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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA ˝JÚLIO DE MESQUITA FILHO˝ FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA DE BOTUCATU CAMPUS DE BOTUCATU USO DA OZONIOTERAPIA COMO TERAPIA COMPLEMENTAR EM CÃES DIAGNOSTICADOS COM PARVOVIROSE RAFAEL FRANCHI TRALDI Botucatu – SP Setembro de 2019 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA ˝JÚLIO DE MESQUITA FILHO˝ FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA DE BOTUCATU CAMPUS DE BOTUCATU USO DA OZONIOTERAPIA COMO TERAPIA COMPLEMENTAR EM CÃES DIAGNOSTICADOS COM PARVOVIROSE RAFAEL FRANCHI TRALDI Botucatu, SP Setembro de 2019 Dissertação apresentada junto ao Programa de Pós-graduação em Biotecnologia Animal como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre. Orientador: Prof. Dr. Stélio Pacca Loureiro Luna Co-orientador: Prof. Dr. Antonio Carlos Paes RAFAEL FRANCHI TRALDI USO DA OZONIOTERAPIA COMO TERAPIA COMPLEMENTAR EM CÃES DIAGNOSTICADOS COM PARVOVIROSE Dissertação apresentada à Universidade Estadual Paulista ― Júlio de Mesquita Filho, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia Campus de Botucatu, para obtenção do título de Mestre em Biotecnologia animal. Orientador: Prof. Dr. Stélio Pacca Loureiro Luna Co-orientador: Prof. Dr. Antonio Carlos Paes Comissão examinadora (Titulares) ________________________________________ Prof. Dr. Stélio Pacca Loureiro Luna Departamento de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária FMVZ – UNESP – Botucatu _____________________________________ Prof. Dra. Fernanda da Cruz Landim Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária FMVZ – UNESP – Botucatu _____________________________________ Dr. César Prado Médico Veterinário Doutor Doutorado pela USP – SP Botucatu, Setembro de 2019 Comissão examinadora (Suplentes) _____________________________________ Prof. Assistente Doutor André Luis Filadelpho Dep. de anatomia, Instituto de Biociência FMVZ – UNESP – Botucatu _____________________________________ Dra. Carla Martins de Queiroz Professora do Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Sociais e Agrárias de Itapeva Doutorado pela UNESP - Botucatu Botucatu, setembro de 2019 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho aos meus pais e a todos os animais, seres únicos que tanto necessitam dos nossos cuidados e que merecem respeito. AGRADECIMENTOS Aos meus pais, Nelson e Tânia, que sempre me deram de tudo, abstendo de parte de suas vidas para que eu e meu irmão entendêssemos o valor do estudo. Tudo que tenho hoje veio do sacrifício de vocês nessa longa jornada que é educar um filho. Gratidão eterna. A Cibele pela paciência e por ter me acompanhado desde o início nesta jornada. Ao meu Mestre e amigo, Professor Jean, que tanto ajudou em minha trajetória profissional, acreditando no meu potencial e me dando exemplo na forma como lida com a Medicina Veterinária. Ao meu co-orientador, Professor Paes, que me fez ter ainda mais respeito pela sabedoria que a idade traz, fascinando todos ao seu entorno pelas marcantes características de sua forma ímpar em lecionar uma aula. Ao meu orientador, Professor Stélio, por ter aceito essa empreitada em me orientar. Obrigado pela oportunidade e pela flexibilidade para a conclusão deste mestrado. A Gabriela, minha amiga do Uruguai, pelo imenso apoio durante o trabalho e pelo compromisso. Ao Ambulatório de Acupuntura da UNESP e ao Instituto Bioethicus, lugares onde cheguei pelos acasos da vida, encontrando exatamente o que procurava: a amizade. Aos meus amigos de Botucatu que me socorreram quando mais precisei, me ajudando de alguma forma no desenrolar deste trabalho. Sem vocês realmente não teria chego até aqui. Gratidão. Ao meu cachorro Petróleo, que ficou acordado nas madrugadas enquanto escrevia este trabalho. O presente trabalho foi realizado com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001. SUMÁRIO RESUMO.............................................................................................................1 ABSTRACT..........................................................................................................2 CAPÍTULO 1: CONSIDERAÇÕES GERAIS 1. INTRODUÇÃO...............................................................................................3 2. REVISÃO DE LITERATURA..........................................................................5 2.1 Parvovirose Canina .......................................................................5 2.1.1 Agente etiológico - Parvovírus canino ......................5 2.1.2 Patogenia da Parvovirose Canina ............................7 2.1.3 Sinais clínicos e prognóstico .....................................9 2.1.4 Diagnóstico e métodos de detecção do Parvovírus Canino..........................................................................................10 2.1.5 Tratamento ..............................................................11 2.1.6 Estratégias profiláticas contra o vírus .....................12 2.2 Ozonioterapia...............................................................................13 2.2.1 Breve histórico da Ozonioterapia............................13 2.2.2 Conceitos básicos na produção do Ozônio.............14 2.2.3 Efeitos biológicos da ozonioterapia ........................15 3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. ........................................................... 19 CAPÍTULO 2: TRABALHO CIENTÍFICO Resumo...........................................................................................................27 Abstract...........................................................................................................27 Introdução.......................................................................................................28 Objetivos.........................................................................................................30 Material e Métodos..........................................................................................30 Resultados..................................................................................................... 33 Discussão....................................................................................................... 36 Conclusão...................................................................................................... 38 Referências Bibliográficas.............................................................................. 39 i TRALDI, R. F. USO DA OZONIOTERAPIA COMO TERAPIA COMPLEMENTAR EM CÃES DIAGNOSTICADOS COM PARVOVIROSE. Botucatu – SP, 2019. 39 p. Exame geral de defesa (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Campus de Botucatu. RESUMO A parvovirose canina destaca-se como um dos principais agentes etiológicos nas gastroenterites infecciosas em cães jovens, apresentando alta virulência e mortalidade em decorrência da gravidade do estado clínico geral dos pacientes. Seu tratamento clínico é sintomático, principalmente através da reposição eletrolítica e do controle do vômito e diarreia. Este fato aliado ao aumento crescente do índice de óbitos, estimulou o estudo de novas abordagens terapêuticas para o desenvolvimentode novos protocolos. A Ozonioterapia se destaca neste cenário em decorrência de suas múltiplas propriedades farmacológicas, atuando como antiviral, imunoestimulatório, anti-inflamatório, analgésico, dentre outros. Neste estudo, objetivou-se avaliar a Ozonioterapia como tratamento complementar em cães que apresentaram PCR positivo de fezes para parvovirose. Para isso, 25 animais aleatoriamente divididos em 2 grupos por meio de sorteio foram avaliados, sendo 7 animais do grupo controle (GC=7) e 18 animais do grupo ozônio (GO=18). Os animais tinham até dois anos de idade, vacinados e não vacinados contra parvovirose, machos ou fêmeas, sem distinção de raça ou porte. Durante o período de tratamento, os animais tiveram o hemograma, consistência das fezes, presença ou ausência de sangue nas fezes, presença ou ausência de êmese e o desfecho, com a alta ou óbito, como parâmetros. O desfecho pode ser considerado a variável de maior relevância clínica, demonstrando diferença significativa entre os grupos, onde os animais do grupo controle tinham 20 vezes (IC 95% 2,2 – 180,9) mais chance de irem a óbito quando comparados com os animais do grupo ozônio. Palavras-chave: ozônio, cães, parvovírus canino. ii TRALDI, R. F. USE OF OZONE AS COMPLEMENTARY THERAPY IN DOGS DIAGNOSED WITH PARVOVÍRUS. Botucatu – SP, 2019. 