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Assistência ao recém-nascido (RN) Recém-nascido: toda criança nascida viva com até 28 dias de vida extrauterina. Classificação quanto a IG: ➔ Pré-termo: até 36 semanas e 6 dias; ➔ A termo: de 37 semanas a 41 semanas e 6 dias; ➔ Pós-termo: com 42 semanas ou mais. Classificação quanto ao peso ao nascer: ➔ Extremo baixo peso: < 1.000g (até e incluindo 999g); ➔Muito baixo peso: < 1.500g (até e incluindo 1.499g); ➔ Baixo peso: < 2.500g; ➔ Peso ideal: > 2.501 e < 4.000g; ➔Macrossômico (excesso de peso): > 4.001g. A assistência ao RN deve ser feita por profissional capacitado, médico (ideal pediatra ou neonatologista) ou profissional de enfermagem (ideal enfermeiro obstétrico/obstetriz ou neonatal), desde o período anterior ao parto até que o binômio seja encaminhado ao Alcon, a Unidade Neonatal ou no caso de nascimento em quarto de pré-parto, parto e puerpério (PPP), seja mantido junto da sua mãe sob a supervisão da equipe. Divide-se em cuidados imediatos e mediatos. Cuidados imediatos Especialmente nas primeiras duas horas de vida do RN. Objetivos: manter sua integridade ao nascer e sua adaptação ao meio extrauterino. Incluem: ➔ Promover e manter o equlíbrio orgânico; prevenir infecções; ➔ Estabelecer a permeabilidade das vias aéreas superiores, mas não aspirar de rotina; ➔Manter a temperatura corporal: secar e aquecer RN e garantir a temperatura ambiente na sala de parto entre 23ºC a 26ºC; ➔ Estimular o contato pele a pele imediato da mãe com a criança logo após o nascimento. Por meio das políticas públicas, o Brasil promove ações com a finalidade de melhorar, de forma contínua, a assistência prestada ao RN para reduzir o elevado índice de mortalidade neonatal. Cuidados na hora do Nascimento Cuidados que todo local de parto deve ter de acordo com as Diretrizes Nacionais de Assistência ao Parto Normal: ● Planejar o cuidado ciente de que pode ser necessário chamar por ajuda se o RN precisar de ressucitação; ● Desenvolver fluxogramas de emergência e implementá-los, se necessário; ● Assegurar que existam recursos para a ressucitação e para transferência do RN para outro local, se necessário. Sabe -se que a maioria das crianças nascem com boa vitalidade; entretanto, manobras de reanimação podem ser necessárias de maneira inesperada. É essencial o conhecimento e a habilidade em reanimação neonatal para todos os profissionais que atendem RN em sala de parto, mesmo quando se esperam crianças hígidas sem hipóxia ou asfixia ao nascer. O risco de haver necessidade de procedimentos de reanimação é maior quanto menor a idade gestacional e/ou o peso ao nascer. Preparo para atender o RN na sala de parto inclui necessariamente: ➔ Realização de anamnese materna: algumas condições perinatais estão associadas ao maior risco de necessidade de reanimação, como: ➔ Disponibilidade do material para atendimento: Todo material necessário para reanimação deve ser preparado, testado e estar disponível, em local de fácil acesso, antes do nascimento. ● Esse material é destinado à manutenção da temperatura, aspiração de vias aéreas, ventilação e administração de medicações. ● A temperatura ambiente na sala de parto deve ser, no mínimo, de 26ºC para que se mantenha com maior facilidade a temperatura corpórea normal do RN. ● Os materiais apropriados para a assistência ao RN na sala de parto, incluem: ➔ Presença de equipe treinada em reanimação neonatal: considerando-se a frequência elevada da necessidade de realização de algum procedimento de reanimação no RN e a rapidez com que tais manobras devem ser iniciadas, é fundamental que pelo menos um profissional capaz de iniciar de forma adequada a reanimação neonatal esteja presente durante todo o parto. ● Quando se antecipa o nascimento de um concepto de alto risco, podem ser necessários dois a três profissionais treinados e capacitados para reanimar o RN de maneira rápida e efetiva. ● Os auxiliares atuarão junto ao médico, e este deve dedicar-se exclusivamente ao RN. ● No caso do nascimento de gemelares, deve-se dispor de material e equipe próprios para cada criança. ● Para