Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Nutrição na Depressão, Ansiedade e Distúrbios do Sono Dra. Luciana Tocci Belpiede 2 SUMÁRIO SIGLÁRIO ................................................................................................................................... 3 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 5 MÓDULO I ................................................................................................................................. 6 Fisiologia do sistema nervoso ............................................................................................ 6 MÓDULO II ............................................................................................................................... 25 Eixo intestino-cérebro ........................................................................................................ 25 MÓDULO III .............................................................................................................................. 29 Aspectos fisiopatológicos da depressão ....................................................................... 29 Prescrição nutricional na depressão .............................................................................. 35 MÓDULO IV: ............................................................................................................................ 46 Aspectos fisiopatológicos da ansiedade ....................................................................... 46 Prescrição nutricional na ansiedade .............................................................................. 47 MÓDULO V .............................................................................................................................. 50 Aspectos fisiopatológicos dos distúrbios de sono ........................................................ 50 Prescrição nutricional nos distúrbios de sono ............................................................... 60 Referências bibliográficas .................................................................................................... 75 3 SIGLÁRIO 5-HT – Serotonina 5-HTP – 5-hidroxitriptofano 5-HTT – Transportador de Serotonina 5-MTHF – 5-metiltetrahidrofolato 6SM – 6- sulfatoximelatonina AANAT – Arilalquilamina-N-acetiltransferase ACTH – Hormônio Adrenocorticotrófico ADP – Difosfato de Adenosina ALA – Ácido α-linolênico ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária ATP – Trifosfato de Adenosina BDNF – Brain Derived Neurotrofic Factor BDNF – Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro CRH – Hormônio Liberador de Corticotrofina DHA – Ácido Docosaexaenoico DNA – Ácido Desoxirribonucleico EPA – Ácido Eicosapentaenóico ERO – Espécies Reativas De Oxigênio GABA – Ácido Gama-aminobutírico GH – Hormônio do Crescimento HHA – Hipotálamo-Hipófise-Adrenal HIOMT – Hidroxi-indol-O-metiltransferase IDO – Indolamina-2,3 Dioxigenase K+ – Íon Potássio 4 L-DOPA – Levodopa LPS – Lipopolissacarídeos MAO – Monoamina Oxidade Na+ – Íon Sódio NGF – Nerve Growth Factor NREM – Não Rapid Eyes Moviment NSQ – Supraquiasmático PCR – Proteína C Reativa PVH – paraventricular REM – Rapid Eyes Moviment SAMe – s-adenosilmetionina SAOS – Síndrome Da Apneia Obstrutiva De Sono SNC – Sistema Nervoso Central SNP – Sistema Nervoso Periférico TNFA – Fator De Necrose Tumoral Alfa UVB – Ultravioleta B w-3 – Ômega 3 5 INTRODUÇÃO Sejam bem-vindos ao curso Nutrição na depressão, ansiedade e distúrbios de sono! Você já parou para pensar como a nutrição poderia auxiliar pacientes nessas situações? Pois bem, ao traçarmos uma linha do tempo e refletirmos diversos aspectos que caracterizam nossa sociedade atual poderemos identificar fatores que se moldaram principalmente devido à industrialização e globalização. Um deles, intimamente correlacionado ao aspecto nutricional, marca o maior consumo de alimentos processados e ultraprocessados em detrimento dos in natura ou minimante processados, o que impacta de maneira significante na magnitude de manifestação das doenças presentes hoje, tais como aquelas não comunicáveis ou doenças crônicas não transmissíveis. Além desse importante marco, outras doenças como depressão e ansiedade e diversos distúrbios associados ao sono, estão cada vez mais presentes não somente entre indivíduos adultos, mas também entre crianças e adolescentes. A rotina e jornada de estudos e/ou trabalho extenuantes, além do intenso bombardeamento de informações que recebemos a cada instante, além desse perfil de consumo alimentar que caracteriza a nossa sociedade nos dias atuais são importantes gatilhos para essa elevada prevalência e incidência dessas doenças. 6 MÓDULO I Para compreendermos melhor essa importante relação entre a nutrição e o desenvolvimento dessas doenças e distúrbios, torna-se necessários revermos um pouco dos conceitos de fisiologia do sistema nervoso! Você já parou para imaginar na importância que o sistema nervoso possui para o funcionamento do nosso organismo e manutenção da vida? Você deve se lembrar que alguns eventos inconscientes são controlados por ele, veja a seguir alguns exemplos de como ele se mantém ativo em nosso cotidiano: Se você já encostou a mão em uma panela quente, deve se lembrar da reação que teve e, a partir de agora, saber que o sistema nervoso é extremamente ativo nesse processo. Ainda, se pratica ou já praticou exercícios físicos também deve saber que o controle do movimento, a execução e até mesmo o ajuste/correção deste é determinado por vias nervosas. Quer mais alguns exemplos essenciais? Sabia que a cada respiração sua o sistema nervoso está envolvido? Ou ainda, que no processo de aprendizagem durante sua dedicação aos estudos ele também se mantém relevante? Pois bem, te convido então a relembrarmos os conceitos básicos de fisiologia nesse módulo! Fisiologia do sistema nervoso O sistema nervoso determina ao nosso organismo a possibilidade de interagir tanto com o meio interno, quanto com o meio externo graças à sua capacidade de interpretar um estímulo, processar essa informação sensorial, planejar e determinar comportamentos adequados. Para exercer essas atividades se divide em sistema nervoso central (SNC) e sistema nervoso periférico (SNP) 1–3. O central é composto pelo encéfalo (cérebro, cerebelo e tronco encefálico) e pela medula espinal, estruturas estas que são finamente protegidas por meninges (dura-máter, araquinóide e pia-máter – sendo essa última a mais interna). O cérebro é a região mais desenvolvida do encéfalo e possui dois hemisférios (direito 7 e esquerdo), os quais são subdivididos em cinco lobos: frontal, parietal, temporal, occiptal e da ínsula. De maneira geral, o hemisfério direito do cérebro recebe e controla comportamentos/movimentos do lado esquerdo do corpo e o hemisfério esquerdo, seguindo o mesmo raciocínio, relaciona-se ao lado direito. O cerebelo desempenha funções associadas à detecção e correção de movimentos, bem como de controle dos reflexos posturais, além de promover o aprendizado de movimentos 1–3. O tronco encefálico é a região do SNC que conecta o encéfalo à medula espinal e divide-se em mesencéfalo, ponte e bulbo (sendo esta última a região mais próxima à medula); é imprescindível à vida, pois também coordena funções vitais como a respiração, controle de temperatura, frequência cardíaca, pressão arterial e outras. Além disso, em conjunto com a medula espinal, tem uma importante função condutora de informações vindas da periferia (pele, músculos, articulações) para o encéfalo (vias ascendentes), bem como de comandos originados do encéfalo para aperiferia (vias descendentes). A medula espinal também é capaz de receber estímulos e respondê-los sem o auxílio das regiões mais superiores (encéfalo) o que caracteriza as chamadas respostas reflexas: por exemplo, ao colocar a mão em alguma superfície muito quente e ter o comportamento rápido de retirá-la (esse reflexo foi transmitido da periferia para a medula, sem acessar o encéfalo e retornou como um ato reflexo de comportamento) 1–3. O SNP se divide em sistema nervoso autônomo (simpático e parassimpático) e sistema nervoso somático (aferente/ascendente, associado à porção sensorial e eferente/descendente, associado à motricidade) e é responsável por realizar a comunicação entre a periferia de forma ascendente/aferente (em direção às regiões centrais–SNC) ou de maneira descendente/eferente (em direção à periferia–meio interno ou externo). As estruturas que compõem o SNP são os nervos (axônios – veja no texto adiante) e gânglios (local que marca a sinapse entre neurônios para acessar o tecido periférico; é preenchido pelo corpo celular – veja no texto adiante). No 8 caso do sistema nervoso autônomo as características dos nervos e gânglios definem se a via faz parte da porção simpática ou parassimpática. Os neurônios que partem do SNC e localizam-se antes dos gânglios são denominados de pré- ganglionares que são mais longos no sistema parassimpático, pois os gânglios estão dispostos mais próximos aos tecidos periféricos, ou mesmo dentro deles; já no sistema nervoso simpático, as fibras pré-ganglionares são mais curtas, pois os gânglios estão mais distantes dos tecidos periféricos e próximos das estruturas do SNC1,3,4. No sistema autônomo temos então dois pontos principais de comunicação: entre o neurônio pré e pós-ganglionar e entre o neurônio pós-ganglionar e o tecido periférico. Essa comunicação é conhecida como sinapse e será descrita, relembrada e discutida posteriormente. A sinapse entre as fibras pré e pós- ganglionares ocorre