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gabi_fran_ Gabrielle França, CESUPA 2021 Definição A insuficiência cardíaca (IC), também chamada falência cardíaca, é definida como uma incapacidade do coração de conseguir cumprir sua função de bomba e atender à demanda tecidual, ou a necessidade de aumentar a pressão de enchimento ventricular (pressão diastólica final) para atender a essa demanda. Isso normalmente ocorre devido à alterações das funções sistólica (mais comumente) e/ou diastólica dos ventrículos, no entanto em situações menos comuns também pode ser causada por um aumento da demanda tecidual de perfusão. O termo “insuficiência cardíaca crônica” reflete a natureza progressiva e persistente da doença, enquanto o termo “insuficiência cardíaca aguda” fica reservado para alterações rápidas ou graduais de sinais e sintomas resultando em necessidade de terapia urgente. Embora a maioria das doenças que levam à IC caracterizem-se pela presença de baixo débito cardíaco (muitas vezes compensado) no repouso ou no esforço (IC de baixo débito), algumas situações clínicas de alto débito também podem levar a IC, como tireotoxicose, anemia, fístulas arteriovenosas e beribéri (IC de alto débito) Fisiopatologia RELEMBRANDO: A função sistólica é a capacidade que os ventrículos possuem de bombear o sangue para a circulação, seja ela sistêmica ou pulmonar. Já a função diastólica é a capacidade que os ventrículos possuem de relaxar (através de um processo ativo, ou seja, que requer o gasto de energia por parte das células), para se encherem de sangue sem um aumento exagerado da pressão ventricular. Frequentemente, a função sistólica é avaliada através da FRAÇÃO DE EJEÇÃO, a qual é calculada através da relação entre o volume no final da diástole e o volume ejetado pelo ventrículo durante a sístole, sendo a FE considerada adequada entre 50-70% e reduzida quando abaixo de 40%. Os casos em que há IC sem redução do débito cardíaco ou aumento da pressão de enchimento do ventrículo por disfunção diastólica são chamados de IC de alto débito, sendo o tipo menos comum de IC. A IC de alto débito é causada por doenças como anemia grave, tireotoxicose e fístulas arteriovenosas, principalmente. Nesses casos, apesar do débito cardíaco ser adequado, configura-se IC pois o coração não consegue atender a demanda tecidual, seja pela falta de hemoglobina, aumento da demanda tecidual de nutrientes em virtude da tireotoxicose, ou desvio do sangue ejetado, impedindo a chegada deste aos tecidos, caso das fístulas arteriovenosas. Diferentes influências As diferentes doenças contribuem de forma diferente para o prejuízo da função cardíaca. Na DOENÇA ARTERIAL CORONARIANA DAC, a perda da perfusão coronariana causa a morte de cardiomiócitos e, com isso, alterações da função diastólica do ventrículo em estágios mais iniciais (lembre-se que a função diastólica também demanda ATP dos cardiomiócitos, portanto, a isquemia miocárdica pode causar disfunção diastólica). Por outro lado, a DAC também pode causar hipocinesia ou acinesia de paredes mal perfundidas do coração – particularmente após episódios de infarto agudo do miocárdio (IAM) – resultando em disfunção sistólica. Um dos principais motivos pelo qual a diabetes e HAS se correlacionam com o desenvolvimento de IC, é porque essas doenças são fatores de risco para o desenvolvimento de DAC. Por sua vez, a HAS causa aumento da pós-carga através do aumento da resistência vascular periférica. Isso passa a sobrecarregar o coração, que precisa elevar a pressão produzida através da sístole para vencer a resistência dos vasos. Esse aumento da resistência muitas vezes também resulta em um aumento do volume do volume sistólico final (volume de sangue que permanece nos ventrículos no fim da contração ventricular), o que distende os sarcômeros dos cardiomiócitos. Mecanismos compensatórios Pela lei de Frank-Starling, o coração responde a distensão dos cardiomiócitos com um aumento da sua força de contração de forma que quanto maior for o retorno venoso, maior seria o volume sistólico, no entanto, a capacidade cardíaca de se adaptar a essa distensão é limitada, e quando as fibras são exageradamente distendidas, ocorre um efeito paradoxal em que a força e eficácia da sístole se tornam reduzidas. Além disso, com o início da redução do débito cardíaco, barorreceptores (receptores de pressão) detectam a redução da função sistólica e buscam aumentar o inotropismo e cronotropismo cardíacos, principalmente por meio da ativação do sistema simpático, aumentando a liberação de noradrenalina e adrenalina. Com isso, nos rins a diminuição da função cardíaca diminui a quantidade de sódio filtrado, o que faz a mácula