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SOI V– APG Duda Campos ANAMNESE PSIQUIÁTRICA, HISTÓRIA E EXAME DO ESTADO MENTAL • A entrevista psiquiátrica tem como objetivo obter informações que irão estabelecer um diagnóstico com base em critérios • Importante para prevenir o curso da doença e o prognóstico Uma boa entrevista resulta em uma compreensão multidimensional dos elementos biopsicossociais do transtorno e fornece as informações necessárias para que o psiquiatra, com a colaboração do paciente, desenvolva um plano de tratamento centrado na pessoa. PRINCÍPIOS GERAIS ACORDO COM O PACIENTE • Identificar se o paciente foi para a consulta de maneira voluntária ou involuntária • Obter o consentimento para prosseguir a entrevista PRIVACIDADE E CONFIDENCIALIDADE • Garantir que a conversa não possa ser ouvida por outras pessoas • Deixar claro que o conteúdo da sessão permanecerá confidencial, exceto o que precisar ser dito com o médico de referência ou a equipe de tratamento • Em casos especiais como de psiquiatria forense e invalidez, devemos deixar explícito que a sessão não é confidencial e dizer quem vai receber o relatório – isso deve ficar claro no prontuário do paciente Quando o paciente mostra que pretende causar dano a outra pessoa, e o psiquiatra percebe que isso pode realmente acontecer, ele pode ter a obrigação legal de alertar à vítima potencial. O psiquiatra pode sentir que a inclusão de um familiar ou cuidador pode ser benéfica, e aborda esse assunto com o paciente. O paciente sempre deve dar o consentimento, exceto quando ele constitui perigo para si mesmo ou para outros O psiquiatra não revela material que o paciente compartilhou, mas escuta o que o familiar tem a dizer. Em contextos educacionais e forenses, deixar claro sobre a gravação e quem terá acesso, falar sobre o uso de espelhos unidirecionais, quem está por trás deles, e dizer que os observadores estão sujeitos à regras de confidencialidade. RESPEITO E CONSIDERAÇÃO • Tratar o paciente com respeito • Aliviar a ansiedade excessiva do paciente EMPATIA/RAPPORT • Rapport: respostas harmoniosas do médico ao paciente e do paciente ao médico • Mostrar que está interessado na história do paciente • Frases e gestos empáticos aumentam o rapport • Ser empático, mas manter a objetividade • Se identificar e se envolver demais pode fazer mal ao psiquiatra RELACIONAMENTO PACIENTE-MÉDICO • A disposição do paciente de compartilhar informações aumenta ou diminui dependendo das intervenções verbais e não verbais • Quanto mais o paciente se sente seguro de que a conversa é confidencial, ele estará mais aberto • Demonstrar que entende o que ele está sentindo Entrevista psiquiátrica, história e exame do estado mental SOI V– APG Duda Campos • O paciente reconhece que o médico se importa e se preocupa – isso aumenta a confiança • Ser responsivo às iniciativas do paciente, ser autêntico CONSCIENTE/INCONSCIENTE • A maioria da atividade mental permanece fora da percepção consciente • Lapsos de linguagem, maneirismos... podem mostrar processos inconscientes TRANSFERÊNCIA • O paciente inconsciente e inadequadamente desloca padrões de comportamento e reações emocionais que se originaram com figuras significativas do início da vida, com frequência da infância • Isso pode estar atrelado a distorções que têm origens no início da vida do paciente por exemplo • O paciente pode ficar irritado, exigente... mas por conta de relacionamentos e padrões de comportamento anteriores CONTRATRANSFERÊNCIA • O médico desloca para o paciente padrões de comportamentos ou reações emocionais como se ele fosse uma figura significativa da vida do médico ENTREVISTAS CENTRADAS NA PESSOA E BASEADAS NO TRANSTORNO • Focar em compreender o paciente e permitir que ele conte sua história • Focar na individualidade e experiência do paciente • Explorar as primeiras experiências de vida que contribuem para o desenvolvimento da personalidade SEGURANÇA E CONFORTO • O paciente e médico devem estar seguros, inclusive fisicamente • Em prontos-socorros, é aconselhável deixar a porta entreaberta • Para pacientes psicóticos ou confusos, deixar