Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Microeconomia: Princ´ıpios Ba´sicos Cap´ıtulo 4. Utilitdade Escola de Po´s-Graduac¸a˜o em Economia 2009 Mestrado em Financ¸as e Economia Empresarial V. Filipe Martins-da-Rocha (FGV) Microeconomia Outubro, 2009 1 / 26 To´picos cobertos 1 Utilidade cardinal 2 Elaborac¸a˜o de um func¸a˜o de utilidade 3 Alguns exemplos de func¸o˜es de utilidade 4 Utilidade marginal 5 Utilidade marginal e TMS 6 Utilidade de transporte urbano V. Filipe Martins-da-Rocha (FGV) Microeconomia Outubro, 2009 2 / 26 Utilidade ordinal A func¸a˜o de utilidade e´ um modo de atribuir um nu´mero a cada poss´ıvel cesta de consumo, de modo que se atribuam a`s cestas mais preferidas nu´meros maiores que os atribu´ıdos a`s menos preferidas Uma func¸a˜o de utilidade u : R2+ → [−∞,∞) representa uma relac¸a˜o de prefereˆncia � quando x � y ⇐⇒ u(x) > u(y) V. Filipe Martins-da-Rocha (FGV) Microeconomia Outubro, 2009 3 / 26 Utilidade ordinal A u´nica propriedade de uma atribuic¸a˜o de utilidade que interessa (em termos econoˆmicos) e´ o modo como ela ordena as cestas de bens Na Tabela abaixo as treˆs func¸o˜es de utilidade descrevem as mesmas prefereˆncias: A � B, B � C e A � C V. Filipe Martins-da-Rocha (FGV) Microeconomia Outubro, 2009 4 / 26 Transformac¸a˜o montoˆnica Uma func¸a˜o f : [−∞,∞)→ [−∞,∞) e´ estritamente crescente (ou monotoˆnica positiva) quando ∀(u1, u2), u1 > u2 =⇒ f(u1) > f(u2) I Exemplos: f(u) = 3u+ 17 e f(u) = u3 ou a elevac¸a˜o de u a qualquer poteˆncia impar I Quando f e´ diferencia´vel, f ′(u) > 0 e´ uma condic¸a˜o suficiente para ser estritamente crescente Se u e´ uma func¸a˜o de utilidade, a nova func¸a˜o f ◦ u definida por [f ◦ u](c) = f [u(x)] e´ uma transformac¸a˜o montoˆnica (positiva) de u As func¸o˜es u e f ◦ u representem a mesma relac¸a˜o de prefereˆncia V. Filipe Martins-da-Rocha (FGV) Microeconomia Outubro, 2009 5 / 26 Transformac¸a˜o montoˆnica V. Filipe Martins-da-Rocha (FGV) Microeconomia Outubro, 2009 6 / 26 Utilidade cardinal As teorias da utilidade cardinal partem do pressuposto de que o tamanho da diferenc¸a de utilidade entre duas cestas de bens e´ de alguma significaˆncia Para sabermos se uma pessoa prefere uma cesta de bens a outra, baste lhe oferecermos a possibilidade de escolha entre as duas cestas e observarmos qual a escolhida Como saber se uma pessoa gosta duas vezes mais de uma cesta do que de outra? I Disposto a pagar por ela duas vezes o que estou disposto a pagar pela outra (depende da riqueza e dos prec¸os relativos) I Disposto a percorrer o dobro do caminho, esperar o dobro do tempo, ou me arriscar o dobro para consegui-la Teorias de utilidade cardinal na˜o ajudam para descrever o comportamento da escolha (demanda no mercado): so´ precisamos saber qual de um conjunto de cestas e´ a preferida So´ levaremos em considerac¸a˜o a utilidade ordinal V. Filipe Martins-da-Rocha (FGV) Microeconomia Outubro, 2009 7 / 26 Elaborac¸a˜o de