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Doenças Regionais Problema 5 - fechamento 1 Daniela R. Fonseca – XXVII Objetivo I : Compreender as Hepatites virais agudas, suas apresentações clínicas, diagnóstico laboratorial, manejo clínico, profilaxia (A, B, C, D ,E) Hepatites Virais Agudas • São doenças causadas por diferentes vírus hepatotrópicos que apresentam características epidemiológicas, clínicas e laboratoriais distintas. • Normalmente a hepatite viral aguda é autolimitada, com duração média de 1 a 2 meses, não apresentando complicações. - Entretanto, há a uma pequena possibilidade da doença determinar sintomas extra-hepáticos significativos e evoluir para a doença hepática crônica, com duração maior que 6 meses. Agentes etiológicos • Os mais relevantes são os vírus A (HAV), B (HBV), C (HCV), D (HDV) e E (HEV). • Para todas, qualquer que seja o agente viral, são possíveis formas agudas leves e formas agudas graves, que determinam rápida evolução para insuficiência hepática. Transmissão Manifestações Clinicas • Após entrar em contato com o vírus, o indivíduo pode desenvolver hepatite aguda oligo/assintomática ou sintomática. • Esse quadro agudo pode ocorrer na infecção por qualquer um dos vírus e possui seus aspectos clínicos e virológicos limitados aos primeiros 6 meses, caracterizado por 3 fases: Prodrômica/Pré-Ictérica; Ictérica e Covalescença. 1. Fase Prodrômica: • Ocorre após o período de incubação do agente etiológico e anteriormente ao aparecimento da icterícia. Todas as hepatites virais (agudas e crônicas) são doenças de NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA no Brasil, devendo a notificação ser feita em até 7 dias. • Os primeiros sintomas geralmente são inespecíficos, predominantemente sistêmicos e gastro-intestinais, como: mal-estar, astenia, anorexia, náuseas, vômitos, diarreia, perda ou perversão do paladar e olfato, mialgias, tosse, coriza, cefaleia e fotofobia (podendo se assemelhar a um “quadro gripal”). • A presença de desconforto abdominal geralmente reflete hepatomegalia dolorosa, que pode se associar à discreta esplenomegalia. • A febre, quando presente, costuma ser leve (38° a 38,5°C), sendo a febre alta um achado incomum nas hepatites virais agudas. • Alguns pacientes podem apresentar artrite ou glomerulonefrite (Principalmente na B) aguda devido a deposição de imunocomplexos. • Manifestações como rash e urticaria não são infrequentes. • Os sintomas do período prodrômico nas crianças são mais leves, podendo nem serem notados. Dessa forma, o quadro sintomático só começa na fase ictérica. 2. Fase Ictérica (Varios dias a poucas semanas) • Aparecimento da icterícia, associada ou não com colúria, hipocolia fecal e prurido (síndrome colestática) e, geralmente, há diminuição dos sintomas prodrômicos,com exceção dos sintomas do TGI, que muitas vezes se acentuam. • Observa-se hepatomegalia dolorosa, com ocasional esplenomegalia. Obs: Essa fase pode não acontecer e o paciente anos após apresentar apenas sintomas inespecíficos perceberá que está com hepatite quando apresentar sinais da fase crônica(hipertensão porta e insuficiência hepática). 3. Fase de convalescença (Algumas semanas) • Desaparecimento da ictericia e melhora dos sintomas. • A recuperação completa ocorre após algumas semanas, mas a fraqueza e o cansaço podem persistir por vários meses. • Depois dessa fase, o paciente apresenta resolução do quadro ou poderá evoluir para a forma crônica( hep. B, C e D). • A duração dos sinais e sintomas clínicos que compõem as três fases da hepatite aguda, por definição, não pode ultrapassar 6 meses. Após este período, a persistência da replicação viral e das queixas clinicas indica o desenvolvimento de hepatite crônica. Diagnostico → Clínico: • Período prodrômico ou pré-ictérico: - Fazer anamnese avaliando a idade, história pregressa e presença de fatores de risco como o compartilhamento de instrumentos para o uso de drogas injetáveis, inaladas ou pipadas, prática sexual não segura, convivência intradomiciliar e intrainstitucional com pacientes portadores de hepatite, condições sanitárias, ambientais e de higiene. OBS: NÃO É POSSIVEL DETERMINAR A ETIOLOGIA DE UMA HEPATITE AGUDA APENAS DE ACORDO COM A CLÍNICA E EPIDEMIOLOGIA,MEXCETO EM CASOS E SURTOS DE HEPATITE A. → Laboratorial: • Período prodrômico ou pré-ictérico: Inespecíficos Síndrome pós-hepatite • Caracterizada pela persistência de alguns sinais e sintomas (como fadiga, peso no hipocôndrio direito, intolerância ao álcool) mesmo após a cura do quadro agudo. - A palpação do hipocôndrio direito pode ser dolorosa e as aminotransferases podem continuar discretamente elevadas. • O prognóstico é bom, mas o quadro pode persistir por meses, muitas vezes sendo necessário a realização de biópsia hepática para descartar hepatite crônica. A) Aminotransferases(transaminases): • A aspartato aminotransferase (AST/TGO) e a alanino aminotransferase (ALT/TGP) são marcadores de agressão hepatocelular. • Começam a aumentar uma semana antes do início da icterícia e normalizam em cerca de 3 a 6 semanas de curso clínico da doença. • Atingem valores 25 a 100 vezes acima do normal, embora alguns pacientes apresentem níveis mais baixos, principalmente na hepatite C. Vale ressaltar que a magnitude na elevação das aminotransferases não guarda relação direta com o prognóstico da hepatopatia: ainda que um aumento exuberante indique maior extensão do dano hepático (mais necrose hepatocitária), não necessariamente isso significa que o paciente tem maior chance de evoluir para falência hepática aguda. B) Bilirrubinas: elevam-se após o aumento das aminotransferases e podem alcançar valores 20 a 25 vezes acima do normal. • Tanto a fração indireta(não conjugada) quando a direta(conjugada) aumentam, mas a direta predomina. • Isso ocorre porque a lesão hepática afeta mais a etapa da excreção de bilirrubina para os canalículos biliares do que as etapas de captação e conjugação. • Isso vem do fato de a excreção de bilirrubina do hepatócito ser um processo altamente dependente de ATP (energia). • Além disso, alguns pacientes evoluem com componente colestático associado, com elevações moderadas da fosfatase alcalina e gama-GT. - Isso é particularmente visto na chamada “forma colestática da hepatite A”, mas pode ocorrer em outras hepatites virais. • Também é importante lembrar que paciente com hepatite viral aguda, notadamente hepatite A ou B, que esteja evoluindo com obnubilação ou torpor, faz-se absolutamente necessária a avaliação da síntese hepática através da dosagem da albuminemia e do tempo e atividade de protrombina (TAP), a fim de que se possa confirmar precocemente um eventual diagnóstico de insuficiência hepática fulminante. - A encefalopatia hepática, a hipoalbuminemia e o alargamento do TAP são os principais parâmetros de mau prognóstico. C) Outros exames para avaliação da função hepática: dosagem