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A Economia Política Brasileira

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A ECONOMIA POLÍTICA BRASILEIRA
Guido Mantega
Introdução
Em 1959, com a publicação da obra Formação Econômica do Brasil, Celso Furtado lança o primeiro trabalho, com sólido respaldo teórico, a concatenar os vários aspectos da dinâmica do sistema econômico brasileiro.
Nesse período, o pensamento econômico se encontrava fortemente influenciado pela intensa discussão política que fermentava no Brasil ao longo dos anos 50 e 60.
Tratava-se de um período de consolidação de um novo Brasil urbano-industrial, onde acentuava-se o confronto entre os antigos interesses agroexportadores e os novos segmentos vinvulados à acumulação industrial.
Essa discussão ficou conhecida como “controvérsia sobre o desenvolvimento econômico”. De um lado uma corrente defendia o Liberalismo Econômico, com foco na “vocação agrária” do Brasil, de outro uma corrente desenvolvimentista que pregava a intervenção do Estado na economia, para implementar a industrialização no país.
Estas se configuraram nas duas linhas mestras em torno das quais se polarizou o debate durante a década de 50, ou seja, Liberalismo x Intervencionismo.
Embora esta discussão fosse anterior, somente a partir dos anos 50 ganha a estatura de um verdadeiro embate teórico.
A linha Liberal defendia os velhos princípios da regulação automática do mercado (mão invisível) e a Teoria das Vantagens Competitivas. 
Os desenvolvimentistas encontraram na CEPAL o laboratório para a elaboração e divulgação de suas ideias, onde veio a se desenvolver a teoria desenvolvimentista, que passa a ter a adesão de boa parte da esquerda, mas cuja a liderança ficou nas mãos de um grupo de intelectuais de centro-esquerda que, a partir de 1955 se transformaria no Instituto Superior de Estudod Brasileiros (ISEB), órgão criado no Governo Kubitschek com a finalidade de discutir os grandes problemas nacionais e auxiliar na elaboração dos programas de governo.
Na ISEB foi amadurecido o Nacional-Desenvolvimentismo praticado pelo Governo Kubitschek.
Dentro desta tradição nacional-desenvolvimentista nasceram os dois grandes pensadores dessa época no campo da economia política, Celso Furtado e Ignácio Rangel.
A Celso Furtado coube traçar as linhas-mestras do “processo de substituição de importações”. Já Ignácio Rangel ocupava-se com o caráter oligopolista da economia brasileira. Ambos convergiam para um diagnóstico semelhante e propunham estratégias de desenvolvimento semelhantes.
A partir desse contexto que se costruiu o primeiro modelo analítico da economia brasileira: o Modelo de Substituição de Importações.
Outra corrente passa, então, a disputar com Celso Furtado a preferência da esquerda, gestada pelos intelectuais do PCB, com base nas análises de Lênin sobre a Rússia Czarista, procurando aplicar ao Brasil as teses da III Internacional para os países coloniais e atrasados, ressaltando o caráter semifeudal da agricultura brasileira.
Elaboradas pelos V e VI Congressos do PCB, respectivamente nos anos de 1954 e 1960, ganharam concistência com os trabalhos de Nelson Werneck Sodré e Alberto Passos Guimarães, que consolidaraam o novo modelo de interpretação da realidade brasileira, denominado de Modelo Democrático-Burguês que, embora possuíse ideias em comum com o Modelo de Substituição de Importações, se diferenciava deste sobretudo na ênfase dada às questões políticas.
Em meados dos anos 60, a falta de resultados sociais da política desenvolvimentista levou à crise as suas duas correntes ideológicas.
Em 1966, Caio Prado Jr. publica “A Revolução Brasileira”, onde critica a concepção feudal, concebendo a agricultura brasileira como capitalista desde sua origem, fornecedora de produtos primários ao capital europeu colonizador. A questão do desenvolvimento, nessa concepção, não passaria por uma reforma, mas pelo “desenvolvimento do subdesenvolvimento”, conforme escreveria nessa época André Gunder Frank, sob influência da nova esquerda norte-americana.