uma func¸a˜o de utilidade Nem todos os tipos de prefereˆncias podem se representados Se uma prefereˆncia e´ representada por uma func¸a˜o de utilidade, enta˜o ela e´ completa e transitiva Qualquer prefereˆncia que na˜o seja (completa e transitiva) na˜o pode ser representada por uma utilidade: A prefereˆncia � sobre {A,B,C} definida por A � B, B � C e C � A Sobre algumas condic¸o˜es “razoa´veis” satisfeitas por uma prefereˆncia, podemos encontrar uma func¸a˜o de utilidade que representa essa prefereˆncia V. Filipe Martins-da-Rocha (FGV) Microeconomia Outubro, 2009 8 / 26 Elaborac¸a˜o de uma func¸a˜o de utilidade V. Filipe Martins-da-Rocha (FGV) Microeconomia Outubro, 2009 9 / 26 Alguns exemplos de func¸o˜es de utilidade Considera uma func¸a˜o de utilidade u que representa uma prefereˆncia � Para cada constante k, o conjunto de todas as cestas x verificando u(x) = k e´ chamado n´ıvel Para cada valor diferente da constante, tem-se uma curva de indiferenc¸a distinta Se x e´ uma cesta, a curva de indiferenc¸a de x e´ o n´ıvel associado a` constante u(x), i.e., {x ∈ R2+ : u(x) = u(x)} V. Filipe Martins-da-Rocha (FGV) Microeconomia Outubro, 2009 10 / 26 Alguns exemplos de func¸o˜es de utilidade Suponhamos que u(x1, x2) = x1x2 A curva de indiferenc¸a t´ı´ıca tem a fo´rmula x2 = k x V. Filipe Martins-da-Rocha (FGV) Microeconomia Outubro, 2009 11 / 26 Exemplo: substitutos perfeitos A func¸a˜o de utilidade u(x1, x2) = x1 + x2 representa uma prefereˆncia tal que o consumidor aceita substituir o bem 1 pelo bem 2 a uma taxa de 1 por 1 Se o consumidor exija duas unidades do bem 2 para compensa´-lo pela desisteˆncia de uma unidade do bem 1, a prefereˆncia pode ser representada por a func¸a˜o u(x1, x2) = 2x1 + x2 As prefereˆncias por substitutos perfeitos em geral podem ser representadas por uma func¸a˜o de utilidade da forma u(x1, x2) = ax1 + bx2 V. Filipe Martins-da-Rocha (FGV) Microeconomia Outubro, 2009 12 / 26 Exemplo: complementares perfeitos A func¸a˜o u(x1, x2) = min{x1, x2} e´ uma func¸a˜o de utilidade poss´ıvel para descrever os complementares perfeitos I Como costuma acontecer, qualquer transformac¸a˜o monotoˆnica tambe´m seria va´lida Quando o consumidor sempre consome duas colheres de ac¸u´car para cada x´ıcara de cha´, uma func¸a˜o de utilidade poss´ıvel e´ u(x1, x2) = min{x1, (1/2)x2} onde x1 e´ o nu´mero de x´ıcaras Em geral a func¸a˜o de utilidade que descreve prefereˆncias complementares perfeitas e´ dada por u(x1, x2) = min{ax1, bx2} onde a e b sa˜o nu´meros positivos que indicam as proporc¸o˜es nas quais os bens sa˜o consumidos V. Filipe Martins-da-Rocha (FGV) Microeconomia Outubro, 2009 13 / 26 Exemplo: prefereˆncias quasi-lineares Suponhamos que um consumidor tenha curvas de indiferenc¸a que sejam traduc¸o˜es verticais umas das outras Todas as curvas de indiferenc¸a sa˜o apenas verso˜es “deslocadas” de uma curva de indifereˆncia V. Filipe Martins-da-Rocha (FGV) Microeconomia Outubro, 