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Apostila de Humanitário

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DIREITO INTERNACIONAL 
HUMANITÁRIO(DIH)
PÁGINAS DE CRÉDITO
Sumário
Apresentação__________________________________________________________7
UNIDADE 1: Aspectos Gerais do Direito Internacional Humanitário ___________ 9
Texto 1 - Introdução ao Direito Internacional Humanitário: Conceito. Natureza. 
Fontes. Evolução histórica. Relação entre o Direito Internacional Humanitário e
o Direito Internacional dos Direitos Humanos ___________________________ 10
Texto 2 - Princípios do Direito Internacional Humanitário: Cláusula Martens. 
Humanidade, Necessidade e Proporcionalidade. A distinção fundamental entre 
civis e combatentes. Proibição de causar males supérfl uos e sofrimento desne-
cessário. Independência do ius in bello em relação ao ius ad bellum _________ 28
Texto 3 - Um retrato jurídico do DIH: Competências ratione materiae, personae, 
loci e temporis ______________________________________________________ 34
Texto 4 - O Brasil e o DIH: Panorama das ratifi cações dos principais instrumentos 
do ius in bello_______________________________________________________ 43
UNIDADE 2: Direito Internacional Humanitário Positivo____________________ 49
Texto 5 - O “Direito de Haia”: Restrição de meios e métodos de combate ___ 51
 5.1 Proibição de atacar civis _______________________________________ 52
 5.2 Proibição de atacar bens civis: a noção de objetivos militares ________ 53
 5.3 Proibição de ataques indiscriminados ____________________________ 53
 5.4 Proibição de atacar bens culturais e lugares de cultos _______________ 54
 5.5 Outros locais que não podem ser objetos de ataques _______________ 55
 5.5.1 Unidades e Transportes Sanitários __________________________ 56
 5.5.2 Localidades sanitárias, de segurança ou desmilitarizadas _______ 58
 5.5.3 Localidades não defendidas________________________________ 59
 5.5.4 Zonas neutras ___________________________________________ 60
 5.5.5 Bens indispensáveis à sobrevivência da população civil ________ 60
 5.5.6 Obras e Instalações contendo forças perigosas________________ 61
 5.6 Armas proibidas ______________________________________________ 63
 5.6.1 A questão das armas nucleares _____________________________ 65
 5.7 Meios e métodos de combate proibidos __________________________ 66
 5.7.1 Perfídia_________________________________________________ 66
 5.7.2 Denegação de quartel_____________________________________ 67
 5.7.3 Recrutamento ou alistamento forçado de nacional da Parte 
 Adversa ________________________________________________ 67
 5.7.4 Recrutamento ou alistamento de menores de 18 anos ________ 67
 5.7.5 Inanição de civis como método de guerra ___________________ 67
 5.7.6 Represálias armadas______________________________________ 68
 5.8 Proibição de causar graves danos ao meio ambiente ________________ 69
 5.9 Proibição de atos terroristas ____________________________________ 69
 5.10 Medidas de precaução ________________________________________ 70
Texto 6 - O “Direito de Genebra”: Proteção de quem não participa ou não participa 
mais das hostilidades_________________________________________________ 73
 6.1 Direito ao socorro e a proteção das vitimas militares: feridos, doentes e 
 náufragos ___________________________________________________ 75
 6.2 Pessoal médico e religioso ______________________________________ 78
 6.3 Emblemas, sinais e sinalizações distintivas ________________________ 83
 6.4 Proteção dos prisioneiros de guerra ______________________________ 84
 6.4.1 Quem é prisioneiros de guerra? ____________________________ 84
 6.4.2 Que direitos tem o prisioneiro de guerra?____________________ 91
 6.4.3 Que deveres tem o prisioneiro de guerra? ____________________ 99
 6.5 Proteção dos civis em poder da Potência inimiga___________________ 99
 6.5.1 Âmbito de aplicação da IV Convenção de Genebra de 1949 ___ 100
 6.5.2 Proteção geral das populações contra certos os efeitos da guerra 101
 6.5.3 Tratamento das pessoas protegidas em poder do inimigo______ 102
 6.5.3.1 Estrangeiros em território de uma Parte no confl ito ___ 102
 6.5.3.2 Territórios ocupados _____________________________ 103
 6.5.3.3 Internamento de civis _____________________________ 106
 6.5.4 Refugiados e apátridas___________________________________ 111
 6.5.5 Mulheres e Crianças_____________________________________ 112
 6.5.6 Jornalistas _____________________________________________ 113
 6.5.7 Garantias fundamentais__________________________________ 113
Texto 7 - Regras restritivas e protetivas nos Confl itos Armados Não-Interna-
cionais____________________________________________________________ 117
 7.1 O art. 3.o. comum às Convenções de Genebra de 1949 ____________ 117
 7.2 O Protocolo Adicional II de 1977 ______________________________ 119
UNIDADE 3: Mecanismo de Implementação do DIH ______________________ 121
Texto 8 - Mecanismos normativos: Difusão do DIH. Cláusula obrigando as Partes 
“a respeitar e fazer respeitar” o DIH __________________________________ 122
Texto 9 - Mecanismos institucionais: Potências Protetoras. O Comitê Inter nacional 
da Cruz Vermelha. A Comissão internacional para a apuração dos fatos ____ 123
Texto 10 - Mecanismos penais: Sanções por violações graves ao DIH ______ 128
UNIDADE 4: Introdução ao Direito Penal Internacional ____________________ 137
Texto 11 - Direito Penal Internacional: Conceito. Natureza. Fontes. Evolução 
Histórica. Sujeitos da responsabilidade penal internacional. Relação entre Direito 
Penal Internacional, Direito Internacional dos Direitos Humanos, Direito 
Internacional Humanitário___________________________________________ 138
Texto 12 - Crimes Internacionais: Natureza. Classifi cação. Crime de genocídio. 
Crimes contra a humanidade. Crimes de guerra. Crime de agressão. Outros crimes 
internacionais______________________________________________________ 149
UNIDADE 5: Implementação do Direito Penal Internacional ________________ 171
Texto 13 - Jurisdições Nacionais e crimes internacionais: Obrigação estatal: 
Aut dedere aut judicare. Competência universal. Impedimentos legais do direito 
interno à persecução de crimes internacionais __________________________ 172
Texto 14 - Justiça Penal Internacional: De Versalhes (1919) a Roma (1998) _ 183
Texto 15 - Tribunal Penal Internacional: Competência. Princípio da complemen-
taridade e garantias processuais. Princípios Gerais de Direito Penal. Composição 
e administração. O Ministério Público. Investigação e processo. Infrações contra 
administração da justiça. O papel da vítima. Penas. Cooperação Penal Internaci-
onal. Casos em andamento __________________________________________ 194
UNIDADE 6: Impacto do Estatuto de Roma no Ordenamento Jurídico Nacional_ 225
Texto 16 - O direito penal pátrio e os crimes internacionais: Défi cit legislativo 226
Texto 17 - O Projeto de lei de adaptação da legislação brasileira: Alguns aspectos 
penais e processuais ________________________________________________ 233
Apresentação
O Direito Internacional Humanitário e o Direito Penal Internacional estão 
no coração da atualidade e se revelam cada vez mais importantes na realidade do 
Estado brasileiro. O presente curso tem a pretensão de introduzir o aluno neste 
universo do Direito Internacional, tão diferente da lógica do Direito Interno que 
estamos acostumados a vivenciar.
A presente apostila trata separadamente as duas disciplinas que, embora 
permeadas por uma intrínseca conexidade, são matérias autônomas. As Unidades 
1, 2 e 3 correspondem ao Direito Internacional Humanitário, e as Unidades 4, 5 
e 6, ao Direito Penal Internacional.
Normalmente os tratados internacionais, principal fonte destes ramos do 
Direito, não são elaborados com um original em português e é responsabilidade 
do Estado providenciar uma versão ofi cial na nossa língua materna. No presente 
curso, priorizou-se a utilização das versões ofi ciais que costumeiramente sãopublicadas como anexos aos decretos de promulgação dos tratados e convenções, 
ainda que tais versões apresentem inúmeras imperfeições. No entanto, tendo em 
vista a impossibilidade de acesso a determinados textos, algumas citações foram 
extraídas de versões não ofi ciais. 
Considerando a escassez de livros nacionais sobre as disciplinas, algumas 
obras estrangeiras foram citadas na bibliografi a apenas com o intuito de nortear 
aqueles que pretendem se aprofundar no estudo das matérias. 
Na avaliação será permitida a consulta aos tratados e convenções de 
Direito Internacional Humanitário e de Direito Penal Internacional. As quatro 
Convenções de Genebra de 1949, seus respectivos Protocolos adicionais de 1977 
e 2005 e o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional de 1998 são os 
instrumentos mais importantes.
Boa leitura!
Najla Nassif Palma
Aspectos Gerais do Direito 
Internacional Humanitário
UNIDADE 1
| Direito Internacional Humanitário
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A guerra sempre foi, e continua sendo, uma realidade. Na história da 
humanidade, os séculos de guerra superam, e muito, os séculos de paz. Daí a 
importância e a necessidade de disciplinar juridicamente os confl itos armados 
na tentativa de “humanizar” os seus efeitos devastadores. Esta unidade didática 
iniciará com uma apresentação do Direito Internacional Humanitário (DIH), 
em que serão fornecidos elementos para a identifi cação da sua problemática. 
Num segundo momento, serão focados os princípios de base da disciplina 
e, posteriormente, serão defi nidos os domínios de competência da matéria. 
Por fi m, será examinada a situação do Brasil face ao Direito Internacional 
Humanitário. 
1) INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO: 
Conceito. Natureza. Fontes. Evolução histórica. Relação entre o Direito 
Internacional Humanitário e o Direito Internacional dos Direitos Humanos.
Conceito. Natureza. 