Coube a Rui Mauro Marini responder a questão do subdesenvolvimento do capitalismo brasileiro, com sua teoria da “superexploração dos trabalhadores periféricos”, explorados tanto pelo pela burguesia local como pela imperialista. Neste contexto, restava ao Brasil invadir os mercados dos países da América Latina ainda menos desenvolvidos, surgindo assim a tese do “subimperialismo brasileiro” que, junto com as ideias do “capitalismo colonial”, do “desenvolvimento do subdesenvolvimento” e da “superexploração da força de trabalho”, passaram a formar um novo modelo de interpretação, denominado “Modelo de Subdesenvolvimento Capitalista”.
Este modelo se assemelha as ideias de Trotski, reproduzidas na IV Internacional, para países coloniais e atrasados, relegados a eterna condição de subdesenvolvidos. Para os expoentes dessa corrente não havia possibilidade de um maior avanço do capitalismo no Brasil, face a dominação imperialista e a superexploração dos trabalhadores, o que implicava na necessidade de regimes autoritários para controle da situação, sendo que somente uma revolução socialista seria capaz de implantar a democracia, estabelecer a soberania nacional e abrir as portas da nação para o desenvolvimentode suas forças produtivas.
Em meados dos anos 60, surge um novo filão teórico, em oposição a estas teses estagnacionistas, sustentando a possibilidade de um desenvolvimento capitalista nesses países, não de forma autônoma, mas dependente e associado ao capital estrangeiro. A “Teoria da Dependência”, como ficou conhecida, lançou as bases para o pensamento econômico que iria se consolidar nos anos 70 no chamado “milagre econômico”.
O teóricoa da “dependência” prenunciavam a possibilidade de um novo ciclo de acumulação de capital no Brasil a partir da análise dos condicionantes internos da dinâmica social, tendo como pioneiros nessa análise Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto, com a obra “Dependência e Desenvolvimento na América Latina”, escrito em 1967.
Em contraposição a estas ideias de posição crítica ou de esquerda, estavam os mentores do Modelo Brasileiro de Desenvolvimento, posto em prática a partir do golpe de 64 e vigente até o fim do regime militar, ao menos em suas proposições fundamentais.
Este modelo tem como base a adaptação da teoria neoclássica liberal à necessidade de uma grande intervenção do Estado numa economia de acumulação incipiente, por meio do suporte a acumulação privada, implantação de empresas estatais e firme regulação da força de trabalho.
Roberto Campos e Mário Henrique Simonsen foram os principais expoentes dessa corrente, garantindo com a intervenção estatal a maximização da acumulação monopolista em grande escala.
A despeito das diferenças apresentadas entres as diversas correntes teóricas, havia uma tendência comum entre elas (com exceção da teoria da dependência), qual seja, a percepção da impossibilidade da economia brasileira sair da estagnação em que se encontrava caso não viesse a sofrer profundas transformações estruturais, sendo necessário, para uns, as reformas de base e a expansão do mercado interno, para outros, a reforma agrária, o incentivo a produção nacional e a expulsão do imperialismo, ou ainda a revolução socialista.
No entanto, a expansão da acumulação industrial prossegiu pós 68 mesmo sem as reformas ou revoluções propostas, desautorizando todo o pensamento crítico e dando razão a teoria da dependência.
Capítulo 1 – O NACIONAL DESENVOLVIMENTISMO
O desenvolvimentismo foi a ideologia que mais influenciou a economia política brasileira. 
Herdeiro do keynesianismo, empolgou boa parte da intelectualidade latino-americana nos anos 40 e 50.
