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Apostila curso Nutrição na Depressão

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1 
 
 
 
 
 
 
 
Nutrição na Depressão, Ansiedade e Distúrbios do 
Sono 
 
 
 
 
 
Dra. Luciana Tocci Belpiede 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
SUMÁRIO 
 
SIGLÁRIO ................................................................................................................................... 3 
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 5 
MÓDULO I ................................................................................................................................. 6 
Fisiologia do sistema nervoso ............................................................................................ 6 
MÓDULO II ............................................................................................................................... 25 
Eixo intestino-cérebro ........................................................................................................ 25 
MÓDULO III .............................................................................................................................. 29 
Aspectos fisiopatológicos da depressão ....................................................................... 29 
Prescrição nutricional na depressão .............................................................................. 35 
MÓDULO IV: ............................................................................................................................ 46 
Aspectos fisiopatológicos da ansiedade ....................................................................... 46 
Prescrição nutricional na ansiedade .............................................................................. 47 
MÓDULO V .............................................................................................................................. 50 
Aspectos fisiopatológicos dos distúrbios de sono ........................................................ 50 
Prescrição nutricional nos distúrbios de sono ............................................................... 60 
Referências bibliográficas .................................................................................................... 75 
 
 
 
 
 
 
3 
 
SIGLÁRIO 
 
5-HT – Serotonina 
5-HTP – 5-hidroxitriptofano 
5-HTT – Transportador de Serotonina 
5-MTHF – 5-metiltetrahidrofolato 
6SM – 6- sulfatoximelatonina 
AANAT – Arilalquilamina-N-acetiltransferase 
ACTH – Hormônio Adrenocorticotrófico 
ADP – Difosfato de Adenosina 
ALA – Ácido α-linolênico 
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária 
ATP – Trifosfato de Adenosina 
BDNF – Brain Derived Neurotrofic Factor 
BDNF – Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro 
CRH – Hormônio Liberador de Corticotrofina 
DHA – Ácido Docosaexaenoico 
DNA – Ácido Desoxirribonucleico 
EPA – Ácido Eicosapentaenóico 
ERO – Espécies Reativas De Oxigênio 
GABA – Ácido Gama-aminobutírico 
GH – Hormônio do Crescimento 
HHA – Hipotálamo-Hipófise-Adrenal 
HIOMT – Hidroxi-indol-O-metiltransferase 
IDO – Indolamina-2,3 Dioxigenase 
K+ – Íon Potássio 
 
4 
 
L-DOPA – Levodopa 
LPS – Lipopolissacarídeos 
MAO – Monoamina Oxidade 
Na+ – Íon Sódio 
NGF – Nerve Growth Factor 
NREM – Não Rapid Eyes Moviment 
NSQ – Supraquiasmático 
PCR – Proteína C Reativa 
PVH – paraventricular 
REM – Rapid Eyes Moviment 
SAMe – s-adenosilmetionina 
SAOS – Síndrome Da Apneia Obstrutiva De Sono 
SNC – Sistema Nervoso Central 
SNP – Sistema Nervoso Periférico 
TNFA – Fator De Necrose Tumoral Alfa 
UVB – Ultravioleta B 
w-3 – Ômega 3 
 
 
 
 
5 
 
INTRODUÇÃO 
 
Sejam bem-vindos ao curso Nutrição na depressão, ansiedade e distúrbios de sono! 
 
Você já parou para pensar como a nutrição poderia auxiliar pacientes nessas 
situações? Pois bem, ao traçarmos uma linha do tempo e refletirmos diversos aspectos que 
caracterizam nossa sociedade atual poderemos identificar fatores que se moldaram 
principalmente devido à industrialização e globalização. Um deles, intimamente 
correlacionado ao aspecto nutricional, marca o maior consumo de alimentos processados 
e ultraprocessados em detrimento dos in natura ou minimante processados, o que 
impacta de maneira significante na magnitude de manifestação das doenças presentes 
hoje, tais como aquelas não comunicáveis ou doenças crônicas não transmissíveis. 
 
Além desse importante marco, outras doenças como depressão e ansiedade e 
diversos distúrbios associados ao sono, estão cada vez mais presentes não somente entre 
indivíduos adultos, mas também entre crianças e adolescentes. A rotina e jornada de 
estudos e/ou trabalho extenuantes, além do intenso bombardeamento de informações 
que recebemos a cada instante, além desse perfil de consumo alimentar que caracteriza 
a nossa sociedade nos dias atuais são importantes gatilhos para essa elevada prevalência 
e incidência dessas doenças. 
 
 
 
6 
 
MÓDULO I 
 
Para compreendermos melhor essa importante relação entre a nutrição e o 
desenvolvimento dessas doenças e distúrbios, torna-se necessários revermos um 
pouco dos conceitos de fisiologia do sistema nervoso! Você já parou para imaginar 
na importância que o sistema nervoso possui para o funcionamento do nosso 
organismo e manutenção da vida? Você deve se lembrar que alguns eventos 
inconscientes são controlados por ele, veja a seguir alguns exemplos de como ele 
se mantém ativo em nosso cotidiano: 
Se você já encostou a mão em uma panela quente, deve se lembrar da 
reação que teve e, a partir de agora, saber que o sistema nervoso é 
extremamente ativo nesse processo. Ainda, se pratica ou já praticou exercícios 
físicos também deve saber que o controle do movimento, a execução e até 
mesmo o ajuste/correção deste é determinado por vias nervosas. Quer mais alguns 
exemplos essenciais? Sabia que a cada respiração sua o sistema nervoso está 
envolvido? Ou ainda, que no processo de aprendizagem durante sua dedicação 
aos estudos ele também se mantém relevante? Pois bem, te convido então a 
relembrarmos os conceitos básicos de fisiologia nesse módulo! 
 
Fisiologia do sistema nervoso 
O sistema nervoso determina ao nosso organismo a possibilidade de interagir 
tanto com o meio interno, quanto com o meio externo graças à sua capacidade 
de interpretar um estímulo, processar essa informação sensorial, planejar e 
determinar comportamentos adequados. Para exercer essas atividades se divide 
em sistema nervoso central (SNC) e sistema nervoso periférico (SNP) 1–3. 
O central é composto pelo encéfalo (cérebro, cerebelo e tronco encefálico) 
e pela medula espinal, estruturas estas que são finamente protegidas por meninges 
(dura-máter, araquinóide e pia-máter – sendo essa última a mais interna). O 
cérebro é a região mais desenvolvida do encéfalo e possui dois hemisférios (direito 
 
7 
 
e esquerdo), os quais são subdivididos em cinco lobos: frontal, parietal, temporal, 
occiptal e da ínsula. De maneira geral, o hemisfério direito do cérebro recebe e 
controla comportamentos/movimentos do lado esquerdo do corpo e o hemisfério 
esquerdo, seguindo o mesmo raciocínio, relaciona-se ao lado direito. O cerebelo 
desempenha funções associadas à detecção e correção de movimentos, bem 
como de controle dos reflexos posturais, além de promover o aprendizado de 
movimentos 1–3. 
O tronco encefálico é a região do SNC que conecta o encéfalo à medula 
espinal e divide-se em mesencéfalo, ponte e bulbo (sendo esta última a região 
mais próxima à medula); é imprescindível à vida, pois também coordena funções 
vitais como a respiração, controle de temperatura, frequência cardíaca, pressão 
arterial e outras. Além disso, em conjunto com a medula espinal, tem uma 
importante função condutora de informações vindas da periferia (pele, músculos, 
articulações) para o encéfalo (vias ascendentes), bem como de comandos 
originados do encéfalo para aperiferia (vias descendentes). A medula espinal 
também é capaz de receber estímulos e respondê-los sem o auxílio das regiões 
mais superiores (encéfalo) o que caracteriza as chamadas respostas reflexas: por 
exemplo, ao colocar a mão em alguma superfície muito quente e ter o 
comportamento rápido de retirá-la (esse reflexo foi transmitido da periferia para a 
medula, sem acessar o encéfalo e retornou como um ato reflexo de 
comportamento) 1–3. 
O SNP se divide em sistema nervoso autônomo (simpático e parassimpático) 
e sistema nervoso somático (aferente/ascendente, associado à porção sensorial e 
eferente/descendente, associado à motricidade) e é responsável por realizar a 
comunicação entre a periferia de forma ascendente/aferente (em direção às 
regiões centrais–SNC) ou de maneira descendente/eferente (em direção à 
periferia–meio interno ou externo). 
As estruturas que compõem o SNP são os nervos (axônios – veja no texto 
adiante) e gânglios (local que marca a sinapse entre neurônios para acessar o 
tecido periférico; é preenchido pelo corpo celular – veja no texto adiante). No 
 
8 
 
caso do sistema nervoso autônomo as características dos nervos e gânglios 
definem se a via faz parte da porção simpática ou parassimpática. Os neurônios 
que partem do SNC e localizam-se antes dos gânglios são denominados de pré-
ganglionares que são mais longos no sistema parassimpático, pois os gânglios 
estão dispostos mais próximos aos tecidos periféricos, ou mesmo dentro deles; já no 
sistema nervoso simpático, as fibras pré-ganglionares são mais curtas, pois os 
gânglios estão mais distantes dos tecidos periféricos e próximos das estruturas do 
SNC1,3,4. 
No sistema autônomo temos então dois pontos principais de comunicação: 
entre o neurônio pré e pós-ganglionar e entre o neurônio pós-ganglionar e o tecido 
periférico. Essa comunicação é conhecida como sinapse e será descrita, 
relembrada e discutida posteriormente. A sinapse entre as fibras pré e pós-
ganglionares ocorre através do neurotransmissor acetilcolina (tanto no sistema 
simpático quanto no parassimático); que se mantém na segunda sinapse apenas 
do sistema parassimpático. Já no sistema simpático, a segunda sinapse é mediada 
pela noradrenalina1,3,4. Veja no quadro (Quadro 1) a seguir as principais 
características que definem os efeitos finais do sistema nervoso autônomo na 
periferia: 
Quadro 1: Principais características que definem os efeitos finais do sistema nervoso autônomo 
 
 
 
 
 
 
 
 
Elaborado pelo próprio autor 
 
9 
 
Na porção sensorial do SNP somático, determinam-se tanto as sensações, 
caracterizadas pela visão, olfação, gustação, audição e somestesia (tato), quanto 
sua percepção, ou seja, além de decodificar a sensação, o sistema nervoso é 
capaz de associar e identificar a presença de alguma vivência anterior acerca 
dessa mesma sensação. Isso é possível a partir de células sensoriais que são 
específicas para cada uma dessas modalidades. Também são conhecidas como 
células especializadas (ou receptores sensoriais) que podem ser de 5 tipos 
diferentes: 1. Mecanorreceptores (sensíveis a estímulos mecânicos e vibratórios); 2. 
Quimiorreceptores (sensíveis a estímulos químicos presentes no ar, em alimentos e 
em bebidas, por exemplo); 3. Fotorreceptores (sensíveis a estímulos luminosos); 4. 
Termorreceptores (sensíveis a variação térmica) e 5. Nocirreceptores (sensíveis a 
estímulos de diferentes energias, ativados quanto em extrema intensidade, com 
finalidade de alertar perigo). A partir da decodificação determinada por esses 
receptores sensoriais, a informação é transmitida a um neurônio por meio de 
impulsos elétricos de tal forma que o sistema nervoso possa compreender o 
estímulo e sua intensidade e, em seguida, essa informação segue à regiões 
específicas do córtex cerebral para que se determine um comportamento ou 
resposta pertinente1,3,4. 
 
