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GESTÃO DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO GESTÃO DE MATERIAL E PATRIMÔNIO GESTÃO DE PESSOAS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA GESTÃO ORÇAMENTÁRIA E FINANCEIRA GESTÃO DE QUALIDADE EM SERVIÇOS CHQAO Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais Coordenação Didático-Pedagógica Stella M. Peixoto de Azevedo Pedrosa Redação Pedagógica Alessandra Muylaert Archer Frieda Marti Tito Ricardo de Almeida Tortori Revisão Alessandra Muylaert Archer Projeto Gráfico Romulo Freitas Diagramação Luiza Serpa Coordenação de Conteudistas Fernando Velôzo Gomes Pedrosa Conteudistas Alexandre Duarte de Paiva Edson Carmelo de Souza Geraldo Mendes Gutian Weslei Jardim Batista Revisão Técnica Marcelo Cabus Klötzle Produção Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Realização EsIE – Escola de Instrução Especializada Exército Brasileiro Administração pública brasileira : Unidade 1 - Parte A: Generalidades da administração pública brasileira / coordenação didático- pedagógica: Stella M. Peixoto de Azevedo Pedrosa ; redação pedagógica: Alessandra Muylaert Archer, Frieda Marti, Tito Ricardo de Almeida Tortori ; conteudistas: Geraldo Mendes Gutian ... [et al.] ; coordenação de conteudistas: Fernando Velôzo Gomes Pedrosa ; revisão técnica: Marcelo Cabus Klötzle ; produção: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro ; realização: EsIE – Escola de Instrução Especializada [do] Exército Brasileiro. – Rio de Janeiro : PUC-Rio, CCEAD, 2013. Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais – CHQAO. 34 p. : il. (color.) ; 21 cm. Inclui bibliografia. 1. Administração pública - Brasil. I. Pedrosa, Stella M. Peixoto de Azevedo. II. Archer, Alessandra Muylaert. III. Marti, Frieda. IV. Tortori, Tito Ricardo de Almeida. V. Gutian, Geraldo Mendes. VII. Pedrosa, Fernando Velôzo Gomes. VII. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Coordenação Central Educação a Distância. VIII. Brasil. Exército. Escola de Instrução Especializada. CDD: 351.81 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA Unidade 2 – Parte a GENERALIDADES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA CHQAO Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais APRESENTAÇÃO Tarsila do Amaral - Operários O Curso de Habilitação ao Quadro de Auxiliar de Oficiais (CHQAO), conduzido pela Escola de Instrução Especializada (EsIE), visa habilitar os subtenentes à ocupação de cargos e ao desempenho de funções previstas para o Quadro Auxiliar de Oficiais. A disciplina Administração Pública Brasileira, iniciada nesta apostila, possui carga horária total de 90 horas. Os objetivos gerais dessa disciplina são: I. Conhecer a história da administração pública; II. Analisar os fatores culturais da administração pública dentro de sua cronologia; III. Analisar as mudanças sociais relacionadas à administração pública; IV. Identificar sob uma ótica de Segurança Pública as políticas públicas integradas; V. Analisar as atividades administrativas dentro da estrutura da admi- nistração pública; VI. Conhecer as ferramentas que a administração pública possui para realizar e controlar suas tarefas. Nesta terceira apostila será apresentada a Unidade II – Parte A – Genera- lidades da administração pública brasileira, cujos objetivos estarão especificados por capítulo. Boa leitura! Geraldo Mendes Gutian é bacharel em Ciências Militares pela Academia Militar das Agu- lhas Negras (AMAN); possui graduação em Engenharia Química pelo Instituto Militar de En- genharia (IME); é pós-graduado em Engenharia da Qualidade pela Faculdade de Engenharia Química da Universidade de São Paulo (FAENQUIL/USP) e mestre pela Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI-MG) com ênfase em Implementação de Sistemas de Gestão. É professor da Cadeira de Administração da AMAN. Nas Faculdades Dom Bosco ministra a disciplina de Administração Estratégica no Curso de Administração; as disciplinas de Gestão de Pessoas e Planejamento Estratégico e Desenvolvimento Regional no Curso de Gestão Pública; a disci- plina de Gestão Integrada de Recursos Humanos no Curso de Gestão de Recursos Humanos e a disciplina de Química Tecnológica no Curso de Engenharia de Produção Automotiva. Tem experiência na área de gerência de Recursos Humanos, planejamento estratégico, ma- peamento, análise e melhoria de processos. Edson Carmelo de Souza é bacharel em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) e licenciado em Geografia pelo Centro Universitário Moacyr Sreder Bastos. Possui pós-graduação em bases geo-históricas para o pensamento estratégico pela Escola de Comando e Estado Maior do Exército (ECEME) e mestrado em operações militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (ESAO). É professor da Cadeira de Administração da AMAN. Tem experiência na área de planejamento estratégico e no mapeamento, análise e melhoria de processos. Alexandre Duarte de Paiva é graduado em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) e graduando em Administração na Associação Educacional Dom Bosco (AEDB). Possui pós-graduação em Operações Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO) e cursa pós-graduação em Gestão pela Escola de Instrução Especializada (EsIE) e Universidade Católica de Petrópolis (UCP). É professor da Cadeira de Administração da AMAN. Tem experiência na área de gerência de recursos humanos e planejamento estratégico. Weslei Jardim Batista possui graduação em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN); é pós-graduado em Operações Militares de Defesa Antiaérea e de Defesa do Litoral pela Escola de Artilharia de Costa e Antiaérea (EsACosAAe) e em Opera- ções Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO). Cursa pós-graduação em Gestão pela Escola de Instrução Especializada e Universidade Católica de Petrópolis (EsIE/ UCP). É professor da Cadeira de Administração da AMAN. Tem experiência e cursos na área de administração pública, gerência de projetos, gestão estratégica de pessoas e planos de carreira, recursos humanos, gestão ambiental e