro do segundo, escrevendo os resultados abaixo dos fatores correspondentes: 36 13 18 26 Procede-se do mesmo modo com os resultados obtidos: 36 13 18 26 9 52 Chegando a um número ímpar (9), que não tem divisão exata por 2, se reduz uma unidade e depois se segue com a divisão, de forma que: 36 13 18 26 9 52 4 104 2 208 1 416 Por fim, se somam os números da coluna da direita que possuem correspondentes ímpares na coluna da esquerda. Veja: 416 + 52 = 468, que é o produto de 36 ∙ 13 29 2.7 Divisão: método egípcio A divisão que você viu até aqui utiliza como símbolo operador ÷. Porém, os dois-pontos (:) também podem ser a representação do operador de divisão. Segundo Moraes (2015), “[...] o Papiro de Rhind (conhecido também como Papiro de Ahmes) é uma das principais fontes históricas sobre as raízes da aritmética. Encontramos, registrado no papiro, o problema ‘dividir 19 por 8’”. Usando a aritmética atual para representar o método egípcio, você tem: Se você somar as linhas com (*), vai obter a soma 19. Dessa forma, a solução do problema é obtida assim: 30 Esse não é um resultado natural. Portanto, veja agora um exemplo com resultado natural: Se você somar as linhas com (*), vai obter a soma 28. Dessa forma, a solução do problema é obtida assim: 28 : 4 = 3 + 4 = 7 3 NÚMEROS INTEIROS E RACIONAIS 3.1 Números inteiros Os números inteiros são constituídos por números positivos e por números negativos, mais o número 0 (zero), compondo dessa forma o conjunto dos números inteiros. Os números inteiros são representados simbolicamente pela letra Z. Os números inteiros contemplam os números naturais N e os que são a eles equiparados e não nulos. Nesse contexto, Oliveira (2016, p. 22) afirma que “[...] dois números inteiros são simétricos quando a sua soma é zero [...]”. Exemplo de como o conjunto dos números inteiros pode ser representado (OLIVEIRA, 2016): Z = {..., –4, –3, –1, 0, 1, 2,...} ou ainda Z = {..., –3, –2, –1, 1, 2, 3,...} 31 3.2 Números racionais De acordo com Oliveira (2016), os números racionais correspondem aos que podem ser apresentados por frações, ou seja, com numerador e denominador inteiros e denominador não considerado nulo, que, desse modo, não pode ser 0 (zero). É possível afirmar que os números inteiros e os naturais são entendidos como racionais, já que podem ser evidenciados como uma fração de denominador 1. O símbolo que representa os números racionais é a letra Q. Exemplos de números racionais: 3.3 Conjunto dos números inteiros ℤ Para compreender o conjunto dos números inteiros ℤ, faz-se necessário conhecer alguns conceitos iniciais que auxiliam na construção do pensamento matemático. Como observam Iezzi e Murakami (2019), quando se considera a teoria dos conjuntos, há três noções que são aceitas sem definição, a saber: conjunto, elemento e pertinência entre um elemento e um conjunto. Ainda segundo esses autores, na matemática, a noção de conjunto é praticamente a mesma que se utiliza na linguagem comum, ou seja, tem-se o sentido de agrupamento, classe; por exemplo: conjuntos dos meses de um ano, dos dias de um mês, de vogais, entre tantos outros. Assim, considerando-se que A é um conjunto e x é um elemento, se x pertence ao conjunto A, então se denota x ∈ A. Por sua vez, se x não pertence ao conjunto A, então se escreve x ∉ A. A figura abaixo também demonstra essa notação de pertencimento. 32 Na matemática, o conjunto numérico matemático mais elementar é o conjunto dos números naturais, o qual é denotado por ℕ e possui como elementos {1,2,3,4…}. Sobre esse conjunto, podem ser definidas as operações de soma e multiplicação (SANTIAGO, 2020). Uma extensão do conjunto dos números naturais é o conjunto dos números inteiros, o qual é denotado por ℤ. Os seguintes elementos compõem esse conjunto: ℤ = {… – 3,–2,–1,0,1,2,3, …}. Sobre esse conjunto, é possível distinguir três subconjuntos notáveis, a saber (SANTIAGO, 2020): Sobre o conjunto dos números inteiros ℤ, podem ser definidas operações de adição e multiplicação, sendo para cada uma delas válidas as propriedades apresentadas a seguir. 33 3.4 Conjunto dos números racionais (ℚ) Assim como houve, ao longo do processo evolutivo do ser humano, a necessidade de estabelecer um sistema de contagem, surgiu também a necessidade de descrever partes de algo inteiro. Desse modo, surgem os valores, ou melhor, os números fracionários ou, simplesmente, as frações. Quando adicionamos as frações aos números inteiros, obtemos o conjunto dos números racionais. São exemplos de números racionais: Q = {−1, −2/5, 4/3, 5, ...} Então, um número racional é todo aquele que pode ser escrito na forma de uma fração. Usando a linguagem matemática,dizemos que um número pertence ao conjunto dos racionais se (SANTIAGO, 2020): Q = {x/x = a/b, a ∈ Z, b ∈ Z, b ≠ 0} Onde se lê “x e x é igual a a sobre b” (ou a dividido por b), com a pertencente ao conjunto dos inteiros e b pertencente ao conjunto dos inteiros e diferente de zero. Observe que todo número inteiro é racional, mas nem todo número racional é inteiro. Por exemplo, –1 é inteiro e é racional, mas 4/3 é racional e não é inteiro. No conjunto dos racionais destacamos os subconjuntos: Q + = conjunto dos racionais não negativos Q_ = conjunto dos racionais não positivos Q* = conjunto dos racionais não nulos 34 Portanto, os racionais com denominador igual a 1 comportam-se para a igualdade, a adição e a multiplicação como se fossem números inteiros (SANTIAGO, 2020). 3.5 Propriedades do operador adição (+) sobre o conjunto dos números inteiros ℤ Dados quaisquer elementos a, b, c ∈ ℤ e o operador de adição (+), são válidas as propriedades descritas a seguir. Associação em relação à adição: para quaisquer elementos a, b, c pertencentes ao conjunto dos números inteiros, matematicamente descrito por ∀ a, b, c ∈ ℤ, é válida a seguinte igualdade: (a + b) + c = a + (b + c), ∀ a, b, c ∈ ℤ Comutativa em relação à adição: para quaisquer elementos a e b pertencentes ao conjunto dos números inteiros, sendo matematicamente descrito por ∀ a, b ∈ ℤ, é válida a seguinte igualdade: 35 a + b = b + a, ∀ a, b ∈ ℤ Elemento neutro da adição: existe e é único o elemento neutro da adição em ℤ, de modo a se obter a igualdade a seguir: a + 0 = 0 + a = a, ∀ a ∈ Z, ∃!0 ∈ ℤ Simétrico da adição: para todo a ∈ ℤ, existe –a ∈ ℤ, tal que a igualdade a seguir é mantida. a + (–a) = (–a) + a = 0, ∀ a ∈ ℤ 3.6 Propriedades do operador multiplicação (∙) sobre o conjunto dos números inteiros ℤ Dados quaisquer elementos a, b, c ∈ ℤ e o operador de multiplicação (∙), são válidas as propriedades descritas a seguir. Associativa da multiplicação: dados quaisquer a, b, c ∈ ℤ, é válida a associatividade da multiplicação para esses elementos. Portanto, é válida a igualdade a seguir: (ab)c = a(bc), ∀ a, b, c ∈ ℤ Comutativa da multiplicação: dados quaisquer a, b ∈ ℤ, é válida a comutatividade da multiplicação para esses elementos. Portanto, é válida a igualdade a seguir: ab = ba, ∀ a, b ∈ ℤ 36 Elemento neutro da multiplicação: existe e é único o elemento neutro da multiplicação em ℤ, para ∀ a ∈ ℤ, sendo válida a igualdade a seguir: a ∙ 1 = 1 ∙ a = a, ∀ a ∈ Z, ∃!1 ∈ ℤ Distributiva da adição em relação à multiplicação: dados quaisquer a, b, c ∈ ℤ, bem como os operadores de adição (+) e de multiplicação (∙), é válida a distribuição da multiplicação em relação à adição à esquerda e à direita (SANTIAGO, 2020). Portanto, é válida a igualdade a seguir: a ∙ (b + c) = a ∙ b + a ∙ c = b ∙ a + c ∙ a = (b + c) ∙ a, ∀ a, b, c ∈ ℤ 3.7 Divisibilidade no conjunto dos números inteiros ℤ Sobre o conjunto dos números inteiros ℤ, é possível definir o conceito de divisor. Nesse sentido, diz-se que a ∈ ℤ é divisor inteiro de b ∈ ℤ, e se denota por a|b quando existe c ∈ ℤ tal que seja válida a seguinte igualdade: ca = b. Portanto, matematicamente, tem-se: a|b ⇔ (∃ c ∈ ℤ|c ∙ a = b) Por exemplo: –2|–14 ⇔ 7(–2) = –14 37 3.8 Conectivos lógicos Na matemática, você vai encontrar essencialmente quatro tipos de conectivos, a saber (SANTIAGO, 2020): o conectivo “e”, denotado por “∧”; o conectivo “ou”, denotado por “∨”; o conectivo “se”, matematicamente denotado por “→”; e o conectivo “se e somente se”, denotado por “↔”. A partir dos conectivos apresentados, e considerando-se as proposições “p” e “q”, obtêm-se a conjunção “p ∧ q", a disjunção “p ∨ q”, a condicional “p → q” e a bicondicional “p ↔ q”. A seguir, você vai estudar cada uma delas. Conjunção Sejam “p” e “q” duas proposições; ao se colocar o conectivo “e” denotado por “∧” entre elas, obtém-se uma nova proposição denominada conjunção entre “p” e “q”, a qual é denotada por “p ∧ q”. Por exemplo: p: 3 > 0, q: 3 ≠ 1, p ∧ q: 3 > 0 e 3 ≠ 1 A conjunção “p ∧ q” será verdadeira apenas se ambas as proposições “p” e “q” são verdadeiras. Se uma delas for falsa, isso implica que “p ∧ q” é falso. A partir do exposto, obtém-se a tabela verdade expressa no quadro abaixo. 38 Disjunção Assim como para a conjunção, considere “p” e “q” duas proposições. Ao se colocar o conectivo “ou”, denotado por “∨”, entre elas, obtém-se uma nova proposição denominada disjunção entre “p” e “q”, a qual é denotada por “p ∨ q”. Por exemplo: p: 4 > 0, q: 4 > 2, p ∨ q: 4 > 0 ou 4 > 2 A disjunção “p ∧ q” será verdadeira se ao menos uma das proposições “p” e “q” forem verdadeiras, e “p ∧ q” será falsa apenas se as duas proposições “p” e “q” forem falsas (SANTIAGO, 2020). A partir do exposto, obtém-se a tabela verdade apresentada no quadro abaixo. 39 Condicional Considere as proposições “p” e “q”. Ao se colocar o condicional “→” entre elas, é obtida uma nova proposição, dada por “p → q”, que se lê: se “p”, então “q”; portanto, “p é condição necessária para q” ou “q é uma condição suficiente para p”. Por exemplo: p: quatro é divisor de oito (4|8); q: oito é divisor de quarenta (8|40); p → q: se quatro é divisor de oito, então quatro é divisor de quarenta. O condicional “p → q” assume o valor de falso apenas quando “p” é verdadeira e “q” é falsa; caso contrário, “p → q” é verdadeiro (SANTIAGO, 2020). A partir do exposto, obtém-se a tabela verdade apresentada no quadro abaixo. Bicondicional Considere “p” e “q” duas proposições. Ao se colocar o conectivo “↔” entre elas, obtém-se uma nova proposição dada por “p ↔ q”, a qual se lê: “p” se e somente se “q”; ou “p” é uma condição necessária e suficiente para “q”; ou, ainda, se “p”, então “q” é reciprocamente. Por exemplo: 40 p: 2|12, q: 27|127, p ⇔ q: 2|12 ⇔ 27|127 O bicondicional “↔” assume valor verdadeiro apenas quando ambas as proposições “p” e “q” são verdadeiras, ou quando ambas simultaneamente são falsas. Caso contrário, o condicional “↔” é falso (SANTIAGO, 2020). A partir do exposto, obtém-se a tabela verdade mostrada no quadro abaixo. 