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LEGISLAÇÃO 
EMPRESARIAL 
APLICADA 
Tiago Ferreira Santos 
Empresário individual e 
sociedades empresárias
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
� Identificar o que é empresa, empresário e sociedade empresária.
� Distinguir empresa de empresário e empresário individual de socie-
dade empresária.
� Reconhecer esses institutos e sua correta regulamentação.
Introdução
Conhecer as possibilidades de formatação jurídica para quem quer empre-
ender é de fundamental importância para calcular os riscos do negócio. 
Assim, torna-se fundamental aprender quais são as distinções entre as 
diversas roupagens jurídicas para o negócio.
Neste capítulo, serão abordados a empresa, o empresário e a socie-
dade empresária e suas distinções conceituais.
Empresa, empresário e sociedade empresária
Uma das concepções tradicionais acerca do conceito de empresa é trazida por 
Alberto Asquini (1996, p. 109), para quem “é […] um fenômeno econômico 
poliédrico, o qual tem sob o aspecto jurídico, não um, mas diversos perfis 
em relação aos elementos que o integram [...]”, os quais são o subjetivo, o 
funcional, o objetivo e o corporativo.
Pelo perfil subjetivo da empresa, ela se confunde com a figura do empre-
sário, o que não é um uso adequado, segundo a doutrina. De qualquer modo, 
o “Código Civil e as leis especiais consideram, com frequência, a organização 
econômica da empresa pelo seu vértice, usando a palavra em sentido subjetivo 
como sinônimo de empresário” (ASQUINI, 1996, p. 114).
Diferentemente, “[...] sob o ponto de vista funcional ou dinâmico, a empresa 
aparece como aquela força em movimento que é a atividade empresarial dirigida 
para um escopo produtivo” (ASQUINI, 1996, p. 116). Essa é a noção preferida 
pela doutrina. Fábio Ulhoa Coelho (2017, p. 104) a adota, afinal, pois entende 
que essa “[...] expressão designará a atividade, e nunca a sociedade”. Assim, 
“[...] não há dúvida que o conceito da atividade empresarial tem uma notável 
relevância na teoria jurídica da empresa” (ASQUINI, 1996, p. 117), o qual é, 
também, chamado de aspecto dinâmico da empresa.
A perspectiva objetiva da empresa, por sua vez, designa o que o Código 
Civil (CC) chama de estabelecimento, o qual consiste em “[...] todo complexo de 
bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade 
empresária” (Art. 1.142º) (BRASIL, 2002, documento on-line). Este também 
é chamado de aspecto estático da empresa.
O perfil corporativo da empresa implica em considerá-la “[...] aquela espe-
cial organização de pessoas que é formada pelo empresário e pelos empregados, 
seus colaboradores” (ASQUINI, 1996, p. 122). Esse é, sem dúvidas, um perfil 
anacrônico, ou seja, não se adequada à contemporaneidade.
Assim, dos quatro perfis da teoria poliédrica de Asquini, os mais relevantes 
para o Direito brasileiro são o subjetivo e o funcional, com destaque, espe-
cialmente, para o último, já que empresa, no sentido subjetivo, é tecnicamente 
descrita pelo termo empresário.
Não se duvida, entretanto, que esses estudos mais clássicos sobre a teoria 
da empresa são relevantes para entender o conceito de empresa, até mesmo 
para que se entenda, ao final, que prevalece a perspectiva funcional, consoante 
lição de Fábio Ulhoa Coelho.
Empresário, por sua vez, “[...] é a pessoa que toma a iniciativa de organizar 
uma atividade econômica de produção ou circulação de bens ou serviços” 
(COELHO, 2017, p. 103). Ou, como dispõe expressamente o CC, no art. 
966, considera-se “empresário quem exerce profissionalmente atividade 
econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de servi-
ços”, é, pois, a adoção da teoria da empresa de caráter subjetivo no Direito 
brasileiro. Em outros termos, conceitua-se a figura do empresário a partir 
do qual a doutrina e a jurisprudência depreendem o restante dos conceitos, 
a exemplo da empresa.