2009 14 / 26 Exemplo: prefereˆncias quasi-lineares Esse tipo de prefereˆncia pode ser representado por uma func¸a˜o u do tipo u(x1, x2) = v(x1) + x2 Essa func¸a˜o e´ linear no bem 2 mas possivelmente na˜o linear no bem 1 Da´ı o nome de quase-linear I u(x1, x2) = √ x1 + x2 ou u(x1, x2) = ln(x1) + x2 As func¸o˜es de utilidade quase-lineares na˜o sa˜o realistas, mas sa˜o bem fa´ceis de lidar V. Filipe Martins-da-Rocha (FGV) Microeconomia Outubro, 2009 15 / 26 Exemplo: prefereˆncias Cobb-Douglas Outra func¸a˜o de utilidade comunamente usada e´ a func¸a˜o de Cobb-Douglas u(x1, x2) = xc1x d 2 onde c e d sa˜o nu´meros positivos que descrevem as prefereˆncias do consumidor V. Filipe Martins-da-Rocha (FGV) Microeconomia Outubro, 2009 16 / 26 Exemplo: prefereˆncias Cobb-Douglas As prefereˆncias de Cobb-Douglas tem curvas de indiferenc¸a bem comportadas: monotoˆnicas e convexas Transformac¸o˜es monotoˆnicas da func¸a˜o de Cobb-Douglas representam a mesma prefereˆncias Se extrairmos o logaritmo natural, obtemos v(x1, x2) = c ln(x1) + d ln(x2) Elevando a` poteˆncia 1/(c+ d) obtemos w(x1, x2) = xa1x 1−a 2 onde a = c/(c+ d) V. Filipe Martins-da-Rocha (FGV) Microeconomia Outubro, 2009 17 / 26 Utilidade marginal Imaginemos um consumidor que consuma uma cesta de bens (x1, x2) Quando oferecemos um pouco mais, ∆x1, do bem 1, A taxa de variac¸a˜o UM1 = ∆U ∆x1 = x1 + ∆x1, x2)− u(x1, x2) ∆x1 e´ chamada de utilidade marginal Observe que lim ∆x1→0 ∆U ∆x1 = ∂u ∂x1 (x1, x2) A utilidade marginal na˜o tem, por si mesma, nenhum conteu´do comportamental Como podemos calcular a utilidade marginal a partir de um comportamento de escolha do consumidor? Na˜o podemos V. Filipe Martins-da-Rocha (FGV) Microeconomia Outubro, 2009 18 / 26 Utilidade marginal e TMS Imaginemos uma variac¸a˜o de consumo de cada bem (−∆x1,∆x2), onde ∆xi > 0, que mantenha a utilidade constante −UM1 ∆x1 + UM2 ∆x2 = ∆U = 0 A taxa marginal de substituic¸a˜o do bem 2 por o bem 1: TMS2,1 = −∆x2∆x1 = − UM1 UM2 Rigorosamente, temos que passar ao limite TMS2,1(x) = − ∂u ∂x1 (x) ∂u ∂x2 (x) Os economistas costumam referir-sea` TMS pelo valor absoluto dela V. Filipe Martins-da-Rocha (FGV) Microeconomia Outubro, 2009 19 / 26 Utilidade marginal e TMS A func¸a˜o de utilidade (e a utilidade marginal) na˜o sa˜o determinadas de um u´nico modo Uma transformac¸a˜o monotoˆnica da utilidade na˜o modifica as prefereˆncias v(x) = f [u(x)] onde f e´ estritamente crescente A raza˜o das utilidades marginais (a TMS) independe da transformac¸a˜o especif´ıca da func¸a˜o de utilidade que se queira utilizas Nos temos VM`(x) = ∂v ∂x` (x) = f ′[u(x)]× ∂u ∂x` (x) = f ′[u(x)]×UM`(x) em seguida VM1(x) VM2(x) = UM1(x) UM2(x) V. Filipe Martins-da-Rocha (FGV) Microeconomia Outubro, 2009 20 / 26 Utilidade marginal e TMS Embora as utilidades marginais sejam alteradas pelas transformac¸o˜es monotoˆnicas A TMS (a raza˜o das utilidades marginais) independe da forma especif´ıca escolhida para