de proteínas séricas, fosfatase alcalina, gama- glutamiltransferase, atividade de protrombina, alfafetoproteína e contagem de leucócitos e plaquetas • Doença infecciosa aguda causada pelo vírus VHA. • A disseminação da doença está intimamente relacionada com a precariedade da infraestrutura de saneamento básico e as condições de higiene praticadas. Epidemiologia • No Brasil, o grupo mais acometido é o das crianças com menos de 10 anos, com pico de incidência entre 5 e 6 anos. • Não há diferença significativa entre os sexos. • A região norte e nordeste são as mais acometidas. • Nos últimos anos houve uma queda progressiva na frequência da hepatite A em nosso meio, fato que pode ser justificado pela melhoria nas condições sanitárias da população. • Verdadeiras provas de função hepática: -Albuminemia. - Tempo e atividade de protrombina (TAP), com INR. - Bilirrubinas. - Amonemia (dosagem da amônia sérica). Agente Etiologico • O HAVé um vírus de RNA, com capsídeo icosaédrico, desprovido de envelope, per-tencente à família Picornaviridae, gênero Hepatovirus. Transmissao • Principal via de contágio: Fecal-oral, seja por contato inter-humano ou por meio de água e alimentos contaminados. - A transmissão por via parenteral é rara, mas pode ocorrer se o doador estiver na fase de viremia. - A transmissão pelo contato sexual também pode ocorrer, particularmente em homossexuais masculinos, pela prática de sexo anal. • O HAV pode ser encontrado na saliva, porém nunca foi comprovada a transmissão por este fluido. Periodo de Incubação: Varia de 15-45 dias, com média de 30 dias = É nesse período que ocorrem os picos de viremia e eliminação viral fecal. Patogenese • O HAV resiste ao pH ácido do trato digestivo alto e, assim, após ingerido, penetra na mucosa intestinal chegando ao fígado através da circulação porta. • O vírus se replica no hepatócito e é excretado pelos canais biliares, atingindo o intestino por meio da bile, onde, finalmente, é eliminado nas fezes (fato que explica os elevados títulos virais nas fezes e a transmissão eminentemente fecal-oral). • O HAV é órgão-específico: a replicação viral ocorre apenas no hepatócito. - Manifestações extra-hepáticas (artrite, glomerulonefrite que são raras) são decorrentes da deposição de imunocomplexos. • O HAV não é hepatotóxico por si só = A lesão hepatocelular decorre da resposta imune(principalmente, a celular por LTCD8+) do indivíduo aos antígenos virais. Manifestações Clinicas • A hepatite A, como as outras hepatites agudas, é caracterizada por inflamação difusa do parênquima hepático (Caracterizando a sindrome Hepatocelular) • O quadro costuma ser leve, especialmente em crianças, onde as vezes o diagnóstico é confundido com uma gastroenterite (a icterícia é pouco frequente). • Já nos adultos, os sinais e sintomas costumam ser mais acentuados e prolongados, e a icterícia está presente em 70-80% dos casos. • Quando sintomática, em qualquer faixa etária, a doença costuma cursar com as fases sequenciais (prodrômica, ictérica e convalescência). • Aminotransferases se elevam no periodo de incubação e normalizam 3-4 semanas após início dos sintomas. • Pode haver, ainda, outras formas de apresentação: • A hepatite A é a hepatite viral mais relacionada à síndrome colestática intra-hepática, cursando com prurido intenso, colúria e acolia fecal, bem como com elevação moderada da fosfatase alcalina, gama-GT e bilirrubina direta. Diagnostico → O diagnóstico é realizado por meio de imunoensaios que detectam anticorpos contra o vírus em amostras de soro. • Tais testes são capazes de detectar o anti-HVA IgM entre cinco e dez dias após a infecção, e possuem sensibilidade de 100% e especificidade de 99%. → A resposta imune costuma se manifestar pouco antes da elevação das transaminases. • O IgM anti-HAV pode ser detectado antes ou no momento da manifestação dos sintomas e decai em cerca de três a seis meses, tornando-se indetectável. - O achado de IgM anti-HVA confirma o diagnóstico de hepatite A aguda. - Em indivíduos previamente infectados, sem a fase aguda da doença, encontra-se somente o IgG. • O IgG anti-HAV surge logo após o aparecimento do IgM e pode persistir indefinidamente, conferindo imunidade ao indivíduo. - Também está presente no indivíduo vacinado contra hepatite A. • Dessa forma, na fase aguda de infecção, são encontradas ambos IgM e IgG. OBS: Falso-positivo para a elevação do IgM anti-HAV: - O fator reumatoide pode causar falsa positividade nesse teste. - Ora, se um paciente desenvolve icterícia e em seu sangue é encontrado o anti-HAV IgG, mas não o IgM, o diagnóstico não é de hepatite A aguda! O paciente teve hepatite A no passado (ou foi vacinado), devendo-se buscar outra explicação para a icterícia. Tratamento • Não há tratamento específico - Tratamento sintomático para náuseas, vômitos e prurido. • Baseia-se em repouso relativo (limitação das atividades físicas conforme a tolerância do paciente) e aumento da ingesta calórica + medicamentos sintomáticos. • Deve-se evitar drogas hepatotóxicas como por exemplo, o paracetamol. - Além disso, não se deve ingerir álcool por pelo menos 6 meses. • A administração parenteral de vitamina K (por 1-3 dias) pode ser tentada em casos que cursam com queda na atividade de protrombina. Prognóstico • O prognóstico é bom, uma vez que a hepatite A não cronifica. • A recuperação é normalmente total e sem sequelas. • Em condições normais, a chance da hepatite A evoluir para a hepatite fulminante é baixa, sendo relativamente maior em idosos. Profilaxia • Estabelecer medidas de cuidado com a água de consumo, a manipulação de alimentos, e as condições de higiene e saneamento básico junto à comunidade e aos familiares. • Orientação de instituições coletivas, como creches, pré-escolas e outras, sobre as medidas adequadas de higiene, desinfecção de objetos, bancadas e chão, utilizando-se hipoclorito de sódio 2,5% ou água sanitária. • Lavagem e desinfecção, com hipoclorito de sódio, dos alimentos consumidos crus. • Afastamento do paciente, se necessário, de suas atividades de rotina (principalmente crianças que frequentam creche ou escola) durante as primeiras duas semanas da doença. Vacinação • Vacina hepatite A (inativada) purificada é indicada no calendário básico de vacinação da criança. • Está disponível na rede pública para as crianças com 15 meses de idade em esquema de dose única. - Rede privada: 2 doses ( uma aos 12 meses e outra 6-12 meses após). • A vacina também está disponível nos CRIE(Centros de Referência em Imunobiológicos Especiais) para pacientes com idade acima de 12 meses que se enquadrem em alguma das categorias abaixo: - Hepatopatias crônicas de qualquer etiologia (incluindo hepatite crônica B ou C ) - Coagulopatias - crônica Crianças < 13 anos portadores de HIV/Aids - Adultos portadores de HIV/Aids que tenham hepatite B e/ou C - Doenças genéticas (hemoglobinopatias, doenças de depósito, fibrose, trissomias como Down); - Imunodepressão terapêutica ou por doença imunodepressora; - Candidatos a transplante de órgão sólido, cadastrados em programas de transplantes; - Transplantados de órgãos sólidos ou medula óssea; - Doadores de órgãos sólidos ou medula óssea, cadastrados em programas de transplantes. Profilaxia pós exposição • Pacientes anti-HAV negativo (não vacinados e não infectados no passado) se beneficiam de medidas profiláticas após exposição à hepatite A, desde que essas medidas sejam aplicadas num prazo máximo de duas semanas: 1. Para pessoas saudáveis com idade entre 12 meses e 40 anos, a estratégia de escolha consiste na aplicação de dose única da vacina anti-HAV inativada. 