39 p. Exame geral de defesa (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Campus de Botucatu. ABSTRACT Canine parvovirosis stands out as one of the main etiological agents in infectious gastroenteritis in young dogs, presenting high virulence and mortality due to the severity of the patient’s general clinical condition. Its clinical treatment is symptomatic, mainly through electrolyte replacement and control of vomiting and diarrhea. This fact, combined with the increasing death rate, has stimulated the study of new therapeutic approaches for the development of new protocols. Ozone therapy stands out in this scenario due to its multiple pharmacological properties, acting as an antiviral, immunostimulatory, anti-inflammatory, analgesic agent, among others. The aim of this study was to evaluate ozone therapy as a complementary treatment in dogs with positive stool PCR for parvovirus. For this, 25 animals randomly divided into 2 groups by lot were evaluated, being 7 animals from the control group (CG = 7) and 18 animals from the ozone group (GO = 18). The animals were up to two years old, vaccinated and unvaccinated against parvovirus, male or female, regardless of breed or size. During the treatment period, the animals had blood count, stool consistency, presence or absence of blood in the stool, presence or absence of emesis and the outcome, with discharge or death, as parameters. The outcome can be considered the most clinically relevant variable, demonstrating a significant difference between the groups, where the animals in the control group were 20 times (95% CI 2.2 - 180.9) more likely to die when compared to the animals. animals of the ozone group. Keywords: ozone, dogs, canine parvovirus. 3 Capítulo 1: Considerações Gerais 3 1. INTRODUÇÃO A parvovirose canina surge no final da década de setenta como uma variável do vírus da Panleucopenia felina, destacando-se no início da década de oitenta como um dos principais agentes etiológicos de gastroenterites infecciosas presentes em cães jovens (MORAES & COSTA, 2012). Acomete grande parte da população de cães errantes, estando relacionada com elevadas taxas de mortalidade pela alta virulência associada a déficits imunológicos dos animais infectados (BURROWS et al., 1997). A enfermidade tem alta patogenicidade e apresenta sinais clínicos bem característicos, como o vômito, diarreia sanguinolenta, associados à prostração e apatia em animais jovens (APPEAL et al.,1979; MORAES & COSTA, 2012). É um vírus pequeno, cerca de 20 nanômetros, formado por uma única cadeia de DNA, de simetria icosaédrica, não envelopado, resistente no ambiente e a agentes químicos (JONES et al., 2000), com afinidade as células que possuem altas taxas de replicação, como as do intestino, medula óssea e miocárdio (OTTO et al., 2001). Nos primeiros anos após o surgimento da doença, atribuiu-se as altas taxas de morbidade e mortalidade à falta de imunidade de massa contra o parvovírus canino. O desenvolvimento da imunidade natural concomitante ao surgimento de vacinas, conferiram maior proteção aos cães frente esta enfermidade (MORAES & COSTA, 2012). Filhotes são mais propensos ao desenvolvimento de gastroenterites hemorrágicas pelo parvovírus, mas cães de qualquer raça ou idade podem ser acometidos (PARRISH, 1999; MCCANDLISH, 2001; MORAES & COSTA, 2012). A busca por técnicas terapêuticas que proporcionem novas perspectivas de tratamento aos pacientes orientam o Médico Veterinário ao aprofundamento das questões relacionadas à Medicina Complementar (COLIN, 2016). Nas últimas décadas, a Ozonioterapia vem sendo estudada de forma mais profunda e científica, a fim de propor novos protocolos de tratamentos complementares nas mais diversas patologias (BOCCI, 2011). Pode-se dizer que as propriedades terapêuticas e biológicas do Ozônio permitem sua aplicação num amplo campo de especialidades, não sendo considerado um tratamento livre de contraindicações e efeitos adversos, mas quando utilizado de forma a respeitar suas concentrações adequadas e vias de aplicação, é seguro e não tóxico 4 (BOCCI, 2005). Na medicina humana adquire grande relevância devido à sua eficácia contra doenças infecciosas de origem bacteriana ou viral, patologias do sistema imunológico, além daquelas onde há pobre oferta de oxigênio nos tecidos, bem como patologias associadas ao déficit de defesas antioxidantes e doenças degenerativas (ZAMORA, 2012). A molécula de ozônio reage com uma grande quantidade de compostos orgânicos e inorgânicos, o que gera uma cadeia de respostas bioquímicas, farmacológicas e neuro-imunológicas responsáveis por toda terapêutica da técnica (KOWALTOWSKI et al., 2009). Seu grande poder oxidante é superado na natureza apenas pelo fluoreto e persulfato. Esse efeito oxidante pode ter grande valia frente a diversas patologias, haja visto que o ozônio é produzido naturalmente no organismo, como nos processos de ativação de anticorpos, o que faz dele uma molécula biológica (BULIES, 1997). Este estímulo oxidante do ozônio é leve e transitório, quando administrado em concentrações adequadas, acabando por incrementar a resposta antioxidante no organismo num efeito descrito como efeito hormético (GOLDMAN, 1996). Então, o ozônio além de ser descrito como uma molécula biológica que auxilia a resposta antioxidante do paciente, melhora a circulação sanguínea, atua frente a agentes infeciosos, em processos inflamatórios, melhora a síntese de ATP e otimiza o metabolismo celular (BOCCI, 2008). O estresse oxidativo tem sido implicado na patogênese de diversas doenças e é definido quando se perde o equilíbrio entre as defesas antioxidantes do organismo frente aos radicais livres circulantes (SEMBA & TANG, 1999). 5 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Parvovirose canina 2.1.1 Agente etiológico - Parvovírus canino A Parvovirose canina surge no final da década de setenta como uma variável do vírus da Panleucopenia felina, destacando-se no início da década de oitenta como um dos principais agentes etiológicos nas gastroenterites infecciosas presentes em cães jovens (MORAES & COSTA, 2012). Acomete grande parte da população de cães errantes, estando relacionada com elevadas taxas de mortalidade pela alta virulência associada a déficits imunológicos dos animais infectados (BURROWS et al., 1997). A parvovirose canina apresenta alta patogenicidade com um quadro clínicobem característico, desenvolvendo no animal sinais como vômito, diarreia sanguinolenta, prostração e apatia (APPEAL et al.,1979; MORAES & COSTA, 2012). É um vírus considerado pequeno, com aproximadamente 20 nm (nanômetros) de diâmetro, formado por uma única cadeia de DNA, de simetria icosaédrica e não envelopado, formado por uma cápsula proteica, resistente no ambiente e também a agentes químicos (JONES et al., 2000), com tropismo por células que possuem altas taxas de replicação, como as do intestino, medula óssea e miocárdio (OTTO et al., 2001). A taxonomia do Parvovírus canino segundo International Commite on taxonomy of vírus (ICTV) o classifica como subtipo de uma espécie viral chamada Parvovírus felino (FPV), inserido dentro do gênero Parvovírus, pertencentes a subfamília parvovirinae, família Parvoviridae. A família Parvoviridae, na qual o CPV (Canine Parvovirus) está inserido, contém duas subfamílias: Parvovirinae, que é responsável pela afecção nos animais vertebrados; e Densovirinae, responsável pela afecção nos invertebrados. (VIHINEN-RANTA et al., 2004). Tabela 1 - Taxonomia do subtipo parvovirus canino. Fonte: adaptado VIHINEN- RANTA et al., 2004. Família Subfamília Gênero Espécie Subtipo/Subespécie Parvoviridae parvovirinae parvovírus Parvovírus felino (FPV) Subtipo Parvovírus Canino (CPV) 6 Pequenas alterações em determinados aminoácidos da cadeia genética e da cápside viral fizeram com que o vírus apresentasse variações antigênicas, acarretando no surgimento de novos subtipos virais, sendo mais comumente encontrados o CPV-2a, CPV-2b e CPV-2c (OTTO, 2001). Dentro destas alterações do Parvovírus Canino, vale