O conceito de empresário, bem como o de empresa, não é unívoco na dou-
trina, nem na legislação civil. Nesse sentido, inicialmente, a partir da leitura 
do art. 966 do CC, conclui-se que “[...] a palavra ‘empresário’ é gênero do qual 
o empresário individual, a sociedade empresária e a empresa individual de
responsabilidade individual são espécies” (TEIXEIRA, 2018, p. 57).
Empresário individual e sociedades empresárias2
Entretanto, tal concepção não é pacífica e sua oposição também encontra 
respaldo no próprio CC. Em outros trechos, ele menciona empresário e so-
ciedade empresária como se por aquele não estivesse já incluído este, bem 
ao contrário. Merece destaque especialmente o art. 982, cuja redação segue: 
“Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem 
por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro 
(art. 967); e, simples, as demais” (BRASIL, 2002, documento on-line).
Nesse sentido, há adeptos à doutrina de que empresário é sempre o empre-
sário individual, sendo até mesmo redundância tal terminologia. Em outros 
termos, empresário não engloba a sociedade empresária. Segue opinião de 
Gladston Mamede (2018, p. 77):
[...] o empresário é a pessoa natural que exerce profissionalmente a atividade 
econômica organizada (artigo 966 do Código Civil). Obviamente, a expressão 
empresário individual contém uma redundância, já que na palavra empresário 
já está expressada a ideia de indivíduo, opondo-se ao conceito sociedade 
empresária, própria da coletividade (universitas personarum).
Com o devido respeito às opiniões contrárias, uma vez que a atual 
legislação utiliza empresário, ora como gênero, ora como sinônimo de 
empresário individual, a constatação inevitável é que se trata de um con-
ceito não unívoco.
Assim, importa ressaltar que a “[...] atividade empresarial pode ser exercida, 
do ponto de vista de sua titularidade, basicamente sob duas formas distintas” 
(GOMES, 2017, p. 34), a saber: exercício individual da empresa e exercício 
coletivo da empresa.
O exercício individual da empresa pode ser de titularidade da pessoa 
natural, o que acontecerá com responsabilidade ilimitada, na área de atuação 
do empresário individual. Na verdade, não raro, o CC, ao tratar de empresário, 
na verdade está se referindo apenas a essa categoria, como já visto. Essa é, 
portanto, uma relevante figura no Direito Empresarial. Segue lição:
A expressão exercício individual da empresa sempre foi utilizada pela 
doutrina comercialista para identificar a situação em que uma pessoa na-
tural inscreve-se no registro de empresas a fim de que possam legalmente 
desenvolver, em seu próprio nome e sob sua exclusiva responsabilidade, uma 
atividade econômica de produção ou circulação de bens, ou ainda prestação 
de serviços, mediante organização empresarial, consoante disposto no art. 
966 do Código Civil. (MAMEDE, 2018, p. 34, grifo nosso).
3Empresário individual e sociedades empresárias
O empresário individual não é pessoa jurídica, tendo, portanto, inscrição no Cadastro 
Nacional de Pessoas Jurídicas do Ministério da Fazenda (CNPJ/MF) unicamente para 
que sejam recolhidos tributos pelas mesmas alíquotas asseguradas às pessoas físicas 
como forma de incentivo à atividade empresarial.
Entretanto, a responsabilidade ilimitada do empresário individual é um 
inconveniente. Para solucioná-lo, havia uma prática de constituição de socie-
dades limitadas de fachada para fins de segregar o patrimônio, limitando a 
responsabilidade. São conhecidas as sociedades empresárias formadas com 
a mera inclusão de sócios com participação de 1 ou 0,5% do capital social, 
sem qualquer participação na atividade.
Para solucionar essa situação, a “[...] empresa individual de responsabi-
lidade limitada” (EIRELI), consoante a legislação no art. 44, inciso VI, do 
CC (BRASIL, 2002, documento on-line), foi legalmente prevista, sendo uma 
forma de exercício da atividade empresarial de forma individual. Entretanto, 
em vez de pessoa natural, tal qual o empresário individual, há aqui uma 
pessoa jurídica.
É importantedestacar que microempresa, empresa de pequeno porte e 
microempreendedor individual não são pessoas do ponto de vista legal, mas, 
sim, regimes diferenciados. Assim, apenas há pessoas naturais, regidas pelo 
Título I do CC, e pessoas jurídicas. Sobre essas últimas, importa analisar 
os incisos do art. 44, do CC, os quais podem ensejar a constituição de uma 
pessoa jurídica diretamente relevante para o Direito Empresarial. São eles: 
“[...] II - as sociedades; [...] VI - as empresas individuais de responsabilidade 
limitada”. (BRASIL, 2002, documento on-line).