Células que compõem o sistema nervoso central 
Existem dois principais grupos de células que compõem o SNC, na região do 
encéfalo: neurônios e células da glia (astrócitos, oligodendrócitos e micróglia). 
Apesar de, em média, um encéfalo humano ter uma quantidade muito maior de 
células da glia do que de neurônios, esses últimos continuam sendo as principais 
células do SNC; responsáveis pelas percepções, transmissão de informações e 
geração de comportamentos, mas isso não significa que as células da glia não 
possuam sua importância, já que desempenham funções imprescindíveis para 
isolamento, sustentação e, inclusive, nutrição dos neurônios1–4. 
Os neurônios (Figura 1) são células excitáveis e especializadas em 
comunicação e sinalização por serem capazes de receber, processar e transmitir 
 
10 
 
estímulos. São constituídos pelos dendritos, axônio e corpo celular (ou soma), sendo 
essa última a região que abriga seu núcleo e a maior parte de suas organelas. As 
primeiras estruturas a receberem um estímulo são os dendritos, de onde segue 
para a região do corpo celular e, posteriormente, ao axônio. O axônio é 
considerado um prolongamento do corpo celular e é capaz de fazer a transmissão 
do estímulo para a célula seguinte. Temos também a bainha de mielina e os nodos 
de Ranvier que serão discutidos mais adiante, mas exercem função significante no 
processo de propagação do estímulo1–4. 
Ao longo de toda nossa vida somos capazes de ativar um processo 
conhecido como neurogênese, o que há tempos não se acreditou ocorrer. Esse 
processo pode ser determinado por estímulos hormonais e pela prática de 
exercícios físicos: atualmente sabe-se que a redução do estímulo à neurogênese 
pode estar associada ao desenvolvimento de doenças neurológicas1–4. 
 
Figura 1: Estruturas do neurônio 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Adaptado de imagem disponível na web 
 
Os astrócitos (Figura 2) apresentam inúmeros prolongamentos e são 
imprescindíveis para o suporte, crescimento e desenvolvimento dos neurônios: são 
 
11 
 
responsáveis pela sua nutrição (captam nutrientes da circulação sanguínea e 
entregam para os neurônios e demais células do SNC); controlam a composição 
iônica/ambiente químico do meio que banha os neurônios; possuem funções 
antioxidantes e auxiliam no controle da comunicação entre as células do SNC 
(sinapses), bem como no controle de neurotransmissores (glutamato e ácido-y-
aminobutírico-GABA)1–4. 
Os oligodendrócitos (Figura 2) possuem como principal função a formação 
da bainha de mielina, uma estrutura de extrema importância para o revestimento 
dos axônios dos neurônios e um importante facilitador da transmissão do impulso 
elétrico de um neurônio para o outro1–4. 
Micróglia (Figura 2) compõe um grupo de células pequenas e alongadas, 
derivadas de macrófagos (células do sistema imune com função fagocítica), 
durante o desenvolvimento do tubo neural e, portanto, representam um sistema de 
defesa com capacidade de fagocitar e apresentar antígenos, podendo estar 
ativa numa situação anormal e na presença de eventos inflamatórios (devido à 
presença de citocinas, quimiocinas e radicais livres)1,3,5. 
 
Figura 2: Tipos celulares que compõem o SNC 
 
 
 
 
 
 
 
 
Adaptado de imagem disponível na web 
 
12 
 
Comunicação entre as células do sistema nervoso 
Para compreendermos alguns dos principais mecanismos de comunicação 
entre as células do sistema nervoso é necessário relembrar uma importante 
propriedade dos neurônios, quanto à sua excitabilidade. De maneira geral, as 
células apresentam uma característica elétrica conhecida por potencial de 
membrana que é determinada por algumas propriedades apresentadas. No caso 
dos neurônios temos a presença de maior permeabilidade ao K+ (o que 
proporciona maior passagem desse elemento ao meio extracelular) e a presença 
de ânions no meio intracelular (elementos químicos com carga elétrica negativa). 
Esses aspectos tornam o meio intracelular dos neurônios eletricamentenegativos, 
levando a um potencial de membrana próximo de -70mV1,3,4. 
De modo geral, ao receber um estímulo, o neurônio é capaz de abrir canais 
para Na+, o que permite rápida entrada desse elemento e induz a transformação 
de sua carga elétrica, ou seja, há influxo de carga positiva e, portanto, o potencial 
de membrana vai de -70mV para próximo de +35mV, caracterizando, então, o 
potencial de ação1,3,4. 
 
Figura 3: Despolarização de um neurônio após recebimento de um estímulo 
 
 
 
 
 
 
 
Adaptado de imagem disponível na web 
 
13 
 
 
A presença de canais iônicos (para Na+ ou para K+) ocorre apenas nas 
regiões sem mielina (conhecidas como nodos de Ranvier) e, por isso, diz-se que um 
neurônio mielinizado apresenta potencial de ação saltatório1,3,4. 
As células do sistema nervoso podem se comunicar por meio de 6 diferentes 
mecanismos: 
1. Comunicação endócrina - um mecanismo de comunicação dependente 
da circulação sanguínea, quando substâncias que acessam o sangue 
interagem com alguma célula nervosa1,2,4; 
2. Comunicação parácrina - substâncias atuam na célula vizinha da que a 
secretou1,2,4; 
3. Comunicação autócrina - substâncias atuam na própria célula que a 
secretou1,2,4; 
4. Comunicações específicas - contrariamente aos tipos de comunicação 
descritos anteriormente, estas são específicas para as células do sistema 
nervoso: 
Comunicação elétrica 
Também conhecida como efática é um tipo de comunicação específica 
mais rápida que existe e é caracterizada pela transmissão de corrente elétrica de 
uma célula nervosa a outra, evento esse proporcionado pela proximidade entre a 
membrana das duas células que se comunicam, sem deixar espaço entre elas. 
Esse tipo de comunicação é bidirecional1,2,4; 
Sinapse elétrica 
Caracteriza um outro mecanismo de comunicação específico entre as 
células do sistema nervoso onde duas células interagem à partir de canais (junções 
do tipo gap) que comunicam o meio interno de uma com o de outra. Esse tipo de 
comunicação também é bidirecional1–4; 
Sinapse química 
 
14 
 
Nesse mecanismo de comunicação específico do sistema nervoso há 
participação de neurotransmissores (substâncias químicas sintetizadas por 
neurônios e armazenadas em vesículas). É considerado o tipo mais lento de 
comunicação, mas isso não significa que seja o pior, já que possui uma importante 
especificidade e é o tipo mais predominante nos seres humanos. O neurônio pré-
sináptico é aquele que produz os neurotransmissores e os armazena em vesículas; o 
neurônio pós-sináptico é aquele que possui receptores específicos para iteração 
com os neurotransmissores; a fenda sináptica é a região/espaço entre os neurônios 
pré e pós. É um tipo de comunicação unidirecional1–4. 
 
Existem dois principais tipos de receptores no neurônio pós-sináptico capazes 
de interagir com os neurotransmissores: metabotrópicos ou ionotrópicos. Os 
metabotrópicos estão associados à proteína G e ocorrem em sinapses que exigem 
complexidade e que, muitas vezes, necessita de modificação na expressão de 
genes; já os ionotrópicos se caracterizam como canais iônicos e estão associados 
a respostas mais rápidas, pois induzem modificação elétrica na célula pós-
sináptica1–4. 
 
Neurotransmissores 
Os neurotransmissores são substâncias produzidas pelo neurônio pré-sináptico 
e que desempenham suas funções ao interagirem com receptores específicos 
expressos nos neurônios pós-sináptico. O neurônio que o produz, inclusive, pode 
receber uma denominação específica a depender dessa especificidade de 
produção: por exemplo, aqueles que sintetizam dopamina como neurotransmissor 
são chamados de neurônios dopaminérgicos; os que sintetizam glutamato, são os 
glutamatérgicos e GABA, os GABAérgicos. Essas substâncias são classificadas de 
acordo com sua natureza química, veja alguns dos exemplos a seguir: 
 
 
 
15 
 
 
Quadro 2: Classificação química e exemplos dos neurotransmissores 
Classe de 
neurotransmissores 
Exemplos 
Monoaminas Dopamina, noradrenalina e adrenalina 
Indolaminas Acetilcolina, serotonina e histamina 
Aminoácidos Glutamato, ácido-y-aminobutírico (GABA) e 
glicina 
Gases Óxido nítrico e monóxido de carbono 
Purinas ATP e ADP 
Peptídeos Neuropeptídeo Y, encefalinas e endorfina 
Elaborado pelo próprio autor 
 
Dopamina 
A dopamina, do grupo das monoaminas, é derivada do aminoácido tirosina 
e considerada um importante neurotransmissor envolvido no sistema de 
recompensa. Sua síntese ocorre à partir da enzima tirosina hidroxilase, que catalisa 
a reação de tirosina a L-DOPA e é dependente de ferro e oxigênio para sua 
ativação. Em seguida a L-DOPA é descarboxilada pela enzima L-aminoácido 
aromático descarboxilase, que é dependente de vitamina B6, formando, 
finalmente, a dopamina (Figura 4)5. 
Essa síntese ocorre em neurônios conhecidos como dopaminérgicos. Neles, a 
dopamina fica armazenada em vesículas até que seja estimulada sua liberação à 
fenda sináptica. Quando liberada, é capaz de interagir com receptores 
metabotrópicos pós-sinápticos de 5 tipos (D1, D2, D3, D4 e D5) para exercer seus 
efeitos biológicos. Após interagir com seu receptor, a dopamina pode ser 
recaptada para o neurônio pré-sináptico (por meio de transportadores) ou, ainda, 
 
16 
 
ser degradada pelas enzimas MAOB (monoamina oxidase B) e aldeído 
desidrogenase1–3. 
Disfunções nas vias de sinalização desse neurotransmissor estão fortemente 
associadas a melancolina, alterações cognitivas e anedonia (perda da 
capacidade de sentir prazer, próprio de estados depressivos). Redução em seus 
níveis podem estar associados a anormalidades como a doença de Parkinson, 
bem como a condições como esquizofrenia, transtorno bipolar, desordens de 
hiperatividade e déficit de atenção 5,6. 
 