desenvolvimento sustentável, planejamen- to estratégico, análise e melhoria de processos, modelo de Excelência em Gestão, ética no serviço público, gestão da qualidade e excelência no atendimento. CONTEuDISTAS ÍNDICE 09 09 12 16 16 18 21 22 22 25 26 28 31 1. ATIVIDADES, ESTRUTURAçãO E SERVIçOS DA ADMINISTRAçãO PúBLICA 1.1 ESTRUTURA DA ADMINISTRAçãO PúBLICA 1.2 POLíTICAS PúBLICAS INTEGRADAS 1.3 SERVIçOS E ATIVIDADES ADMINISTRATIVAS 1.3.1 A ATIVIDADE ADMINISTRATIVA 1.3.2 O SERVIçO PúBLICO 2. FORMAS DE CONTROLE NA ADMINISTRAçãO PúBLICA 2.1 CLASSIFICAçãO DAS FORMAS DE CONTROLE DA ADMINISTRAçãO PúBLICA 2.1.1 CONTROLE DA ADMINISTRAçãO PúBLICA DE ACORDO COM A ORIGEM 2.1.2 CONTROLE DA ADMINISTRAçãO PúBLICA DE ACORDO COM O MOMENTO DO ExERCíCIO 2.1.3 CONTROLE DA ADMINISTRAçãO PúBLICA DE ACORDO COM O ASPECTO CONTROLADO 2.1.4 CONTROLE DA ADMINISTRAçãO PúBLICA DE ACORDO COM A AMPLITUDE 3. BIBLIOGRAFIA 9 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA - U2 A Objetivos específicos • Identificar a estrutura da administração pública. • Identificar as políticas públicas integradas. • Analisar as atividades administrativas. • Distinguir os serviços públicos. ATIvIDADES, ESTRuTuRAÇÃO E SERvIÇOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA1 Segundo PALUDO (2012, p.20): O termo Administração é utilizado tanto para designar funções de planejamento e direção, como para designar ações de execução. Para ele, o administrador é o pro- fissional (agente público) que atua nas organizações e exerce as funções de planejar, organizar, dirigir, coordenar e controlar. Nesta apostila serão abordados os aspectos relevantes relacionados à estrutu- ra/organização e os serviços prestados pela administração pública no Brasil. 1.1 ESTRuTuRA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A administração, de acordo com PALUDO (2012, p.20)compreende todo o aparato existente (estrutura e recursos; órgãos e agentes; serviços e atividades) à disposição dos governos para a realização de seus objetivos políticos e do objetivo maior e primordial do Estado: a promoção do bem comum da coleti- vidade. Hely Lopes Meirelles (1990, p.55) define a administração pública como o conjunto de órgãos instituídos para a consecução dos objetivos do governo. A Constituição Federal de 1988 adotou o [Federalismo] em que é possível identificar vários níveis de poder político, todos dotados de autonomia política e administrativa: a União, os Estados-membros, o Distrito Federal e os municí- Federalismo: é um sis- tema político que tem como característica a descentrali- zação política marcada pela coexistência de esferas políti- cas distintas e autônomas no mesmo território. Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 10 pios. Cada um desses entes da federação possui uma estrutura e administração próprias, realizando suas atividades administrativas de forma independente em relação às demais. Como abordado na parte A desta primeira Unidade, no capítulo 2, a administração pública é o conjunto de agentes públicos, órgãos e pessoas jurídicas destinado à execução das atividades administrativas. É subordinada ao poder político e pode ser considerada algo que o governo utiliza para atingir fins definidos. A administração pública é o instrumento que o Estado tem para colocar em prática as decisões do governo. O governo precisa dela para fazer funcionar a máquina ou o aparelho do Estado, executando tudo aquilo que deve ser feito. A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 pormenorizou, em seu capítulo VII (art. 37 a 41), regras gerais e diversos preceitos relativos à administração pública, que tratam dos seguintes tópicos: • Diretrizes de atuação de agentes administrativos; • Cargos e empregos públicos (incluindo as formas de acesso e de acumulação); • Regime de previdência; • Licitações (obrigatoriedade); • Responsabilidade civil do Estado, etc. De acordo com a Constituição Federal de 1988: Art 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência [...]. Como é possível observar no texto da Constituição, a expressão administração pública é empregada no Art.37 em dois sentidos. Num primeiro momento, ao falar em administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. No segundo, ao se re- ferir à atividade administrativa, quando determina sua submissão aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, da licitação e da organização do pessoal administrativo. “a administração pública em sentido amplo compre- ende: o governo (que toma as decisões políticas), a es- trutura administrativa, e a administração (que executa essas decisões). em sentido estrito, compreende apenas as funções administrativas de execução dos programas de governo e demais atividades. É o ramo da administração aplicada nas administrações direta e indireta das três es- feras (ou níveis) de Governo: Federal, estadual e Munici- pal” (PaLUdO, 2012, p.20). ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA - U2 A 11 A estrutura da administração pública federal é complexa, porque a fun- ção administrativa é institucionalmente imputada a diversas entidades gover- namentais autônomas, expressas no Art. 37 da CF/88, de onde decorre a exis- tência da administração pública federal (União), de cada Estado (administração estadual), a do Distrito Federal e a de cada município (administração municipal ou local), cada qual submetida a um Poder político próprio possuidor de uma organização governamental autônoma. A administração pública, em sentido formal, é o conjunto de órgãos institu- ídos para a consecução dos objetivos do governo. O Decreto-Lei 200/1967 estabelece, em seu art. 4°, a organização da administração pública federal da seguinte forma: Art. 4° - Administração federal compreende: a. A administração direta, que se constitui dos serviços integrados na estrutura administrativa da Presidência da República e dos Ministérios. b. A administração indireta, que compreende as seguin- tes categorias de entidades, dotadas de personalidade jurídica própria: • Autarquias; • Empresas públicas; • Sociedades de economia mista; • Fundações públicas. Parágrafo único. As entidades compreendidas na adminis- tração Indireta vinculam-se ao Ministério em cuja área de competência estiver enquadrada sua principal atividade. Conforme abordado na Unidade 1, capítulo 2, Administração Direta, de acordo com Marcelo Alexandrino & Vicente Paulo (2009) é o conjunto de órgãos que integram as pessoas políticas do Estado (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), aos quais foi atribuída a competência para o exercício, de forma centralizada, de atividades administrativas. De acordo com o Art.4°, inciso I, do Decreto-Lei n° 200, de 25 de fevereiro de 1967, a administração direta federal se constitui dos serviços integrados na estrutura administrativa da Presidência da República e dos Ministérios. Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 12 A direção da administração federal é exercida pelo Presidente da República com auxílio de seus Ministros, de seu assessoramento especial (Assessoria Es- pecial e Advocacia Geral da União) e dos órgãos consultivos, como o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional. Quando nos referimos à administração direta em relação aos demais entes da federação, estamos tratando do conjunto de órgãos que fazem parte da estrutura da chefia do Poder Execu- tivo como, por exemplo, o gabinete do governador e do prefei- to municipal e da estrutura de seus órgãos auxiliares, como as secretarias de Estado e as secretarias municipais. Administração indireta é o conjunto de pessoas jurídicas (desprovidas de autonomia política) que, vinculadas à administração direta, têm a competência para o exercício, de forma descentralizada, de atividades administrativas. 1.2 POLÍTICAS PÚBLICAS INTEGRADAS Em se tratando de políticas públicas: As últimas décadas registraram o ressurgimento da importância do campo de conhecimento denominado políticas públicas, assim como das instituições, regras e modelos que regem sua decisão, elaboração, imple- mentação e avaliação. Vários fatores contribuíram para a maior visibilidade desta área. O primeiro foi a adoção de políticas restritivas de gasto, que passaram a domi- nar a agenda da maioria dos países, em especial os em desenvolvimento. A partir dessas políticas, o desenho e a execução de políticas públicas, tanto as econômicas como as sociais, ganharam maior visibilidade. O segundo fator é que novas visões sobre o papel dos governos substituí- ram as [políticas keynesianas] do pós-guerra por políticas restritivas de gasto (SOUZA, 2006, p. 20). de acordo com o decreto-Lei n° 200, de 25 de fevereiro de 1967, a administração indi- reta compreende as seguintes entidades: autarquias, em- presas públicas, sociedades de economia mista e funda- ções públicas. Política Keynesiana: as políticas de John Maynard Keynes exerceram uma enor- me influência no processo de renovação das teorias clássi- cas, bem como na reformula- ção da política de livre mer- cado. de acordo com elas, acreditava-se que a economia seguiria o caminho do pleno emprego, sendo o desempre- go uma situação temporária que desapareceria graças às forças do mercado. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA - U2 A 13 O assunto relativo a políticas públicas é muito complexo, uma vez que é divi- dido em diversas fases e há o envolvimento de atores de diversos setores da sociedade. Muitos países têm investido no desenvolvimentode novas técnicas e ferramentas que possibilitem tornar este processo mais rápido, aumentando sua eficácia e abrangência. O governo tem papel fundamental na implantação, gestão e avaliação de políticas públicas. No entanto, não é o único responsável pelo desenvolvimento e implantação dessas po- líticas, que envolvem diversos participantes como, por exem- plo, associações, Organizações Não-Governamentais (ONGs), empresas, instituições públicas e privadas, entre outros. De acordo com Silva e Bassi: No Brasil, os estudos estratégicos começaram a ser utilizados como ferramenta no planejamento estratégico a partir da década de 1970. Porém, somente a partir da década de 1990 é que esta metodologia passou a ser uti- lizada por alguns Ministérios como subsídio no processo de formulação de políticas públicas (2011, p.316). Podemos afirmar que, para promover o bem-estar da sociedade, é necessário que sejam desenvolvidas inúmeras ações abrangendo diversas áreas, como educação, saúde, meio ambiente, etc. Para atingir esses objetivos, o governo deve utilizar as políticas públicas. De acordo com Lopes, Amaral e Caldas (2008, p.5), políticas públicas podem ser definidas da seguinte forma: “Políticas públicas são um conjunto de ações e deci- sões do governo, voltadas para a solução (ou não) de problemas da sociedade”. As políticas públicas podem ser representadas como planos que visem re- sultados que atendam ao interesse da sociedade e correspondem a direitos assegurados pela Constituição Federal. Podem ser implantadas por iniciativa dos Poderes Executivo, ou Legislativo, a partir das demandas e propostas da sociedade. Elas ainda são responsáveis pelo estabelecimento de metas e por elencar soluções para os problemas sociais nas diversas áreas (saúde, educa- ção, segurança, meio ambiente, habitação, dentre outras). Portanto: Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 14 [...] as Políticas Públicas são a totalidade de ações, metas e planos que os governos (nacionais, estaduais ou muni- cipais) traçam para alcançar o bem-estar da sociedade e o interesse público (LOPES, AMARAL e CALDAS, 2008, p.5). Nesse sentido, as políticas públicas são ações sob a responsa- bilidade dos governantes (tomadores de decisão), de acordo com uma ordem de prioridade estabelecida por eles, que de- vem atender às demandas ou expectativas da sociedade. Lopes, Amaral e Caldas afirmam que: ...as demandas da sociedade são apresentadas aos diri- gentes públicos por meio de grupos organizados, no que se denomina de Sociedade Civil Organizada (SCO), a qual inclui, conforme apontado acima, sindicatos, entidades de representação empresarial, associação de moradores, associações patronais e ONGs em geral (LOPES, AMARAL e CALDAS, 2008, p.6). A sociedade