4 NÚMEROS IRRACIONAIS Por bastante tempo os números racionais foram o máximo alcançado sobre o conceito de número. Mas, segundo Stewart (2015), os gregos antigos provaram que o quadrado de uma fração nunca poderia ser exatamente igual a 2. De forma intuitiva já era possível perceber que os racionais não eram suficientes, pois pelo Teorema de Pitágoras, o comprimento da diagonal de um quadrado de lado 1 é raiz de 2, no entanto, esta notação ainda não existia. “A prova grega da irracionalidade emprega um processo geométrico que agora chamamos de algoritmo de Euclides. É um modo sistemático de descobrir se dois comprimentos dados a e b são comensuráveis” (STEWART, 2015, p.196). Para Roque (2012), a percepção da incomensurabilidade pelo pitagórico Hipaso de Metaponto e da possibilidade de um conjunto de números não-racionais não estão necessariamente relacionadas ao mesmo período histórico: 41 Ninguém, suficientemente instruído em matemática poderia ficar impressionado com a existência da incomensurabilidade. Além disso, a conexão entre esse problema e a filosofia pitagórica é duvidosa. Não se tem certeza nem mesmo da relação entre a descoberta dos incomensuráveis e a aplicação do teorema de “Pitágoras” (que nos permitiria concluir que há um lado de um triângulo cuja medida é raiz de 2), uma vez que os chineses já conheciam o teorema e nem por isso concluíram pela irracionalidade do lado. (ROQUE, 2012,p. 125). Substancialmente, apesar das discordâncias entre alguns historiadores matemáticos sobre a percepção sobre incomensurabilidade/irracionalidade, este conceito surge como justificativa para a necessidade de ampliação dos conjuntos numéricos até então conhecidos e, no contexto didático, como possível abordagem introdutória para apresentação do conjunto dos números irracionais (ROCHA, 2018). Mais formalmente, dois segmentos A e B dizem-se comensuráveis se são múltiplos de um segmento comum. Em outros termos, A e B são comensuráveis se existir um segmento C de medida u, escolhido como unidade de medida, e se existirem inteiros positivos m e n tais que A= mC e B= nC, então A e B são múltiplos do segmento comum C, e assim se dizem comensuráveis. Segundo Baldino (2000), os pitagóricos acreditavam que tudo em geometria e mesmo nos afazeres humanos poderiam ser explicados em termos de números. Não se sabe com precisão quando a escola pitagórica tomou conhecimento da existência de grandezas que não poderiam ser comparadas por meio de inteiros. Para Stewart (2015) a comprovação da não-racionalidade levou os geômetras gregos a focar em comprimentos geométricos e a ignorar números, no entanto a possibilidade de reforçar o sistema numérico de modo a poder lidar com questões como essas se tornaram uma alternativa melhor. Segundo Rooney (2012), Pitágoras não conseguia provar pela lógica que os números irracionais não existiam, mas quando Hipaso de Metaponto (nascido em 500 a.C.) demonstrou que a raiz quadrada de 2 é irracional e argumentou sobre sua existência, diz a lenda que Pitágoras o afogou. Hipaso teria demonstrado sua descoberta a bordo de um navio. O banimento dos números irracionais, acionado por Pitágoras, seria então baseado em sua objeção estética, ideológica e filosófica. 42 Somente no século XVII, com a criação da Geometria Analítica (Fermat e Descartes), se estabelece a simbiose do geométrico com o algébrico, favorecendo o tratamento aritmético do comensurável e do incomensurável. Newton (1642-1727) define pela primeira vez "número", tanto racional como irracional. De acordo com Iezzi e Murakami (2005), números cuja representação decimal com infinitas casas decimais não periódicas são chamados números irracionais. Segundo Niven (2012) para demonstrar a irracionalidade de 2 podemos seguir a seguinte trajetória: Suponhamos que 2 fosse um número racional, isto é, 2 =a/b , com a e b inteiros e b diferente de 0. Suponhamos ainda, e isso é essencial para o argumento, que a/b seja uma fração irredutível, isto é, que a e b sejam primos entre si. Usaremos, especificamente, o fato de a e b não serem ambos pares porque, se o fossem, a/b não seria irredutível. Elevando ao quadrado a equação acima e simplificando-a, obtemos 2= 𝑎² / 𝑏² , 𝑎 ² = 2𝑏² . O termo 2𝑏² representa um inteiro par, de modo que 𝑎 2 é um inteiro par e, portanto, a é um inteiro par, digamos a=2c, com c também inteiro. Substituindo a por 2c na equação 𝑎²=2𝑏², obtemos: (2𝑐) ² = 2𝑏² , 4𝑐 ² = 2𝑏² , 2𝑐 ² = 𝑏² O termo 2𝑐² representa um inteiro par, de modo que 𝑏² é um inteiro par e, portanto, b é um inteiro par. Mas agora chegamos à conclusão de que a e b são ambos inteiros pares, enquanto a e b foram, inicialmente, supostos primos entre si. Essa contradição nos leva à conclusão de que não é possível escrever 2 𝑛𝑎 𝑓𝑜𝑟𝑚𝑎 𝑎 𝑏 , portanto 2 é irracional (ROCHA, 2018). De forma semelhante Niven (2012) demonstra a irracionalidade de 3, com a exceção de que o argumento chave envolve divisibilidade por 3 e não por 2, segue a demonstração: 43 Provaremos como resultado preliminar, que o quadrado de um inteiro é divisível por 3 se, e somente se, o inteiro em si for divisível por três. Observemos, inicialmente, que um inteiro divisível por 3 é da forma 3n, enquanto que um inteiro não divisível por 3 é da forma 3n+1 ou 3n+2. Então as equações: 3𝑛 ² = 9𝑛 ² = 3 (3𝑛) ² (3𝑛 + 1) ² = 9𝑛 ²+6n+1= 3(3𝑛 ² + 2𝑛) +1= (3𝑛 + 2) ²= 9𝑛 ²+12n+4= 3(3𝑛 ²+4n+1) +1 Suponhamos agora que 3 fosse um número racional, digamos que 3 = 𝑎/𝑏, com a e b inteiros. Novamente, como no caso de 2·, suponhamos a/b irredutível, de modo que a e b não são ambos divisíveis por 3. Elevando a equação ao quadrado e simplificando, obtemos: os: 3= 𝑎 ² /𝑏 ² , 𝑎 ²= 3𝑏 ² O inteiro 3𝑏 ² é divisível por 3, isto é, 𝑎 ² é 𝑑𝑖𝑣𝑖𝑠í𝑣𝑒𝑙 𝑝𝑜𝑟 3. Portanto, a é divisível por 3, digamos, a =3c, com c inteiro. Substituindo a por 3c na equação 𝑎 ²= 3𝑏 ² temos: (3𝑐) ² = 3𝑏 ² , 9𝑐 ² = 3𝑏 ² , 3𝑐 ² = 𝑏 ² Isso mostra que 𝑏 ² é divisível por 3 e, portanto, b é divisível por 3. Concluímos, assim, que a e b são ambos divisíveis por 3 e isso contraria a hipótese inicial de ser a/b irredutível. Portanto 3 é irracional. É bom lembrar que todas as raízes inexatas são irracionais (ROCHA, 2018). Na verdade estes são os números irracionais mais simples: √2, √3, √6, etc. Estes números são soluções das equações x² - 2 = 0, 𝑥 2 - 3 = 0, x² - 6 = 0, respectivamente. Por essa razão eles são chamados de irracionais algébricos. Um número algébrico: é 44 um número real que satisfaz alguma equação do tipo: a² + n = 0, com a e n inteiros. Ou seja, um número real se diz algébrico se satisfizer uma equação algébrica com coeficientes inteiros. Mas acontece que muitos números irracionais não são algébricos (ROCHA, 2018). Por isso, são chamados de irracionais transcendentes. Estes não são raízes de equações da forma acima. 4.1 Os irracionais - O número é o exemplo mais conhecido de número irracional. Este símbolo lhe foi dado por ser a letra grega correspondente a primeira letra da palavra perímetro (ROCHA, 2018). Segundo Stewart (2015) os egípcios acreditavam que π fosse racional e igual a 19/6, que é aproximadamente 3,16. Para calcular este valor, usaram argumentos geométricos: traçaram um octógono inscrito num círculo e calcularam a razão entre seu perímetro e o diâmetro da circunferência. Fonte: https://www.diekeure.be/ 45 Muitos dos símbolos matemáticos que usamos atualmente são devidos ao matemático suíço Leonard Euler (1707-1783). Foi Euler quem, em 1737, tornou conhecido o símbolo para o número PI. Foi também nesta época que os matemáticos conseguiram demonstrar que é um número irracional. Segundo Guzzo (2007) “O símbolo atual que designa o número “PI” é a letra grega , que foi utilizada pela primeira vez em 1707 por Willian Jones, mas só foi amplamente aceita quando usada por Euler em 1737”. De forma geral é definido como a razão entre a circunferência de um círculo qualquer e seu diâmetro, no entanto este cálculo não representa um valor tão próximo por se tratar de um número que não pode ser representado através de uma razão. De acordo com Stewart (2015), Arquimedes apresentou uma prova lógica diferente. Utilizando um hexágono inscrito e duplicando o número de lados consecutivamente, Arquimedes obteve um valor bastante acurado para . Muitas tentativas foram surgindo ao longo dos anos. Algumas delas não tão obviamente relacionadas às medidas circulares. Sua representação decimal vem sendo calculada durante os anos tanto por métodos tradicionais como frações contínuas, soma de séries, cálculos trigonométricos; quanto por sistemas informatizados e softwares específicos (ROCHA, 2018). Além de irracional, é um número transcendente, o que foi provado por Ferdinand Lindemann em 1882. Isso significa que não existe um polinômio com coeficientes inteiros ou racionais do qual seja uma raiz. É difícil de calculá-lo porque sendo um número irracional, sua representação decimal não apresenta nenhuma previsibilidade. Em geral, esse esclarecimento não é enfatizado, nem pelos professores nem pelos autores dos livros didáticos,o que pode confundir os alunos, pois a forma experimental sugerida de obtenção do é a razão entre comprimento de uma circunferência e o seu diâmetro o que pode contrariar a própria definição de número irracional, o impedimento de ser representado por uma fração (ROCHA, 2018). Devemos destacar os seguintes casos: 46 1) Quando a medida do diâmetro de uma circunferência for um número inteiro, a medida do comprimento da circunferência não será número inteiro, por isso a razão resulta num valor aproximado de , que é um número irracional; 2) Quando determinamos o valor do comprimento da circunferência, utilizando-se C= 2 R, como possuímos somente valores aproximados de (3,1415...), então os valores de C serão também aproximados. Durante séculos as fórmulas para o cálculo de se tornaram cada vez mais eficientes e diretas. Em 1670 Leibniz (1646-1716), divulgou uma fórmula eficaz para a construção do irracional, mas que parece ter sido descoberta, primeiro por James Gregory (1638-1675), e, portanto, conhecida como fórmula de Gregory-Leibniz. 