Noradrenalina e adrenalina 
A noradrenalina (Figura 4), também chamada de norepinefrina, é produzida 
em algumas regiões do tronco encefálico e possui atividade importante nos 
sistemas de aprendizado, memória e controle do estado afetivo. Conforme já 
discutido, é o principal neurotransmissor liberado por neurônios simpáticos pós 
ganglionares nos tecidos periféricos. Sua síntese também é dependente do 
aminoácido tirosina e passa pela mesma via que origina a dopamina, com 
continuidade à transformação da dopamina em noradrenalina, por meio da 
atividade da enzima dopamina ß-hidroxilase, dependente de vitamina C (como 
importante doador de elétrons na forma ascorbato). A noradrenalina, também 
armazenada em vesículas, após ser liberada atua em receptores adrenérgicos (α e 
ß, com diferentes subtipos) e boa parte é recaptada pela célula pré-sináptica 
(aproximadamente, 90%). Em neurônios conhecidos como adrenérgicos, a 
noradrenalina é convertida em adrenalina (ou epinefrina) à partir da enzima 
feniletanolamina N-metiltransferase1,2,4,5. 
 
 
 
 
 
 
17 
 
Figura 4: Via de síntese dos neurotransmissores dopamina, noradrenalina e adrenalina 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Elaborado pelo próprio autor 
Acetilcolina 
Acetilcolina (Figura 5) é o neurotransmissor que caracteriza o sistema nervoso 
autônomo parassimpático e responsável pela comunicação entre os neurônios pré 
e pós ganglionares (tanto no sistema simpático quanto parassimpático), além de 
estar presente em algumas sinapses a nível de SNC e modular atividades 
relacionadas à aprendizado e memória, por exemplo. Sua síntese ocorre a partir 
da colina (principalmente encontrado em alimentos de origem animal, tais como 
ovo, leite e carnes) e da acetil coenzima A. A enzima colina acetil transferase 
transfere o grupamento acetil da coenzima A para a colina, resultando em 
acetilcolina e coenzima A (vitamina B5). A acetilcolina pode se ligar a receptores 
nos neurônios pós-sinápticos (metabotrópicos: M1, M2, M3, M4 e M5 ou 
ionotrópicos) e, depois de exercer seus efeitos biológicos, pode ser degradada 
pelas enzimas acetilcolinesterase oubutirilcolinesterase1,2,4–6. 
 
 
 
18 
 
Figura 5: Via de síntese da acetilcolina 
 
 
 
 
 
Elaborado pelo próprio autor 
Serotonina 
A serotonina (Figura 6) é um neurotransmissor sintetizado a partir do 
aminoácido essencial L-triptofano, a nível de SNC, em núcleos presentes no tronco 
encefálico (ponte e mesencéfalo). Permanece na circulação sanguínea 
complexada a albumina e é capaz de atravessar a barreira hematoencefálica por 
meio de transportadores de aminoácidos. Dentre as principais funções que 
desempenha, pode-se destacar sua capacidade de modular a ingestão 
alimentar, termorregulação, ciclo vigília/sono, memória e regulação de humor, 
sendo que desajustes na sua produção/atuação associam-se ao desenvolvimento 
de transtornos de humor, tais como a depressão e transtorno bipolar1,2,6. 
Para que haja produção central de serotonina, o L-triptofano proveniente da 
alimentação compete com outros aminoácidos para atravessar a barreira 
hematoencefálica (leucina, isoleucina, valina, tirosina, fenilalanina e metitonina), e 
normalmente está em menor concentração. Ao acessar o SNC o L-triptofano pode 
ser utilizado para a síntese de serotonina ou desviado para a via das quinureninas, 
o que origina ácido quinolínico, ácido quinurênico ou nicotinamida. Considerando 
a primeira via (de formação da serotonina) o L-triptofano é convertido a 5-
hidroxitriptofano (5-HTP), a partir da atuação da enzima triptofano hidroxilase, a 
qual é dependente das vitaminas B3, B9 e B12, bem como de ferro, cobre, 
magnésio e oxigênio. Desta etapa, 5-HTP originará a serotonina (5-HT) por ação da 
enzima L-aminoácido aromático descarboxilase, dependente de vitamina B6 5. 
 
19 
 
A serotonina pode atuar em 10 tipos de receptores na célula pós-sináptica 
(metabotrópicos: 5-HT1, 5-HT2, 5-HT4, 5-HT5, 5-HT6, 5-HT7 e ionotrópicos: 5-HT3- A, B e 
C) e depois de exercer seus efeitos biológicos pode ser recaptada pelo neurônio 
pré-sináptico, ou degradada pela enzima MAOA e aldeído desidrogenase. Ainda, 
a serotonina também pode ser utilizada para a via de síntese da melatonina, na 
glândula pineal (que será discutido posteriormente)1. 
Além da síntese de serotonina pelo SNC (que é de 2% e ocorre em regiões 
específicas do tronco encefálico – núcleos da Rafe – de onde se disseminam para 
demais partes do SNC), outros locais podem sintetizá-la, como as células 
enterocromafins do epitélio intestinal, com a finalidade de controlar movimentos 
peristálticos e secreção, além de também ser utilizada para síntese de melatonina 
que ocorre localmente. Diferentemente da melatonina produzida pela glândula 
pineal, que coordena a ritimicidade circadiana e a arquitetura do sono, a 
melatonina intestinal associa-se a efeitos antioxidantes importantes 4. 
 
Figura 6: Via de síntese da serotonina 
 
 
 
 
 
 
Elaborado pelo próprio autor 
Curiosidades.... 
A serotonina é capaz de agir sobre neurotrofinas, proteínas presentes no cérebro 
que estimulam o crescimento de neurônios, tais como a NGF (nerve growth factor), 
que inicia a proliferação de redes nervosas e aumenta a quantidade de axônios e 
dendritos nos neurônios; além disso, minimiza o estresse oxidativo, inibe a 
 
20 
 
degeneração de circuitos neuronais e melhora a síntese da enzima responsável 
pela produção de noradrenalina. Também estimula a formação de BDNF (brain 
derived neurotrofic factor), importante modulador do processo de memória 
intermediária e neurogênese! 
O magnésio foi citado como um dos importantes nutrientes necessários para 
a formação de serotonina. Para além dessa função, é um mineral fundamental 
que pode ser estocado nos ossos e/ou músculos, e cuja excreção pode ocorrer via 
urinária ou fecal. É importante para ativação de enzimas envolvidas em diversas 
funções, como por exemplo, as hidrolases responsáveis pela ativação da vitamina 
D. Ainda, é fundamental para manutenção do relaxamento muscular e, por isso, o 
equilíbrio entre os minerais cálcio e magnésio é imprescindível nesse quesito. 
Contempla a estrutura química da molécula de ATP e sua deficiência pode 
prejudicar o aporte de energia ao indivíduo. As câimbras musculares parecem, 
também, ser influenciadas pela deficiência de magnésio. Este mecanismo está 
relacionado ao desequilíbrio da função da Na+/K+ ATPase, presente nas células 
musculares (e em todos os outros tipos celulares), que necessita de magnésio. Na 
deficiência deste mineral o transporte de K+ para o meio intracelular é ineficiente o 
que ocasiona os episódios das câimbras. Os sinais de insuficiência de magnésio 
são: distúrbios de humor, ansiedade, déficit de atenção, insônia, irritabilidade, 
perda de memória, convulsões, fraqueza, mialgia, tremores da pálpebra, tontura, 
náuseas, irritabilidade muscular e dificuldade para evacuar. 
 
Quadro 3: Necessidades de ingestão diária de Magnésio 
MAGNÉSIO: Ingestão Diária de Referência (DRI) 
Estágios da vida Idade RDA (mg) UL (mg) 
Recém-nascidos 
0-6 meses AI: 30 ND 
7-12 meses AI: 75 ND 
Crianças 
1-3 anos 80 65 
4-8 anos 130 110 
Homens 9-13 anos 240 350 
 
21 
 
14-18 anos 410 350 
19-30 anos 400 350 
31-50 anos 420 350 
51-70 anos 420 350 
> 70 anos 420 350 
Mulheres 
9-13 anos 240 350 
14-18 anos 360 350 
19-30 anos 310 350 
31-50 anos 320 350 
51-70 anos 320 350 
> 70 anos 320 350 
Gestantes 
Até 18 anos 400 350 
19-30 anos 350 350 
31-50 anos 360 350 
Lactantes 
Até 18 anos 360 350 
19-30 anos 310 350 
31-50 anos 320 350 
ANVISA: Níveis máximos de segurança para adultos de 700 mg 
Lactentes: 10 mg/Kg de peso corporal até o limite de 80 mg 
Pediátricos: 10 mg/Kg de peso corporal até o limite de 200 mg 
Adaptado de 6,7 
 
Glutamato 
Esse neurotransmissor é amplamente sintetizado no córtex cerebral e de 
extrema importância para seu funcionamento, com funções na plasticidade 
sináptica, aprendizado e memória. Por ser um neurotransmissor excitatório deve ser 
mantido sob fino controle, já que seu desbalanço pode induzir diversas 
anormalidades, desde morte cerebral, quando relacionado à concentrações 
 
22 
 
excessivas, ou se numa situação contrária, a depressão. Sua síntese ocorre à partir 
do aminoácido glutamina, que acessa o neurônio através dos astrócitos, ou à 
partir da transaminação do α-cetoglutarato (intermediário do ciclo do ácido 
cítrico). A enzima glutaminase é responsável por realizar a hidrólise de glutamina 
em glutamato e amônia1,3,5. 
Após ação do glutamato na célula pós-sináptica em receptores 
metabotrópicos ou ionotrópicos, pode ser recaptado pelo neurônio pré-sináptico 
ou pelas células da glia, onde sofrerá ação da enzima glutamina sintase e será 
novamente convertido em glutamina ou metabolizado a α-cetoglutarato. Dos 
receptores de glutamato já identificados, os ionotrópicos podem ser do tipo AMPA 
ou NMDA, sendo este último o mais estudado e sua modulação está associada a 
anormalidades, tais como a depressão. Receptores NMDA, quando ativados pelo 
glutamato, induzem a abertura de canais não seletivos para cátions (elementos 
químicos com carga positiva) e permite a entrada desses elementos, o que 
promove a despolarização desta célula5,6. 
 