Sobre a natureza jurídica das empresas individuais de responsabilidade 
limitada, há também aqueles que entendem ser uma espécie de sociedade 
empresária, como leciona Gladston Mamede (2018, p. 96):
[...] a empresa individual de responsabilidade limitada é uma sociedade unipes-
soal (sociedade de um só sócio), particularidade que justificou seu tratamento 
em separado, por meio do inciso VI, deixando claro que a ele se submetem 
os princípios que são próprios das pessoas jurídicas: personalidade jurídica 
distinta da pessoa de seu sócio (o empresário), patrimônio distinto da pessoa 
do empresário e existência distinta da pessoa do empresário.
Empresário individual e sociedades empresárias4
Em outro giro, o Enunciado nº 3 da I Jornada de Direito Comercial do 
Conselho da Justiça Federal o trata como um novo ente distinto do empresário 
(individual) e da sociedade empresária, como segue: “A Empresa Individual 
de Responsabilidade Limitada – EIRELI não é sociedade unipessoal, mas 
um novo ente, distinto da pessoa do empresário e da sociedade empresária” 
(BRASIL, 2012).
O que realmente importa é que a EIRELI, diversamente do empresário 
individual, constitui uma pessoa jurídica com patrimônio distinto da pessoa 
natural, bem como a limitação da responsabilidade, ou seja, seu regime jurí-
dico é similar ao das sociedades limitadas. Entretanto, a forma de exercer a 
atividade, no que se refere à titularidade, é individual.
Outra forma de exercício da titularidade da empresa é a coletiva, realizada 
por meio de sociedades: “No direito empresarial, sociedade significa um ente 
que tem natureza contratual, ou seja, sociedade é um contrato por meio do qual 
pessoas se agrupam em razão de um objeto comum” (TEIXEIRA, 2018, p. 117). 
Importa salientar que há uma distinção doutrinária acerca de sociedades 
contratuais, cuja figura central é a sociedade limitada e as sociedades insti-
tucionais representadas, principalmente, pelas sociedades anônimas. Afinal, 
naquela há um contrato social e nesta um estatuto social. Entretanto, como 
bem salienta Tarcísio Teixeira (2018, p. 117):
Ainda que alguns tentem estabelecer uma distinção entre sociedades contra-
tuais (como a sociedade limitada) e institucionais (a exemplo, da sociedade 
anônima), no fundo mesmo estas ainda que constituídas por estatuto social 
— e não por contrato social — têm sua natureza no instituto do contrato.
Sua lição é respaldada na legislação, especialmente, no art. 981 do CC: 
“Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam 
a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica 
e a partilha, entre si, dos resultados” (BRASIL, 2002, documento on-line).
Sobre as sociedades, este capítulo enfoca as duas modalidades que represen-
tam a quase totalidade da atividade empresarial regularmente exercida. Assim, 
nos investimentos elevados, encontra-se, geralmente, a sociedade anônima, 
ao passo que, nos empreendimentos menores, há a sociedade limitada. Para 
justificar essa limitação da análise sobre sociedades nesse momento, segue lição 
de Fábio Ulhoa Coelho (2017, p. 104), para quem a “[...] sociedade empresária 
assume, hoje em dia, duas das cinco formas admitidas pelo direito comercial 
em vigor: a de uma sociedade por quotas de responsabilidade limitada (Ltda.) 
ou a de uma sociedade anônima (S/A)”.
5Empresário individual e sociedades empresárias
Já as sociedades empresárias são aquelas que são vinculadas ao exercício 
de empresário que exige registro:
Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade 
que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a 
registro (art. 967); e, simples, as demais (BRASIL, 2002)
Complementando esta definição, os arts. 966 e 967 trazem a complemen-
tação desta definição: 
Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade 
econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão inte-
lectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso 
de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir 
elemento de empresa.
Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de 
Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade 
(BRASIL, 2002)
Teixeira compreende que a sociedade empresária é uma espécie do gênero 
empresário ( TEIXEIRA, 2018, p. 57), pensamento que também é expresso 
na obra de Tomazette:
O empresário é o sujeito de direito, ele possui personalidade. Pode ele tanto
ser uma pessoa física, na condição de empresário individual, quanto uma 
pessoa
jurídica, na condição de sociedade empresária, de modo que as sociedades
empresárias não são empresas, como afirmado na linguagem corrente, mas
empresários (TOMAZETTE, 2017, p.79)
Distinção entre empresa e empresário, bem 
como entre empresário individual e sociedade 
empresária
No presente tópico, serão destacadas as diferenças conceituais trazidas até 
o momento pelo estudo comparativo de algumas terminologias já analisa-
das isoladamente. Assim, as distinções entre empresa e empresário, bem
como entre empresário individual e sociedade empresária, serão apontadas.
Espera-se que, dessa forma, os assuntos sejam revisados e aprofundados.
Empresário individual e sociedades empresárias6
Por empresa, já foi visto que tradicionalmente havia quatro perfis. O perfil 
subjetivo da empresa é idêntico a uma das concepções de empresário, que é 
de titular de atividade empresarial (pessoa natural ou pessoa jurídica). Assim 
entendidos, nenhuma diferença é possível mencionar.
Entretanto, mesmo a empresa no perfil subjetivo não se confunde com outra 
concepção de empresário, ou seja, a que o iguala ao empresário individual. 
Nessa situação, trata-se de gênero (empresa em perfil subjetivo) em relação 
à espécie (empresário individual).
A doutrina contemporânea, entretanto, prefere o perfil funcional para 
definir empresa. Portanto, já que nesse aspecto ela consiste na atividade 
empresarial, empresário será, em princípio, aquele que a exerce, a menos 
que seja considerado o conceito de empresário trazido por Tarcísio Teixeira. 
Caso se entenda que empresário é sinônimo de empresário individual, então 
ele será, tão somente, um dos seus possíveis titulares, afinal, já foi estudado 
que os conceitos de empresa e empresário não são unívocos.
Do ponto de vista objetivo, empresa é o estabelecimento, dessa forma, a 
única possibilidade de aproximação entre essa perspectiva e o empresário 
consistente em entender que ele utilizará o complexo de bens organizados 
ou, no mínimo, será um dos que o utilizará.
Por fim, o perfil corporativo da empresa corresponde às relações entre 
empregadores e empregados. Nesse sentido, entendida a ressalva quanto às 
interpretações sobre a extensão de empresário, pode-se equivaler o empresário 
àquele que contrata os trabalhadores.
O registro, nos termos do CC, refere-se ao empresário, não à atividade empresarial, 
empresa.
Para deixar mais clara a ideia trazida neste capítulo, pode-se dizer que 
há dois conceitos diversos de empresário. Em uma perspectiva ampla, ele 
corresponde a todo aquele que titulariza uma atividade empresarial, ao passo 
que é, restritivamente, apenas relacionado com o empresário individual, não 
incluindo as sociedades empresárias:
7Empresário individuale sociedades empresárias
Empresário em sentido restrito
Empresário em sentido amplo = 
quem titulariza uma empresa
Empresário individual � Empresário individual
� Sociedade empresária
� Empresa individual de 
responsabilidade limitada
Feitas as distinções acerca de empresa e empresário explicadas anterior-
mente, importa agora empreender as comparações entre empresário individual 
e sociedade empresária.
Como foi destacado, o empresário individual não cria, com o seu registro, 
uma pessoa jurídica, ou seja, trata-se de uma pessoa natural que titulariza uma 
empresa. O que gera algumas vantagens, algumas com repercussões jurídicas 
relevantes, outras não. Por exemplo, enquanto a pessoa natural tem a finitude 
inerente à mortalidade, tal não acontece com as jurídicas, sendo essa ideia de 
superar a morte uma das motivações que podem conduzir à instauração destas. 
Nessa perspectiva, a sociedade empresária é bem diversa da pessoa natural, 
afinal, é uma pessoa jurídica formada por uma ou mais pessoas.
Nesse caso, se é assim, então há repercussões jurídicas razoáveis. Por 
exemplo, inexiste desconsideração de personalidade jurídica de empresário 
individual, apenas de pessoas jurídicas, especialmente aquelas de respon-
sabilidade limitada utilizadas em geral (sociedades limitadas e anônimas). 