O Direito Internacional Humanitário é o ramo do Direito Internacional 
Público que tem como objetivo regulamentar a mais excepcional das
circunstâncias: a guerra. Suas normas, de origem convencional e con-
suetudinária1, visam restringir meios e métodos de combate e proteger quem 
não participa, ou não participa mais, das hostilidades. O regime jurídico 
destinado aos confl itos armados internacionais é complexo e bem elaborado, 
enquanto aquele que contempla os confl itos armados, de natureza não-
internacional, é ainda bastante rudimentar. 
O DIH é, portanto, composto de duas vertentes: uma disciplina a 
condução das hostilidades, sendo especialmente endereçada aos combatentes, 
e a outra regulamenta o tratamento das pessoas em poder do inimigo, podendo 
alcançar tanto militares quanto civis.
Independentemente das razões que defl agram o confl ito armado, o DIH 
ambiciona “limitar a violência aos níveis estritamente necessários para que se 
atinja o objetivo da batalha, que não deve ser outro além do enfraquecimento 
do potencial militar inimigo”2. À luz do DIH, para:
ganhar a guerra não é necessário matar todos os soldados inimigos, 
1 Como adiante será examinado, os princípios gerais de direito também constituem fontes do Direito 
Internacional Humanitário.
2 Cf. SASSOLI, M. e BOUVIER, A.A., Un droit dans la guerre?, Genève, CICR, 2003, V. I 3 II, p.83.
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Unidade 1- Aspectos Gerais do Direito Internacional Humanitário
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basta capturá-los ou obrigá-los a se render. Não é necessário 
também atacar os civis, somente os combatentes podem ser alvos. 
Não é necessário destruir o país inimigo, basta ocupá-lo. Não é 
necessário destruir as infra-estruturas civis, basta atingir os bens 
que contribuem para o esforço militar3. 
Apesar de sua nobre pretensão, o DIH esbarra em algumas limitações: 
não proíbe a utilização da violência; não pode proteger todos aqueles afetados 
por um confl ito armado; não faz qualquer distinção com relação às razões do 
confl ito; não pode proibir que uma parte triunfe sobre seu inimigo; pressupõe 
que as partes envolvidas no confl ito armado têm objetivos racionais4.
A especifi cidade do DIH enseja inúmeras indagações jurídicas, e talvez 
a primeira delas se refi ra à própria possibilidade de existência deste direito. Se 
a guerra é a negação do direito, como conceber um direito dentro da guerra? 
Como esperar que regras sejam respeitadas e cumpridas quando se luta pela 
própria sobrevivência? 
Sobre este ponto capital de percepção do DIH, duas escolas de 
pensamento se contrapõem. Uma delas, de abordagem realista5, preconiza 
que a guerra não pode ser regulamentada por sua própria essência, tendo em 
vista que nenhuma idéia de limite preestabelecida se sustenta face ao ambiente 
anárquico e violento dos confl itos armados. Estes pensadores põem em 
dúvida, ou até mesmo negam, a possibilidade de normatização destas situações 
excepcionais. As palavras de Cícero escritas em 52 a.C. em Pro Milone (IV) 
resumem este ponto de vista: inter armas silent leges 6. 
Já a outra corrente de pensamento, com uma abordagem normativa, 
argumenta que a guerra, como qualquer outro fenômeno social, é passível de 
regulamentação pelo Direito. Estes defensores da possibilidade de existência 
do DIH complementam que há um interesse mútuo das partes beligerantes 
no sentido de que certos preceitos sejam respeitados durante as batalhas, 
por causa da reciprocidade. Se uma parte não deseja sofrer um determinado 
tratamento durante o confl ito, também não deve infl igi-lo ao seu inimigo. 
3 Tradução livre de SASSOLI, M. e BOUVIER, A.A., op. cit., p. 83, nota de rodapé 5.
4 Limites do DIH elencados na obra SASSOLI, M. e BOUVIER, A.A., Un droit dans la guerre?, Genève, CICR, 
2003, V. I e II, pág. 84.
5 A categorização das correntes de pensamento em realista e normativa foi proposta por R. KOLB na obra Ius 
in bello. Le droit international des confl its armés, Helbing & Lichetenhahn, Bâle/Genève/Munich, Bruylant, 
Bruxelles, 2003, p. 5. 
6 “As leis silenciam em tempo de guerra”. Além de Cícero, Clausewitz e F. von Liszt podem ser citados como 
pensadores desta doutrina classifi cada como realista.
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De fato, a guerra pode e deve ser submetida a uma disciplina jurídica. 
Desde os primórdios das civilizações, tem-se notícia de certas regras relativas 
às guerras, uma das relações interestatais mais antigas, sendo certo que alguns 
capítulos da história das leis de guerra, por vezes, confundem-se com a própria 
história do Direito Internacional. 
As freqüentes e graves violações ao DIH e a precariedade dos mecanismos 
de implementação deste ramo do Direito não podem ser invocadas para 
negar a sua própria existência. O empenho do Comitê Internacional da Cruz 
Vermelha, instituição guardiã e protetora do DIH, tem alcançado resultados 
positivos, e a comunidade internacional parece dar indícios de uma maior 
conscientização acerca da matéria. 
Também não se pode olvidar que a reciprocidade se revela ao mesmo 
tempo um fundamento de existência e um mecanismo importante de respeito 
ao DIH. Vale relembrar que mesmo Adolf Hitler se absteve de utilizar armas 
químicas que estavam à sua disposição durante a Segunda Grande Guerra 
Mundial por medo de represálias. 
Uma questão de terminologia
Vistos alguns aspectos sobre o conceito e a natureza do DIH, antes 
de avançar no estudo deste ramo do direito internacional público, algumas 
considerações terminológicas se fazem necessárias. 
Por ordem de antiguidade, três expressões foram cunhadas para 
designar este corpo jurídico: “Direito da Guerra, ou Leis de Guerra”, “Direito 
Internacional dos Confl itos Armados” e “Direito Internacional Humanitário”.
A nomenclatura Direito da Guerra reinou soberana por muito tempo, 
tendo sido abandonada após a Segunda Grande Guerra. Com a assinatura da 
Carta de São Francisco, tratado internacional que criou a Organização das 
Nações Unidas (ONU), em 1945, a guerra passou aser proibida enquanto 
escolha política de conduta internacional. Segundo reza o art. 2º., inciso 4 
da Carta das Nações Unidas, “Todos os Membros deverão evitar7, em suas 
relações internacionais, a ameaça ou o uso da força contra a integridade 
territorial ou a independência política de qualquer Estado, ou outra ação 
7 A versão ofi cial em português dispõe que os « Estados deverão evitar, em suas relações internacionais, 
a ameaça ou o uso da fôrça... », enquanto o texto original em francês, aqui traduzido livremente, dispõe 
que «os Estados se abstêm, em suas relações internacionais, de recorrer a ameaça ou ao uso da força…». 
O original francês traduz com precisão o espírito da Carta das Nações Unidas, que foi o de proibir o uso da 
força no direito internacional, enquanto a expressão verbal utilizada na versão ofi cial em português parece 
pecar no aspecto de imperatividade do preceito.
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Unidade 1- Aspectos Gerais do Direito Internacional Humanitário
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incompatível com os propósitos das Nações Unidas”8. Ressalvaram-se as 
hipóteses de legítima defesa9, o direito à autodeterminação dos povos (guerras 
de liberação nacional) e as intervenções militares autorizadas pelo Conselho 
de Segurança da ONU10.
A partir de então, passando a guerra defi nitivamente para a ilegalidade 
no campo internacional, a expressão “direito da guerra” parecia sugerir 
a permanência de uma conduta proibida. Tais razões aumentavam consi-
deravelmente o paradoxo já existente entre as palavras direito e guerra. 
Outra questão que contribuiu para o abandono da terminologia foi 
o fato de que a guerra constitui um estatuto jurídico complexo. Para sua 
caracterização, torna-se imprescindível a intenção de fazer a guerra (animus 
belligerendi), normalmente traduzida por meio de uma declaração de guerra, 
formalidade que exclui outras hipóteses de confrontos armados. No intuito 
de abarcar um maior número de situações fáticas, ao proibir os Estados 
de individualmente defl agrar uma intervenção militar, a Carta das Nações 
Unidas preferiu utilizar a expressão “uso da força”, que tem espectro mais 
abrangente do que o termo guerra.
O mesmo passo foi dado pelas Convenções de Genebra de 1949, que 
acrescentaram a expressão “confl itos armados” para estender a proteção 
jurídica às vitimas de confrontos que não poderiam ser tecnicamente 
classifi cados como guerras. Assim dispõe o art. 2º, comum às quatro Conven-
ções de Genebra de 1949:
Afora as disposições que devem vigorar em tempo de paz, a 
presente Convenção se aplicará em caso de guerra declarada ou 
de qualquer outro confl ito armado que surja entre duas ou várias 
das Altas Partes Contratantes, mesmo que o estado de guerra não 
seja reconhecido por uma delas.11 
(grifo nosso)
8 A Carta das Nações Unidas pode ser encontrada no site do Senado (www.senado.gov.br), anexa ao 
Decreto-Lei n. 7.935, de 04/09/1945. 
9 Cf. art. 51 da Carta das Nações Unidas.
10 Cf. Capítulo VII da Carta das Nações Unidas.
11 Versão ofi cial em português encontrada no site do Senado (www.senado.gov.br) anexa ao Decreto nº 
42.121, de 21/08/1957, que promulga as Convenções de Genebra de 1949 destinadas a proteger as vítimas 
da guerra. Acesso realizado em 28/12/2007.
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| Direito Internacional Humanitário
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Eis a certidão de nascimento da expressão Direito Internacional dos 
Confl itos Armados (DICA), que se revela a mais técnica das nomenclaturas, 
considerando que acomoda, sem qualquer esforço interpretativo, tanto a 
vertente de restrição de meios e métodos de combate quanto a vertente de 
proteção das vítimas no âmbito dos confl itos armados.