através do neurotransmissor acetilcolina (tanto no sistema simpático quanto no parassimático); que se mantém na segunda sinapse apenas do sistema parassimpático. Já no sistema simpático, a segunda sinapse é mediada pela noradrenalina1,3,4. Veja no quadro (Quadro 1) a seguir as principais características que definem os efeitos finais do sistema nervoso autônomo na periferia: Quadro 1: Principais características que definem os efeitos finais do sistema nervoso autônomo Elaborado pelo próprio autor 9 Na porção sensorial do SNP somático, determinam-se tanto as sensações, caracterizadas pela visão, olfação, gustação, audição e somestesia (tato), quanto sua percepção, ou seja, além de decodificar a sensação, o sistema nervoso é capaz de associar e identificar a presença de alguma vivência anterior acerca dessa mesma sensação. Isso é possível a partir de células sensoriais que são específicas para cada uma dessas modalidades. Também são conhecidas como células especializadas (ou receptores sensoriais) que podem ser de 5 tipos diferentes: 1. Mecanorreceptores (sensíveis a estímulos mecânicos e vibratórios); 2. Quimiorreceptores (sensíveis a estímulos químicos presentes no ar, em alimentos e em bebidas, por exemplo); 3. Fotorreceptores (sensíveis a estímulos luminosos); 4. Termorreceptores (sensíveis a variação térmica) e 5. Nocirreceptores (sensíveis a estímulos de diferentes energias, ativados quanto em extrema intensidade, com finalidade de alertar perigo). A partir da decodificação determinada por esses receptores sensoriais, a informação é transmitida a um neurônio por meio de impulsos elétricos de tal forma que o sistema nervoso possa compreender o estímulo e sua intensidade e, em seguida, essa informação segue à regiões específicas do córtex cerebral para que se determine um comportamento ou resposta pertinente1,3,4. Células que compõem o sistema nervoso central Existem dois principais grupos de células que compõem o SNC, na região do encéfalo: neurônios e células da glia (astrócitos, oligodendrócitos e micróglia). Apesar de, em média, um encéfalo humano ter uma quantidade muito maior de células da glia do que de neurônios, esses últimos continuam sendo as principais células do SNC; responsáveis pelas percepções, transmissão de informações e geração de comportamentos, mas isso não significa que as células da glia não possuam sua importância, já que desempenham funções imprescindíveis para isolamento, sustentação e, inclusive, nutrição dos neurônios1–4. Os neurônios (Figura 1) são células excitáveis e especializadas em comunicação e sinalização por serem capazes de receber, processar e transmitir 10 estímulos. São constituídos pelos dendritos, axônio e corpo celular (ou soma), sendo essa última a região que abriga seu núcleo e a maior parte de suas organelas. As primeiras estruturas a receberem um estímulo são os dendritos, de onde segue para a região do corpo celular e, posteriormente, ao axônio. O axônio é considerado um prolongamento do corpo celular e é capaz de fazer a transmissão do estímulo para a célula seguinte. Temos também a bainha de mielina e os nodos de Ranvier que serão discutidos mais adiante, mas exercem função significante no processo de propagação do estímulo1–4. Ao longo de toda nossa vida somos capazes de ativar um processo conhecido como neurogênese, o que há tempos não se acreditou ocorrer. Esse processo pode ser determinado por estímulos hormonais e pela prática de exercícios físicos: atualmente sabe-se que a redução do estímulo à neurogênese pode estar associada ao desenvolvimento de doenças neurológicas1–4. Figura 1: Estruturas do neurônio Adaptado de imagem disponível na web Os astrócitos (Figura 2) apresentam inúmeros prolongamentos e são imprescindíveis para o suporte, crescimento e desenvolvimento dos neurônios: são 11 responsáveis pela sua nutrição (captam nutrientes da circulação sanguínea e entregam para os neurônios e demais células do SNC); controlam a composição iônica/ambiente químico do meio que banha os neurônios; possuem funções antioxidantes e auxiliam no controle da comunicação entre as células do SNC (sinapses), bem como no controle de neurotransmissores (glutamato e ácido-y- aminobutírico-GABA)1–4. Os oligodendrócitos (Figura 2) possuem como principal função a formação da bainha de mielina, uma estrutura de extrema importância para o revestimento dos axônios dos neurônios e um importante facilitador da transmissão do impulso elétrico de um neurônio para o outro1–4. Micróglia (Figura 2) compõe um grupo de células pequenas e alongadas, derivadas de macrófagos (células do sistema imune com função fagocítica), durante o desenvolvimento do tubo neural e, portanto, representam um sistema de defesa com capacidade de fagocitar e apresentar antígenos, podendo estar ativa numa situação anormal e na presença de eventos inflamatórios (devido à presença de citocinas, quimiocinas e radicais livres)1,3,5. Figura 2: Tipos celulares que compõem o SNC Adaptado de imagem disponível na web 12 Comunicação entre as células do sistema nervoso Para compreendermos alguns dos principais mecanismos de comunicação entre as células do sistema nervoso é necessário relembrar uma importante propriedade dos neurônios, quanto à sua excitabilidade. De maneira geral, as células apresentam uma característica elétrica conhecida por potencial de membrana que é determinada por algumas propriedades apresentadas. No caso dos neurônios temos a presença de maior permeabilidade ao K+ (o que proporciona maior passagem desse elemento ao meio extracelular) e a presença de ânions no meio intracelular (elementos químicos com carga elétrica negativa). Esses aspectos tornam o meio intracelular dos neurônios eletricamentenegativos, levando a um potencial de membrana próximo de -70mV1,3,4. De modo geral, ao receber um estímulo, o neurônio é capaz de abrir canais para Na+, o que permite rápida entrada desse elemento e induz a transformação de sua carga elétrica, ou seja, há influxo de carga positiva e, portanto, o potencial de membrana vai de -70mV para próximo de +35mV, caracterizando, então, o potencial de ação1,3,4. Figura 3: Despolarização de um neurônio após recebimento de um estímulo Adaptado de imagem disponível na web 13 A presença de canais iônicos (para Na+ ou para K+) ocorre apenas nas regiões sem mielina (conhecidas como nodos de Ranvier) e, por isso, diz-se que um neurônio mielinizado apresenta potencial de ação saltatório1,3,4. As células do sistema nervoso podem se comunicar por meio de 6 diferentes mecanismos: 1. Comunicação endócrina - um mecanismo de comunicação dependente da circulação sanguínea, quando substâncias que acessam o sangue interagem com alguma célula nervosa1,2,4; 2. Comunicação parácrina - substâncias atuam na célula vizinha da que a secretou1,2,4; 3. Comunicação autócrina - substâncias atuam na própria célula que a secretou1,2,4; 4. Comunicações específicas - contrariamente aos tipos de comunicação descritos anteriormente, estas são específicas para as células do sistema nervoso: Comunicação elétrica Também conhecida como efática é um tipo de comunicação específica mais rápida que existe e é caracterizada pela transmissão de corrente elétrica de uma célula nervosa a outra, evento esse proporcionado pela proximidade entre a membrana das duas células que se comunicam, sem deixar espaço entre elas. Esse tipo de comunicação é bidirecional1,2,4; Sinapse elétrica Caracteriza um outro mecanismo de comunicação específico entre as células do sistema nervoso onde duas células interagem à partir de canais (junções do tipo gap) que comunicam o meio interno de uma com o de outra. Esse tipo de comunicação também é bidirecional1–4; Sinapse química 14 Nesse mecanismo de comunicação específico do sistema nervoso há participação de neurotransmissores (substâncias químicas sintetizadas por neurônios e armazenadas em vesículas). É considerado o tipo mais lento de comunicação, mas isso não significa que seja o pior, já que possui uma importante especificidade e é o tipo mais predominante nos seres humanos. O neurônio pré- sináptico é aquele que produz os neurotransmissores e os armazena em vesículas; o neurônio pós-sináptico é aquele que possui receptores específicos para iteração com os neurotransmissores; a fenda sináptica é a região/espaço entre os neurônios pré e pós. É um tipo de comunicação unidirecional1–4. Existem dois principais tipos de receptores no neurônio pós-sináptico capazes de interagir com os neurotransmissores: metabotrópicos ou ionotrópicos. Os metabotrópicos estão associados à proteína G e ocorrem em sinapses que exigem complexidade e que, muitas vezes, necessita de modificação na expressão de genes; já os ionotrópicos se caracterizam como canais iônicos e estão associados a respostas mais rápidas, pois induzem modificação elétrica na célula pós- sináptica1–4. Neurotransmissores Os neurotransmissores são substâncias produzidas pelo neurônio pré-sináptico e que desempenham suas funções ao interagirem com receptores específicos expressos nos neurônios pós-sináptico. O neurônio que o produz, inclusive, pode receber uma denominação específica a depender dessa especificidade de produção: por exemplo, aqueles que sintetizam dopamina como neurotransmissor são chamados de neurônios dopaminérgicos; os que sintetizam glutamato, são os glutamatérgicos e GABA, os GABAérgicos. Essas substâncias são classificadas de acordo com sua natureza química, veja alguns dos exemplos a seguir: 15 Quadro 2: Classificação química e exemplos dos neurotransmissores Classe de neurotransmissores Exemplos