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DJULIE ANDRADE 1 Conjunto de sinais e sintomas que resultam da incapacidade do TGI em utilizar os nutrientes da dieta (proteínas, carboidratos, gorduras, vitaminas e oligoelementos), seja por distúrbios nos processos de digestão ou nos processos de absorção. Absorção de proteínas Proteínas (polipeptídeos) tem digestão iniciada no estômago Pepsina Digestão finalizada no duodeno Tripsina e quimotripsina Pepsinogênio secretado pelas células das glândulas oxínticas da mucosa gástrica convertido em pepsina pelo ph ácido Tripsinogênio liberado no duodeno pelo suco pancreático convertido em tripsina pela enteroquinase (presente na borda em escova dos enterócitos duodenais) Tripsina converte quimotripsinogênio e tripsinogênio em quimotripsina e mais tripsina Essas enzimas fazem a proteólise tripeptídeos, dipeptídeos e aminoácidos absorvidos pela mucosa intestinal penetram nos enterócitos através de carreadores próprios Grupos de aminoácidos: Aminoácidos ácidos Aminoácidos básicos (cistina) Aminoácidos neutros (triptofano) A má absorção proteica não é um achado predominante nas síndromes disabsortivas Algumas condições hereditárias tem como característica a deficiência de carreadores específicos desses aminoácidos incapacidade de absorção intestinal + incapacidade concomitante de reabsorção renal Cistinúria: má absorção específica de aminoácidos básicos (cistina) nefrolitíase Doença de Hartnup: má absorção de aminoácidos neutros (triptofano) quadro semelhante à pelagra Deficiência de enteroquinase (rara): diarreia, déficit de crescimento e hipoalbuminemia Absorção de carboidratos Carboidratos complexos (polissacarídeos, amido – ex. amilose, amilopectina) oligossacarídeos dissacarídeos (maltose, lactose e sacarose) Ação das amilases salivar e pancreática Os dissacarídeos não conseguem ser absorvidos pela mucosa do TGI – precisam ser clivados em monossacarídeos Glicose, frutose, galactose – ação das dissacaridases (enzimas presentes na borda em escova – microvilos – do intestino delgado) Deficiência primária ou secundária das dissacaridases (ex. deficiência de lactase) principal mecanismo de má absorção de carboidratos Os dissacarídeos não absorvidos no delgado vão para o cólon sofrem fermentação bacteriana ácidos graxos de cadeia curta (acetato, propionato e butirato) formação de CO2, metano e H2 Má absorção de carboidratos fezes ácidas (ph < 5,5) + distensão abdominal + flatulência Ácidos graxos de cadeia curta são absorvidos pela mucosa colônica mecanismo de aproveitamento dos carboidratos não absorvidos no delgado Butirato é o principal nutriente para os enterócitos colônicos DJULIE ANDRADE 2 Absorção de gorduras Gorduras dietéticas em forma de TG geralmente (macromoléculas lipossolúveis) Emulsificação (mastigação + trabalho da musculatura gástrica) – facilitar o contato com as enzimas digestivas Lipólise: TG ácidos graxos e monoglicerídos – ação da lipase lingual, da lipase gástrica e lipase pancreática Lingual: RN Gástrica: digere 10-30% dos TG Pancreática: digestão do restante, só funciona bem em meio alcalino – lúmen duodenal Colipase auxilia a lipase pancreática – permite o contato dela com as microgotículas Digestão de lipídeos regulada por hormônios: Entrada de gordura no duodeno estimula a liberação de secretina pela mucosa duodenal – estimula a secreção pancreática Entrada de gordura no duodeno também estimula a liberação de colecistocinina – promove a contração da vesícula biliar e a expulsão da bile Formação de micelas – microagregados hidrossolúveis compostos por ácidos biliares + fosfolipídeos + colesterol + ácidos graxos + monoglicerídios única forma dos ácidos graxos e monoglicerídios alcançarem os microvilos dos enterócitos Sem os ácidos biliares, as micelas não se formam paciente desenvolve má absorção de lipídios esteatorreia à custa de ácidos graxos + diarreia secretória (efeito direto dos ácidos graxos na mucosa colônica) Circulação êntero-hepática de ácidos biliares é fundamental para a preservação de concentrações adequadas dessas substâncias no lúmen duodenal São reabsorvidos no íleo distal Devolvidos ao fígado pelo sistema porta Pequena quantidade perdida nas fezes é ressintetizada pelo