2. Pacientes com idade < 12 meses ou > 40 anos, bem como portadores de imunodepressão, hepatopatias crônicas ou que possuam qualquer contraindicação à vacina, devem receber imunoglobulina humana (0,02 ml/kg, IM). Epidemiologia • A faixa etária mais acometida vai dos 20 aos 69 anos, o que é condizente com a principal via de transmissão da doença (sexual). • A incidência em <15 anos vem caindo progressivamente, devido à ampliação da cobertura vacinal e à realização de profilaxia contra a transmissão vertical. • A média de idade ao diagnóstico gira em torno de 35 anos, notando-se um predomínio no sexo masculino. • Em números absolutos, a maior parte dos casos é registrada nas regiões Sul e Sudeste, porém, acredita-se que exista subnotificação nas demais regiões. Agente Etiologico • Bastante diferente do HAV. • Estruturalmente, o HBV possui um envoltório lipoproteico e um núcleo central denso (core). • O envoltório lipoproteico expressa o antígeno de superfície HBsAg, o núcleo central denso possui outro antígeno, o HBcAg. - Os hepatócitos infectados, na vigência de elevadas taxas de replicaçãoviral, secretam na corrente sanguínea o “antígeno e” (HBeAg). - Há ainda o “antígeno x” (HBxAg), o qual estimula a transcrição de genes virais e celulares, que inclusive pode estimular a transcrição de genes de outros vírus, como o HIV. → HBsAg: • É produzido em grande quantidade durante a infecção pelo HBV, sendo facilmente detectado por exames sorológicos mesmo quando o vírus não se encontra em estado replicativo. • Em algumas pessoas, esse antígeno pode determinar a formação do anticorpo específico anti-HBs. • O HBsAg positivo indica a presença do vírus B no organismo, sendo o principal elemento sorológico para o diagnóstico da hepatite B. • O surgimento do anti-HBs é seguido pelo desaparecimento do HBsAg no sangue, tradicionalmente indicando a cura da hepatite B (e aquisição de imunidade duradoura), haja vista seu caráter neutralizante. → HBcAg: • Por se localizar na região central do vírus, o HBcAg não é encontrado no sangue circulante. - Entretanto, mesmo assim ele determina a formação do anticorpo anti-HBc. • O anti-HBc é o principal marcador da infecção pelo vírus B (ativa ou curada). - Este anticorpo não é neutralizante, e a sua presença não indica a cura da infecção. → HBeAg: • Por ser intensamente secretado durante a fase de replicação viral, é facilmente detectável, e sua positividade indica alta viremia e elevada infectividade. • Ele pode determinar a formação do anticorpo anti-HBe, negativando então o HBeAg e diminuindo a infectividade. Transmissão • O HBV é encontrado no sangue e em outros fluidos corpóreos, sendo transmitido através do contato com esses materiais. → Transmissão Vertical: • Pode ser intrauterina (raro, 5% dos casos) ou perinatal (90-95% dos casos). - Intrauterina: Fatores de risco = HBeAg positivo na mãe; (2) trabalho de parto pré-termo “laborioso”; (3) procedimentos obstétricos com manipulação da placenta. - Perinatal: Ocorre por microtransfusões de sangue materno durante as contrações uterinas e por contato com sangue e secreções vaginais. • Quando a mulher é agudamente infectada durante a gestação, a chance de transmissão vertical varia de 10% a 60%. • Quando a mulher já é portadora crônica do vírus B, a chance de transmissão vertical varia conforme seu perfil sorológico: 90% para mulheres HBeAg+ e 10-40% para mulheres HBeAg- • A transmissão pode ocorrer pelo compartilhamento de objetos contaminados, como lâminas de barbear e de depilar, escovas de dente, alicates e acessórios de manicure e pedicure, materiais para colocação de piercing, tatuagens, uso de substâncias injetáveis, inaláveis. OBS : A importância da transmissão vertical reside no fato de que a chance de cronificação da doença é MAIOR quando MENOR a idade → Ou seja, recém-nascidos infectados de forma “vertical” constituem o grupo com maior probabilidade de evoluir para hepatite B crônica e suas complicações, como cirrose hepática e hepatocarcinoma. • Essa maior chance de cronificação quando adquirido pela via vertical é porque quando expostos intrautero ao antígeno E, ele induz tolerância do sistema imunológico fetal em formação aos antígenos do core viral (tanto o HbcAg quanto o HbeAg). • Assim, ao adquirir a infecção durante o parto (ou, mais raramente, pela via transplacentária), o sistema imune do recém-nascido não reconhece os antígenos virais como “estranhos”, e o vírus consegue se replicar, sem impedimento, durante anos ou mesmo décadas no corpo do paciente. • Apesar de a maioria dos estudos reconhecer a presença de partículas virais no leite materno, ainda não foi comprovada de que a amamentação seja uma via importante de contaminação, portanto, não é recomendada a suspensão do aleitamento. → Transmissão sexual: • Modo de transmissão mais comum em países desenvolvidos. • O uso de preservativo diminui o risco. Patogênese • HBV não é diretamente citopático. • A hepatite inicia por uma resposta imune celular(LTCD8+) dirigida contra antígenos virais expressos pelos hepatócitos, resultando em dano a estas células. - Citocinas pró-inflamatórias, como TNF-a estão envolvidas. • Resposta imune acentuada: relacionada com lesão hepática mais grave, mas há maior chance de cura • Resposta imune insuficiente: maior risco de cronificação. → Imunidade: • Como o VHB não é diretamente citopático acredita-se que a hepatite se inicia por uma resposta imunocelular contra antígenos virais específicos que levarão ao dano hepático. • Tanto a imunidade celular quanto humoral são necessárias para eliminação do vírus, além da inativação viral intracelular produzida por citocinas liberadas pelas células linfomononucleares. • Interleucinas, IFN-y e TNF são as principais citocinas liberadas e que podem levar diretamente à morte dos hepatócitos infectados ou não. • Ocorre ativação dos LTCD8+ específicos com a consequente produção de anticorpos antivirais neutralizantes • Há ativação das células NK que migram para o fígado para destruir os hepatócitos infectados. • Durante a fase aguda da hepatite viral, os hepatócitos infectados pelo VHB expressarão na sua superfície um complexo formado por proteínas