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1 AV1 – Infectologia – Prof. Cristiane Lamas – Fernanda Pereira - 5º período – 2021.2 17/08/2021 Tétano Doença neurológica infecciosa aguda não contagiosa, prevenível por vacina, causada pela ação de exotoxinas produzidas pelo Clostridium tetani (C. tetani), que provocam um estado de hiperexcitabilidade do sistema nervoso central. Caracterizada por hipertonia e espasmos musculares, causada pela tetanospasmina, potente toxina elaborada pela C. tetani. O Clostridium vive no intestino de diversos animais. Bastonete Gram positivo, anaeróbio. O esporo tem a forma de uma raquete de tênis. O esporo é o que vai contaminar os ambientes. Não se utiliza Gram e cultura para diagnóstico difícil de cultivar anaeróbios. Por isso, não têm sorologia. Etiologia Clostridium tetani é um bastonete Gram positivo anaeróbico, móvel, que produz um esporo terminal, assemelhando-se a uma raquete de tênis. Está presente no intestino de vários animais, inclusive no homem, sendo de distribuição ubíqua. Epidemiologia Os esporos do tétano estão distribuídos amplamente no solo, e um indivíduo não imune pode adquirir a doença pela contaminação de um ferimento por solo. Os esporos podem sobreviver no ambiente durante anos e são resistentes à fervura por 20 minutos e a vários desinfetantes. As células vegetativas, contudo, são facilmente inativadas e susceptíveis a vários antibióticos. São elas que produzem a tetanospasmina. A maior parte dos casos de tétano ocorre após injúria penetrante aguda, que pode ocorrer em ambiente doméstico ou fora de casa. A lesão pode ser de monta ou passar despercebida. Afecções crônicas como úlceras de MMII podem ser a porta de entrada. O tétano pode também estar associado a queimaduras, uso de drogas injetáveis, infecções do ouvido médio, feridas cirúrgicas e abortamento. Lesões que podem participar despercebidas: lesões ungueais. Desinfetantes: álcool 70%, clorexidina, hipoclorito, amônio quaternário Protótipo de objeto perfurante tetanogênico: prego enferrujado. Ocupações tetanogênicas: construção civil, população rural. Situações tetanogênicas: jardineiro, pedreiro, acidente com bicicletas, ferreiros. Lembrar que a forma vegetativa é anaeróbia, a forma de esporo é resistente. Idosos são mais propensos ao tétano, por não terem em dia as doses de reforço, embora jovens, principalmente do sexo masculino, exponham-se mais ao risco de ferimentos tetanogênicos. Feridas tetanogênicas costumam sangrar. O tétano neonatal (umbilical) está associado à ausência de níveis de anticorpos protetores na mãe e ao uso de curativos contaminados no coto umbilical da criança. Observa-se esse declínio da incidência acidental do tétano no período de 1982-2003, devido às ações de vacinação. Tipos de contaminação: tétano acidental e tétano neonatal. Patogenia Há contaminação de feridas por esporos do C. tetani (evento frequente). Não há tantos casos de tétano porque têm anticorpos contra. Fatores locais (tecido desvitalizado, presença de corpo estranho e infecção ativa por outros microorganismos, com consequente anaerobiose ) propiciam a germinação de esporos e a produção da toxina. Mecanismo de ação da tetanospasmina: A toxina tetânica (tetanospasmina) é um polipeptídeo; liga- se a terminação de neurônios periféricos e é transportada retrogradamente através do axônio até o corpo do neurônio do tronco cerebral e da medula espinhal. Migra então através das sinapses para os terminais pré- sinápticos onde bloqueia a liberação de neuromediadores Tétano e raiva 2 AV1 – Infectologia – Prof. Cristiane Lamas – Fernanda Pereira - 5º período – 2021.2 inibitórios (GABA e glicina) por interferir na proteína que funciona