Segundo essa doutrina, para transformar países agroexportadores em nações desenvolvidas era preciso incrementar a participação do Estado na economia, de modo a facilitar a industrialização, tendo inspirando os denominados “planos de desenvolvimento”, principalmente a partir das receitas de desenvolvimento elaboradas pela CEPAL- espinha dorsal do desenvolvimentismo.
No Brasil, a pricipal influência do ideário cepalino se dá nos anos 50,tanto no plano teórico como na esfera das medidas concretas de governo.
É nessa época que surgem os primeiros estudos brasileiros sobre economia política, gestados no ISEB e fortemente ancorados nas diretrizes da CEPAL, inspirando a política econômica brasileira em boa parte da década de 50, especialmente no Plano de Reabilitação da Economia Nacional e Reaparelhamento Industrial do segundo governo Vargas e, principalmente, no Plano de Metas. Daí sua importância na trajetória das ideias e no pensamento econômico desenvolvimentista.
1. Antecedentes do Desenvolvimentismo
No limiar do séc. XX a economia capitalista mundial navegava em águas cada vez mais turbulentas, enquanto a teoria econômica tradicional ainda insistia na eficácia da livre concorrência para engendrar o equilíbrio econômico. Somente a crise de 29 foi capaz de abalar este alicerce, assim, para garantir a sobrevivência do capitalismo, fêz-se necessário renovar a economia política com novos instrumentos e interpretações, capazes de solucionar suas contradições.
Assim, surge um novo filão teórico com vistas a superar a ineficiência do liberalismo econômico por meio de uma maior intervenção do Estado nos domínios da economia, seus percussores foram Piero Sraffa, Joan Robinson e Edward Chamberlin, com a Teoria da Concorrência Imperfeita; enquanto Joseph Schumpeter, Michael Kalecki e John M. Keynes, se empenhavam em dar consistência a uma teoria do ciclo econômico que auxiliasse a neutralizar os períodos de contração das atividades.
No entanto, coube a Lord Keynes o papel de maior projeção na revolução teórica em curso, que passou a denominar-se “revolução keynesiana”, segundo a qual as forças de mercado deixadas a si mesmas estariam longe de promover a alocação ótima de recursos, neste contexto, faz necessária a intervenção mais decidida do Estado na economia, enquanto agente direto da produção, aumentando os investimentos e gastos da sociedade, privilegiando determinados setores em detrimento de outros, orientando a economia para uma produção mais equilibrada. Estavam lançadas as bases do dirigismo econômico, que iria frutificar em vários países capitalistas, dividindo a economia política burguesa em pelo menos duas grandes correntes: o intervencionismo e o liberalismo econômico.
No Brasil essa problemática surge nos anos 30, e toma corpo na década de 40, através da polêmica travada por dois personagens de maior destaque: Roberto Simonsen, empresário e líder da Federação das Indústrias de São Paulo, defendendo o intervenscionismo, e Eugênio Gudin, professor de economia e diretor de empresas estarangeiras de serviços, defendendo o liberalismo.
Por trás de suas discussões teóricas revela-se o jogo de interesses das principais forças sócio-econômicas do país nas primeiras décadas do século XX.
Coube a Roberto Simonsen fornecer um esboço do novo projeto de desenvolvimento, baseado na industrialização e numa ideologia caracterizada pela grande intervenção do Estado na economia. Propunha-se, de forma conciliadora, um avanço mais acentuado na industrialização por meio da proteção tarifária e com base na infra-estrutura a ser proporcionada pelo Estado, mantendo-se a importância do setor exportador enquanto fornecedor, tudo isso orientado e sincronizado pelo Estado.
No entanto, esse projeto restringiu-se a propor modificações na esfera das atividades econômicas, deixando intocadas as intituições políticas do país, ou seja, a burguesia emergente não pretendia ou não reunia condições para usurpar o poder político das classes dominantes até então, configurando-se como uma proposta de transformação burguesa conservadora.