a recepção do RN, devem-se utilizar as precauções-padrão, que compreendem lavagem/higienização correta das mãos e uso de luvas, avental impermeável, máscara e proteção facial para evitar contaminação do profissional com material biológico do RN. Avaliação de vitalidade ao nascer: imediatamente após o nascimento, a necessidade de reanimação depende da avaliação rápida de quatro situações referentes à vitalidade do concepto, sendo feitas as seguintes perguntas: Gestação a termo? Ausência de mecônio? Respirando ou chorando? Tônus muscular bom? ● Se a resposta é sim a todas as perguntas, considera-se que o RN está com boa vitalidade e não necessita de manobras de reanimação. ● A determinação da necessidade de reanimação e a avaliação de sua eficácia dependem da avaliação simultânea de dois sinais: respiração e frequência cardíaca (FC). ➔ A FC é o principal determinante da decisão de indicar as diversas manobras de reanimação. A ideal para RN é entre 120 a 140bpm (RNs em repouso com FC acima de 160bpm devem ser mais bem avaliados). ➔ Logo após o nascimento, o RN deve respirar de maneira regular e suficiente para manter a FC acima de 100 bpm. ➔ A FC é avaliada por meio da ausculta do precórdio (região acima do coração) com estetoscópio, podendo eventualmente ser verificada pela palpação do pulso na base do cordão umbilical. ➔ Tanto a ausculta precordial quanto a palpação do cordão podem subestimar a FC. ➔ A avaliação da coloração da pele e das mucosas do RN não é mais utilizada para decidir procedimentos na sala de parto. Estudos têm mostrado que a avaliação da cor das extremidades, do tronco e das mucosas é subjetiva e não tem relação com a saturação de oxigênio ao nascimento. Além disso, RN com esforço respiratório e FC adequados podem demorar alguns minutos para ficarem rosados. ➔ Nos RNs que não precisam de procedimentos de reanimação ao nascer, a saturação de oxigênio com um minuto de vida situa-se ao redor de 60% – 65%, só atingindo valores de 87% – 92% no quinto minuto de vida. ➔ O processo de transição para alcançar saturação de oxigênio acima de 90% requer 5 minutos ou mais em RNs saudáveis que respiram ar ambiente. ➔ O boletim de Apgar não deve ser utilizado para determinar o início da reanimação nem as manobras a serem instituídas no decorrer do procedimento. No entanto, sua aferição longitudinal permite avaliar a resposta do RN às manobras realizadas e a eficácia dessas manobras. Se o escore é inferior a sete no quinto minuto, recomenda-se sua aplicação a cada cinco minutos, até 20 minutos de vida. ➔ Enfatiza-se que, apesar da subjetividade e da dificuldade em aplicá-lo em RN sob ventilação, o acompanhamento dos escores de Apgar em uma instituição permite identificar a necessidade de implementar programas educacionais e melhoria no cuidado perinatal, além de verificar o impacto das intervenções na qualidade do serviço. É necessário que a documentação do escore de Apgar seja concomitante à dos procedimentos de reanimação executados. ➔ A seguir, escore de Apgar ampliado: Assistência ao RN a termo com boa vitalidade ao nascer: se o RN é a termo, está respirando ou chorando e com tônus muscular em flexão, sem a presença de líquido amniótico meconial, a criança apresenta boa vitalidade e não necessita de qualquer manobra de reanimação. ● O RN a termo com boa vitalidade deve ser secado e posicionado sobre o abdome da mãe ou ao nível da placenta por, no mínimo, um minuto, até o cordão umbilical parar de pulsar (aproximadamente três minutos após o nascimento), para só então realizar-se o clampeamento (o clampeamento em tempo oportuno do cordão umbilical é benéfico em comparação ao clampeamento imediato com relação aos índices hematológicos na idade de 3 a 6 meses). ● Após o clampeamento do cordão, o RN poderá ser mantido sobre o abdome e/ou tórax materno, usando o corpo da mãe como fonte de calor, garantindo-se que o posicionamento da criança permita movimentos respiratórios efetivos.