Ácido-y-aminobutírico- GABA 
O GABA é sintetizado a partir do glutamato, por meio da enzima glutamato 
descarboxilase (dependente de B6). No neurônio pós-sináptico o GABA pode 
atuar em receptores metabotrópicos ou ionotrópicos e provocará inibição no 
neurônio pós-sináptico. Após sua ação, o GABA pode ser captado por células da 
glia e degradado, através da enzima GABA transaminase, o que origina 
intermediários do ciclo do ácido cítrico. Contrariamente ao descrito para 
glutamato, uma vez que o GABA interage com seus receptores pós-sinápticos, 
induz abertura de canais aniônicos (elementos químicos com carga negativa), o 
que permite a entrada de carga negativa e inibe a despolarização da célula pós-
sinaptica1,5. 
 
 
 
23 
 
GlicinaGlicina também é considerado um neurotransmissor inibitório que participa 
do processamento de informações motoras e sensoriais e pode ser liberada 
juntamente do GABA. Sua síntese ocorre a partir da serina e sua ação em 
receptores ionotrópicos da célula pós-sináptica inibe ou dificulta o surgimento de 
potencial de ação, impedindo a propagação do impulso. Entretanto, também 
pode exercer efeitos excitatórios relacionados à exacerbação de ação dos 
receptores NMDAs: em determinadas regiões do SNC, a glicina estimula a 
neurotransmissão excitatória glutamatérgica. Após sua ação a glicina pode ser 
recaptada pela célula pré-sináptica ou pelas células da glia1,2. 
 
Curiosidades.... 
Dos neurotransmissores estudados estima-se que 80% das sinapses químicas 
utilizam glutamato como principal e, portanto, há significante possibilidade da 
célula pós-sináptica ser ativada e gerar um potencial de ação e que de 10 a 15% 
das sinapses químicas utilizem GABA, com menor probabilidade de geração de 
potencial de ação no neurônio pós-sináptico. O que falta para completar 100% 
utiliza os demais neurotransmissores, mas isso não significa que sejam menos 
importantes do ponto de vista funcional! 
Ainda em relação à comunicação por sinapses, existe uma modalidade de 
sinapse que foi mencionada ao longo do texto em que há participação das 
células da glia. Essa categoria é denominada de sinapse tripartite que pode ser 
caracterizada, por exemplo, pela degradação do neurotransmissor através da 
célula glial (conforme já descrito no texto). 
Outra questão de extrema importância em relação às sinapses é a 
plasticidade: ou seja, o quão plásticas podem ser essas comunicações a depender 
de sua utilização ou não. Em outras palavras, vejamos os exemplos: Situação 1- ao 
estudar determinado tema mais de uma vez, espera-se que haja reforço das 
sinapses inicialmente geradas; Situação 2- se estudar uma única vez determinado 
 
24 
 
assunto e nunca mais entrar em contato com aquelas informações, pode haver o 
desaparecimento das sinapses inicialmente geradas; Situação 3- ao se adicionar 
novas informações ao tema que já foi estudado mais de uma vez espera-se formar 
novas sinapses. 
Você pode imaginar que nosso cérebro é um órgão extremamente ativo e 
que possui intensa demanda metabólica! Pois bem, por esse motivo é dependente 
de um excelente mecanismo de irrigação sanguínea para seu adequado aporte 
nutricional, oferta de oxigênio e, até mesmo retirada de metabólitos. Ele pesa, 
aproximadamente, 2% do peso corporal total e consome cerca de 20% do 
oxigênio do corpo. Essa característica aumenta de maneira significante a 
produção de radicais livres, tais como as espécies reativas de oxigênio (EROs). 
Além disso, o cérebro é um local com elevada concentração dos minerais ferro e 
cobre que são responsáveis por catalisar reações de Fenton e Haber-Weiss que, 
por sua vez, também aumentam a produção de EROs. Outro ponto de extrema 
relevância é o fato de ser uma região rica em ácidos graxos poli-insaturados que 
são passíveis de oxidação. Neste sentido, o cérebro é intensamente susceptível ao 
processo de estresse oxidativo que, quando em desequilíbrio, pode desencadear 
diversas doenças neurodegenerativas ou mesmo anormalidades como depressão, 
ansiedade e outros transtornos comportamentais. 
 
 
 
25 
 
MÓDULO II 
 
Neste módulo discutiremos uma relação que vem crescendo de maneira 
constante através da interação entre intestino e cérebro, sendo mais evidente a 
relação entre a saúde intestinal e comportamentos: tanto alimentar quanto 
emocional. Trouxe aqui uma abordagem simplificada dessa relação que será mais 
detalhada nas vídeo-aulas! A ideia geral deste tópico é demonstrar a importância 
da alimentação para uma saúde intestinal adequada e, como consequência, 
prevenção ou melhora de sintomas relacionados às questões mentais. Nós, 
enquanto nutricionistas ou futuros nutricionistas, devemos nos preocupar com o 
intestino de nosso paciente como um importante determinador de sua saúde ou 
de anormalidades das mais diversas modalidades! 
 
Eixo intestino-cérebro 
Cada vez mais se discute a importância de um estilo de vida adequado 
para a promoção da saúde geral, inclusive intestinal e sabe-se da importância da 
alimentação nesse quesito, principalmente em relação à composição dos 
microrganismos que ali habitam (microbiota). 
A homeostase do organismo também é construída através do eixo intestino-
cérebro determinada por características neurais, endócrinas e imunes; sistemas 
esses que amadurecem desde o nascimento à partir da composição da 
microbiota8. Esse eixo exibe uma comunicação bidirecional capaz de realizar 
modulações significantes a depender do direcionamento estabelecido: pode 
coordenar motilidade e secreção intestinais uma vez que haja uma comunicação 
“descendente”, ou seja, do cérebro ao intestino, bem como coordenar ingestão 
alimentar, fome e saciedade numa comunicação “ascendente”, ou seja, do 
intestino ao cérebro. Portanto, o eixo cérebro-intestino, envolve o SNC e o 
ambiente intestinal, incluindo as células que o constituem, a microbiota, bem 
como os substratos energéticos necessários para mantê-los e os metabólitos e 
produtos químicos sintetizados à partir da utilização desses substratos. Essa 
 
26 
 
comunicação, para ser melhor definida, pode ser denominada de eixo microbiota-
intestino-cérebro e é determinado pelo sistema nervoso entérico (SNE) que envia e 
recebe informações através de caminhos neurais (descendentes e/ou 
ascendentes) e através da circulação sanguínea9,10. 
A disfunção desse sistema de comunicação pode impactar de maneira 
significante e promover consequências fisiopatológicas relevantes11,12. 
Essa comunicação torna cada vez mais próxima a relação entre a saúde 
intestinal e a ocorrência de doenças que acometem o SNC, o que, logicamente, 
culmina com hábitos de vida. Pesquisas tem demonstrado a correlação entre 
alimentação e saúde intestinal e sua conexão com estresse, depressão e 
ansiedade. Portanto, o tratamento desses transtornos exigem uma equipe 
multiprofissional e deve incluir estratégias nutricionais relacionadas ao tratamento 
intestinal13. 
A microbiota intestinal humana é composta por cerca de 100 trilhões de 
microorganismos que atuam com intuito de auxiliar na manutenção e revestimento 
intestinal e pode ser influenciada por aspectos genéticos, idade, gênero, hábitos 
alimentares e pelo estresse14–19. 
Esses microorganismos possuem a capacidade de produzir compostos que 
atuam a nível de SNC e fazem parte da geração de comportamentos do 
hospedeiro, bem como função cognitiva e interação social. Quando a 
composição adequada da microbiota intestinal é alterada, caracteriza-se a 
chamada disbiose intestinal que, por sua vez, pode interferir de maneira negativa 
no processo alimentar e biodisponibilidade de alimentos, além de colaborar para 
o aumento da permeabilidade intestinal, o que exacerba ainda mais essa 
interferência e promove interações que possam manifestar-se a nível sistêmico20 
inclusive ao atingir o SNC através da barreira hematoencefálica21. Assim, sob essa 
condição, há modificação do padrão neuroquímico do indivíduo22, positiva 
correlação entre aumento de permeabilidade intestinal, estresse e 
comportamento emocional como um todo23,24. 
 
27 
 
O padrão alimentar característico da sociedade atual que, de modo geral, 
se caracteriza pelo reduzido consumo de alimentos in natura e minimamente 
processados, por exemplo, frutas e vegetais, contribui para a deficiência de 
vitaminas e minerais, e minimiza a oferta de fibras, que são importantes substratos 
para manutenção de uma microbiota saudável. Além disso as deficiências 
nutricionais estão cada vez mais associadas aos transtornos mentais: no primeiro 
módulo estudamos a importância de muitos nutrientes como cofatores para o 
funcionamento de enzimas-chavesna via de síntese de neurotransmissores. 
Na conduta clássica para modulação de saúde intestinal os prébioticos 
(fibras) são imprescindíveis para obtenção de resultados positivos, pois auxiliam na 
manutenção dos probióticos (microbiota), para que exercem benefícios ao 
hospedeiro25,26. 
Os gêneros primários de probióticos incluem Bifidobacterium Gram positivos e 
Lactobacillus. Esses não possuem lipopolissacarídeos em sua estrutura celular e, 
portanto, não são capazes de ativar o sistema inflamatório, além de auxiliarem no 
processo de tolerância oral que inclui uma resposta imune apropriada e produção 
de citocinas anti-inflamatórias27. 
Nessa linha de raciocínio, estão os psicobióticos, probióticos que promovem 
benefícios específicos para a saúde mental à partir de interação com a microbiota 
intestinal e são capazes de produzir neurosubstâncias como GABA e serotonina, 
além de modular o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA) que está associado ao 
estresse. Para que essa produção ocorra alguns substratos são necessários, tais 
como as fibras (prebióticos), metabolizadas a ácidos graxos de cadeia curta 
(acetato, butirato e propionato), de extrema importância para a homeostase do 
organismo hospedeiro e que praticamente não estão disponíveis em fontes 
alimentares. Pode-se considerar, portanto, que os psicobióticos apresentam efeitos 
benéficos aos indivíduos que sofrem de anormalidade psiquiátricas28. Veja no 
quadro a seguir (quadro 4) algumas evidências que demonstram o uso de 
psicobióticos no tratamento de depressão e ansiedade: 
 
 
28 
 
Quadro 4: Relação de psicobióticos, seus principais efeitos e referências bibliográficas 
Psicobióticos Efeitos principais Referência 
Lactobacillus helveticus e 
Bifidubacterium longum 
Voluntários saudáveis apresentaram 
menos ansiedade e depressão 
28 
Bifidobacterium longum 
Gênero utilizado em modelo de colite 
com comportamento semelhante à 
ansiedade, promoveu efeito ansiolítico 
29 
Bifidubacterium e 
Streptococcus 
thermophilus 
Inibição na produção da citocina pró-
inflamatória TNFA 
30 
Lacatobacillus casei 
Shirota 
Reduz a expressão da citocina pró-
inflamatória TNFA em modelos animais 
31 
Lactobacillus rhamnosus 
Reduz corticosterona induzida pelo 
estresse e modula comportamento de 
ansiedade e depressão 
32 
 
Considerando os conhecimentos básicos obtidos nesses dois primeiros 
módulos podemos mergulhar nos aspectos fisiopatológicos e de assistência 
nutricional de doenças e distúrbios mentais. 
 