Já o termo Direito Internacional Humanitário (DIH), a mais moderna 
das expressões, foi primeiramente utilizado, na década de 50, no âmbito 
do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV). Esta instituição tem 
como base as próprias Convenções de Genebra de 1949, e sua missão é 
essencialmente humanitária, zelando pelas normas protetivas que regem os 
confl itos armados. A expressão Direito Internacional Humanitário passou a 
ser a preferida da doutrina e atualmente tende a ser dominante, ainda que 
peque em rigor técnico quando se refere ao aspecto restritivo de meios e 
métodos de combate que também compõem as normas disciplinadoras dos 
confl itos armados. 
Com efeito, as expressões Direito da Guerra, Direito Internacional dos 
Confl itos Armados e Direito Internacional Humanitário podem ser consideradas 
equivalentes, e a escolha de uma ou de outra dependerá essencialmente 
do costume e do público. Constata-se que as organizações internacionais, 
as universidades ou ainda alguns Estados preferem a terminologia Direito 
Internacional Humanitário ou Direito Humanitário, enquanto no seio das 
Forças Armadas utilizam-se, com mais freqüência, as expressões Direito da 
Guerra ou Direito Internacional dos Confl itos Armados12.
Embora o termo “direito (ou leis) da guerra” tenha caído em desuso, 
a expressão latina ius in bello (direito na guerra, direito durante a guerra) 
permanece atual, sendo freqüentemente utilizada pela doutrina como sinônimo 
do DIH e, sobretudo, em distinção à expressão ius ad bellum (direito à guerra 
ou direito de fazer a guerra). Este binômio será examinado mais adiante no 
estudo dos princípios de base do DIH.
Outras designações que merecem ser comentadas dizem respeito às 
vertentes que compõem o DIH. Uma delas, a mais antiga, baseia-se no 
princípio da limitação e objetiva regulamentar a condução das hostilidades 
restringindo meios e métodos de combate e proibindo o uso de determinadas 
armas. Tem natureza preventiva e seu público-alvo direto são os combatentes, 
restando estabelecido o que eles podem e principalmente o que eles não podem 
fazer na guerra. Convencionou-se chamar este ramo do ius in bello de “Direito 
12 Cf. site da Cruz Vermelha (www.icrc.org).
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Unidade 1- Aspectos Gerais do Direito Internacional Humanitário
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de Haia” porque o início da codifi cação da matéria se deu naquela cidade 
holandesa, como testemunham as duas Conferências Internacionais da Paz, de 
1899 e 1907.
Já o chamado “Direito de Genebra” constitui a vertente essencialmente 
humanitária do DIH, cuja base é o princípio da humanidade, que visa à 
proteção das pessoas que não participam das hostilidades ou estão fora de 
combate por motivo de ferimentos, doenças, naufrágios ou detenção pelo 
inimigo. O início do desenvolvimento deste ramo do ius in bello remonta 
à primeira Convenção de Genebra, de 1864, e encontra seu ápice nas 
Convenções de Genebra de 1949.
É bem verdade que não há divisão estanque entre as duas vertentes, 
existindo uma considerável permeabilidade entre ambas, pois, afi nal, quando 
o “Direito de Haia” proíbe o combatente de atacar pessoas civis, indiretamente 
está emanando normas do “Direito de Genebra”, porque cobre os civis com 
um manto de proteção.
Alguns internacionalistas têm advogado que, a partir dos Protocolos 
Adicionais às Convenções de Genebra de 1977, a divisão entre “Direito de 
Haia” e “Direito de Genebra” perdeu objeto, já que um mesmo instrumento 
internacional tratou de regras restritivas e protetivas do DIH13. No entanto, 
muitos mantêm o uso da terminologia em respeito aos desenvolvimentos 
históricos e perspectivas distintas destes dois ramos do DIH. “O Direito de 
Haia tem sua perspectiva centrada nos operadores da guerra, no pessoal ativo 
enquanto tomadores de decisão ou enquanto soldados. O Direito de Haia se 
opõe idealmente ao Direito de Genebra que é centrado na vítima da guerra, 
nos agentes passivos, fora de combate, prisioneiros de guerra ou civis que 
sofrem no confl ito e precisam de proteção” 14.
 A manutenção da dicotomia Direito de Haia/Direito de Genebra não 
carrega mais a conotação geográfi ca dos instrumentos internacionais, mas 
refere-se à natureza da norma,ainda que em um mesmo ato convencional 
possam conviver regras de uma e de outra vertente do ius in bello.
Há também aqueles que invocam a terminologia “Direito de Nova 
York” para designar o recente e gradual envolvimento das Nações Unidas 
com o DIH, que começou a tomar força após a Conferência de Teerã sobre os 
direitos humanos (1968), quando foi adotada uma resolução sobre a aplicação 
13 A Corte Internacional de Justiça no Parecer Consultivo sobre a licitude de ameaça ou uso de armas 
nucleares, de 1996, dispõe que estes dois ramos do DIH desenvolveram relações tão estreitas que devem 
ser vistos como um único sistema complexo.
14 KOLB, R., op. cit., nota 49, p.28/29 (tradução livre do francês).
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| Direito Internacional Humanitário
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de direitos humanos em tempos de guerra. Esta designação encamparia 
também os tratados de direito penal internacional que, ao tipifi car crimes de 
guerra, traduzem-se em um instrumento de implementação do DIH. 
No âmbito deste trabalho, por questões didáticas, serão mantidas as 
tradicionais expressões “Direito de Haia” e “Direito de Genebra” e não será 
utilizada a terminologia “Direito de Nova York”.
Fontes
A Corte Internacional de Justiça, órgão judiciário principal da ONU que 
tem a missão de, à luz do direito internacional, julgar controvérsias jurídicas 
interestatais15, assim dispõe em seu estatuto:
 Artigo 38
1. A Côrte, cuja função é decidir de acôrdo com o direito internacional 
as controvérsias que lhe forem submetidas, aplicará:
a) convenções internacionais, de caráter geral ou especial, que esta-
beleçam regras expressamente reconhecidas pelos Estados em litígio;
b) o costume internacional, como prova de uma prática geral aceita 
como lei;
c) os princípios gerais de direito reconhecidos pelas Nações 
civilizadas;
d) sem prejuízo dos dispositivos do artigo 59, as decisões judiciais 
e os ensinamentos dos publicistas16 mais qualifi cados das diferentes 
Nações, como meios auxiliares para determinação de regras de 
direito.
2. Este dispositivo não prejudicará o poder que tem a Côrte de decidir 
uma questão ex aequo et bono17, se as partes concordarem com isto”18 
(grifo nosso). 
15 Além da função contenciosa, a Corte Internacional de Justiça também tem uma função consultiva, na 
qual pareceres sobre questões jurídicas podem ser emitidos quando requeridos por determinados órgãos e 
instituições (vide art. 65 do Estatuto da CIJ).
16 A expressão deve ser entendida como “doutrinadores do direito internacional”.
17 Expressão latina utilizada em Direito para designar a equidade como parâmetro de solução de controvérsias.
18 Versão ofi cial em português extraída do site do Senado Federal no endereço : www.senado.gov.br 
acessado aos 20/12/2007. No intuito de permitir uma melhor compreensão do texto, na presente citação, a 
versão ofi cial sofreu duas alterações, sem modifi cação de termos ou conteúdo.
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Unidade 1- Aspectos Gerais do Direito Internacional Humanitário
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Este dispositivo sintetiza as fontes de Direito Internacional. Os atos
convencionais, o costume internacional e os princípios gerais do direito 
são suas fontes principais, enquanto a jurisprudência e a doutrina inter-
nacionais constituem instrumentos auxiliares na interpretação de normas 
internacionais19. 
Sendo o DIH um ramo do Direito Internacional Público, a ele também 
se aplicam as fontes elencadas no estatuto da Corte Internacional de Justiça. 
Os atos convencionais são os tratados internacionais fi rmados entre os Estados 
que, no exercício de sua soberania, voluntariamente se vinculam a determinadas 
normas. O direito convencional só obriga aqueles Estados que ratifi caram ou 
aderiram aos textos internacionais. Os tratados essenciais do DIH são as 
quatro Convenções de Genebra de 1949 e seus dois Protocolos adicionais 
de 1977. No entanto, existe um grande inventário de atos convencionais 
que compõe o ius in bello moderno. Para traçar uma visão geral deste corpo 
normativo, citam-se alguns dos principais tratados20:
• Declaração de São Petersburgo sobre a proibição do uso de certos 
projéteis em tempo de guerra (1868).
• IV Convenção de Haia sobre as leis e costumes da guerra terrestre e 
seu regulamento anexo (1907).
• I Convenção de Genebra, que protege os feridos e doentes das Forças 
Armadas em campanha (1949).
• II Convenção de Genebra, que protege os feridos, doentes e náufragos 
das Forças Armadas no mar (1949).
• III Convenção de Genebra, que protege os prisioneiros de guerra 
(1949).
• IV Convenção de Genebra, que protege a população civil (1949).
• Convenção de Haia sobre a proteção de bens culturais em caso de 
confl ito armado (1954).
19 Para saber mais sobre as fontes do Direito Internacional Público, conferir o capítulo pertinente da obra 
Direito Internacional Público, São Paulo, Saraiva, 2000, de J.F. REZEK.
20 Uma relação completa dos tratados do DIH pode ser consultada no site da Cruz Vermelha 
(www.icrc.org).
é o direito que rege a maneira como a guerra é conduzida
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• Protocolo para a proteção de bens culturais em caso de confl ito 
armado (1954).
• Convenção sobre a proibição do desenvolvimento, produção e 
estocagem de armas bacteriológicas (biológicas) e à base de toxinas e 
sua destruição (1972).
• Convenção internacional sobre a eliminação e repressão do crime de 
apartheid (1973).
• Convenção sobre a interdição de utilizar técnicas de modifi cação do 
meio ambiente para fi ns militares ou outros fi ns hostis (1976).
• Protocolo Adicional I às Convenções de Genebra, que reforça a 
proteção das vítimas de confl itos armados internacionais e amplia a 
defi nição dos mesmos às guerras de libertação nacional (1977).
• Protocolo Adicional II às Convenções de Genebra, que reforça a 
proteção das pessoas afetadas por confl itos armados internos (1977).