● O contato pele a pele imediatamente após o nascimento, em temperatura ambiente de 26ºC, reduz o risco de hipotermia em RNs a termo que nascem com respiração espontânea e que não necessitam de ventilação, desde que cobertos com campos preaquecidos. Nesse momento, pode-se iniciar a amamentação. ● A OMS recomenda que o aleitamento materno seja iniciado na primeira hora de vida, pois está associado à menor mortalidade neonatal, ao maior período de amamentação, à melhor interação mãe-bebê e ao menor risco de hemorragia materna. ● Após a realização dos cuidados de rotina na sala de parto, a serem relatados ao final da evolução, o binômio, em boas condições clínicas, deve ser encaminhado ao Alcon. Assistência ao RN com líquido amniótico meconial: Na presença de líquido amniótico meconial, fluido ou espesso, o obstetra não deve realizar a aspiração das vias aéreas, pois esse procedimento não diminui a incidência de síndrome de aspiração de mecônio, a necessidade de ventilação mecânica nos RNs que desenvolvem pneumonia aspirativa, nem o tempo de oxigenoterapia ou de hospitalização. ● A conduta depende da vitalidade do RN. Caso o neonato com líquido meconial fluido ou espesso apresente, logo após o nascimento, movimentos respiratórios rítmicos e regulares, tônus muscular adequado e FC maior que 100 bpm, a conduta deverá ser, nesta ordem: ➔ Levar o RN à mesa de reanimação. ➔ Colocá-lo sob fonte de calor radiante. ➔ Posicionar sua cabeça com uma leve extensão do pescoço. ➔ Aspirar o excesso de secreções da boca e do nariz com sonda de aspiração traqueal nº 10. ➔ Secar e desprezar os campos úmidos, verificando novamente a posição da cabeça. ➔ Avaliar a FC e a respiração. ● Se a avaliação resultar normal, o RN receberá os cuidados de rotina na sala de parto. ● Quando o neonato com líquido amniótico meconial fluido ou espesso, logo após o nascimento, não apresentar ritmo respiratório regular e/ou o tônus muscular estiver flácido e/ou a FC for menor que 100 bpm, o profissional deve: ➔ Realizar a retirada do mecônio residual da hipofaringe e da traqueia sob visualização direta e fonte de calor radiante. ● A aspiração traqueal propriamente dita deve ser feita com cânula traqueal conectada a um dispositivo para aspiração de mecônio e ao aspirador a vácuo, com pressão máxima de 100 mmHg. Recomenda-se aspirar o excesso de mecônio uma única vez. ● Se o RN permanecer com FC < 100 bpm, respiração irregular ou apneia, deve-se iniciar a ventilação com pressão positiva Assistência ao RN com necessidade de reanimação: ● Passos iniciais: devem ser executados em, no máximo, 30 segundos se o RN é pré-termo ou se, logo após nascer, não estiver respirando e/ou apresenta-se hipotônico. Consistem em cinco: ➔ Prover calor: manter a temperatura corporal entre 36,5°C e 37ºC. A hipotermia (temperatura corporal abaixo de 36,5ºC) agrava ou favorece o desequilíbrio ácido-básico, o desconforto respiratório, a enterocolite necrosante e a hemorragia intraperiventricular em RN de muito baixo peso. ❖ É importante pré aquecer a sala de parto e a sala onde serão realizados os procedimentos de reanimação, mantendo temperatura ambiente de, no mínimo, 26ºC. Após o clampeamento do cordão, o RN é recepcionado em campos aquecidos e colocado sob calor radiante. ❖ Depois de posicioná-lo sob fonte de calor radiante e antes de secá-lo, introduz-se o corpo do RN pré-termo, exceto a face, dentro do saco plástico. Todos os procedimentos de reanimação são executados com o RN dentro do saco plástico. Pode ser suplementada pelo emprego de touca para reduzir a perda de calor na região da fontanela. ❖ Cuidado especial deve ser tomado no sentido de evitar a hipertermia, pois pode agravar a lesão cerebral em RNs asfixiados. ➔ Posicionar a cabeça em leve extensão: para manter a permeabilidade das vias aéreas. Devem-se evitar a hiperextensão e a flexão exagerada. Às vezes, é necessário colocar um coxim sob os ombros do RN para facilitar o posicionamento adequado da cabeça. ➔ Aspirar vias aéreas, se houver excesso de secreções: a boca e, depois, as narinas são aspiradas delicadamente com sonda traqueal conectada ao aspirador a vácuo, sob pressão máxima aproximada de 100 mmHg. Evitar a introdução da sonda de aspiração de maneira brusca ou na faringe posterior, pois