do core do VHB( AgHBc e AgHBe) e proteínas da classe 1 doNHLA (antígeno linfocitário humano). • O linfócito T citotóxico reconhece as proteínas do core viral e o peptídeo da classe 1 do HLA e, ao atacar o hepatócito infectado, produz a lise celular ou a sua degeneração. - Isso representa o maior determinante da lise dessas células. - Quando esse mecanismo é eficiente, dá-se a recuperação da infecção. • O indivíduo poderá desenvolver infecção crônica porque não ocorre a expressão da classe 1 do HLA ou porque o linfócito citotóxico não é apropriadamente estimulado ou, ainda, por algum outro mecanismo desconhecido. • O hepatocarcinoma se desenvolve após a integração do DNA do VHB no genoma do hospedeiro. - Essa alteração cromossômica, levará a transformações celulares, que produzirão, após alguns anos, o carcinoma de células primárias do fígado. Historia Natural da Doença e Marcadores • HbsAg surge dentro de 1- 10 semanas, sem o aparecimento de qualquer sintomatologia. - Quando o paciente apresenta algum sintoma, ele já é detectável. • Após o período de incubação (30-180 dias), junto com o surgimento dos sintomas, podemos observar o aumento das aminotransferases e o aparecimento do anti-HBc IgM. - Inicia-se então, as 3 fases clínicas típicas que costumam durar poucas semanas. → Prodrômica: • O anti-HBc IgM aparece no soro logo após o HBsAg (junto com os sintomas) e permanece positivo por 4-5 meses; - Já o anti-HBc IgG aparece pouco tempo depois do IgM e permanece positivo por tempo indeterminado. • O anti-HBc, associado ao HBsAg, compõe os dois marcadores sorológicos mais importantes para o diagnóstico da hepatite B aguda. → Convalescença: • Marcada pelo surgimento do anti-HBs (Surge 1-2 meses após inicio dos sintomas e algumas semanas após a negativação do HbsAg); • Diminuição dos sintomas e icterícia; • Queda progressiva das aminotransferases. - A melhora do quadro agudo da hepatite B e a evolução para a cura dependem da produção satisfatória do anti-HBs; caso não haja a produção deste anticorpo dentro de 6 meses, o paciente se torna portador assintomático ou desenvolve a hepatite B crônica. • O HBeAg é produzido quando o vírus se replica intensamente (fase sintomática). - Com o passar do tempo o organismo tende a suprimir a replicação viral, e passa ser detectado no soro o anti-HBe, marcando a fase não replicativa e de baixa infectividade. - Se houver cura do quadro de hepatite B, o anti-HBe permanece positivo evidenciando um passado de replicação viral. Manifestações Clinicas • Em geral, os sintomas costumam ser mais intensos quando comparados com os da hepatite A ou C. • Normalmente tende a surgir durante a fase de replicação virale desaparecer na fase não replicativa. • A infecção perinatal ou durante a infância costuma ter um quadro clínico mais brando (sem icterícia), mas com elevado risco de cronicidade. • Já em adultos, a infecção geralmente determina sintomas proeminentes (com icterícia), mas com pouca chance de cronicidade. a) Formas de Evolução: ❖ Evolução aguda benigna: → Assintomática : Apenas com aumento de aminotransferases e marcadores sorológicos; → Anictérica : Se manifesta apenas com os sintomas da fase prodrômica, sendo muitas vezes confundida com uma gripe, e elevação de aminotransferases; - Alguns podem apresentar febre, rash e poliartrite → Ictérica: Forma clássica e de fácil diagnóstico; → Recorrente: Caracterizada laboratorialmente por novas elevações das aminotransferases e pacientes que já haviam melhorado. - Só são clinicamente percebidos se houver também um novo aumento de bilirrubinas, com retorno/acentuação da icterícia; → Colestática: Paciente apresenta intensa acolia fecal e prurido associado ao aumento progressivo da bilirrubina direta, fosfatase alcalina e gama-GT. Mais comum na Hepatite A. - O prognóstico é bom. ❖ Evolução aguda grave: → Hepatite fulminante: Ocorre em 1% dos casos • Termo utilizado para designar a insuficiência hepática aguda, caracterizada pelo surgimento de icterícia, coagulopatia e encefalopatia hepática em um intervalo de até 8 semanas. • A fisiopatologia está relacionada à degeneração e necrose maciça dos hepatócitos. • O quadro neurológico progride para o coma ao longo de poucos dias após a apresentação inicial. • Laboratorialmente, a hepatite fulminante se caracteriza por extensa necrose do parênquima hepático, com desenvolvimento precoce dos anticorpos anti-HBs, anti-HBc e anti-HBe, e desaparecimento dos antígenos virais correspondentes. - O anti-HBc IgM é encontrado em altíssimos títulos. - A letalidade da hepatite B fulminante chega a 50-60%. - Nos pacientes que sobrevivem, entretanto, a negativação do HBsAg é a regra, e costuma ser acompanhada pela regeneração completa da estrutura hepática, com normalização de suas funções. →Indicativos de evolução ruim: - Acentuação de sintomas gastrointestinais durante a fase ictérica e surgimento de febre persistente. - Acentuação da icterícias - Redução do volume do fígado a palpação - Sintomas de insuficiência hepática: distúrbios eletrolíticos, distúrbios da consciência e coma b) Manifestações Extra-hepáticas • Mais comuns na crônica. • Relacionado com a deposição de imunocomplexos. 1) Poliarterite Nodosa : Imunocomplexos agridem a parede vascular 2) Glomerulonefrite : Deposição de imunocomplexos e componentes do complemento na membrana basal glomerular e no mesângio. - Mais comum em crianças = A lesão renal costuma regredir espontaneamente entre 6 meses a 2 anos. - Em adultos, por outro lado, a lesão glomerular pode assumir um curso insidiosamente progressivo em um terço dos casos, culminando em insuficiência renal (com 10% necessitando de diálise). 3) Acrodermatite Papular: Erupção maculopapular, eritematosa, não pruriginosa e simétrica sobre a face, membros e nádegas, que costuma persistir por 15 a 20 dias. - As mucosas são poupadas e é comum o surgimento de adenopatia inguinal e axilar. - Mais comum em crianças. Diagnostico • HBsAg (antígeno de superfície do HBV) : Pode ser detectado por meio de testes rápidos ou laboratoriais na grande maioria dos indivíduos com hepatite B crônica ou aguda. - Juntamente com o HBV-DNA, é um dos primeiros marcadores da infecção, detectável em torno de 30 a45 dias após a infecção, e pode permanecer detectável por até 120 dias nos casos de hepatite aguda. - Ao persistir além de 6 meses, caracteriza a infecção crônica. Obs: Pacientes com suspeita de infecção pelo HBV e que não possuem reatividade nos testes que detectam o HBsAg, é recomendada a utilização de um teste molecular de alta sensibilidade (capacidade de detecção de pelo menos 100 UI/mL) para a confirmação diagnóstica de um caso de IOB(INFECÇÃO OCULTA PELO HBV). • Anti-HBc IgM (anticorpos da classe IgM contra o antígeno do capsídeo do HBV) : É um marcador de infecção recente, que geralmente surge 30 dias após o aparecimento do HBsAg e é encontrado no soro por até 32 