• Convenção sobre a interdição ou a limitação do emprego de certas 
armas convencionais que podem ser consideradas excessivamente 
lesivas ou geradoras de efeitos indiscriminados (1980).
• Protocolo relativo a estilhaços não-localizáveis (Protocolo I à 
Convenção de 1980 sobre armas convencionais) – (1980).
• Protocolo sobre a interdição ou limitação do emprego de minas, 
armadilhas e outros artefatos (Protocolo II à Convenção de 1980 
sobre armas convencionais) – (1980).
• Protocolo sobre a interdição ou limitação do emprego de armas 
incendiárias (Protocolo III à Convenção de 1980 sobre armas 
convencionais) – (1980).
• Convenção internacional sobre a proibição do desenvolvimento, 
produção, estocagem e uso de armas químicas e sobre a destruição das 
armas químicas existentes no mundo (1993). 
• Protocolo relativo a armas cegantes a laser (Protocolo IV à Convenção 
de 1980 sobre armas convencionais) – (1995).
• Protocolo relativo à limitação do emprego de minas, armadilhas e 
outros artefatos (Protocolo II à Convenção de 1980 sobre armas 
convencionais, modifi cado em 3 de maio de 1996). 
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• Convenção sobre a proibição do uso, armazenamento, produção e 
transferência de minas antipessoal e sobre sua destruição (1997). 
• Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional (1998).
• Segundo Protocolo relativo à Convenção de Haia sobre a proteção de 
bens culturais em caso de confl ito armado (1999).
• Protocolo facultativo referente à Convenção sobre os direitos da 
criança, concernente ao envolvimento de crianças em confl itos 
armados (2000). 
• Emenda do art. 1o da Convenção sobre a interdição ou a limitação do 
emprego de certas armas convencionais que podem ser consideradas 
excessivamente lesivas ou geradoras de efeitos indiscriminados (2001).
• Protocolo relativo aos restos explosivos de guerra (Protocolo V à 
Convenção de 1980 sobre armas convencionais) – (2003).
• Protocolo Adicional III às Convenções de Genebra, queadota um sinal 
distintivo adicional (2005).
Já os costumes, ou direito consuetudinário, vinculam toda a sociedade 
internacional e, segundo a doutrina majoritária, repousam sobre a prática 
geral dos Estados (elemento objetivo) e sobre a aceitação desta prática como 
expressão de uma obrigação jurídica – opinio iuris – (elemento subjetivo). 
Embora as fontes convencionais tenham uma prevalência natural, as normas 
consuetudinárias se revestem de grande importância para suprir as lacunas 
dos tratados internacionais, para ajudar na interpretação dos mesmos, ou 
ainda, para defi nir a responsabilidade dos Estados que não são parte de alguns 
instrumentos de DIH. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha publicou, 
em 2005, o resultado de um estudo de quase 10 anos sobre as normas 
consuetudinárias do DIH, onde foram identifi cadas 161 regras21.
Os princípios gerais de direito são proposições normativas que informam 
as regras do direito internacional e servem de diretriz para o desenvolvimento 
de novas normas concretas. Ao lado de outros princípios gerais de direito, 
constituem princípios de base do DIH a humanidade, a necessidade militar, a 
proporcionalidade, a distinção entre objetivos civis e militares e a proibição de 
21 Estudo disponível em português no site do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (www.icrc.org/web/por/
sitepor0.nsf/html/review-857-p175) 
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causar males supérfl uos ou sofrimento desnecessário. Uma abordagem mais 
detida destes princípios será feita mais adiante.
Evolução histórica
Em todas as épocas e em todas as culturas há indícios de regras relativas 
às guerras. 
Nos tempos remotos estas regras não formam um corpo coerente; 
elas permanecem pontuais e esparsas. As normas referem-se, 
sobretudo, aos meios e métodos de guerra ilícita, ou seja, as relações 
diretas entre os beligerantes. A noção de pessoa protegida (ou de 
imunidade) não era desconhecida, mas era pouco desenvolvida22. 
Numa investigação histórica, podem-se encontrar referências a leis de 
guerra no Extremo Oriente, no Oriente Médio, na América pré-colombiana, 
na África pré-colonial, no Mundo Greco-Romano e na Idade Média Cristã. 
Mas a história moderna do DIH nasce no século XIX, em que se podem 
constatar os primeiros esforços de codifi cação internacional da matéria. Em 
1859, o empreendedor suíço Henri Dunant se dirigiu ao norte da Itália para 
um encontro de negócios com Napoleão III e acabou testemunhando a Batalha 
de Solferino, na qual combatiam piemonteses e franceses contra austríacos. 
Ao fi nal do dia 24 de junho, restaram 40.000 vítimas no campo de batalha, 
entre mortos e feridos, sem qualquer ajuda ou socorro. O esforço de Dunant 
em mobilizar voluntários e improvisar atendimento médico na igreja local 
não foi sufi ciente para salvar muitos feridos que poderiam ter sobrevivido. 
De volta à Genebra, sua cidade natal, Dunant registra sua experiência em um 
livro intitulado Lembranças de Solferino e o envia a alguns chefes de Estado 
na tentativa de sensibilizá-los. 
A iniciativa gerou frutos: em 1863 foi fundado o movimento da Cruz 
Vermelha, do qual sairiam as Federações Nacionais da Cruz Vermelha e o 
Comitê Internacional da Cruz Vermelha com sede em Genebra. No mesmo 
ano, foi convocada uma Conferência Internacional e, em 22 de agosto de 
1864, foi adotada a Convenção Internacional para a melhoria da sorte dos 
militares feridos nos exércitos em campanha. Trata-se da primeira convenção 
de direito humanitário e da primeira convenção multilateral da história do 
direito internacional, na qual um só instrumento foi assinado por todos os 
22 KOLB, R., op. cit., nota 18, p.14 (tradução livre do francês). 
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participantes. O texto, contendo apenas 10 artigos, reconhece a neutralidade 
dos hospitais e ambulâncias militares e do pessoal médico militar das forças 
armadas, impõe o compromisso de recolher e tratar os militares feridos 
e doentes, independentemente de suas nacionalidades, e elege o símbolo 
distintivo da cruz vermelha sobre fundo branco – uma inversão das cores da 
bandeira da Suíça, terra natal de Henri Dunant – para a proteção das pessoas 
e dos estabelecimentos envolvidos no socorro médico militar. 
Paralelamente ao nascimento do movimento da Cruz Vermelha, outras 
iniciativas merecem ser citadas devido à indubitável contribuição aportada para 
o início da codifi cação do DIH. Em 1863, no contexto da Guerra de Secessão, 
nos Estados Unidos da América, o Presidente Abraham Lincoln encomendou 
a Francis Lieber, professor de Direito da Columbia University, a elaboração 
de instruções sobre o comportamento dos exércitos dos EUA em campanha. 
Nascia o documento que fi cou conhecido como Código Lieber. A Conferência 
de Bruxelas de 1874 reuniu 15 Estados europeus para examinar um projeto 
de acordo internacional, proposto pelo governo russo, concernente a leis e 
costumes de guerra. O projeto foi aprovado, mas a convenção acabou não 
sendo ratifi cada pelos Estados que hesitavam em aceitar sua força obrigatória. 
Em 1880, o Instituto de Direito Internacional, sociedade científi ca privada, 
adotou o Manual de Oxford, que se tratava de uma codifi cação geral das leis 
e costumes de guerra.
Foi, no entanto, em 1899, em Haia, por iniciativa do Czar da Rússia, 
Nicolas II, que aconteceu a Primeira Conferência Internacional da Paz, 
reunindo representantes de 26 Estados e da qual resultaram três convenções: 
uma sobre a solução pacífi ca de controvérsia, outra sobre o direito da 
guerra na terra e a última sobre o direito da guerra marítima. A Segunda 
Conferência Internacional da Paz aconteceu em 1907, também em Haia, 
na qual estavam representados 44 Estados, dentre os quais o Brasil23. Neste 
encontro, foram atualizadas as três convenções de 1899 e elaboradas outras 
10 novas convenções, que versavam, em sua maioria, sobre a guerra marítima. 
De todo este conjunto ainda se revelam de grande importância para o DIH a 
IV Convenção de Haia de 1907 e seu regulamento anexo, que trata das leis 
e costumes da guerra terrestre. Este texto contém regras ainda em vigor que 
versam sobre métodos e meios de combate proibidos e sobre a ocupação de 
território inimigo.
23 A delegação brasileira contava com Rui Barbosa que, com sua participação ativa e destacada, marcada 
pela excelência de sua oratória, engrandeceu o Brasil. Daí a alcunha de “ Águia de Haia”.
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Durante a I Guerra Mundial, o grande problema vivenciado foi a 
enorme quantidade de prisioneiros de guerra, o que motivou a elaboração de 
uma convenção específi ca sobre o tratamento dos mesmos, feita em Genebra, 
em 1929. 
A II Guerra Mundial, com seus efeitos catastrófi cos, preparou terreno 
para uma segunda onda de codifi cação do DIH. Por iniciativa do Comitê 
Internacional da Cruz Vermelha, em 12 de agosto de 1949 foram adotadas 
quatro Convenções em Genebra, sendo três atualizações e uma inovação: 
Convenção I, para a melhoria da sorte dos feridos e enfermos dos exércitos 
em campanha; Convenção II, para a melhoria da sorte dos feridos, enfermos e 
náufragos das forças armadas no mar; Convenção III, relativa ao tratamento dos 
prisioneiros de guerra e Convenção IV, relativa à proteção das pessoas civis em 
tempo de guerra. Esta última decorreu dos horrores vivenciados pela população 
civil durante o confl ito cujas vítimas superaram, e muito, as vítimas militares. 
Estes atos convencionais contemplam os confl itos armados internacionais, 
havendo apenas um artigo comum às quatro Convenções de Genebra, o art. 3º, 
que versa sobre os confl itos de natureza não-internacional.
A preocupação com a proteção dos bens culturais em tempo de confl itos 
armados também ensejou a conclusão deuma Convenção e de um Protocolo 
em Haia, em 1954.