4.2 Irracionais e seu ensino Ripoll (2004) realiza observações importantes sobre a definição de irracionais, e levanta apontamentos que merecem atenção. Segundo a autora, as caracterizações de números irracionais mais encontradas nos livros didáticos para a Escola Básica são as seguintes, divididas em grupos de semelhança: (A) “Um número é irracional se não puder ser escrito na forma a/b com a; b ϵ Z e b não-nulo”. “Irracional é o número que não pode ser escrito na forma de fração". (B) “Irracional é o número cuja representação decimal é infinita e não- periódica”. “Todo número escrito na forma de um decimal infinito e não-periódico é um número irracional". (C) “Os números irracionais representam medidas de segmentos que são incomensuráveis com a unidade". Crítica sobre cada uma destas descrições: Tanto em (A) quanto em (B) ficam pressupostos o conhecimento da existência de outros números além do universo trabalhado até o momento pelos alunos (a saber, o de números racionais) - o que é até, no mínimo, incoerente, quando o que se quer é ampliar o conjunto dos números; fica pressuposta também a capacidade de um 47 manejo com tais números que os permitam saber decidir se eles podem ou não ser escritos na forma de fração. Mas, mesmo que trabalhemos sob a premissa que o aluno saiba que existem outros números, temos problemas: Em (A): Alunos de oitava série, num questionário aplicado pelos alunos da Licenciatura da UFRGS, afirmam que é irracional, pois também não pode ser escrito na forma de fração (ROCHA, 2018). Mesmo que está confusão não surja neste momento, ela poderá aparecer quando, mais tarde, seja abordado o assunto “Números Complexos". De fato, existem demonstrações para comprovar que i não pode ser escrito na forma de fração que podem muito bem ser utilizadas para irracionais. Modo que então, pelas definições colocadas em (A) concluiríamos que é irracional. Em outras palavras: Números imaginários não podem ser escritos na forma de fração, e nem por isso são irracionais (ROCHA, 2018). Segundo Silva (2014), os números irracionais ensinados na escola são aqueles obtidos através de raízes, senos, cossenos, tangentes e logaritmos “inexatos” (não racionais), como, por exemplo, √ 2, √3, sen (8), cos (9), tan (10), log 3 etc. Como todos os irracionais têm representação infinita, sua localização na reta deve ser aproximada, e, portanto, haveria necessidade de se ensinar métodos de aproximação, o que, lamentavelmente, não é feito. Os motivos, por que não são ensinados, são variados, e aqui destacaremos três: primeiro porque não consta no programa tradicional do ensino médio; segundo, porque se acredita que os melhores métodos de aproximação se utilizam de ferramentas do cálculo que também não está neste programa; e terceiro, porque no contexto do ensino básico, muitos professores desconhecem métodos simples de aproximação que poderiam ser apresentados aos alunos usando apenas uma calculadora de bolso, ou por ”princípios” da sua formação, são contra o uso de recursos eletrônicos em sala de aula. Além disso, alguns irracionais são “definidos” de um modo misterioso para o aluno, como, por exemplo, os números π = 3, 1415926535... ou e = 2, 718281828... Isso sugere a ideia de que cada nova casa decimal aparece aleatoriamente, e desta forma, impossibilita sua localização e precisão (ROCHA, 2018). 48 De acordo com Ripoll (2004) em geral, na sua formação dentro do curso de Licenciatura, o futuro professor faz um curso de Análise na Reta ou similar, onde é feita a construção dos números reais. Mas ali o conjunto dos Reais é construído como complemento de Q via cortes de Dedekind ou sequências de Cauchy, deduzindo-se dessa estrutura as demais propriedades, e muito pouco (ou nada) é esclarecido sobre os conflitos normalmente existentes sobre este assunto. Daí, os licenciados voltam ao Ensino Básico, agora como professores, sem o devido esclarecimento sobre tal assunto, e sem, por exemplo, nunca terem “feito a ponte" entre aquela construção vista em Análise na Reta e a resposta às suas perguntas. Para Silva (2014), explicar para o aluno a necessidade de saber que existe um número, não inteiro, que não tem representação decimal finita, e que não tem representação como fração, chamado número irracional, cuja representação é decimal infinita e não-periódica, mas que sempre pode ser substituído (aproximado) por um número racional, é uma tarefa, no mínimo, árdua. E de fato um convite à exploração de mais um conjunto numérico abstrato que surge, através da descoberta de novos elementos e suas propriedades. Uma aventura intelectual matemática disfarçada de exercício de raciocínio lógico. Precisamos fazer exemplificações, operações e aproximações com os mais variados tipos de números reais. Pois é através dessa experiência prática que o aluno intelectualmente se aproxima das características e propriedades dos diferentes números reais (ROCHA, 2018). Pietropaolo, Corbo e Campos (2013) analisando resultados de sua pesquisa sob a perspectiva de Tall & Vinner (1981), concluíram que a imagem conceitual construída pela maioria dos participantes do estudo, relativa aos números irracionais, era principalmente constituída por noções que pertencem ao campo numérico, contendo, em alguns casos, concepções incorretas – por exemplo, relativas às representações e à classificação desses números. A incomensurabilidade de grandezas – interpretação geométrica dos números irracionais, conceito cuja discussão pode favorecer a compreensão representativa de medidas de quaisquer grandezas, não constava do repertório de conhecimentos do conteúdo específico acumulados pelos professores. Esta constatação indica lacunas também nos 49 conhecimentos pedagógicos necessários à apresentação desse conteúdo aos alunos. Tais resultados colocam em destaque a necessidade de promover, nos cursos de formação inicial e/ou continuada, discussões sobre a relevância dos números irracionais nos currículos de Matemática, sobre as dificuldades vivenciadas pelos estudantes quando iniciam a construção desse conhecimento e sobre a importância de seu estudo nas diversas etapas escolares (ROCHA, 2018). Pommer (2012) afirma que ainda a esse respeito, é necessário reiterar o que foi dito anteriormente, sobre a importância de distribuir o estudo dos números irracionais não apenas nos dois últimos anos do Ensino Fundamental, mas também ao longo do Ensino Médio e nos cursos de Licenciatura em Matemática, para que se deem a consolidação e a ampliação desse conhecimento em etapas escolares subsequentes, nas quais os estudantes certamente já desenvolveram outras habilidades necessárias à compreensão e ao aprofundamento desse assunto. Corbo (2012) relataque, em virtude de todo o exposto, dada a importância dos números irracionais para a compreensão da ampliação dos campos numéricos, seu estudo não pode receber uma atenção descuidada, que enfatize um único aspecto (por exemplo, o algorítmico), sob pena de provocar a elaboração de uma concepção desses números despida de significado. Isto é, a abordagem dos irracionais não pode ser feita por meio de um trabalho aligeirado, fraco, ainda que se considere toda a complexidade inerente à construção desse conhecimento. Jover (2013) realizou uma oficina em quatro encontros, com atividades de uma hora de duração, equivalente a cinco períodos de aula, com a participação ativa dos alunos proporcionada pelo uso do software Geogebra. O estudo de números irracionais em aulas expositivas se estendeu durante um bimestre letivo (mais de vinte períodos). A diversidade da metodologia, utilizada para alcançar o mesmo propósito, apontou que a experiência proporciona mais, em menos tempo. Contudo, a aprendizagem só acontece se o aluno estiver aberto para a experiência. O discurso do educador de que “não há tempo, é necessário vencer o conteúdo” mostra uma visão da educação que anula a experiência. A preocupação excessiva do professor em vencer o conteúdo, acompanhada da quantidade de informação e de trabalho, se 50 contrapõe à oportunidade de propiciar a aprendizagem pela experiência e de efetivamente construir o conhecimento proposto. Laurentino (2013) afirma que também aprendemos que enquanto os números racionais são enumeráveis, os irracionais não o são, surgindo aí o primeiro resultado interessante de que podemos comparar conjuntos infinitos e obter “infinitos maiores que outros infinitos”. Kindel (2012) aponta que um conjunto é enumerável se for possível estabelecer uma relação bijetora entre ele e o conjunto dos números naturais, ou seja, um conjunto infinito enumerável é aquele que possui infinitos termos, porém somos capazes de nomear cada um deles, considere o conjunto X= {x1, x2, x3,…} um conjunto finito, encontramos facilmente uma bijeção deste conjunto com os naturais, que será dada por f(n) =xn, assim, x1 = f(1), x2 = f(2),…, xn = f(n),… Outra variável a ser considerada é a apresentação dos conjuntos numéricos em uma ordem reorganizada e diferente da que foi constituída através da história. Kindel (1998) afirma que a matemática escolar apresenta convencionalmente os conjuntos numéricos da seguinte forma: N Ϲ Z Ϲ Q U I = R Ϲ C, que se baseia no processo de axiomatização aritmética, cuja preocupação era a construção da aritmética como um sistema orgânico com fundamento lógico. Esta colocação simplista leva professores e alunos a acreditar que se “compreendemos bem” os números naturais, a construção dos outros conjuntos numéricos flui naturalmente, acreditando os estudantes na aplicação direta de propriedades dos naturais a outros conjuntos. Um caso exemplar que nos obriga a pensar simultaneamente no didático e na matemática é o que entende a fração ¾ como sendo dois naturais 3 e 4, onde se pode fazer 3+1 = 4 e 4+1= 5, então a fração ¾ = (3+1) / (4+1) = 4/5. O erro didático, neste caso, consiste em que não estão sendo reconhecidas as características diferentes dos números introduzidos, o mesmo costuma acontecer a partir da apresentação superficial do conjunto dos números irracionais (ROCHA, 2018). Neste contexto, onde os conjuntos numéricos estão organizados de forma embutida como Matrioskas russas, pouco se percebe em relação ao desenvolvimento histórico e suas relações com as necessidades humanas. O estudante pode imaginar, seguindo a ordem apresentada, que os números racionais e irracionais surgiram logo 51 após o entendimento sobre números inteiros, no entanto, foram mais de 1500 anos a partir de 300 a.C para a aceitação dos números negativos e, além disso, essa aceitação demandou discussões e considerações de diversos matemáticos (ROCHA, 2018). 