Monoaminas Dopamina, noradrenalina e adrenalina Indolaminas Acetilcolina, serotonina e histamina Aminoácidos Glutamato, ácido-y-aminobutírico (GABA) e glicina Gases Óxido nítrico e monóxido de carbono Purinas ATP e ADP Peptídeos Neuropeptídeo Y, encefalinas e endorfina Elaborado pelo próprio autor Dopamina A dopamina, do grupo das monoaminas, é derivada do aminoácido tirosina e considerada um importante neurotransmissor envolvido no sistema de recompensa. Sua síntese ocorre à partir da enzima tirosina hidroxilase, que catalisa a reação de tirosina a L-DOPA e é dependente de ferro e oxigênio para sua ativação. Em seguida a L-DOPA é descarboxilada pela enzima L-aminoácido aromático descarboxilase, que é dependente de vitamina B6, formando, finalmente, a dopamina (Figura 4)5. Essa síntese ocorre em neurônios conhecidos como dopaminérgicos. Neles, a dopamina fica armazenada em vesículas até que seja estimulada sua liberação à fenda sináptica. Quando liberada, é capaz de interagir com receptores metabotrópicos pós-sinápticos de 5 tipos (D1, D2, D3, D4 e D5) para exercer seus efeitos biológicos. Após interagir com seu receptor, a dopamina pode ser recaptada para o neurônio pré-sináptico (por meio de transportadores) ou, ainda, 16 ser degradada pelas enzimas MAOB (monoamina oxidase B) e aldeído desidrogenase1–3. Disfunções nas vias de sinalização desse neurotransmissor estão fortemente associadas a melancolina, alterações cognitivas e anedonia (perda da capacidade de sentir prazer, próprio de estados depressivos). Redução em seus níveis podem estar associados a anormalidades como a doença de Parkinson, bem como a condições como esquizofrenia, transtorno bipolar, desordens de hiperatividade e déficit de atenção 5,6. Noradrenalina e adrenalina A noradrenalina (Figura 4), também chamada de norepinefrina, é produzida em algumas regiões do tronco encefálico e possui atividade importante nos sistemas de aprendizado, memória e controle do estado afetivo. Conforme já discutido, é o principal neurotransmissor liberado por neurônios simpáticos pós ganglionares nos tecidos periféricos. Sua síntese também é dependente do aminoácido tirosina e passa pela mesma via que origina a dopamina, com continuidade à transformação da dopamina em noradrenalina, por meio da atividade da enzima dopamina ß-hidroxilase, dependente de vitamina C (como importante doador de elétrons na forma ascorbato). A noradrenalina, também armazenada em vesículas, após ser liberada atua em receptores adrenérgicos (α e ß, com diferentes subtipos) e boa parte é recaptada pela célula pré-sináptica (aproximadamente, 90%). Em neurônios conhecidos como adrenérgicos, a noradrenalina é convertida em adrenalina (ou epinefrina) à partir da enzima feniletanolamina N-metiltransferase1,2,4,5. 17 Figura 4: Via de síntese dos neurotransmissores dopamina, noradrenalina e adrenalina Elaborado pelo próprio autor Acetilcolina Acetilcolina (Figura 5) é o neurotransmissor que caracteriza o sistema nervoso autônomo parassimpático e responsável pela comunicação entre os neurônios pré e pós ganglionares (tanto no sistema simpático quanto parassimpático), além de estar presente em algumas sinapses a nível de SNC e modular atividades relacionadas à aprendizado e memória, por exemplo. Sua síntese ocorre a partir da colina (principalmente encontrado em alimentos de origem animal, tais como ovo, leite e carnes) e da acetil coenzima A. A enzima colina acetil transferase transfere o grupamento acetil da coenzima A para a colina, resultando em acetilcolina e coenzima A (vitamina B5). A acetilcolina pode se ligar a receptores nos neurônios pós-sinápticos (metabotrópicos: M1, M2, M3, M4 e M5 ou ionotrópicos) e, depois de exercer seus efeitos biológicos, pode ser degradada pelas enzimas acetilcolinesterase oubutirilcolinesterase1,2,4–6. 18 Figura 5: Via de síntese da acetilcolina Elaborado pelo próprio autor Serotonina A serotonina (Figura 6) é um neurotransmissor sintetizado a partir do aminoácido essencial L-triptofano, a nível de SNC, em núcleos presentes no tronco encefálico (ponte e mesencéfalo). Permanece na circulação sanguínea complexada a albumina e é capaz de atravessar a barreira hematoencefálica por meio de transportadores de aminoácidos. Dentre as principais funções que desempenha, pode-se destacar sua capacidade de modular a ingestão alimentar, termorregulação, ciclo vigília/sono, memória e regulação de humor, sendo que desajustes na sua produção/atuação associam-se ao desenvolvimento de transtornos de humor, tais como a depressão e transtorno bipolar1,2,6. Para que haja produção central de serotonina, o L-triptofano proveniente da alimentação compete com outros aminoácidos para atravessar a barreira hematoencefálica (leucina, isoleucina, valina, tirosina, fenilalanina e metitonina), e normalmente está em menor concentração. Ao acessar o SNC o L-triptofano pode ser utilizado para a síntese de serotonina ou desviado para a via das quinureninas, o que origina ácido quinolínico, ácido quinurênico ou nicotinamida. Considerando a primeira via (de formação da serotonina) o L-triptofano é convertido a 5- hidroxitriptofano (5-HTP), a partir da atuação da enzima triptofano hidroxilase, a qual é dependente das vitaminas B3, B9 e B12, bem como de ferro, cobre, magnésio e oxigênio. Desta etapa, 5-HTP originará a serotonina (5-HT) por ação da enzima L-aminoácido aromático descarboxilase, dependente de vitamina B6 5. 19 A serotonina pode atuar em 10 tipos de receptores na célula pós-sináptica (metabotrópicos: 5-HT1, 5-HT2, 5-HT4, 5-HT5, 5-HT6, 5-HT7 e ionotrópicos: 5-HT3- A, B e C) e depois de exercer seus efeitos biológicos pode ser recaptada pelo neurônio pré-sináptico, ou degradada pela enzima MAOA e aldeído desidrogenase. Ainda, a serotonina também pode ser utilizada para a via de síntese da melatonina, na glândula pineal (que será discutido posteriormente)1. Além da síntese de serotonina pelo SNC (que é de 2% e ocorre em regiões específicas do tronco encefálico – núcleos da Rafe – de onde se disseminam para demais partes do SNC), outros locais podem sintetizá-la, como as células enterocromafins do epitélio intestinal, com a finalidade de controlar movimentos peristálticos e secreção, além de também ser utilizada para síntese de melatonina que ocorre localmente. Diferentemente da melatonina produzida pela glândula pineal, que coordena a ritimicidade circadiana e a arquitetura do sono, a melatonina intestinal associa-se a efeitos antioxidantes importantes 4. Figura 6: Via de síntese da serotonina Elaborado pelo próprio autor Curiosidades.... A serotonina é capaz de agir sobre neurotrofinas, proteínas presentes no cérebro que estimulam o crescimento de neurônios, tais como a NGF (nerve growth factor), que inicia a proliferação de redes nervosas e aumenta a quantidade de axônios e dendritos nos neurônios; além disso, minimiza o estresse oxidativo, inibe a 20 degeneração de circuitos neuronais e melhora a síntese da enzima responsável pela produção de noradrenalina. Também estimula a formação de BDNF (brain derived neurotrofic factor), importante modulador do processo de memória intermediária e neurogênese! O magnésio foi citado como um dos importantes nutrientes necessários para a formação de serotonina. Para além dessa função, é um mineral fundamental que pode ser estocado nos ossos e/ou músculos, e cuja excreção pode ocorrer via urinária ou fecal. É importante para ativação de enzimas envolvidas em diversas funções, como por exemplo, as hidrolases responsáveis pela ativação da vitamina D. Ainda, é fundamental para manutenção do relaxamento muscular e, por isso, o equilíbrio entre os minerais cálcio e magnésio é imprescindível nesse quesito. Contempla a estrutura química da molécula de ATP e sua deficiência pode prejudicar o aporte de energia ao indivíduo. As câimbras musculares parecem, também, ser influenciadas pela deficiência de magnésio. Este mecanismo está relacionado ao desequilíbrio da função da Na+/K+ ATPase, presente nas células musculares (e em todos os outros tipos celulares), que necessita de magnésio. Na deficiência deste mineral o transporte de K+ para o meio intracelular é ineficiente o que ocasiona os episódios das câimbras. Os sinais de insuficiência de magnésio são: distúrbios de humor, ansiedade, déficit de atenção, insônia, irritabilidade, perda de memória, convulsões, fraqueza, mialgia, tremores da pálpebra, tontura, náuseas, irritabilidade muscular e dificuldade para evacuar. Quadro 3: Necessidades de ingestão diária de Magnésio MAGNÉSIO: Ingestão Diária de Referência (DRI) Estágios da vida Idade RDA (mg) UL (mg) Recém-nascidos 0-6 meses AI: 30 ND 7-12 meses AI: 75 ND Crianças 1-3 anos 80 65 4-8 anos 130 110 Homens 9-13 anos 240 350 21 14-18 anos 410 350 19-30 anos 400 350 31-50 anos 420 350 51-70 anos 420 350 > 70 anos 420 350 Mulheres 9-13 anos 240 350 14-18 anos 360 350 19-30 anos 310 350 31-50 anos 320 350 51-70 anos 320 350 > 70 anos 320 350 Gestantes Até 18 anos 400 350 19-30 anos 350 350 31-50 anos 360 350 Lactantes Até 18 anos 360 350 19-30 anos 310 350 31-50 anos 320 350 ANVISA: Níveis máximos de segurança para adultos de 700 mg Lactentes: 10 mg/Kg de peso corporal até o limite de 80 mg Pediátricos: 10 mg/Kg de peso corporal até o limite de 200 mg Adaptado de 6,7 Glutamato Esse neurotransmissor é amplamente sintetizado no córtex cerebral e de extrema importância para seu funcionamento, com funções na plasticidade sináptica, aprendizado e memória. Por ser um neurotransmissor excitatório deve ser mantido sob fino controle, já que seu desbalanço pode