críticamente para liberar a vesícula sináptica. O bloqueio de neuromediadores inibitórios leva a desinibição não controlada do neurônio, levando a espasmo. A perda da inibição dos neurônios simpáticos pré- ganglionares na substância cinzenta da medula espinhal leva a hiperatividade simpática e a altos níveis de catecolaminas. Se o transporte neuronal da toxina é semelhante em todos os nervos, os mais curtos serão afetados antes dos mais longos, como se vê na sequência de acometimento de cabeça, tronco e membros no tétano generalizado. O tétano localizado resulta do acometimento local dos nervos Clínica : período de incubação Usualmente é de 5 a 15 dias O tempo mediano é 7 dias; 15% dos casos ocorre em menos de 3 dias e 10% após 14 dias. Quanto mais curto o período de incubação, maior a gravidade do tétano. A primeira manifestação que o paciente nota é a dificuldade em abrir a boca por hipertonia do masseter ( trismo, “lockjaw”). Ao mesmo tempo ou logo a seguir, nota rigidez dos músculos do pescoço, dos ombros e das costas, com dor e disfagia. Segue a hipertonia da musculatura abdominal e dos membros, sendo mãos e pés relativamente poupados. Fatores que alteram o período de incubação: inóculo e dos anticorpos que a pessoa têm. Clínica do tétano generalizado O “riso sardônico” é a contração mantida da musculatura facial; Opistótono é o arqueamento das costas por hipertonia dos músculos (arqueamento extremo por rigidez paravertebral); Alguns pacientes têm espasmos violentos, generalizados e dolorosos que podem causar hipoventilação e cianose Pode haver hiperreflexia Forma grave: rigidez muscular e espasmos generalizados frequentes; pode ser complicada por disautonomia Forma moderada: rigidez, com trismo, disfagia e espasmos Forma leve: rigidez com pouco ou nenhum espasmo O nível de consciência está preservado. Afeta o SNP, não afeta o SNC. Pode afetar o SNA. Doença totalmente reversível. Complicações Insuficiência respiratória por apneia ou laringoespasmo (hipoventilação) Fraturas ósseas Pneumonia Rutura muscular Rabdomiólise Escaras de decúbito Embolia pulmonar Tétano neonatal Também conhecido como mal do sétimo dia, referindo o período de incubação do C. tetani Usualmente é uma forma generalizada Decorre do tratamento séptico do cordão umbilical de filho de mãe não adequadamente imunizada. Manifesta-se em 2 semanas com alimentação inadequada, rigidez e espasmos. Fatal se não tratado. Diagnóstico É clínico Colher a história de imunização O isolamento de C.tetani da ferida não é diagnóstico A vacinação na grávida faz parte do pré natal. Os anticorpos são passados para o bêbê via placenta, protegendo-o. Objetivos do tratamento Eliminar o foco de produção da toxina. Neutralizar a toxina já liberada. Evitar fatores desencadeantes das contrações. Não mexer muito no paciente. Prover suporte (principalmente respiratório) às funções vitais. Colocar o paciente em ventilação mecânica. Tratamento Idealmente o paciente com espasmos deve ser internado em centro de tratamento intensivo O ambiente deve ser calmo, à meia luz, silencioso. Cuidados locais e antibioticoterapia Desbridar a ferida e remover corpo estranho 3 AV1 – Infectologia – Prof. Cristiane Lamas – Fernanda Pereira - 5º período – 2021.2 O antibiótico é usado para eliminar as formas vegetativas produtoras de toxina Penicilina cristalina 10 a 12 mUI/dia (ampicilina, amoxicilina+clavulanato endovenoso) ou metronidazol 500 mg 6/6h ou 1 g 12/12 h. Cuidados com a via respiratória Traqueostomia e ventilação mecânica podem ser necessárias pela hipoventilação e sedação iatrogênica excessivas e para evitar a broncoaspiração em pacientes com trismo e disfagia. - Evite que o paciente consiga morde