As décadas de 60 e 70 foram marcadas por confl itos infra-estatais, 
quer seja pelas guerras de liberação nacional decorrentes dos processos de 
descolonização quer seja pelos confl itos apoiados por uma das ideologias que 
bipolarizaram o mundo durante a guerra fria. Neste contexto, em 1977, foram 
adotados os Protocolos Adicionais às Convenções de Genebra de 1949, sendo 
o Protocolo I dedicado aos confl itos armados internacionais e o Protocolo 
II aos confl itos de natureza não-internacional. Este corpo jurídico composto 
pelas Convenções de Genebra de 1949 e seus Protocolos Adicionais de 1977 
representam o coração normativo do DIH moderno. 
Testemunha-se também o desenvolvimento de atos convencionais 
destinados a limitar o uso de determinados tipo de armas: Convenção sobre a 
proibição do desenvolvimento, produção e estocagem de armas bacteriológicas 
(biológicas) e à base de toxinas e sobre sua destruição (1972); Convenção 
sobre a interdição ou a limitação do emprego de certas armas convencionais 
que podem ser consideradas excessivamente lesivas ou geradoras de efeitos 
indiscriminados (1980) e seus respectivos protocolos adicionais versando sobre 
estilhaços não-localizáveis (1980), minas terrestres (1980), armas incendiárias 
(1980) e armas cegantes a laser (1995); Convenção sobre a proibição do 
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desenvolvimento, produção, estocagem e uso de armas químicas e sobre 
a destruição das armas químicas existentes no mundo (1993); Convenção 
sobre a proibição do uso, armazenamento, produção e transferência de minas 
antipessoal e sobre sua destruição (1997). 
A natureza dos confl itos armados está em mutação, e, atualmente, o 
DIH se defronta com novos desafi os, dentre os quais podem ser destacados os 
confl itos assimétricos24 e a chamada “guerra contra o terrorismo”25.
Relação entre o Direito Internacional Humanitário e o Direito Internacional 
dos Direitos Humanos 
Não é de hoje que a relação entre o Direito Internacional Humanitário 
(DIH) e o Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH) é objeto de 
debate entre os internacionalistas. A própria nomenclatura similar destes 
ramos do Direito induz à confusão. 
O Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH) também 
é ramo do direito internacional público e tem como objetivo garantir o 
exercício pleno da dignidade humana, diferentemente do DIH, que objetiva 
garantir o mínimo de humanidade em situações limites. Enquanto o DIH foi 
especialmente concebido para o tempo de guerra, o DIDH foi imaginado para 
o tempo de paz, não obstante tenha aplicação em qualquer tempo e lugar, o 
que inclui as épocas de tensões internas (estado de sítio, por exemplo) e os 
tempos de guerra. Nestas hipóteses excepcionais, diferentemente do DIH, o 
DIDH sofre derrogações, restando apenas a garantia de determinados direitos 
fundamentais considerados como essenciais pelos próprios tratados de direitos 
humanos26. 
24 Confl itos assimétricos são aqueles nos quais uma das partes do confl ito é dotada de uma tecnologia militar 
muito superior à da outra, o que gera uma assimetria de poder bélico. Esta desproporção é terreno fértil para 
o desenvolvimento de técnicas de guerrilha pela parte mais fraca. O progresso dos confl itos assimétricos 
fragiliza o respeito às normas protetivas e restritivas do DIH na medida em que a parte mais forte, não tendo 
medo de represálias, ou acreditando que elas não são viáveis, tende a violar com mais facilidade o ius in 
bello. Para mais informações sobre os confl itos assimétricos, ver o artigo “Israel, Hesbollah e o Confl ito 
Assmétrico” partes I e II, do Gen Bda R/1 Alvaro Pinheiro, Analista Militar especialista em Guerra Irregular, 
disponível em www.defesanet.com.br/wars/lebanon/assimetria.htm
25 A chamada “guerra contra o terrorismo” será abordada mais adiante quando do estudo do Direito de 
Haia
26 Cita-se, por exemplo, o art. 4 (2) do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos de 1966, que 
dispõe que, mesmo nos casos de situações excepcionais que ameacem a existência da nação, permanecem 
insuscetíveis de suspensão os seguintes direitos: a vida; de não ser submetido à tortura, à escravidão e à 
servidão; de não ser preso por inadimplemento contratual; ao princípio da legalidade dos delitos e das 
penas; a personalidade jurídica, a liberdade de pensamento, consciência e religião. 
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Como referência institucional, quando se cogita do DIH, vem a lume o 
Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), e, quando se pensa no DIDH, 
evoca-se a Organização das Nações Unidas (ONU)27. O DIH tem as Partes 
beligerantes como destinatários principais, ao passo que o DIDH se endereça 
a todos os Estados. O DIDH constitui um corpo jurídico relativamente novo, 
cujo movimento de internacionalização ganhou força depois da II Guerra 
Mundial, circunstância que contrasta com a evolução histórica do DIH. O 
DIDH é composto por instrumentos universais (ou globais) e regionais, tendo 
cada espécie de tratado uma forma de mecanismo de controle. Os universais 
normalmente instituem Comitês28, enquanto os regionais geralmente criam 
Cortes de Direitos Humanos29. O DIH não conhece instrumentos regionais 
e seus mecanismos de controle são diferenciados conforme se estudará na 
Unidade III do presente trabalho 30.
Como fontes convencionais do DIDH podem ser citados os seguintes 
tratados internacionais:
1) Tratados universais (ou globais):
• Convenção sobre a repressão do crime de genocídio de 1948
• Pacto Internacional relativo aos direitos civis e políticos de 1966 
• Pacto Internacional relativo aos direitos econômicos, sociais e 
culturais de 1966 
• Convenção Internacional sobre a eliminação de todas as formas de 
discriminação racial de 1966
• Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação 
contra as mulheres de 1981
27 No entanto, não se trata de uma divisão estanque. A partir de 1968, com a Conferência de Teerã sobre os 
Direitos Humanos, a ONU reconheceu aspectos de convergência entre o DIH e o DIDH e, a partir dos anos 
90, constatam-se, inclusive, referências expressas ao DIH em resoluções da ONU.
28 Como exemplos, podem ser citados o Comitê de Direitos Humanos criado pelo Pacto Internacional de 
Direitos Civis e Políticos de 1966, o Comitê contra a tortura criado pela Covenção contra a Tortura e outros 
tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes de 1984 e o Comitê para os direitos da criança 
criado pela Convenção sobre os direitos da criança de 1989.
29 Por exemplo: a Corte Européia de Direitos Humanos, com sede em Estrasburgo, na França, criada pela 
Convenção Européia de Direitos Humanos de 1950 e a Corte Interamericana de Direitos Humanos, com 
sede em São José, na Costa Rica, criada pela Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969.
30 Para aprofundar o estudo do Direito Internacional dos Direitos Humanos, conferir a obra de André de 
Carvalho Ramos intitulada Processo Internacional de Direitos Humanos – Análise dos sistemas de apuração 
de violações dos direitos humanos e a implementação das decisões no Brasil, Rio de Janeiro/São Paulo, 
2002.
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• Convenção contra a tortura e outras penas e tratamentos cruéis, 
inumanos ou degradantes de 1984
• Convenção relativa aos direitos da criança de 1989 
2) Tratados regionais:
• Convenção Européia de Direitos Humanos de 1950
• Convenção Americana relativa aos Direitos Humanos de 1969
• Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 1981
Para uma visão panorâmica do sistema de proteção internacional do 
indivíduo, foi elaborado o seguinte quadro:
SITUAÇÃO DIREITO APLICÁVEL
Tempo de Paz Direitos Humanos
Tensões Internas(Ex.: Estado de sítio)
Direito Humanos Inderrogáveis
Confl ito Armado Interno 31 Direitos Humanos Inderrogáveis e
Direito Internacional Humanitário 32 
Confl ito Armado Internacional Direitos Humanos Inderrogáveis e
Direito Internacional Humanitário 
No intuito de sintetizar as características destes ramos do direito 
internacional, vale conferir o quadro comparativo entre o DIH e o DIDH 
produzido pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha em 15 de abril de 
1998 e apresentado a seguir33:
31 Terminologia usada para facilitar a compreensão dos níveis de uma hipotética escalada de violência que 
se pretende demonstrar com o quadro, não obstante a terminologia mais técnica e adequada ao fenômeno 
seja “confl ito armado não-internacional”.
32 Conforme será estudado mais adiante, as normas de Direito Internacional Humanitário aplicáveis aos 
confl itos armados de natureza não-internacional não têm a mesma amplitude daquelas aplicáveis ao 
confl itos armados internacionais.
33 Texto intitulado “ O Direito Internacional Humanitário – Conjunto de normas internacionais que tem 
por objetivo proteger as pessoas que não participam ou deixaram de participar das hostilidades e restringir 
os meios e métodos de guerra”, disponível no site da Cruz Vermelha, em http://www.icrc.org/Web/por/
sitepor0.nsf/html/5TNDBL (acesso em 20/12/2007).
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DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO DIREITOS HUMANOS
É aplicável em tempo de confl ito armado. São aplicáveis em qualquer tempo ou lugar.
Protege especifi camente as pessoas afetadas 
por um confl ito armado: população civil, 
feridos, doentes, prisioneiros de guerra ou 
detidos civis; assim como o pessoal médico 
ou sanitário e religioso, civil ou militar, e 
o pessoal da Cruz Vermelha, a fi m de que 
possam fazer sua tarefa durante o confl ito.
Os direitos humanos protegem as pessoas em 
qualquer situação (direitos civis, políticos, 
econômicos, sociais e culturais).
O DIH protege contra infracções graves 
de instituições do próprio Estado ou de 
outros Estados em confl itos armados 
internacionais, de grupos ou indivíduos 
armados sob um comando responsável em 
situação de confl ito armado interno.
Os direitos humanos protegem os indivíduos 
de violações de agentes de seu próprio 
Estado.