ressaltar que a primeira variante do CPV- 2 foi identificada no final da década de setenta e classificada como CPV-2a, tendo rápida distribuição mundial substituindo o CPV-2 (PARRISH et al., 1991). Já em 1984 foi reconhecida outra variante chamada de CPV-2b (PARRISH et al., 1991) e nos anos 2000, na Itália, fora identificada outra mutação classificada como CPV-2c (MARTELLA et al., 2004). Pesquisas sobre modelo atual de evolução e patogênese do CPV indicam um papel decisivo do receptor chamado de transferrina (TfR) nas partículas virais, mecanismo fundamental descrito na patogenia do CPV (HUEFFER et al., 2003). As variantes CPV-2a, CPV-2b e CPV-2c infectam também felinos, causando neles sinais clínicos (TRUYEN & PARRISH, 1992). Dentro da evolução genotípica do vírus, o CPV evoluiu do Parvovírus felino (FPV) onde originalmente causavam a doença apenas nos felinos por afinidade ao receptor TfR (MARTELLA et al., 2004). Descobriu-se na origem do aparecimento da doença que tanto o CPV como o FPV não se replicavam nas culturas de células caninas, somente felinas. As alterações de cadeia genética e das proteínas da cápside viral originaram o CPV-2, que não tinha capacidade de infectar células felinas, e sua primeira variação, o CPV-2a, um vírus mais evoluído que possibilitava uma melhor ligação ao receptor TfR canino, desencadeando toda patogênese viral em cães. Após o aparecimento das variações antigênicas PVC- 2b e PVC-2c, houve uma reconquista da capacidade de virulência aos felinos, causando sinais clínicos tanto em cães como em gatos (HUEFFER & PARRISH, 2003). No Brasil o subtipo com maior predominância é o CPV-2b (COSTA et al., 2005), diferente do Uruguai onde o subtipo PVC-2c é mais comumente isolado (PÉREZ et al., 2007). Casos de co-infecção em animais com várias estirpes do parvovirus já foram relatadas tanto em cães como em gatos, o que mostra a rápida dinâmica evolutiva no que se diz respeito a melhora de sua capacidade de disseminação, infecção e resistência ambiental decorrente dos polimorfismos genéticos (SHACKELTON et al., 2004). 7 Figura 1 - Modelo de evolução genotípica do CPV. Fonte: adaptado TRUYEN & PARRISH, 1992 2.1.2 Patogenia da Parvovirose Canina A patogenia da Parvovirose Canina é condicionada a 3 fatores: sorotipo viral infectante, volume de partículas víricas que penetraram nas células e estado vacinal do paciente (HALL & GERMAN, 2005; SELLON, 2005). O vírus necessita realizar uma série de interações até conseguir se replicar e infectar seu hospedeiro. Estas interações vão desde a adesão na superfície celular até a interação com o núcleo (COTMORE & TATTERSALL, 2007). Todos os vírus do gênero Parvovirus necessitam sofrer endocitose mediada por um receptor chamado de transferrina (TfR), expressos de forma acentuada em células com alto poder mitótico (VIHINEN-RANTA et al., 2004). Portanto, após este complexo CPV – TfR se estabelecer, a endocitose é desencadeada rapidamente, iniciando todos os mecanismos de infecção (TATTERSALL, 2007). Após isso ele é transportado ao núcleo pelos microtúbulos (processo dependente de uma proteína específica chamada Dineína) e inicia o processo de replicação intranuclear com posterior destruição desta célula alvo (MCCARTNEY, 1984; MCCANDLISH, 2001). FPV/CPV •Replicação e infecção em células felinas. CPV-2 •Replicação e infecção em células caninas. CPV-2a CPV-2b CPV-2c •Replicação e infecção em células felinas e caninas. 8 A exposição oro-nasal ao vírus presente em ambientes contaminados determina o principal meio de contaminação desta doença (CARMICHAEL, 2005; LAMM, 2008; PATEL, 2009, MORAES & COSTA, 2012). Após a entrada do vírus no organismo, o sítio de replicação inicial acontece nos tecidos linfóides presentes na orofaringe, linfonodos mesentéricos e timo (MEUNIER et al., 1985a). A viremia primária que se sucede perdura por até 5 dias, o que facilita a disseminação do vírus para outros tecidos que possuem altas taxas de replicação celular (MCCARTNEY, 1984; MCCANDLISH, 2001). Essa disseminação se dá por via hematógena, e os tecidos afetados neste momento incluem a medula óssea, tecido linfopoiético e epitélio intestinal, principalmente do jejuno e íleo (GUILFORD, 1996; MCCAW & HOSKINS, 2006). Após a replicação nestes tecidos, uma carga viral de alta intensidade resulta em uma viremia secundária, disseminando o vírus no tecido do miocárdio, mucosa oral e intestino (MCCAW & HOSKINS, 2006). Vale ressaltar que a viremia pode persistir por vários meses, mesmo após o vírus desaparecer do intestino (DECARO et al., 2007b). O CPV se replica nas zonas de alta atividade mitótica do intestino, degenerando rapidamente as glândulas da cripta intestinal, que por sua vez não são substituídas levando a déficits nas capacidades absortivas da mucosa e aumento de sua permeabilidade, favorecendo a translocação de bactérias piogênicas (MCCAW & HOSKINS, 2006). Mesmo antes do aparecimento dos sinais clínicos, a excreção viral nas fezes pode iniciar-se a partir do 3ª dia, alcançando seu pico na fase aguda da doença, atingida entre o 5ª e 6ª dia pós- infecção (CARMICHAEL et al., 1981; MEUNIER et al., 1985a). A partir do 7ª dia pós-infecção, a quantidade de vírus excretado diminui drasticamente por conta do aparecimento de anticorpos neutralizantes séricos, atuando como anticorpos intestinais locais (GUILFORD, 1996). O óbito dos animais infectados pelo Parvovírus pode vir decorrente da desidratação, choque hipovolêmico, choque endotóxico, além de acentuado desequilíbrio eletrolítico. Agentes bacterianos como Escherichia coli, Salmonella spp., Clostridium spp. e Campillobacter spp. estão relacionados na translocação bacteriana em casos graves de infecção por CPV, além da liberação de endotoxinas que levam a respostas inflamatórias sistêmicas (PRITTIE, 2004). Vale ressaltar que a maioria dos casos de infecção pelo Parvovírus se 9 manifestam de forma inaparente ou subclínica, podendo em determinados casos constituir infecções agudas e letais (TENNANT, 2001; SELLON, 2005; MCCAW, 2006). 2.1.3 Sinais clínicos e prognóstico As manifestações clínicas se correlacionam com o estado imunológicodo hospedeiro, idade, estado vacinal, carga viral infectante e taxa de renovação do epitélio intestinal. Estas correlações clinicas são utilizadas como fatores que acabam por determinar o prognóstico do paciente (MACINTIRE et al.,1997). Filhotes possuem maior propensão ao aparecimento das gastroenterites hemorrágicas pelo Parvovírus, mas cães de qualquer raça ou idade podem desenvolver a doença (PARRISH, 1999; MCCANDLISH, 2001; MORAES & COSTA, 2012). Nas populações de cães adultos, errantes e não vacinados, estes podem soroconverter a doença sem manifestação da sintomatologia clínica, sugerindo uma infecção branda e muita das vezes inaparente. A grande questão envolvida nesta condição de infecção sem sintomatologia é a mais rápida disseminação do vírus em animais jovens, que contraem a doença através do contato com o vírus presente nas fezes em ambientes contaminados (HOSKINS, 2004). Três síndromes são descritas após a infecção pelo Parvovírus: imunossupressão, gastroenterite hemorrágica e sepse. A gastroenterite hemorrágica é a principal manifestação clínica da doença, apresentando diarreia amarelada, com estrias de sangue, de consistência que pode variar de pastosa à fluida, com odor desagradável e característico. O vômito pode estar ausente ou ocorrer em simultâneo com a diarreia (APPEL et al., 1979; MCCANDLISH, 2001). Os animais apresentam anorexia, letargia, prostração e febre. A barreira natural de proteção no intestino é completamente lesada, fazendo com que bactérias piogênicas entrem na circulação sanguínea agravando a imunossupressão, podendo acarretar em choque por sepse (PARRISH, 1999; MCCANDLISH, 2001; MORAES & COSTA, 2012). Alterações na contagem leucocitária são encontradas entre o 3ª e 5ª dia pós-infecção, e já no 1ª dia as alterações juntamente com a lise precoce dos linfócitos resultam em linfopenia 10 e, em casos graves, neutropenia com presença de neutrófilos tóxicos (MACARTNEY et al., 1984a). A miocardite que alguns animais apresentam como sinal clínico- patológico é resultado da infecção intrauterina ou exposição viral em filhotes com até oito semanas de vida (ROBINSON et al. 1980, LENGHAUS & STUDDERT 1984, DECARO & GREENE 2012, OCARINO et al., 2014, STROM et al., 2015). Os cães acometidos podem vir a óbito de forma repentina após apresentarem curto episódio de vocalização, incomodo seguido dispneia e êmese (CARPENTER et al., 1980, DECARO & GREENE, 2012). O tropismo do Parvovírus canino pelas células do coração está ligado a alta capacidade mitótica do miocárdio, observada em cães com até 45 dias de vida (LENGHAUS & STUDDERT, 1982, LENGHAUS & STUDDERT, 1984). Os achados post-mortem destes filhotes mostram somente lesões generalizadas no coração e não no intestino, o que sugere que estes animais vieram a óbito por insuficiência cardíaca congestiva aguda, diferente do que se observa naqueles animais que apresentam a forma clássica da doença (MILLER et al., 2013, SIME et al., 2015). Indivíduos que, porventura sobrevivem, tornam- se cardiopatas por desenvolverem insuficiência cardíaca congestiva crônica (DECARO & GREENE, 2012, SIME et al., 2015). 