o tubo. Realizar precocemente (24h) no tétano moderado a grave. A sedação excessiva pode trazer riscos aos pacientes. Diazepam - depressão respiratória Controle das contrações Quando não há resposta adequada aos benzodiazepínicos, usar agentes paralisantes (e ventilação mecânica!!!!) Propofol pode ser usado mas é caro; MgSo4 pode ser usado para os espasmos Fentanil para analgesia Drogas necessáriaspara intubação Analgésico: fentanil Bloqueador neuromuscular: rocurônio/ succinilcolina Hipnótico: midazolam/ propofol Anestésico local: lidocaína 2% sem vasoconstrictor – x1 Recuperação Baclofeno e dantroleno podem ser usados por via oral (relaxantes periféricos) Fisioterapia Imunoglobulina anti-tetânica Administrada para neutralizar a toxina tetânica circulante É aconselhável administrar Ig anti- tetânica antes de abordar o foco Doses adicionais são desnecessárias porque a meia vida da imunoglobulina é longa Disautonomia Labetalol, esmolol, clonidina ou morfina para hiperatividade simpática Expansão de volume e uso de vasopressores podem ser necessários para tratar hipotensão e bradicardia Outras medidas de suporte Manter o equilíbrio hidro-eletrolítico Nutrição enteral ( se não houver íleo) Fisioterapia Heparina profilática Evitar sangramento do TGI: anti H2, inibidor da bomba Tratamento de infecções intercorrentes Prevenção de escaras de decúbito Tétano é imunoprevenível!! 2,4,6 meses reforço aos 18 meses 4-6 anos de idade 14-16 anos Prevenção Imunização ativa: a vacina antitetânica deve ser administrada a todos os adultos não imunes, semi- imunes e aqueles que estão se recuperando do tétano A série primária em adultos é de 3 doses, com intervalo mínimo de 30 dias entre elas. Preferência pela dT. O reforço é feito a cada 10 anos. Abordagem de feridas Imunização passiva (imunoglobulina ou soro anti-tetânico) Vacinação O soro anti-tetânico é feito essencialmente para animais. A imunização passiva para humanos é feita com a imunoglobulina. 4 AV1 – Infectologia – Prof. Cristiane Lamas – Fernanda Pereira - 5º período – 2021.2 O soro se aplica no glúteo, no vastolateral da coxa e deltoide A vacina se aplica no deltóide, apenas. Prognóstico A letalidade, com suporte em terapia intensiva, é de 10% em países desenvolvidos; 25% em países em desenvolvimento Era, anteriormente, de 60% A morte se dá por hiperatividade simpática ou super- infecção. A duração do tétano é de 4 a 6 semanas; a hipertonia e espasmos menores podem durar meses mas a recuperação usualmente é completa. Raiva Doença imunoprevenível Histórico • As primeiras referências conhecidas datam do século X aC, na Mesopotâmia: – ... “ se um cão está louco e as autoridades informaram ao proprietário e este não o enjaulou, se ele morde um homem e causa morte, o proprietário do cão pagará 40 shelkels de prata”. • A raiva em cão foi melhor descrita por Democritus (500 aC); • Aristóteles (322 aC) demonstrou que outros cães mordidos por um cão raivoso ficavam loucos; • Galeno (200 aC) recomendava a excisão de feridas causadas por cão raivoso como forma de prevenir a doença. • No Oeste da Europa a raiva era prevalente entre os lobos desde 1271 e a 1ª epizoontia entre cães domésticos de cidades ocorreu na Itália em 1708. • Em 1804, Zinke demonstrou a transmissão da raiva inoculando a saliva de um cão raivoso em um cão sadio • Em 1881, Pasteur conseguiu isolar o vírus inoculado dos coelhos por via intracerebral, e preparou em 1884 a primeira vacina usando medulas dessecadas de coelhos que haviam sido inoculados com vírus da raiva fixo. Definição • A raiva é uma doença viral aguda do sistema nervoso central (SNC), de alta letalidade, que afeta todos os 5 AV1 – Infectologia – Prof. Cristiane Lamas – Fernanda Pereira - 5º período – 2021.2 mamíferos e é transmitida por secreções infectadas, principalmente saliva. Etiologia • O vírus da raiva é composto por RNA de fita única, é envelopado e em forma de projétil. • Pertence ao gênero Lyssavirus, família rhabdoviridae. • As glicoproteínas do envelope ligam-se a receptores de acetilcolina (Ach) e contribuem para sua neurovirulência Morfologia do vírus da raiva Diagnóstico por sorologia ou PCR Epidemiologia • O vírus da raiva é encontrado em animais em todas as regiões do mundo exceto Australásia e Antártica. • Há dois “ciclos” de raiva, a urbana e a silvestre, que se comunicam. • A raiva urbana tem como principais reservatórios o cão e o gato não imunizados; a raiva silvestre, morcegos, macacos, raposas, lobos, gambás. Sabemos que animais como morcegos e gambás transitam entre o ciclo urbano e o ciclo silvestre. • O cão é o principal vetor na maioria das áreas do mundo • São outros vetores importantes: – Morcegos hematófagos ( e não hematófagos) na América Latina, também gatos e macacos – O lobo na Europa Oriental e região Ártica; – A raposa na Europa Ocidental Cão: principal transmissor da raiva humana Uma coisa é ser um animal bem tratado e vacinado e outra coisa é ser um animal de rua. Então, quando atende um paciente que foi mordido temos que nos atentar a história de que tipo de animal mordeu. • A transmissão pessoa-pessoa pode ocorrer por transplante de córnea, por mordedura e por exposição a secreções. Isso também está descrito em transplante renal. • Grandes animais ( bovinos, caprinos, equinos, suínos e ovinos) são de médio risco para transmissão da raiva. • Roedores (rato, camundongo, cobaia, hamster, etc) e lagomorfos (coelho, lebre) raramente são infectados pelo vírus, não sendo conhecido caso humano transmitido por eles no Brasil. Equinos: risco médio para a raiva. Ratos urbanos e silvestres: risco muito baixo para a raiva. Epidemiologia no Brasil • No Brasil, as regiões mais afetadas são Norte, Nordeste e Centro Oeste • Os vetores mais importantes são: – 1º cão – 2º morcego – 3º gato – 4º saguis • A transmissão pode se dar por aerossóis (ex. em cavernas superpovoadas por morcegos); a porta de entrada neste caso provavelmente são os nervos olfativos (vírus em aerossóis). Vacinação foi responsável pela grande redução do número de casos em humanos no período entre 1990 e 2009. ½ milhões de atendidos. ½ receberam a profilaxia. 574 casos confirmados e 1 sobrevivente (Pernambuco, 2008). Notificação compulsória tanto raiva animal quanto humana. Pico de casos de raiva em 2005 - povoado que ficou 45 dias sem luz elétrica. Últimos dados raiva humana • No período de 2010 a 2017, foram registrados 25 casos de raiva humana, sendo que em 2014, não houve casos. • Em 9, o cão foi o animal agressor • Em 8, morcegos • Em 4, primatas não humanos • Em 3, felinos • Em 1 não foi possível identificar o animal agressor Morcegos • Existem, catalogadas, 167 espécies de morcegos no Brasil, das quais 41 foram identificadas com vírus da raiva, sendo que 37 (90%) em áreas urbanas; • Entre 2002 e 2010, notificou-se uma média anual de 108 casos de raiva em morcegos, constatando-se um aumento de 117% nos registros entre o início e o final do período 2. Desmodus rotundus, principal morcego hematófago transmissor da raiva para o homem e outros animais • Foram detectados casos de raiva em cães e em gatos não determinada pelas variantes 1 e 2 (variantes caninas do vírus rábico), mas por consequência da infecção desses animais por variantes próprias de morcegos; • Há registro de caso de raiva humana por transmissão secundária “morcego-gato- homem” 6 AV1 – Infectologia – Prof. Cristiane Lamas – Fernanda