claro que eles estão seguros, porque eles podem se sentir ameaçados • Têm pacientes que têm medo de perder o controle, então devemos deixar claro que existe uma equipe que impede que a situação saia do controle TEMPO E NÚMERO DE SESSÕES • Geralmente o tempo necessário na primeira sessão: 45 a 90min • Para pacientes confusos, em sofrimento ou psicóticos, o tempo pode ser de 20 a 30min • Pode ser preciso mais de uma sessão para completar uma avaliação PROCESSO DA ENTREVISTA • Antes da consulta, entender bem a razão do encaminhamento • A sala não deve causar distrações, e às vezes a escolha da cadeira ou como é escolhida pode revelar características do paciente • O psiquiatra não deve estar sentado atrás de uma escrivaninha • O paciente deve sentir que ele é o foco exclusivo da atenção do psiquiatra 1) Cumprimentar o paciente com um aperto de mão; se o aperto de mão não for retribuído, melhor não comentar sobre esse momento – isso pode ser importante, então é bom indagar depois se o paciente não falar 2) Fazer uma breve pausa caso o paciente queira falar algo 3) Perguntar se o paciente prefere ser chamado pelo nome ou por “senhor”. Se não responder, melhor usar senhor. 4) Fazer perguntas iniciais, perguntando o que o trouxe ao consultório 5) Interagir de maneira que permita ao paciente contar sua história 6) Fazer perguntas abertas – quando o paciente vai respondendo, ir reforçando a continuidade balançando a cabeça ou usando intervenções de apoio 7) Enquanto o paciente continua a compartilhar sua história sobre um aspecto de sua saúde ou doença, o psiquiatra pode fazer algumas perguntas cada vez mais fechadas para entender algumas particularidades da história. 8) Quando aquela área for entendida, pode fazer uma transição para outra área voltando a usar perguntas abertas e por fim perguntas fechadas até que ela aquela área esteja bem descrita ELEMENTOS DA ENTREVISTA PSIQUIÁTRICA INICIAL • Dois elementos principais da entrevista psiquiátrica: história do paciente e o exame do estado mental DADOS DE IDENTIFICAÇÃO • Nome, idade, sexo, estado civil, raça ou etnia, ocupação do paciente SOI V– APG Duda Campos • Fonte de encaminhamento • Seja direto ao obter esses dados. Solicite respostas específicas • Se o paciente não puder cooperar, obtenha as informações com familiares ou amigos; se encaminhado por um médico, obtenha o prontuário médico. FONTE E CONFIABILIDADE • Esclarecer de onde veio a informação, especialmente se outras pessoas a forneceram ou registros foram revisados • Avaliar a confiabilidade dos dados QUEIXA PRINCIPAL • Queixa apresentada pelo paciente • Ideal que seja nas palavras dele – “estou deprimido” “sinto muita ansiedade” • Por que você procurou um psiquiatra? O que o trouxe ao hospital? Qual parece ser o problema? • Registre as respostas literalmente; uma queixa bizarra sugere um processo psicótico. HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL • Descrição cronológica da evolução dos sintomas do episódio atual • Incluir mudanças que ocorreram durante o período de tempo nos interesses, relações interpessoais, comportamentos, hábitos pessoais e na saúde física do paciente • Tempo que os sintomas atuais estão presentes e se houve oscilações de gravidade desses sintomas ao longo do tempo • Presença ou ausência de estressores – situações em casa, no trabalho, na escola, problemas legais, comorbidades médicas e dificuldades interpessoais • Fatores que aliviam ou exacerbam os sintomas, como medicamentos, apoio, habilidadesde enfrentamento ou hora do dia • Perguntar os sintomas, a gravidade dos sintomas, a duração e fatores associados • Identificar o contexto no qual a doença começou – importante para identificar a causa, os fatores que contribuem • Definir os tratamentos que o paciente está recebendo, a frequência • Se o tratamento foi interrompido, perguntar o porquê • Faça anotações segundo as palavras do paciente o máximo possível • Obtenha a história de hospitalizações e tratamentos anteriores • Início repentino de sintomas pode indicar um transtorno induzido por drogas • Verifique a extensão da doença, o tratamento, os medicamentos, os