fígado a partir do colesterol Doença de Crohn: lesa o íleo terminal deficiência de ácidos biliares na bile esteatorreia à custa de ácidos graxos Reesterificação dos ácidos graxos em TG no retículo endoplasmático dos enterócitos Formação de quilomícrons – microagregados que contem betalipoproteína, fosfolipídios, ésteres de colesterol e grande quantidade de TG » desordem genética, a betalipoproteinemia provoca intensa esteatorreia pela incapacidade de formação dos quilomícrons quilomícrons corrente linfática da mucosa intestinal corrente sanguínea » linfangiectasia intestinal impede esse processo esteatorreia TG de cadeia média (ácidos graxos de 8-12 carbonos) são absorvidos pelos enterócitos e sofrem hidrólise em ácidos graxos de cadeia média corrente sanguínea diretamente não há necessidade de formação de quilomícrons Absorção de vitaminas lipossolúveis ADEK: são absorvidas após formação de micelas com os ácidos biliares e levadas para a linfa junto com os quilomícrons Justifica a associação de algumas hipovitaminoses com esteatorreia Sítios de absorção e readaptação intestinal DJULIE ANDRADE 3 Quando porções do intestino são lesadas ou ressecadas, as remanescentes tendem a se adaptar de forma eficaz garantindo a absorção EXCETO a cobalamina (vit B12) e os ácidos biliares se a porção distal do íleo for lesada ou retirada, não tem mais absorção dessas substâncias anemia megaloblástica e esteatorreia Sinais e sintomas Fezes diarreicas: presença de gordura em excesso (esteatorreia) fezes ficam amareladas, fétidas, oleosas (brilhantes) e aderentes ao vaso sanitário e costumam boiar no vaso devido alto conteúdo de gás Maioria dos pacientes não apresentam essa clínica clássica devido aos mecanismos compensatórios Ex. doença celíaca: paciente oligossintomática – episódios de dor abdominal difusa pós-prandial + deficiência específica de nutrientes Esteatorrreia é decisivo para o diagnóstico de síndrome de má absorção Teste quantitativo de gordura fecal Maioria das vezes a comprovação laboratorial é desnecessária na esteatorreia Dosagem da quantidade de gordura presente nas fezes acumuladas em 72h, período no qual o paciente terá ingerido uma dieta rica em gorduras (100 gramas/dia) Em uso desta dieta, indivíduos normais excretam menos de 7 gramas de gordura/dia (> 7 gramas/dia = esteatorreia) Teste de difícil realização Observações: A ausência de gordura fecal não exclui síndrome disabsortiva Não tem valor em se estabelecer a gordura fecal se o peso fecal diário não for > 200g/dL Processos diarreicos em geral podem induzir, por si só, uma esteatorreia “secundária” leve (até 11 g/d) Teste qualitativo de gordura fecal Informa apenas a existência ou não de excesso grosseiro de gordura nas fezes Realizado por meio de exame microscópico corado pelo Sudan III sem determinar a quantidade Sua positivdidade justificaria a realização do teste quantitativo Pode ser realizado de 2 modos diferentes, usando duas lâminas de fezes: 1ª lâmina: antes do corante Sudan, adiciona 2 gostas de água e 2 gotas de álcool etílico detecção de TG 2ª lâmina: antes do corante, adicionar ácido acético detecção de ácidos graxos livres Ajuda na diferenciação entre causas digestivas e mal absortivas: ex. da 1ª lâmina – insuficiência pancreática exógena, pois tem TG não digeridos e 2ª lâmina – doenças do intestino delgado DJULIE ANDRADE 4 e na deficiência de ácidos biliares, pois tem ácidos graxos livres Teste de Sudan é barato, de fácil e rápida realização Teste da D-xilose urinária Distingue a má absorção causada por doenças do intestino delgado da decorrente de insuficiência pancreática exócrina Indivíduos normais: ingestão de 25g de D- xilose pelo menos 5g são excretados na urina após 5h Pacientes com lesão da mucosa do intestino proximal (onde a xilose é absorvida) tem uma importante de absorção da substância passa a não ser detectável na urina Não precisa das enzimas pancreáticas para ser absorvida insuficiência pancreática exócrina não interfere com sua captação pelo intestino níveis urinários normais em pacientes com síndrome de má absorção por doença pancreática Supercrescimento bacteriano também a absorção de xilose as bactérias catabolizam a substância na luz intestinal Testes de