5 NÚMEROS REAIS Neste capítulo, você aprenderá sobre o conjunto dos números reais e verificará que ele é uma reunião de vários subconjuntos numéricos. Dessa maneira, é possível utilizar as notações da teoria de conjuntos para relacionar o conjunto dos números reais com os demais conjuntos. Dentro dos números reais, podemos estabelecer relações de igualdade ou desigualdade entre seus elementos, facilitando o entendimento da representação no eixo real. Os conjuntos numéricos podem ser representados em notação de conjuntos utilizando chaves e colchetes, ou sobre a reta ordenada, em que os números ficam dispostos em ordem crescente. Fonte: https://conhecimentocientifico.r7.com/ 52 5.1 Uma definição objetiva Podemos definir o conjunto dos números reais como o conjunto formado da reunião do conjunto dos números racionais com os números irracionais (PROFESSOR FERRETO, 2018). Ainda, com base nos estudos das relações de conjuntos, podemos dizer que o conjunto dos números inteiros está contido no conjunto dos números reais. Podemos afirmar, também, que o conjunto dos números reais contém o conjunto dos números naturais, inteiros e racionais. 5.2 Conjunto dos números reais O conjunto dos números reais (R) é formado por todos os números racionais e irracionais. Por sua vez, os conjuntos dos números racionais e irracionais abrangem outros conjuntos que podem ser verificados a seguir. O conjunto dos números naturais é aquele formado pelos números 0, 1, 2, ... ℕ = {0, 1, 2, 3, 4, 5, ...} Na sequência, observe o conjunto dos números inteiros, representado por Z, formado por números inteiros, positivos e negativos. ℤ = {..., –4, –3, –2, –1, 0, 1, 2, 3, 4, ...} O conjunto dos números racionais (ℚ) é composto por números que também podem assumir valores positivos e negativos. Porém, nesse conjunto, as frações numéricas são incorporadas. Esses números podem estar representados na forma de fração ou decimal. No conjunto dos números racionais, estão também presentes as dízimas periódicas simples e compostas, sendo esses originados de uma fração 53 possível de ser reescrita na forma a/b, em que a e b são números inteiros, e b ≠ 0 (ARAÚJO, 2015). ℚ = {..., –2, ..., –1,25, ..., –1, ... –0,33, ... 0, ...1, ... , ..., 2, ...} Por fim, vem o conjunto dos números irracionais (𝕀), que são os decimais que não podem ser representados em forma de uma fração. Por exemplo, o número , √p, sendo p um número positivo, sem raiz quadrada exata, etc (ARAÚJO, 2015). 𝕀 = {..., –√2, ..., √2, ... , ...} Podemos dizer que todos esses conjuntos descritos são subconjuntos do conjunto dos números reais. A relação desses subconjuntos, entre si, está demonstrada na figura abaixo. Todos eles estão contidos em R: ℝ = 𝕀 ∪ ℚ Para o conjunto dos números reais, também são válidas todas as notações da teoria de conjuntos. Você pode verificar, de acordo com a figura acima, que o conjunto Q está contido no conjunto R, ou simplesmente: 54 ℚ ⊂ ℝ Ou, ainda, que o conjunto dos números irracionais, I, unido ao conjunto dos números racionais, Q, resulta no conjunto dos números reais: 𝕀 ∪ ℚ = ℝ Essas mesmas relações da teoria de conjuntos podem ser utilizadas com os elementos que compõem o conjunto dos números reais, R (ARAÚJO, 2015). 5.3 Propriedades e operações com números reais a) Propriedades dos números reais 55 Ao realizar operações matemáticas com os números reais, as propriedades básicas utilizadas com qualquer outro conjunto numérico também se aplicam. Na sequência, você relembrará e exercitará um pouco cada uma dessas propriedades e verá alguns exemplos. Não existe divisão de um número real por zero: Zero dividido por qualquer número real será sempre zero: Qualquer número real, diferentede zero e elevado a zero, valerá 1: Existe raiz de índice par somente para os números reais positivos: n sendo um número par: 56 Qualquer número real, positivo ou negativo, elevado a um expoente par, sempre resultará em um número real positivo (ARAÚJO, 2015): No conjunto dos números reais, uma multiplicação de potências de mesma base apresentará como resultado na conservação da base, com a soma dos expoentes: No conjunto dos números reais, uma divisão de potências de mesma base apresentará como resultado na conservação da base, com a subtração dos expoentes (ARAÚJO, 2015): Sempre que um número real estiver representado com uma potência de potência, conserve a base e multiplique os expoentes: 57 Potência de sinal negativo inverte o número que está sob a potência, caso mude o sinal: É possível transformar uma operação de radiciação em uma de potenciação, da seguinte maneira: b) Operações com números reais Para realizar as operações matemáticas, inclusive no uso das propriedades que você acabou de verificar, algumas regras devem ser seguidas. Acompanhe, a seguir, como operar em relação aos sinais (positivo e negativo) dos números reais. 58 Nas operações de adição e subtração, quando os sinais que acompanham os números que estão sob a operação forem iguais, o resultado permanecerá com o mesmo sinal (ARAÚJO, 2015): Nas operações de adição e subtração, quando os sinais que acompanham os números que estão sob a operação forem diferentes, o resultado apresentará o mesmo sinal do número com maior módulo: Nas operações de multiplicação e divisão, quando os sinais que acompanham os números que estão sob a operação forem iguais, o resultado apresentará sinal positivo (+) (ARAÚJO, 2015): Nas operações de multiplicação e divisão, quando os sinais que acompanham os números que estão sob a operação forem diferentes, o resultado apresentará sinal negativo (–) (ARAÚJO, 2015): 59 5.4 Tipos de intervalos numéricos Assim como em qualquer outro conjunto, os números reais (R) podem ser representados sobre uma reta orientada. Esta reta tem como origem o ponto 0 (zero) e orientação para a direita, indicando o sentido crescente da sequência numérica, conforme mostrado na figura abaixo. Sobre essa reta, a representação numérica será realizada unidade à unidade, pelo conjunto dos inteiros (Z), a fim de facilitar a representação numérica. A partir do ponto de origem, para o lado direito, serão colocados os números positivos e, para o esquerdo, os negativos (ARAÚJO, 2015), como mostrado na figura abaixo. 60 Ainda sobre essa reta, caso seja necessário, é possível representar os demais números racionais e irracionais, complementando o conjunto dos números reais (R), conforme a figura abaixo. Sendo necessário referir-se aos números reais positivos, excluindo-se o zero, a notação R+* deverá ser utilizada. De maneira análoga, os números reais negativos, excluindo-se o zero, podem ser representados pela notação R-*. Definimos, assim, os conjuntos: R+* = {1, 2, 3, 4, 5, 6, ...} R–* = {..., –5, –4, –3, –2, –1} Desse modo, para qualquer a pertencente a R+*, dizemos que a é maior que zero (ARAÚJO, 2015): a > 0, ∀ a ∈ ℝ+* 61 Também de forma semelhante: a < 0, ∀ a ∈ ℝ–* A partir daí você já consegue definir o conjunto dos números reais maiores que zero (positivos) sobre a reta real. Na figura acima, um círculo aberto sobre o zero indica que o mesmo não está dentro do intervalo numérico representado. O mesmo pode ser observado na figura abaixo, a seguir, com a representação dos números reais negativos, ou menores que zero. O intervalo da penúltima figura pode ser, ainda, representado como: 62 em que o colchete aberto, ou os parênteses, indica que o número que vem após não pertence ao intervalo. Já o intervalo da última figura, em que o número que precede o colchete não pertencerá ao intervalo, pode ser expresso por: Sempre que for necessário representar conjuntos numéricos em uma reta, caso o primeiro número da sequência a ser representada pertença ao conjunto desejado, o círculo deverá ser preenchido, o que também deverá ocorrer com o último número da sequência a ser representada (ARAÚJO, 2015). Como exemplo, verifique que, na figura a seguir, está representado o intervalo entre o número 2, inclusive, até o número 4, que também pertencerá ao conjunto da expressão: Verifique, agora, este outro intervalo: 63 ]–3, 2] O colchete aberto em –3 indica que esse número não pertence ao intervalo que iremos representaremos. Por outro lado, o número 2 ainda está dentro desse conjunto (ARAÚJO, 2015). Assim, queremos representar na reta real o conjunto de todos os x, maiores que –3 e menores ou iguais a 2 (Figura 8), ou pela expressão: {x ∈ ℝ│–3 < x ≤ 2} Quando nenhum dos dois extremos do intervalo que queremos representar pertencer ao conjunto, os dois colchetes ficarão abertos, e, consequentemente, na reta, os círculos sobre os números também. Veja o exemplo a seguir: ]–1, +3[ Temos um intervalo entre -1 e +3, em que esses dois números não pertencem ao intervalo: {x ∈ ℝ│–1 < x < +3} ou na reta representada na figura a seguir. 