Nunca pode ser suspenso ou derrogado. O exercício de certos direitos como a 
liberdade de imprensa ou de circulação pode 
ser suspenso durante a vigência do estado 
de sítio. Mas há outros direitos que nunca 
podem ser suspensos ou derrogados como 
o direito à vida e a um julgamento justo e 
imparcial.
Estabelece a obrigação dos Estados de 
adotarem medidas nacionais (exemplo: 
leis penais) que punem as violações deste 
direito. Foram criados tribunais para 
julgar as violações do DIH que ocorreram 
nos casos da ex-Iugoslávia ou Ruanda. 
Em 17 de julho de 1998, a comunidade 
internacional decidiu, durante uma 
conferência diplomática, pela criação de 
um tribunal permanente - o Tribunal Penal 
Internacional - encarregado de julgar os 
crimes de guerra, crimes de genocídio, 
crimes contra a humanidade, entre outros. 
O Estatuto de Roma, que instaura o 
Tribunal Penal Internacional, entrará em 
vigor a partir de1° de julho de 2002. O 
Tribunal deverá entrar em funcionamento 
em 2003. 
Existem mecanismos de supervisão 
internacional universais como o Comitê 
do Pacto Internacional de Direitos Civis 
e Políticos no seio das Nações Unidas, ou 
regionais, como a Comissão Interamericana 
de Direitos Humanos de acordo com o Pacto 
de São José da Costa Rica (Convenção 
Americana sobre Direitos Humanos). 
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Traçadas as linhas gerais do DIH e do DIDH, passa-se à refl exão acerca 
da relação entre estes dois ramos do direito internacional dando origem a três 
concepções doutrinárias. 
Aqueles que preconizam uma fusão entre os dois ramos do direito são 
chamados de “integracionistas” Esta fusão pode se dar sob a ótica do DIH, 
que englobaria o DIDH ou, ao inverso, sob a ótica do DIDH, que conteria 
o DIH. Esta última vertente parece ser dominante, e o fundamento desta 
concepção é o objeto comum de ambos os corpos jurídicos: a proteção da 
pessoa. A crítica que se faz a esta abordagem é que ela despreza a natureza, os 
princípios e as regras diferenciadas destes dois ramos do direito.
Em oposição, a doutrina “separatista” condena toda justaposição entre 
o DIH e o DIDH porque a considera desnecessária e perigosa. Segundo estes 
autores, as normas de um e de outro ramo do direito são incompatíveis devido 
aos seus objetos distintos e naturezas peculiares. Esta teoria é considerada 
ultrapassada.
Entre estas duas concepções acomoda-se a “doutrina complementarista”, 
que, embora defenda a distinção entre o DIH e o DIDH pelas suas lógicas e 
princípios diferenciados, admite pontos de contato entre os dois ramos do 
Direito, os quais devem se completar a fi m de proporcionar uma proteção 
mais abrangente ao indivíduo. Segundo estes doutrinadores, esta aproximação 
deve ser funcional, de sorte que um corpo jurídico possa colmatar as lacunas 
do outro. 
Esta problemática, que poderia parecer uma discussão puramente 
acadêmica, comporta importantes conseqüências jurídicas. 
O Brasil, ao lado de outras jovens democracias latino-americanas, 
talvez para se proteger das indesejáveis experiências do passado, optou 
por hierarquizar os tratados internacionais de direitos humanos no plano 
interno, concedendo-lhes uma dimensão superior no universo dos demais atos 
convencionais. O status de norma constitucional para os tratados de direitos 
humanos, antes reivindicado pela doutrina, passou a ser uma realidade 
normativa com a EC nr. 45/2004, que acrescentou o seguinte parágrafo ao 
art. 5o. da nossa Magna Carta:
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos 
humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso 
Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos 
membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.
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28 | 
Ocorre que nenhuma referência foi feita ao ius in bello. Desta feita, 
se invocarmos a teoria integracionista que concebe o DIH sob a égide de 
um DIDH lato senso, é possível concluir que os tratados de DIH também 
compartilham desta supremacia gozada pelos tratados internacionais de 
direitos humanos que resulta em um lugar reservado no topo da pirâmide 
legislativa brasileira. 
Se por um lado esta concepção fusionista representa uma perda em rigor 
técnico, por outro representa um ganho considerável em matéria de hierarquia 
legislativa. É preciso aproveitar o vigor e a popularidade do movimento dos 
direitos humanos, qualidades jamais experimentadas pelo DIH, para reforçar 
a proteção do indivíduo.
De qualquer sorte, é inegável que a convergência entre o DIH e o DIDH 
já é uma tendência34 da qual o Estatuto de Roma para o Tribunal Penal 
Internacional (TPI) faz prova, considerando que, no mesmo instrumento, 
criminaliza violações graves ao DIH (crimes de guerra) e violações graves ao 
DIDH (crimes contra a humanidade e genocídio em tempo de paz). 
2) PRINCÍPIOS DO DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO: 
Cláusula Martens. Humanidade, Necessidade e Proporcionalidade. A distinção 
fundamental entre civis e combatentes. Proibição de causar males supérfl uos e 
sofrimento desnecessário. Independência do ius in bello em relação ao ius ad 
bellum
Limitação e Humanidade. A escolha dos meios para atacar o inimigo 
não é ilimitada e as pessoas fora de combate sob o poder da Parte Adversa 
devem ser respeitadas. Eis os princípios fundamentais do DIH, dos quais todos 
os outros princípios e regras decorrem. 
Cláusula Martens
Assim dispõe o art. 1 inciso 2 do Protocolo Adicional I (PAI) de 1977:
Noscasos não previstos pelo presente Protocolo ou por outros 
acordos internacionais, as pessoas civis e os combatentes fi carão 
sob a proteção e autoridade dos princípios do direito internacional, 
tal como resulta do costume estabelecido, dos princípios humanitá-
rios e das exigências da consciência pública35. 
34 Para aprofundar a matéria, conferir a seguinte obra: CANÇADO TRINDADE, A. A, As três vertentes da 
proteção internacional dos direitos da pessoa humana: direitos humanos, direito humanitário, direito dos 
refugiados. San José (Costa Rica); Brasília: IIDH, CICV, ACNUR, 1996.
35 O prêambulo do PAII que disciplina os confl itos armados não-internacionais também traz esta 
formulação.
jus ad bellum (direito do uso da força
dpu
Realce
dpu
Realce
dpu
Realce
Unidade 1- Aspectos Gerais do Direito Internacional Humanitário
| 29
Esta é a formulação moderna da cláusula que foi proposta pelo professor 
de direito internacional Fyodor Fyodorovich Martens, delegado russo na 
Primeira Conferência Internacional da Paz de 1899, em Haia. O enunciado 
constou nos preâmbulos da Convenção II de 1899 e da Convenção IV de 1907 
que tratavam das leis e costumes da guerra terrestre e, desde então, é retomado 
nos atos convencionais e citado pela jurisprudência36. 
O objetivo da cláusula é aplicar o princípio residual da humanidade 
às lacunas do DIH, o que contrasta com o tradicional princípio residual da 
liberdade. Desta feita, nas hipóteses ainda não contempladas, as partes não 
têm liberdade ilimitada na escolha dos meios e métodos de combate ou no 
tratamento de pessoas sob seu poder em épocas de confl itos armados. Trata-se 
de norma particularmente importante, considerando que a atualização deste 
ramo do direito difi cilmente evolui na mesma velocidade do desenvolvimento 
de novas armas e novas técnicas de combate. 
Humanidade, Necessidade Militar e Proporcionalidade
Pedra angular e razão de existência do DIH, o princípio de humanidade 
era associado à idéia de civilização pelos autores no início do século. Traduz-
se no respeito à dignidade humana e trata-se de uma referência axiológica, 
um padrão “moral secular universal, de tipo humanista, que tem raízes na 
tradição de todas as culturas humanas”37. 
O preâmbulo da Declaração de São Petersburgo de 1868 sobre a 
proibição do uso de certos projéteis em tempo de guerra, primeiro acordo 
formal sobre a interdição de armas em épocas de confl itos, dispunha que 
os limites técnicos ou as necessidades da guerra deveriam cessar diante das 
exigências da humanidade. Em 1899 e 1907, conforme já referenciado, a 
cláusula Martens também invocava “as leis de humanidade” para os casos 
omissos.
Já foi estatuído que o “princípio da humanidade inclui a vontade de 
reduzir a capacidade de se entregar a violência armada e de limitar seus efeitos 
sobre a segurança e a saúde. A humanidade assim interpretada englobaria o 
humanitarismo, a moralidade, o desenvolvimento, os direitos humanos e a 
segurança humana”38. 
36 Conferir, por exemplo, o parecer consultivo da Corte Internacional de Justiça sobre a licitude da ameaça 
ou uso de armas nucleares.
37 KOLB, R., op. cit., nota 533, p. 228.(tradução livre).
38 COUPLAND, R. Humanity : What is it and how it infl uence international law ? .RICR, n. 844, p. 969-990, 
2001, disponível no site da Cruz Vermelha (www.icrc.org).
| Direito Internacional Humanitário
30 | 
Na 20a Conferência Internacional da Cruz Vermelha (Viena, 1965), 
foram proclamados os sete Princípios Fundamentais da instituição, dentre os 
quais o princípio da humanidade, que assim foi referenciado:
Humanidade – A Cruz Vermelha, nascida do desejo de levar 
assistência sem discriminação para os feridos no campo de batalha, 
objetiva prevenir e aliviar o sofrimento humano onde quer que se 
encontre. Seu propósito é proteger a vida e a saúde e assegurar 
o respeito pelo ser humano. Ela promove mútuo entendimento, 
amizade, cooperação e paz entre todos os povos. 
A necessidade militar exprime “a capacidade de realizar atos tidos como 
indispensáveis em relação ao objetivo individual de vencer o adversário”39. 
Trata-se de um princípio muito sensível aos Estados, já que pode estar atrelado 
à própria noção de sobrevivência estatal.