insuficiência pancreática exócrina Testes bioquímicos Teste de bentiromida: Betiromida: peptídeo sintético ligado ao ácido para-aminobenzoico PABA (ligação facilmente desfeita pela quimotripsina Marcador de insuficiência pancreática – avalia indiretamente a ação da quimotripsina Administração oral de bentiromida libera o PABA excretado na urina na forma de arilaminas Se em 6h após a administração oral de 500mg de bentiromida a excreção acumulada de arilaminas for < 50% da quantidade ingerida no paciente com síndrome disabsortiva diagnóstico de insuficiência pancreática exócrina No paciente com diarreia ou esteatorreia com uma resposta normal ao teste exclui a doença pancreática como causa Teste de pancreolauril: Ingestão do dilaurato de fluorosceína Se o pâncreas exócrino tiver funcionando, haverá liberação luminal, absorção e excreção urinária de fluoresceína (colhida durante 3 dias) Quimiotripsina fecal e elastase fecal: Quimiotripsina fecal: baixa sensibilidade – fica alterado em casos mais avançados Substituído pela dosagem de elastase – acurácia de 95% Teste da secretina Cateter no duodeno perto da saída do canal pancreático Coleta direta das secreções pancreática e dosagem de amilase, lipase, tripsina e bicarbonato O pâncreas é estimulado por uma injeção de secretina e/ou colecistoquina antes da coleta A injeção de secretina estimula a liberação de bicarbonato A injeção de colecistoquinina estimula a liberação de tripsina, amilase e lipase É o mais sensível para diagnosticar a insuficiência exócrina do pâncreas Teste caro, de difícil realização Teste de Schilling (B12) Determinar se há ou não má absorção intestinal de B12 Se feito em etapas indica a origem da má absorção Complexo e pouco disponível Administração de 1mcg de cianocobalamina marcada + 1000mcg de não marcada IM se após administração de B12 marcada oral for identificada na DJULIE ANDRADE 5 urina significa que foi absorvida normalmente outra causa para deficiência de B12 Se não detectar B12 marcada na urina distúrbio intestinal alterando a absorção da vitamina Causas básicas de má absorção intestinal de vitamina B12: Fases do teste de Shcilling: B12 marcada ligada a fator intrínseco: se for B12 marcada detectada na urina = anemia perniciosa B12 marcada oral junto com extrato pancreático: se for detectada = insuficiência pancreática exógena Supercrescimento bacteriano: suspeitar quando nenhuma das etapas anteriores forem satisfatórias » Iniciar tratamento com metronidazol (250mg de 8/8h) + cefalexina (250mg de 6/6h) » Repetir o teste com B12 oral marcada depois de 4 dias de atb Persistência de má absorção: suspeitar de lesão ileal Se teste normal: Testes de Exalação (respiratórios) Teste de exalação de Xilose Marcada (C14-xilose) É um teste bastante sensível e específico para o diagnóstico de supercrescimento bacteriano intestinal e baseia-se no fato de que Gram-negativos entéricos são capazes de catabolizar a xilose, liberando CO2. Teste de exalação do Hidrogênio (H2) Supercrescimento bacteriano (Teste da Lactulose): os Gram-negativos entéricos fermentam carboidratos não metabolizados pelo homem (lactulose), produzindo hidrogênio, que pode ser medido no teste. Intolerância à Lactose (Teste da Lactose): a lactose é um dissacarídeo e, não consegue ser diretamente absorvida pela mucosa intestinal → necessita da ação de dissacaridases, como a lactase. Quando há lesão do epitélio intestinal (perda da ação das dissacaridases), a lactose fica “perdida” no delgado → diarreia osmótica. Esse teste, após ingestão de lactose é utilizado para determinar a deficiência de lactase e se baseia no fato de que a lactose, quando não absorvida, fica sujeita à ação das bactérias intestinais, liberando H2 no ar exalado. Cultura do delgado Cultura quantitativa do fluido aspirado do delgado → exame “padrão-ouro” para o diagnóstico do supercrescimento bacteriano. O intestino é cateterizado após jejum noturno (endoscopia ou sonda radiopaca) e, uma amostra é colhida e levada ao laboratório. Em indivíduos normais, as culturas raramente ultrapassam 104 UFC/ml no jejuno, ou 107 UFC/ml no íleo. Contagens > 105 UFC/ml no aspirado jejunal já denotam hiperproliferação bacteriana, embora esta condição, corriqueiramente, determine