semanas após a infecção. - Detectado por imunoensaio laboratorial. • Anti-HBc (Total das classes IgM e IgG simultaneamente): Detectado por imunoensaio laboratorial - O anti-HBc total, isoladamente, indica contato prévio com o vírus. - Por isso, o resultado reagente desse marcador não pode ser interpretado sem a realização de outros marcadores diretos da presença do vírus. - Além disso, a janela imunológica para os anticorpos contra o core viral é de aproximadamente 45 dias, posterior ao aparecimento do HbsAg. • Anti-HBs (anticorpos contra o antígeno de superfície do HBV): Quando presente nos títulos adequados (pelo menos 10UI/mL), este marcador confere imunidade ao HBV. - O seu surgimento, normalmente, está associado ao desaparecimento do HBsAg, funcionando como um indicador de cura e imunidade. - Está presente isoladamente em pessoas que tomaram a vacina contra o HBV. • HBV-DNA (DNA do HBV - material genético do vírus): Sua quantificação corresponde à carga viral circulante no indivíduo. - Por ser um indicador direto da presença do vírus, pode ser usado como teste complementar no diagnóstico da infecção pelo HBV. - Também é usado no monitoramento do paciente e no acompanhamento da terapia antiviral. • HBeAg : Marcador de replicação viral. • Anti-HBe : Anticorpo específico contra o antígeno “e” do vírus da hepatite B. → Testes Rápidos (TR): • Recentemente foram incorporados ao SUS dois Testes Rápidos: - Para hepatite B (que detecta apenas o HBsAg); - Para hepatite C (que detecta apenas anticorpos anti-HCV). • O objetivo é ampliar o acesso ao diagnóstico dessas doenças, principalmente em cenários desprovidos de infraestrutura laboratorial ou quando um diagnóstico imediato for desejável. • Esses testes podem ser feitos em amostras de soro, plasma ou sangue total, sendo esta última preferível. • Ressalte-se que, na realidade, os testes rápidos são testes de screening, isto é, quando positivos deverão ser complementados por exames adicionais. • Cumpre salientar que um resultado negativo, por outro lado, não necessariamente descarta a possibilidade de infecção. - Persistindo a suspeita clínica, uma nova amostra deverá ser coletada após 30 dias para a realização de um novo teste. Interpretação De Resultados • O diagnóstico da hepatite B aguda depende apenas do HBsAg e do anti-HBc IgM. • O anti-HBs, o HBeAg e anti-HBe, só costumam ter importância em situações especiais. 1) HBsAg Positivo: A positividade para este antígeno indica a presença do HBV no organismo, sendo compatível com as seguintes situações clínicas: - Hepatite B aguda - Hepatite B crônica - Estado de portador assintomático do vírus 2) HBsAg Negativo: A negatividade do HBsAg torna bastante improvável, mas não exclui a possibilidade de hepatite B. - Isso porque existe um momento no curso da infecção aguda, geralmente no final da fase ictérica, em que o HBsAg pode começar a circular em níveis indetectáveis ou estar realmente ausente → Tal situação é conhecida como “janela imunológica” e justifica a presença de um resultado falso negativo para este antígeno, em um paciente possuidor do HBV. - Outra explicação para a hepatite B aguda HBsAg negativa é a presença de níveis muito baixos, aquém da sensibilidade do exame sorológico, ou ainda, infecção por um “mutante de escape” → Esta condição vem sendo chamada atualmente de “hepatite B oculta”. 3) HBsAg Positivo ou Negativo/Anti-HBc IgM Positivo: • Se o HBsAg estiver positivo, então o próximo passo deve ser a observação do anti-HBc. - Se houver positividade de IgM (proteína defase aguda) para o anti-HBc, está fechado o diagnóstico de hepatite B aguda. • Se o paciente for negativo para HBsAg e positivo para IgM anti-HBc, deve ser considerado na janela imunológica para o antígeno de superfície, e o diagnóstico de hepatite B aguda recente também deve ser firmado. →Resumindo, o encontro de IgM anti-HBc fecha o diagnóstico de hepatite B aguda, quaisquer que sejam os resultados dos outros marcadores. 4) HBsAg Positivo / Anti-HBc (IgM) Negativo - (IgG) Positivo: • A positividade para o HBsAg indica a presença do HBV no organismo. • O anti-HBc positivo apenas para IgG só nos deixa a possibilidade de hepatite B crônica. - A presença de HBsAg positivo por um período superior a 6 meses define o estado de portador crônico do HBV. Entretanto, muitas vezes, não temos este dado cronológico, o que torna necessário a avaliação de outros parâmetros. 5) HBsAg Negativo / Anti-HBc (IgM) Negativo - (IgG) Positivo: • Quando temos somente o anti-HBc IgG positivo, ficamos com a seguinte dúvida: - Será que o paciente é possuidor de hepatite B crônica e o HBsAg está falsamente negativo (porque circula em níveis muito baixos); - Será que o HBsAg está realmente ausente, e a presença da IgG representa apenas uma infecção por vírus B antiga, já completamente curada. → Para responder deve-se dosar o anti-Hbs que determina a cura: • Se este anticorpo estiver presente (IgG anti-HBc + / anti-HBs +), é sinal que o paciente teve sim um episódio de hepatite no passado, mas curou-se completamente e adquiri imunidade (“cicatriz imunológica”). • Se este anticorpo estiver ausente (IgG anti-HBc + / anti-HBs –) nos restam duas possibilidades: - O paciente tem hepatite B crônica ou - O paciente teve hepatite B curada há muito tempo, quando eventualmente o anti-HBs desaparece e o anti-HBc IgG se mantém. *Somente a pesquisa do DNA viral poderá esclarecer essa dúvida. 6) HBsAg Negativo / Anti-HBc (IgM) Negativo - (IgG) Negativo / Anti-HBs Positivo: • A negatividade para todos os antígenos e anticorpos para hepatite B, exceto para o anti-HBs, só pode ser conseguida por meio de imunização vacinal. • Ou seja, o paciente nunca teve a infecção ou mesmo contato com o vírus ativo, apenas foi vacinado (a vacina contém somente o antígeno “s” recombinante), e produziu anticorpos anti-HBs que conferem imunidade contra esta condição. Exames Laboratoriais → Hemograma: não costuma estar alterado ou, quando se altera, revela discreta leucopenia com linfocitose. - Na fase aguda, a linfocitose pode ser acompanhada por um grande número de linfócitos “atípicos”. - Se a evolução da hepatite for fulminante, ao contrário, pode sobrevir leucocitose com neutrofilia e desvio à esquerda. - A VHS é caracteristicamente normal. → A dosagem sérica das enzimas ALT (TGP) e AST (TGO) é muito importante para o diagnóstico e acompanhamento de um processo de lesão hepatocelular. - Normalmente, as aminotransferases já se encontram elevadas quando aparecem os sintomas. - Em geral, os níveis dessas enzimas devem ser monitorados quinzenalmente em pacientes com hepatite B aguda. - A AST pode ser encontrada nos hepatócitos (é uma enzima mitocondrial), mas também está presente em outros tecidos como músculo esquelético, miocárdio, vesícula biliar e rins. Assim, sua elevação no sangue não necessariamente indica lesão dos hepatócitos. - O aumento da ALT, por