induzir diversas anormalidades, desde morte cerebral, quando relacionado à concentrações 22 excessivas, ou se numa situação contrária, a depressão. Sua síntese ocorre à partir do aminoácido glutamina, que acessa o neurônio através dos astrócitos, ou à partir da transaminação do α-cetoglutarato (intermediário do ciclo do ácido cítrico). A enzima glutaminase é responsável por realizar a hidrólise de glutamina em glutamato e amônia1,3,5. Após ação do glutamato na célula pós-sináptica em receptores metabotrópicos ou ionotrópicos, pode ser recaptado pelo neurônio pré-sináptico ou pelas células da glia, onde sofrerá ação da enzima glutamina sintase e será novamente convertido em glutamina ou metabolizado a α-cetoglutarato. Dos receptores de glutamato já identificados, os ionotrópicos podem ser do tipo AMPA ou NMDA, sendo este último o mais estudado e sua modulação está associada a anormalidades, tais como a depressão. Receptores NMDA, quando ativados pelo glutamato, induzem a abertura de canais não seletivos para cátions (elementos químicos com carga positiva) e permite a entrada desses elementos, o que promove a despolarização desta célula5,6. Ácido-y-aminobutírico- GABA O GABA é sintetizado a partir do glutamato, por meio da enzima glutamato descarboxilase (dependente de B6). No neurônio pós-sináptico o GABA pode atuar em receptores metabotrópicos ou ionotrópicos e provocará inibição no neurônio pós-sináptico. Após sua ação, o GABA pode ser captado por células da glia e degradado, através da enzima GABA transaminase, o que origina intermediários do ciclo do ácido cítrico. Contrariamente ao descrito para glutamato, uma vez que o GABA interage com seus receptores pós-sinápticos, induz abertura de canais aniônicos (elementos químicos com carga negativa), o que permite a entrada de carga negativa e inibe a despolarização da célula pós- sinaptica1,5. 23 GlicinaGlicina também é considerado um neurotransmissor inibitório que participa do processamento de informações motoras e sensoriais e pode ser liberada juntamente do GABA. Sua síntese ocorre a partir da serina e sua ação em receptores ionotrópicos da célula pós-sináptica inibe ou dificulta o surgimento de potencial de ação, impedindo a propagação do impulso. Entretanto, também pode exercer efeitos excitatórios relacionados à exacerbação de ação dos receptores NMDAs: em determinadas regiões do SNC, a glicina estimula a neurotransmissão excitatória glutamatérgica. Após sua ação a glicina pode ser recaptada pela célula pré-sináptica ou pelas células da glia1,2. Curiosidades.... Dos neurotransmissores estudados estima-se que 80% das sinapses químicas utilizam glutamato como principal e, portanto, há significante possibilidade da célula pós-sináptica ser ativada e gerar um potencial de ação e que de 10 a 15% das sinapses químicas utilizem GABA, com menor probabilidade de geração de potencial de ação no neurônio pós-sináptico. O que falta para completar 100% utiliza os demais neurotransmissores, mas isso não significa que sejam menos importantes do ponto de vista funcional! Ainda em relação à comunicação por sinapses, existe uma modalidade de sinapse que foi mencionada ao longo do texto em que há participação das células da glia. Essa categoria é denominada de sinapse tripartite que pode ser caracterizada, por exemplo, pela degradação do neurotransmissor através da célula glial (conforme já descrito no texto). Outra questão de extrema importância em relação às sinapses é a plasticidade: ou seja, o quão plásticas podem ser essas comunicações a depender de sua utilização ou não. Em outras palavras, vejamos os exemplos: Situação 1- ao estudar determinado tema mais de uma vez, espera-se que haja reforço das sinapses inicialmente geradas; Situação 2- se estudar uma única vez determinado 24 assunto e nunca mais entrar em contato com aquelas informações, pode haver o desaparecimento das sinapses inicialmente geradas; Situação 3- ao se adicionar novas informações ao tema que já foi estudado mais de uma vez espera-se formar novas sinapses. Você pode imaginar que nosso cérebro é um órgão extremamente ativo e que possui intensa demanda metabólica! Pois bem, por esse motivo é dependente de um excelente mecanismo de irrigação sanguínea para seu adequado aporte nutricional, oferta de oxigênio e, até mesmo retirada de metabólitos. Ele pesa, aproximadamente, 2% do peso corporal total e consome cerca de 20% do oxigênio do corpo. Essa característica aumenta de maneira significante a produção de radicais livres, tais como as espécies reativas de oxigênio (EROs). Além disso, o cérebro é um local com elevada concentração dos minerais ferro e cobre que são responsáveis por catalisar reações de Fenton e Haber-Weiss que, por sua vez, também aumentam a produção de EROs. Outro ponto de extrema relevância é o fato de ser uma região rica em ácidos graxos poli-insaturados que são passíveis de oxidação. Neste sentido, o cérebro é intensamente susceptível ao processo de estresse oxidativo que, quando em desequilíbrio, pode desencadear diversas doenças neurodegenerativas ou mesmo anormalidades como depressão, ansiedade e outros transtornos comportamentais. 25 MÓDULO II Neste módulo discutiremos uma relação que vem crescendo de maneira constante através da interação entre intestino e cérebro, sendo mais evidente a relação entre a saúde intestinal e comportamentos: tanto alimentar quanto emocional. Trouxe aqui uma abordagem simplificada dessa relação que será mais detalhada nas vídeo-aulas! A ideia geral deste tópico é demonstrar a importância da alimentação para uma saúde intestinal adequada e, como consequência, prevenção ou melhora de sintomas relacionados às questões mentais. Nós, enquanto nutricionistas ou futuros nutricionistas, devemos nos preocupar com o intestino de nosso paciente como um importante determinador de sua saúde ou de anormalidades das mais diversas modalidades! Eixo intestino-cérebro Cada vez mais se discute a importância de um estilo de vida adequado para a promoção da saúde geral, inclusive intestinal e sabe-se da importância da alimentação nesse quesito, principalmente em relação à composição dos microrganismos que ali habitam (microbiota). A homeostase do organismo também é construída através do eixo intestino- cérebro determinada por características neurais, endócrinas e imunes; sistemas esses que amadurecem desde o nascimento à partir da composição da microbiota8. Esse eixo exibe uma comunicação bidirecional capaz de realizar modulações significantes a depender do direcionamento estabelecido: pode coordenar motilidade e secreção intestinais uma vez que haja uma comunicação “descendente”, ou seja, do cérebro ao intestino, bem como coordenar ingestão alimentar, fome e saciedade numa comunicação “ascendente”, ou seja, do intestino ao cérebro. Portanto, o eixo cérebro-intestino, envolve o SNC e o ambiente intestinal, incluindo as células que o constituem, a microbiota, bem como os substratos energéticos necessários para mantê-los e os metabólitos e produtos químicos sintetizados à partir da utilização desses substratos. Essa 26 comunicação, para ser melhor definida, pode ser denominada de eixo microbiota- intestino-cérebro e é determinado pelo sistema nervoso entérico (SNE) que envia e recebe informações através de caminhos neurais (descendentes e/ou ascendentes) e através da circulação sanguínea9,10. A disfunção desse sistema de comunicação pode impactar de maneira significante e promover consequências fisiopatológicas relevantes11,12. Essa comunicação torna cada vez mais próxima a relação entre a saúde intestinal e a ocorrência de doenças que acometem o SNC, o que, logicamente, culmina com hábitos de vida. Pesquisas tem demonstrado a correlação entre alimentação e saúde intestinal e sua conexão com estresse, depressão e ansiedade. Portanto, o tratamento desses transtornos exigem uma equipe multiprofissional e deve incluir estratégias nutricionais relacionadas ao tratamento intestinal13. A microbiota intestinal humana é composta por cerca de 100 trilhões de microorganismos que atuam com intuito de auxiliar na manutenção e revestimento intestinal e pode ser influenciada por aspectos genéticos, idade, gênero, hábitos alimentares e pelo estresse14–19. Esses microorganismos possuem a capacidade de produzir compostos que atuam a nível de SNC e fazem parte da geração de comportamentos do hospedeiro, bem como função cognitiva e interação social. Quando a composição adequada da microbiota intestinal é alterada, caracteriza-se a chamada disbiose intestinal que, por sua vez, pode interferir de maneira negativa no processo alimentar e biodisponibilidade de alimentos, além de colaborar para o aumento da permeabilidade intestinal, o que exacerba ainda mais essa interferência e promove interações que possam manifestar-se a nível sistêmico20 inclusive ao atingir o SNC através da barreira hematoencefálica21. Assim, sob essa condição, há modificação do padrão neuroquímico do indivíduo22, positiva correlação entre aumento de permeabilidade intestinal, estresse e comportamento emocional como um todo23,24. 