contagens de 106 a 109 UFC/ml. DJULIE ANDRADE 6 Resultados falso-negativos podem ocorrer quando o crescimento bacteriano se instala de forma localizada no intestino. Estudos radiológicos Trânsito de delgado realizado com radiografias obtidas após ingestão do sulfato de bário (exame baritado). Enteróclise administração do bário por uma sonda no do duodeno distal → avaliação do trânsito do delgado → é de maior acurácia. Entero-TC e entero-RM atualmente também é possível realizar o trânsito de delgado por meio de TC com contraste oral e venoso, ou mesmo RM. As informações úteis que os exames de imagem podem fornecer em relação à investigação da síndrome de má absorção são: Detecção de calcificações pancreáticas (evidenciando pancreatite crônica). Achado de condições predisponentes para supercrescimento bacteriano (ex.: alça cega cirúrgica, diverticulose do delgado e semioclusão intestinal). Detecção de lesões da mucosa (muitas vezes mostrando um caráter salteado característico de doença de Crohn). Obs.: na investigação de um paciente com diarreia crônica, a presença de floculação do bário, em estudo contrastado do delgado, é bastante sugestiva de síndrome disabsortiva. Colangiopancreatografia Retrógrada Endoscópica (CPRE): pode fornecer indícios de pancreatite crônica ao demonstrar irregularidades no ducto pancreático principal. Endoscopia e biópsia do delgado A biópsia do delgado é fundamental para o diagnóstico de muitas das condições intestinais que cursam com síndrome disabsortiva. Endoscopia digestiva alta (EDA) Maneira mais simples e disponível para obter biópsia do delgado. O endoscopista faz uma inspeção na porção distal do duodeno, que pode apresentar ulcerações (linfoma), aspecto em pedra de calçamento (doença de Crohn) ou atrofia (doença celíaca). Rotineiramen te, são obtidas quatro biópsias a fórcipe em locais diferentes após a ampola de Vater (duodeno distal). DJULIE ANDRADE 7 ileocolonoscopia com biópsia colônica e do íleo terminal é o melhor exame para o diagnóstico da doença de Crohn. EDA + ileocolonoscopia → maioria das doenças que da mucosa intestinal pode ser diagnosticada com biópsia. A biópsia de delgado também pode ser obtida através de uma cápsula perioral – cápsula de Watson ou Crosby-Kugler – que é acoplada a uma sonda ou pinça durante a EDA. Cápsula endoscópica wireless pode ajudar no diagnóstico diferencial das doenças do delgado → paciente deglute uma cápsula descartável que possui um chip para transmitir imagens coloridas a um receptor externo. Testes parasitológicos Sempre devem ser solicitados. Coletam-se pelo menos 3 amostras de EPF em dias consecutivos, podendo-se acrescentar a pesquisa de antígenos de Giardia e Ameba. Exames de sangue: Um painel completo de exames de sangue também deve ser solicitado, com dosagem de hemograma, hepatograma, lipidograma, função renal, bioquímica sérica, cinética de ferro e vitaminas (incluindo B12 e vit. D). A hipocolesterolemia pode acompanhar a má absorção de gorduras, e a hipoalbuminemia grave (< 2,5 g/dl) acompanha a enteropatia perdedora de proteínas. Doença autoimune de caráter permanente Só aparece em indivíduos geneticamente predispostos, desencadeada pela exposição ao glúten na dieta Epidemiologia Predominantemente indivíduos brancos de origem caucasiana Proporção de 1:100, mas apenas 10% recebe o diagnóstico Fisiopatologia Glúten parcialmente digerido na luz do tubo digestivo libera a gliadina (peptídio rico em resíduos de glutamina) Gliadina se liga à transglutaminase tecidual (tTG) que estão nos enterócitos da mucosa do delgado forma um complexo macromolecular Esse complexo acaba sendo reconhecido como antígeno por células apresentadoras que possuem alelos do complexo principal de histocompatibilidade (MHC) classe II: HLA-DQ2 e HLA-DQ8 As células apresentadoras de antígeno pode estimular linfócitos T a montar resposta imune adaptativa contra esse “neoantígeno” recruta resposta celular e resposta humoral destruição da mucosa intestinal (infiltração linfocítica + produção de autoanticorpos contra o glúten, gliadina e tTG) DJULIE ANDRADE 8 Manifestações Clínicas Intensidade dos sinais e sintomas depende da extensão do acometimento intestinal Quanto maior o segmento de tubo digestivo