esse procedimento pode induzir à resposta vagal e ao espasmo laríngeo, com apneia e bradicardia. A aspiração da hipofaringe também deve ser evitada, pois pode causar atelectasia, trauma e prejudicar o estabelecimento de respiração efetiva. ❖ Uma vez executados os passos iniciais da reanimação, avalia-se a FC e a respiração. Se houver vitalidade adequada, com FC >100 bpm e respiração rítmica e regular, o RN deve receber os cuidados de rotina na sala de parto. ❖ Se o RN, após os passos iniciais, não apresentar melhora, indica-se a ventilação com pressão positiva, que deve ser iniciada nos primeiros 60 segundos de vida (“minuto de ouro”). ➔ Secar e desprezar os campos úmidos (se RN >1.500 g). ➔ Reposicionar a cabeça, se necessário ● Ventilação com pressão positiva: a ventilação pulmonar é o procedimento mais simples, importante e efetivo na reanimação do RN em sala de parto. A insuflação dos pulmões acarreta dilatação da vasculatura pulmonar, permitindo que a hematose possa ocorrer de forma apropriada. A ventilação com pressão positiva é indicada quando, após execução dos passos iniciais em 30 segundos, o RN apresentar pelo menos uma das seguintes situações: Apneia. Respiração irregular. FC menor que 100bpm. ➔ Equipamentos: o balão autoinflável, o balão anestésico e o ventilador mecânico manual em T. ➔ Oxigênio suplementar na ventilação: é necessário decidir a concentração de oxigênio a ser ministrada: 100%, ar ambiente ou alguma concentração intermediária. ➔ Ventilação com balão e máscara facial: aplica-se a máscara conectada ao balão autoinflável sobre a face do RN. A pressão a ser aplicada deve ser individualizada para que o RN alcance e mantenha FC >100 bpm. ➔ Ventilação com balão e cânula traqueal: as situações mais frequentes para indicação de intubação orotraqueal incluem: ventilação com máscara facial inefetiva, ventilação com máscara facial prolongada; e necessidade de aplicação de massagem cardíaca e/ou de adrenalina. A intubação orotraqueal é obrigatória em RN com algumas anomalias congênitas e deve ser considerada em RNs prematuros extremos, que poderão receber surfactante (líquido produzido pelo organismo que tem a função de facilitar a troca dos gases respiratórios nos pulmões) exógeno profilático de acordo com a rotina do serviço. ● Massagem cardíaca: a asfixia pode desencadear vasoconstrição periférica, hipoxemia tecidual, diminuição da contratilidade miocárdica, bradicardia e, eventualmente, parada cardíaca. A ventilação adequada reverte esse quadro na grande maioria dos casos. Deve-se lembrar que, como a massagem cardíaca diminui a eficácia da ventilação, ela só deve ser iniciada quando a expansão e a ventilação pulmonares estiverem bem estabelecidas. ➔ Só deve ser iniciada se, após 30 segundos de ventilação com oxigênio suplementar, o RN apresentar ou persistir com FC inferior a 60 bpm. ➔ A compressão cardíaca é realizada no terço inferior do esterno preferencialmente por meio da técnica dos dois polegares posicionados logo abaixo da linha intermamilar, poupando-se o apêndice xifoide. ➔ De modo eventual, podem-se aplicar a técnica dos dois dedos, posicionando-se os dedos indicador e médio no terço inferior do esterno, quando houver desproporção entre o tamanho das mãos do reanimador e do tórax do RN ou houver necessidade de cateterismo umbilical. ➔ A profundidade da compressão deve ser de cerca de 1/3 da dimensão ântero-posterior do tórax, de maneira a produzir um pulso palpável. Essa manobra deve ser suave, com o tempo de compressão discretamente inferior ao de relaxamento. ➔ A massagem cardíaca deve ser sempre acompanhada de ventilação com pressão positiva com oxigênio suplementar. ➔ No RN, a massagem cardíaca e ventilação são realizadas deforma sincrônica, mantendo-se uma relação de 3:1, ou seja, 3 movimentos de massagem cardíaca para 1 movimento de ventilação, com uma frequência de 120 eventos por minuto (90 movimentos de massagem e 30 ventilações). ➔ Com a melhora do RN, isto é, quando, após ventilação acompanhada de massagem cardíaca, ele apresentar FC acima de 60 bpm, interrompe-se apenas a massagem. Caso existam