27 O padrão alimentar característico da sociedade atual que, de modo geral, se caracteriza pelo reduzido consumo de alimentos in natura e minimamente processados, por exemplo, frutas e vegetais, contribui para a deficiência de vitaminas e minerais, e minimiza a oferta de fibras, que são importantes substratos para manutenção de uma microbiota saudável. Além disso as deficiências nutricionais estão cada vez mais associadas aos transtornos mentais: no primeiro módulo estudamos a importância de muitos nutrientes como cofatores para o funcionamento de enzimas-chavesna via de síntese de neurotransmissores. Na conduta clássica para modulação de saúde intestinal os prébioticos (fibras) são imprescindíveis para obtenção de resultados positivos, pois auxiliam na manutenção dos probióticos (microbiota), para que exercem benefícios ao hospedeiro25,26. Os gêneros primários de probióticos incluem Bifidobacterium Gram positivos e Lactobacillus. Esses não possuem lipopolissacarídeos em sua estrutura celular e, portanto, não são capazes de ativar o sistema inflamatório, além de auxiliarem no processo de tolerância oral que inclui uma resposta imune apropriada e produção de citocinas anti-inflamatórias27. Nessa linha de raciocínio, estão os psicobióticos, probióticos que promovem benefícios específicos para a saúde mental à partir de interação com a microbiota intestinal e são capazes de produzir neurosubstâncias como GABA e serotonina, além de modular o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA) que está associado ao estresse. Para que essa produção ocorra alguns substratos são necessários, tais como as fibras (prebióticos), metabolizadas a ácidos graxos de cadeia curta (acetato, butirato e propionato), de extrema importância para a homeostase do organismo hospedeiro e que praticamente não estão disponíveis em fontes alimentares. Pode-se considerar, portanto, que os psicobióticos apresentam efeitos benéficos aos indivíduos que sofrem de anormalidade psiquiátricas28. Veja no quadro a seguir (quadro 4) algumas evidências que demonstram o uso de psicobióticos no tratamento de depressão e ansiedade: 28 Quadro 4: Relação de psicobióticos, seus principais efeitos e referências bibliográficas Psicobióticos Efeitos principais Referência Lactobacillus helveticus e Bifidubacterium longum Voluntários saudáveis apresentaram menos ansiedade e depressão 28 Bifidobacterium longum Gênero utilizado em modelo de colite com comportamento semelhante à ansiedade, promoveu efeito ansiolítico 29 Bifidubacterium e Streptococcus thermophilus Inibição na produção da citocina pró- inflamatória TNFA 30 Lacatobacillus casei Shirota Reduz a expressão da citocina pró- inflamatória TNFA em modelos animais 31 Lactobacillus rhamnosus Reduz corticosterona induzida pelo estresse e modula comportamento de ansiedade e depressão 32 Considerando os conhecimentos básicos obtidos nesses dois primeiros módulos podemos mergulhar nos aspectos fisiopatológicos e de assistência nutricional de doenças e distúrbios mentais. 29 MÓDULO III Nesse módulo iniciaremos com a depressão e para que possamos compreender um pouco das suas formas de tratamento, estudar os aspectos fisiopatológicos se faz muito necessário! Aspectos fisiopatológicos da depressão A depressão é uma classificação de transtorno de humor (alterações cognitivas e comportamentais) de característica crônica e recorrente. Estima-se que cada indivíduo tenha um risco de 17 a 20% de manifestar algum episódio depressivo ao longo de sua vida, sendo mais prevalente no gênero feminino, dentro de uma faixa etária de 25 a 44 anos33–37. A depressão é uma das doenças que mais gera custos, tanto sociais quanto pessoais, além de levar à incapacidade física funcional, com limitações nas atividades diárias, inclusive relacionada a produtividade no trabalho e no bem- estar geral, com maior risco à morbidade e mortalidade por associar-se a diversas doenças não comunicáveis, tais como diabetes mellitus, doenças cardiovasculares e hipertensão, bem como a doenças neurodegenerativas38–44. Estima-se que, em 2030, essa doença esteja como a principal causa de incapacitação45. A etiologia da depressão não está completamente esclarecida, mas sabe-se que possui influência tanto genética quanto ambiental para seu desenvolvimento. Características genéticas parecem associar-se a 40% de risco para o desenvolvimento de depressão, considerando-se, portanto, fatores ambientais os principais gatilhos para seu surgimento. Do perfil genético associado, o polimorfismo no gene de BDNF, enzima MAOA, da enzima triptofano hidroxilase e do transportador de serotonina (5-HTT) são os principais gatilhos e, dos fatores ambientais, o estresse crônico e precoce, bem como traumas emocionais são destaques46–51. 30 Uma das mais tradicionais hipóteses para o desenvolvimento da depressão remonta 1965 e denomina-se hipótese monoaminérgica, cuja teoria principal postulada pelo cientista Schildkraut era de que haveria redução dos neurotransmissores serotonina, noradrenalina e dopamina na fenda sináptica, o que provocaria o estado da doença52. À partir dessa hipótese, os medicamentos desenvolvidos para o tratamento da depressão foram baseados no aumento da concentração desses neurotransmissores no SNC35: a) inibidores seletivos da recaptação de serotonina: por inibir sua recaptação, através do bloqueio de receptores para serotonina no neurônio pré-sináptico, o neurotransmissor se mantém em maior concentração no meio extracelular e na fenda sináptica (exemplo: fluoxetina, paroxetina, fluvoxamina, sertalina, citalopram, escitalopram); b) inibidores da enzima MAO: há bloqueio da ação da enzima monoamina oxidase o que a torna indisponível para degradação dos neurotransmissores e aumenta sua concentração na fenda sináptica (exemplos: fenelzina, tranilcipromina, izocarboxazida); c) antidepressivos tricíclicos: há bloqueio da recaptação de serotonina, noradrenalina e dopamina, através da inibição de seus receptores na célula pré-sináptica, o que as mantém em maior concentração na fenda sináptica (exemplos: amitriptilina, nortriptilina, imipramina, desipeamina); d) antidepressivos atípicos: são aqueles que não se encaixam em nenhuma das demais classes I. inibidores seletivos da recaptação de noradrenalina e dopamina (exemplo: bupropiona) ou inibidores seletivos da recaptação de serotonina e noradrenalina (exemplos: venlafaxina, duloxetina) que por inibir sua recaptação, através do bloqueio de receptores no neurônio pré-sináptico, o neurotransmissor se mantém em maior concentração no meio extracelular e na fenda sináptica; II. antagonistas da serotonina (exemplos: trazodona, nefazodona) que interagem com receptores de serotonina do tipo 5-HT2. 31 Apesar de bem aceita, a hipótese de Schildkraut é considerada simplista perto das infinitas possibilidades de correlações e gatilhos para o desenvolvimento da depressão. Assim, novas hipóteses e teorias tem surgido acerca de explicar a fisiopatologia desta doença. Há dados que demonstram concentração excessiva de glutamato, a nível central e sistêmico, em pacientes com depressão53–56. O receptor ionotrópico para glutamato NMDA tem sido correlacionada com a fisiopatologia da depressão, quando antagonistas desses receptores parecem desenvolver efeitos antidepressivos. O excesso de glutamato provoca um aumento significante na entrada de cálcio para o meio intracelular e colabora com a morte do neurônio devido sua excitotoxicidade57,58. Curiosidade... Você entende o significado dos termos antagonista e agonista? Ao longo do texto esses termos serão amplamente abordados e é necessário que esses conceitos estejam claros: antagonista é uma substância que se liga a determinado receptor sem intuito de ativá-lo, ou seja, não promove o efeito final que o ligante potencial daquele receptor exerceria; agonista é uma substância capaz de se ligar ao receptor e ativá-lo, ou seja, de desencadear a resposta final que o ligante potencial daquele receptor exerceria! Outro gatilho bastante associado à fisiopatologia da depressão é o processo inflamatório e aumento de estresse oxidativo. Indivíduos com depressão parecem ter aumento significante de marcadores inflamatórios e, até mesmo, presença de doenças inflamatórias periféricas (por exemplo, intestino irritável, artrite reumatóidee esclerose múltipla)59–61. Pacientes com depressão apresentaram elevada concentração de proteína-C-reativa (PCR), das interleucinas 1 e 6 e do fator de necrose tumoral alfa (TNFA), além da reduzida concentração de citocinas anti- inflamatórias, tais como a interleucina 1062–64. 32 Sinais inflamatórios periféricos exacerbados que atingem o SNC ativam a micróglia que, por sua vez, aumenta de maneira significante a produção de citocinas pró-inflamatórias e de radicais livres. Esses eventos recrutam astrócitos a perpetuar a resposta inflamatória, o que contribui para a redução de trofismo e maior apoptose de oligodendrócitos, os quais são susceptíveis à inflamação, e promove a desmielinização de neurônios (perda da bainha de mielina), prejudicando a neurotransmissão. O estresse oxidativo pode aumentar a expressão da enzima indolamina-2,3 dioxigenase (IDO), expressa e constantemente ativa em astrócitos e micróglia, e responsável por desviar o L-triptofano para a via das quinureninas e, portanto, reduzir sua conversão a serotonina65–68. Existem neurônios que também expressam IDO, além das células de alguns tecidos periféricos, tais como fígado, pulmão, placenta, rins e baço. Nos astrócitos a via das quinureninas gera L-quinurenina, convertida em ácido quinurênico que atua como antagonista do receptor NMDA, podendo inibir a liberação de glutamato. Na micróglia, há formação de ácido quinolínico que é agonista do receptor NMDA e contribui para excitotoxicidade do glutamato, tornando-se importante gatilho para o desenvolvimento da depressão66–68. A presença excessiva de radicais livres, que caracteriza uma condição de estresse oxidativo, também parece se relacionar ao desenvolvimento da depressão. De modo geral, o sistema antioxidante é capaz de coordenar/modular a produção de radicais livres, no entanto, há situações em que essa capacidade é modificada, por exemplo, quando há maior exposição do indivíduo a metais pesados ou até mesmo na prática exercícios físicos extenuantes. É importante lembrar que, apesar de nosso organismo dispor de um sistema antioxidante pela atividade de enzimas como catalase, superóxido dismutase e glutationa, alguns nutrientes como vitaminas A, C, E, carotenóides, flavonóiides, entre outros, são também considerados antioxidantes e a redução de atividade dessas enzimas, bem como a redução de consumo desses nutrientes pode colaborar para a ocorrência do estresse oxidativo69–73. 