afetado, maior a probabilidade de SMA intestinal “completa” Distensão abdominal Diarreia crônica + esteatorreia Déficit pondero-estatural Carência de nutrientes: Fe, ácido fólico e vit B12 (anemia), cálcio e vit D (doença óssea), vit K (coagulopatia), vit A (hiperceratose cutânea), vit E (neuropatia) Forma grave de apresentação é típica de crianças < 2 anos Em crianças e adultos, geralmente não ocorre SMA “completa”: Diarreia crônica Dispepsia Flatulência Perda ponderal Podem ser assintomáticos do ponto de vista gastrointestinal (manifestações atípicas extraintestinais): » Fadiga » Depressão » Anemia ferropriva refratária à reposição oral de Fe » Osteopenia/osteoporose » Baixa estatura » Atraso na puberdade » Amenorreia » Infertilidade » Dermatite herpetiforme – considerada forma de doença celíaca da pele – menos de 10% desenvolve, porém todos que desenvolvem são celíacos. Rash papulovesicular pruriginoso que se distribui em regiões extensoras das extremidades, tronco, couro cabeludo e pescoço Exames Complementares Exames gerais Lesões mucosas com predomínio proximal: má absorção de Fe e ácido fólico Lesões que atingem o íleo: má absorção de B12 Ferropenia, acompanhada ou não de níveis séricos de folato e B12 Anemia, hipocrômica e microcítica geralmente Alargamento do TAP/INR: má absorção de vit K Hipocalcemia e hipovitaminose D: má absorção de cálcio e vit D Comumente acompanha de fosfatase alcalina – indica existência de doença óssea Há algumas recomendações de densitometria óssea para todos os pacientes após o diagnóstico osteopenia/osteoporose Vit A e E Hipoalbuminemia: má absorção de proteínas Na vigência de diarreia importante: acidose metabólica hiperclorêmica e hipocalêmica Perda intestinal de HCO3 e K 40% dos celíacos apresentam discreto de aminotransferases Sorologia DJULIE ANDRADE 9 Pesquisa de autoanticorpos: todo paciente com suspeita de doença celíaca Teste de escolha: IgA anti- transglutaminase tecidual (IgA anti-tTG) 95% de sensibilidade e especificidade Quando negativo e suspeita permanece grande, é indicado fazer a dosagem de IgA total no sangue 3% dos celíacos possuem deficiência seletiva de IgA Solicitar IgG anti-gliadina “deaminada” (IgG anti-DGP) Outros autoanticorpos: antigliadina e o antiendomísio (ambos podem ser IgA ou IgG): não é muito indicado devido à sensibilidade e especificidade e falta de padronização nos laboratórios Suas dosagens seriadas servem para verificar a adesão terapêutica: devem tornar indetectáveis após 3-12 meses de dieta sem glúten Endoscopia Digestiva Alta Sempre realizada na suspeita de doença celíaca em pacientes com sorologia positiva Realizar biópsia da mucosa duodenal na porção proximal (bulbo) e distal (após a papila de Vater) Alterações esperadas em doença celíaca em atividade: Macroscopia: atrofia e aplainamento das dobras mucosas e vilosidades Microscopia: infiltração linfocítica no epitélio e na lâmina própria, com atrofia das vilosidades e hiperplasia das criptas OS ACHADOS ENDOSCÓPICOS E HISTOPATOLÓGICOS NÃO SÃO PATOGNOMÔNICOS DA DOENÇA CELÍACA! O que confirma em definitivo o diagnóstico é a reversão do quadro após início de dieta sem glúten. Diagnóstico Não é necessário repetir a EDA para demonstrar a reversão do quadro após início do tratamento Não é indicado fazer 3ª biópsia: ex após 2ª biópsia para confirmar a reversão, realizar a 3ª com reintrodução do glúten Tratamento Suspensão do glúten na dieta DJULIE ANDRADE 10 Responde ao tratamento imunossupressor mesmo que o paciente continue sendo exposto ao glúten Fase inicial: importante limitar ingestão de laticínios Frequente coexistência de intolerância à lactose transitória – mucosa intestinal atrofiada deficiência quantitativa de lactase Reposição de nutrientes: Fe, ácido fólico, cálcio, vit ADEK e B12 Conforme a necessidade e até que a capacidade absortiva do intestinal seja plenamente restabelecida Pacientes com osteoporose devem receber a vit D, cálcio e bifosfonados (alendronato) Complicações e prognóstico Quando faz a dieta corretamente as queixas tendem a desaparecer em poucas semanas – prognóstico excelente se conseguir manter a dieta 5% dos pacientes são refratários à dieta, podem ser divididos em 2 grupos de acordo com o fenótipo