64 Sejam três números, a, b e c. Estando a à direita de b na reta real, temos a garantia que a é maior que b; e estando c à esquerda de b, temos a garantia que c é menor que b (ARAÚJO, 2015), o que pode ser representado pelas expressões a seguir, respectivamente: a > b; c < b Ainda sobre os números a, b e c, podemos escrever as relações entre eles em uma única expressão: c < b < a em que você lerá que b é menor que a e maior que c. Assim, você também pode verificar que c é menor que a: c < a Com exemplo numérico, seguindo a mesma ordem apresentada nas relações acima, sejam os números –7, –3 e 2: 2 > –3 –7 < –3 65 – 7< –3 < 2 e ainda: –7 < 2 6 FUNÇÕES: GRÁFICOS, COMPOSTAS E INVERSAS 6.1 Uma definição de função Para compreendermos o que é uma função, antes devemos entender o que é um conjunto, conceito relativamente simples que é fundamental na matemática. Um conjunto, de acordo com Neri e Cabral (2011, p. 1) “[...] é constituído de objetos chamados elementos. Usamos a notação x ∈ A (lê-se x pertence a A) para dizer que x é um elemento do conjunto A. Se x não é um elemento de A, então escrevemos x ∉ A (lê-se x não pertence a A)”. Em outras palavras, um conjunto é uma coleção qualquer de objetos, como, por exemplo: conjunto dos números primos: A = {2, 3, 5, 7, 11, 13, …}; conjunto das instituições de ensino: B = {públicas, privadas, comunitárias,…}. Os conjuntos são representados por letras maiúsculas, ao passo que seus elementos (itens dentro do conjunto) são dispostos entre chaves, separados por vírgula ou ponto e vírgula. Quanto aos subconjuntos, diz-se, por exemplo, que o 66 conjunto dos números naturais N é subconjunto do conjunto dos números inteiros ℤ se e somente se todos os elementos do conjunto são também elementos do conjunto ℤ. Então, pode-se dizer que N está condido em ℤ (figura abaixo). Para expressar simbolicamente essa relação, usam-se (está contido), (contém) ou (não está contido) (FRIEDRICH; MANZINI, 2015). Os números são uma invenção humana. Na Antiguidade, o crescimento da população e o consequente aumento da complexidade das sociedades, cujo comércio foi se tornando cada vez mais intenso, motivaram a criação de formas para representar as quantidades. Foi então que surgiramos números naturais, que mais tarde seriam acompanhados pelos demais conjuntos numéricos: inteiros, racionais, irracionais, reais, complexos, etc. (FRIEDRICH; MANZINI, 2015). Em nosso cotidiano, relacionamos diferentes grandezas duas a duas. Por exemplo, quando fazemos compras, relacionamos o produto com o seu preço; quando extraímos o extrato de uma conta, relacionamos o saldo com a data em que o extrato foi gerado; quando analisamos uma conta de energia elétrica, relacionamos o valor com a quantidade de kWh/hora consumido em um mês; etc. Essas relações podem ser expressas por diagramas. Por exemplo, supomos que, ao fazer compras na padaria, o preço pago pelo presunto dependa da quantidade de gramas comprada e que ele tenha sido modelado por uma função afim do tipo Algumas quantidades estão representadas no diagrama da figura abaixo, em que há os conjuntos A e B, chamados, respectivamente, “conjunto de partida” e “conjunto de chegada” 67 Poderíamos estar interessados em representar essa relação em um plano cartesiano. Ou seja, com os pares ordenados (valores de x e de y) marcar o ponto no gráfico e traçar a curva que expresse essa relação (figura abaixo). Relações binárias como as que acabamos de mencionar foram descobertas na Antiguidade. Pitágoras, por exemplo, descobriu as relações aritméticas das notas musicais, e Galileu Galilei, a relação entre a distância percorrida por um objeto e o intervalo de tempo. Hoje, nas mais diversas áreas analisamos fenômenos em que são estabelecidas relações que evidenciam como a variação de uma grandeza depende da variação de outra. Por exemplo, o número de leitos disponíveis em um hospital depende da demanda por leitos, o gasto de combustível depende da quantidade de 68 quilômetros rodados, os níveis de poluição dependem da degradação da natureza, etc. (FRIEDRICH; MANZINI, 2015). No exemplo do preço pago pelo presunto, deduzimos que existe uma relação entre o peso x do presunto que será comprado (em gramas) e o valor y a ser pago (expresso em reais). Mais especificamente, a relação é: Isso significa que, se quisermos comprar 350 gramas de presunto, pagaremos A equação dada descreve como o preço depende do peso do presunto. Nessa equação, a variável x é denominada “variável independente”, e y é chamada “variável dependente”, uma vez que seu valor é obtido a partir de x. A regra que permite obter o valor da variável dependente a partir da variável independente é denominada função (GOMES, 2018). Gomes (2018, p. 256) define função da seguinte forma: “Uma função f é uma relação que associa a cada elemento x de um conjunto D, chamado domínio, um único elemento ou y de um conjunto C, denominado contradomínio”. 6.2 Função composta Neste tópico, estudaremos uma função especial: a função composta. Uma função composta é obtida a partir de duas ou mais funções respeitando uma determinada condição. Veremos neste tópico como se dá o processo de construção dessa função e estudaremos ainda algumas de suas propriedades (COSTA et al., 2017). 69 Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/ Suponhamos que tivéssemos duas funções f : A → B e g : B → C. Note que, dado um elemento x ∈ A, usando a função f, obteremos um elemento y = f (x) ∈ B e, usando a função g, obteremos um elemento z = g(x) ∈ C. Dessa forma, podemos obter assim uma função h : A → C, que associa a cada x ∈ A um elemento z = h(x) ∈ C. Note ainda que a única condição que foi imposta para a existência da função ℎ é que Im(f) ⊂ D(g) ou ainda que o contradomínio da função f fosse igual ao domínio da função g (COSTA et al., 2017). A figura a seguir ilustra o que acabamos de afirmar. 70 Fonte: DEaD | IFCE A figura acima estabelece uma relação entre as funções f, g e ℎ. A nova função ℎ foi obtida da combinação das funções f e g. A este processo damos o nome de composição de função. De maneira formal, temos a seguinte definição: Observe que na definição acima, faz-se necessário que a imagem de f esteja contida no domínio de g. Sendo assim, em termos gerais, para acharmos o valor de g ( f ( x )), inicialmente consideramos um x ∈ A e, a partir dele, determinamos o valor de f (x) . Na sequência, com a função g determinamos o valor de g (f ( x )). O exercício resolvido abaixo ilustra esse processo. Exercício Resolvido 1: Sejam as funções reais f e g definidas por 71 Para calcularmos o valor de g (f (-2)) e f (g ( -2)), temos duas maneiras: A primeira seria substituindo cada um dos valores pedidos nas funções correspondentes (COSTA et al., 2017). Abaixo temos o processo detalhado: 72 Outra maneira é determinarmos a lei de formação das funções compostas e depois calculamos as imagens dos valores pedidos nas respectivas leis. Como no item a) já foram determinadas tais leis de formação, vamos agora determinar os valores de g (f (-2)) e f (g (-2)) diretamente na lei de g (f (x)) e f (g (x)), respectivamente (COSTA et al., 2017). Temos Queremos determinar os valores de x para o qual tenhamos g(f (x)) 10 = . Dessa forma, teremos 73 6.3 Função Inversa Neste segundo tópico, entenderemos inicialmente os conceitos de função injetora, sobrejetora e bijetora. Aprenderemos a identificar tais funções a partir do diagrama de flechas e pela análise de seus gráficos. Exibiremos ainda a definição de função inversa, mostraremos o processo de obtenção da lei de formação e veremos a propriedade existente entre o gráfico de uma função bijetora e o de sua inversa. Para iniciamos nossos estudos, consideremos as funções f : A → B e g : C → D representadas pelos diagramas de flecha abaixo: 74 Ao analisarmos os diagramas das funções (figura acima), observamos que De maneira formal, podemos dizer que Ou equivalentemente, usando a contra-positiva da Definição 4.2, temos Retornando a última figura, temos que, apesar da função g não ser injetora, ela apresenta uma propriedade interessante: todo elemento do seu contradomínio D é imagem de algum elemento de C (COSTA et al., 2017). De maneira formal, podemos dizer que 75 Dessa forma, analisando as funções f e g, apresentadas no início do tópico, notamos ainda que a função f não é uma função sobrejetora, pois Im(f) ≠ B. Por outro lado, a função g é sobrejetora, pois Im(g) = D (COSTA et al., 2017). Observe esse exemplo de funções sobrejetivas. Considere f : A → B onde A = { -2, -1,0,1,2} e B = {0,1,4} definida pela lei f(x) = x². Note que f é sobrejetora, pois, para qualquer elemento y B ∈, existe um elemento x A ∈ tal que y = x². Note que todos os elementos de B são imagens de pelo menos um elemento de A: 0 = f (0);1 = f (1) = f ( -1) e 4 = f (2) = f ( -2). De maneira geral, para verificarmos se uma função é ou não sobrejetiva, devemos proceder da seguinte forma: inicialmente devemos procurar explicitar x em função de y e depois verificar as possíveis restrições para os valores de x, comparando com os possíveis valores que podem ser tomados no domínio. De maneira formal, temos a seguinte definição 76 Daremos agora um exemplo de funções bijetoras: Considere a função f : A → B na qual A = {2,3,4,5} B = {4,5,6,7} definida pela lei f (x) = x + 2. Observe que a função é sobrejetora, pois qualquer que seja y ∈ B existe x ∈ A tal que y = f (x). Por outro lado, ela também é injetora, uma vez que pontos diferentes em seu domínio têm imagens diferentes em seu contradomínio. Outra forma de determinar se uma função é injetora, sobrejetora ou bijetora é através do seu gráfico. O teorema a seguir fornece a caracterização gráfica: 77 EXEMPLO: Determine,graficamente, se as funções abaixo são injetora, sobrejetora ou bijetora. Risquemos retas paralelas ao eixo x nos gráficos das funções e lembremos que 1. se cada uma dessas retas cortar o gráfico em um ponto ou nenhum ponto, então a função é injetora; 2. se cada uma dessas retas cortar o gráfico em um ou mais pontos então a função é sobrejetora; 3. se cada uma dessas retas cortar o gráfico em um só ponto, então a função é bijetora. Analisaremos agora cada função separadamente através de seu gráfico. Para a função f : R → R tal que f (x) = x - 1, temos que seu gráfico é dado pela figura abaixo. 78 Do gráfico da figura acima, observamos que qualquer reta horizontal intersecta o gráfico em um único ponto. Por isso a função é injetora e sobrejetora. Portanto é bijetora. Para a função g : R → R tal que g (x) = x² - 1, temos o seu gráfico na figura abaixo. 79 Veja pelo gráfico que temos retas que não tocam o mesmo nenhuma vez. Como seu contradomínio são os reais, isso significa que há elementos sobrando no contradomínio. Logo, observamos que existe reta horizontal que intersecta o gráfico em nenhum ponto, um ponto ou dois pontos. Nesse caso a função não é injetora, nem sobrejetora e, consequentemente, não é bijetora. 