A nova ideologia desenvolvimentista ganhava adeptos não apenas da nascente burguesia industrial, mas econtrava forte ressonância na classe média urbana e, principalmente, nas Forças Armadas. Assim, à medida que se aproximavam os anos 50, a crença no liberalismo econômico perdia terreno na esfera ideológica, que se inclinava em favor da nova ideologia nacionalista desenvolvimentista.
Porém, este projeto da nascente burguesia industrial brasileira foi atropelado pelos movimentos sociais e pelas pressões populares que se acumulavam com o intenso processo de urbanização. Dessa maneira forjou-se o populismo.
A implantação do Estado populista no Brasil reflete, de um lado a modificação da correlação de forças no seio das classes dominantes, em prol dos novos segmentos com base na acumulação industrial e, de outro, a institucionalização do poder político das forças populares, daí a impostância da ideologia desenvolvimentista populista, que incorpora a emergência das massas no jogo político, ao mesmo tempo que as entorpecia e submetia ao projeto de desnvolvimento capitalista.
Dessa forma, a elite política brasileira pós-45 se dividia em pelo menos duas grandes facções rivais: uma elite reformista, assumindo as rédeas do poder populista e acomodando as pressões das massas, e uma elite autoritária, que participava do aparato estatal, mas, conspirava para excluir as massas do jogo do poder.
2. O PENSAMENTO DA CEPAL
A Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL) surge no final da década de 40, quando o pensamento latino-americano ensaiava os primeiros passos de emancipação. Países como Argentina, México e Brasil eram impulsionados por novas classes sociais, forjadas nas atividades urbano-industriais, cuja escalada prometia capitanear o desenvolvimento desses países.
A preocupação da CEPAL era a de explicar o atraso da América Latina em relação aos chamados centros desenvolvidos e encontrar formas de superá-lo. Nesse sentido, focava a análise da estrutura sócio-econômica e os entraves ao desenvolvimento desses países, em contraste com o dinamismo das estruras avançadas e com ênfase nas transações comerciais entre países ricos e pobres do sistema capitalista mundial, que contribuia para acentuar suas disparidades.
Com isso, a CEPAL questionava não apenas a divisão internacional do trabalho vigente no mundo capitalista, como também questionava o destino atribuído aos países subdesenvolvidos pela Teoria Clássica ou Neoclássica do Comércio Internacional, que sustentava essa divisão.
A deterioração dos termos de intercâmbio
Segundo Paul Samuelson, o livre comércio e a especialização dos vários países naquelas atividades para as quais demonstrassem vocação “natural” conduziria à propagação do progresso técnico e à difusão do desenvolvimento para todos os membros da comunidade mundial (lei das vantagens comparativas).
No final dos anos 40, a CEPAL investe contra este argumento, sustentando que os países atrasados sofriam inúmeras desvantagens no papel de meros fornecedores de produtos primários, pois o centro desenvolvido não transferia seus aumentos de produtividade e ainda se apropriava dos modestos incrementos de produtividade dos países pobres. Com isso, se inagurava uma nova interpretação do comércio internacional e do subdesenvolvimento.
Para a CEPAL os países periféricos estavam amarrados pela falta de dinamismo de suas estruturas produtivas. A falta de integração interna das economias periféricas as impedia de capitalizar e difundir os efeitos propulsores das melhorias produtivas, de outro lado, o fosso entre ricos e probres só tendia a aumentar, uma vez que o centro desenvolvido impunha preços cada vez mais altos aos produtos industrializados, enquanto importava produtos primários sempre a preço barato.
A explicação para esta evolução, segundo a CEPAL, centrava-se, em primeiro lugar, na diferença de comportamento da demanda por produtos primários em relação a demanda de manufaturados (a primeira cresce muito mais rapidamente que a segunda). Em segundo lugar, na diferente situação de mercado de trabalho e organização sindical entre centro e periferia (no centro a menor oferta e a maior organização aumentavam o poder de barganha do trabalhador).