respirações espontâneas regulares e a FC atingir níveis superiores a 100 bpm, a ventilação também é suspensa, sendo então administrado oxigênio inalatório através de cateter, com retirada gradual de acordo com a saturação de O2 verificada na oximetria de pulso. ● Medicações: quando a FC permanecer abaixo de 60 bpm a despeito de ventilação efetiva e de massagem cardíaca adequada, o uso de adrenalina, expansor de volume ou ambos está indicado. ➔ A via preferencial para a infusão de medicações na sala de parto é a endovenosa, sendo a veia umbilical de acesso fácil e rápido. O cateter venoso umbilical deve ser inserido apenas 1 – 2 cm após o ânulo, mantendo-o periférico de modo a evitar a sua localização em nível hepático. ➔ A administração de medicações por via traqueal só pode ser usada para a adrenalina, uma única vez, sabendo-se que a absorção por via pulmonar é lenta e imprevisível. ➔ Recomenda-se sua administração por via endovenosa na dose de 0,01 – 0,03 mg/kg. ➔ É importante lembrar que doses elevadas de adrenalina (>0,1 mg/kg) não devem ser empregadas, pois acarretam hipertensão arterial grave, diminuição da função miocárdica e piora do quadro neurológico. ➔ Quando não há reversão da bradicardia com o uso de adrenalina, podem-se repeti-la a cada 3 – 5 minutos (sempre por via endovenosa) e considerar uso de expansores de volume. ➔ Os expansores de volume podem ser necessários para reanimar o RN com hipovolemia. A suspeita é feita se houver perda de sangue ou se existirem sinais de choque hipovolêmico, como palidez, má perfusão e pulsos débeis, e não houver resposta adequada da FC às outras medidas de reanimação. Assistência ao RN com anomalias congênitas: além dos procedimentos já citados, existem anomalias congênitas, onde outros procedimentos precisam ser instituídos logo após o nascimento. Portanto, o conhecimento da suspeita da doença antes do nascimento pode orientar na reanimação e na necessidade desses procedimentos. Aspectos éticos da assistência ao RN na sala de parto: as questões relativas às orientações para não iniciar a reanimação neonatal e/ou interromper as manobras são bastante controversas e dependem do contexto nacional, social, cultural e religioso, no qual os conceitos de moral e ética são discutidos. ● A decisão de reanimar ou não um RN deve ser tomada caso a caso, sempre tentando estabelecer uma adequada comunicação entre os pais e a equipe de saúde. ● A conduta de “esperar e ver” para então iniciar a reanimação deve ser abandonada, pois retardar o início dos procedimentos pode resultar em lesões do RN pelo estresse ao frio, hipoglicemia, hipotensão e hipoxemia, aumentando ainda mais sua morbidade e mortalidade. ● Deve ser enfatizado que a interrupção da reanimação só pode ser realizada após 10 minutos de assistolia na vigência de reanimação adequada. Cuidados de rotina após a estabilização clínica do RN na sala de parto: quando as condições clínicas do RN forem satisfatórias, os seguintes procedimentos devem ser realizados em sequência: ● Apgar: no 1º e 5º minuto de vida, rotineiramente. Caso esteja abaixo de 7 no 5ºminuto, deve ser reavaliado a cada cinco minutos, até os 20min. Classificação do ìndice de Apgar Sofrimento grave 0 a 3 pontos Sofrimento moderado (intermediário) 4 a 6 pontos Ausência de dificuldade de adaptação à vida extrauterina 7 a 10 pontos ● Laqueadura do cordão umbilical: Fixar o clamp à distância de 2 a 3 cm do anel umbilical, envolvendo o coto com gaze embebida em álcool etílico 70% ou clorexidina alcoólica 0,5%. Em RN de extremo baixo peso utiliza-se soro fisiológico. Verificar a presença de duas artérias e de uma veia umbilical, pois a existência de artéria umbilical única pode associar-se a anomalias congênitas. Entre um a cinco minutos (ou quando cessar a pulsação). ● Prevenção da oftalmia gonocócica pelo método de Credé: ➔ Segundo o Guia de Atenção à Saúde do RN (2014): Retirar o vérnix da região ocular com gaze seca ou umedecida com água, sendo contraindicado o uso de soro fisiológico ou qualquer outra solução salina. Afastar as pálpebras e instilar uma gota de nitrato de prata a 