Há outras modalidades societárias disponíveis no Direito, inclusive com 
responsabilidade mista, mas suas utilizações são muito pontuais, ou melhor, 
“[...] tais sociedades caíram em desuso, à semelhança das sociedades de 
responsabilidade ilimitada” (GOMES, 2017, p. 117).
Além disso, enquanto o empresário individual consiste em uma pessoa 
natural, na sociedade empresária, há uma pessoa jurídica, na qual podem 
constar como sócios as pessoas naturais ou jurídicas, podendo ser inclusive 
unipessoal, diretriz do art. 1.052 do CC (Quadro 2).
Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita 
ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integra-
lização do capital social. 
§ 1º A sociedade limitada pode ser constituída por 1 (uma) ou mais pessoas. 
§ 2º Se for unipessoal, aplicar-se-ão ao documento de constituição do sócio 
único, no que couber, as disposições sobre o contrato social (BRASIL, 2002).
Empresário individual e sociedades empresárias8
Empresário individual Sociedade empresária
Uma pessoa natural Uma pessoa ou mais
Ademais, a “[...] sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição, 
no registro próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos” (MAMEDE, 
2018, p. 92), situação bem diversa das pessoas naturais, as quais têm a sua 
personalidade jurídica a partir do nascimento com vida. À doutrina de Gladston 
Mamede (2018, p. 92):
[...] a empresa é apenas uma parte do patrimônio da pessoa natural; não há 
outra personalidade jurídica, nem outro patrimônio, ao contrário do que ocorre 
com a sociedade empresária, na qual a pessoa jurídica tem personalidade e 
patrimônio próprios, não se confundindo com a personalidade e o patrimônio 
de seus sócios.
A consequência dessa doutrina é o princípio da intangibilidade do capital, 
o que, se desrespeitado, pode gerar motivo para a desconsideração da perso-
nalidade jurídica nos termos da teoria maior prevista no CC:
Princípio da intangibilidade: o capital registrado deve ser preservado na em-
presa e usado exclusivamente na empresa. Não pode(m) o(s) responsável(is) 
pela empresa lançar mão desses valores para si ou para outras finalidades, o 
que caracteriza indevida confusão patrimonial (artigo 50 do Código Civil). 
(MAMEDE, 2018, p. 81).
Essa distinção entre empresário individual e sociedade empresária tem 
reflexos também no regramento da incapacidade, podendo-se falar em duas 
hipóteses diversas, cada uma com suas consequências, sendo elas a incapaci-
dade do empresário individual e a incapacidade do sócio. Estas acontecem nas 
hipóteses em que falta a capacidade civil da pessoa natural, entretanto, têm 
consequências diversas, afinal, não se confundem. Enquanto o empresário 
é aquele que titulariza a empresa, exercendo a atividade, o sócio é quem 
possui quotas ou ações em uma sociedade empresária.
9Empresário individual e sociedades empresárias
Reconhecimento dos institutos e 
correlata regulamentação
Um dos principais instrumentos jurídicos distintivos dos empresários in-
dividuais e das sociedades empresárias, consoante visto anteriormente, é 
a possibilidade de desconsideração da personalidade jurídica, dessa forma, 
pode-se explicá-la de forma mais acurada.
A legislação civil e, por consequência, o Direito Empresarial adotaram a 
teoria maior da desconsideração da personalidade jurídica, consoante previsto 
no art. 50 do CC, com as consequências jurídicas que lhe são aplicáveis. É 
sabido que o Código de Defesa do Consumidor (CDC) e outras leis elegeram 
a teoria menor da desconsideração da personalidade jurídica, a qual é, por 
óbvio, inaplicável para regular as relações jurídicas empresariais, mas tão 
somente as de seus sistemas.
Entretanto, por haver uma menor proteção da limitação patrimonial nessa 
legislação consumerista e nas demais, havia juízes que a aplicavam de forma 
indevida, desconsiderando a personalidade jurídica em situação que não 
caberia. Tal a magnitude da situação que, na I Jornada de Direito Comercial 
da CJF, houve dois enunciados sobre a matéria.
