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Movimento Internacional dos Fatores de Produção Introdução Movimentação de bens e serviços é uma forma de integração internacional dos mercados. Uma outra forma de integração internacional é a movimentação internacional de fatores de produção. A movimentação de fatores é politicamente mais sensível que o movimento de bens e são maiores as restrições ao movimento internacional de fatores de produção. Movimentação de fatores inclui: – Migração de mão-de-obra – Transferência de capital via empréstimos e créditos internacionais – Ligações internacionais através de empresas multinacionais 2/46 Um Modelo de um Bem, sem Mobilidade dos Fatores • Hipóteses do modelo: – Existem dois países (Local e RDM). – Existem dois fatores de produção: terra (T ) e mão de obra (L). – Cada país produz um único produto. – Os dois países tem acesso à mesma tecnologia mas tem relações terra-mão de obra diferentes. – O país Local é o país mão de obra abundante e o RDM é o país terra abundante. – Há concorrência perfeita em todos os mercados. Mobilidade Internacional do Trabalho 3/46 Mão de obra, L Produto, Q Q (T, L) A função de Produção de uma Economia: Rendimentos Decrescentes Mobilidade Internacional do Trabalho 4/46 Aluguel Salários Salário real PMgL Trabalho, L Produto Marginal do trabalho, PMgL O Produto Marginal da Mão-de-obra Mobilidade Internacional do Trabalho 5/46 Mobilidade Internacional do Trabalho • Suponha que os trabalhadores possam mover-se entre os dois países. A produtividade marginal do trabalho é menor no país Local que no RDM, já que a função de produção é a mesma e o país Local tem muita mão de obra. – Os trabalhadores locais irão para o RDM até que o produto marginal do trabalho seja o mesmo nos dois países. – Este movimento reduzirá a força de trabalho no país local e portanto aumentará o salário real. – Este movimento aumentará a força de trabalho do RDM e reduzirá o salário real naquele país. Mobilidade Internacional do Trabalho 6/46 L2 Causas e Efeitos da Mobilidade Internacional do Trabalho PMgL PMgL PMgL* PMgL* Emprego Local O Emprego RDM O* A B C L1 Migração de mão de obra Do país Local para o RDM mão de obra total do mundo Produto Marginal do trabalho Mobilidade Internacional do Trabalho 7/46 A produção mundial aumenta: a produção do RDM aumenta de L1 para L2. O ganho de produção no RDM é maior que a perda de produção do país Local (área ABC no gráfico). Haverá uma mudança na distribuição de renda entre trabalhadores e proprietários da terra: no país Local o fator que ganha é o trabalho e o que perde é o do proprietário da terra. O oposto ocorre no RDM. Mobilidade Internacional do Trabalho 8/46 Convergência de Salários no Final do Século XIX e Início do Século XX A melhoria dos transportes e poucas restrições legais à migração levaram a realocação de milhões de pessoas a procura de um padrão de vida melhor. Entre 1870 e 1913 houve convergência de salários reais, como previsto no modelo teórico. No início do período, os salários eram maiores nos países de destino que nos de origem. Em 4 décadas, os salários aumentaram mais nos países de origem do que nos de destino. Depois da I Guerra, aumentaram as restrições legais e acabou o período de migração em massa, só retornando a partir dos anos sessenta. 9/46 Mudança nos Salários Reais Salário Real em 1870 Aumento Real do Salário Países de destino (EUA = 100) Real entre 1870-1913 (%) Argentina 53 51 Austrália 110 1 Canadá 86 121 Estados Unidos 100 47 Países de Origem Irlanda 43 84 Itália 23 112 Noruega 24 193 Suécia 24 250 Convergência de Salários no Final do Século XIX e Início do Século XX 10/46 A mobilidade internacional do trabalho não levou a equalização dos salários, pelas mesmas razões que foram apresentadas para o modelo Heckscher-Ohlin: 1. Os países produzem bens diferentes e a produtividade marginal do trabalho não é comparável entre países. 