desfechos, os hospitais, os médicos. • Determine se a doença tem algum propósito adicional (ganhos secundários) REVISÃO PSIQUIÁTRICA DOS SISTEMAS Humor: • Depressão: tristeza, choro, sono, apetite, energia, concentração, função sexual, culpa, agitação ou lentidão psicomotoras, interesse • Mania: impulsividade, grandiosidade, imprudência, energia excessiva, necessidade de sono diminuída, gastos excessivos, loquacidade, pensamentos acelerados, hipersexualidade • Misto/outros: irritabilidade, suscetibilidade Ansiedade: • Sintomas de ansiedade generalizada: onde, quando, quem, quanto tempo, com que frequência • Sintomas de transtorno de pânico: quanto tempo até o pico, sintomas somáticos incluindo coração acelerado, sudorese, falta de ar, dificuldade para engolir, sensação de desgraça iminente, medo de recaída, agorafobia • Sintomas obsessivo-compulsivos: checagem, limpeza, organização, rituais, preocupação, pensamentos obsessivos, contagem, crenças racionais vs irracionais • Transtorno de estresse pós-traumático: pesadelos, flashbacks, resposta de sobressalto, esquiva • Sintomas de ansiedade social • Fobias simples, por exemplo, alturas, aviões, aranhas, etc Psicose • Alucinações: auditivas, visuais, olfativas, táteis • Paranoia • Delírios: TV, rádio, irradiação do pensamento, controle da mente, delírios de referência • Percepção do paciente: contexto espiritual ou cultural dos sintomas, teste de realidade Outros • Sintomas de transtorno de déficit de atenção/hiperatividade • Sintomas de transtorno alimentar: compulsão, purgação, exercícios excessivos SOI V– APG Duda Campos HISTÓRIA PSIQUIÁTRICA PREGRESSA • Informações sobre todas as doenças psiquiátricas e seu curso ao longo da vida do paciente, incluindo sintomas e tratamento • Alerta para os sinais e sintomas de outros transtornos psiquiátricos • Sintomas passados – quando eles ocorreram, quanto tempo duraram e sua frequência e gravidade • Tratamentos para episódios anteriores devem ser detalhados – o que foi tentado, por quanto tempo e em que doses eles foram usados e por que foram interrompidos, qual foi a resposta ao medicamento ou modalidade e se houve efeitos colaterais • Estabelecer se houve adesão ao tratamento • Ideação, intenção, plano e tentativas de suicídio passados devem ser revistos – natureza das tentativas, letalidade percebida das tentativas, possibilidade de ser salvo, bilhetes de suicídio, doação de coisas ou outras preparações para a morte • História de violência e potencial homicida • História de comportamento autolesivo não suicida também deve ser considerada – cortes, queimaduras, bater a cabeça, morder-se – perguntar sobre os sentimentos, como alívio do sofrimento USO, ABUSO E ADIÇÕES DE SUBSTÂNCIAS • Revisão cuidadosa • Estilo imparcial • Perguntas específicas podem ajudar • Quais substâncias foram usadas, incluindo álcool, drogas, medicamentos, prescritos ou não prescritos, e vias de uso • Determinar frequência e quantidade do uso • Determinar a tolerância, necessidade de quantidades crescentes de bebida e outros sintomas de abstinência – determinar abuso versus dependência Pode ser usado um questionário, como o CAGE ou RAPS4 CAGE: • Você já tentou diminuir ou cortar a bebida? • Já fiou incomodado ou irritado quando outras pessoas criticaram seu hábito de beber? • Já se sentiu mal ou culpado pelo fato de beber? • Já precisou beber pela manhã para se acalmar ou se livrar de uma ressaca? RAPS4: • Você já se sentiu culpado após beber? • Não consegue lembrar coisas que disse ou fez após beber? • Não conseguiu fazer o que era normalmente esperado após beber? • Bebeu pela manhã? *abuso ou dependência de substâncias pode ter um impacto nos sintomas psiquiátrico *considerar encaminhamento para o tratamento adequado *considerar outras coisas, como uso de tabaco, cafeína, jogo, comportamentos alimentares e uso de internet HISTÓRIA MÉDICA PREGRESSA • Relato de doenças e condições clínicas importantes, bem como tratamentos, tanto passados quanto presentes, cirurgias passadas • Entender a reação do paciente a essas doenças e habilidades de enfrentamento empregadas • Doenças clínicas podem