tem a possibilidade de participar nas políticas públicas por meio dos Conselhos nos níveis nacional, estadual e municipal, através da realização de conferências, audiências e encontros que envolvam os diversos segmentos da sociedade. Conforme LOPES, AMARAL & CALDAS (2008, p. 7): Compreendidas as diversas demandas e expectativas da sociedade, ele [o governo] fará a seleção de prioridades para, em seguida, oferecer as respostas. As respostas nunca atenderão às expectativas de todos os grupos. Alguns grupos serão contemplados, outros não. Políticas públicas podem ser resumidas como: (...) o campo do conhecimento que busca, ao mesmo tempo, “colocar o governo em ação” e/ou analisar essa ação (variável independente) e, quando necessá- rio, propor mudanças no rumo ou curso dessas ações (variável dependente). A formulação de políticas públicas constitui-se no estágio em que os governos democráticos traduzem seus propósitos e plataformas eleitorais em programas e ações que produzirão resultados ou mudan- ças no mundo real (SOUZA, 2006, p.26). ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA - U2 A 15 De fato, as políticas públicas não conseguirão atender às expectativas de todos os segmentos da sociedade. No entanto, podemos citar como exemplos de ferramentas úteis no desenvolvimento de políticas públicas, no caso de um município, o Plano Diretor e a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Segundo Kanegae, o Plano Diretor: ...é uma lei municipal de caráter obrigatório para mu- nicípios com mais de 20 mil habitantes ou de regiões metropolitanas, de caráter turístico ou que estejam em área de influência de empresas ou atividades que causem impacto ambiental e estabelece diretrizes de ocupação da cidade. É este plano que define o que pode ser feito na cidade, dando assim orientações ao próprio poder público (KANEGAE, 2012, p.15). Sobre a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), a autora afirma que é “guiada pelo Plano Plurianual e destina recursos para ações do governo provenientes das políticas públicas” (KANEGAE, 2012, p.15). O Art. 165 da Constituição da República Federativa do Brasil define que as leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: o plano Plurianual, as diretrizes orçamentárias e os orçamentos anuais. Em se tratando de Plano Plurianual, o Art. 165 da Constituição Federal, no seu parágrafo 4°, define que ”os planos e programas nacionais, regionais e seto- riais serão elaborados em consonância com o plano plurianual e apreciados pelo Congresso Nacional”. Portanto, as políticas possuem uma forte ligação com o Estado, uma vez que é através delas que são determinados como os recursos públicos serão utilizados (visando o benefício dos cidadãos), de como os recursos recolhidos (através dos impostos) deverão ser acumulados e investidos, bem como de que manei- ra as contas públicas serão prestadas ao fim desse processo. Para Souza (2006, p.36), das diversas definições e modelos sobre políticas públicas, podemos extrair e sintetizar seus elementos principais: • “A política pública permite distinguir entre o que o governo pretende fazer e o que, de fato, faz”. • “Envolve vários atores e níveis de decisão, embora seja materializada através dos governos, e não necessariamente se restringe a participantes formais, já que os informais são também importantes”. Plano Plurianual é um ins- trumento legal de planeja- mento que apresenta proje- tos e programas de grande alcance para um período de quatro anos, estabelecendo prioridades e direcionando ações do governo. norteia a elaboração de outros planos no âmbito federal, buscando impedir danos às diretrizes já estabelecidas. Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 16 • “É abrangente e não se limita a leis e regras. Pode ser considerada como uma ação intencional, com objetivos a serem alcançados e embora tenha impactos no curto prazo, é uma política de longo prazo”. 1.3 SERvIÇOS E ATIvIDADES ADMINISTRATIvAS A organização da administração pública brasileira é regulada por dispositivos legais que buscam atender os anseios de toda a sociedade. Para Paludo (2012, p.26), organizar a administração pública significa: Organizar todo o seu aparato: estrutura e recursos; órgãos e agentes; serviços e atividades; e competências. A estrutura organizacional corresponde ao modo pelo qual a autoridade é distribuída, as atividades são divididas e organizadas, e o sistema de comunicação é estabelecido. Os serviços e atividades são, portanto, parte do aparato da grande estrutura da administração pública. 1.3.1 A atividade administrativa A atividade administrativa é a ação do Estado relacionada à gestão dos serviços que ele tem a incumbência de executar. Quando um militar realiza a conferência da carga de seu pelotão, de sua re- serva de materiais, ou o fiscal administrativo realiza uma inspeção de controle de materiais no almoxarifado da organização militar está sendo realizada uma atividade administrativa. De acordo com o Artigo 6° do Decreto-lei 200, de 25 de fevereiro de 1967, as atividades da administração federal obedecerão aos seguintesprincípios fundamentais: I. Planejamento. II. Coordenação. III. Descentralização. IV. Delegação de Competência. V. Controle. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA - U2 A 17 Estes princípios fundamentais são explicados nos Artigos 7º, 8º, 10º, 11º, 12º e 13º do Decreto-lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967, ilustrados na Figura 1 e resumidos a seguir: I. O planejamento governamental deve ter como objetivo a promoção do desenvolvimento econômico-social do país e a segurança nacional. Compreende a elaboração e atualização do plano geral de governo; de programas gerais, setoriais e regionais, de duração plurianual; do orça- mento-programa anual e da programação financeira de desembolso. a. A coordenação das atividades da administração federal será permanente. II. A execução das atividades da administração federal será descentra- lizada em três planos: dentro dos quadros da administração federal, distinguindo-se claramente o nível de direção do de execução; da admi- nistração federal para a das unidades federadas, quando estejam devida- mente aparelhadas e mediante convênio; da administração federal para a órbita privada, mediante contratos ou concessões. III. A delegação de competência é um instrumento para descentralizar a administração pública. IV. O controle das atividades da administração pública deve ser exercido em todos os níveis e órgãos. Atividades da administração Planejamento Descentralização Delegação de Competência Controle Coordenação Figura 1 – Princípios da atividade administrativa Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 18 1.3.2 O serviço público O Artigo 175 da Constituição Federal estabelece que a prestação do serviço público é de titularidade do Poder Público. Entretanto, existe a possibilidade de delegação da execução desses serviços. Quando a delegação é para pessoas jurídicas integrantes da própria adminis- tração, a descentralização enseja delegação legal e quando a execução dos serviços é transferida para iniciativa privada se constitui a delegação negocial (CARVALHO, 2007). Para Alexandrino (2009, p.608), “a delegação de um serviço público nunca trans- fere sua titularidade, ou seja, o particular não presta serviço público por direito próprio, como titular do serviço, mas sim pela qualidade de mero delegatário”. O Estado nunca deixa de ser o responsável pelo serviço prestado, mesmo quando empresta a uma organização privada o direito de explorar o uso de determinado serviço considerado público. A prestação direta do serviço público é aquela realizada pela administração pública (direta ou indireta) e a prestação indireta é a realizada por particulares, mediante delegação do poder público (ALExANDRINO, 2009). Mas o que são os serviços públicos? Alexandrino (2009, p. 613) ensina que: [...] a expressão “serviço público” é empregada como sinônimo de “função pública” ou “atividade pública”. Abrange, assim, o conjunto de atividades que são exer- cidas sob regime jurídico de direito público: a ativida- de jurisdicional, a atividade legislativa, a atividade de governo (atividade política) e as atividades consideradas de administração pública em sentido material, inclusive a prestação de serviços públicos em sentido estrito realiza- da por intermédio de delegatários. Para Carvalho Filho (2007, p.287) o serviço público é uma expressão que pos- sui dois sentidos fundamentais: objetivo e subjetivo. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA - U2 A 19 No sentido objetivo, serviço público é a atividade prestada pelo Estado e seus agentes. Já o sentido subjetivo trata dos órgãos do Estado responsáveis pelas atividades voltadas à coletividade. As características do serviço público estão relacionadas com quem presta o ser- viço, o fim a que se destina e o regime jurídico que é executado. Esses serviços são um dos objetivos do Estado. De acordo com Carvalho Filho (2007) são características do serviço público: • Sujeito estatal – Visando o interesse público, os serviços públicos são objetivos do Estado. • Interesse coletivo – Como gestor dos interesses coletivos, o Estado deve ter o objetivo de propiciar todo tipo de comodidades para serem usufruídas pelo cidadão. Os interesses coletivos podem ser primários ou essenciais (estará atendendo às demandas principais da coletividade) ou secundários ou não essenciais. • Regime de direito público – O serviço público é submetido ao regime de direito público. São várias as normas aplicáveis, mas destaca-se a que determina a fiscalização do serviço, a supremacia do Estado no que toca à execução, à prestação de contas. Diversos critérios podem ser usados para a classificação dos serviços públicos, Carvalho Filho (2007) adota as quatro classificações do serviço público abaixo relacionadas: • Serviços delegáveis e indelegáveis – Os delegáveis podem ser exe- cutados por colaboradores ou pelo Estado, já os serviços indelegáveis só podem ser prestados diretamente pelo Estado. • Serviços administrativos e de utilidade pública – Serviços adminis- trativos são os que o Estado executa para compor melhor sua organiza- ção, já os serviços de utilidade pública são os que se destinam direta- mente aos indivíduos. • Serviços coletivos e singulares – Os serviços coletivos são prestados a agrupamentos indeterminados de indivíduos, já os singulares são para destinatários individualizados, sendo mensurável a utilização por cada um dos indivíduos. • Serviços sociais e econômicos – Serviços sociais são os que o Estado executa para atender aos reclamos sociais básicos, já os serviços eco- nômicos são aqueles que por sua possibilidade de lucro representam atividades de caráter mais industrial ou comercial. Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 20 Alexandrino (2009, p.637) explica que, de acordo com os incisos II e IV do Art. 2º da Lei 8987/1995, a concessão do serviço público é a delegação de sua prestação, feita pelo Estado, mediante licitação, e a permissão do serviço público a delegação, a título precário, mediante licitação, da prestação dos serviços públicos. Como o Brasil é uma federação, os serviços públicos podem ser federais, estaduais, distritais e municipais. Alguns serviços são apontados como sendo comuns a todas as pessoas federativas, entretanto, algumas atividades são situadas na competência privativa de algumas esferas acima citadas (Carvalho Filho, 2007, p.293). Os serviços comuns são os que podem ser realizados por pessoas de mais de uma esfera administrativa (ex: serviços de saúde pública, programas de constru- ção de moradias, proteção ao meio ambiente, etc.). Já os serviços privativos, são realizados por apenas uma esfera da administração (ex: emissão de moeda, serviço postal, polícia marítima e aérea, etc.) (Carvalho Filho, 2007, p.293). Concessão e permissão são instrumentos que permitem a descentralização do serviço público. Regime de direito público Interesse coletivo Sujeito estatal Serviços sociais e econômicos Serviços administrativos e de utilidade pública Serviços delegáveis e indelegáveis Serviços coletivos e singulares Serviço público Característica