7 FUNÇÕES DO 1º E DO 2° GRAU 7.1 Função de primeiro grau ou afim Denomina-se função de primeiro grau aquela f: R→R, que associa cada x real a um y também real, onde y = ax + b, com a, b ∈ R; a≠0. Por exemplo: Vejamos uma situação em que podemos encontrar, de forma simplista, uma função afim. Imaginemos um vendedor de seguros que possui uma remuneração base fixa de R$ 1200,00 mensais. Além disso, esse vendedor tem uma remuneração adicional de 8% sobre o valor dos seguros que ele vender ao longo do mês. Podemos escrever o salário desse vendedor sob a forma de uma função de primeiro grau, de forma que: o salário S(x) do vendedor será 8% ou 0,08 sobre o total de seguros vendidos x. Dessa forma, S(x) é a variável dependente, pois seu resultado está diretamente ligado ao valor de seguros x vendidos no mês. R(x)=0,08x + 1200 80 7.2 Propriedades da função de primeiro grau Em toda função afim, o conjunto domínio e imagem são R. O gráfico cartesiano das funções afim é uma linha reta não paralela ao eixo y. O coeficiente real a é denominado coeficiente angular, sendo o responsável pela inclinação da reta do gráfico. O coeficiente real b é denominado coeficiente linear, o qual, como termo independente da função, será o ponto de abscissa 0, com coordenada (0, b), ou seja, será o ponto em que a função intercepta o eixo y. 7.3 Classificação da função afim Uma função afim pode ser classificada de acordo com o coeficiente real a: a > o Se a > 0, a função é ter seu gráfico com inclinação ascendente da esquerda para a direita 81 Figura: Gráfico da função crescente. Se a < 0, a função é ter seu gráfico com inclinação descendente da esquerda para a direita. 82 Figura: Gráfico da função decrescente. a = o Se a = 0, a função não é dita de primeiro grau ou afim. Nesse caso, a função passa a ser chamada de função constante e tem a forma f(x) = b, com gráfico que passa em b paralelo ao eixo x. 83 Figura: Gráfico da função constante. 7.4 Raiz ou zero da função afim A raiz ou o zero de uma função será o valor de x que tenha como imagem y = 0. Sendo y = f(x) = ax + b, com a≠0, temos que: x é zero ou raiz da função se — e somente se — f(x) = 0. Portanto, será possível determinarmos a raiz de uma função fazendo 7.5 Gráfico função 84 Figura: Gráficos das funções crescente e decrescente. Na função f (x) = ax + b, se b = 0, f função linear, ou seja, f (x) = ax. Nesse caso, o gráfico passará na origem do plano cartesiano (0,0). 7.6 Construção do gráfico da função afim Para que fique determinada uma reta, são necessários, ao menos, dois pontos ou um ponto e a inclinação da reta. Como visto, temos dois pontos significativos que interceptam os eixos Ox e Oy: o primeiro é a raiz da função e o segundo é o próprio coeficiente linear b. Esses dois pontos seriam o suficiente para esboçar o gráfico da reta da função. Outra técnica bem simples é a construção de uma tabela com valores para x, que pertencem ao domínio da função, ou seja, para quaisquer x. Esses valores substituídos na função nos darão os valores da imagem y e, consequentemente, os 85 pontos da função. Uma sugestão é o uso de valores do domínio que estejam próximos à origem do plano. Por exemplo, dada a função f(x) = –2x + 3, esboçaremos o gráfico cartesiano. Construiremos uma tabela (Quadro 1) com os valores inteiros entre –2 e 2 e, substituindo na função, encontraremos os pares ordenados formados. Agora, basta marcar os pontos no plano cartesiano e construir a reta da função, conforme figura abaixo. 86 Figura: Gráfico da função f (x) = –2x + 3. 7.7 Função do segundo grau Funções são equações que relacionarão, pelo menos, uma variável independente e uma dependente, com operações de soma, multiplicação, potências, etc. Uma função da forma f(x) = y indica que x é uma variável independente e que, de acordo com sua variação, a variável dependente y poderá assumir diferentes valores, conforme a relação disposta na função. 87 Funções polinomiais são definidas pela relação entre duas variáveis, uma delas, por exemplo x, apresentando termos da forma , com n sendo um número natural. O maior expoente define o grau da função e o número de raízes que ela apresenta. Um exemplo genérico de função polinomial pode ser representado por: formada por uma associação entre os coeficientes dos termos, e pela variável independente, x, com seu respectivo grau em cada termo. Em uma função, o maior expoente presente na variável independente define o grau da função. No caso específico deste tópico, que tratará sobre funções do segundo grau, o termo com maior expoente será 2, conforme a função a seguir: Funções que têm como 2 o maior expoente em sua representação são conhecidas como funções do segundo grau, ou funções quadráticas, desde que De maneira mais didática, e para posterior aprofundamento nos cálculos envolvendo uma equação de segunda ordem, reescreveremos a função genérica f (x) = y da seguinte maneira: Com a ≠0. Conforme dito anteriormente, por apresentarem o grau 2, essas funções devem apresentar duas raízes. 88 Quando você trabalha com uma função de segundo grau, ou segunda ordem, assim como em qualquer outro tipo de função, pode construir gráficos para representá- la. A principal característica dos gráficos de uma função quadrática é a sua forma. Toda função de segundo grau apresentará uma parábola em sua representação gráfica. As funções de segunda ordem têm inúmeras aplicações práticas, inclusive no nosso dia a dia, como você pode verificar na Figura 2. 89 São exemplos numéricos de equações quadráticas: 90 Para obter o valor da função em um valor de x específico, basta substituir o referido valor no lugar da variável independente. Por exemplo, seja a função 7.8 Resolução de equações de segundo grau Ao resolver uma equação, estamos buscando suas raízes. Dessa forma, a função genérica deve ser igualada a zero, de modo que se obtenham as suas raízes. Uma função quadrática completa, que contém todos os termos a, b e c, diferentes de zero, pode ser reescrita como uma multiplicação de outros polinômios 91 em que x1 e x2 são raízes da equação. Existem diversosmétodos para resolução das equações, de qualquer ordem. Para as equações de segundo grau, abordaremos a fatoração pelo método da fatoração e pela fórmula de Bhaskara (ou fórmula quadrática). 7.9 Fatoração de uma função de segundo grau Fatorar uma função de segunda ordem significa reescrever essa mesma função de modo que ela volte à forma primitiva, de uso de propriedade distributiva da multiplicação. As técnicas de fatoração incluem colocar um fator comum em evidência, fatorar por agrupamento e reverter processos usuais envolvendo o uso da distributividade dupla e formas notáveis de fatoração (SAFIER, 2011). Algumas dessas técnicas podem ser aplicadas às funções de segunda ordem, como veremos a seguir. Colocar um fator monomial comum em evidência: Nessa função, você pode perceber que o termo 2x é um divisor comum para as duas parcelas que a compõem. Assim, é possível reescrevê-la da seguinte forma: Desse modo, consegue-se facilitar o cálculo de suas raízes — basta igualar cada termo dessa multiplicação à zero e obter as suas raízes. Assim 92 Dessa maneira, as raízes dessa função são x1 = 0 e x2 =–4. Se forem colocadas na forma de dois binômios, aplicadas as propriedades da distributividade, retornariam à função inicial: Colocar um fator não monomial comum em evidência, que poderia derivar da última expressão apresentada — uma constante comum, que multiplica todas as parcelas envolvidas na função. Como visto pelo exemplo anterior é o mesmo que escrever Isso pode facilitar a obtenção das raízes. Reverter a distributividade: Considere-se a função: 93 Como a função de segunda ordem se origina de uma multiplicação de binômios, para a função apresentada, precisamos determinar dois números que, se forem multiplicados, resultam em 8 e, se somados, resultam em 6, uma vez que E, assim, temos que os números –2 e –4, se somados, resultam em 6, e, se multiplicados, em 8. Portanto, a função pode ser reescrita em termos de suas raízes, da seguinte forma 7.10 Fórmula quadrática A função genérica desde que a≠0, pode ser resolvida utilizando-se a fórmula de Bhaskara (ou fórmula quadrática), definida por: Ao colocar cada termo da função em seu devido lugar na fórmula, obtêm-se, assim, as raízes 94 Tomaremos como exemplo Colocando esses termos na fórmula de Bhaskara: Logo, 7.11 Gráfico de uma função do segundo grau Na fórmula de Bhaskara, a expressão sob a raiz quadrada, é chamada de delta, ou representada pela letra grega ∆. Conforme já demonstrado neste capítulo, os gráficos de uma função do segundo grau são sempre uma parábola. E algumas de suas características serão determinadas pelo coeficiente a e pelo ∆, ou, como na figura abaixo, chamaremos o delta de D. 95 Observe que a parábola, de acordo com sua concavidade, possuirá um ponto de máximo ou de mínimo, denominado vértice. As coordenadas desse ponto podem ser calculadas pela expressão: 96 E seu gráfico pode ser verificado na figura a seguir 97 E seu gráfico pode ser verificado na figura abaixo. 98 8 TRIGONOMETRIA A trigonometria tem origem grega e seu significado está ligado às medidas de um triângulo (trigonos = triângulo; metrein = medidas). É a área da matemática em que são estudadas as relações existentes entre os lados e os ângulos de um triângulo. Um dos motivos de esse estudo surgir foi a necessidade do uso na astronomia para calcular o tempo, e seu desenvolvimento ocorreu na geografia e na navegação. O teorema de Pitágoras é muito conhecido e tem um papel importante no desenvolvimento dos estudos trigonométricos, pois é por meio dele que desenvolvemos fórmulas teóricas comumente utilizadas nos cálculos relacionados a situações práticas cotidianas. (BENTO, 2018). 8.1 Razões trigonométricas seno, cosseno e tangente no triângulo retângulo O triângulo é a figura geométrica mais simples, mas, ao mesmo, uma das mais importantes. Tem propriedades e definições de acordo com o tamanho de seus lados e com a medida dos ângulos internos, sendo classificados como acutângulo, obtusângulo e retângulo. Todo triângulo retângulo apresenta um ângulo reto e dois agudos. O triângulo ABC, mostrado na Figura a seguir, é um retângulo em C. 99 Usaremos as letras maiúsculas dos vértices para denotar também os ângulos internos correspondentes, e as letras minúsculas a, b, c para denotar os lados opostos aos ângulos A, B e C, respectivamente, e também as medidas dos lados. Assim, temos C = 90° e A + B = 90°, pois a soma das medidas dos ângulos internos de qualquer triângulo é igual a 180°. Os nomes cateto e hipotenusa são usados apenas nos triângulos retângulos, no nosso caso, a hipotenusa é a, o lado oposto ao ângulo reto, e os demais lados b e c são ditos catetos (b = cateto adjacente e c = cateto oposto). Para os triângulos retângulos, vale o importante teorema de Pitágoras, o qual define: “em todo triângulo retângulo, o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos: a² = b² + c²”. O teorema de Pitágoras é um caso particular da Lei dos Cossenos, utilizada em triângulos quaisquer. Para um ângulo agudo de um triângulo retângulo, definimos as importantes razões seno, cosseno e tangente. 