Pereira - 5º período – 2021.2 Patogenia • O primeiro evento é a introdução de vírus vivo através da epiderme ou sobre uma membrana mucosa. • A multiplicação viral ocorre então em células musculares estriadas no sítio de inoculação • O sistema nervoso periférico (SNP) é inicialmente acometido através das terminações nervosas sensitivas não mielinizadas, e o vírus viaja a 20 mm/h pelo axoplasma até o SNC. • Ao alcançar o SNC, o vírus multiplica-se quase que exclusivamente na matéria cinzenta e passa centrifugamente ao longo de nervos autônomos para outros tecidos (glândulas salivares, medula adrenal, rins, pulmões, fígado, pele, coração, musculatura esquelética). • A passagem do vírus para as glândulas salivares e a replicação viralnas células acinares facilita a transmissão pela saliva infectada. • A viremia não é importante na infecção naturalmente adquirida. Neuropatologia • É semelhante a de outras doenças virais do SNC: há hiperemia, graus variáveis de cromatólise, picnose nuclear e neuronofagia, infiltração por linfócitos e plasmócitos, áreas de destruição neuronal. • Achados patológicos característicos são as inclusões citoplasmáticas dentro dos neurônios chamadas corpúsculos de Negri. Cada massa eosinofílica mede aproximadamente 10 nm e é composta de matriz fibrilar e partículas virais. Os corpúsculos de Negri (patognomônico para a raiva) estão distribuídos por todo o cérebro, principalmente o corno de Ammon, o córtex cerebral, o tronco, o hipotálamo, as células de Purkinje e os gânglios espinhais dorsais. Post mortem. Padrão ouro de diagnóstico: exame do líquor (biologia molecular) ou saliva. Na microscopia eletrônica (M.E.) é possível observar os viridans saindo do corpúsculo. Os corpúsculos de Negri não são demonstráveis em cerca de 20% dos casos de raiva, e sua ausência no material cerebral não exclui o diagnóstico. A raiva no cão • Período de incubação: 21 dias a 9 meses (média 60 dias). • Fase prodrômica: alteração da conduta, leve aumento da temperatura, micção frequente e anorexia. • No período de estado predomina a excitação (raiva furiosa) ou pode aparecer prematuramente a paralisia (raiva paralítica ou muda). Morte do cachorro sem causa conhecida, e lambedura em pele sem estar íntegra. - Protocolo: vacina e soro. Raiva furiosa no cão • Inquietação, nervosismo e tendência a atacar; • Há mudança na tonalidade do latido ou grunhido, e às vezes afonia total como consequência dos transtornos motores faringo-laríngeos. • Os olhos apresentam aspecto vítreo pela diminuição do reflexo de fechamento das pálpebras. • Em seguida há contrações musculares involuntárias, que se assemelham a atitude de alerta, com incoordenação da marcha, crises convulsivas, paralisia , coma e morte. • A duração máxima da fase clínica é de 5 a 7 dias. Medidas proporcionais de cuidado/cuidados paliativos: são medidas que trazem conforto à pessoa. Raiva paralítica no cão • O cão oculta-se em lugares escuros, em 1 a 2 dias aparece paralisia da parte posterior, que progride e mata o animal em 4 dias por paralisia dos músculos respiratórios. • NÃO EXISTE RAIVA ABORTIVA OU SUBCLÍNICA NO CÃO A raiva no homem: período de incubação • Varia de 7 dias a mais de 1 ano, sendo em média 1 a 2 meses. • mãos, plexo braquial e face: período de incubação muito curto e maior taxa de letalidade • panturrilha: período de incubação mais longo • lesões mais superficiais e distais: período de incubação mais longo 7 AV1 – Infectologia – Prof. Cristiane Lamas – Fernanda Pereira - 5º período – 2021.2 • Depende do inóculo, da quantidade de tecido afetado, do mecanismo de defesa do hospedeiro e da distância do sítio de inoculação do SNC. • As taxas de infecção e a letalidade são