outro lado, costuma se correlacionar bem com a lesão do parênquima hepático. - O aumento das bilirrubinas pode significar lesão hepatocelular ou colestase, havendo, nestas condições, predomínio da fração direta. • A fosfatase alcalina e a gama-glutamil-transpeptidase (gama-GT) são enzimas que caracteristicamente se elevam bastante nas icterícias colestáticas. Na lesão hepatocelular, podemos encontrar um aumento normalmente discreto dessas enzimas. Profilaxia → Imunização ativa (vacina): A primeira dose deve ser administrada logo após o nascimento utilizando a vacina recombinante monovalente (só contra hepatite B). - A partir do 2º mês de vida a criança deverá receber 3 doses da pentavalente (2, 4, 6 meseS). • Adultos e idosos que não foram previamente imunizados devem receber a vacina. • O esquema consiste de 3 doses da vacina monovalente nos tempos 0, 1 e 6 meses. • A soroconversão (produção do anti-HBs) ocorre em cerca de 90% dos adultos, mas pode ser menos eficaz em obesos, fumantes, idosos e imunodeprimidos. • Quando o nível plasmático do anti-HBs é satisfatório (> 10 mUI/ml), a proteção vacinal pode durar > 10 anos. → Profilaxia da transmissão vertical: • Todos os RN’s verticalmente expostos ao HBV devem receber imunização ativa e passiva logo após o nascimento através da vacina monovalente + imunoglobulina específica anti-HBs. • Quando a mãe tem carga viral muito alta, é indicado o uso de tenofovir na mãe a partir da 28ª semana de gestação podendo ser suspenso 30 dias após o parto. → Profilaxia pós-exposição: • A HBIg também pode ser aplicada em pacientes não previamente imunizados expostos a material contaminado, ou mesmo potencialmente contaminado. • Indicações de HBIg na Profilaxia Pós-Exposição: - Vítimas de acidentes com material biológico positivo ou fortemente suspeito de infecção pelo HBV, sem vacinação para hepatite B ou sem resposta após duas séries completas de vacinação. - Comunicantes sexuais de casos agudos de hepatite B. - Vítimas de abuso sexual. - Imunodeprimido após exposição de risco, mesmo que previamente vacinado. Tratamento • Nenhuma forma de tratamento específico encontra-se indicada nas formas agudas sintomáticas da hepatite B. • Como já dito, cerca de 95% dos pacientes evoluem para a cura espontânea da infecção com aparecimento de anticorpos anti-Hbs, indicativos da resolução do processo. • Se ocorrer hepatite fulminante, tratamento com análogo de nucleósidos ou nucleótidos orais pode aumentar a probabilidade de sobrevivência. - Entretanto, o transplante de fígado de urgência promove a melhor chance de sobrevida. • Para a hepatite colestática, o uso de colestiramina, 8 g, via oral (VO) 1 vez/dia, pode melhorar o prurido. Epidemiologia • No BR, a média de idade ao diagnóstico é de 46 anos. • Predomina no sexo masculino, aqui são os homens que tendem a se infectar numa idade mais precoce, o que provavelmente reflete diferentes padrões de exposição parenteral conforme o sexo. • A imensa maioria dos casos é registrada nas regiões Sudeste e Sul, existindo, por suposto, subnotificação nas demais regiões. • A verdadeira prevalência de hepatite C no Brasil é desconhecida, uma vez que os casos notificados se referem apenas aos indivíduos sintomáticos (cirrose e complicações). - A cirrose afeta cerca de 1/3 dos portadores crônicos do HCV, manifestando-se décadas após o contágio. - Logo, seguramente existe um número muito maior de pessoas com infecção assintomática. • No Brasil, deve existir algo em torno de 1.450.000 pessoas vivendo com o vírus C. Agente Etiológico • O HCV pertence à família Flaviviridae, gênero Hepacivirus, e é composto por RNA de cadeia simples envolto por um capsídeo proteico contido dentro de um envelope lipídico. • Possui diversos genótipos, o que tem extrema relevância prática (diferentes respostas ao tratamento). • Já foram descritos 7 genótipos, diversos subtipos e mais de 100 cepas diferentes. - O mais frequente em nosso meio é o genótipo 1. - Os outros genótipos que circulam no Brasil são o 3, o 2 e o 5. • Além das diferenças sorotípicas, o vírus C, é extremamente mutagênico, o que torna a criação de uma vacina bastante difícil, e explica também a enorme capacidade que esse vírus tem de “escapar” do sistema imune do hospedeiro. Transmissão • A transmissão se dá pelo contato com o sangue contaminado, principalmente em exposições percutâneas, hemotransfusões, e transplantes de doadores infectados. • Em outrosfluidos corpóreos as concentrações de HCV são baixas, sendo pequena a chance de transmissão (por isso a contaminação via sexual e perinatal é menos comum). • É importante lembrar que o HIV é um importante facilitador da transmissão sexual do HCV. • Hepatite C não contraindica o aleitamento materno, a não ser que apareçam fissuras no mamilo. • Formas mais importantes de transmissão do HCV no Brasil (casos novos): - Compartilhamento de equipamentos para uso de drogas ilícitas. - Confecção de tatuagens e piercing, ou realização de procedimentos médicos-odontológicos (incluindo acupuntura), sem obediência às normas de biossegurança. - Compartilhamento de objetos de uso pessoal, como escovas de dente, barbeadores, depiladores e instrumentos de manicure/ pedicure sem esterilização adequada. Manifestações Clinicas • Os sintomas costumam surgir entre 6 a 12 semanas após a exposição ao vírus, entretanto, menos de 20% dos infectados se tornam sintomáticos na fase aguda da doença. • Quando presente, os sintomas são iguais aos das demais hepatites virais agudas. • Habitualmente, a hepatite C é descoberta em sua fase crônica e, como os sintomas são muitas vezes escassos e inespecíficos, a doença pode evoluir durante décadas sem suspeição clínica. - A chance de cronificação de um paciente com infecção aguda é de 65-85%. • As aminotransferases começam a se elevar entre 2 a 8 semanas após a exposição (antes do aparecimento dos sintomas). O HCV-RNA também pode ser detectado no sangue a partir da segunda semana após a exposição. • Os anticorpos anti-HCV são positivos no soro de 80% dos indivíduos sintomáticos no momento em que os sintomas aparecem. • As manifestações extra-hepáticas são mais esperadas na fase crônica da doença. • A evolução para falência hepática fulminante é raríssima. Resposta Imune • O HCV pode induzir uma forte resposta imune inata, uma vez que a infecção causa ativação de receptores com produção local de IFN que consegue influenciar a replicação do VHC e pode resultar em efeitos antivirais que contribuem para a resolução da infecção aguda . • No entanto, o vírus é capaz de resistir aos efeitos do IFN. • Os pacientes que se recuperam espontaneamente da infecção pelo HCV são aqueles que estabelecem respostas imunes fortes(T CD4 forte e específica com um perfil TH1) as quais podem ser prontamente detectadas no sangue. • Pacientes que desenvolvem doenças crônicas apresentam respostas imunes localizadas ou