2.1.4 Diagnóstico e métodos de detecção do Parvovírus Canino O diagnóstico, bem como o tratamento, muitas das vezes é clínico, resultado da avaliação do estado geral do paciente, associado à idade e progressão dos sinais clínicos. O diagnóstico diferencial para coronavírus, isosporose, enterites bacterianas e verminoses também podem ser feitos (MORAES & COSTA, 2012). No post-mortem, os cães acometidos com a doença possuem achados macro e microscópicos não-específicos da patologia (HOSKINS, 1997). Na patogenia da Parvovirose vê-se a alta afinidade a tecidos com altas taxas mitóticas, o que representa preferencialmente lesões em tecidos linfóides e no intestino delgado (PLETCHER et al., 1979, ZEE & MACLACHLAN 2004). Portanto, a presença do Parvovírus nestes tecidos ocasiona rarefação linfóide e atrofia das vilosidades intestinais, consequências da necrose presente nestas regiões (MACARTNEY, 1984). 11 Muitas das vezes as lesões macroscópicas não fecham diagnóstico de Parvovirose. Estes achados se tornam inespecíficos pelas rápidas alterações dos tecidos no post-mortem, principalmente no intestino delgado, prejudicados pela autólise (RAMOS-VARA, 1999; SVARA, 2003). Por conta disso, métodos auxiliares de diagnóstico são necessários para detecção do vírus, utilizando-se preferencialmente de testes imuno-histoquímicos para confirmação da patologia (MACARTNEY et al., 1984B, CARMAN & POVEY 1985, AGUNGPRIYONO et al., 1999). Lesões microscópicas observadas naqueles animais que vieram a óbito por apresentarem características da forma miocárdica da doença, demonstram necrose multifocal dos cardiomiócitos e infiltrado inflamatório associado, além de áreas de fibrose a medida de que o processo patológico se cronifica (LENGHAUS & STUDDERT, 1984). Nos pulmões, áreas avermelhadas sugerem lesões multifocais que podem estar ou não associadas a áreas de aumento de tamanho no fígado juntamente com presença de líquido sanguinolento livre na cavidade abdominal (ROBINSON & ROBINSON, 2016). 2.1.5 Tratamento É recomendado tratamento suporte nos quadros de gastroenterites pelo Parvovírus canino, que tem como principais objetivos o reestabelecimento e manutenção do equilíbrio eletrolítico através da administração de fluidoterapia intravenosa, minimizando as perdas de líquidos nas primeiras 48 horas, suspensão completa da ingesta oral de líquidos e alimentação sólida até 24 h após último quadro emético, bem como administração de protetores gástricos, antieméticos, antibióticos, antioxidantes e, em alguns casos, transfusão sanguínea (NETO, 2004). Animais em tratamento apresentam mortalidade entre 4 a 40%, mesmo com terapia suporte. Em animais não tratados, esse número pode chegar a 90% (YILMAZ, 2007). Os casos mais graves atingem os cães com menos de 12 semanas de vida, por apresentarem baixa proteção imunológica e elevado índice mitótico, pela fase de crescimento na qual se encontram (MCCAW, 1999). Animais como o Rottweiler, o Doberman, o Labrador Retriever, Pastor Alemão, possuem maior predisposição ao aparecimento da doença por apresentarem 12 maiores expressões gênicas de transferrinas, receptor expresso de alta densidade nas células com alto potencial mitótico (MARKS, 2005; MCCAW & HOSKINS, 2006; CASTRO et al., 2007). Já sua recuperação pode levar de 7 a 10 dias, com tratamento intensivo de suporte e alívio da sintomatologia clínica (MACCANDLISH, 2001). 2.1.6 Estratégias profiláticas contra o vírus No primeiros anos após o surgimento da doença, atribuiram-se as altas taxas de morbidade e mortalidade à falta de imunidade de massa contra o Parvovírus canino. Ao longo dos anos, o desenvolvimento da imunidade natural juntamente com o surgimento das vacinas acabaram por conferir maior proteção aos cães contra esta enfermidade (MORAES & COSTA, 2012). A desinfecção ambiental é um método preventivo eficaz, uma vez que o vírus pode persistir no ambiente durante meses e até anos, principalmente no abrigo da luz solar. Uma questão importante é que os detergentes e desinfectantes não possuem ação viricida sobre o CPV-2, somente o hipoclorito de sódio, usado em concentrações e tempo adequados, atua como agente de eliminação do vírus no ambiente. A exposição ao vapor d’água pode ser uma alternativa para aquelas superfícies onde não se permita a ação direta do hipoclorito de sódio (MCCAW & HOSKINS, 2006). As partículas infecciosas são muito resistentes e estáveis, mesmo quando expostas a tratamentos com solventes orgânicos ou em meios com pH entre 3,0 à 9,0 (RODOSTITS, 2000). Objetos contaminados com fezes contendo o vírus assumem grande importância na disseminação da doença, além do transporte feito através das mãose vestimentas (GUILFORD, 1996). Já a vacinação é o método mais eficaz de prevenção da parvovirose canina, onde se utilizam vacinas vivas atenuadas ou vacinas mortas contra o CPV-2 (SELLON, 2005). A frequência de revacinação atualmente é alvo de controvérsias, onde até a bem pouco tempo atrás se recomendava um esquema vacinal anual. Hoje, dados evidenciam que a imunização efetiva se prolonga por períodos superiores a um ano, criando recomendações de revacinação a cada dois anos, chegando a 3 anos (SELLON, 2005). O protocolo é de escolha do 13 Médico Veterinário clínico, que se utiliza de sua prática e experiência para propor o melhor esquema vacinal (MCCAW & HOSKINS, 2006). 2.2 Ozonioterapia 2.2.1 Breve histórico da Ozonioterapia A primeira menção sobre o ozônio na literatura científica foi feita pelo físico holandês Mak Van Marumom, em 1785, durante experimentos em uma instalação de eletrificação. Descobriu-se que quando um arco elétrico passava pelo ar, uma substância que aparentava ser gasosa, incolor e com odor característico aparecia (REV. CUBANA FARM, 2013). Esta substância fora nomeada de Ozônio (da palavra grega ozein, cheiros) e sua primeira mensuração foi feita na data de 1853 em montanhas Australianas (VALACCHI; FORTINO; BOCCI 2005). O primeiro registro bibliográfico da utilização da ozonioterapia em Medicina datam da primeira guerra mundial, quando o Dr. Albert Wolf realizou na Alemanha a limpeza e desinfecção de feridas sépticas na grande guerra. No entanto, o precursor do uso de ozônio foi Werner von Siemens, que em 1857 construiu o primeiro tubo de indução para produzir ozônio a partir de oxigênio (GROOTVELT et al., 2004a; VERANES et al., 1999). Este primeiro gerador fora utilizado para investigação das propriedades físico-químicas do Ozônio, dentre elas seu enorme potencial de destruição de microrganismos patogênicos. Com ele também fez-se as primeiras insuflações e experiências de uso do ozônio em contato com as mucosas, tanto em animais como em humanos (PELÁEZ, 2015). Há indícios de que os estudos de purificação do sangue e da Auto-hemoterapia começaram na mesma época, estudos estes dirigidos por Wolf. Sua ideia era expor o sangue a esta mistura gasosa por certa quantidade de tempo, e depois retransfundi-lo ao mesmo paciente (TRAVAGLI; ZANARDI; BOCCI, 2006). A partir da segunda metade do século XX, o desenvolvimento médico- científico da ozonioterapia começou a ser um fenômeno cada vez mais crescente (PELÁEZ, 2015) o que acabou por culminar no aprofundamento da forma em que o ozônio vinha sendo estudado, o que levou na elaboração de novos protocolos de tratamento em diversas patologias (BOCCI, 2008). 