Enunciado nº 9 da I Jornada de Direito Comercial da CJF
Quando aplicado às relações jurídicas empresariais, o art. 50 do Código Civil não pode 
ser interpretado analogamente ao art. 28, § 5º, do CDC ou ao art. 2º da CLT.
Enunciado nº 19 da I Jornada de Direito Comercial da CJF
Não se aplica o CDC às relações entre sócios/acionistas ou entre eles e a sociedade.
Há, ainda, quem considere uma classificação mais precisa acerca da adoção 
da disregard teory no Direito brasileiro. Para seus adeptos, o abuso de direito 
pode acontecer por desvio de finalidade, hipótese decorrente da chamada teoria 
maior subjetiva da desconsideração, bem como por confusão patrimonial por 
meio da teoria maior objetiva da desconsideração.
Importa ressaltar que mesmo a chamada teoria maior subjetiva haverá de 
ser objetivamente demonstrada no processo por meio, inclusive, de provas. 
Afinal, não se adota, nessa seara, a teoria menor do CDC.
Empresário individual e sociedades empresárias10
Enunciado nº 37 da I Jornada de Direito Civil
A responsabilidade civil decorrente do abuso de direito independe de culpa e se 
fundamenta somente no critério objetivo-finalístico.
As consequências do casamento dos sócios das sociedades também recebe 
tratamento bem diverso daquele realizado pelo empresário individual, haja 
vista que o CC é expresso em facultar “[...] aos cônjuges contratar sociedade, 
entre si ou com terceiros, desde que não tenham casado no regime da comu-
nhão universal de bens, ou no da separação obrigatória” (BRASIL, 2002, 
documento on-line).
Já o empresário individual casado, nos termos do art. 978, “[...] pode, sem 
necessidade de outorga conjugal, qualquer que seja o regime de bens, alienar 
os imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus real” 
(BRASIL, 2002, documento on-line). Para não restar dúvidas sobre o des-
tinatário do referido dispositivo, segue o Enunciado nº 58 da II Jornada de 
Direito Comercial transcrito:
O empresário individual casado é o destinatário da norma do art. 978 do CCB 
e não depende da outorga conjugal para alienar ou gravar de ônus real o imó-
vel utilizado no exercício da empresa, desde que exista prévia averbação de 
autorização conjugal à conferência do imóvel ao patrimônio empresarial no 
cartório de registro de imóveis, com a consequente averbação do ato à margem 
de sua inscrição no registro público de empresas mercantis. (BRASIL, 2015).
Por fim, há de se analisar a regulamentação da empresa individual de 
responsabilidade limitada (EIRELI), consoante designação legislativa, a 
qual alguns chamam de empresário individual de responsabilidadelimitada. 
Importa destacar o art. 980-A, que o regula: “A empresa individual de 
responsabilidade limitada será constituída por uma única pessoa titular da 
totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior 
a 100 (cem) vezes o maior salário-mínimo vigente no País” (BRASIL, 2002, 
documento on-line).
Logo se vê que há apenas uma pessoa que é titular de todo o capital social. 
É, como já visto, uma modalidade de exercício individual da empresa. Há 
disposição legislativa ainda no sentido de que a EIRELI “[...] também poderá 
resultar da concentração das quotas de outra modalidade societária num único 
11Empresário individual e sociedades empresárias
sócio, independentemente das razões que motivaram tal concentração” (art. 
980-A, parágrafo primeiro) (BRASIL, 2002, documento on-line).
Importa ressaltar que o capital há de estar devidamente integralizado, 
ou seja, não se aceita a mera menção do instrumento a ser arquivo no órgão 
competente, sob pena, inclusive, de se considerar irregular a EIRELI.
Destaca-se que o capital social não pode ser, pela expressa previsão le-
gislativa, inferior a 100 vezes o maior salário mínimo. Há quem o considere 
inconstitucional. Primeiro, violaria a livre-iniciativa, segundo, há proibição 
constitucional de vinculação ao salário mínimo de índices. Há, até mesmo, 
ação de controle de constitucionalidade abstrato-concentrado no Supremo 
Tribunal Federal (STF) para questionar tal exigência.
Embora os argumentos sejam razoáveis pela inconstitucionalidade, há 
bons argumentos no sentido contrário também. Pode-se indicar que os princí-
pios fundamentais são relativos. Assim, mesmo que a ordem econômica seja 
fundada no trabalho e na livre-iniciativa, há de se considerar a finalidade 
de “[...] assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça 
social” (BRASIL, 1988).