2. As tecnologias são diferentes entre países levando a diferenças de produtividade e de salários. Barreiras à emigração e imigração também são responsáveis por diferenças maiores de salários entre países. Mobilidade Internacional do Trabalho 11/46 Imigrantes como % da População dos USA 12/46 0 20 40 60 80 100 120 140 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 0 2 4 6 8 10 12 MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS milhões (barras) % da população total (linha) para países em desenvolvimento para países desenvolvidos 13/46 A redistribuição de força de trabalho mundial: • Leva a convergência (não igualdade) no salário real • Aumenta a produção mundial • Piora a situação de alguns grupos: assalariados ganham no país Local e perdem no RDM; os proprietários de terra no RDM se beneficiam da queda de salários e perdem no país local. • Exemplo das grandes imigrações do século XIX e XX vai nesta direção. Ampliando a Análise • Modificando o modelo para incorporar algumas complicações: – Suponha que os países produzam dois bens, um mão de obra intensivo e outro terra intensivo. – O comércio é um substituto a mobilidade dos fatores: o país Local pode exportar trabalho e importar terra, exportando o produto mão de obra intensivo e importando o produto terra intensivo. – Mobilidade de fatores é um substituto a mobilidade de bens. Mobilidade Internacional do Trabalho 14/46 Movimento Internacional de Capital • Refere-se a empréstimos e créditos entre países e não movimentação física de bens de capital. –Exemplo: um banco de um país faz um empréstimo para uma empresa de um outro país. É uma movimentação financeira. • Pode ser interpretado como comércio intertemporal –Refere-se ao comércio entre bens no presente por bens no futuro Empréstimos e Créditos Internacionais 15/46 Possibilidades de Produção Intertemporal e Comércio Internacional • Imagine uma economia que consome um único bem e tem dois períodos de vida, o presente e o futuro. • Curva de Possibilidades de Produção Intertemporal – Representa o conflito entre a produção presente e futura do bem de consumo: para consumir mais no futuro é necessário investir no presente (consumir menos no presente). – Seu formato diferirá entre países: – Alguns países terão viés para produção presente (País Local). – Outros países terão viés para produção futura (RDM). Empréstimos e Créditos Internacionais 16/46 A Curva de Possibilidades de Produção Intertemporal Consumo presente Consumo futuro Empréstimos e Créditos Internacionais 17/46 Alguns países tem vantagens comparativas em usar sua renda em consumo presente. Outros países terão vantagens comparativas em poupar a renda presente para consumo futuro. Uma vantagem comparativa em consumo presente: • Significa um menor custo de oportunidade no dispêndio da renda corrente. • A CPP intertemporal terá um viés para consumo presente. Empréstimos e Créditos Internacionais 18/46 A Taxa de Juros Real • Comércio intertemporal: – Um país pode comercializar no decorrer do tempo (trocando consumo presente por consumo futuro) emprestando ou recebendo empréstimos. – Quando um país recebe um empréstimo, ele adquire o direito de comprar consumo presente, mas terá que pagar uma quantia maior no futuro. – O pagamento futuro será ( 1 + r ) vezes a quantidade emprestada no presente, onde r é a taxa de juros real. – Uma unidade de consumo presente é trocada por (1 + r) unidades no futuro: o preço relativo do consumo futuro é: 1 / (1 + r ) Empréstimos e Créditos Internacionais 19/46 Preço Relativo do Consumo Futuro Medido em termos de consumo presente (QP), o valor da produção (V) da economia é: V = QP + QF / (1 + r); segue-se que: dV = dQP + dQF / (1 + r); como dV = 0 -dQP = dQF / (1 + r); fazendo dQF = 1 - dQP = 1 / (1 + r); Este é o sacrifício de consumo presente para obter uma unidade de consumo futuro (QF). É o preço relativo do consumo futuro. Uma unidade de QP pode ser trocada por (1 + r) unidades de QF. 20/46 Declividade da Reta de Isovalor V = QP + QF / (1 + r); diferenciando a relação: 0 = dQP + dQF / (1 + r); rearranjando termos: dQF = - (1+r). dQP , ou dQF/dQP = - (1+r). 