transientes. • Fatores relacionados a persistência do vírus: - O mais importante é a falência de células T CD4 + por deleção ou anergia. - Efeitos supressivos de proteínas virais sobre células T, que também seriam capazes de suprimir a maturação e a apresentação de antígenos pelas células dendríticas, eliminar as células NK ou a ativação das CD pelas NK e alterar o tráfico de células T específicas para o fígado. - Deleção de células T CD8 +. Diagnostico • Como a maioria dos infectados não desenvolve sintomas de hepatite aguda, o diagnóstico não costuma ser feito nessa fase. • O RNA do HCV pode ser identificado no soro ou plasma antes da presença do anti-HCV. - A presença do HCV-RNA pode ocorrer cerca de duas semanas após a exposição ao agente infeccioso. • A presença dos anticorpos anti-HCV é mais tardia e ocorre cerca de 30 a 60 dias após a exposição ao vírus. → Anti-HCV (anticorpo contra o HCV) : Pode ser detectado por meio do teste rápido ou teste sorológico laboratorial. - É o marcador que indica contato prévio com o vírus. - É detectado na infecção aguda ou crônica e no paciente curado, não diferenciando, portanto, a fase da doença. - Após a infecção, esse marcador demora de 8 a 12 semanas para ser detectado, mantendo-se reagente indefinidamente. • O resultado reagente no teste de detecção do anti-HCV indica contato prévio com o HCV, mas não comprova infecção atual. • Diante disso, é necessário complementar o diagnóstico por meio de testes de detecção direta do vírus, como a pesquisa do HCV-RNA, confirmando assim, infecção ativa. - Pode ser detectado entre uma e duas semanas após a infecção. - Quando não detectado, pode indicar a cura natural, clareamento viral ou resposta sustentada ao tratamento. - O método é por PCR quantitativa (que já fornece a carga viral). Tratamento • Por ser capaz de prevenir a evolução para a forma crônica da doença, o tratamento deve ser realizado sempre que possível. • Os critérios para o inicio do tratamento agudo são: - Se sintomático (ictérico), recomenda-se não iniciar o tratamento de imediato, dosando-se o HCV-RNA 12 semanas após o início do quadro. Se não houver clareamento viral espontâneo, iniciar a terapia antiviral específica; - Se o paciente estiver assintomático (ex: vítima de exposição ocupacional que está sendo laboratorialmente monitorada), iniciar o tratamento imediatamente. • O tratamento pode ser feito com interferon convencional em monoterapia ou associado à ribavirina, esquematizados da seguinte forma: → IFN em monoterapia: Dose diária via subcutânea nas primeiras 4 semanas (6MUI), seguido de dose reduzida (3MUI) 3 vezes por semana nas 20 semanas subsequentes (total » 24 semanas de tratamento). → IFN + ribavirina: IFN via subcutânea 3 vezes por semana (3MUI) e ribavirina 15mg/kg/dia VO 12h/12h (tratamento com duração de 24 semanas). Prevenção • O fato de o HCV circular no sangue envolto por lipoproteínas plasmáticas dificulta a ação dos anticorpos sobre as formas extracelulares. Tal fenômeno, aliado à alta frequência de mutações em seu material genético, inviabiliza a produção de uma vacina eficaz. • Em relação à transmissão vertical, não existe nenhuma forma de imunoprofilaxia ou profilaxia medicamentosa (as drogas para tratamento do vírus C ou são contraindicadas na gestação ou não foram adequadamente estudadas). • Também não se indica uma via de parto preferencial, devendo a mesma ser definida por indicações puramente obstétricas. - Todavia, alguns fatores que aumentam o risco de transmissão vertical devem ser evitados ou contornados: procedimentos invasivos, parto “laborioso”, tempo de rotura de membranas superior a 6 horas. • O vírus da hepatite D (delta) é um vírus de RNA defectivo que necessita da função do vírus B para a sua sobrevivência e disseminação (os vírions do HDV necessitam do envelope sintetizado pelo HBV para terem sua formação completa). • Ele é o único vírus diretamente citopático entre os vírus causadores da hepatite. Epidemiologia • A infecção pelo HDV representa grave problema de saúde pública, particularmente nos países endêmicos para hepatite B e populações tradicionais e indígenas. • Estima-se que 18 milhões de pessoas vivam com o HDV no mundo • Nos países do Mediterrâneo, na Amazônia e no norte da África, a coinfecção HDV + HBV é endêmica Transmissão • Parenteral, Percutânea, Sexual e Vertical • Ocorre principalmente por via parenteral, por meio do contato com sangue contaminado, a exemplo do compartilhamento de agulhas, seringas e outros objetos para uso de drogas, reutilização ou falha de esterilização de equipamentos médicos ou odontológicos, falha de esterilização de equipamentos de manicure e reutilização de material para realização de tatuagem, além do uso de sangue e seus derivados contaminados.(MAIS COMUNS). Manifestações Clinicas • Da mesma forma que as outras hepatites, a hepatite D pode cursar de maneira assintomática, oligossintomática e sintomática. → Coinfecção do vírus D com o vírus B em indivíduos normais: • Ocorre quando o indivíduo adquire simultaneamente os vírus B e D. • Ocorre interferência viral pelo HDV e, assim, resultam em prejuízos na replicação do HBV. • Apresenta-se como hepatite aguda recidivante de curso clínico bifásico. • Na maioria dos casos evolui com hepatite aguda benigna, com as mesmas características de uma hepatite agudaB clássica. • O prognóstico, geralmente, é benigno, ocorrendo completa recuperação e clarificação do HBV e HDV em 95% dos casos. • A evolução para a cronicidade e formas fulminantes é rara, e ocorre devido a síntese mais intensa do HDV. → Superinfecção pelo vírus D em portadores (sintomáticos ou assintomáticos) do vírus B: • A preexistência de antígenos HbsAg no sangue favorece uma replicação mais intensa do HDV e, assim, grave dano hepático. • O risco de cronicidade torna-se maior na superinfecção (70%) que na coinfecção(5%) ou hepatite B clássica. • O HDV pode infectar o indivíduo de forma simultânea com o HBV, ao que chamamos de coinfecção (hepatite aguda B + D), ou então pode infectar alguém cronicamente infectado pelo HBV, ao que se denomina superinfecção. • Dano hepático severo, ocasionando formas fulminantes de hepatite ou evolução rápida e progressiva para a cirrose. Diagnostico • O diagnóstico de infecção pelo HDV é feito por meio da sorologia, com a pesquisa do anti-HDV. - Este, aparece após 30-40 dias da infecção aguda, sendo inicialmente apenas IgM e, depois, IgM + IgG. • Todo paciente HBsAg+ que reside ou esteve em área endêmica para o vírus D (ex.: Bacia Amazônica) deve realizar exames para a pesquisa deste agente. Prevenção • As principais medidas de proteção são: vacinação contra a hepatite B, uso da camisinha em todas as relações sexuais, não compartilhar objetos de uso pessoal - como lâminas de barbear e depilar, escovas de dente, material de manicure e pedicure, equipamentos para uso de drogas, confecção de tatuagem