Portanto, para a CEPAL, o subdesenvolvimento depende em primeiro lugar da estrutura interna e em segundo lugar das relações comerciais com o centro.
Se deixadas ao sabor daslivres forças de mercado as economias periféricas nunca vão sair do atoleiro.
Industrialização, intervencionismo estatal e nacionalismo
Segundo a CEPAL, a saída para essa situação reside na implementação de uma política deliberada de desenvolvimento industrial que promova uma reforma agrária, melhore a alocação dos recursos produtivos produtivos e impeça a evasão da produtividade, revertendo o eixo básico da economia, até então voltada para fora, para o desenvolvimento para dentro, ou seja, baseado na industrialização para o mercado interno.
Para capitanear essas transformações, a CEPAL sugere a decidida participação do Estado na economia, enquanto principal promotor do desenvolvimento. Esse nível de intervenção fazia arrepiar os adeptos do liberalismo econômico do FMI, preocupados com possíveis restrições ao comércio internacional, altamente lucrativo para os países centrais, pois significaria um fortalecimento das economias locais e num maior poder de barganha para os países periféricos. Nesse sentido, a doutrina da CEPAL adquire um tom nacionalista, mas que não hostiliza por completo o capital estrangeiro, considerado necessário até que o país atingisse o nível de poupança interna suficiente para prosseguir sozinho, sendo preferencialmente sugerido o empréstimo de governo a governo.
Nestes termos, verifica-se que a CEPAL propunha o desenvolvimento nacional mais do que propriamente nacionalista, baseado nas atividades industriais e na dinâmica interna da economia, com menos dependência mas sem maiores restrições ao capital externo. A crítica que fazia ao imperialismo comercial e financeiro dotava a proposta da CEPAL de um verniz nacionalista, que escondia sua postura convidativa ao capital estrangeiro (ainda que com restrições).
O que, aparentemente, pode parecer uma contradição, é perfeitamente coerente levando-se em conta que a CEPAL, ao eleger o desenvolvimento capitalista autocentrado como alvo máximo de suas preocupações, torna perfeitamente coerente a entrada de capital estrangeiro que contribua para isso, uma vez que o capital estrangeiro investido na indústria de transformação impulsiona a acumulação local.
As desilusões do desenvolvimentismo
A teoria cepalina arquitetou um plano de transformações econômicas na base da intervenção estatal em prol da industrialização e da valorização das atividades voltadas ao mercado interno, que deveriam modificar a estrutura econômica e propiciar a elevação e retenção da produtividade e, finalmente, estender os benefícios de desenvolvimento para a maioria dos grupos sociais.
Na prática, a medida que aumentavam a concentração de renda e as desigualdades sociais ao longo dos anos 50, apesar da industrialização em curso, a CEPAL repensou suas teses e passou a se preocupar diretamente com os problemas sociais e políticos.
No início dos anos 60, verificava-se no Brasil a consolidação de uma estrutura econômica capitalista, com capacidade própria de acumulação, de acordo com os ditames cepalinos, porém, as condições sociais do grosso da população continuavam iguais ou piores. O modelo CEPAL esbarrou nas mesmas limitações da teoria econômica tradicional, não obstante ter ido mais longe do que essas definições genéricas da velha economia, ao fornecer um conjunto de hipóteses e ideias concernentes a situação da periferia atrasada e subdesenvolvida, nesse sentido, podemos dizer que a CEPAL elaborou uma teoria do subdesenvolvimento que, no entanto, se mostrou senão ingênua, pelo menos confusa do capitalismo e de sua lógica de funcionamento.
3. RAGNAR NURKSE E O CÍRCULO VICIOSO DA POBREZA
No início dos anos 50, surgem no cenário teórico brasileiro dois autores estrangeiros, Ragnar Nurkse e Gunnard Myrdal, que vão engrossar o filão teórico inaugurado pela CEPAL para a formação da ideologia nacional-desenvolvimentista. Não escreveram propriamente sobre o Brasil, mas exerceram forte influência sobre a economia política brasileira por terem enfocado problemas comuns a vários países periféricos.