33 O estresse oxidativo influencia de maneira significante as funções celulares, desde a inativação de enzimas responsáveis pelo metabolismo, até oxidação de DNA, danos na integridade de membrana e morte celular. O cérebro é o órgão mais susceptível ao estresse oxidativo devido à elevada concentração de metais como o ferro e cobre, bem como a concentração de ácidos graxos poliinsaturados, que são altamente oxidáveis71,74–76. Além da depressão, diversas outras doenças podem compartilhar o gatilho do estresse oxidativo, por exemplo, as cardiovasculares, diabetes e câncer. As doenças neurodegenerativas também se associam de maneira significante, considerando a possibilidade de indução de morte celular provocada pelo excesso de radicais livres. Transtornos psiquiátricos, portanto, podem se instalar numa condição de destruição de neurônios e neurodegeneração. Estudos demonstram que em pacientes com depressão há aumento de radicais livres e menor atividade das enzimas antioxidantes, bem como de vitaminas C e E66,77–80. Alguns estudos, inclusive, sugerem melhora do estresse oxidativo e inflamação de pacientes com depressão após uso de terapia farmacológica com inibidores seletivos da recaptação de serotonina, antidepressivos tricíclicos e inibidores da MAO81–83. Outro aspecto bastante correlacionado a etiologia da depressão é o estresse. Por aumentar de maneira significante a concentração de glicocorticóides circulantes, provoca certa desorganização no eixo HHA, bem como a morte de neurônios o que contribui para uma desordem neuroquímica e facilita o surgimento de depressão46. Vamos revisar um pouco sobre o funcionamento desse eixo abaixo: Conforme demonstrado no esquema a seguir (Figura 7), estruturas do SNC respondem a uma situação de estresse através da liberação de mediadores (hormônios). O hipotálamo aumenta a liberação do hormônio CRH que, por sua vez, atua na hipófise estimulando a maior liberação de ACTH. O ACTH circulante chega nas glândulas adrenais e ativa a liberação de glicocorticóides4, em 34 especial o cortisol, o qual, em excesso, é considerado tóxico aos neurônios e ativa vias de morte46. Figura 7: Eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA) Elaborada pelo próprio autor Outros estudos que descrevem essa relação entre o estresse e a depressão destacam importantes alterações morfológicas, celulares e moleculares nas regiões do cérebro associadas ao humor e cognição o que facilita o surgimento de sintomas depressivos. O tratamento antidepressivo parece modular esse quadro, impedindo ou revertendo essas alterações e, portanto, melhorando os sintomas ocasionados pelo estresse. Outro ponto de extrema relevância associado ao desenvolvimento da depressão é a saúde intestinal. Há dados que demonstram que pacientes depressivos apresentam alterações na microbiota intestinal. Os estudos experimentais demonstram o desenvolvimento da depressão por meio da modulação na composição da microbiota intestinal com a injeção de fragmentos de bactérias Gram negativas (lipopolissacarídeos – LPS), com potencial patogênico, o que caracteriza a disbiose. A presença de LPS prejudica a saúde intestinal e induz inflamação; a disbiose aumenta a permeabilidade intestinal e isso 35 facilita a disseminação desse processo inflamatório a nível sistêmico e, inclusive, ao SNC 84,85. A permeabilidade intestinal também pode ser alterada pelo estresse e, considerando a presença de disbiose, há maior probabilidade de translocação do LPS e citocinas inflamatórias de maneira sistêmica. O aumento das citocinas pró- inflamatórias está associada a maior atividade da IDO, tanto em tecido hepático quanto no cérebro, o que aumenta a conversão de triptofano para a via das quinureninas e, portanto, diminui a síntese de serotonina. Aqui temos um ciclo importante a ser considerado, visto que as citocinas pró-inflamatórias também são capazes de induzir alterações no eixo HHA, o que estimula ainda mais a permeabilidade intestinal, translocação de LPS, inflamação sistêmica, atividade da IDO, via das quinureninas e redução de serotonina 86. Curiosidades... Como estudamos nos módulos anteriores a atividade da microbiota intestinal é imprescindível para homeostase do organismo. Uma microbiota saudável é inclusive responsável pela melhor absorção e produção de vitaminas. As do complexo B estão intimamente relacionadas às vias bioquímicas de produção de energia (ciclo do ácido cítrico e cadeia de fosforilação oxidativa). É muito comum que pacientes com disbiose apresentem maior queixa de cansaço e indisposição, devido à ineficiência dessas vias bioquímicas. Esses sintomas colaboram muito ao quadro de depressão e reduzem ainda mais o bem-estar geral do paciente. Perceba mais uma vez como nosso intestino conversa com o organismo como um todo! Prescrição nutricional na depressão Considerar a prescrição nutricional no tratamento da depressão é de extrema importância, visto que o tratamento farmacológico oferece ao paciente diversos efeitos colaterais (cardíacos, dores de cabeça, diarreia ou obstipação, 36 ganho de peso, disfunção sexual e outros), além do risco para toxicidade. Existem também algumas restrições alimentares recomendadas ao uso, principalmente, dos inibidores da MAO: o paciente deve reduzir o consumo de alimentos ricos em tiramina, tais como os defumados,vinho, cerveja, peixes, banana, queijos maturados, abacate, figo, enlatados, laticínios, embutidos, aves e frutos do mar, pois esse substância é metabolizada à partir da MAO, a qual estará inibida, devido à terapia medicamentosa e seu acúmulo pode induzir enxaqueca 87. Para compreender as abordagens nutricionais consideradas a esses pacientes é imprescindível relembrar um pouco dos conceitos estudos nos módulos anteriores: diversos são os nutrientes que participam da síntese de neurotransmissores e que podem auxiliar em sua disponibilidade na fenda sináptica. O triptofano, um aminoácido essencial presente nos alimentos e/ou suplementos (e descrito mais adiante) tem sua importância significante em diversas funções no organismo, por exemplo, na regulação do humor, sono, apetite, além das funções gastrointestinais, as quais são em parte desempenhadas pela serotonina, melatonina ou niacina que possuem o triptofano como precursor de sua síntese88. Curiosidades... A vitamina B3 (niacina) é produzida à partir do triptofano. A deficiência dessa vitamina recruta com maior intensidade o triptofano para sua via de síntese, o que promove a depleção desse substrato para outras finalidades, por exemplo, para produção de serotonina! Quadro 5: Necessidades de ingestão diária de Niacina NIACINA: Ingestão Diária de Referência (DRI) Estágios da vida Idade RDA (mg) UL (mg) Recém-nascidos 0-6 meses AI: 2 Nd 37 7-12 meses AI: 4 Nd Crianças 1-3 anos 6 10 4-8 anos 8 15 Homens 9-13 anos 12 20 14-18 anos 16 30 19-30 anos 16 35 31-50 anos 16 35 51-70 anos 16 35 > 70 anos 16 35 Mulheres 9-13 anos 12 20 14-18 anos 14 30 19-30 anos 14 35 31-50 anos 14 35 51-70 anos 14 35 > 70 anos 14 35 Gestantes Até 18 anos 18 30 19-30 anos 18 35 31-50 anos 18 35 Lactantes Até 18 anos 17 30 19-30 anos 17 35 31-50 anos 17 35 ANVISA: Níveis máximos de segurança para adultos de 500 mg Lactentes: 20 mg/Kg de peso corporal até o limite de 200 mg Pediátricos: 20 mg/Kg de peso corporal até o limite de 400 mg Adaptado de 6,7 38 Vale a pena lembrar sobre a importância do estresse, disbiose e inflamação no desvio de triptofano para a via de quinureninas e, portanto, redução para formação de serotonina, facilitando o desenvolvimento de depressão e, também, redução da formação de demais moléculas dependentes desse aminoácido essencial. Nesse caso, é importante o cuidado à suplementação desse aminoácido, visto que, por mais que possa corrigir a ingestão de alimentos fonte reduzida pelo paciente na tentativa de adequar sintomas de depressão, como já demonstrado em alguns estudos, se o estresse e a disbiose não forem devidamente modulados, a suplementação de triptofano não será eficiente para melhora da concentração de serotonina89–92. Importante também reforçar a questão de competição do triptofano com outros aminoácidos na passagem da barreira hematoencefálica (isoleucina, leucina, valina, tirosina, fenilalanina e metionina). A concentração sugerida para suplementação varia em torno de 1 a 3g/dia. Nesse sentido, alguns autores descrevem benefícios quanto ao uso do fitoterápico Griffonia simplificata que parece conter elevadas concentrações de 5- HTP, também precursor da serotonina93, ou ainda, sugere-se a suplementação direta de 5-HTP como forma de se evitar essa competição do triptofano à passagem para o SNC. O ômega-3 (w-3), ácido graxo poliinsaturado essencial, pode ser adquirido através da alimentação por alimentos fontes tanto de origem vegetal quanto de origem animal: o w-3 ALA (ácido α-linolênico) está presente na chia e linhaça; já o EPA (ácido eicosapentaenóico) e