precipitar um transtorno psiquiátrico, parecer um transtorno psiquiátrico, ser precipitadas por um transtorno psiquiátrico ou por seu tratamento ou influenciar a escolha do tratamento de um transtorno psiquiátrico • Importante prestar atenção em convulsões, traumatismo craniano e transtorno doloroso • História de problemas pré-natais ou do parto, marcos de desenvolvimento • História menstrual e reprodutiva • Revisão de todos os medicamentos atuais – há quanto tempo estão sendo usados, adesão aos horários, efeitos dos medicamentos e quaisquer efeitos colaterais • Perguntar sobre medicamentos psiquiátricos, medicamentos vendidos sem receita, soníferos, ervas e medicações alternativas • Abordar alergias a medicamentos, a extensão e o tratamento da resposta alérgica • Mães mais velhas (> 35) apresentam risco elevado de ter bebês com síndrome de Down; pais mais velhos (> 45) podem fornecer espermatozoides deficientes,que produzem déficits incluindo esquizofrenia. HISTÓRIA FAMILIAR • Auxilia na definição de fatores de risco e da formação psicossocial do paciente • Diagnósticos psiquiátricos, medicamentos, hospitalizações, transtornos relacionados s substâncias e história de letalidade • Identificar possível apoio, assim como estresses, para o paciente SOI V– APG Duda Campos • Disponibilidade e adequação dos possíveis cuidadores • Carga genética em ansiedade, depressão, esquizofrenia. Obtenha história de medicação da família (medicamentos eficazes em familiares para transtornos semelhantes podem ser eficazes no paciente). HISTÓRIA EVOLUTIVA E SOCIAL • Revisar os estágios da vida do paciente • Importante para determinar o contexto dos sintomas e as doenças psiquiátricas e pode identificar alguns dos principais fatores na evolução do transtorno • Ambiente doméstico da infância, membros da família, ambiente social, número e qualidade de amizades • História escolar detalhada • Circunstâncias de educação ou transtornos de aprendizagem, problemas comportamentais na escola, desempenho acadêmico e atividades extracurriculares • Abuso físico e sexual na infância devem ser investigados • História de trabalho – tipos de empregos, desempenho, razões para mudanças de emprego, situação profissional atual • Renda, problemas financeiros, plano de saúde do paciente • História militar • História de casamento e relacionamentos • Relacionamento atual com pais, avós, filhos... • História legal – acusações ou ações judiciais • Passatempos, interesses, animais de estimação, atividades nos momentos de lazer • Influências culturais e religiosas na vida do paciente, crenças e práticas religiosas • Ansiedade de separação e fobia escolar estão associadas com depressão adulta; enurese está associada com atos incendiários. • Lembranças da infância antes dos 3 anos normalmente são imaginadas,não reais. • Desempenho escolar fraco é um indicador sensível de transtorno emocional. A esquizofrenia começa no fim da adolescência EXAME DO ESTADO MENTAL • Equivalente psiquiátrico do exame físico das outras especialidades • Explora todas as áreas do exame mental • A maioria das informações consegue-se com observação, não precisa de questionamento direto na maioria das vezes APARÊNCIA E COMPORTAMENTO • Como o paciente parece e age durante a entrevista • O que está vestindo, se é adequado para o contexto • Desfigurações, cicatrizes, tatuagens • Arrumação e higiene • Postura na entrevista: desinibido, desinteressado, cooperativo... • Apresente-se e peça ao paciente que sente. No hospital, coloque sua cadeira perto da cama; não sente na cama. • Desleixado e desarrumado nos transtornos cognitivos; • Pupilas minúsculas no caso de vício em narcóticos; • Postura retraída e curvada na depressão. ATIVIDADE MOTORA • Normal, lentificada (bradicinesia) ou agitada (hipercinesia) • Marcha, liberdade de movimentos, posturas incomuns ou continuada, andar de um lado para o outro, torcer as mãos • Presença ou ausência de tiques, que podem ser nervosismo, tremor, inquietação, estalar a boca e protusões da língua • Você tem estado mais ativo do que o habitual? Menos ativo? • Pode perguntar sobre maneirismos óbvios, como “Notei que sua mão ainda treme, você pode me falar sobre isso?” • Preste atenção a odores, por exemplo, alcoolismo/cetoacidose. • Postura fixa e comportamento bizarro na esquizofrenia. • Hiperativo com abuso de estimulantes (cocaína) e na mania. • Retardo psicomotor na depressão; tremores • com ansiedade ou efeito colateral de medicação (lítio). • O contato visual é normalmente feito durante a entrevista. Se for mínimo, atentar para esquizofrenia. • Observação do ambiente em estados paranoides. FALA • Fluência, quantidade, ritmo, tom e volume • Pacientes demonstram fala aflita na mania; fala diminuída na depressão; fala indistinta ou irregular nos transtornos cognitivos. Fluência: SOI V– APG Duda Campos • Se o paciente tem total comando da língua ou problemas de fluência mais sutis, como tatamudez, dificuldade para encontrar as palavras ou erros parafrásicos • Peça ao paciente que pronuncie “Episcopal Metodista” para testar para disartria. Quantidade da fala: • Se é normal, aumentada, ou diminuída • Menos quantidade de fala pode ser ansiedade, desinteresse ou bloqueio de pensamento ou psicose • Maior quantidade de fala: sugestivo de mania ou hipomania Velocidade ou ritmo da fala • Lenta ou rápida Tom e volume • Irritável, ansioso, disfórico, alto, silencioso, tímido, zangado ou infantil HUMOR • Estado emocional interno e continuado do paciente • Como é subjetivo, usar as próprias palavras do paciente para descrever seu humor: triste, irritado, culpado, ou ansioso • Como você se sente? Como está sua disposição? • Pensa que a vida não vale a pena ou que você quer se prejudicar? • Planeja tirar a própria vida? Quer morrer? • Houve alguma mudança em seu sono? AFETO • Difere do humor • É a expressão do humor ou o que o humor do paciente parece ser • Qualidade do afeto: disfórico feliz, eutímico, irritável, irritado, agitado, choroso, soluçante e embotado • A fala é um sinal importante para a avaliação do afeto • Adequação do afeto: como ele está correlacionado com o ambiente – paciente que ri durante um enterro é considerado um afeto inadequado • O afeto pode ser congruente ou incongruente com o humor ou o conteúdo do pensamento do paciente - o paciente pode dizer que está deprimido ou descrever um tema depressivo, mas rir, sorrir e sem sugestão de tristeza • Observe sinais verbais de emoção, movimentos corporais, expressões faciais, ritmo da voz (prosódia) • Rir ao falar sobre temas tristes, como a morte, é inadequado. • Mudanças no afeto comuns na esquizofrenia; perda da prosódia no transtorno cognitivo e na catatonia • Não confundir os efeitos colaterais de medicamentos com afeto embotado. CONTEÚDO DO PENSAMENTO • Os pensamentos que estão ocorrendo ao paciente • Deduzimos pelo que ele expressa de maneira espontânea e pelas respostas a perguntas específicas visando evocar determinada patologia • Pode ter ruminação sobre conteúdo ou pensamentos específicos • Você sente que as pessoas querem prejudicá-lo? Você tem poderes especiais? • Alguém está tentando influenciá-lo? • Você tem sensações corporais estranhas? • Pensamentos que não consegue tirar da cabeça? Pensa sobre o fim do mundo? • As pessoas conseguem ler sua mente? • Sente que a televisão está falando com você? • Pergunte sobre fantasias e sonhos • Pensamentos obsessivos: indesejados e repetitivos que invadem a consciência – em geral são alheios ao ego, e o paciente resiste a eles • Compulsões: comportamentos repetitivos e ritualizados que os pacientes se sentem compelidos a realizar para evitar um aumento na ansiedade ou algum desfecho temido • Delírios: ideias fixas, falsas, que não são compartilhadas por outras pessoas e podem ser divididos em bizarros e não bizarros. Não bizarros: conteúdo de pensamento que não é verdadeiro, mas não está fora da esfera da possibilidade • Delírios comuns podem ser grandiosos, erotomaníaco, de ciúmes, somáticos e persecutórios • Paranoia: perguntar sobre a preocupação do paciente com câmeras, microfones, governo, com TV, rádio PROCESSO DE PENSAMENTO • Diferente do conteúdo do pensamento • Descreve como os pensamentos são formulados, organizados e expressos SOI