e colocação de piercings. Tratamento • Guia de vigilância em saúde – 2019: Não há tratamento específico para a forma aguda; se necessário, apenas tratamento sintomático para náuseas, vômitos e prurido. - Como norma geral, recomenda-se repouso relativo até a normalização das aminotransferases. - Restrição quanto à ingestão de álcool. • PCDT- Hepatite B e coinfecções -2017: alfapeguinterferon + tenofovir ou entecavir, por 48 semanas, podendo-se repetir por mais 48 semanas caso necessário (isto é, totalizando 96 semanas de tratamento nos pacientes que persistem com dano hepático sustentado). • De ocorrência rara no Brasil e comum na Ásia e África, a hepatite do tipo E é uma doença infecciosa viral causada pelo vírus HEV. • Ocorre, principalmente, em áreas de baixas condições sanitárias, o que justifica sua transmissão oral-fecal. • Importante agente causador de hepatites epidêmica e endêmica, principalmente entre adultos em países da Ásia, Oriente Médio e Norte da África. Transmissão • Reservatórios de água potável contaminada (transmissão fecal-oral); ingestão de carne crua ou mal cozida de animais selvagens, como javalis e cervos, e animais domésticos, como porcos e galinhas (transmissão alimentar-zoonótica); pelo sangue (transmissão parenteral) e da mãe para o filho (transmissão vertical perinatal). Formas Clinico-epidemiológicas e Manifestações Clinicas • A maioria dos casos de hepatite E aguda é silenciosa e se resolve rapidamente. • A forma aguda da HEV é autolimitada e não requer tratamento específico. • Atualmente o HEV é dividido em dois subgrupos: → A febre de Lábrea ou hepatite espongiocitária é uma forma da hepatite D na qual o quadro histológico revela necrose hepatocelular moderada e hepatócitos aumentados de volume por conta da presença de gotículas de gordura em volta do núcleo. Essas células infiltradas com gordura são denominadas células de mórula ou espongiócitos. 1. Genótipos 1 e 2: Vírus infectam primariamente humanos, responsáveis pela clássica doença epidêmica semelhante à hepatite A, comum na Ásia e na África; 2. Genótipos 3 e 4: Vírus infectam primariamente suínos, responsáveis por doença com características bem diferentes da associada aos genótipos 1 e 2 (hepatite E “autóctone”). → Hepatite E “epidêmica” (Subtipos 1 e 2): • Semelhante às demais hepatites virais agudas, ela se inicia com um período de incubação » intensa replicação viral (viremia) » resposta imune específica » surge anti-HEV IgM e IgG » início das manifestações clínicas secundárias à lesão hepatocelular. • Nessas áreas de alta endemicidade, a forma clínica mais comum é de hepatite aguda ictérica, indistinguível de outras formas de hepatites. - A fase pré-ictérica varia de 1 a 10 dias (média de 3 a 4 dias) e apresenta sintomas gastrointestinais como dor epigástrica, náuseas e vômitos. - Colúria, prurido, acolia fetal. - Metade dos pacientes infectados relatam manifestação de febre e dois terços apresentam artralgias. • A ocorrência de formas graves tende a ser maior nas gestantes, principalmente quando infectadas no 3º trimestre. • Os casos de hepatite fulminante chegam a 20-30% do total. • Ainda não há relatos de cronificação da hepatite E epidêmica, e a doença predomina em adolescentes e adultos jovens. → Hepatite E “autóctone” (Subtipos 3 e 4): • Zoonose cuja via mais importante de aquisição é a ingesta de carne de porco mal cozida. • Diferente da Hepatite E “epidêmica”, a “autóctone” predomina em pessoas mais velhas, sendo que quanto maior a idade, maior a chance de surgirem manifestações clínicas. - Nas demais faixas etárias a doença costuma ser subclínica ou assintomática. • Um padrão frequente de apresentação clínica nos idosos é o chamado “fenótipo de hepatite crônica agudizada”, que ocorre em pacientes previamente portadores de hepatopatia crônica que descompensa de forma aguda quando em contato com o HEV. • Outras manifestações características são os achados extra-hepáticos como artrite, pancreatite, aplasia de medula, Sd. de Guillain-Barré, paralisia de Bell, encefalopatia, etc. • Há relatos de cronificação da hepatite E “autóctone” em imunocomprometidos, inclusive com evolução para cirrose hepática e suas complicações. Diagnostico • A suspeita diagnóstica de HEV em áreas não endêmicas deve basear-se na exclusão dos agentes das hepatites A, B e C, além dos vírus Epstein-Barr e citomegalovírus. • O imunoensaio é o método laboratorial mais utilizado no diagnóstico de HEV (os antígenos-alvo para o imunoensaio são as proteínas recombinantes). • O teste para a pesquisa de IgM anti-HEV pode ser usado para o diagnóstico da infecção recente pelo HEV. - Torna-se reagente de 4 a 5 dias após o início dos sintomas, desaparecendo de 4 a 5 meses depois. • Anticorpos IgG anti-HEV são encontrados desde o início da infecção, com pico entre 30 e 40 dias após a fase aguda da doença. • A detecção da viremia em amostras de fezes por RT-PCR tem auxiliado no diagnóstico dos casos agudos de hepatite E, sendo que o HEV pode ser detectado nas fezes, aproximadamente, uma semana antes do início dos sintomas da doença e costuma persistir por mais duas semanas. • A suspeita diagnóstica em áreas não endêmicas deve ser considerada nas seguintes situações: - Hepatite aguda não A, não B e não C, descartadas também as infecções por citomegalovírus (CMV) e vírus Epstein-Barr (EBV). - Histórico de viagem ou procedência de uma região endêmica para o HEV. - Ocorrência de uma epidemia de hepatite aguda cuja investigação revele o contágio por uma fonte comum de água. Tratamento • Não existe tratamento específico para a forma aguda. • Se necessário, apenas sintomático para náuseas, vômitos e prurido. • Como norma geral, recomenda-se repouso relativo até praticamente a normalização das aminotransferases, e restrição quanto a ingestão de álcool por, no mínimo, 6 meses. Objetivo II: Pesquisar aspectos legais e éticos, danos morais, materiais e indenizações para os pacientes e profissionais expostos e contaminados pelo HIV e vírus das hepatites. • As exposições mais comuns e que trazem risco aos profissionais de saúde em sua prática decorrem do vírus HIV e Hepatites B e C. • Tendo em vista que as medidas de prevenção e exigência da correta utilizaçãode equipamentos de segurança individual e coletivo ainda é responsabilidade do empregador, em casos de dano aos profissionais de saúde, o empregador/empresas possuem a responsabilidade civil e objetiva em reparar os danos causados, por meio de indenizações, etc. • Os medicamentos para a quimioprofilaxia, a vacina para hepatite B e a imunoglobulina hiperimune para hepatite B devem ser disponibilizados pelos locais de trabalho públicos ou privados (essa é uma exigência amparada pela Legislação Trabalhista Brasileira). • Após as primeiras condutas e orientações, deve ser feita a notificação do acidente ao CAT/Sinan.
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