Classificação Figura 2 – Características e classificações do serviço público 21 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA - U2 A Objetivos específicos • Identificar as formas de controle da administração pública. O conceito da palavra controle, dentro do tema de administração pública, é de fundamental entendimento antes de iniciarmos o estudo propriamente dito do que venha a ser efetivamente o controle dentro da administração pública. Diversos autores abordam essa ideia. Meirelles, por exemplo, afirma que con- trole “é a faculdade de vigilância, orientação e correção que um Poder, órgão ou autoridade exerce sobre a conduta funcional de outro” (1990, apud Remis, 2013, p.1). Já Alexandrino e Paulo (2006, apud Remis, 2013, p.1) conceituam o controle da administraçãopública como sendo tanto o poder como o dever que a própria administração (ou outro Poder) tem de vigiar, orientar e corrigir, dire- tamente ou por meio de órgãos especializados, a sua atuação administrativa. De acordo com Pietro, ...controle Administrativo é o poder de fiscalização e correção que a administração pública (em sentido amplo) exerce sobre sua própria atuação, sob os aspectos de legalidade e mérito, por iniciativa própria ou mediante provocação. Na esfera federal, esse controle é denomina- do de supervisão ministerial pelo Decreto-lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967 (PIETRO, 2008, p. 692). FORMAS DE CONTROLE NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 2 O controle da administração é exercitável em todos e por to- dos os Poderes do Estado (existem atividades administrativas em todos os poderes), estendendo-se a toda atividade admi- nistrativa e a todos os seus agentes, garantindo que a Admi- nistração atue conforme os princípios que lhe são impostos. Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 22 Embora o controle seja uma atribuição estatal, aqueles que são administrados também participam dele, à medida que pode e deve provocar esse contro- le, não apenas na defesa de seus interesses individuais, mas na proteção do interesse coletivo. Sendo assim, de acordo com Marinela (2010, apud, Remis 2013, p.2), pode- mos conceituar, de forma genérica, que controle é o conjunto de mecanismos jurídicos para a correção e fiscalização das atividades da administração pública. 2.1 CLASSIFICAÇÃO DAS FORMAS DE CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Dentro do contexto da administração pública existem diversos tipos e formas de realizar o controle. As mais consagradas e que permitem um maior entendimento do assunto são classificadas de acordo com sua origem; com o momento do exer- cício; com o aspecto controlado e com a amplitude (Alexandrino e Paulo, 2009). 2.1.1 Controle da administração pública de acordo com a origem De acordo com a origem, o controle pode ser: interno (exercido dentro de cada Poder), externo (realizado por órgão externo ao Poder) ou popular. a) Controle interno Controle interno é aquele que ocorre dentro da própria entidade ou órgão em que se realiza a atividade a ser controlada. Marinela (2010, apud Ramis, 2013, p.2), afirma que todo superior hierárquico poderá e deverá exercer con- trole administrativo compatível nas atividades executadas por seus subalternos, tornando-se, assim, responsável por todos os atos praticados em seu setor. Já Alexandrino e Paulo (2009) citam como exemplo de controle interno aquele que as chefias exercem nos atos de seus subordinados dentro de um órgão público. É também o controle exercido dentro de um mesmo Poder, seja aquele exerci- do no âmbito hierárquico, seja aquele feito por órgãos especializados que não necessariamente possuem relação hierárquica. Pode ser, ainda, o controle da administração direta sobre a indireta dentro de um mesmo Poder. Para exemplificar, o Centro de Controle Interno do Exército (CCIEx), antiga Dire- toria de Auditoria (D Aud), órgão de assistência direta e imediata ao Comandan- te do Exército, tem por finalidade planejar, coordenar e executar as atividades de Controle Interno no âmbito do Comando do Exército (Exército Brasileiro, 2013). ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA - U2 A 23 A Constituição Federal de 1988, no seu Artigo 74, determina aos poderes a existência de sistemas de controle interno. Para regular corretamente esses sistemas, estabeleceu alguns itens mínimos de controle, abaixo expostos: Art. 74. Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário manterão, de forma integrada, sistema de controle inter- no com a finalidade de: I - avaliar o cumprimento das metas previstas no plano plurianual, a execução dos programas de governo e dos orçamentos da União; II - comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à eficácia e eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades da administração federal, bem como da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado; III - exercer o controle das operações de crédito, avais e garantias, bem como dos direitos e haveres da União; IV - apoiar o controle externo no exercício de sua missão institucional”. O parágrafo primeiro deste Artigo (apud Alexandrino e Paulo 2009, p.742) estabelece que “os responsáveis pelo controle interno, ao tomarem conheci- mento de qualquer irregularidade ou ilegalidade, dela darão ciência ao Tribu- nal de Contas da União (TCU), sob pena de responsabilidade solidária”. Assim, qualquer membro da administração tem a obrigação de denunciar para o TCU qualquer irregularidade encontrada. b) Controle externo O controle externo ocorre quando um Poder exerce fiscalização sobre outro Poder, ou seja, sobre os atos administrativos praticados por este outro (Paludo, 2012). Segundo Meirelles (1990, apud Remis, 2013) “é o que se realiza por órgão estranho à administração responsável pelo ato controlado”. Podem ser apontados como exemplos de atos de controle externo segundo Alexandrino e Paulo (2009): • A apreciação das contas do Executivo e do Judiciário pelo Legislativo; • A auditoria do Tribunal de Contas sobre a efetivação de determinada despesa do Executivo. Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 24 • A anulação de um ato do Executivo por decisão do Judiciário; • A sustação de ato normativo do Executivo pelo Legislativo; • O julgamento anual, pelo Congresso Nacional, das contas prestadas pelo Presidente da República e a apreciação dos relatórios, por ele apresenta- dos sobre a execução dos planos de governo (CF, art. 49, Ix). c) Controle popular A necessidade de um controle popular fica clara, visto que a administração pública visa o interesse público, por isso é necessária a existência de meca- nismos que possibilitem aos administrados analisar como está a regularidade da atuação da administração. Esses mecanismos devem impedir a prática de atos ilegítimos, que venham a lesar tanto o indivíduo como a coletividade e que seja possível também a reparação de danos, caso esses atos de fato sejam consumados (Remis, 2013). Sendo assim, o controle externo popular é aquele que regula o Direito de Re- presentação, bem como o processo de responsabilidade civil, penal e adminis- trativa nos casos de abuso de autoridade (Lei 4.898). Segundo os Artigos 14 a 22 da Lei 8.429 (Lei de Improbidade Administrativa), por exemplo, qualquer pessoa pode representar para que autoridade realize o controle. Exemplificando, o Artigo 31, §3º, da Constituição Federal, determina que as contas dos municípios fiquem, durante sessenta dias, anualmente, à disposição de qualquer contribuinte para o exame e apreciação, podendo questionar-lhes a legitimidade nos termos da lei. Outro exemplo pode ser verificado no Artigo 5º, LxxIII, da Constituição, que estabelece o seguinte: Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação po- pular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histó- rico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência. O §2º do artigo 74 da Consti- tuição Federal estabelece que “qualquer cidadão, partido político, associação ou sindi- cato é parte legítima para, na forma da lei, denunciar irre- gularidades ou ilegalidades perante o tribunal de Contas da União”. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA - U2 A 25 2.1.2 Controle da administração pública de acordo com o momento do exercício De acordo com o momento do exercício, o controle pode ser: prévio ou preventivo (antecede o ato), concomitante (acompanha a realização do ato) e posterior ou subsequente (após a prática do ato). a) Controle prévio ou preventivo Controle prévio ou preventivo, segundo Remis (2013),é aquele exercido antes do início ou da conclusão do ato administrativo, sendo um requisito para sua eficácia e validade, ou seja, ocorre antes de consumar-se a conduta administrativa (Paludo, 2012). Podem ser apresentados como exemplo de controle prévio, de acordo com Alexandrino e Paulo (2009): • Quando o Senado Federal autoriza a União, os Estados, o Distrito Fede- ral ou os Municípios a contrair empréstimos externos; • A aprovação, pelo Senado Federal, da escolha de ministros dos tribunais superiores, do Procurador Geral da República, do Presidente do Banco Central, etc. Este controle, conforme prevê o Art. 52 da Constituição, ocorre previamente, pois precede a nomeação dos citados agentes públi- cos, conforme se desprende da leitura do Art. 84, xIV, da Carta Política; e • A concessão de uma medida liminar em mandado de segurança preven- tivo que impeça a prática ou a conclusão de um ato administrativo que o administrado entenda ameaçar direito líquido e certo seu. b) Controle concomitante Controle concomitante ou sucessivo é aquele que ocorre à medida que a conduta administrativa vai se desenvolvendo, ou seja, exercido durante o ato, acompanhando a sua realização, com o intento de verificar a regularidade de sua formação (Alexandrino e Paulo, 2009). Alexandrino e Paulo (2009, p. 745) apresentam como exemplos: • A fiscalização que a administração exerce sobre contratado (licitação) durante a realização de obras; • A fiscalização da execução de um contrato administrativo, e • A realização de uma auditoria durante a execução do orçamento, entre outros. Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 26 c) Controle posterior Controle posterior, subsequente ou corretivo é aquele que trata de revisão dos atos já praticados, ou seja, do controle exercido após a conclusão do ato, tendo como intenção “corrigir eventuais defeitos, declarar sua nulidade ou dar-lhe eficácia, a exemplo da homologação na licitação” (Marinela, 2010, apud Remis, 2013). Como exemplos, podem ser apresentados a homologação de um procedimen- to licitatório de um concurso público; a sustação, pelo Congresso Nacional, de atos normativos do Poder Executivo que excedam a autoridade do Poder regulamentar, etc. Alexandrino e Paulo (2009) afirmam ainda que o controle judicial dos atos administrativos, via de regra, é um controle subsequente. 2.1.3 Controle da administração pública de acordo com o aspecto controlado De acordo com o aspecto controlado, o controle pode ser: de legalidade (para verificar se o ato está conforme a legislação vigente) e de mérito (verificar a eficiência do ato). a) Controle de legalidade ou legitimidade O controle de legalidade e legitimidade verifica o confronto entre a con- duta administrativa e uma norma jurídica, podendo esta estar na carta magna, em lei ou em outro ato administrativo primário ou mesmo em ato administrati- vo impositivo para a própria administração (Alexandrino e Paulo, 2009). É o controle que verifica se o ato foi praticado em conformidade com as nor- mas vigentes do ordenamento jurídico. Meirelles (1990, apud Remis, 2013, p. 4) afirma que “é o que objetiva verificar unicamente a conformação do ato ou do procedimento administrativo com as normas legais que o regem”. Não verifica apenas a compatibilidade entre o ato e o disposto na norma legal positivada, mas também aprecia os aspectos relativos à observância obrigatória dos princípios administrativos. Segundo Remis (2013), poderá ser exercido tanto pela própria administração que praticou o ato (controle interno de legalidade) quanto pelo Poder Judi- ciário, no exercício de sua função jurisdicional, ou pelo Poder Legislativo, em casos previstos na Constituição Federal (controle externo de legalidade). ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA - U2 A 27 De acordo com Alexandrino e Paulo (2009, p.746), “o exercício do controle de legalidade pode ter como resultado a confirmação da validade ou a convalidação do ato controlado”. Nesses casos, o ato será declarado válido (legal e legítimo) por autoridade diversa daquela que o praticou, ou nulo (quando existir ilegalida- de neste), podendo ser feita pela própria administração ou pelo Poder Judiciário. A anulação terá efeito retroativo, desfazendo as relações resultantes dele. Através da Lei nº 9.784/99, além do ato poder ser válido ou nulo, quando este não acarretar lesão ao interesse público ou a terceiros envolvidos, foi admitida a convalidação do ato administrativo defeituoso (Remis, 2013). b) Controle do mérito O controle de mérito, na definição de Remis (2013), tem como objetivo a verificação da eficiência, da oportunidade, da conveniência e do resultado do ato controlado. Trata-se, portanto, de uma ação discricionária, exercida sobre atos discricionários. É normalmente o ato de competência do próprio Poder que o editou. Entre- tanto, Remis (2013) ensina que existem casos previstos na Constituição Federal em que o Poder Legislativo deverá exercer controle de mérito sobre atos que o Poder Executivo praticou. Esse caso está previsto no Artigo 49, inciso x: Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacio- nal: (...) x - fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos do Poder Executivo, incluídos os da administração Indireta. O resultado da execução do controle de mérito por parte da administração é a revogação dos atos discricionários realizados e regularmente editados por ela mesma. Com a revogação, o ato válido, legítimo, sem vícios, mas que a admi- nistração julgue inconveniente ou inoportuno é retirado do mundo jurídico. Tradicionalmente e de acordo com grande parte da doutrina, não cabe ao Poder Judiciário exercer esse controle sobre atos do Executivo ou do Legislati- vo. Nestes casos o controle será sempre de legalidade ou legitimidade. Quando o Judiciário se utiliza do controle de mérito, ele está declarando ilegal um ato que estará ferindo os princípios jurídicos básicos, como, por exemplo, o da razoabilidade, sendo importante lembrar que o Judiciário não poderá revogar o ato administrativo, e sim apenas anulá-lo (Remis, 2013). Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 28 2.1.4 Controle da administração pública de acordo com a amplitude De acordo com a amplitude, o controle pode ser: hierárquico (que decorre da hierarquia administrativa) e finalístico (administração direta sobre a indireta). a) Controle hierárquico O controle hierárquico ocorre através de um ordenamento vertical dos ór- gãos da administração direta ou do ordenamento vertical de órgãos integran- tes de cada entidade da administração indireta. É sempre um controle interno, típico do Poder Executivo, mas que pode existir entre órgãos administrativos e agentes públicos nos outros poderes (Alexandrino e Paulo, 2009). Segundo Meirelles, é o controle que resulta automaticamente do escalona- mento vertical dos órgãos do Poder Executivo, em que os inferiores estão subordinados aos superiores. O controle hierárquico ocorre sempre que os ór- gãos superiores (dentro de uma mesma estrutura hierárquica) têm competên- cia para controlar e fiscalizar os atos praticados por seus subordinados (apud, Remis, 2013, p. 5). Exemplificando, o controle que o diretor de uma Secretaria exerce sobre o ato de seu serventuário; na esfera da administração direta federal, os ministérios exercem sobre suas secretarias; estes sobre suas superintendências; estes sobre suas delegacias, e assim por diante, mostram como o controle hierárquico exis- te sempre que houver escalonamento vertical entre órgãos ou agentes públicos dentro da estrutura de uma mesma pessoa jurídica. Este controle é irrestrito e não depende de uma norma específica que o estabe- leça ou autorize. Com ele, é possível verificar em determinado agente ou órgão os aspectos relativos à legalidade e ao mérito de todos os atos praticados pelosagentes ou órgãos subordinados (Remis, 2013). b) Controle finalístico O controle finalístico segundo Alexandrino e Paulo (2009) é aquele exercido pela administração direta sobre as pessoas jurídicas integrantes da administra- ção indireta. Este controle depende de norma legal que o estabeleça, determi- ne os meios de controle, os aspectos a serem controlados, as ocasiões de sua realização, as autoridades responsáveis pela sua realização, bem como as suas finalidades (Remis, 2013). ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA - U2 A 29 Entretanto, deve-se observar que: Em casos excepcionais (casos de condutas patentemente aberrantes da administração), a administração Direta poderá controlar a indireta independentemente de regu- lamentação legal. Este caso é a chamada tutela extraordi- nária (Remis, 2013, p. 6). Como não há subordinação entre a entidade controlada e a autoridade ou o órgão controlador, ele não se submete à hierarquia. Segundo Alexandrino e Paulo (2009, p. 751) “é um controle limitado e teleológico, ou seja, restringe- -se à verificação do enquadramento da entidade controlada no programa geral no Governo e à avaliação objetivando atingimento, pela entidade, de suas fina- lidades estatutárias”. Após verificarmos os aspectos conceituais de controle na administração pública e suas classificações, podemos entender que o seu objetivo é garantir o bom andamento da administração, conforme a legislação vigente, acompanhar a conduta de seus agentes e garantir a eficiência, eficácia, efetividade e econo- micidade de suas ações. Tudo isso que foi visto visa atingir o principal objetivo do Estado: promover o bem comum da coletividade (Paludo, 2012). 31 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA - U2 A 3 BIBLIOGRAFIA REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS ALExANDRINO, Marcelo; e PAULO, Vicente. 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