dos linfócitos que infiltram a mucosa: Tipo 1 ou com linfócitos policlonais » Indicação de ttm com imunossupressor » Inicialmente glicocorticoide » Pode ser necessária manutenção com drogas poupadoras de corticoide em longo prazo – ex azatioprina Tipo 2 ou com linfócitos monoclonais » Linfócitos tem marcadores CD3 e CD8 » Mesmo rearranjo do gene do receptor de célula T » Corticoterapia também está indicada – resposta costuma ser ruim – 50% degenera para um linfoma T intestinal nos próximos 5 anos » Prognóstico ruim Espru colágeno: pode complicar a doença celíaca Ocorre deposição do colágeno abaixo da membrana basal do epitélio da mucosa intestinal bloqueio da absorção de nutrientes É a causa mais comum de má absorção seletiva de carboidratos. Pode ser primária ou secundária. Deficiência primária: mais comum em negros; deficiência de lactase (intolerância à lactose) é a causa mais comum de diarreia crônica no mundo. Deficiência secundária: qualquer doença que cause lesão dos enterócitos. Manifestações: intolerância ao leite, com sensação de plenitude, cólicas abdominais, flatulência e diarreia (sem esteatorreia, se a deficiência for primária), já que a lactose deixa de ser transformada em glicose + galactose, permanecendo na luz intestinal, onde é fermentada pelas bactérias (produzindo gás) e onde age como substância osmótica (justificando diarreia). Pode não se manifestar antes da vida adulta, pois há uma queda geneticamente determinada na expressão intestinal de lactase com o envelhecimento. As fezes possuem pH < 5,5 e um gap osmolar alto (diarreia osmótica). Diagnóstico: anamnese + teste de exalação de lactose-H2. A biópsia do intestino delgado é normal na deficiência primária de lactase. Tratamento: abstinência de laticínios, ou ingesta de uma ou duas cápsulas de lactase, quando for ingeri-los + suplementação de cálcio sob a forma de carbonato de cálcio (a redução da ingestão de leite pode gerar deficiência de cálcio). DJULIE ANDRADE 11 Em condições normais, a colonização do delgado proximal é escassa, diferente do cólon. Motilidade e acidez são os fatores principais que mantêm baixo o número de bactérias no intestino delgado proximal. Numa síndrome de estase, essas microbiotas passam a se assemelhar. Causas mais comuns: Cirúrgicas: Billroth II, anastomoses terminolaterais. Anatômicas: diverticulose do delgado, fístula jejunocólica, gastrocólica, estenose do delgado (todas condições comuns na doença de Crohn). Funcionais: enteropatia diabética, esclerodermia, pseudo-obstrução intestinal idiopática, enterite actínica. A má absorção nesses casos é multifatorial: Desconjugação dos ácidos biliares por germes anaeróbicos: ácidos biliares não conjugados não exercem efeito micelar. Queda do pH intraluminal com inativação da lipase. Lesões dos enterócitos por toxinas secretadas pela microbiota excessiva. Competição das bactérias pelos alimentos ingeridos, especialmente a vitamina B12. O supercrescimento bacteriano pode estar associado à síndrome do intestino irritável. Marcos clínicos: Há má absorção de cobalamina (B12), que não pode ser corrigida pela administração de fator intrínseco → resulta da captação desta vitamina pelas próprias bactérias. Aumento dos níveis de ácido fólico e vitamina K. » As próprias bactérias produzem esses nutrientes, que acabam sendo absorvidos pelo paciente. Diagnóstico: testes de exalação. Tratamento: Antibioticoterapia. » Esquema de escolha: associação de cefalexina e metronidazol. » Como opções: ciprofloxacina, norfloxacina, amoxicilina/clavulanato, rifamixina ou cefalexina + sulmetoxazol/trimetoprim. » Para que o esquema escolhido seja considerado eficaz, é preciso que a diarreia seja interrompida e a absorção de gorduras e cobalamina retomada por completo em até 7 dias. » Na maioria dos pacientes, uma semana de tratamento é suficiente, enquanto para outros é necessário tratamento intermitente (uma semana a cada quatro). » Deve-se evitar o uso ininterrupto de antimicrobianos, a fim de evitar a seleção de germes resistentes. Se houver uma causa cirurgicamente reversível, esta deve ser tentada. Reposição de cobalamina, vitamina D e cálcio. Doença de Crohn, trauma abdominal e isquemia enteromesentérica são as principais causas