 
 
29 
 
MÓDULO III 
 
Nesse módulo iniciaremos com a depressão e para que possamos 
compreender um pouco das suas formas de tratamento, estudar os aspectos 
fisiopatológicos se faz muito necessário! 
 
Aspectos fisiopatológicos da depressão 
A depressão é uma classificação de transtorno de humor (alterações 
cognitivas e comportamentais) de característica crônica e recorrente. Estima-se 
que cada indivíduo tenha um risco de 17 a 20% de manifestar algum episódio 
depressivo ao longo de sua vida, sendo mais prevalente no gênero feminino, 
dentro de uma faixa etária de 25 a 44 anos33–37. 
A depressão é uma das doenças que mais gera custos, tanto sociais quanto 
pessoais, além de levar à incapacidade física funcional, com limitações nas 
atividades diárias, inclusive relacionada a produtividade no trabalho e no bem-
estar geral, com maior risco à morbidade e mortalidade por associar-se a diversas 
doenças não comunicáveis, tais como diabetes mellitus, doenças cardiovasculares 
e hipertensão, bem como a doenças neurodegenerativas38–44. Estima-se que, em 
2030, essa doença esteja como a principal causa de incapacitação45. 
A etiologia da depressão não está completamente esclarecida, mas sabe-se 
que possui influência tanto genética quanto ambiental para seu desenvolvimento. 
Características genéticas parecem associar-se a 40% de risco para o 
desenvolvimento de depressão, considerando-se, portanto, fatores ambientais os 
principais gatilhos para seu surgimento. Do perfil genético associado, o 
polimorfismo no gene de BDNF, enzima MAOA, da enzima triptofano hidroxilase e 
do transportador de serotonina (5-HTT) são os principais gatilhos e, dos fatores 
ambientais, o estresse crônico e precoce, bem como traumas emocionais são 
destaques46–51. 
 
30 
 
Uma das mais tradicionais hipóteses para o desenvolvimento da depressão 
remonta 1965 e denomina-se hipótese monoaminérgica, cuja teoria principal 
postulada pelo cientista Schildkraut era de que haveria redução dos 
neurotransmissores serotonina, noradrenalina e dopamina na fenda sináptica, o 
que provocaria o estado da doença52. À partir dessa hipótese, os medicamentos 
desenvolvidos para o tratamento da depressão foram baseados no aumento da 
concentração desses neurotransmissores no SNC35: 
a) inibidores seletivos da recaptação de serotonina: por inibir sua 
recaptação, através do bloqueio de receptores para serotonina no neurônio 
pré-sináptico, o neurotransmissor se mantém em maior concentração no 
meio extracelular e na fenda sináptica (exemplo: fluoxetina, paroxetina, 
fluvoxamina, sertalina, citalopram, escitalopram); 
b) inibidores da enzima MAO: há bloqueio da ação da enzima 
monoamina oxidase o que a torna indisponível para degradação dos 
neurotransmissores e aumenta sua concentração na fenda sináptica 
(exemplos: fenelzina, tranilcipromina, izocarboxazida); 
c) antidepressivos tricíclicos: há bloqueio da recaptação de 
serotonina, noradrenalina e dopamina, através da inibição de seus 
receptores na célula pré-sináptica, o que as mantém em maior 
concentração na fenda sináptica (exemplos: amitriptilina, nortriptilina, 
imipramina, desipeamina); 
d) antidepressivos atípicos: são aqueles que não se encaixam em 
nenhuma das demais classes I. inibidores seletivos da recaptação de 
noradrenalina e dopamina (exemplo: bupropiona) ou inibidores seletivos da 
recaptação de serotonina e noradrenalina (exemplos: venlafaxina, 
duloxetina) que por inibir sua recaptação, através do bloqueio de 
receptores no neurônio pré-sináptico, o neurotransmissor se mantém em 
maior concentração no meio extracelular e na fenda sináptica; II. 
antagonistas da serotonina (exemplos: trazodona, nefazodona) que 
interagem com receptores de serotonina do tipo 5-HT2. 
 
31 
 
Apesar de bem aceita, a hipótese de Schildkraut é considerada simplista 
perto das infinitas possibilidades de correlações e gatilhos para o desenvolvimento 
da depressão. Assim, novas hipóteses e teorias tem surgido acerca de explicar a 
fisiopatologia desta doença. 
Há dados que demonstram concentração excessiva de glutamato, a nível 
central e sistêmico, em pacientes com depressão53–56. O receptor ionotrópico para 
glutamato NMDA tem sido correlacionada com a fisiopatologia da depressão, 
quando antagonistas desses receptores parecem desenvolver efeitos 
antidepressivos. O excesso de glutamato provoca um aumento significante na 
entrada de cálcio para o meio intracelular e colabora com a morte do neurônio 
devido sua excitotoxicidade57,58. 
 
Curiosidade... 
Você entende o significado dos termos antagonista e agonista? Ao longo do 
texto esses termos serão amplamente abordados e é necessário que esses 
conceitos estejam claros: antagonista é uma substância que se liga a determinado 
receptor sem intuito de ativá-lo, ou seja, não promove o efeito final que o ligante 
potencial daquele receptor exerceria; agonista é uma substância capaz de se 
ligar ao receptor e ativá-lo, ou seja, de desencadear a resposta final que o ligante 
potencial daquele receptor exerceria! 
 
Outro gatilho bastante associado à fisiopatologia da depressão é o processo 
inflamatório e aumento de estresse oxidativo. Indivíduos com depressão parecem 
ter aumento significante de marcadores inflamatórios e, até mesmo, presença de 
doenças inflamatórias periféricas (por exemplo, intestino irritável, artrite reumatóidee esclerose múltipla)59–61. Pacientes com depressão apresentaram elevada 
concentração de proteína-C-reativa (PCR), das interleucinas 1 e 6 e do fator de 
necrose tumoral alfa (TNFA), além da reduzida concentração de citocinas anti-
inflamatórias, tais como a interleucina 1062–64. 
 
32 
 
Sinais inflamatórios periféricos exacerbados que atingem o SNC ativam a 
micróglia que, por sua vez, aumenta de maneira significante a produção de 
citocinas pró-inflamatórias e de radicais livres. Esses eventos recrutam astrócitos a 
perpetuar a resposta inflamatória, o que contribui para a redução de trofismo e 
maior apoptose de oligodendrócitos, os quais são susceptíveis à inflamação, e 
promove a desmielinização de neurônios (perda da bainha de mielina), 
prejudicando a neurotransmissão. O estresse oxidativo pode aumentar a expressão 
da enzima indolamina-2,3 dioxigenase (IDO), expressa e constantemente ativa em 
astrócitos e micróglia, e responsável por desviar o L-triptofano para a via das 
quinureninas e, portanto, reduzir sua conversão a serotonina65–68. 
Existem neurônios que também expressam IDO, além das células de alguns 
tecidos periféricos, tais como fígado, pulmão, placenta, rins e baço. Nos astrócitos 
a via das quinureninas gera L-quinurenina, convertida em ácido quinurênico que 
atua como antagonista do receptor NMDA, podendo inibir a liberação de 
glutamato. Na micróglia, há formação de ácido quinolínico que é agonista do 
receptor NMDA e contribui para excitotoxicidade do glutamato, tornando-se 
importante gatilho para o desenvolvimento da depressão66–68. 
A presença excessiva de radicais livres, que caracteriza uma condição de 
estresse oxidativo, também parece se relacionar ao desenvolvimento da 
depressão. De modo geral, o sistema antioxidante é capaz de coordenar/modular 
a produção de radicais livres, no entanto, há situações em que essa capacidade é 
modificada, por exemplo, quando há maior exposição do indivíduo a metais 
pesados ou até mesmo na prática exercícios físicos extenuantes. É importante 
lembrar que, apesar de nosso organismo dispor de um sistema antioxidante pela 
atividade de enzimas como catalase, superóxido dismutase e glutationa, alguns 
nutrientes como vitaminas A, C, E, carotenóides, flavonóiides, entre outros, são 
também considerados antioxidantes e a redução de atividade dessas enzimas, 
bem como a redução de consumo desses nutrientes pode colaborar para a 
ocorrência do estresse oxidativo69–73. 
 