V– APG Duda Campos • Um paciente pode ter processo de pensamento normal com conteúdo do pensamento significativamente delirante • Pode haver conteúdo do pensamento normal, mas com processo de pensamento prejudicado • Processo de pensamento normal: linear, organizado e orientado ao objetivo • O paciente pode falar rápido, saindo de um pensamento para outro, num ritmo difícil de acompanhar, mas todas as ideias se conectam de uma forma lógica • Pensamentos circunstanciais: excesso de detalhes e material que não é diretamente relevante ao assunto ou a uma resposta à pergunta, mas em algum momento retorna para tratar do assunto ou responder à pergunta • Pensamentos tangenciais: o paciente nunca retorna ao ponto ou à questão original • Pensamentos ou associações frouxos: é difícil ou impossível ver conexões entre o conteúdo sequencial • Perseveração: tendência a focar-se em uma ideia ou conteúdo específicos sem a capacidade de mudar para outros tópicos • Bloqueio do pensamento: processo de pensamento perturbado no qual o paciente parece ser incapaz de completar um pensamento – pode parar no meio da frase ou no meio do pensamento e deixar o entrevistador esperando que complete • Neologismo: palavra nova ou combinação de palavras que não são uma palavra verdadeira • Salada de palavras: linguagem confusa, e em geral repetitiva, sem aparente significado ou relação ligada a ela TRANSTORNOS DO PENSAMENTO FORMAL Circunstancialidade: Inclusão exagerada de detalhes triviais ou irrelevantes que impedem de se chegar à questão. Associações por assonância: Pensamentos associados pelo som das palavras, não por seu significado (p. ex., por rimas ou ressonância). Descarrilamento (Sinônimo de associações frouxas): Quebra tanto na conexão lógica entre as ideias quanto no sentido de objetividade geral. As palavras fazem sentido; as sentenças, não. Fuga de ideias: Uma sucessão de associações múltiplas, de maneira que os pensamentos parecem passar de repente de uma ideia para outra; muitas vezes (mas não invariavelmente) expressas por meio de discurso rápido e aflito. Neologismos: Invenção de novaspalavras ou expressões ou uso de palavras convencionais de maneiras idiossincráticas. Perseveração: Repetição de palavras, expressões e ideias fora do contexto. Tangencialidade: Quando questionado, o paciente dá uma resposta que é apropriada para o tópico geral, sem, de fato, responder à pergunta. Exemplo: Médico: “Você tem tido problemas para dormir ultimamente?” Paciente: “Normalmente durmo na minha cama, mas tenho dormido no sofá”. Bloqueio do pensamento: Uma interrupção repentina do pensamento ou uma quebra no fluxo de ideias ALTERAÇÕES NA SENSOPERCEPÇÃO • Alucinações, ilusões, despersonalização e desrealização • “Você vê coisas ou ouve vozes? Tem experiências estranhas quando pega no sono ou acorda? O mundo mudou de alguma forma? Sente odores estranhos?” • Alucinações: auditivas, visuais, táteis, olfativas e gustativas • Importante diferir alucinações de ilusões • Alucinações hipnagógicas podem ser normais • Despersonalização: sensação de ser estranho a si mesmo ou de alguma coisa mudou • Desrealização: sensação de que o ambiente mudou de alguma forma estranha que é difícil de descrever COGNIÇÃO • Estado de alerta, orientação, concentração, memória (curto e longo prazo), cálculo, cabedal de conhecimento, raciocínio abstrato, insight e julgamento • Observar o nível de alerta do paciente RACIOCÍNIO ABSTRATO • Compreender a abstrair a partir de conceitos gerais e exemplos específicos • Pedir ao paciente para identificar semelhanças entre objetos ou conceitos semelhantes, interpretar provérbios INSIGHT • Entendimento de como o paciente está se sentindo, se apresentando e funcionando • Pode ter entendimento total, parcial ou sem entendimento JULGAMENTO SOI V– APG Duda Campos • Capacidade de tomar boas decisões e agir de acordo com elas • Pode estar ou não relacionado a nível de entendimento • Perguntar coisas tipo “o que você faria se encontrasse um envelope selado na calçada?” Para testar as funções cognitivas: 1. Alerta – observação 2. Orientação • Qual o seu nome? Quem sou eu? • Que lugar é esse? Onde se localiza? • Em que cidade estamos? 