14 2.2.2 Conceitos básicos na produção do Ozônio O ozônio, ou oxigênio tri-atômico, é conhecido como um gás produzido de forma natural na estratosfera, ligeiramente azulado em altas concentrações e responsável por bloquear a entrada excessiva da radiação dos raios ultravioletas sobre a superfície do Planeta Terra (LUKES, 2006). É instável a temperatura ambiente, apresenta meia vida de aproximadamente 40 minutos quando a 20ºC, e se decompõe de forma espontânea em oxigênio, dificultando seu transporte e armazenamento (BOCCI, 2006). Por essa razão, a obtenção e a administração do ozônio devem ser feitas no mesmo lugar (HORVART, 1985). O ozônio terapêutico é produzido quando um alto gradiente de voltagem entra em contato com oxigênio puro. Por este ser puro, evita-se a produção de compostos tóxicos como o dióxido de nitrogênio, formado quando utiliza-se o ar atmosférico (BOCCI, 2004a). Nesta mistura gasosa produzida pelo aparelho, em torno de 95% é oxigênio e 5% é ozônio que, mesmo neste percentual, desencadeia suas respostas no organismo (HALLIWELL, 1994). Portanto, definindo a concentração, o volume e a via de administração, gera-se um coeficiente terapêutico que distingue um tratamento eficaz de uma dose tóxica (KOWALTOWSKI et al., 2009). Figura 2 - Esquema da geração de Ozônio medicinal: Oxigênio puro entra no gerador, passando pelo transformador, produzindo a mistura gasosa oxigênio- ozônio que flui para a coleta. O excedente vai para o destruidor, que degrada o ozônio e elimina o resultante de oxigênio. Fonte: Bocci, 2004. 15 É indispensável garantir uma precisão na dose do Ozônio através de manutenções periódicas do gerador, que fornecem uma concentração de 2 a 100 mcg/ml (BOCCI, 2004). 2.2.3 Efeitos biológicos da ozonioterapia A molécula de ozônio reage com uma grande quantidade de compostos orgânicos e inorgânicos, gerando uma cadeia de respostas bioquímicas, farmacológicas e neuro-imunológicas responsáveis por toda terapêutica da técnica (KOWALTOWSKI et al., 2009). Destaca-se também pelo seu grande poder oxidante superado apenas pelo fluoreto e persulfato (BULIES, 1997). Esse efeito oxidante pode ter grande valia frente a diversas patologias, haja visto que o ozônio é produzido naturalmente no organismo, como no processo de ativação dos anticorpos, fazendo dele uma molécula biológica (BULIES, 1997). Quando em contato com compostos orgânicos como a linfa, urina, saliva ou o plasma, reage imediatamente e deixa de existir. Preferencialmente o ozônio reage com ácidos graxos poli-insaturados, depois com antioxidantes (Vitamina C) e por último com compostos Tiol (albumina e a cisteína). Reage com carboidratos, DNA e RNA dependendo de sua concentração e tempo de exposição. Essas reações todas se dão pela doação dos elétrons na superfície dos reagentes, definida como processo de oxidação. O resultado dessa reação é a formação de espécies reativas do oxigênio (EROS) e os produtos de oxidação lipídica (LOPS), responsáveis pelas interações bioquímicas do ozônio no organismo (BOCCI, 2004a, 2006c, 2007). Figura 3 - Reação do Ozônio para formação de compostos, como o peróxido de hidrogênio. Fonte: Bocci, 2004. O aumento da peroxidação lipídica, desencadeada quando as espécies reativas do oxigênio causam danos as estruturas das cadeias lipídicas nas membranas celulares, resulta numa menor seletividade ao transporte iônico 16 celular pela diminuição da integridade da membrana (SILVA, 2011). Assim como a membrana celular, as proteínas também podem ser afetadas diretamente pelo excesso de EROs (GUIMARÃES, 2013). O nível da peroxidação lipídica pode ser mensurada no sangue diretamente pela dosagem do malondialdeído ou indiretamente por meio da dosagem de substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (DEVASAGAYAM et al., 2003). Entretanto, assim como na própria formação das espécies reativas do oxigênio, os processos de peroxidação lipídica em níveis fisiológicos são importantes contra a resposta inflamatória, fazendo parte da reação em cascata do ácido araquidônico, levando à formação de prostaglandinas e leucotrienos (FERREIRA, 1997). Então, pode-se dizer que as espécies reativas do oxigênio em quantidades adequadas são benéficas para as células por estarem envolvidas em diversos processos de regulação, se mantendo em equilíbrio com as defesas antioxidantes do organismo (SAND, 2005; ENGERS, 2010). Estas defesas são atuantes no controle das agressões produzidas pelo excesso de radicais livres, acabando por combater o denominado estresse oxidativo, processo presente quando há um desequilíbrio entre as defesas antioxidantes e os agentes radicalares no organismo (ALMEIDA, 2013). O estresse oxidativo acarreta na oxidação de uma série de biomoléculas que perdem suas funções biológicas, podendo se fazer presente em todos os tecidos ou células do organismo (ALMEIDA, 2013; FRANÇA et al., 2013). Os mecanismos de defesa antioxidantes têm como objetivo limitar os níveis de radicais livres no organismo, controlando a incidência dos danos excessivos as células, sendo divididos em 2 grupos: defesas antioxidantes enzimáticas, formadas pelas enzimasantioxidantes como superóxido dismutase, glutationa peroxidase, glutationa redutase, e catalase; e as defesas antioxidantes não enzimáticas, formadas pelos antioxidantes adquiridos na dieta como o alfatocoferol (vitamina E), betacaroteno (vitamina A) e ácido ascórbico (vitamina C) (FRANÇA et al., 2013). O termo Hormese explica como um agente oxidante traz efeitos benéficos quando utilizado em baixas doses (BOCCI, 2004). Exemplo disso é a resposta adaptativa em linfócitos humanos quando expostos a baixos níveis de radiação (OLIVIERI et al., 1984; WOLFF, 1996). Um pré-condicionamento oxidativo pode 17 ser alcançado quando tratamentos como a autohemoterapia ou ozonioterapia forem administrados de maneira regular nos pacientes (BORREGO et al., 2004), o que acaba por gerar respostas adaptativas contra os danos causados pelos agentes radicalares no organismo (LEÓN et al., 1998). Na medicina humana, a ozonioterapia adquire grande relevância devido à sua eficácia contra doenças de origem bacteriana ou viral, patologias do sistema imunológico, além daquelas onde há a pobre oferta de oxigênio nos tecidos, bem como patologias associadas ao déficit das defesas antioxidantes do organismo e nas doenças degenerativas (ZAMORA, 2012). No Departamento de Cirurgia do Hospital Chiba-Tokushkai no Japão, Matsumoto e colaboradores (2001) testaram a eficácia do gás e do óleo ozonizado em fístulas intratáveis, feridas após operações cirúrgicas, apendicite aguda com peritonite, abscessos abdominais, pacientes com reações cutâneas de radioterapia, onde percebiam benefício na cicatrização, ação antimicrobiana em termos de alívio da dor. Há uma série de liberações de fatores de crescimento nas plaquetas e em células endoteliais, além da vasodilatação por conta de uma maior oferta de Óxido Nítrico, podendo melhorar a oxigenação de tecidos que sofrem com isquemia. Esta maior oferta de oxigênio e nutrientes é crucial para a recuperação de tecidos em hipóxia, evitando-se lesões permanentes e até a morte (JOYNER & DIETZ, 1997; KASHIBA et al., 1999). O ozônio pode ser usado em muitas especialidades Médicas Veterinárias com eficácia e segurança, trazendo inúmeros benefícios na área da cardiologia, oncologia, dermatologia, odontologia, infectologia, neonatologia, ortopedia, cirurgia, clínica geral, neurologia e intensivismo (BOCCI, 2008). A exemplo, a ozonioterapia tem excelentes resultados para tratamento de câncer, potencializando a ação da radioterapia e quimioterapia, bem como tem indicação para hérnias de disco, possuindo nível de evidência “A” para estas patologias (BOCCI, 2008). Inúmeros ensaios clínicos demonstraram os efeitos da ozonioterapia sobre o sistema imunológico, avaliado através da administração de diferentes doses do ozônio por diferentes vias. Observou-se a regularização progressiva das citocinas inflamatórias e não-inflamatórias, como o interferon, fatores de necrose tumoral, interleucinas 1,2,4,6,8,10, fatores estimuladores de colônia granulócito-macrófago (BOCCI, 1994). Essa regularização das citocinas está diretamente ligada a concentração de ozônio utilizada no tratamento. O 18 incremento gradual das células CD8+ e CD4+ se relacionam com a