100 As seis razões trigonométricas — seno, cosseno, tangente, cossecante, secante e cotangente — não dependem do “tamanho do triângulo retângulo”; elas dependem apenas da medida do ângulo. De fato, dois triângulos retângulos com um ângulo agudo de mesma medida são semelhantes. (BENTO, 2018). Como calcular as Razões Trigonométricas? Para compreender melhor a aplicação das fórmulas, confira abaixo dois exemplos: Encontre os valores do seno, cosseno e tangente do ângulo do triângulo abaixo. Para encontrar os valores do seno, cosseno e tangente, devemos substituir a medida de cada lado do triângulo nas respectivas fórmulas. (BENTO, 2018). Observando a imagem, identificamos que: o cateto oposto mede 5 cm; o cateto adjacente mede 12 cm e; a medida da hipotenusa é igual a 13 cm. Assim, temos: 101 Aplicando o Teorema de Pitágoras, temos: a² = b² + c² = 13² = 5² +12² = 169 = 25 + 144 = 169 = 169. A soma dos quadrados dos catetos tem que ser igual a medida da hipotenusa ao quadrado. 9 FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS E SUAS RELAÇÕES NO CÍRCULO UNITÁRIO 9.1 Funções seno e cosseno Considere a circunferência de raio unitário e o centro na origem do sistema ortogonal de coordenadas, chamado de círculo trigonométrico. Convencionaremos o seguinte: o ponto A é a origem dos arcos sobre a circunferência, e o comprimento x de um arco é positivo quando obtido a partir de A, deslocando-se no sentido anti-horário, e negativo, se no sentido horário. Chama-se função seno a função f : R → R, indicada como f(x) = sen x, que associa a cada número real x, entendido como o comprimento de um arco AB da circunferência, a ordenada do ponto B no eixo OY. Em uma circunferência de raio r, o comprimento x de um arco e o ângulo θ subentendido estão relacionados pela fórmula x = θ ∙ r. (BENTO, 2018). 102 A função seno é uma função periódica e seu período é 2π. No círculo trigonométrico, o sinal da função seno é positivo quando x pertence ao primeiro e segundo quadrantes. Já no terceiro e quarto quadrantes, o sinal é negativo. Fonte: https://www.todamateria.com.br/ Além disso, no primeiro e quarto quadrantes a função f é crescente. Já no segundo e terceiro quadrantes a função f é decrescente. Odomínio e o contradomínio da função seno são iguais a R. Ou seja, ela está definida para todos os valores reais: Dom(sen)=R. Já o conjunto da imagem da função seno corresponde ao intervalo real [-1, 1]: -1 < sen x < 1. Em relação à simetria, a função seno é uma função ímpar: sen(-x) = -sen(x). O gráfico da função seno f(x) = sen x é uma curva chamada de senoide: 103 Gráfico da função seno. Fonte: Costa; Guerra (2009, documento on-line). A função cosseno é a função f : R→ R indicada por f(x) = cos x, que associa a cada número real x, entendido aqui também como o comprimento de um arco AB da circunferência unitária, a abcissa do ponto B no eixo OX. (BENTO, 2018). A função cosseno é uma função periódica e seu período é 2π. No círculo trigonométrico, o sinal da função cosseno é positivo quando x pertence ao primeiro e quarto quadrantes. Já no segundo e terceiro quadrantes, o sinal é negativo. Fonte: https://www.todamateria.com.br/ 104 Além disso, no primeiro e segundo quadrantes a função f é decrescente. Já no terceiro e quarto quadrantes a função f é crescente. O domínio e o contradomínio da função cosseno são iguais a R. Ou seja, ela está definida para todos os valores reais: Dom(cos)=R. Já o conjunto da imagem da função cosseno corresponde ao intervalo real [-1, 1]: -1 < cos x < 1. Em relação à simetria, a função cosseno é uma função par: cos(-x) = cos(x). O gráfico da função cosseno f(x) = cos x é uma curva chamada de cossenoide: Gráfico da função cosseno. Fonte: Costa; Guerra (2009, documento on-line). Ambas as funções têm por conjunto imagem o intervalo [−1, 1]. Para todos os valores de x ∈ R, tem-se que −1 ≤ sen x ≤ 1 e −1 ≤ cos x ≤ 1. Sendo x o comprimento de um arco AB circunferência unitária, a ordenada e a abcissa de B, sen x e cos x são, no máximo, 1 e, no mínimo, −1, qualquer que seja x, como se constata examinando-se a Figura abaixo. (As funções seno e cosseno são exemplos importantes de funções periódicas.) Uma função f(x) é chamada de periódica quando satisfaz, para algum p, a relação f(x) = f(x + p), qualquer que seja x ∈ Domf. O menor valor de p para o qual se tem f(x + p) = f(x) para qualquer x ∈ R é chamado de período da função f. 105 As funções seno e cosseno são funções periódicas com período 2π. Isso significa que, para todo x ∈ R, sen = (x + 2π) = sen x, cos(x + 2π) = cos x. (BENTO, 2018). Essa propriedade segue da interpretação geométrica dessas funções. Examinando o círculo trigonométrico, conclui-se que a extremidade C de um arco AC de comprimento x + 2π coincide com o ponto B do arco AB e, portanto, B e C têm as mesmas coordenadas. A função cosseno é uma função par. De fato, considere o arco AB de comprimento x > 0, como indica a Figura, e o arco AC, medido no sentido anti-horário, cujo comprimento é também –x (isto é, AC arco-x). Os pontos B e C, portanto, têm a mesma abcissa, de modo que cos(−x) = cos x. Gráfico da função círculo unitário. Fonte: Costa; Guerra (2009, documento on-line) A função seno é uma função ímpar, isto é, sen(−x) = (−1) sen(x). (BENTO, 2018). As funções sen x e cos x satisfazem algumas relações, chamadas de relações trigonométricas. Em particular, aplicando o teorema de Pitágoras ao triângulo retângulo Q0B, obtém-se a relação: cos² x + sen² x = 1. 106 Gráfico da função círculo unitário sen e cos. Fonte: Costa; Guerra (2009, documento on-line). 9.2 Função tangente A função f: A → R, f(x) = tg x, definida por tg x = sen x / cos x, em que A = {x ∈ ℜ | cos x ≠ 0}, é chamada de cos x função tangente. (BENTO, 2018). A função tangente tem uma interpretação geométrica que é a seguinte: na circunferência unitária, a reta é tangente à circunferência no ponto A, chamada eixo das tangentes, como indica a Figura a seguir: . Gráfico da função círculo unitário tangente. Fonte: Costa; Guerra (2009, documento on-line). A função tangente é uma função periódica e seu período é π. Ela é expressa por: função f(x) = tg x 107 No círculo trigonométrico, o sinal da função tangente é positivo quando x pertence ao primeiro e terceiro quadrantes. Já no segundo e quarto quadrantes, o sinal é negativo. Fonte: https://www.todamateria.com.br/ Além disso, a função f definida por f(x) = tg x é sempre crescente em todos os quadrantes do círculo trigonométrico. O domínio da função tangente é: Dom(tan)={x ∈ R│x ≠ de π/2 + kπ; K ∈ Z}. Assim, não definimos tg x, se x = π/2 + kπ. Já o conjunto da imagem da função tangente corresponde a R, ou seja, o conjunto dos números reais. Em relação à simetria, a função tangente é uma função ímpar: tg(-x) = -tg(-x). (BENTO, 2018). O gráfico da função tangente f(x) = tg x é uma curva chamada de tangentoide: 108 Gráfico da função tangente Fonte: Costa; Guerra (2009, documento on-line). 9.3 Função secante É a função f: A → R, indicada por f(x) = sec x, em que sec x = e; A = {x ∈ R | cos x ≠ 0} Gráfico da função secante. Fonte: Costa; Guerra (2009, documento on-line). A função secante é uma função par e periódica com período 2π. Seu conjunto imagem é Im(sec x) = (−∞, −1] ∪ [1, + ∞). (BENTO, 2018). 109 9.4 Função cossecante É a função f: A → R, em que A é o conjunto dos números reais x, tais que sen x ≠ 0, dada por f(x) = cossec x Vejamos, agora, o gráfico da função cossecante na Figura a seguir: Gráfico da função cossecante. Fonte: Costa; Guerra (2009, documento on-line). A função cossec x é uma função ímpar, periódica com período 2π. Seu conjunto imagem é o conjunto: Im(cos sec x) = (−∞, −1] ∪ [1, ∞).(BENTO, 2018). 9.5 Função cotangente A função f: A → R, dada por f(x) = cotg x = cos x / sen x, em que A é o conjunto dos números reais x, tais que sen x ≠ 0, é chamada função cotangente. A função cotangente é uma função ímpar, periódica de período π e Im(cotg x) = R. 110 Gráfico da função cotangente. Fonte: Costa; Guerra (2009, documento on-line) 10 FUNÇÕES EXPONENCIAIS E LOGARÍTMICAS 10.1 Função exponencial Para iniciar os estudos sobre função exponencial, é fundamental a revisão dos principais fundamentos dessa relação matemática: a potência de um expoente natural e como se calcula a potência de um número. Pela definição formal da matemática, dado um número real a e um número natural n, com n ≥ 2 é chamado de potência de base a e expoente n; logo, o número an equivale ao produto de n fatores iguais a, ou seja: Essa representação indicada pelo produto entre termos iguais é portadora de algumas características próprias em sua estruturação, as chamadas propriedades das potências, que são apresentadas no Quadro 1 com a descrição de cada uma das propriedades acompanhada de um respectivo exemplo numérico. 111 Quadro 1. Propriedades das potências Iezzi, Dolce e Murakami (2013) dissertam que, dado um número real a, tal que 0 < a ≠ 1 é referido por função exponencial de base a a função de f de ℝ em ℝ, que associa a cada x real o número ax, ou seja: Resumidamente, a definição descreve que uma função é dita exponencial quando a incógnita x aparece como expoente de uma base real. São exemplos de funções exponenciais em ℝ: 112 Toda função exponencial pode ser categorizada como crescente ou decrescente, e o parâmetro utilizado para essa classificação é o valor de sua base. Assim, a função f(x) = ax é crescente se e somente se a > 1, e decrescente se 0 < a < 1, assim: O domínio de uma função exponencial compreende o conjunto dos números reais (ℝ), assim, D(f) = ℝ, enquanto o seu contradomínio resume-se aos reais positivos, maiores que zero (ℝ+ *), logo, pode ser descrita como:f : ℝ → ℝ+* 113 Para a determinação da imagem, há uma restrição. Lembre-se de que o conjunto imagem representa os valores obtidos pela função a partir de seu domínio, assim como a base deve necessariamente ser de um valor positivo, e a consequência dessa condição será um conjunto imagem também composto por valores positivos, não existindo, assim, representação na parte inferior ao eixo x, posição destinada às imagens negativas, assim, Im(f) = ℝ+ * = (0, +∞). As raízes de uma função exponencial baseiam-se no mesmo princípio das demais; assim, encontrar o 0 dessa função consiste em identificar para qual valor de x a função é nula. É importante destacar que, para essa operação, estar íntimo das propriedades de potências apresentadas anteriormente é essencial. 