33 
 
O estresse oxidativo influencia de maneira significante as funções celulares, 
desde a inativação de enzimas responsáveis pelo metabolismo, até oxidação de 
DNA, danos na integridade de membrana e morte celular. O cérebro é o órgão 
mais susceptível ao estresse oxidativo devido à elevada concentração de metais 
como o ferro e cobre, bem como a concentração de ácidos graxos 
poliinsaturados, que são altamente oxidáveis71,74–76. 
Além da depressão, diversas outras doenças podem compartilhar o gatilho 
do estresse oxidativo, por exemplo, as cardiovasculares, diabetes e câncer. As 
doenças neurodegenerativas também se associam de maneira significante, 
considerando a possibilidade de indução de morte celular provocada pelo 
excesso de radicais livres. Transtornos psiquiátricos, portanto, podem se instalar 
numa condição de destruição de neurônios e neurodegeneração. Estudos 
demonstram que em pacientes com depressão há aumento de radicais livres e 
menor atividade das enzimas antioxidantes, bem como de vitaminas C e E66,77–80. 
Alguns estudos, inclusive, sugerem melhora do estresse oxidativo e inflamação de 
pacientes com depressão após uso de terapia farmacológica com inibidores 
seletivos da recaptação de serotonina, antidepressivos tricíclicos e inibidores da 
MAO81–83. 
Outro aspecto bastante correlacionado a etiologia da depressão é o 
estresse. Por aumentar de maneira significante a concentração de glicocorticóides 
circulantes, provoca certa desorganização no eixo HHA, bem como a morte de 
neurônios o que contribui para uma desordem neuroquímica e facilita o 
surgimento de depressão46. Vamos revisar um pouco sobre o funcionamento desse 
eixo abaixo: 
Conforme demonstrado no esquema a seguir (Figura 7), estruturas do SNC 
respondem a uma situação de estresse através da liberação de mediadores 
(hormônios). O hipotálamo aumenta a liberação do hormônio CRH que, por sua 
vez, atua na hipófise estimulando a maior liberação de ACTH. O ACTH circulante 
chega nas glândulas adrenais e ativa a liberação de glicocorticóides4, em 
 
34 
 
especial o cortisol, o qual, em excesso, é considerado tóxico aos neurônios e ativa 
vias de morte46. 
 
Figura 7: Eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA) 
 
 
 
 
 
 
 
 
Elaborada pelo próprio autor 
 
Outros estudos que descrevem essa relação entre o estresse e a depressão 
destacam importantes alterações morfológicas, celulares e moleculares nas 
regiões do cérebro associadas ao humor e cognição o que facilita o surgimento 
de sintomas depressivos. O tratamento antidepressivo parece modular esse 
quadro, impedindo ou revertendo essas alterações e, portanto, melhorando os 
sintomas ocasionados pelo estresse. 
Outro ponto de extrema relevância associado ao desenvolvimento da 
depressão é a saúde intestinal. Há dados que demonstram que pacientes 
depressivos apresentam alterações na microbiota intestinal. Os estudos 
experimentais demonstram o desenvolvimento da depressão por meio da 
modulação na composição da microbiota intestinal com a injeção de fragmentos 
de bactérias Gram negativas (lipopolissacarídeos – LPS), com potencial 
patogênico, o que caracteriza a disbiose. A presença de LPS prejudica a saúde 
intestinal e induz inflamação; a disbiose aumenta a permeabilidade intestinal e isso 
 
35 
 
facilita a disseminação desse processo inflamatório a nível sistêmico e, inclusive, ao 
SNC 84,85. 
A permeabilidade intestinal também pode ser alterada pelo estresse e, 
considerando a presença de disbiose, há maior probabilidade de translocação do 
LPS e citocinas inflamatórias de maneira sistêmica. O aumento das citocinas pró-
inflamatórias está associada a maior atividade da IDO, tanto em tecido hepático 
quanto no cérebro, o que aumenta a conversão de triptofano para a via das 
quinureninas e, portanto, diminui a síntese de serotonina. Aqui temos um ciclo 
importante a ser considerado, visto que as citocinas pró-inflamatórias também são 
capazes de induzir alterações no eixo HHA, o que estimula ainda mais a 
permeabilidade intestinal, translocação de LPS, inflamação sistêmica, atividade da 
IDO, via das quinureninas e redução de serotonina 86. 
 
Curiosidades... 
Como estudamos nos módulos anteriores a atividade da microbiota intestinal 
é imprescindível para homeostase do organismo. Uma microbiota saudável é 
inclusive responsável pela melhor absorção e produção de vitaminas. As do 
complexo B estão intimamente relacionadas às vias bioquímicas de produção de 
energia (ciclo do ácido cítrico e cadeia de fosforilação oxidativa). É muito comum 
que pacientes com disbiose apresentem maior queixa de cansaço e indisposição, 
devido à ineficiência dessas vias bioquímicas. Esses sintomas colaboram muito ao 
quadro de depressão e reduzem ainda mais o bem-estar geral do paciente. 
Perceba mais uma vez como nosso intestino conversa com o organismo como um 
todo! 
 
Prescrição nutricional na depressão 
Considerar a prescrição nutricional no tratamento da depressão é de 
extrema importância, visto que o tratamento farmacológico oferece ao paciente 
diversos efeitos colaterais (cardíacos, dores de cabeça, diarreia ou obstipação, 
 
36 
 
ganho de peso, disfunção sexual e outros), além do risco para toxicidade. Existem 
também algumas restrições alimentares recomendadas ao uso, principalmente, 
dos inibidores da MAO: o paciente deve reduzir o consumo de alimentos ricos em 
tiramina, tais como os defumados,vinho, cerveja, peixes, banana, queijos 
maturados, abacate, figo, enlatados, laticínios, embutidos, aves e frutos do mar, 
pois esse substância é metabolizada à partir da MAO, a qual estará inibida, devido 
à terapia medicamentosa e seu acúmulo pode induzir enxaqueca 87. 
Para compreender as abordagens nutricionais consideradas a esses 
pacientes é imprescindível relembrar um pouco dos conceitos estudos nos módulos 
anteriores: diversos são os nutrientes que participam da síntese de 
neurotransmissores e que podem auxiliar em sua disponibilidade na fenda 
sináptica. 
O triptofano, um aminoácido essencial presente nos alimentos e/ou 
suplementos (e descrito mais adiante) tem sua importância significante em diversas 
funções no organismo, por exemplo, na regulação do humor, sono, apetite, além 
das funções gastrointestinais, as quais são em parte desempenhadas pela 
serotonina, melatonina ou niacina que possuem o triptofano como precursor de 
sua síntese88. 
 
Curiosidades... 
A vitamina B3 (niacina) é produzida à partir do triptofano. A deficiência 
dessa vitamina recruta com maior intensidade o triptofano para sua via de síntese, 
o que promove a depleção desse substrato para outras finalidades, por exemplo, 
para produção de serotonina! 
 
Quadro 5: Necessidades de ingestão diária de Niacina 
NIACINA: Ingestão Diária de Referência (DRI) 
Estágios da vida Idade RDA (mg) UL (mg) 
Recém-nascidos 0-6 meses AI: 2 Nd 
 
37 
 
7-12 meses AI: 4 Nd 
Crianças 
1-3 anos 6 10 
4-8 anos 8 15 
Homens 
9-13 anos 12 20 
14-18 anos 16 30 
19-30 anos 16 35 
31-50 anos 16 35 
51-70 anos 16 35 
> 70 anos 16 35 
Mulheres 
9-13 anos 12 20 
14-18 anos 14 30 
19-30 anos 14 35 
31-50 anos 14 35 
51-70 anos 14 35 
> 70 anos 14 35 
Gestantes 
Até 18 anos 18 30 
19-30 anos 18 35 
31-50 anos 18 35 
Lactantes 
Até 18 anos 17 30 
19-30 anos 17 35 
31-50 anos 17 35 
ANVISA: Níveis máximos de segurança para adultos de 500 mg 
Lactentes: 20 mg/Kg de peso corporal até o limite de 200 mg 
Pediátricos: 20 mg/Kg de peso corporal até o limite de 400 mg 
Adaptado de 6,7 
 
 
38 
 
Vale a pena lembrar sobre a importância do estresse, disbiose e inflamação 
no desvio de triptofano para a via de quinureninas e, portanto, redução para 
formação de serotonina, facilitando o desenvolvimento de depressão e, também, 
redução da formação de demais moléculas dependentes desse aminoácido 
essencial. Nesse caso, é importante o cuidado à suplementação desse 
aminoácido, visto que, por mais que possa corrigir a ingestão de alimentos fonte 
reduzida pelo paciente na tentativa de adequar sintomas de depressão, como já 
demonstrado em alguns estudos, se o estresse e a disbiose não forem devidamente 
modulados, a suplementação de triptofano não será eficiente para melhora da 
concentração de serotonina89–92. Importante também reforçar a questão de 
competição do triptofano com outros aminoácidos na passagem da barreira 
hematoencefálica (isoleucina, leucina, valina, tirosina, fenilalanina e metionina). A 
concentração sugerida para suplementação varia em torno de 1 a 3g/dia. 
Nesse sentido, alguns autores descrevem benefícios quanto ao uso do 
fitoterápico Griffonia simplificata que parece conter elevadas concentrações de 5-
HTP, também precursor da serotonina93, ou ainda, sugere-se a suplementação 
direta de 5-HTP como forma de se evitar essa competição do triptofano à 
passagem para o SNC. 
O ômega-3 (w-3), ácido graxo poliinsaturado essencial, pode ser adquirido 
através da alimentação por alimentos fontes tanto de origem vegetal quanto de 
origem animal: o w-3 ALA (ácido α-linolênico) está presente na chia e linhaça; já o 
EPA (ácido eicosapentaenóico) e o DHA (ácido docosaexaenoico) estão 
presentes em peixes de águas profundas. Esses nutrientes desempenham inúmeras 
funções em nosso organismo, em especial ações anti-inflamatórias, além de 
atuarem como integrantes da estrutura das membranas celulares, essenciais para 
as membranas das células nervosas, sendo o DHA o principal w-3 encontrado no 
SNC (10 a 20%)7,94,95. 
Há evidências que demonstram reduzida concentração de w-3 em 
indivíduos com depressão, bem como uma correlação entre melhor consumo de 
w-3 por gestantes e menor probabilidade de desenvolvimento de depressão no 
 
39 
 
período pós-parto96,97. A utilização de EPA em maior quantidade (próximo a 60% 
da soma de EPA com DHA) parece exercer melhor benefício para pacientes com 
depressão98. Dentre os principais mecanismos de ação descritos do w-3 como 
agente antidepressivo estão a modulação dos neurotransmissores serotonina e 
dopamina, efeito anti-inflamatório, aumento da arborização dendrítica e melhora 
na expressão de genes, por exemplo, de BDNF99,100. 
Vitaminas do complexo B: a deficiência de folato também parece se 
relacionar de maneira positiva com depressão, bem como com a ineficiente 
resposta a terapia antidepressiva. O folato (B9) é a forma da vitamina obtida de 
fontes alimentares e para que seja convertida em sua forma ativa precisa de uma 
série de reações bioquímicas que resultam na formação de 5-metiltetrahidrofolato 
(5-MTHF) que é adequada para que essa vitamina exerça suas funções no SNC 101–
103. 
Uma das possibilidades para essa correlação associa-se a metabolização da 
homocisteína (descrito adiante), que é dependente do 5-MTHF, juntamente de 
outras vitaminas do complexo B, tais como a B12. Assim, a deficiência de ácido 
fólico pode induzir aumento de homocisteína que também é um marcador da 
depressão e sugere a deficiência dessas vitaminas103. Outros estudos também 
sugerem o efeito antidepressivo de ácido fólico por interagir com receptores de 
serotonina e de noradrenalina e pela sua capacidade de modular o estresse 
oxidativo associado à uma função antioxidante104,105. 
Ainda sobre vitaminas do complexo B, a deficiência de B12 também parece 
estar associada a maior probabilidade de desenvolvimento da depressão106,107. A 
B2 também participa indiretamente do metabolismo da homocisteína, 
promovendo a ativação da B9 na forma de 5-MTHF108. A vitamina B3 pode modular 
a atividade da IDO, e não atrapalhar no uso de triptofano para sua própria 
conversão, gerando maior aporte desse substrato à formação de serotonina. A B6 
além de ser essencial para a ativação das vias de síntese dos neurotransmissores 
também é necessária para o metabolismo da homocisteína e sua deficiência 
também se associa à depressão109. 
 