o DHA (ácido docosaexaenoico) estão presentes em peixes de águas profundas. Esses nutrientes desempenham inúmeras funções em nosso organismo, em especial ações anti-inflamatórias, além de atuarem como integrantes da estrutura das membranas celulares, essenciais para as membranas das células nervosas, sendo o DHA o principal w-3 encontrado no SNC (10 a 20%)7,94,95. Há evidências que demonstram reduzida concentração de w-3 em indivíduos com depressão, bem como uma correlação entre melhor consumo de w-3 por gestantes e menor probabilidade de desenvolvimento de depressão no 39 período pós-parto96,97. A utilização de EPA em maior quantidade (próximo a 60% da soma de EPA com DHA) parece exercer melhor benefício para pacientes com depressão98. Dentre os principais mecanismos de ação descritos do w-3 como agente antidepressivo estão a modulação dos neurotransmissores serotonina e dopamina, efeito anti-inflamatório, aumento da arborização dendrítica e melhora na expressão de genes, por exemplo, de BDNF99,100. Vitaminas do complexo B: a deficiência de folato também parece se relacionar de maneira positiva com depressão, bem como com a ineficiente resposta a terapia antidepressiva. O folato (B9) é a forma da vitamina obtida de fontes alimentares e para que seja convertida em sua forma ativa precisa de uma série de reações bioquímicas que resultam na formação de 5-metiltetrahidrofolato (5-MTHF) que é adequada para que essa vitamina exerça suas funções no SNC 101– 103. Uma das possibilidades para essa correlação associa-se a metabolização da homocisteína (descrito adiante), que é dependente do 5-MTHF, juntamente de outras vitaminas do complexo B, tais como a B12. Assim, a deficiência de ácido fólico pode induzir aumento de homocisteína que também é um marcador da depressão e sugere a deficiência dessas vitaminas103. Outros estudos também sugerem o efeito antidepressivo de ácido fólico por interagir com receptores de serotonina e de noradrenalina e pela sua capacidade de modular o estresse oxidativo associado à uma função antioxidante104,105. Ainda sobre vitaminas do complexo B, a deficiência de B12 também parece estar associada a maior probabilidade de desenvolvimento da depressão106,107. A B2 também participa indiretamente do metabolismo da homocisteína, promovendo a ativação da B9 na forma de 5-MTHF108. A vitamina B3 pode modular a atividade da IDO, e não atrapalhar no uso de triptofano para sua própria conversão, gerando maior aporte desse substrato à formação de serotonina. A B6 além de ser essencial para a ativação das vias de síntese dos neurotransmissores também é necessária para o metabolismo da homocisteína e sua deficiência também se associa à depressão109. 40 A vitamina C apresenta uma importante ação antioxidante no SNC e é imprescindível para a formação da bainha de mielina e síntese de adrenalina, noradrenalina, liberação de acetilcolina e modulação da transmissão de dopamina e glutamato. Há evidências de que pacientes com depressão apresentem redução nos níveis desta vitamina e que a suplementação possa ajudar na melhora de depressão, principalmente associada ao estresse crônico110– 112. A vitamina D é uma vitamina lipossolúvel que pode ser adquirida à partir da alimentação ou à partir da exposição da pele a raios UVB. Para ser convertida em sua forma ativa deve passar por duas etapas de hidroxilação, uma no fígado e outra nos rins e originar a 1,25-di-hidroxivitamina D7. O status dessa vitamina vem sendo correlacionado à doenças psiquiátricas tais como a depressão. Já foi descrita em literatura científica a capacidade do cérebro em ativar a vitamina D, onde exerce importante função neuroprotetora, modula o desenvolvimento da depressão através de fatores moleculares, além de regular a expressão de neurotransmissores113,114. Essa associação já foi demonstrada através da descrição de menor concentração da vitamina em pacientes com depressão, bem como pela suplementação de vitamina D na melhora de sintomas depressivos115,116, no entanto, ainda há dados que descrevem a necessidade de doses mais elevadas para que esses efeitos sejam atingidos. No SNC a vitamina E, também do grupodas lipossolúveis, parece estar associada a melhora da cognição e memória, melhora de ansiedade e na modulação do desenvolvimento de doenças neurodegenerativas7. Ainda, a deficiência dessa vitamina parece reduzir serotonina no córtex pré-frontal, bem como os níveis de triptofano117,118. Dos diversos estudos descritos em literatura boa parte associa a deficiência com o desenvolvimento de depressão e a ingestão dietética como um fator preventivo. É importante mencionar que por ser um nutriente antioxidante, sua modulação no estresse oxidativo e até mesmo na inflamação promovem uma correlação importante com a prevenção da depressão. 41 42 Quadro 6: Fontes alimentares de vitamina B2, C, D e E e a ingestão de referência Nutrientes Vitamina B2 Vitamina C Vitamina D Vitamina E Principais fontes alimentares Carnes, aves, peixes, vísceras, queijos, gema de ovo, vegetais folhosos, legumes leite, algumas frutas e leguminosas Frutas e vegetais Peixes, gema do ovo, alguns cogumelos Sementes, oleaginosas, cereais integrais, abacate Estágios de vida EAR (mg/dia) AI*/RDA (mg/dia) UL (mg/dia) EAR (mg/dia) AI*/RDA (mg/dia) UL (mg/dia) EAR (µg/dia) AI*/RDA (µg/dia) UL (µg/dia) EAR (mg/Kg) AI*/RDA (mg/Kg) UL (mg/Kg) Recém- nascidos 0 a 6 meses 7 a 12 meses - - 0,3* 0,4* - - - - 40,0* 50,0* - - - - 10,0 10,0 25,0 38,0 - - 4,0* 5,0* - - Crianças 1 a 3 anos 4 a 8 anos 0,4 0,5 0,5 0,6 - - 13,0 22,0 15,0 25,0 400,0 650,0 10,0 10,0 15,0 15,0 63,0 75,0 5,0 6,0 6,0 7,0 200,0 300,0 43 Homens 9 a 13 anos 14 a 18 anos 19 a 30 anos 31 a 50 anos 51 a 70 anos > 71 anos 0,8 1,1 1,1 1,1 1,1 1,1 0,9 1,3 1,3 1,3 1,3 1,3 - - - - - - 39,0 63,0 75,0 75,0 75,0 75,0 45,0 75,0 90,0 90,0 90,0 90,0 1200,0 1800,0 2000,0 2000,0 2000,0 2000,0 10,0 10,0 10,0 10,0 10,0 10,0 15,0 15,0 15,0 15,0 15,0 20,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 9,0 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 11,0 15,0 15,0 15,0 15,0 15,0 600,0 800,0 1000,0 1000,0 1000,0 1000,0 Mulheres 9 a 13 anos 14 a 18 anos 19 a 30 anos 31 a 50 anos 0,8 0,9 0,9 0,9 0,9 0,9 0,9 1,0 1,1 1,1 1,1 1,1 - - - - - - 39,0 56,0 60,0 60,0 60,0 60,0 45,0 65,0 75,0 75,0 75,0 75,0 1200,0 1800,0 2000,0 2000,0 2000,0 2000,0 10,0 10,0 10,0 10,0 10,0 10,0 15,0 15,0 15,0 15,0 15,0 20,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 9,0 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 11,0 15,0 15,0 15,0 15,0 15,0 600,0 800,0 1000,0 1000,0 1000,0 1000,0 44 51 a 70 anos > 71 anos Gestantes < 18 anos 19 a 50 anos 1,2 1,2 1,4 1,4 - - 66,0 70,0 80,0 85,0 1800,0 2000,0 10,0 10,0 15,0 15,0 100,0 100,0 12,0 12,0 15,0 15,0 800,0 1000,0 Lactantes < 18 anos 19 a 50 anos 1,3 1,3 1,6 1,6 - - 96,0 100,0 115,0 120,0 1800,0 2000,0 10,0 10,0 15,0 15,0 100,0 100,0 16,0 16,0 19,0 19,0 800,0 1000,0 Adaptado de 7,119 45 Fitoterapia: dentre as intervenções nutricionais para o tratamento da depressão a fitoterapia pode ser considerada, apesar de ser necessário maior investigação sobre o tema, principalmente em relação a dose, tempo e efeitos colaterais. o Crocus sativus (Curcuma longa) parece induzir redução dos sintomas da depressão, com efeitos semelhantes aos de antidepressivos por aumentar níveis de serotonina e dopamina e reduzir a inibir a atividade das enzimas MAOA e MAOB e aumentar BDNF120–122; o O extrato de Rhodiola rosea parece atuar de forma dose dependente na melhora dos sintomas da depressão por meio da inibição das enzimas MAOA e MAOB, além de impedir a redução de serotonina em situações de estresse crônico123–125; o Magnolia officinalis parece aumentar receptores para GABAA, exercer efeitos ansiolíticos significantes, além de aumentar a expressão de proteína responsável pela manutenção/sobrevivência de astrócitos, com consequente melhora da produção da neurotrofina BDNF126,127; o Panax ginseng também possui efeitos positivos no tratamento da depressão, principalmente, associados a sua ação anti-inflamatória e modulação da atividade da IDO128. Curiosidades... Você sabia que o uso de anticoncepcionais pode induzir importante depleção de nutrientes, principalmente de vitaminas e minerais? Pois bem! No atendimento clínico a mulheres em fase reprodutiva é imprescindível verificar se há uso desses contraceptivos orais para que a correlação a sinais e sintomas seja mais eficiente. Para traçarmos essas questões, a avaliação nutricional completa é imprescindível e, para esses casos, talvez seja necessário a reposição desses nutrientes via suplementação. 