frequência do uso da terapia com ozônio, também dependente da ação estimuladora das interleucinas-2 (BOCCI, 1990). A concentração do ozônio pode variar de 1 a 100 mcg por ml de gás, e é determinada de acordo com a doença a ser tratada (MORETTE, 2011). Este coeficiente terapêutico é definindo através da concentração, o volume e a via de administração, distinguindo um tratamento eficaz de uma dose tóxica (KOWALTOWSKI et al., 2009). Como vias de administração, tem-se utilizado a via intramuscular, intravenosa, subcutânea, intracavitária (espaços peritoneais e pleurais), intraretal, intravaginal, intrauretral, intramamária, periarticular, intraarticular ou intradiscal guiada (HADDAD, 2009; MORETTE, 2011). A via intraretal é a mais utilizada por sua facilidade aliada ao excelente efeito sistêmico, quando o volume, concentração e frequência de uso são respeitados (BOCCI, 1994). As concentrações podem ser crescentes ao longo do tratamento, mas nunca devem superar a concentração de 40mcg/ml. Concentrações iniciais baixas (10- 20mcg/ml) produzem efeitos de tolerância já relatados, trazendo efeitos benéficos ao paciente (BOCCI, 2010). Tabela 2 – Possível cronograma da administração do ozônio pela via intraretal. Fonte: adaptado BOCCI, 1994. SEMANA DIA CONCENTRAÇÃO VOLUME GÁS DOSE FINAL 1 1 10-15 mcg 3-5 ml/kg baixa/média 3 10-15 mcg 3-5 ml/kg baixa/média 5 10-15 mcg 3-5 ml/kg baixa/média Efeitos adversos secundários a prática que foram reportados geralmente estão ligados com mala práxis, técnica de administração, via de administração, concentração da mistura oxigênio-ozônio, tempo de exposição, dentre outros (BOCCI, 1994). 19 3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ALVARENGA, M. A., FERREIRA, J. C. 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Instruções aos autoreshttp://www.scielo.br/revistas/abmvz/pinstruc.htm 27 RESUMO A parvovirose canina destaca-se como um dos principais agentes etiológicos nas gastroenterites infecciosas em cães jovens, apresentando alta virulência e mortalidade em decorrência da gravidade do estado clínico geral dos pacientes. Seu tratamento clínico é sintomático, principalmente através da reposição eletrolítica e do controle do vômito e diarreia. Este fato aliado ao aumento crescente do índice de óbitos, estimulou o estudo de novas abordagens terapêuticas para o desenvolvimento de novos protocolos. A Ozonioterapia se destaca neste cenário em decorrência de suas múltiplas propriedades farmacológicas, atuando como agente antiviral, imunoestimulatório, anti- inflamatório, analgésico, dentre outros. Neste estudo, objetivou-se avaliar a Ozonioterapia como tratamento complementar em cães que apresentaram PCR positivo de fezes para parvovirose. Para isso, 25 animais aleatoriamente divididos em 2 grupos por meio de sorteio foram avaliados, sendo 7 animais do grupo controle (GC=7) e 18 animais do grupo ozônio (GO=18). Os animais tinham até dois anos de idade, vacinados e não vacinados contra parvovirose, machos ou fêmeas, sem distinção de raça ou porte. Durante o período de tratamento, os animais tiveram o hemograma, consistência das fezes, presença ou ausência de sangue nas fezes, presença ou ausência de êmese e o desfecho, com a alta ou óbito, como parâmetros. O desfecho pode ser considerado a variável de maior relevância clínica, demonstrando diferença significativa entre os grupos, onde os animais do grupo controle tinham 20 vezes (IC 95% 2,2 – 180,9) mais chance de irem a óbito quando comparados com os animais do grupo ozônio. ABSTRACT Canine parvovirosis stands out as one of the main etiological agents in infectious gastroenteritis in young dogs, presenting high virulence and mortality due to the severity of the patient’s general clinical condition. Its clinical treatment is symptomatic, mainly through electrolyte replacement and control of vomiting and diarrhea. This fact, combined with the increasing death rate, has stimulated the study of new therapeutic approaches for the development of new protocols. 28 Ozone therapy stands out in this scenario due to its multiple pharmacological properties, acting as an antiviral, immunostimulatory, anti-inflammatory, analgesic agent, among others. The aim of this study was to evaluate ozone therapy as a complementary treatment in dogs with positive stool PCR for parvovirus. For this, 25 animals randomly divided into 2 groups by lot were evaluated, being 7 animals from the control group (CG = 7) and 18 animals from the ozone group (GO = 18). The animals were up to two years old, vaccinated and unvaccinated against parvovirus, male or female, regardless of race or size. During the treatment period, the animals had blood count, stool consistency, presence or absence of blood in the stool, presence or absence of emesis and the outcome, with discharge or death, as parameters. The outcome can be considered the most clinically relevant variable, demonstrating a significant difference between the groups, where the animals in the control group were 20 times (95% CI 2.2 - 180.9) more likely to die when compared to the animals. animals of the ozone group. INTRODUÇÃO A parvovirose canina surge no final da década de setenta como uma variável do vírus da Panleucopenia felina, destacando-se no início da década de oitenta como um dos principais agentes etiológicos de gastroenterites infecciosas presentes em cães jovens (MORAES & COSTA, 2012). Acomete grande parte da população de cães errantes, estando relacionada com elevadas taxas de mortalidade pela alta virulência associada a déficits imunológicos dos animais infectados (BURROWS et al., 1997). A enfermidade tem alta patogenicidade e apresenta sinais clínicos bem característicos, como o vômito, diarreia sanguinolenta, associados a prostração e apatia em animais jovens (APPEAL et al.,1979; MORAES & COSTA, 2012). Nos primeiros anos após o surgimento da doença, atribuiu-se as altas taxas de morbidade e mortalidade à falta de imunidade de massa contra o parvovírus canino. O desenvolvimento da imunidade natural concomitante ao surgimento de vacinas, conferiram maior proteção aos cães frente esta enfermidade (MORAES & COSTA, 2012). Filhotes são mais propensos ao 29 desenvolvimento de gastroenterites hemorrágicas pelo parvovírus, mas cães de qualquer raça ou idade podem ser acometidos (PARRISH, 1999; MCCANDLISH, 2001; MORAES & COSTA, 2012). Nas últimas décadas, a Ozonioterapia vem sendo estudada de forma mais profunda e científica, a fim de propor novos protocolos de tratamentos complementares nas mais diversas patologias (BOCCI, 2011). Pode-se dizer que as propriedades terapêuticas e biológicas do Ozônio permitem sua aplicação num amplo campo de especialidades, não sendo considerado um tratamento livre de contraindicações e efeitos adversos, mas que quando utilizado de forma a respeitar suas concentrações adequadas e vias de aplicação, é seguro e não tóxico (BOCCI, 2004). Na medicina humana adquire grande relevância devido à sua eficácia contra doenças infecciosas de origem bacteriana ou viral, patologias do sistema imunológico, além daquelas onde há pobre oferta de oxigênio nos tecidos, bem como patologias associadas ao déficit de defesas antioxidantes e doenças degenerativas (ZAMORA et al., 2005). A molécula de ozônio reage com uma grande quantidade de compostos orgânicos e inorgânicos, o que gera uma cadeia de respostas bioquímicas, farmacológicas e neuro-imunológicas responsáveis por toda terapêutica da técnica (KOWALTOWSKI et al., 2009). Seu grande poder oxidante é superado apenas pelo fluoreto e persulfato. Esse efeito oxidante pode ter grande valia frente a diversas patologias, haja visto que o ozônio é produzido naturalmente no organismo, como nos processos de ativação de anticorpos, o que faz dele uma molécula biológica (BULIES, 1997). Este estímulo oxidante do ozônio é leve e transitório, quando administrado em concentrações adequadas, acabando por incrementar a resposta antioxidante no organismo num efeito descrito como efeito hormético (BOCCI, 2004). Então, o ozônio também é descrito como uma molécula biológica, que auxilia a resposta antioxidante do paciente, melhorando a circulação sanguínea, atuando frente a agentes infeciosos, em processos inflamatórios, melhorando a síntese de ATP, combatendo o estresse oxidativo e otimizando o metabolismo celular (BOCCI, 2004). O estresse oxidativo tem sido implicado na patogênese de diversas doenças, e é definido quando se perde o equilíbrio entre as defesas antioxidantes do organismo frente aos radicais livres circulantes (SEMBA & TANG, 1999). 