Entre os argumentos contrapostos para restringir a incidência da livre 
iniciativa está a necessidade de haver um capital social integralizado para 
assegurar o cumprimento das obrigações da EIRELI perante os credores que 
não poderiam incidir mais na pessoa natural, sendo, tal exigência, razoável 
para fins de assegurar a justiça social. Além disso, a limitação constitucional 
de indenixação ao salário mínimo não se aplica no caso, já que a sua utili-
zação é apenas para fins de parâmetro jurídico, não um reajuste apto a gerar 
consequências inflacionárias sistêmicas.
De qualquer forma, essa questão ainda está em aberto. Portanto, há de pre-
valecer a presunção de constitucionalidade dos atos legislativos, ou seja, exige-
-se esse capital social minimamente integralizado de 100 salários mínimos.
Imagine a seguinte situação: o capital social foi estabelecido no limite 
mínimo previsto pela legislação, entretanto, o salário mínimo, ao transcorrer 
dos anos, sofreu reajustes inflacionários ou ganhos reais de poder de compra. 
Logo, a EIRELI passou a titularizar um capital social inferior à exigência. 
Dessa forma, como resolver tal situação? Tem prevalecido a interpretação 
oferecida pelo Enunciado n. 4 da I Jornada de Direito Comercial do CJF: “Uma 
vez subscrito e efetivamente integralizado, o capital da empresa individual 
de responsabilidade limitada não sofrerá nenhuma influência decorrente de 
ulteriores alterações no salário mínimo” (BRASIL, 2012).
Além disso, o nome empresarial da EIRELI pode ser firma ou denominação, 
desde que seja incluído EIRELI ao final. O que não pode é o titular pessoa 
Empresário individual e sociedades empresárias12
natural integrar mais de uma pessoa jurídica dessa natureza por expressa de-
terminação legal, a saber: “A pessoa natural que constituir empresa individual 
de responsabilidade limitada somente poderá figurar em uma única empresa 
dessa modalidade” (BRASIL, 2011).
Ainda não se estabeleceu, com segurança, a possibilidade de EIRELI, cujo 
titular é uma pessoa jurídica. Há pouco tempo se proibia, mas atualmente há 
essa possibilidade. Nessa circunstância, é possível a existência de múltiplas 
EIRELIs, porquanto ausente proibição.
Ademais, poderá ser atribuída
[...] à empresa individual de responsabilidade limitada constituída para a 
prestação de serviços de qualquer natureza a remuneração decorrente da 
cessão de direitos patrimoniais de autor ou de imagem, nome, marca ou 
voz de que seja detentor o titular da pessoa jurídica, vinculados à atividade 
profissional (BRASIL, 2011).
Como exemplo, temos um cantor, um apresentador de televisão ou um ator, 
que são pessoas naturais e exercem atividades de pessoa naturais. Imagine a 
situação de que um destes é contratado sob uma dada remuneração para ceder 
seus direitos de imagem, nome, marma ou voz. Assim, por exemplo, uma emis-
sora obterá lucros de atividade empresarial utilizando esses direitos, mas será 
obrigada a pagar uma porcentagem ao titular da EIRELI. Pois bem, é possível 
que tal valor seja destinado à pessoa jurídica, EIRELI, não à pessoa natural.
ASQUINI, A. Perfis da empresa. Revista de Direito Mercantil, v. 35, n. 104, p. 109-126, 1996.
BRASIL. Conselho de Justiça Federal. I Jornada de Direito Comercial: enunciados. Brasília, 
DF, 2012. Disponível em: <http://www.cjf.jus.br/enunciados/pesquisa/resultado>. 
Acesso em: 14 abr. 2018.
BRASIL. Conselho de Justiça Federal. II Jornada de Direito Comercial: enunciados. Brasília, 
DF, 2015. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/dl/enunciados-ii-jornada-direito-
-comercial.pdf>. Acesso em: 14 abr. 2018.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 
Brasília, DF, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicao.htm>. Acesso em: 14 abr. 2018.
13Empresário individual e sociedades empresárias
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Leituras recomendadas
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Empresário individual e sociedades empresárias14

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