maiores nas mordeduras de face, intermediária nas mãos e braços e menores nas pernas. Período de incubação • O mais variável dentre as infecções do SNC • Mais frequente é de 1 a 2 meses, mas varia de menos de 7 dias a mais de 1 anos • PI < 1 semana foi visto em pacientes que têm a inoculação do vírus diretamente no tecido nervoso, como mordeduras de cães no plexo braquial • A ausência de história de exposição a animais raivosos não pode excluir a raiva, especialmente em áreas endêmicas. Pródromos • Dura 1 a 4 dias, com febre, cefaléia, mal estar, mialgia, fadiga, tosse, anorexia, N e V e odinofagia. • O sintoma prodrômico que sugere raiva é a queixa de parestesia (descrita como queimação, câimbra, prurido) no sítio da inoculação ou em torno dele. • Ocorre em 50 a 80% dos pacientes e está relacionada à multiplicação do vírus nos gânglios sensitivos Dor neuropática local pode acontecer. Fase neurológica aguda: raiva furiosa • Caracterizada por hiperatividade, que é exacerbada por sede, medo, luz, barulho e outros estímulos • A febre, presente desde os pródromos, persiste • Inicialmente a capacidade de concentração pode diminuir • Em 24 horas, surgem nível de consciência flutuante, espasmos inspiratórios ou fóbicos e sinais de hiperatividade autonômica • Classicamente os períodos de agitação e depressão são intercalados com períodos normais, até que o paciente entra em coma. Fase neurológica aguda furiosa • Hidrofobia, aerofobia ( provocados), espasmos inspiratórios ( espontâneos) • Alterações do SNA: • Pupilas dilatadas e irregulares, • Lacrimação, salivação excessiva e perspiração aumentadas. • Piloereção no membro afetado ou generalizada • Priaprismo Fase neurológica aguda: paralítica Principalmente a moderdura do morcego pode levar a fase aguda paralítica • Sinais são indistingüíveis de outras doenças virais neurológicas, sendo frequente o atraso no diagnóstico. • Cerca de 20% dos pacientes com raiva tem uma apresentação semelhante a síndrome de Guillain-Barré, com paralisia ascendente e arreflexia (“ raiva calma”, que é mais comum naqueles que receberam profilaxia pós exposição a morcegos). • A presença de hidrofobia e aerofobia (encontrados em 50% dos casos) aumenta a chance de diagnóstico ante- mortem. • Para diferenciar de Sd de Guillain -Barré: febre persistente, sensibilidade preservada, disfunção da bexiga, mixedema de percussão Uma vez iniciados os sintomas neurológicos, o paciente evolui para o óbito em 99,99% dos casos. • Confusão mental. • Desorientação. • Agressividade. • Alucinações. • Dificuldade de deglutir, leva o espumar pela boca. • Paralisia motora. • Espasmos musculares. • Salivação excessiva Coma • Espasmos inspiratórios podem ser úteis para o diagnóstico da raiva nessa fase, mas na raiva paralítica podem ser difíceis de perceber devido a fraqueza • Taquicardia sinusal é comum, ao que se segue ritmos juncionais, supraventriculares e ventriculares (miocardite) • O coma precede a insuficiência circulatória, a principal causa de óbito Morte • A raiva é a doença infecciosa de mais alta letalidade. • A recuperação é muito rara e quando ocorre, é incompleta • Há o protocolo de Milwaukee e o de Recife, com documentação de recuperação • Envolve coma induzido e reposição de vitaminas e antivirais Causa mortis • A disautonomia (bradicardia, bradiarritmia, taquicardia, taquiarritmia, hipo ou hipertensão arterial) e insuficiência respiratória são as principais causas de morte, podendo ocorrer nas duas formas. 