densa ativar o sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA). Através do SRAA, o rim passa a reter sódio e água, aumentando assim a volemia, e consequentemente a pré-carga, determinada pelo retorno venoso ao coração, tem capacidade de aumentar morte celular. Inicialmente, esses mecanismos adaptativos auxiliam o sistema cardiovascular a manter o débito cardíaco e a perfusão tecidual. No entanto, com a persistência das alterações que reduziram a função cardíaca, e ativação persistente do sistema simpático e do SRAA, ocorre um processo de remodelamento cardíaco, que pode causar a sua hipertrofia. Hipertrofias Patológicas Aumento da massa cardíaca devido ao aumento dos cardiomiócitos, resulta de sobrecarga hemodinâmica, de PRESSÃO ou de VOLUME impostas ao coração. Essa hipertrofia pode ser CONCÊNTRICA, quando a parede ventricular tem sua espessura aumentada sem aumentar a cavidade ventricular, evento principalmente relacionado à HAS e estenose da Aorta e sobrecarga de pressão. Em casos de maior de pré-carga, o que ocorre em muitos casos de insuficiência valvar com sobrecarga de volume, ocorre hipertrofia EXCÊNTRICA, o aumento da parede e da cavidade ventricular. Esse coração aumentado apresenta função diastólica prejudicada, é mais suscetível a isquemias e arritmias. RELEMBRANDO: Cronotropismo e inotropismo são propriedades do coração e representam, respectivamente, frequência cardíaca e força de contração. Hipertrofias Fisiológicas O mecanismo fisiológico compensatório caracterizado pelo aumento do comprimento e diâmetro dos cardiomiócitos, sendo responsável pela manutenção da tensão na parede ventricular em níveis fisiológicos. ATLETAS de endurance desenvolvem hipertrofia do tipo EXCÊNTRICA, devido a sobrecarga de volume, ou seja, aumento da pré- carga devido ao aumento do retorno venoso nas sessões do exercício, gerando um elevado pico de tensão diastólica, induzindo o crescimento dos cardiomiócitos. Ocorre adição dos novos sarcômeros em série, e aumento do comprimento da fibra para normalizar o estresse na parede do miocárdio levando a um aumento da cavidade do VE. A cavidade aumentada por sua vez, eleva a tensão sistólica, estimulando o crescimento dos miocitos, pela adição de novos sarcômeros em PARALELO, aumentando também a espessura da parede do VE de forma compensatória. Como consequência, a relação entre a parede ventricular e raio do VE permanece inalterada. Atletas que realizam treinamento resistido dinâmico ou isométrico desenvolvem hipertrofia CONCÊNTRICA caracterizada por uma cavidade do VE de tamanho normal e por um espessamento da parede do VE e septo. Hipertrofia por sobrecarga de volume induzida pelo exercício físico aeróbio regular normalmente é acompanhada de aumento da densidade capilar, com redução da frequência cardíaca e da pressão arterial em repouso. Estruturalmente, o aumento da massa muscular do miocárdio, principalmente do VE, com aumento do VDF, caracteriza hipertrofia excêntrica. Classificação Lado afetado Na ICESQUERDA, a falência do ventrículo esquerdo (VE) causa um aumento da pressão do enchimento deste ventrículo, o que diminui a eficácia da passagem do sangue do átrio esquerdo (AE) para o VE causa aumento da pressão no AE, dificultando o retorno do sangue da circulação pulmonar para o AE. Causada por congestão da circulação pulmonar (⬆ das pressões de retorno), estase do sangue nas câmaras esquerdas e ⬇ da perfusão dos tecidos. E observa-se ⬆ pré-carga, inotropismo e FC. Isso resulta em sintomas como dispneia aos esforços (que tende a piorar progressivamente sem o tratamento da IC), tosse seca ou com secreção rosácea, dispneia paroxística noturna (DPN), sintoma em que o paciente relata acordar durante a noite com falta de ar, que tende a melhorar após alguns minutos sentado ou em pé. Em estágios mais avançados, pode ser relatada ortopneia, onde o paciente relata dispneia ao deitar, o que é causado pelo aumento da pré- carga com a redistribuição do volume sanguíneo que se acumulava nos membros inferiores por gravidade. Em casos mais graves, o paciente pode apresentar edema agudo de pulmão (EAP) em virtude do aumento da pressão hidrostática nos capilares da circulação pulmonar, causando extravasamento de fluidos para os alvéolos e prejudicando a respiração. Já na IC DIREITA, o processo de falência ocorre no ventrículo direito (IC), e através dos mesmos mecanismos ocorre congestão, no entanto, nesse caso é dificultado o retorno da circulação sistêmica, e não a circulação pulmonar. Dessa forma, o paciente costuma apresentar edema em membros inferiores, estase de jugulares, pode apresentar esplenomegalia por congestão (que pode evoluir até mesmo para insuficiência