3. Concentração • Começando em 100, conte de trás para a frente de 7 em 7 ou de 3 em 3 • Diga as letras de trás para a frente, começando com o Z • Diga os meses do ano de trás para frente, começando em dezembro 4. Memória imediata • Repita os números comigo: 1, 4, 9, 2, 5 5. Memória recente • O que você comeu no café da manhã? • O que você estava fazendo antes de começarmos a conversar? • Quero que você se lembre destas três coisas: pente, rua, azul. Após alguns minutos, vou pedir para você repeti-las 6. Memória de longo prazo • Qual era seu endereço quando você estava na 3ª série? • Quem era o seu professor? • O que você fez no verão entre o ensino médio e a faculdade? 7. Cálculos • Se você comprar algo que custa R$ 3,75 e pagar com uma nota de R$ 5,00, qual será o troco? • Quanto custam três laranjas, se uma dúzia custa R$ 4,00? 8. Cabedal de conhecimento • Qual é o oceano que fica entre a América do Sul e a África? 9. Raciocínio abstrato • Que objeto não pertence a este grupo: uma tesoura, um canário e uma aranha? Por quê? • O que uma maçã e uma laranja têm em comum? EXAME FÍSICO • A inclusão e a extensão do exame físico dependerão da natureza e do local da entrevista psiquiátrica FORMULAÇÃO • Diagnóstico, recomendações e planejamento do tratamento • Breve resumo da história, da apresentação e do estado atual do paciente • Discussão de fatores biológicos e psicológicos • Diagnóstico diferencial e provisório • Determinação do nível de cuidado recomendado ou requerido PLANEJAMENTO DO TRATAMENTO • Devem ser discutidos de forma explícita e detalhada com o paciente • Determinar se um relacionamento de tratamento está para ser estabelecido entre o entrevistador e o paciente • O paciente deve ser informado quando ao tratamento recomendado • Discussão das opções disponíveis de modo que o paciente possa participar das decisões sobre os próximos passos • Discussão de possíveis medicamentos, os riscos e benefícios de tratamento sem medicamento e outras opções de tratamento alternativo • Encaminhamento para psicoterapia, terapia de grupo, avaliação ou tratamento de dependência química ou avaliação médica, grupos de apoio... TÉCNICAS INTERVENÇÕES FACILITADORAS REFORÇO • “entendo”, “continue”, “sim”, “conte-me mais”.... • Mostrar interesse do entrevistador em que o paciente continue REFLEXÃO • Usando as palavras do paciente – indica que ouvir o que ele está dizendo e transmite um interesse em ouvir mais • Não deve ser dito com um tom desafiador ou descrente • Parafrasear a declaração do paciente RESUMO • Durante a entrevista, é bom resumir o que foi identificado sobre um certo tópico SOI V– APG Duda Campos • Dá a oportunidade para o paciente esclarecer ou modificar o entendimento e acrescentar novas informações EDUCAÇÃO • Às vezes é bom que o psiquiatra eduque o paciente sobre o processo de entrevista REAFIRMAÇÃO • Transmitir segurança para o paciente • Às vezes é bom dar informações precisas sobre o curso da doença ENCORAJAMENTO • Pode facilitar o envolvimento do paciente, porque para muitos, é difícil comparecer a uma avaliação psiquiátrica • Cuidado de não exagerar o progresso do paciente na entrevista RECONHECIMENTO DAS EMOÇÕES • Reconhecer a expressão de emoções pelo paciente • Isso leva o paciente a compartilhar mais sentimentos HUMOR • Quando o paciente fizer um comentário bem- humorado ou contar uma piada, pode ser útil sorrir ou quando apropriado, acrescentar um comentário humorado também • Pode diminuir a tensão e a ansiedade • É importante ter certeza de que o comentário do paciente teve, de fato, a intenção de ser bem- humorado e que o psiquiatra transmita claramente que está rindo com o paciente, não do paciente. SILÊNCIO • O paciente pode necessitar de tempo para pensar sobre o que foi dito ou para vivenciar um sentimento que surgiu na entrevista. • Se o paciente ficou em silêncio e parece estar pensando sobre o assunto, o psiquiatra poderia perguntar: “O que você pensa sobre isso?” COMUNICAÇÃO NÃO-VERBAL • Concordar com a cabeça • Se inclinar na direção do paciente • Movimentar-se na cadeira para