40 
 
A vitamina C apresenta uma importante ação antioxidante no SNC e é 
imprescindível para a formação da bainha de mielina e síntese de adrenalina, 
noradrenalina, liberação de acetilcolina e modulação da transmissão de 
dopamina e glutamato. Há evidências de que pacientes com depressão 
apresentem redução nos níveis desta vitamina e que a suplementação possa 
ajudar na melhora de depressão, principalmente associada ao estresse crônico110–
112. 
A vitamina D é uma vitamina lipossolúvel que pode ser adquirida à partir da 
alimentação ou à partir da exposição da pele a raios UVB. Para ser convertida em 
sua forma ativa deve passar por duas etapas de hidroxilação, uma no fígado e 
outra nos rins e originar a 1,25-di-hidroxivitamina D7. O status dessa vitamina vem 
sendo correlacionado à doenças psiquiátricas tais como a depressão. Já foi 
descrita em literatura científica a capacidade do cérebro em ativar a vitamina D, 
onde exerce importante função neuroprotetora, modula o desenvolvimento da 
depressão através de fatores moleculares, além de regular a expressão de 
neurotransmissores113,114. Essa associação já foi demonstrada através da descrição 
de menor concentração da vitamina em pacientes com depressão, bem como 
pela suplementação de vitamina D na melhora de sintomas depressivos115,116, no 
entanto, ainda há dados que descrevem a necessidade de doses mais elevadas 
para que esses efeitos sejam atingidos. 
No SNC a vitamina E, também do grupodas lipossolúveis, parece estar 
associada a melhora da cognição e memória, melhora de ansiedade e na 
modulação do desenvolvimento de doenças neurodegenerativas7. Ainda, a 
deficiência dessa vitamina parece reduzir serotonina no córtex pré-frontal, bem 
como os níveis de triptofano117,118. Dos diversos estudos descritos em literatura boa 
parte associa a deficiência com o desenvolvimento de depressão e a ingestão 
dietética como um fator preventivo. É importante mencionar que por ser um 
nutriente antioxidante, sua modulação no estresse oxidativo e até mesmo na 
inflamação promovem uma correlação importante com a prevenção da 
depressão. 
 
41 
 
 
 
 
 
 
 
 
42 
 
Quadro 6: Fontes alimentares de vitamina B2, C, D e E e a ingestão de referência 
Nutrientes Vitamina B2 Vitamina C Vitamina D Vitamina E 
Principais 
fontes 
alimentares 
Carnes, aves, peixes, 
vísceras, queijos, gema 
de ovo, vegetais 
folhosos, legumes leite, 
algumas frutas e 
leguminosas 
Frutas e vegetais 
Peixes, gema do ovo, 
alguns cogumelos 
Sementes, oleaginosas, 
cereais integrais, 
abacate 
Estágios de 
vida 
EAR 
(mg/dia) 
AI*/RDA 
(mg/dia) 
UL 
(mg/dia) 
EAR 
(mg/dia) 
AI*/RDA 
(mg/dia) 
UL 
(mg/dia) 
EAR 
(µg/dia) 
AI*/RDA 
(µg/dia) 
UL 
(µg/dia) 
EAR 
(mg/Kg) 
AI*/RDA 
(mg/Kg) 
UL 
(mg/Kg) 
Recém-
nascidos 
0 a 6 meses 
7 a 12 
meses 
- 
- 
0,3* 
0,4* 
- 
- 
- 
- 
40,0* 
50,0* 
- 
- 
- 
- 
10,0 
10,0 
25,0 
38,0 
- 
- 
4,0* 
5,0* 
- 
- 
Crianças 
1 a 3 anos 
4 a 8 anos 
0,4 
0,5 
0,5 
0,6 
- 
- 
13,0 
22,0 
15,0 
25,0 
400,0 
650,0 
10,0 
10,0 
15,0 
15,0 
63,0 
75,0 
5,0 
6,0 
6,0 
7,0 
200,0 
300,0 
 
43 
 
Homens 
9 a 13 anos 
14 a 18 
anos 
19 a 30 
anos 
31 a 50 
anos 
51 a 70 
anos 
> 71 anos 
0,8 
1,1 
1,1 
1,1 
1,1 
1,1 
0,9 
1,3 
1,3 
1,3 
1,3 
1,3 
- 
- 
- 
- 
- 
- 
39,0 
63,0 
75,0 
75,0 
75,0 
75,0 
45,0 
75,0 
90,0 
90,0 
90,0 
90,0 
1200,0 
1800,0 
2000,0 
2000,0 
2000,0 
2000,0 
10,0 
10,0 
10,0 
10,0 
10,0 
10,0 
15,0 
15,0 
15,0 
15,0 
15,0 
20,0 
100,0 
100,0 
100,0 
100,0 
100,0 
100,0 
9,0 
12,0 
12,0 
12,0 
12,0 
12,0 
11,0 
15,0 
15,0 
15,0 
15,0 
15,0 
600,0 
800,0 
1000,0 
1000,0 
1000,0 
1000,0 
Mulheres 
9 a 13 anos 
14 a 18 
anos 
19 a 30 
anos 
31 a 50 
anos 
0,8 
0,9 
0,9 
0,9 
0,9 
0,9 
0,9 
1,0 
1,1 
1,1 
1,1 
1,1 
- 
- 
- 
- 
- 
- 
39,0 
56,0 
60,0 
60,0 
60,0 
60,0 
45,0 
65,0 
75,0 
75,0 
75,0 
75,0 
1200,0 
1800,0 
2000,0 
2000,0 
2000,0 
2000,0 
10,0 
10,0 
10,0 
10,0 
10,0 
10,0 
15,0 
15,0 
15,0 
15,0 
15,0 
20,0 
 
100,0 
100,0 
100,0 
100,0 
100,0 
100,0 
9,0 
12,0 
12,0 
12,0 
12,0 
12,0 
11,0 
15,0 
15,0 
15,0 
15,0 
15,0 
 
600,0 
800,0 
1000,0 
1000,0 
1000,0 
1000,0 
 
44 
 
51 a 70 
anos 
> 71 anos 
Gestantes 
< 18 anos 
19 a 50 
anos 
1,2 
1,2 
1,4 
1,4 
- 
- 
66,0 
70,0 
80,0 
85,0 
1800,0 
2000,0 
10,0 
10,0 
15,0 
15,0 
100,0 
100,0 
12,0 
12,0 
15,0 
15,0 
800,0 
1000,0 
Lactantes 
< 18 anos 
19 a 50 
anos 
1,3 
1,3 
1,6 
1,6 
- 
- 
96,0 
100,0 
115,0 
120,0 
1800,0 
2000,0 
10,0 
10,0 
15,0 
15,0 
100,0 
100,0 
16,0 
16,0 
19,0 
19,0 
800,0 
1000,0 
 Adaptado de 7,119 
 
 
 
 
45 
 
Fitoterapia: dentre as intervenções nutricionais para o tratamento da 
depressão a fitoterapia pode ser considerada, apesar de ser necessário maior 
investigação sobre o tema, principalmente em relação a dose, tempo e efeitos 
colaterais. 
o Crocus sativus (Curcuma longa) parece induzir redução dos sintomas da 
depressão, com efeitos semelhantes aos de antidepressivos por aumentar 
níveis de serotonina e dopamina e reduzir a inibir a atividade das enzimas 
MAOA e MAOB e aumentar BDNF120–122; 
o O extrato de Rhodiola rosea parece atuar de forma dose dependente na 
melhora dos sintomas da depressão por meio da inibição das enzimas MAOA 
e MAOB, além de impedir a redução de serotonina em situações de estresse 
crônico123–125; 
o Magnolia officinalis parece aumentar receptores para GABAA, exercer 
efeitos ansiolíticos significantes, além de aumentar a expressão de proteína 
responsável pela manutenção/sobrevivência de astrócitos, com 
consequente melhora da produção da neurotrofina BDNF126,127; 
o Panax ginseng também possui efeitos positivos no tratamento da depressão, 
principalmente, associados a sua ação anti-inflamatória e modulação da 
atividade da IDO128. 
 
Curiosidades... 
Você sabia que o uso de anticoncepcionais pode induzir importante depleção de 
nutrientes, principalmente de vitaminas e minerais? Pois bem! No atendimento 
clínico a mulheres em fase reprodutiva é imprescindível verificar se há uso desses 
contraceptivos orais para que a correlação a sinais e sintomas seja mais eficiente. 
Para traçarmos essas questões, a avaliação nutricional completa é imprescindível 
e, para esses casos, talvez seja necessário a reposição desses nutrientes via 
suplementação. 
 
 
46 
 
MÓDULO IV: 
 
Nesse módulo discutiremos a fisiopatologia da ansiedade, bem como a 
assistência nutricional como forma de tratamento e prevenção! 
 