10.2 Gráfico da função exponencial O estudo de gráficos auxilia a visualização de informações importantes das funções, como intervalos de crescimento e/ou decrescimento, raízes, estudo de sinais, 114 entre outras. Assim, essa representação atribui significado visível sobre diferentes concepções do estudo de funções. Com relação ao gráfico f(x) = ax , Iezzi, Dolce e Murakami (2013) ressaltam que: a curva representativa está toda acima do eixo das abscissas (eixo x), pois y = ax > 0, para todo x ∈ ℝ; corta o eixo das ordenadas (eixo y) no ponto (0,1); apresenta um dos aspectos demonstrados pela figura abaixo. Observe que o gráfico da função exponencial passa pelo ponto (0,1), uma vez que todo número elevado a 0 equivale a 1. Outra característica marcante é a de não tocar o eixo das abscissas, gerando sempre uma imagem positiva. No exemplo a seguir, é possível observar como podemos traçar a curva de uma função exponencial a partir de sua lei de formação. Exemplo: Construa o gráfico da função: Para delinear um gráfico, sugere-se recorrer a uma tabela onde serão inseridos valores possíveis para x, bem como calculado o respectivo valor de y: 115 Agora, de posse desses pontos, basta plotá-los no eixo cartesiano, chegando ao seguinte resultado: 116 10.3 Função logarítmica Elaborados na primeira metade do século XVII para facilitar os cálculos matemáticos, os logaritmos consistem em um dispositivo de cálculo eficiente e que, apesar do uso de modernas máquinas de calcular, ainda detêm a capacidade de relacionar diferentes fenômenos naturais, podendo ser aplicados na matemática financeira, física, química, biologia, geografia e até na música. O logaritmo pode ser descrito como a operação inversa da exponenciação, pois possibilita identificar o valor ao qual uma base foi elevada para gerar determinado número. Desse modo, se a exponenciação de a elevado a x resulta em um valor y, então, o logaritmo desse número será informado de que x é o valor do expoente da base que fornece y. Na 117 concepção de um logaritmo, é importante destacar que a base a deve ser sempre maior que 0 (a > 0) e diferente de 1 (a ≠ 1) para que essa dinâmica seja possível. Safier (2011) denomina logaritmo de b na base a o expoente que se deve dar à base a de modo que a potência obtida seja igual a b, ou seja: As operações com os logaritmos, assim como nos exponenciais, necessitam da utilização de propriedades para facilitar o seu cálculo algébrico. Nesse sentido, é de extrema importância que sejam conhecidas suas propriedades operatórias. É 118 possível observar essas propriedades no Quadro 2, que tem por base os números reais 0 < a ≠ 1, 0 < b ≠ 1, c ≠ 0, x e y ≠ 0 < a. Quadro 2. Propriedades dos logaritmos De acordo com Iezzi, Dolce e Murakami (2013), uma função logarítmica pode ser descrita como uma relação. Denotamos essa função por: onde: b = base x = logaritmando 119 A função logarítmica pode ser classificada em crescente ou decrescente; assim, a função f(x) = logb x é crescente se e somente se a base for maior que 1 (b > 1), e decrescente se a base for um valor maior que 0 e menor que 1 (0 < b < 1), assim: O domínio de uma função logarítmica reflete o comportamento da função mediante o domínio fixado, uma vez que não é possível calcular logaritmos de um número negativo existindo uma base positiva, qualquer base positiva sempre resulta em um valor, também positivo. Por essa razão, o domínio da função logaritmo é o 120 conjunto dos número reais positivos não nulos, ou seja, D(f) = ℝ, enquanto seu contradomínio resume-se aos reais positivos maiores que 0 (ℝ+ * ), logo, pode ser descrita como: A imagem da função logarítmica é o conjunto dos números reais, uma vez que, se 0 < a ≠ 1 e definida por f(x) = loga x, sabe-se que essa relação admite como função inversa g de ℝ → ℝ + * definida por g(x) = ax , caracterizando f(x) como bijetora, logo, Im = ℝ. O 0 de uma função logarítmica é um valor para o qual a função indicada por uma lei de formação se anula, ou seja, é necessário determinar o valor de x para que ocorra f(x) = 0. No caso específico de uma função logarítmica, para determinar sua raiz, é imprescindível conhecer e dominar a concepção de logaritmo, assim como as propriedades de potência de um número e logarítmicas. 121 10.4 Gráfico da função logarítmica A representação gráfica de uma função logarítmica indicada por loga x com 0 < a ≠ 1 tem as seguintes características: localiza-se à direita do eixo das ordenadas (eixo y), ou seja, x > 0; intersecta o eixo das abscissas no ponto (1,0), pois loga 1 = 0; é simétrico em relação à reta y = x do gráfico de g(x) = ax . Na figura abaixo é possível observar as representações gráficas de uma função logarítmica, dada a sua classificação como crescente ou decrescente, assim como a presença da propriedade simétrica quando comparado à reta bissetriz dos quadrantes ímpares. Exemplo: Construa o gráfico da função: 122 Para delinear um gráfico, sugere-se recorrer a uma tabela onde serão inseridos valores possíveis para x e calculado o respectivo valor de y: De posse desses pontos, basta encontrá-los no plano cartesiano, localizando corretamente os valores de x e seu respectivo correspondente y, chegando-se à seguinte curva: 123 10.5 Relação entre função exponencial e função logarítmica Conhecidas como funções inversas, as funções exponencial e logarítmica recebem essa característica porque, ao inverter a lei de formação de uma dada por f(x) =ax , f: ℝ → ℝ+ *, será encontrada uma função logarítmica cuja lei de formação é f(x) = loga x; outra característica é o fato de que o domínio e o contradomínio se invertem quando comparados à função exponencial. Essa característica é fácil de entender quando visualizada em uma representação gráfica, onde, ao ser traçada a reta bissetriz dos quadrantes ímpares (1° e 3°), é possível reconhecer que o gráfico da função exponencial é simétrico, ou seja, possui distâncias proporcionais ao gráfico indicativo da função logarítmica. Vamos construir o gráfico das funções f(x) = 3x e g(x) = log3 x, para isso, observe: 124 Observe que o par ordenado da tabela de f(x), por exemplo (1,3), quando inserido na lei de formação de g(x), equivale a log3 1 = 1, logo, origina o ponto (3,1). Outra análise relevante é quanto à disposição das funções f(x) e g(x), bem como a observação da propriedade simétrica referente à reta y = x, que corta os quadrantes ímpares do plano cartesiano. É possível notar essa característica na Figura 3, onde f(x) está indicado em vermelho, y = x, em verde, e g(x), em roxo. 125 10.6 Aplicações das funções exponencial e logarítmica A função exponencial pode seridentificada em situações em que ocorre um crescimento ou um decrescimento muito rápido. Inúmeras áreas do conhecimento usufruem das concepções das funções exponenciais para intermediar sua resolução, como engenharia, biologia, física, astronomia, finanças e outras. Escala Richter Criada em 1935 por Charles Richter e Beno Gutebberg, esse parâmetro é útil para mensurar a magnitude de um terremoto conforme a energia liberada em formato de ondas, calculadas por um aparelho denominado sismógrafo. Quanto maior a 126 categorização dessa escala, maior são os efeitos desse fenômeno. Assim, entre 4 e 4,9 vidros são quebrados, e pequenos objetos podem cair, enquanto que, na ocorrência de se chegar ao valor de 8 a 8,9, pontes podem ser destruídas, e a grande maioria das construções pode desabar. Contudo, qual é a relação entre a escala Richter e a matemática? Trata-se de uma escala logarítmica, e os graus de Richter são resultados de um logaritmo da medida das amplitudes das ondas sísmicas, a 100 km do epicentro dada por: onde: A = amplitude máxima A0 = amplitude de referência (é uma constante) Dada essa fórmula, é possível comparar as magnitudes M1 e M2 entre dois terremotos distintos em função da amplitude gerada pelas ondas e indicada por: Inicialmente, será denominado por M1 o terremoto do Chile, ou seja, M1 = 9, e por M2 o terremoto ocorrido na Nicarágua, ou seja, M2 = 6; de posse desses valores, vamos substituí-los na relação apresentada, logo: 127 Com esse resultado, é possível concluir que o terremoto ocorrido no Chile foi 1.000 vezes maior do que o que houve na Nicarágua. 128 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA BÁSICA: IEZZI, Gelson; MURAKAMI, Carlos. Fundamentos de matemática elementar: Conjuntos, funções. 8ª edição. São Paulo: Atual, 2004. Volume 1. IEZZI, Gelson; DOLCE, Osvaldo; MURAKAMI, Carlos. Fundamentos de matemática elementar: Logaritmos. 9ª edição. São Paulo: Atual, 2004. Volume 2. IEZZI, Gelson. Fundamentos de matemática elementar: Trigonometria. 8ª edição. São Paulo: Atual, 2004. Volume 3. IEZZI, G.; DOLCE, O.; MURAKAMI, C. Fundamentos de matemática elementar: 2: logaritmos. São Paulo: Atual, 2013. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ARAÚJO, L. M. M. Operações com números reais e intervalos numéricos. SAGAH, 2015. COSTA, K. L.; LIMA, D. P. de O.; VERAS, D. P. Matemática básica 1. − Fortaleza: UAB/IFCE, 2017. FAINGUELERNT, E. K.; NUNES, K. R. A. Matemática: prática pedagógicas para o ensino médio. Porto Alegre: Penso, 2012. FERREIRA, Rute Henrique da Silva. Função do segundo grau. SAGAH, 2018. Números reais. SAGAH, 2018. OLIVEIRA, Rafaela Rodrigues. Função exponencial e logarítmica. SAGAH, 2020. ROCHA, R. R. M. Sensibilização Para Existência dos Números Irracionais. Dissertação (Mestre em Educação em Ciências e Matemática). Instituto de Educação / Instituto Multidisciplinar, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ. 2018. ROGAWSKI, J.; ADAMS, C. Cálculo. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2018. v. 1. SANTIAGO, F. Números inteiros e indução matemática. SAGAH, 2020. 129 SANTOS, A. A. dos. Conceitos introdutórios à matemática financeira. SAGAH, 2019. SILVA, C. X.; BARRETO FILHO, B. Matemática: aula por aula. 2. ed. São Paulo: FTD, 2005. SILVEIRA, T. L. Números naturais: operações e algoritmos. SAGAH, 2018. SILVEIRA, Tiago Loyo. Variáveis matemáticas e função de primeiro grau. SAGAH, 2012.