representar as prefereˆncias A TMS pode ser medida mediante a observac¸a˜o do comportamento real do consumidor I Encontramos essa taxa de intercaˆmbio quando o consumidor quer ficar onde esta´ (prec¸os ao equ´ılibrio) V. Filipe Martins-da-Rocha (FGV) Microeconomia Outubro, 2009 21 / 26 TMS da utilidade Cobb–Douglas Se escolhermos a representac¸a˜o logar´ıtmica, onde u(x1, x2) = c ln(x1) + d ln(x2) Teremos ∂u ∂x1 (x) = c x1 e ∂u ∂x2 (x) = d x2 A Taxa marginal de substituic¸a˜o e´ TMS2,1 = − c d × x2 x1 V. Filipe Martins-da-Rocha (FGV) Microeconomia Outubro, 2009 22 / 26 Utilidade do transporte urbano O exame das escolhas que os consumidores fazem permite-nos avaliar uma func¸a˜o de utilidade capaz de descrever seu comportamento Nas grandes cidades, as pessoas podem escolher entre utilizar o transporte pu´blico ou dirigir seu pro´prio carro Cada alternativa pode ser encarada como representativa de uma cesta com diferentes caracter´ısticas I tempo de viagem, tempo de espera, custos em dinheiro, conforto, convenieˆncia Uma alternativa corresponde a uma cesta (x1, x2, . . . , xn) com os valores de n caracter´ısticas diferentes V. Filipe Martins-da-Rocha (FGV) Microeconomia Outubro, 2009 23 / 26 Utilidade do transporte urbano Suponhamos que as prefereˆncias do consumidor t´ıpico em relac¸a˜o as caracter´ısticas possam ser representadas por U(x1, x2, . . . , xn) = β1x1 + β2x2 + . . . βnxn Observando as escolhas de diversos consumidores podemos usar te´cnicas estat´ısticas para estimar os coeficientes β` Trabalhos empiricos mostraram que U(TW,TT,C) = −0, 147× TW − 0, 0411× TT− 2, 24× C onde I TW = tempo de percurso a pe´ I TT = tempo total de viagem, em minutos I C = custo total de viagem, em do´lares V. Filipe Martins-da-Rocha (FGV) Microeconomia Outubro, 2009 24 / 26 Utilidade do transporte urbano O consumidor t´ıpico considera o tempo percorrido a pe´ cerca de treˆs vezes mais oneroso do que o tempo de viagem O consumidor estaria disposto a aumentar em treˆs minutos o tempo total da viagem para reduzir em um minuto a caminhada A TMS de substituic¸a˜o entre o tempo e o custo indicas as possibilidades de substituic¸a˜o entre as duas varia´veis V. Filipe Martins-da-Rocha (FGV) Microeconomia Outubro, 2009 25 / 26 Utilidade do transporte urbano O usua´rio tipico atribuiu a cada minuto de tempo de viagem um valor de 0, 0411/2, 22 = 0, 0183 do´lar, ou 1,10 do´lar por hora O sala´rio por hora de usua´rio t´ıpico em 1967 era de 2,85 do´lares As estimativas de func¸a˜o de utilidade podem ser muito valiosas para determinar se vale ou na˜o a pena promover alterac¸o˜es no sistem de transporte pu´blico I O usua´rio t´ıpico estaria propenso a pagar aproximadamente 0,37 do´lar para reduzir em 20 minutos o tempo de viagem I Esse nu´mero nos da´ uma medida do benef´ıcio de aumentar a frequ¨eˆncia de circulac¸a˜o dos oˆnibus V. Filipe Martins-da-Rocha (FGV) Microeconomia Outubro, 2009 26 / 26 Main Talk
Compartilhar