Aspectos fisiopatológicos da ansiedade 
A ansiedade é caracterizada por um estado afetivo com papel fundamental 
para mecanismos de proteção (detecção e antecipação) à potenciais ameaças, 
capaz de modular a cognição. Entretanto, quando essa condição se estabelece 
com elevada intensidade ou duração, passa a promover graves prejuízos ao 
paciente e ser considerada patológica. 
Transtornos de ansiedade são bastante prevalentes na população mundial e 
apresentam uma cronicidade significante que induz redução de qualidade de 
vida e produtividade. Doenças cardiovasculares e depressão estão intimamente 
correlacionadas à ansiedade129. De maneira geral, os transtornos de ansiedade 
são classificados de acordo com as características da manifestação: severidade, 
duração dos sintomas e questões comportamentais e o indivíduo não é capaz de 
se adaptar à sua manifestação, o que provoca medo excessivo a determinadas 
situações ou mesmo objeto, por mais que o mesmo não exerça um perigo real130–
132. 
Discute-se a possibilidade de um desequilíbrio serotoninérgico e GABAérgico, 
sendo alguns tipos de transtorno de ansiedade, tais como a ansiedade 
generalizada, a fobia e o estresse pós-traumático associados a concentrações de 
serotonina reduzidas no cérebro que, por sua vez, podem ser decorrentes de 
alterações genéticas133. Foi observado em indivíduos com diferentes transtornos de 
ansiedade modulações significantes na concentração de receptores para 
GABA134. 
Também pode haver impacto do desequilíbrio do eixo HHA. Alterações 
neuroendócrinas em resposta ao estresse agudo ou crônico são mediadas pelo 
 
47 
 
sistema nervoso simpático e pelo eixo HHA: pacientes com transtornos de 
ansiedade, tais como a síndrome do pânico e ansiedade generalizada, 
apresentaram elevada concentração de cortisol circulante 135 
 
Prescrição nutricional na ansiedade 
 
Intervenções não nutricionais 
A terapia não nutricional da ansiedade inclui intervenções psicológicas, 
físicas e farmacológicas (ansiolíticos e antidepressivos). A terapia cognitiva 
comportamental tem se mostrado importante a esses pacientes, mas só se realiza 
como forma única de tratamento, para casos mais brandos de transtornos de 
ansiedade, sendo importante para os demais, outras formas de intervenção, tais 
como a farmacológica. 
Os benzodiazepínicos e os antidepressivos tricíclicos foram os primeiros 
agentes farmacológicos utilizados em transtornos de ansiedade. Os 
benzodiazepínicos exercem um efeito ansiolítico por meio de sua ligação a 
receptores de GABA o que potencializa seus efeitos inibitórios. Essa classe de 
antidepressivo atua bloqueando transportadoresde monoaminas e indolaminas. 
Os antidepressivos tricíclicos podem atuar principalmente como inibidores da 
recaptação de serotonina, noradrenalina e serotonina. Outros moduladores de 
neurotransmissão para o tratamento de ansiedade são os agonistas parciais de 5-
HT1A e, ainda, os ß-bloqueadores, quando há sintomas associados a atividade de 
receptores adrenérgicos, tais como palpitação, tremores e sudorese; inibidores de 
MAO também podem ser utilizados em transtornos severos de ansiedade, no 
entanto, induzem efeitos colaterais136–139. 
De modo geral, dentre os diversos tipos de transtorno de ansiedade, existe 
uma indicação de tratamento específica. É comum a existência de efeitos 
colaterais e manifestações individualizadas e, por esse motivo, essa questão é 
considerada ainda de grande desafio para a clínica. Benzodiazepínicos tendem a 
 
48 
 
induzir perda de libido, sedação e maior chance de dependência. Já os 
antidepressivos podem induzir letargia (tanto física quanto mental), perda do 
interesse sexual e alterações antropométricas, como perda significante de peso 
corporal. Os antipsicóticos podem induzir, de modo geral, tremores, movimentos 
involuntários e anormais, além de apatia, sedação e redução das respostas 
emocionais. Todos esses aspectos com considerável interferência na qualidade de 
vida do paciente, o que torna cada vez mais interessante a busca de estratégias 
que possam melhorar sua condição clínica e bem-estar. 
 
Intervenções nutricionais 
Dentre as intervenções nutricionais para o tratamento da ansiedade a 
fitoterapia pode ser considerada, apesar de ser necessário mais investigação sobre 
o tema, principalmente em relação a dose, tempo e efeitos colaterais. 
o Passiflora incarnata: atua como sedativo e tranquilizante no combate ao 
estresse e ansiedade, sendo demonstrado o efeito ansiolítico de seu extrato 
em animais e humanos. Folhas, flores e frutos podem ser utilizadas com esse 
objetivo. Esse fitoterápico parece atuar na inibição da enzima MAO, o que 
permite aumento de serotonina, noradrenalina e dopamina, além disso, 
modula ação de receptores de GABA e sua captação sináptica140–144. 
o Erythrina velutina e Erythrina mulungu vem sendo bastante estudadas na 
modulação de sintomas da ansiedade e insônia. Ambas espécies com efeito 
ansiolítico já demonstrado à partir do extrato, em animais de 
experimentação, não sendo associados efeitos sedativos e amnésicos. 
Acredita-se que o mecanismo de ação esteja associado a sinalização 
GABAérgica145,146. 
o Lippia alba, na forma de óleo essencial, já demonstrou efeitos ansiolíticos 
significantes em ratos semelhantes aos efeitos encontrados pós tratamento 
com benzodiazepínicos147. 
o Piper methysticum, também conhecida como kava-kava, Hypericum 
perforatum, conhecido como erva de São João, e Valeriana officinallis, 
 
49 
 
parecem também apresentar efeitos ansiolíticos, entretanto não podem ser 
prescritos por nutricionistas148–150. 
o Extrato aquoso de Crocus sativus (açafrão) e de Eschscholzia californica 
(papoula da Califórnia), também possui efeitos ansiolíticos151,152. 
o Extrato das folhas de Ginkgo biloba, extrato de Gotu kola e da raiz de 
Withania somnifera demonstraram efeitos ansiolíticos em diferentes doses153–
155. 
o Griffonia simplifolia possuem sementes com elevada concentração de 5-HTP 
e pode exercer efeitos ansiolíticos significantes93. 
Além da fitoterapia, a terapia nutricional pode se associar ao 
restabelecimento da assimilação de nutrientes, à partir de uma conduta nutricional 
adequada para a saúde intestinal e, ainda, à partir do uso de alguns nutrientes 
específicos até mesmo sob a forma de suplementação. 
Conforme estudado anteriormente ao longo do texto, está claro o papel da 
serotonina no restabelecimento de sintomas de ansiedade e, parece óbvio 
pensarmos num maior aporte de triptofano, já que é seu principal precursor. De 
fato, há dados que demonstram que a suplementação de triptofano se faz eficaz 
para melhora da síntese de serotonina central, seu metabolismo, além de melhoras 
cognitivas156. Muitos trabalhos demonstram efeitos positivos na suplementação de 
triptofano em conjunto com terapia não nutricional à partir de antidepressivos, 
além de auxiliar na melhora do sono e sintomas de ansiedade92,157–162. Entretanto, é 
importante pensarmos na questão de assimilação desse nutriente pela 
suplementação e, até mesmo, nos pontos discutidos no módulo anterior sobre 
disbiose, permeabilidade intestinal e inflamação sistêmica. 
Pacientes com transtorno de ansiedade apresentam diversas anormalidades 
no padrão alimentar, tais como a alteração de apetite e alteração de consumo, 
sintomas esses que alteram de maneira impactante o estilo de vida e são capazes 
de influenciar o eixo intestino-cérebro. Ainda, esses pacientes podem apresentar 
alterações fisiológicas relacionadas ao eixo HHA e aumento do estresse, o que 
também pode repercutir nesse eixo, bem como em seu sistema imune163. 
 
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MÓDULO V 
 
Nesse módulo discutiremos a fisiopatologia dos distúrbios de sono que, em 
conjunto com as demais desordens discutidas nesse curso, estão cada vez mais 
presente na nossa sociedade atual e também necessitam de uma assistência 
tanto comportamental quanto nutricional para seu tratamento e prevenção! 
 
Aspectos fisiopatológicos dos distúrbios de sono 
O comportamento humano, bem como sua fisiologia e bioquímica 
obedecem a ritmos biológicos164. O estudo desses ritmos é denominado 
cronobiologia e essa ciência descreve e caracteriza uma organização temporal, 
manifestada não somente em seres humanos, mas em todos os seres vivos. A 
análise do tempo, envolve uma sequência de eventos capazes de transformar a 
matéria e a cronobiologia demonstra que, ao longo do processo evolutivo 
(tempo), possivelmente existiu uma seleção natural que promoveu a presença dos 
seres vivos passíveis de adaptação e sobrevivência às modificações ambientais165. 
 Ao longo da evolução nos acostumamos aos ritmos diários entre períodos de 
vigília e de descanso, os quais estão presentes em qualquer ser vivo pertencente 
ao reino animal. Em ambas as situações, tanto na vigília quanto no descanso 
podemos considerar a presença de importantes funções homeostáticas (ou seja, 
de organização das funções e parâmetros fisiológicos)1,164. 
O período de descanso é comumente marcado pelo sono quando, de 
modo geral o indivíduo não possui interação com o meio ambiente e sua 
capacidade de despertar pode variar de acordo com a fase em que se encontra. 
São duas as principais fases que o caracterizam, a REM e a NREM, cada uma delas 
com peculiaridades eletrofisiológicas que, em alguns casos, são semelhantes às do 
momento de vigília, como é o caso da fase REM que recebe esse nome pela 
presença do movimento rápido dos olhos detectado pelo eletrooculograma (rapid 
eyes moviment- REM) e apresenta intensa atividade cerebral. A fase NREM é 
 
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marcada por atividade elétrica cerebral mais lenta e sincronizada e pode ser 
dividida e 3 fases (N1, N2 e N3)1,164. 
A cada trecho de saída da vigília, passagem pelas fases NREM e chegada 
na fase REM contempla-se um ciclo de sono e este pode se repetir diversas vezes 
ao longo da noite, respeitando ou não a ordem de fases: as fases imprescindíveis 
para “fazer valer” a noite de sono são a N3 e a REM. A quantidade de sono 
profundo (N3 e REM) costuma ser semelhante, tanto em indivíduos considerados 
pequenos dormidores quanto nos grandes dormidores (definidos a seguir), o que 
varia nessas situações é a presença das fases 0, N1, N2. Estima-se que, cerca de 
25% do sono da noite é do tipo REM e que 40% seja do tipo N3, sendo que cada 
episódio de REM pode durar, aproximadamente, 30 minutos. O intervalo entre uma 
fase REM e outra é, então, conhecido como ciclo de sono e pode durar cerca de 
90 a 120 minutos num indivíduo jovem. Acompanhe a seguir um hipnograma

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