hepática) e ascite. A principal causa de IC direita é uma IC esquerda que passou a causar aumento da resistência pulmonar visto que qualquer aumento na pressão da circulação pulmonar gera ⬆ da pós-carga do lado direito. No entanto há outras causas como estenose da valva mitral e ingurgitamento (aumento do tamanho devido ao acumulo de líquido) do sistema venoso. Mecanismo afetado A INSUFICIÊNCIA CARDÍACA SISTÓLICA, que representa a maioria (50% -60% dos casos), há alteração da contratilidade miocárdica. Pode ser causada por dilatação ventricular e tem uma diminuição na fração de ejeção (≤50%). Suas principais consequências geram alterações compensatórias para manter o Vol. Sistólico: ⬆ pré-carga e inotropismo + ⬇ DC e ⬆FC e do volume de enchimento (VDF). Com o aumento da pressão de enchimento ventricular, há hipertrofia e dilatação; exemplos: IAM, isquemia miocárdica, fase dilatada da cardiopatia hipertensiva e a miocardiopatia dilatada idiopática. Já a INSUFICIÊNCIA CARDÍACA DIASTÓLICA tem como característica a contração miocárdica normal, mas o VE está limitado na sua capacidade encher durante a diástole (anormalmente inflexível), causando ⬆ nas pressões de enchimento (pré-carga) e, consequentemente, aumento da pressão venocapilar (congestão). As Principais consequências: Alteração no relaxamento muscular; E/ou diminuição da complacência ventricular (“ventrículo duro” por excesso de tecido conjuntivo), causando ⬆ pré- carga. Exemplos: fase hipertrófica da HAS e a cardiomiopatia hipertrófica. A IC DESCOMPENSADA é uma situação clínica em que ocorre exacerbação aguda ou gradual de sinais e sintomas de IC em repouso, em pacientes com diagnóstico prévio de IC, exigindo terapia adicional e imediata. É a apresentação clínica mais frequente de ICD(8) e tem como causa mais comum a baixa aderência ao tratamento: ⬇ pré-carga e pós- carga. Sem atuação de mecanismos compensatótrios: SNSimpático e SRAA Já a IC COMPENSADA se da em pacientes cujos sinais e sintomas de congestão pulmonar foram aliviados pela terapia. Em muitos desses pacientes, a função miocárdica reduzida e o baixo débito cardíaco persistem, embora os sinais tenham sidos removidos pela melhoria da circulação periférica, edema e congestão pulmonar com diuréticos. Ocorre ⬆ pré-carga e pós-carga, com atuação de mecanismos compensatótrios: SNSimpático e SRAA. Reserva cardíaca Indica a porcentagem máxima que o debito deve aumentar, o normal seria de 300% a 400%, já em atletas esse número aumenta para 500% a 600%, no entanto pessoas com IC grave não possuem essa reserva. Qualquer fator que prejudique o bombeamento fisiológico do coração tem a capacidade de diminuir essa reserva, o que pode gerar uma cardiopatia isquêmica e assim lesões nas valvas e no miocárdio. Fármacos IECA Inibem a enzima conversora (peptidildipeptidase) que hidrolisa a angiotensina I em II (que é um vasocontritor) e inativa a bradicinina, um potente vasodilatador, que atua ao estimular a liberação de óxido nítrico e de prostaciclina. Estudos demonstram que os IECA não inibem por completo o SRAA, e que o seu uso continuado pode gerar "escape" da angiotensina II, portanto o uso de um redutor dele é mais viável. Os IECAS ajudam a ação dos ventrículos e reduzem pré-carga e pós-carga. Beta bloqueador Envolve efeitos cronotrópicos, inotrópicos NEGATIVOS (consequente redução do débito cardíaco) e vasoconstritor causada pela ação de epinefrina e norepinefrina nos receptores β- adrenérgicos e ainda há redução da secreção de renina, readaptação dos barorreceptores e diminuição das catecolaminas nas sinapses; Seu tratamento resulta em melhora da função ventricular e dos sintomas, revertendo o remodelamento miocárdico. BRA Eles realizam a ocupação do receptor AT1, têm o potencial de exercer uma inibição mais completa da ação da angiotensina, em comparação com os inibidores do ECA, visto que existem outras enzimas capazes de gerar angiotensina II. Os BRA têm sua principal indicação em pacientes portadores de IC crônica com fração de ejeção reduzida intolerantes aos IECA, reduzindo morbi-mortalidade. Diuréticos Tem a função de diminuir PA ao inibir a aldosterona no Ducto Coletor pela diminuição da retenção de Na+ e H2O; e diminuição da síntese e deposição de colágeno sobre o miocárdio. Digitálicos São efetivos na descompensação da IC, com efeito Inotrópico Positivo pela inibição da Na/K ATPase, que gera melhora na função sistólica. Também, modulam a ativação neuro-hormonal por meio da redução da atividade simpática, estimulando a ação vagal e aumentando a sensibilidade dos reflexos barorreceptores e cardiopulmonares, diminuindo o consumo O2.
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