de ressecção intestinal extensa que resultam na síndrome do intestino curto. Mecanismos de má absorção após ressecção de intestino delgado: diminuição da área da superfície absortiva, diminuição da concentração luminal de sais biliares, trânsito rápido e supercrescimento bacteriano. Quando até 40-50% do delgado é removido, as porções remanescentes costumam se adaptar sem maiores problemas (após um ano, a capacidade absortiva do restante do intestino pode aumentar em até 4x). Ressecções acima desse limiar comprometem o equilíbrio nutricional → DJULIE ANDRADE 12 necessitam de tratamento de suporte (antidiarreicos e octreotide). Tratamento: Pode ser feito através do uso de antidiarreicos (ex.: loperamida 2-4 mg 2-3x dia) e octreotide (um análogo da somatostatina que reduz a motilidade e a secreção intestinal). Os inibidores da bomba de prótons também são rotineiramente utilizados, pois a hipersecreção gástrica de ácido é comum nesses doentes. Se houver menos de 100-200 cm de jejuno, a Nutrição Parenteral (NP) passa a ser imprescindível para a sobrevivência. O teduglutide é um análogo do GLP-2 (glucagon-like peptide) capaz de estimular o crescimento e a absorção do intestino delgado, reduzindo a necessidade de NP. A única opção para os pacientes que evoluem com complicações recorrentes ou incontornáveis da NP é o transplante de intestino delgado, cuja taxa de sobrevida do enxerto após cinco anos gira em torno de 40%. Definição A Desnutrição primária é causada pela falta de acesso ao consumo adequado de nutrientes e costuma afetar crianças e idosos que não tem acesso aos nutrientes. Pode resultar de jejuns ou anorexia nervosa. Pode ser devido a maus tratos. As alterações funcionais e estruturais, geralmente, são reversíveis pela terapia nutricional mas a logo prazo, podem se tornar irreversíveis e refletir na deficiência de crescimento. Kwashiorkor. Marasmo. Nanismo nutricional. Perda de massa corporal associada à doença e/ ou a ferimentos. Inanição → forma aguda grave. A DPC secundária é causada por doenças que alteram o apetite, digestão, absorção ou metabolismo dos nutrientes. Distúrbios que afetam a função gastrointestinal: distúrbios da digestão (insuficiência pancreática), absorção (enterite, enteropatia) ou transporte linfático dos nutrientes (fibrose retroperitoneal, doença de Milroy). Distúrbios de emaciação: aids, câncer, DPOC e falência renal e cardíaca → o catabolismo causa liberação excessiva de citocinas, resultando em desnutrição por anorexia e caquexia (atrofia muscular e de gordura). Condições que aumentam a demanda metabólicas: infecções, hipertireoidismo, feocromocitoma, queimaduras, traumas, cirurgias e doenças graves. Alterações pré-mucosas (má digestão), mucosas (má absorção) ou pós-mucosas (obstrução linfática). DJULIE ANDRADE 13 Estomatite: inflamação e ruptura da mucosa oral (lado interno dos lábios, bochecha ou língua); Causas: vírus, fungos, trauma mecânico, produtos irritantes, estresse emocional, fatores hormonais, alergias, alimentos ácidos, deficiência nutricionais; Manifestações: » Herpética aguda: vesículas pequenas e claras em erupção, únicas ou múltiplas; » Candidíase: placas brancas elevadas e úlceras; » Aftosa: lesão circunscrita, centro branco com anel avermelhado. Anomalias congênitas: atresia esofágica, fístula traqueoesofágica: sobrevivência de 90% com o tratamento; Disfagia: dificuldade de engolir por problemas neuromusculares ou estruturais; Estreitamento do esôfago, ↓produção de saliva, fraqueza das estruturas musculares que empurram o bolo alimentar ou interrupção das redes neurais que coordenam o mecanismo da deglutição; Causas: lesões no SNC (AVE em nervos V, IX, X e XII), câncer de esôfago, estenoses de processos fibróticos (esclerodermia), acalasia (interrupção de estímulos neurais → esfíncter esofágico inferior não se relaxa), megaesôfago chagásico (destruição dos plexos nervosos intramurais). Divertículo esofágico: herniação da parede devido a enfraquecimento muscular; Lacerações de Mallory-Weiss: lacerações longitudinais na junção esofagogástrica, após episódios de vômitos profusos; Hérnia de hiato: protrusão / herniação do estômago através do hiato esofágico do diafragma; Reflexo gastroesofágico: movimento