21/46 Vantagens Comparativas Intertemporais • Assuma que a curva de possibilidades de produção intertemporal do país Local seja viesada para a produção presente e a do RDM para produção futura. – Um país que tem vantagem comparativa na produção futura de bens de consumo, na ausência de empréstimos internacionais teria um preço relativo baixo do consumo futuro, isto é, uma taxa de juros real alta. (RDM) – Taxas de juro altas correspondem a um retorno maior sobre o investimento. Empréstimos e Créditos Internacionais 22/46 Na ausência de empréstimos internacionais, o preço relativo do consumo presente é menor na economia local. Se forem permitidos empréstimos internacionais, o país local “exportará” consumo presente (concederá empréstimos). • O país local tem um preço relativo maior de consumo futuro 1/(1+r ) • O país Local tem inicialmente uma taxa de juros menor r. • Uma taxa de juros menor r implica uma taxa menor de retorno ao consumo e investimento: o país local deve conceder empréstimos no mercado internacional. Empréstimos e Créditos Internacionais 23/46 Consumo presente Consumo futuro QP QF Fronteira de possibilidades de produção intertemporal Linhas de isovalor, declividade – ( 1 + r ) Investimento Comércio Intertemporal Determinação do Padrão de Produção Intertemporal – País Local Q 24/46 Restrição Orçamentária Intertemporal Fixada uma taxa de juros mundial, pode-se determinar o padrão do consumo do país Local. Sejam DP e DF as demandas por bens de consumo no presente e no futuro. Como a produção está no ponto Q, as possibilidades de consumo da economia em dois períodos estão limitadas pela restrição orçamentária intertemporal: DP + DF / (1 + r) = QP + QF / (1 + r) 25/46 QP QF curvas de indiferença Exportação D Restrição Orçamentária Intertemporal, DP + DF /(1 + r ) = QP +QF /(1 + r ) Impor- tação Consumo Presente Consumo Futuro DP DF Q Determinação do Padrão do Consumo Intertemporal – País Local Comércio Intertemporal 26/46 D*P D*F Importação Q* Q*P Q*F Restrição Orçamentária Intertemporal, D*P + D * F /(1 + r) = Q * P +Q * F / (1 + r) Exportação Consumo presente Consumo futuro D* Determinação do Padrão de Produção e Consumo do RDM Comércio Intertemporal 27/46 P F (QP – DP) = (D * P – Q * P) (Q*F – D * F) = (DF – QF) Equilíbrio Internacional Intertemporal em Termos de Curvas de Oferta E Exportação de consumo presente, país Local (QP – DP) e importação de consumo presente do RDM (D * P – Q*P) Exportação de Consumo Futuro, RDM (Q*F – D * F) e importação de consumo futuro, país Local (DF – QF) O decl. = (1 + r1) Comércio Intertemporal 28/46 Vantagem Comparativa Intertemporal Uma taxa de juros alta corresponde a um retorno elevado para o investimento, ou seja é vantajoso desviar a produção de bens de consumo para bens de capital. Países que tomam empréstimos internacionais são os que tem melhores oportunidades de investimento e os países que emprestam são os que não tem tantas oportunidades domésticas. Exemplo: paises exportadores de petróleo nos anos 70. O aumento de renda foi emprestado ao exterior porque não havia oportunidades de investimento doméstico. Fenômeno semelhante ocorre nos dias de hoje: países produtores de petróleo e asiáticos emprestam consumo presente para os USA. 29/46 Investimento Direto Estrangeiro e Empresas Multinacionais Investimento Direto Estrangeiro (IDE) • Referem-se a fluxos internacionais de capital pelos quais uma empresa de um país cria ou expande uma filial em outro país. • A classificação UNCTAD considera uma empresa multinacional, aquela que tem pelo menos 10% do capital de uma filial em outro país. Acredita-se que 10% do capital já seja o suficiente para o controle das operações da filial. • Envolve não somente a transferência de recursos mas também a aquisição do controle da companhia. – A filial não tem apenas a obrigação financeira com a matriz; ela é parte da mesma organização. 30/46 Empresas Multinacionais • São um veículo dos empréstimos internacionais: a matriz fornece financiamentos às suas filiais estrangeiras O IDE é escolhido como forma de transferir recursos entre países porque: • Permite a formação de uma organização multinacional (ampliação do controle – poder de mercado e aumento do lucro) A ampliação do controle é parte da estratégia da empresa multinacional. Investimento Direto Estrangeiro e Empresas Multinacionais 31/46 A Teoria da Empresa Multinacional • Dois elementos explicam a existência da empresa multinacional: – Motivo Localização (basicamente custos) – Um bem é produzido em vários países devido a: » Recursos naturais e disponibilidade de mão de obra » Custo de transporte » Barreiras ao comércio: tarifas, quotas e restrições não tarifárias – Motivo Internalização de atividades em uma única empresa (estratégia: não perder controle sobre conhecimento) – Um bem é produzido em diferentes países pela mesma empresa e não por empresas separadas por que é mais lucrativo executar estas transações