8 AV1 – Infectologia – Prof. Cristiane Lamas – Fernanda Pereira - 5º período – 2021.2 • Sem suporte cardiorrespiratório, o paciente evolui a óbito entre cinco a sete dias na forma furiosa e até 14 dias na forma paralítica. Diagnóstico laboratorial • A leucometria usualmente está pouco aumentada (12 a 17 mil/mm3 ), mas pode estar normal ou tão alta quanto 30 mil. • Demonstração sorológica de infecção aguda (diagnóstico tardio) Diagnóstico específico ante-mortem •Identificação do antígeno rábico pela técnica de imunofluorescência direta (IFD) em decalques de células de córnea (Córnea Test), na biópsia da pele da região da nuca (folículo piloso) ou da saliva. • Biologia molecular, como o RT-PCR e a semi-nested RT- PCR representam, na atualidade, importantes instrumentos para o diagnóstico ante-mortem a partir da saliva, do folículo piloso e do líquor • Diagnóstico positivo é conclusivo, porém o negativo não exclui a possibilidade de raiva Diagnóstico laboratorial post-mortem • O tecido cerebral deve ser submetido a um ou mais dos seguintes métodos: (1) Inoculação em camundongo para isolamento do vírus (2) Corante com anticorpo fluorescente para o antígeno viral (3) Exame histológico ou à microscopia eletrônica para detecção de corpúsculos de Negri (4) PCR do tecido cerebral para detecção do RNA viral Diagnósticodiferencial • Principalmente com as encefalites por herpesvírus tipo 1, arbovírus e enterovírus não pólio • Reação histérica a mordedura • Síndrome de Guillain-Barré • Encefalomielite alérgica à vacina antirrábica (ocorre 1 a 4 semanas após vacina derivada de tecido nervoso). Vacina que era fabricada em cérebro de camundongos. Controle da raiva • Nos centros urbanos deve haver um Centro de Notificação (Centro de Controle de Zoonoses) que ao receber informações sobre a presença de animais raivosos tenha recursos para remover, isolar e observar o animal suspeito, e fazer o diagnóstico laboratorial da raiva. Controle da raiva urbana • Nas áreas urbanas, cães errantes devem ser capturados regularmente nas regiões de maior incidência de raiva; • Os resgatados devem ser vacinados e registrados. • Vacinação de bloqueio no raio de 5km quando há casos humanos ou em cão. Controle da raiva rural • Nas áreas rurais, a população de morcegos hematófagos deve ser reduzida pelo uso de drogas vampiricidas (de aplicação direta ou em animais domésticos), visando dificultar a transmissão da raiva a animais domésticos e ao homem. • Pasta vampiricida (de varfarina) é aplicada nas costas de morcegos capturados. Controle da raiva: vacinação • Deve ser promovida em áreas urbanas para cães e gatos, com o objetivo de vacinar 75% da população em no máximo 1 mês. A partir do 3º mês de vida e anualmente • Duas doses na vida em cães e gatos para serem considerados imunizados • No campo é recomendada a vacinação de grandes animais em áreas onde ocorrem agressões por morcegos hematófagos ou haja notificação de ocorrência de epizoontia em outra espécie agressora. A partir do 4º mês de vida e anualmente Profilaxia pré-exposição • Devem ser vacinados os indivíduos permanentemente expostos ao risco de infecção, ex. veterinários, profissionais de laboratório, patologistas, técnicos agrícolas. • Semestralmente devem ser testados anticorpos neutralizantes no soro, e se inferiores a 0,5 UI/ml, deve ser dado o reforço da vacina. Literatura internacional recomenda o esquema de 2 doses (0 e 7 dias). Preconizado atualmente. Dados gerais • Mordeduras na cabeça, pescoço e mãos, especialmente com sangramento, tem o risco mais alto e menor PI (período de incubação) • Mas todas as mordeduras devem ser tratadas prontamente. Começar com a limpeza do local da mordedura. • No caso de morcegos, a mesma lesão superficial pode levar a raiva pela capacidade de replicação na epiderme e derme de vírus rábico de morcegos. Precisamos avaliar a ferida e o animal. Na ferida é necessário fazer a limpeza