mais perto do paciente • Arquear as sobrancelhas • Cuidado para não exagerar INTERVENÇÕES EXPANSIVAS • Quando o entrevistador quer encorajar o paciente a falar sobre outras questões • Mais sucedidas quando já tem um grau de confiança e o paciente sente que o psiquiatra é imparcial sobre o que está sendo compartilhado CLARIFICAÇÃO • Esclarecer cuidadosamente o que o paciente disse pode elucidar problemas não reconhecidos ou psicopatologia ASSOCIAÇÕES • À medida que o paciente descreve seus sintomas, outras áreas relacionadas a um sintoma devem ser exploradas. DIREÇÃO • Muitas vezes, a continuidade da história pode ser facilitada perguntando “o que”, “quando” ou “quem”. • Às vezes, o psiquiatra pode sugerir ou perguntar sobre alguma coisa que não foi introduzida pelo paciente, mas que o médico presume ser relevante. SONDAGEM • A entrevista pode apontar uma área de conflito, mas o paciente pode minimizar ou negar quaisquer dificuldades. • Encorajá-lo delicadamente a falar mais sobre essa questão pode ser bastante produtivo. TRANSIÇÕES • Fazer declarações que façam o paciente transitar de uma situação para outra REDIRECIONAMENTO • Se o entrevistador estiver se concentrando em reforçar o relato do paciente de sua história, pode ser bastante difícil mudar a entrevista para uma direção diferente. • Mas, muitas vezes, isso é crucial para o sucesso daentrevista devido às limitações do tempo e às necessidades de obter um panorama amplo da vida do paciente, bem como dos problemas atuais. • O redirecionamento pode ser usado quando o paciente muda o tema ou quando ele se mantém em uma área não produtiva ou já bem abordada. INTERVENÇÕES OBSTRUTIVAS SOI V– APG Duda Campos PERGUNTAS FECHADAS • Um número excessivo de perguntas fechadas no início da entrevista pode retardar o fluxo natural da história do paciente e restringir suas respostas a declarações curtas com pouca ou nenhuma elaboração. PERGUNTAS COMPOSTAS • Difíceis para o paciente responder porque mais de uma resposta está sendo buscada PERGUNTAS COM POR QUE • Principalmente no início, não são produtivas PERGUNTAS OU AFIRMAÇÕES PARCIAIS • Geralmente não são produtivas para o assunto em questão e também inibem o paciente de compartilhar informações privadas ou sensíveis • Em vez de dizer-lhe que um determinado comportamento é certo ou errado, seria melhor que o psiquiatra o ajudasse a refletir se aquele comportamento foi bem-sucedido. MINIMIZAR AS PREOCUPAÇÕES DO PACIENTE • Isso pode ser contraproducente porque, em vez de ser tranquilizado, o paciente pode sentir que o psiquiatra não entende o que está tentando expressar CONSELHO PREMATURO • Conselho dado muito cedo é muitas vezes um mau conselho, porque o entrevistador ainda não conhece todas as variáveis. • Também pode impedir que o paciente chegue a um plano por si próprio. INTERPRETAÇÃO PREMATURA • Mesmo se correta, uma interpretação prematura pode ser contraproducente, uma vez que o paciente pode responder de forma defensiva e se sentir mal compreendido. TRANSIÇÕES • Algumas podem ser repentinas demais e interromper questões importantes que o paciente esteja discutindo COMUNICAÇÃO NÃO-VERBAL • O psiquiatra que repetidamente olha para um relógio, se afasta do paciente, boceja ou atualiza a tela do computador transmite tédio, desinteresse ou aborrecimento. ENCERRAMENTO DA ENTREVISTA • Os últimos 5 a 10 minutos da entrevista são muito importantes e muitas vezes não recebem atenção suficiente por entrevistadores inexperientes. • É essencial alertar o paciente do tempo restante: “Temos que parar daqui a uns 10 minutos”. • Também pode ser útil dar ao paciente a oportunidade de fazer uma pergunta: “Eu lhe fiz várias perguntas hoje. Há alguma outra pergunta que você gostaria de fazer agora?” • Se essa entrevista for uma sessão de avaliação única, devem ser compartilhados com o paciente um resumo do diagnóstico e as opções de tratamento ENTREVISTA MOTIVACIONAL • Usada para motivar o paciente a mudar seu comportamento disfuncional • Tem sido usada de forma efetiva em pessoas com transtornos por uso de substâncias
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