30 OBJETIVOS O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito da ozonioterapia como terapia complementar ao tratamento convencional em cães diagnosticados com parvovirose, levando em consideração análises clínicas, laboratoriais, como também a observação de alguns parâmetros durante o período de tratamento e o desfecho (alta hospitalar ou óbito). A hipótese da inclusão de ozônio em associação ao tratamento convencional de parvovirose foi de produzir uma melhora clínica e das variáveis laboratoriais, reduzindo o tempo de recuperação e a taxa de óbito. MATERIAL E MÉTODOS Seleção dos animais Esta pesquisa foi aprovada pela comissão de ética no uso de animais (CEUA) pelo protocolo CEUA 01/01/2017, FMVZ Unesp, campus de Botucatu. Os animais que apresentavam sinais clínicos compatíveis de parvovirose foram aleatoriamente distribuídos por meio de sorteio em dois grupos. Foram utilizados 25 cães com até dois anos de idade, 7 vacinados e 18 não vacinados contra parvovirose, 14 machose 11 fêmeas, todos sem raça definida, sendo 7 animais do grupo controle (GC=7) e 18 animais do grupo ozonioterapia (GO=18). Os animais foram atendidos no Setor de Moléstias Infecciosas do Hospital Veterinário da UNESP, Campus de Botucatu, todos diagnosticados com Parvovirose Canina através do exame de PCR de fezes, para detecção do DNA viral do parvovírus canino. Os animais admitidos no setor davam entrada apresentando diarreia líquida sanguinolenta, êmese, apatia, prostração e hemograma característico de Parvovirose. Todos os animais dos dois grupos receberam o tratamento convencional oferecido pelo Hospital Veterinário, consistindo em jejum absoluto até 18 horas após o último quadro de vômito, restauração do equilíbrio eletrolítico por meio da fluidoterapia com Ringer Lactato, dose única penicilina cristalina (Bepeben ®) 40.000 UI/kg/IV e dose única de penicilina benzatina (Benzapen ®) 40.000 UI/kg/SC. Foi feito o uso de antimicrobianos como o ceftiofur (Cef-50 ®) 7,5 31 mg/kg/SID/SC ou, em casos mais graves, a ceftriaxona (Ceftriona ®) 25mg/kg/SID/IV, definidos pela avaliação do estado físico do animal e pela leucopenia, neutropenia e linfopenia acentuadas, buscando prevenir a translocação bacteriana. Foi administrado butilbrometo de escopolamina (Buscopan ®) 0,2mg/kg/SC associado à dipirona (Novalgina ®) 25 mg/kg/BID ou TID/SC. Em animais hipoglicêmicos, foi realizado bolus de 250 mg/kg de glicose a 50% IV. Administrou-se a dose de 1 g de vitaminas C no soro fisiológico com intuito antioxidante. Também aplicou-se ondansetrona (Nausedron ®) 0,5 mg/kg/SC BID ou metoclopramida (Plasil ®) 0,5 mg/kg BID, como antieméticos e ranitidina (Ranivet ®) 2 mg/kg BID como protetor gástrico. Após encerrado o quadro de êmese, foi oferecido aos animais substratos energéticos. O animais do GO receberam o tratamento convencional com a associação da Ozonioterapia na forma de gás pela via intraretal, nos dias 0, 2 e 4, no volume de 3 – 5 ml/Kg, na concentração de 15 mcg/ml. Para tal, a aplicação do gás era realizada por meio de uma seringa de 20 ml, acoplada a uma sonda uretral tamanho 4, com sua extremidade lubrificada com gel a base de água (K-Y ®), inserindo-a de 5 a 10 cm no reto do animal. Para a realização da ozonioterapia, foi utilizado equipamento específico de geração de ozônio medicinal da empresa Ozone Life, modelo O&L1.5RM, acoplado a um cilindro de oxigênio medicinal, garantindo níveis precisos de ozônio na mistura gasosa. O aparelho possui certificação ANVISA, estando de acordo com as normas adequadas de produção. Composição da base de dados Para que estas repostas fossem classificadas, o grupo de pesquisa desenvolveu e organizou as variáveis que se correlacionam com unidades específicas, uma análise qualitativa e quantitativa inédita até a presente data, como mostra o quadro 1: 32 Variável Unidade Tipo Grupo GC – tratamento convencional GO – ozônio Qualitativa Desfecho A – alta clínica B – óbito Qualitativa Tempo para desfecho Número de dias Quantitativa CF (consistência das fezes) 0 = aquezia 1 = sólidas 2 = pastosas 3 = líquidas Qualitativa P/ASF (presença / ausência de sangue nas fezes) 0 = aquezia 1 = ausência 2 = presença Qualitativa P/AE (presença / ausência de êmese) 0 = ausência de vômitos 1= até 3 episódios eméticos por dia 2 = 4 ou 5 episódios eméticos por dia 3 = 6 ou mais episódios eméticos por dia Qualitativa Hematócrito % Quantitativa Mielócitos (absoluto) Quantitativa Metamielócitos (absoluto) Quantitativa Eosinófilos (absoluto) Quantitativa Basófilos (absoluto) Quantitativa Quadro 1. Classificação das variáveis clínicas e laboratoriais avaliadas nos cães diagnosticados com Parvovirose, submetidos (GO) ou não (GC) à ozonioterapia; Durante o período de tratamento, os animais foram analisados segundo a consistência das fezes (CF), presença ou ausência de sangue nas fezes (PSF/ASF), presença ou ausência de êmese (PE/AE). O desfecho analisou a alta, o óbito e o número de dias de tratamento. Também foi coletado hemograma completo dos animais no dia 0, 2 e 4 com a finalidade de analisar a resposta medular dos animais frente aos tratamentos propostos. Análise da estatística Inicialmente, procedeu-se a análise descritiva dos dados com estimativa de frequência das variáveis qualitativas e média, mediana, desvio padrão das variáveis quantitativas. Para avaliar a diferença entre os grupos quanto ao desfecho, CF, PSF/ASF/ e PE/AE, utilizou-se o teste de qui-quadrado com um nível de significância de 5%. Para o desfecho, foi avaliada a intensidade das diferenças com estimativa de odds ratio e intervalo de confiança de 95% (IC 33 95%). Para avaliar o tempo para desfecho e as variáveis dos exames (hematócrito, mielócitos, metamielócitos, eosinófilos e basófilos), as mesmas foram testadas quanto à distribuição normal com o teste Shapiro-wilk. Todas não tiveram distribuição normal ao teste (p<0,05) e optou-se pela abordagem não paramétrica. Portanto, as diferenças entre os grupos foram avaliadas com o teste U de Mann-Withney. Todas as análises foram consideradas significativas quando p<0,05 e foram realizadas no SPSS 20.0. RESULTADOS A tabela 1 ilustra a diferença significativa entre a proporção de óbito no grupo controle (71,4%) e no grupo ozônio (11,1%). Os animais no grupo controle tiveram 20 (IC 95% 2,2 – 180,9) vezes mais chance de ir a óbito do que o grupo ozônio (p=0,007). Tabela 1 – Diferença entre os grupos no desfecho segundo o teste t-student (p=0,007). A tabela 2 ilustra a média, desvio padrão, mediana e o p-valor na análise do tempo até o desfecho. O tempo do desfecho foi maior no GO do que no GC. Tabela 2 – Análise do tempo até o desfecho entre o grupo controle e o grupo ozônio; Grupo Controle Grupo Ozônio Total p-valor Média DP Mediana Média DP Mediana Média DP Mediana Tempo desfecho 5 3 4 6 1 6 5 2 6 0,013 DP=desvio padrão A tabela 3 ilustra a média, desvio padrão, mediana e o p-valor na análise do hematócrito, mielócitos, metamielócitos, eosinófilos e basófilos. O hematócrito no D0 foi maior no GC que no GO. A contagem dos eosinófilos foi maior em D0 e D2 no GC e menor em D4 em relação ao GO. Óbito Alta Total OR (IC 95%) p-valor N % N % N % Grupo controle 5 71,4% 2 28,6% 7 100,0% 20 (2,2 – 180,9) 0,007 Grupo ozônio 2 11,1% 16 88,9% 18 100,0% 34 Tabela 3 – Médias, medianas, desvio padrão e p-valor dos valores de hematócrito, mielócito, metamielócito, eosinófilo e basófilo nos dias 0, 2 e 4 no GC e GO; Dia 0 Dia 2 Dia 4 GC GO p- valor entre grupos GC GO p- valor entre grupos GC GO p- valor entre grupos M MD DP M MD DP M MD DP M MD DP M MD DP M MD DP Hematócrito 39,1 37,0 9,1 33,2 36,5 19,9 0,002 37,3 33,5 10,1 38,0 37,0 6,6 0,241 39,0 39,0 - 36,9 35,5 6,4 0,425 Mielócitos 0 0 0 0 0 0 1,000 0 0 0 0 0 0 1,000 0 0 0 0 0 0 1,000 Metamielócitos 0 0 0 0 0 0 1,000 0 0 0 0 0 0 1,000 0 0 0 0 0 0 1,000 Eosinófilos 0,3 0 0,5 0,1 0 0,1 0,001 0,3 0,1 0,7 0,1 0 0,2 0,001 0 0 - 0,3 0 0,4 0,006 Basófilos 0 0 0,0 0 0 0 1,000 0 0 0 0 0 0 1,000 0 0 0 0 0 0 1,000 A tabela 4 ilustra a avaliação da