A preocupação principal de Ragnar Nurkse referia-se ao problema de formação de capital em países subdesenvolvidos, o que considerava a principal condicionante da falta de dinamismo dessas economias, adotando, portanto, a premissa básica da CEPAL. Segundo o autor, a população desses países usufruia de um baixo nível de renda, pouco sobrando para poupança e, consequentemente, para novos investimentos, o que resultava em um crescimento modesto, baixo ritmo de acumulação e um baixo nível de renda, num processo que deixava essas economias permanentemente atadas ao círculo vicioso da pobreza.
Para romper com este ciclo vicioso Nurkse sugere a implementação de “ondas recorrentes de progresso industrial”, ou seja, a ação combinada de uma série de investimentos ao mesmo tempo, de modo que cada empreendimento garanta o mercado do outro e, para tanto, seria necessária a ação coordenadora e planificadora do Estado.
Se, de um lado, é correto dizer que o pacote sincronizado de inversões garante a demanda do sistema, cabe precisar de que maneira cada uma dessas partes participa dela, pois é preciso dissolver a falsa impressão de que o desenvolvimento capitalista proporciona benefícios ou aumento de renda para todas as pessoas, como supõe Nurkse que, embora tenha amadurecido alguns aspectos da análise cepalina, não chegou a concretizar uma nova análise.
4. GUNNAR MYDRAL E O CAPITALISMO BONZINHO
Gunnard Mydral também acreditava que o livre jogo do mercado prejudicava os países subdesenvolvidos e, para romper com as amarras do subdesenvolvimento, o autor sugere um Estado Nacional que proceda às modificações políticas capazes de alterar o rumo “natural” das tendências econômicas. Myrdal atribuía papel preponderante aos fatores políticos no processo de transformação dos países atrasados.
Em seu trabalho “Teoria Econômica e Regiões Subdesenvolvidas” defende a tese de que o subdesenvolvimento pode ser superado pela instituição de políticas de integração nacional, que devem ser argamassadas pelo nacionalismo, capaz de mobilizar as massas em torno de objetivos comuns e em prol de mais elevados níveis de bem-estar social. Para Myrdal o motor do desenvolvimento é a mobilização das forças internas para substituir as instituições políticas atrasadas pelo Estado planificador e mobilizador e, ainda, o regime político que melhor se coaduna com essa proposta é a democracia ocidental, base de sustentação para medidas política sigualitárias.
Myrdal não apenas influi na constituição de um projeto político nacional-desenvolvimentista, como também chama a atenção para a dinâmica das classes do processo social. Nesse contexto, o Estado desenvolvimentista interfere nitidamente a favor dos pobres, procurando dissolver as disparidades regionais e elevando o padrão de vida de toda a nação.
Myrdal influencia, dessa forma, a nascente economia política brasileira, especialmente no realce que dá aos fatores políticos. Entretanto, para o autor, o conflito social tende a encaminhar-se para a comunhão de interesses, desde que o capitalismo seja dinâmico e impulsionado pela democracia social, trata-se de um capitalismo bonzinho, onde cabe ao Estado aparar as arestas e impedir os abusos.
5. O INSTITUTO SUPERIOR DE ESTUDOS BRASILEIROS
A abrodagem teórica do ISEB concebia o processo histórico como uma sucessão de fases progressivas, onde a fase seguinte era uma etapa mais avançada, assim, a situação da sociedade brasileira, no limiar do séc. XX, que permitiria antever a próxima fase de progresso, deveria se tomar a forma de capitalismo nacional.
Do ponto de vista de Hélio Jaguaribe e do ISEB, o grosso da população seria automaticamente beneficiada pela ação dos empreendedores da burguesia nacional.

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