dentro da empresa do que via mercado (tecnologia e administração). » Transferência de Tecnologia (incorporada no conhecimento da empresa e não disponível no mercado – segredos de negocio) » Integração Vertical (evita conflitos entre empresas: com fornecedores e imprecisão nos contratos). Investimento Direto Estrangeiro e Empresas Multinacionais 32/46 IDE Greenfield : ocorre quando a multinacional constrói uma filial no exterior. IDE brownfield (fusões e aquisições): uma multinacional adquire o controle sobre uma empresa existente em outro país. O primeiro tende a ser mais estável ao longo do tempo; o segundo por ciclos. Metade do IDE em 2011 teve como destino os países em desenvolvimento. Investimento Direto Estrangeiro e Empresas Multinacionais 33/46 Existem dois tipos de IDE: • Horizontal: quando a filial replica a mesma atividade produtiva da matriz; é mais comum nos países desenvolvidos, para estar mais perto do mercado. Custo de transporte e de comercialização são importantes. • Vertical: quando o processo produtivo é quebrado e partes do produto final passa a ser produzido na filial. Depende de diferença de custos entre países e tem crescimento acelerado nos países em desenvolvimento. Investimento Direto Estrangeiro e Empresas Multinacionais 34/46 Investimento Direto Estrangeiro e Empresas Multinacionais O IDE horizontal envolve a escolha entre o custo unitário de exportação t e o custo fixo F de construir uma filial. Se t * (Q ) > F, o custo de exportação de Q unidades é maior do que o custo fixo F de estabelecer uma filial. • Quando as vendas no outro país são grandes Q > F/t, e o IED é a estratégia que maximiza lucros. • Mercados maiores levam ao IED. O IDE vertical também envolve o custo unitário de exportação t e o custo fixo F de construir uma filial: a redução de custos estará associada as VC de desenvolver estágios da produção em outro país. 35/46 Empresas Multinacionais • Empresas multinacionais tem um papel importante no comércio e investimento mundial. Estima-se em 1/3 à 50% do comércio dos países desenvolvidos é feito através de empresas “relacionadas”. – Exemplo:1. Em 2005, 45% das importações brasileiras foram feitas por multinacionais,sendo que parte importante foram transações dentro da mesma empresa. O estoque de IDE no Brasil era de US$ 260 bilhões, em 2008. – Exemplo 2. Metade do faturamento das empresas no Brasil é de empresas multinacionais. • As empresas multinacionais podem ser domésticas ou de propriedade estrangeira. – As multinacionais de propriedade estrangeira têm uma função importante na maioria dos países. Investimento Direto Estrangeiro e Empresas Multinacionais 36/46 Investimento Direto Estrangeiro e Empresas Multinacionais no Brasil 37/46 Investimento Direto Estrangeiro: Participação na FBKF do Brasil 38/46 IDE no Brasil: % do estoque total 39/46 Brasil - Participação das Empresas Estrangeiras nas Vendas Totais Em % Setores 1993 1997 2000 Alimentos 31,94 56,66 57,70 Comércio Varejista 14,21 21,30 37,78 Confecções e Têxteis 2,83 15,05 23,25 Distribuição de Petróleo 65,97 73,96 69,66 Eletroeletrônico 32,48 48,02 77,36 Farmacêutico 77,62 84,06 85,43 Fumo 100,00 100,00 100,00 Higiene e Limpeza 94,07 88,48 86,12 Material de Transporte 87,67 92,93 88,64 Mecânica 61,77 41,03 75,33 Mineração 20,66 14,27 7,77 Química e Petroquímica 42,81 49,74 53,31 Siderurgia 18,24 23,71 32,71 Tecnologia e Computação 92,09 91,39 90,96 Telecomunicações n.d. n.d. 63,05 Total 42,94 47,08 53,58 Fonte; IPEA - Texto para Discussão 969 (2003) 40/46 Investimento Direto Estrangeiro e Empresas Multinacionais 41/46 Investimento Direto Estrangeiro e Empresas Multinacionais 42/46 Investimento Direto Estrangeiro e Empresas Multinacionais 43/46 Resumo A mobilidade internacional dos fatores pode ser, sob certas condições, um substituto ao comércio. Empréstimos internacionais podem ser vistos como um tipo de comércio entre consumo presente e futuro, em vez da troca de um bem por outro. Empresas multinacionais existem, fundamentalmente, para ampliar o controle sobre atividades desenvolvidas em vários países. 44/46 Dois elementos explicam a existência de empresas multinacionais: • Motivo localização. • Motivo internalização. Resumo 45/46 Segunda Lista de Exercícios: entrega em data a ser definida 46/46
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