com antisséptico que inativa, como a clorexidina. Mas, se está em casa usa água e sabão. Avaliar a profundidade da ferida. Toda mordedura em que há sangramento é considerada profunda, trazendo maior risco da inoculação do vírus rábico. Avaliar risco de raiva no gato e cão • Podem ser dispensadas do esquema profilático as pessoas agredidas por cão/gato, que, com certeza, não têm risco de contrair a infecção rábica. Exemplo: 9 AV1 – Infectologia – Prof. Cristiane Lamas – Fernanda Pereira - 5º período – 2021.2 • animais que vivem dentro do domicílio (exclusivamente); • que não tenham contato com outros animais desconhecidos; • que somente saem à rua acompanhados de seus donos e que não circulam em área com a presença de morcegos. • Em caso de dúvida, iniciar o esquema de profilaxia Pessoa que sofre mordedura, sem proteção no dia para tétano e raiva. Deve-se aplicar soro e vacina/vacina para ambos os casos. Human diploid cell vaccine (HDCV) - vacina para raiva A vacina para raiva é recomendada profilaticamente para viajantes com destino a países da Ásia. Muito mais fácil e barato é a vacina. O soro é mais caro e mais difícil de ser conseguido. Acidentes leves: • Ferimentos superficiais pouco extensos, geralmente únicos, em tronco e membros (exceto mãos, polpas digitais e planta dos pés). • Podem acontecer em decorrência de mordeduras ou arranhaduras, causadas por unha ou dente, lambedura de pele com lesões superficiais. Acidentes graves: • Ferimentos na cabeça, face, pescoço, mão, polpa digital e/ou planta do pé. • Ferimentos profundos, múltiplos ou extensos, em qualquer região do corpo. • Lambedura de mucosas. • Lambedura de pele onde já existe lesão grave. • Ferimento profundo causado por unha de animal. • A presente Nota Informativa altera o esquema de profilaxia da raiva humana de 5 para 4 doses, sendo embasada em evidências cientificas e após a recomendação do Comitê Técnico Assessor em Imunização Esquema de profilaxia da raiva pós- exposição pela via intramuscular (IM) • 4 doses da vacina raiva (inativada). • Dias de aplicação: 0, 3, 7, 14. • Via de administração intramuscular profunda utilizando dose completa, no músculo deltoide ou vasto lateral da coxa. • Não aplicar no glúteo. Volume máximo a ser aplicado no deltoide: 2 a 3 ml. Uso de soro antirrábico (SAR) ou imunoglobulina antirrábica (IGAR). • O SAR deve ser administrado uma única vez e o quanto antes. • A infiltração deve ser executada ao redor da lesão (ou lesões). • Quando não for possível infiltrar toda a dose, aplicar o máximo possível. • A quantidade restante, a menor possível, aplicar pela via IM podendo ser utilizada a região glútea. NÃO UTILIZAR EV. Soro antirrábico • Sempre aplicar em local anatômico diferente de onde foi aplicada a vacina. 10 AV1 – Infectologia – Prof. Cristiane Lamas – Fernanda Pereira - 5º período – 2021.2 • Quando as lesões forem muito extensas ou múltiplas, a dose pode ser diluída em soro fisiológico, em quantidade suficiente, para que todas as lesões sejam infiltradas. • Quando não há soro disponível, aplicar no máximo em até 7 dias após a aplicação da 1ª dose de vacina de cultivo celular, ou seja, antes da aplicação da 3ª dose da vacina. Após esse prazo, o soro não é mais necessário. Conduta em caso de adentramento de morcego. “Acordei e tinha um morcego no meu quarto” Conduta: soro e vacina para o paciente. Observações • Gravidez e doença imunossupressora não contraindicam o uso da profilaxia pós exposição. • Se possível, suspender corticóide ou outros imunossupressores ao iniciar o esquema de vacinação. • Em pacientes anteriormente imunizados, não é necessário o uso do soro. SLIDE + AULA
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