consistência das fezes. Não houve diferença significativa nos momentos. Tabela 4 - Consistência das fezes em cães com diagnóstico clínico e laboratorial (PCR) de parvovirose no GC e GO; CF Grupo controle Grupo Ozônio Total p-valor N % N % N % Dia 0 2 2 8,0% 4 16,0% 6 100,0% 0,739 3 5 20,0% 14 56,0% 19 100,0% Dia 1 0 0 0,0% 1 4,0% 1 100,0% 0,062 2 1 4,0% 11 44,0% 12 100,0% 3 6 24,0% 6 24,0% 12 100,0% Dia 2 1 0 0,0% 2 8,7% 2 100,0% 0,734 2 2 8,7% 6 26,1% 8 100,0% 3 3 13,0% 10 43,5% 13 100,0% Dia 3 1 0 0,0% 4 17,4% 4 100,0% 0,307 2 2 8,7% 9 39,1% 11 100,0% 3 3 13,0% 5 21,7% 8 100,0% Dia 4 1 1 5,0% 8 40,0% 9 100,0%0,164 2 0 0,0% 6 30,0% 6 100,0% 3 2 10,0% 3 15,0% 5 100,0% 1 1 5,3% 14 73,7% 15 100,0% 0,366 2 0 0,0% 1 5,3% 1 100,0% 3 1 5,3% 2 10,5% 3 100,0% Dia 6 1 0 0,0% 1 33,3% 1 100,0% 0,223 2 0 0,0% 1 33,3% 1 100,0% 3 1 33,3% 0 0,0% 1 100,0% Referência: o=aquezia; 1=fezes sólidas; 2=fezes pastosas; 3=fezes líquidas; 35 A tabela 5 ilustra a avaliação da presença ou ausência de sangue nas fezes. No D5 a aquezia foi maior em GO do que em GC. Tabela 5 - Presença ou ausência de sangue nas fezes em cães com diagnóstico clínico e laboratorial (PCR) de parvovirose no GC e GO; PSF/ASF Grupo controle Grupo Ozônio Total* p-valor N % N % N % Dia 0 0 1 100,0% 0 0,0% 1 100,0% 0,125 1 0 0,0% 4 100,0% 4 100,0% 2 6 30,0% 14 70,0% 20 100,0% Dia 1 1 1 6,7% 14 93,3% 15 100,0% 0,059 2 5 55,6% 4 44,4% 9 100,0% Dia 2 1 3 30,0% 7 70,0% 10 100,0% 0,097 2 2 16,7% 10 83,3% 12 100,0% 0 0 0,0% 1 100,0% 1 100,0% Dia 3 1 3 25,0% 9 75,0% 12 100,0% 0,057 2 2 18,2% 9 81,8% 11 100,0% Dia 4 0 0 0,0% 1 100,0% 1 100,0% 0,051 1 1 7,1% 13 92,9% 14 100,0% 2 2 40,0% 3 60,0% 5 100,0% Dia 5 0 0 0,0% 1 100,0% 1 100,0% 0,005 1 1 6,7% 14 93,3% 15 100,0% 2 1 33,3% 2 66,7% 3 100,0% Dia 6 1 1 50,0% 1 50% 2 100,0% 0,470 Referência: o=aquezia; 1=ausência de sangue; 2=presença de sangue; A tabela 6 ilustra a avaliação da presença ou ausência de episódios eméticos. Em D5, a porcentagem de episódios eméticos foi superior em GO em relação ao GC. 36 Tabela 6 - Presença ou ausência de episódio emético em cães com diagnóstico clínico e laboratorial (PCR) de parvovirose no GC e GO; PE/AE Grupo Controle Grupo Ozônio Total p-valor N % N % N % Dia 0 0 0 0,0% 1 100,0% 1 100,0% 0,410 1 0 0,0% 1 100,0% 1 100,0% 1 3 42,9% 4 57,1% 7 100,0% 2 3 23,1% 10 76,9% 13 100,0% 3 0 0,0% 2 100,0% 2 100,0% Dia 1 0 1 14,3% 6 85,7% 7 100,0% 0,251 1 2 20,0% 8 80,0% 10 100,0% 2 0 0,0% 1 100,0% 1 100,0% 2 3 50,0% 3 50,0% 6 100,0% Dia 2 0 1 16,7% 5 83,3% 6 100,0% 0,105 1 2 18,2% 9 81,8% 11 100,0% 2 2 33,3% 4 66,7% 6 100,0% Dia 3 0 1 20,0% 4 80,0% 5 100,0% 0,198 1 2 20,0% 8 80,0% 10 100,0% 2 2 28,6% 5 71,4% 7 100,0% 3 0 0,0% 1 100,0% 1 100,0% Dia 4 0 1 17,5% 7 82,5% 8 100,0% 0,137 1 1 14,3% 6 85,7% 7 100,0% 2 1 20,0% 4 80,0% 5 100,0% Dia 5 0 2 15,4% 11 84,6% 13 100,0% 0,006 1 0 0,0% 5 100,0% 5 100,0% 2 0 0,0% 1 100,0% 1 100,0% Dia 6 0 1 33,3% 2 66,7% 3 100,0% 0,826 Referências: 0=ausência de episódio emético; 1=presença de até 3 episódios; DISCUSSÃO As gastroenterites virais em cães, em especial a parvovirose, tem grande importância dentre os diagnósticos realizados em enfermidades infecciosas. A base do tratamento convencional é sintomático e guiado pela administração de antibióticos, fluidoterapia, antieméticos e protetores gástricos. Dado o crescente número de cães atendidos com quadros severos de gastroenterites hemorrágicas e pelo aumento da mortalidade em decorrência da gravidade dos sinais clínicos, há uma tendência na busca por terapias complementares que proporcionassem uma melhora do estado geral desses pacientes. Este aumento 37 da casuística atrelada com a maior gravidade dos quadros clínicos, podem estar relacionados com a constante mutação genômica dos vírus, o que acaba por deixar o parvovírus canino mais patogênico. Estas mutações são definidas por pequenas alterações em alguns aminoácidos presente nos vírus (OTTO, 2001). A proposta desta nova abordagem terapêutica é parte da Medicina Veterinária Integrativa. Este trabalho trouxe uma redução estatística do número de óbitos nos animais diagnosticados com parvovirose e tratados com ozônio, o que poderia beneficia-los com a alta clínica, mesmo embora não tenha apresentado diferenças clínicas e laboratoriais significativas com a inclusão do tratamento deste mesmo grupo. Alguns trabalhos já demonstraram o uso do ozônio em gastroenterites hemorrágicas, utilizando-se da autohemoterapia maior como técnica, aplicada a cada 24 horas, durante 4 dias consecutivos. Os resultados demonstraram que o tratamento com ozonioterapia versus terapia convencional foi mais efetivo, com animais recuperados mais rapidamente e subsequente diminuição da mortalidade (ORTEGA et al., 1989). Estes resultados podem ser atribuídos ao fato do ozônio possuir propriedades terapêuticas que melhoram a oxigenação sanguínea, aumento da resposta do metabolismo celular pelo incremento do ciclo de Krebs, e também pela capacidade imunoestimulatória que a técnica proporciona (BOCCI, 2008). A vantagem do nosso estudo se dá pela técnica ser minimamente invasiva, indolor, prática, mais simples e de baixo custo. A autohemoterapia maior requer maior prática na coleta de sangue de filhotes, que muitas vezes estão em condições críticas, possui um custo mais elevado devido a utilização da bolsa de coleta de sangue, e requer mais de uma sessão para alcançar sua efetividade clínica. A redução do número de óbitos deste estudo pode estar associada a ação anti-inflamatória, analgésica, antioxidante, antiviral e imunoestimulatória da Ozonioterapia (BOCCI, 2011). A ativação do sistema antioxidante proporcionado pela terapia, estimula o organismo a desenvolver uma proteção frente aos agentes radicalares causadores do estresse oxidativo (MANDHARE et al., 2012; MANOTO et al., 2016). Vale ressaltar que durante as múltiplas 38 reações descritas com a ozonioterapia, uma quantidade significativa da dose do ozônio é neutralizada pelos antioxidantes presentes no plasma (BOCCI, 2011). Os eritrócitos que sofrem pelo estresse oxidativo podem não apresentar a mesma resposta antioxidante quando comparados a uma célula normal (MANDHARE et al., 2012). Este fato pode explicar os resultados do hemograma do GO terem sidos diferentes dos do GC. A terapia se mostra eficiente no tratamento de doenças infecciosas pelo aumento na produção de interferon gama, potente agente antiviral (BOCCI, 2011). Aliado a isso, o incremento da atividade fagocítica dos neutrófilos, efeitos positivos sobre os níveis de IgG e IgM, que podem ser iniciados logo na primeira sessão, conclui a sua ação imunoestimulatória (RAMOS et al., 1989). Esta potencialização da atividade antiviral, bem como aumento da imunidade, fizeram com que o número de animais que entravam em choque por sépse decorrente de translocação bacteriana diminuísse, o que vai de encontro com as análises que mostram a diminuição dos índices de óbito nos animais do GO. Tanto bactérias aeróbicas quanto anaeróbicas são suscetíveis ao ozônio. Bactérias como Campillobacter, Clostridium, E. Coli, Klebsiella, Mycobacterium, Pseudomonas, Salmonelas, Estafilococos e Estreptococos podem ser degradadas. Alguns vírus como o Herpesvirus são suscetíveis, bem como micoses causadas por Aspergillus e Cândida (González, 2011). CONCLUSÃO Embora este estudo experimental não traga uma diferença estatística significativa dos aspectos clínicos e laboratoriais nos cães com parvovirose, a inclusão do ozônio reduziu o número de óbitos, o que pode acabar por beneficiar os animais acometidos por esta moléstia infecciosa. O maior limitante deste estudo foi a distribuição desigual dos animais tratados frente aos não tratados com ozônio, o que dificultou uma conclusão robusta do real benefício da técnica nestes animais. Isto se deveu pelo fato do estudo ser clínico e pela experiência prévia do autor na melhoria do quadro geral dos pacientes anteriormente tratados com ozônio. Desta maneira, do ponto de vista ético, optou-se em utilizar o maior número de animais tratados com ozônio, buscando prover uma melhoria do estado clínico geral com subsequente redução da mortalidade. 39 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APPEL, M. J. G.; COOPER, B. J.; GREISEN, H.; SCOTT, F.
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