 A valoração da necessidade militar traz importantes conseqüências 
práticas, tanto que permite derrogações de algumas normas humanitárias40, o 
que pode fazer a diferença entre um ato beligerante lícito à luz do DIH e um 
crime de guerra. 
Como exemplo de algumas derrogações, vale citar as seguintes regras:
Art. 5o, da IV Convenção de Genebra de 1949 (CG IV):
Se, num território ocupado, uma pessoa protegida pela Convenção 
for detida como espião ou sabotador, ou porque sobre ela recai 
uma legítima suspeita de se entregar a atividades prejudiciais à 
segurança da Potência ocupante, a referida pessoa poderá, nos 
casos de absoluta necessidade da segurança militar, ser privada 
dos direitos de comunicação previstos pela presente Convenção. 
(grifo nosso)
39 KOLB, R., op cit, nota 106, p. 57. – tradução livre
40 O art. 54, 5 do PAI assim dispõe: “Tendo em conta as exigências vitais de qualquer Parte no confl ito para 
a defesa do seu território nacional contra a invasão, são permitidas a uma Parte no confl ito, em território 
sob seu controlo, derrogações às proibições previstas no nº 2, se necessidades militares imperiosas o 
exigirem”. 
Unidade 1- Aspectos Gerais do Direito Internacional Humanitário
| 31
Art. 143 da CG IV que trata dos representantes das Potências Protetoras:
Terão acesso a todos os edifícios ocupados por pessoas protegidas 
e poderão entrevistá-las sem testemunhas, diretamente ou por 
intermédio de um intérprete. Estas visitas não poderão ser 
impedidas, a não ser por razões de imperiosas necessidades 
militares e somente a título excepcional e temporário. A duração 
e freqüência não poderão ser limitadas. 
(grifo nosso)
Art. 71 do Protocolo I de 1977, que trata do pessoal que participa das 
ações de socorro:
3 - Cada Parte que receba remessas de socorro assistirá, na medida 
do possível, o pessoal mencionado no n.º 1, no cumprimento da 
sua missão de socorro. As atividades deste pessoal de socorro não 
podem ser limitadas, nem as suas deslocações temporariamente 
restringidas, salvo em caso de necessidade militar imperiosa. 
(grifo nosso) 
O Estatuto de Roma, ao tipifi car crimes de guerra em tempo de confl ito 
armado internacional, assim dispôs no art. 8º., inciso 2, letra “a”: 
iv) Destruição ou a apropriação de bens em larga escala, quando 
não justifi cadas por quaisquer necessidades militares e executadas 
de forma ilegal e arbitrária.
 (grifo nosso) 
Já a proporcionalidade vem a ser a relação de equilíbrio que deve haver 
entre a necessidade militar e o princípio de humanidade. Proporcional é o 
meio adequado, razoável, capaz de atingir o fi m visado produzindo o menor 
dano possível. A apreciação prática deste princípio, como em qualquer outro 
ramo do direito, não é tarefa fácil e deverá ser analisada considerando-se as 
circunstâncias do caso concreto. 
Ao tratar das medidas de precaução que devem ser empreendidas antes 
de um ataque, o art. 57, inciso 3, do Protocolo I sintetiza este princípio nos 
seguintes termos:
| Direito Internacional Humanitário
32 | 
Quando for possível escolher entre vários objetivos militares para 
obter uma vantagem militar equivalente, a escolha deverá recair 
sobre o objetivo cujo ataque seja susceptível de apresentar o menor 
perigo para as pessoas civis ou para os bens de carácter civil. 
A distinção fundamental entre civis e combatentes 
Trata-se de uma regra fundamental que orienta o ramo do DIH destina-
do a restringir meios e métodos de combate. Para que se possa garantir a 
proteção do DIH, é imprescindível que as Partes beligerantes façam a distinção 
entre objetivos civis e objetivos militares, sendo que só estes últimos podem 
ser alvejados. Deste princípio decorrem três comandos:(1) a proibição de 
atacar pessoas civis; (2) a proibição de realizar ataques indiscriminados que 
causemdanos civis colaterais; (3) a proibição realizar ataques indiscriminados 
que causem danos civis colaterais excessivos. 
O art. 48 do Protocolo Adicional I positiva o princípio da distinção nos 
seguintes termos:
De forma a assegurar o respeito e a proteção da população civil e 
dos bens de caráter civil, as Partes no confl ito devem sempre fazer 
a distinção entre população civil e combatentes, assim como entre 
bens de caráter civil e objetivos militares, devendo, portanto, 
dirigir as suas operações unicamente contra objetivos militares. 
(grifo nosso). 
Proibição de causar males supérfl uos e sofrimento desnecessário 
Este princípio se aplica, sobretudo, no que concerne à proibição do
uso de certas armas. O que se proíbe é a crueldade exacerbada, a despro-
porção, o excesso. A Declaração de São Petersburgo de 1868 já dispunha 
em seu preâmbulo que o único objetivo legítimo da guerra deveria ser o 
enfraquecimento das forças armadas inimigas e que este objetivo seria 
ultrapassado pelo emprego de armas que agravassem inutilmente o sofrimento 
dos homens fora de combate ou que tornassem a morte inevitável. O preceito 
foi reiterado em outros atos convencionais e vem assim materializado no item 
2 do art. 35 do Protocolo Adicional I de 1977:
É proibido utilizar armas, projéteis e materiais, assim como 
métodos de guerra de natureza a causar danos supérfl uos. 
Unidade 1- Aspectos Gerais do Direito Internacional Humanitário
| 33
41 Conferir, por exemplo, a Resolução 827, de 25/05/1993, do Conselho de Segurança, que criou o Tribunal 
Penal Internacional ad hoc para a antiga Iugoslávia.
É curioso perceber que, sob a ótica do DIH, dar causa a um sofrimento 
excessivo ou desnecessário caracteriza uma grave violação, enquanto matar um 
combatente durante os confrontos armados, em determinadas circunstâncias, 
não confi gura um ato ilícito. Quanto ao princípio da proibição de causar 
males supérfl uos, retoma-se aqui o exemplo da Convenção sobre a interdição 
ou a limitação do emprego de certas armas convencionais que podem ser 
consideradas excessivamente lesivas ou geradoras de efeitos indiscriminados 
(1980) e seus respectivos protocolos adicionais versando sobre estilhaços não-
localizáveis (1980), minas terrestres (1980), armas incendiárias (1980) e armas 
cegantes a laser (1995).
Independência do ius in bello em relação ao ius ad bellum
Recapitulando, o ius in bello diz respeito ao direito na guerra, durante 
a guerra, e corresponde às normas do DIH que objetivam restringir meios e 
métodos de combate e proteger quem participa ou não participa mais dos 
combates. Já o ius ad bellum refere-se ao direito de ir à guerra, de fazer a 
guerra, que compõe outro ramo do direito internacional: o direito relativo à 
manutenção da paz. Aqui a análise recai sobre a licitude do uso da força pelos 
Estados uti singuli (a título singular), e, desde 1945, o assunto se circunscreve 
à esfera de competência da ONU, que tem a missão de manter a paz no 
mundo.
Como já visto, com a promulgação da Carta das Nações Unidas, o 
uso da força pelos Estados passou para a ilegalidade no âmbito do direito 
internacional, e, por causa desta proibição, alguns autores advogam o 
nascimento de um ius contra bellum (direito contra a guerra), que teria 
substituído o ius ad bellum (direito de fazer a guerra). Por muito tempo, a 
ONU suspeitou do ius in bello porque o associava à sua incompetência de 
promover a paz. Mas, gradativamente, esta resistência foi se dissipando e, 
desde o início da década de 90, a ONU tem feito referências expressas ao DIH 
em algumas de suas resoluções41.
De qualquer sorte, a independência entre o ius in bello e o ius ad bellum 
(ou ius contra bellum) é princípio de base do DIH, sem o qual o respeito a este 
ramo do direito fi ca bastante fragilizado. Ao DIH não cabe julgar quem tem 
a boa causa no confl ito, quem tem as razões mais justas. Uma vez defl agrado 
o confl ito, o DIH deve ser respeitado pelas Partes beligerantes, sem qualquer 
| Direito Internacional Humanitário
34 | 
discriminação, independentemente das razões ou dos motivos que levaram ao 
combate. 
Se o ius in bello fosse subordinado ao ius ad bellum, as partes beligerantes, 
entendendo cada uma que sua causa era mais justa, não teriam estímulo para 
respeitar as normas restritivas e protetivas do DIH com relação ao inimigo 
injusto, o que certamente levaria o confl ito a se brutalizar cada vez mais. Esta 
circunstância atinge diretamente a reciprocidade, que é forte mecanismo de 
respeito ao ius in bello. Ademais, seria absurdo exigir que as vítimas dos campos 
de batalha fi cassem esperando, desprotegidas, a apreciação de qual seria a parte 
beligerante com causas mais justas em determinado confl ito armado.
Apesar das razões expostas, cumpre registrar que a articulação entre o 
ius in bello e o ius ad bellum tem se revelado um constante questionamento 
no decorrer da história dos confl itos armados. Depois dos atentados de 11 
de setembro de 2001, é possível observar a emergência de uma doutrina, 
capitaneada pelos EUA, de mitigação da independência entre os dois ramos do 
Direito internacional.
3) UM RETRATO JURÍDICO DO DIH: competências ratione materiae, 
personae, loci e temporis.
Antes de adentrar no estudo das normas convencionais, parece 
apropriado analisar juridicamente os critérios delimitadores da aplicabilidade 
do ius in bello, no intuito de refl etir acerca dos seguintes questionamentos 
básicos: a que, a quem, onde e quando se aplica do DIH. 
Competência ratione materiae
O DIH se aplica aos confl itos armados. Portanto, a noção de confl itos 
armados é extremamente importante para delimitar o âmbito de aplicação 
material do ius in bello.
Existem duas espécies de confl ito, aos quais se aplicam regimes jurídicos 
diferentes do DIH: confl itos armados internacionais (CAI) e confl itos armados 
não-internacionais (CANI). 