46 MÓDULO IV: Nesse módulo discutiremos a fisiopatologia da ansiedade, bem como a assistência nutricional como forma de tratamento e prevenção! Aspectos fisiopatológicos da ansiedade A ansiedade é caracterizada por um estado afetivo com papel fundamental para mecanismos de proteção (detecção e antecipação) à potenciais ameaças, capaz de modular a cognição. Entretanto, quando essa condição se estabelece com elevada intensidade ou duração, passa a promover graves prejuízos ao paciente e ser considerada patológica. Transtornos de ansiedade são bastante prevalentes na população mundial e apresentam uma cronicidade significante que induz redução de qualidade de vida e produtividade. Doenças cardiovasculares e depressão estão intimamente correlacionadas à ansiedade129. De maneira geral, os transtornos de ansiedade são classificados de acordo com as características da manifestação: severidade, duração dos sintomas e questões comportamentais e o indivíduo não é capaz de se adaptar à sua manifestação, o que provoca medo excessivo a determinadas situações ou mesmo objeto, por mais que o mesmo não exerça um perigo real130– 132. Discute-se a possibilidade de um desequilíbrio serotoninérgico e GABAérgico, sendo alguns tipos de transtorno de ansiedade, tais como a ansiedade generalizada, a fobia e o estresse pós-traumático associados a concentrações de serotonina reduzidas no cérebro que, por sua vez, podem ser decorrentes de alterações genéticas133. Foi observado em indivíduos com diferentes transtornos de ansiedade modulações significantes na concentração de receptores para GABA134. Também pode haver impacto do desequilíbrio do eixo HHA. Alterações neuroendócrinas em resposta ao estresse agudo ou crônico são mediadas pelo 47 sistema nervoso simpático e pelo eixo HHA: pacientes com transtornos de ansiedade, tais como a síndrome do pânico e ansiedade generalizada, apresentaram elevada concentração de cortisol circulante 135 Prescrição nutricional na ansiedade Intervenções não nutricionais A terapia não nutricional da ansiedade inclui intervenções psicológicas, físicas e farmacológicas (ansiolíticos e antidepressivos). A terapia cognitiva comportamental tem se mostrado importante a esses pacientes, mas só se realiza como forma única de tratamento, para casos mais brandos de transtornos de ansiedade, sendo importante para os demais, outras formas de intervenção, tais como a farmacológica. Os benzodiazepínicos e os antidepressivos tricíclicos foram os primeiros agentes farmacológicos utilizados em transtornos de ansiedade. Os benzodiazepínicos exercem um efeito ansiolítico por meio de sua ligação a receptores de GABA o que potencializa seus efeitos inibitórios. Essa classe de antidepressivo atua bloqueando transportadoresde monoaminas e indolaminas. Os antidepressivos tricíclicos podem atuar principalmente como inibidores da recaptação de serotonina, noradrenalina e serotonina. Outros moduladores de neurotransmissão para o tratamento de ansiedade são os agonistas parciais de 5- HT1A e, ainda, os ß-bloqueadores, quando há sintomas associados a atividade de receptores adrenérgicos, tais como palpitação, tremores e sudorese; inibidores de MAO também podem ser utilizados em transtornos severos de ansiedade, no entanto, induzem efeitos colaterais136–139. De modo geral, dentre os diversos tipos de transtorno de ansiedade, existe uma indicação de tratamento específica. É comum a existência de efeitos colaterais e manifestações individualizadas e, por esse motivo, essa questão é considerada ainda de grande desafio para a clínica. Benzodiazepínicos tendem a 48 induzir perda de libido, sedação e maior chance de dependência. Já os antidepressivos podem induzir letargia (tanto física quanto mental), perda do interesse sexual e alterações antropométricas, como perda significante de peso corporal. Os antipsicóticos podem induzir, de modo geral, tremores, movimentos involuntários e anormais, além de apatia, sedação e redução das respostas emocionais. Todos esses aspectos com considerável interferência na qualidade de vida do paciente, o que torna cada vez mais interessante a busca de estratégias que possam melhorar sua condição clínica e bem-estar. Intervenções nutricionais Dentre as intervenções nutricionais para o tratamento da ansiedade a fitoterapia pode ser considerada, apesar de ser necessário mais investigação sobre o tema, principalmente em relação a dose, tempo e efeitos colaterais. o Passiflora incarnata: atua como sedativo e tranquilizante no combate ao estresse e ansiedade, sendo demonstrado o efeito ansiolítico de seu extrato em animais e humanos. Folhas, flores e frutos podem ser utilizadas com esse objetivo. Esse fitoterápico parece atuar na inibição da enzima MAO, o que permite aumento de serotonina, noradrenalina e dopamina, além disso, modula ação de receptores de GABA e sua captação sináptica140–144. o Erythrina velutina e Erythrina mulungu vem sendo bastante estudadas na modulação de sintomas da ansiedade e insônia. Ambas espécies com efeito ansiolítico já demonstrado à partir do extrato, em animais de experimentação, não sendo associados efeitos sedativos e amnésicos. Acredita-se que o mecanismo de ação esteja associado a sinalização GABAérgica145,146. o Lippia alba, na forma de óleo essencial, já demonstrou efeitos ansiolíticos significantes em ratos semelhantes aos efeitos encontrados pós tratamento com benzodiazepínicos147. o Piper methysticum, também conhecida como kava-kava, Hypericum perforatum, conhecido como erva de São João, e Valeriana officinallis, 49 parecem também apresentar efeitos ansiolíticos, entretanto não podem ser prescritos por nutricionistas148–150. o Extrato aquoso de Crocus sativus (açafrão) e de Eschscholzia californica (papoula da Califórnia), também possui efeitos ansiolíticos151,152. o Extrato das folhas de Ginkgo biloba, extrato de Gotu kola e da raiz de Withania somnifera demonstraram efeitos ansiolíticos em diferentes doses153– 155. o Griffonia simplifolia possuem sementes com elevada concentração de 5-HTP e pode exercer efeitos ansiolíticos significantes93. Além da fitoterapia, a terapia nutricional pode se associar ao restabelecimento da assimilação de nutrientes, à partir de uma conduta nutricional adequada para a saúde intestinal e, ainda, à partir do uso de alguns nutrientes específicos até mesmo sob a forma de suplementação. Conforme estudado anteriormente ao longo do texto, está claro o papel da serotonina no restabelecimento de sintomas de ansiedade e, parece óbvio pensarmos num maior aporte de triptofano, já que é seu principal precursor. De fato, há dados que demonstram que a suplementação de triptofano se faz eficaz para melhora da síntese de serotonina central, seu metabolismo, além de melhoras cognitivas156. Muitos trabalhos demonstram efeitos positivos na suplementação de triptofano em conjunto com terapia não nutricional à partir de antidepressivos, além de auxiliar na melhora do sono e sintomas de ansiedade92,157–162. Entretanto, é importante pensarmos na questão de assimilação desse nutriente pela suplementação e, até mesmo, nos pontos discutidos no módulo anterior sobre disbiose, permeabilidade intestinal e inflamação sistêmica. Pacientes com transtorno de ansiedade apresentam diversas anormalidades no padrão alimentar, tais como a alteração de apetite e alteração de consumo, sintomas esses que alteram de maneira impactante o estilo de vida e são capazes de influenciar o eixo intestino-cérebro. Ainda, esses pacientes podem apresentar alterações fisiológicas relacionadas ao eixo HHA e aumento do estresse, o que também pode repercutir nesse eixo, bem como em seu sistema imune163. 50 MÓDULO V Nesse módulo discutiremos a fisiopatologia dos distúrbios de sono que, em conjunto com as demais desordens discutidas nesse curso, estão cada vez mais presente na nossa sociedade atual e também necessitam de uma assistência tanto comportamental quanto nutricional para seu tratamento e prevenção! Aspectos fisiopatológicos dos distúrbios de sono O comportamento humano, bem como sua fisiologia e bioquímica obedecem a ritmos biológicos164. O estudo desses ritmos é denominado cronobiologia e essa ciência descreve e caracteriza uma organização temporal, manifestada não somente em seres humanos, mas em todos os seres vivos. A análise do tempo, envolve uma sequência de eventos capazes de transformar a matéria e a cronobiologia demonstra que, ao longo do processo evolutivo (tempo), possivelmente existiu uma seleção natural que promoveu a presença dos seres vivos passíveis de adaptação e sobrevivência às modificações ambientais165. Ao longo da evolução nos acostumamos aos ritmos diários entre períodos de vigília e de descanso, os quais estão presentes em qualquer ser vivo pertencente ao reino animal. Em ambas as situações, tanto na vigília quanto no descanso podemos considerar a presença de importantes funções homeostáticas (ou seja, de organização das funções e parâmetros fisiológicos)1,164. O período de descanso é comumente marcado pelo sono quando, de modo geral o indivíduo não possui interação com o meio ambiente e sua capacidade de despertar pode variar de acordo com a fase em que se encontra. São duas as principais fases que o caracterizam, a REM e a NREM, cada uma delas com peculiaridades eletrofisiológicas que, em alguns casos, são semelhantes às do momento de vigília, como é o caso da fase REM que recebe esse nome pela presença do movimento rápido dos olhos detectado pelo eletrooculograma (rapid eyes moviment- REM) e apresenta intensa atividade cerebral. A fase NREM é 51 marcada por atividade elétrica cerebral mais lenta e sincronizada e pode ser dividida e 3 fases (N1, N2 e N3)1,164. A cada trecho de saída da vigília, passagem pelas fases NREM e chegada na fase REM contempla-se um ciclo de sono e este pode se repetir diversas vezes ao longo da noite, respeitando ou não a ordem de fases: as fases imprescindíveis para “fazer valer” a noite de sono são a N3 e a REM. A quantidade de sono profundo (N3 e REM) costuma ser semelhante, tanto em indivíduos considerados pequenos dormidores quanto nos grandes dormidores (definidos a seguir), o que varia nessas situações é a presença das fases 0, N1, N2. Estima-se que, cerca de 25% do sono da noite é do tipo REM e que 40% seja do tipo N3, sendo que cada episódio de REM pode durar, aproximadamente, 30 minutos. O intervalo entre uma fase REM e outra é, então, conhecido como ciclo de sono e pode durar cerca de 90 a 120 minutos num indivíduo jovem. Acompanhe a seguir um hipnograma
Compartilhar