Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 OS BENS E SUA CLASSIFICAÇÃO Bens e Coisas: Objeto de Direito Segundo Venosa: Todo direito tem um objeto sobre o qual repousa. O objeto do Direito pode ser a existência mesma da pessoa, seus atributos da personalidade: a honra, a liberdade, a manifestação do pensamento. Tais direitos são atributos da personalidade, são imateriais e, quando violados, podem ser avaliados em dinheiro, embora esses direitos não tenham valor pecuniário, pelo menos imediato. O objeto do Direito pode ser também uma atividade da pessoa; uma prestação; um fazer ou deixar de fazer algo. As ações humanas, como objeto do direito traduzem-se no direito obrigacional, que é pessoal, une uma pessoa a outra por meio de um vínculo jurídico. O objeto do Direito, porém, pode recair sobre coisas corpóreas e incorpóreas, como um imóvel, no primeiro caso, e os produtos do intelecto no segundo. Como o direito subjetivo é poder outorgado a um titular, requer, portanto, um objeto. O objeto é a base material sobre a qual se assenta o direito subjetivo, desenvolvendo o poder de fruição da pessoa, com o contato das coisas que nos cercam no mundo exterior. 2 Entende-se por bens tudo o que pode proporcionar utilidade aos homens. Não deve o termo se confundido com coisas. Bem é tudo que corresponde a nossos desejos, em uma visão não jurídica. No campo jurídico, bem deve ser considerado aquilo que tem valor, abstraindo-se daí a noção pecuniária do termo. Para o direito, bem é uma utilidade, quer econômica quer não econômica. O termo bem é uma espécie de coisa, embora por vezes seja utilizado indiferentemente. Coisas são os bens apropriáveis pelo homem. Como assevera Serpa Lopes: “sob o nome de coisa, pode ser chamado tudo quanto existe na natureza, exceto a pessoa, mas como bem só é considerada aquela coisa que existe proporcionando ao homem uma utilidade, porém com o requisito essencial de lhe ficar suscetível de apropriação”. Assim, todos os bens são coisas, mas nem todas as coisas são bens. O sol, o mar, a lua são coisas, mas não são bens, porque não podem ser apropriados pelo homem. A palavra bem deriva de bonum, felicidade, bem-estar. A palavra coisa, tem sentido mais extenso, compreendendo tanto os bens que podem ser apropriados, como aqueles objetos que não podem. Todavia, não há acordo entre os autores sobre a conceituação de coisa e bem. Na verdade, há bens jurídicos que não podem ser nomeados como coisas, como é o caso da honra, da liberdade, do nome. 3 Coisa, por sua vez, pode ser tomada apenas por seu lado corpóreo, como faz o Direito alemão. Em nossa doutrina, porém, coisa pode englobar tanto objetos corpóreos como incorpóreos. Para Maria Helena Diniz, três são os caracteres para que um bem seja objeto de uma relação jurídica privada: a) Idoneidade para satisfazer um interesse econômico – excluindo os elementos morais..; b) Gestão econômica autônoma, pois o bem deve possuir uma autonomia econômica, constituindo uma entidade econômica distinta – delimitação no espaço pelo corpo. (posição combatida, pois tal gestão se verifica pela produção gerada pelo bem como a energia elétrica e o gás); c) Subordinação jurídica ao seu titular – existência autônoma capaz de ser subordinado ao domínio do homem. Bens Corpóreos e Incorpóreos – Bens corpóreos são aqueles que nossos sentidos podem perceber: um automóvel, um animal, um livro. Os bens incorpóreos não têm existência tangível. São direitos das pessoas sobre as coisas, sobre o produto de seu intelecto, ou em relação a outra pessoa, com valor econômico: direitos autorais, créditos, invenções. Os bens incorpóreos são entendidos como abstração do Direito; não têm existência material, mas existência jurídica. As relações jurídicas podem ter como objeto tanto os bens materiais quanto os imateriais. 4 Móveis e Imóveis – Imóveis são aqueles bens que não podem ser transportados sem perda ou deterioração, enquanto móveis são os que podem ser removidos, sem perda ou diminuição de sua substância, por força própria ou estranha. Semoventes são os animais. São essas noções que encontramos no art. 47/1916 e art. 82/2002. Aos direitos, quer recaiam sobre bens móveis, quer recaiam sobre imóveis, também se aplica a divisão. Assim, os direitos de servidão, uso e habitação são imóveis. O usufruto será móvel ou imóvel, dependendo de seu objeto. Podemos afirmar que essa distinção é o grande divisor de águas no tocante à conseqüência de seu regime jurídico: um cônjuge não pode alienar bens imóveis, nem gravá-los de ônus real, qualquer que seja o regime do casamento, sem a anuência do outro cônjuge (arts. 235 e 242; novos arts 1.647 e 1.648). Desse modo, o cônjuge é livre para alienar bens móveis, por mais valiosos que sejam, não podendo, contudo, sem a anuência do consorte, alienar ou gravar bens imóveis. E ainda: os bens imóveis são adquiridos tão-só pela transcrição do título no registro de imóveis, ou pela acessão, pelo usucapião e pelo direito hereditário arts. 1.245, 1.248, 1.238, 1.784, todos do CC/02, mas sempre deverá constar o titular do respectivo registro. Os móveis são adquiridos por simples tradição (art. 1.267), usucapião (1.260), ocupação (1.263), achado do tesouro 5 (1.264), especificação (1.269), bem como pela caça, pesca e invenção (art 592 e ss do CC/16). Regime Dos Bens Imóveis A priori, apenas um terreno pode ser considerado como bem imóvel. Contudo, ante o princípio de que o acessório segue o principal, preferiu o legislador, expandir tal noção a outros bens possivelmente considerados móveis. Entre esses, os considerados imóveis: - Por natureza: O diploma de 1.916 apresentava diversas particularidades; já o novo CC dispõe no art. 79: “São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente”. Assim, são considerados imóveis as árvores plantadas no solo, a água do rio que abastece a propriedade, etc. Contudo, o direito de propriedade não contempla mais a noção usque ad sidera at usque ad inferos (até o céu e até o inferno) adotada pelo CC de 1.916. O novo diploma ampara o direito de propriedade apenas enquanto útil para seu titular (art. 1.229). - Por acessão física: Qualquer objeto inserido no solo com caráter permanente. Nessa modalidade incorporam-se as construções, os prédios, as sementes lançadas à terra, etc; porém, barracas ou construções provisórias, não são consideradas, dado seu caráter de transitório. Partes de uma construção como janelas ou portas, por exemplo, uma vez separadas do todo para manutenção ou conserto, não 6 perdem seu caráter de bens imóveis, porque serão novamente incorporados ao todo (art. 81, Novo CC). É imprescindível saber a destinação do bem, porque uma vez separado do todo, sem possibilidade de voltar a integrá-lo, ou ainda, de integrar um novo todo, recupera este bem o caráter de móvel (art. 84, novo CC). - Por acessão intelectual: Depende única e exclusivamente dos objetivos do proprietário ou seu representante. São aqueles bens mantidos intencionalmente no imóvel para exploração industrial, bens inerentes à estética ou aformoseamento do imóvel, ou ainda, bens destinados à comodidade como ar condicionado e extintores de incêndio. Claro é que todos esses bens são considerados em si mesmos como móveis, porém, pela destinação dada aos mesmos por seu dono, tornam-se relativamente imóveis enquanto estiverem a serviço do todo. Na acessão física, os objetos são definitivamente incorporados ao imóvel, seguindo seu destino. Na acessão intelectual, a imobilização é transitória e depende da vontade, daí porque os objetos podem recuperar a mobilidade. (VENOSA, 2.002: 311) Os bens separados do todo, sem perda ou deterioração, devem necessariamente ser partes integrantes deste, podendo ainda ser considerados como essenciais ou não essenciais com relação ao todo, a partir da diminuição da utilidadedo mesmo todo. 7 - Por determinação legal: (art. 80, novo CC). Os direitos são bens imateriais e, destarte, não poderiam ser classificados como móveis ou imóveis, mas para efetiva segurança nas relações jurídicas, a lei considera os direitos que versam sobre bens imóveis como imóveis, bem como suas respectivas ações, sendo que a parte não poderá dispor de maneira contrária. O Direito à sucessão aberta é o complexo patrimonial da herança, considerado imóvel, ainda que todos os bens que o integram sejam móveis. A herança apenas deixa de existir depois da partilha entre os herdeiros. Regime Dos Bens Móveis - Por natureza: Trata-se de coisas corpóreas que podem se movimentar, independente de força própria ou não (art. 82, Novo CC). Contudo, é imprescindível que o bem não perca sua finalidade ao ser movimentado. - Por antecipação: São bens que, embora incorporados ao solo, destinam-se à separação, sendo assim, convertidos em móveis (ex: árvores que se converterão em lenha). - Por determinação legal: (art. 83, Novo CC). Equipara-se a bem móvel as energias economicamente apreciadas, pois, pelo art. 155, § 3º, do CP a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico equipara-se à coisa móvel. Inclui-se nessa modalidade ainda, os direitos obrigacionais e intelectuais. 8 Bens Fungíveis E Infungíveis A fungibilidade é característica própria das coisas móveis. São fungíveis os bens que podem ser substituídos por qualquer outro do mesmo gênero, qualidade ou quantidade (ex: cereais ou gado), logo, são considerados infungíveis todos aqueles bens considerados em si mesmos devido suas particularidades, não comportando substituição por outro bem por melhor que seja, ainda que do mesmo gênero, quantidade e qualidade (ex: uma escultura de Renoir ou um quadro de Picasso) (art. 85, Novo CC). “Fungíveis são as coisas avaliadas e consideradas no comércio em sua massa quantitativa, enquanto infungíveis são as coisas consideradas em sua massa individual” (VENOSA, 2.002: 315). A simples vontade das partes contratantes não pode tornar fungível um bem infungível, mas pode conferir infungibilidade a um bem fungível, devido suas condições especiais, uma vez que a fungibilidade é qualidade da própria coisa. É importante ressaltar que a fungibilidade não é atributo da vontade das partes, mas resultado da qualidade da própria coisa. Bens Consumíveis E Não Consumíveis Assim reza o art. 86 do Novo CC: “São consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da própria substância, sendo também considerados tais os destinados à alienação”. Assim, são considerados inconsumíveis os bens que 9 admitem uso reiterado sem qualquer destruição de sua substância, economicamente falando. Exemplo: um livro, considerado um bem inconsumível, pode vir a ser consumível se objeto de alienação numa livraria. Os bens consumíveis são todos aqueles que podem desaparecer por um só ato de utilização, já os inconsumíveis permitem uso continuado, sem acarretar destruição total ou parcial. Tal como exposto supra, nos bens fungíveis e infungíveis, um bem consumível pode se tornar inconsumível por vontade das partes, porém, gerando efeito apenas para os contratantes, excluindo-se terceiros. Bens Divisíveis E Indivisíveis Os bens divisíveis são aqueles que podem ser fracionados sem alteração na sua substância; cada segmento mantém as mesmas qualidades do todo. Já o bem indivisível não admite nenhuma forma de fracionamento, sob pena de perder suas características. A indivisibilidade pode ser considerada como material ou física e intelectual ou jurídica (arts. 87 e 88, Novo CC).
Compartilhar