O CAI é tradicionalmente defi nido como o afrontamento armado entre, 
no mínimo, dois Estados. No entanto, para acompanhar as transformações 
no seio da sociedade internacional, fatos geradores do direito das gentes, 
a defi nição de CAI evoluiu junto com a história das guerras e, atualmente, 
abarca outras hipóteses. De acordo com as quatro Convenções de Genebra de 
1949 e seus respectivos Protocolos Adicionais de 1977, podem-se distinguir 
quatro categorias de confl itos armados internacionais:
Unidade 1- Aspectos Gerais do Direito Internacional Humanitário
| 35
1. Guerra declarada – o estado de guerra é formal, normalmente 
materializado por uma declaração de guerra, no qual é exigida a 
vontade de fazer a guerra (animus belligerendi). 
2. Confronto armado de fato – Qualquer ato de hostilidade armado, de 
qualquer intensidade, praticado entre dois Estados que façam parte das 
Convenções de Genebra. Esta defi nição tem o mérito de contemplar 
uma situação fática, pouco importando as formalidades que exigem 
a caracterização de uma guerra. Segundo dispõe o art. 2o, comum às 
quatro Convenções de Genebra, estes atos convencionais se aplicam 
em “caso de guerra declarada ou de qualquer outro confl ito armado 
que possa surgir entre duas ou mais das Altas Partes contratantes, 
mesmo que o estado de guerra não seja reconhecido por uma delas”. 
3. Ocupação militar não-resistida – Esta defi nição contempla a hipótese na 
qual inexiste qualquer ato de afrontamento armado. O art. 2o comum 
anteriormente referenciado acrescenta que as Convenções aplicar-se-
ão “igualmente em todos os casos de ocupação total ou parcial do 
território de uma Alta Parte contratante, mesmo que esta ocupação 
não encontre qualquer resistência militar.” Imagina-se, aqui, a hipótese 
na qual um Estado de reconhecida superioridade bélica invade outro de 
precários recursos defensivos que se rende ao adversário sem defl agrar 
um só disparo.
4. Guerras de liberação nacional – noção acrescentadacom o art. 1º, 
parágrafo 4 do PAI de 1977, o qual dispõe que 
Nas situações mencionadas no número precedente estão incluídos 
os confl itos armados em que os povos lutam contra a dominação 
colonial e a ocupação estrangeira e contra os regimes racistas no 
exercício do direito dos povos à autodeterminação, consagrado na 
Carta das Nações Unidas e na Declaração Relativa aos Princípios 
do Direito Internacional Respeitante às Relações Amigáveis e à 
Cooperação entre os Estados nos termos da Carta das Nações 
Unidas. 
Enquanto o conceito de CAI é bem defi nido pelo DIH, a noção de 
CANI é ainda muito precária. Esta discrepância se justifi ca pelo fato de os 
Estados terem pudor em conceituar situações que tangenciam a esfera de seu 
domínio reservado decorrente da própria noção de soberania. É difícil para os 
| Direito Internacional Humanitário
36 | 
Estados admitirem para a sociedade internacional que existe a possibilidade de 
perderem o controle de seu território e de seu povo. Eles têm medo de legitimar 
uma insurreição. Este sentimento é sintetizado pelo art. 3o do PAII, o qual, sob 
a rubrica “Não intervenção” assim dispõe:
1 - Nenhuma disposição do presente Protocolo será invocada para 
atentar contra a soberania de um Estado ou a responsabilidade do 
governo em manter ou restabelecer a ordem pública no Estado ou 
defender a unidade nacional e a integridade territorial do Estado por 
todos os meios legítimos.
2 - Nenhuma disposição do presente Protocolo será invocada como 
justifi cação de uma intervenção direta ou indireta, seja qual for a 
razão, no confl ito armado ou nos assuntos internos ou externos da 
Alta Parte Contratante, em cujo território o confl ito se desenrola.
Estas são as mesmas razões que explicam a gritante diferença quantitativa 
e qualitativa entre as normas do DIH que contemplam os confl itos armados 
internacionais (CAI) e as normas do DIH que se destinam aos confl itos armados 
não-internacionais (CANI). Do universo normativo composto pelas quatro 
Convenções de Genebra e os dois Protocolos Adicionais, que totalizam 559 
artigos, apenas 29 são dedicados aos confl itos armados não-internacionais.
Embora a defi nição de confl ito armado não-internacional se encontre em 
uma zona nebulosa existente entre as tensões e perturbações internas (limite 
inferior) e os confl itos armados internacionais (limite superior), dependendo 
do ato convencional invocado, pode-se distinguir três noções de confl itos 
armados não-internacionais:
1. CANI, segundo o art. 3o, comum às quatro Convenções de Genebra 
de 1949 – Depreende-se deste dispositivo uma defi nição negativa que 
se refere a uma simples oposição ao confl ito armado internacional. 
A noção é bastante abrangente e não traz elementos objetivos de 
delimitação.
2. CANI segundo o art. 1o do Protocolo Adicional II de 1977 – Este 
dispositivo traz mais elementos de defi nição, a saber:
Unidade 1- Aspectos Gerais do Direito Internacional Humanitário
| 37
1 - O presente Protocolo, que desenvolve e completa o artigo 3.·, 
comum às Convenções de 12 de Agosto de 1949, sem modifi car as suas 
condições de aplicação atuais, aplica-se a todos os confl itos armados 
que não estão cobertos pelo artigo 1.· do Protocolo Adicional às 
Convenções de Genebra de 12 de Agosto de 1949, relativo à Proteção 
das Vítimas dos Confl itos Armados Internacionais (Protocolo 1), 
e que se desenrolem em território de uma Alta Parte Contratante, 
entre as suas forças armadas e forças armadas dissidentes ou grupos 
armados organizados que, sob a chefi a de um comando responsável, 
exerçam sobre uma parte do seu território um controle tal que lhes 
permita levar a cabo operações militares continuas e organizadas e 
aplicar o presente Protocolo.
2 - O presente Protocolo não se aplica às situações de tensão e de 
perturbação internas, tais como motins, atos de violência isolados e 
esporádicos e outros atos análogos, que não são considerados como 
confl itos armados. 
(grifo nosso) 
3. CANI segundo o art. 8o “f” do Estatuto de Roma do Tribunal Penal 
Internacional – aqui se acrescentou um elemento de ordem temporal 
que inexistia nos demais dispositivos.
f) A alínea e) do parágrafo 2º do presente artigo aplicar-se-á aos 
confl itos armados que não tenham caráter internacional e, por 
conseguinte, não se aplicará a situações de distúrbio e de tensão 
internas, tais como motins, atos de violência esporádicos ou isolados 
ou outros de caráter semelhante; aplicar-se-á, ainda, a confl itos 
armados que tenham lugar no território de um Estado, quando exista 
um confl ito armado prolongado entre as autoridades governamentais 
e grupos armados organizados ou entre estes grupos. 
(grifo nosso) 
Como os Estados, para se protegerem de ingerências externas, fi zeram 
questão de registrar que as situações de distúrbios e tensões internas não 
confi guram confl itos armados não-internacionais, convém perquirir acerca 
| Direito Internacional Humanitário
38 | 
da defi nição destas circunstâncias excepcionais. A doutrina do Comitê 
Internacional da Cruz Vermelha defi niu distúrbios internos nos seguintes 
termos42:
Tratam-se de situações onde, sem que haja um confl ito armado 
internacional propriamente dito, existe, no plano interno, um 
confronto que apresenta um certo caráter de gravidade ou de 
duração e comporta atos de violência. Estes últimos podem se 
revestir de formas variadas, indo da geração espontânea de atos 
de revolta à luta entre grupos mais ou menos organizados e as 
autoridades no poder.
Sobre as tensões internas, o CICR traz os seguintes esclarecimentos:
Quanto às tensões internas, pode-se dizer que se trata notadamente 
de situações de tensão grave (política, religiosa, racial, social, 
econômica, etc.) ou ainda de seqüelas de um confl ito armado ou 
de distúrbios internos. Estas situações apresentam uma ou outra 
das características a seguir, quando não todas ao mesmo tempo:
• prisões massivas.
• um elevado número de presos políticos.
• a provável existência de maus tratos ou de condições desumanas nas 
prisões.
• a suspensão de garantias judiciárias fundamentais em razão da 
decretação de um estado de exceção ou de uma situação de fato.
• alegações de desaparecimentos.
Em resumo, há distúrbios internos quando, sem que haja confl ito 
armado, o Estado utiliza a força armada para manter a ordem; 
há tensões internas quando, sem que haja distúrbios internos, o 
emprego da força é uma medida preventiva para manter o respeito 
à lei e à ordem. 
42 Cf. o site da Cruz Vermelha (www.icrc.org), nos comentários aos Protocolos Adicionais de 1977 (tradução livre)
Unidade 1- Aspectos Gerais do Direito Internacional Humanitário
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Por fi m, cumpre referenciar os confl itos armados ditos internacionalizados, 
os quais nascem como confl itos armados não-internacionais, mas, devido a 
determinadas circunstâncias, transmutam-se em confl itos armado interna-
cionais, momento no qual haverá um inventário bem mais elaborado e 
complexo de normas restritivas e protetivas de DIH a serem aplicadas. Embora 
a doutrina não seja pacífi ca a este respeito, podem ser categorizadas duas 
espécies de confl itos armados internacionalizados:
1. Confl ito armado interno com secessão – Surgem da reivindicação 
de independência de uma parte do território de um Estado. Quando 
efetivada a secessão, nasce um novo Estado, com território, população 
e governo. Com a independência, o confl ito, antes interno, passa a ser 
internacional.
2. Confl ito armado interno com intervenção de um ou vários Estados 
estrangeiros – Um ou mais Estados estrangeiros intervêm em um 
confl ito interno enviando tropas que combatem ao lado de uma das 
partes beligerantes. A época da guerra fria testemunhou vários confl itos 
desta natureza.
Competência ratione personae
Pode-se considerar que o DIH tem quatro categorias de sujeitos:
1. O Estado – As convenções do ius in bello se endereçam aos Estados 
que

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