retrógrado do conteúdo gástrico p/ o esôfago → pirose ou azia. Gastrite: inflamação da mucosa → vômitos, dor e hemorragia, ulcerações, pirose; Úlcera péptica: escavação na mucosa do estômago, duodeno ou esôfago; evolução de gastrite, duodenite ou esofagite; Relacionada à infecção por H. pylori, uso de AINEs, HCl e gastrina elevados; Causa náuseas, anorexia e vômitos. Síndrome de Zollinger-Ellison: tumor secretor de gastrina / gastrinoma → DRGE ou doença ulcerosa péptica grave; Úlceras de estresse: se desenvolvem nos períodos de estresse significativo; Câncer de estômago. Doença de Crohn: doença inflamatória crônica em toda a espessura da mucosa intestinal, em qualquer segmento do sistema digestório (íleo terminal e ceco); Manifestações: dor abdominal em QID, cólica após refeições, diarreia crônica, espasmo, perda de peso, anorexia, anemia secundária Desnutrição e má absorção são possíveis complicações. Enterocolite infecciosa: vírus, bactérias e protozoários → infecção, diarreia, alterações ulcerativas e inflamatórias. Síndrome do cólon irritável: distúrbio funcional; sintomas intestinais crônicos não explicáveis por anormalidades estruturais ou bioquímicas → dor abdominal, flatulência, eructações, náuseas, anorexia, constipação ou diarreia, ansiedade e depressão; DJULIE ANDRADE 14 Retocolite ulcerativa: doença inflamatória e ulcerativa crônica do cólon e do reto (camadas mucosa e submucosa); Manifestações: diarreia (pode conter pus, sangue e muco), dor abdominal, tenesmo, sangramento retal, anorexia e perda de peso, vômitos e desidratação. Doença diverticular: herniação da mucosa através da camada muscular; → diverticulite. ❖ FENACELBRA (Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil) Foi criada em 27 de agosto de 2006. É uma associação civil sem fins econômicos e sem vínculo político ou religioso que hoje congrega as Associações de Celíacos existentes no Brasil, tendo por finalidade a integração, coordenação e representação, a nível nacional e internacional, das entidades filiadas voltadas ao atendimento, orientação e a defesa dos direitos e interesses dos Celíacos, que são as pessoas diagnosticadas com Doença Celíaca e desordens relacionadas ao glúten. As ACELBRAs também são entidades civis sem fins econômicos e sem vínculo político ou religioso e têm como objetivos: o Divulgar a doença celíaca e as desordens relacionadas ao glúten em nosso país, para que a informação propicie mais conscientização dos Gestores dos Organismos Públicos, atualização dos Profissionais de Saúde, tanto da Rede Pública quanto da Privada e o devido esclarecimento à Sociedade Civil no que diz respeito a acesso ao diagnóstico ao tratamento que é dieta sem glúten ao longo da vida e uma alimentação e nutrição adequada. ❖ Rotulagem de alimentos A Resolução RDC N.40 de 2002, revogada em 2018 padronizou a declaração sobre a presença de glúten nos rótulos de alimentos e bebidas embalados. Lei Federal 10.674/2003: obriga que os produtos alimentícios comercializados, informem sobre a presença de glúten como medida preventiva e de controle da doença celíaca. ❖ Medicamentos Resolução RDC Nº 137, de 29 de maio de 2003. Medicamentos cuja formulação exija advertências específicas deverão fazer constá- las em suas bulas e embalagens, obrigatoriamente, com dimensões que permitam fácil leitura, por exemplo: "Atenção portadores de Doença Celíaca ou Síndrome Celíaca: contém Glúten". "Atenção: este medicamento contém Glúten e, portanto, é contraindicado para portadores de Doença Celíaca ou Síndrome Celíaca”. ❖ Programa Nacional de Alimentação Escolar Resolução do FNDE Nº 26/2013 (PNAE) Os cardápios deverão atender aos alunos com necessidades nutricionais específicas, tais como doença celíaca, diabetes, hipertensão, anemias, alergias e intolerâncias alimentares, dentre outras. ❖ Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) As empresas beneficiárias deverão fornecer aos trabalhadores portadores de doenças relacionadas à alimentação e nutrição, devidamente diagnosticadas, refeições adequadas e condições amoldadas ao PAT, para tratamento de suas patologias, devendo ser realizada avaliação nutricional periódica destes trabalhadores.
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