1% no fundo do saco lacrimal inferior de cada olho. A seguir, massagear suavemente as pálpebras deslizando-as sobre o globo ocular para fazer com que o nitrato de prata banhe toda a conjuntiva. Se o nitrato cair fora do globo ocular ou se houver dúvida, repetir o procedimento. Limpar com gaze seca o excesso que ficar na pele das pálpebras. A profilaxia deve ser realizada na primeira hora após o nascimento, tanto no parto vaginal quanto cesáreo. ➔ Segundo o Manual de Diretrizes Nacionais de Assistência ao Parto Normal (2017): A profilaxia pode ser realizada até 4 horas após o parto. Utiliza a pomada de eritromicina 0,5% ou a tetracilina a 1% (alternativa). O nitrato de prata 1% só é utilizado se essas duas não estiverem disponíveis. ➔ Segundo o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapéuticas para a Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmemte Transmissíveis (2020): Além do nitrato de prata a 1%, para prevenir a oftalmia neonatal, pode-se utilizar a tetracilina a 1% (colírio), com aplicação única, na 1ª hora de vida. ● Antropometria: Realizar exame físico simplificado, incluindo peso, comprimento e os perímetros cefálico, torácico e abdominal. (Alguns autores dizem que essa prática deve ser mediata, não deve ser realizada na primeira hora de vida para não interromper contato mãe-bebê). ● Prevenção do sangramento por deficiência de vitamina K: Administrar 1mg de vitamina K (fitomenadiona) por via intramuscular ao nascimento, em MIE. (0,5mg para nascidos com peso ≤ a 1.500g). ➔ Caso os pais recusem a administração por via IM, oferecer oral (VO). Eles devem ser advertidos de que esse método deve seguir as recomendações do fabricante e exigem múltiplas doses (2mg ao nascer ou logo depois + uma dose de 2mg entre o 4º e o 7º dia). ➔ Para todos os RNs em aleitamento materno exclusivo, uma dose de 2mg VO deve ser administrada entre 4 e 7 semanas (devido aos níveis variáveis e baixos no leite materno e produção endógena inadequada). ● Detecção de incompatibilidade sanguínea materno-fetal: Coletar sangue da mãe e do cordão umbilical para determinar os antígenos dos sistemas ABO e Rh. Não é necessário realizar o teste de Coombs direto de rotina. No caso de mãe Rh negativo, deve-se realizar pesquisa de anticorpos anti-D por meio do Coombs indireto na mãe e Coombs direto no sangue do cordão umbilical. ● Realização da sorologia para sífilis e HIV: Coletar sangue materno para determinar a sorologia para sífilis. Caso a gestante não tenha realizado sorologia para HIV no último trimestre da gravidez ou o resultado não estiver disponível no dia do parto, deve-se fazer o teste rápido para anti-HIV o mais breve possível e deve-se administrar a zidovudina profilática antes do parto, caso o teste seja positivo. ● Identificação do RN: O ECA regulamenta a identificação do RN mediante o registro de sua impressão plantar e digital e da impressão digital da mãe. Essa identificação é feita no prontuário. Pulseiras devem ser colocadas na mãe e no RN, contendo o nome da mãe, o registro hospitalar (SES), a data e hora do nascimento e o sexo do RN. Os RNs estáveis devem permanecer com suas mães e ser transportados ao alojamento conjunto. Caso haja a necessidade de transporte do RN para outra unidade neonatal, ele sempre deve ser mostrado à mãe novamente, antes do transporte. Cuidados Mediatos Condutas recomendadas no Alcon: ➔ Evitar a separação mãe-filho na 1ª hora, depois do nascimento, para procedimentos de rotina, como: pesar, dar banho, etc; ➔ Higiene do coto umbilical (comalcool a 70%); ➔ Exame físico; ➔ Imunização com BCG e Hepatite B; ➔ Estímulo ao aleitamento materno; ➔ Orientar sobre a importância da posição supina para evitar morte súbita em RNs (jamais a ventral). Cabeça: ➔ Perímetro cefálico (PC) > Perímetro torácico (PT); ➔ Durante o parto pode sofrer alterações (cavalgamento, bossa serossanguinolenta, céfalo-hematoma, hematoma subgaleal); ➔ Fontanelas: ● Bregmática ou anterior: 1 a 4cm; fechada entre 9 e 18 meses; ● Lambdóide, occipital ou posterior: cerca de 0,5cm; fechada aos 2 meses. Postura: encurvado, com MMSSII fletidos. Pele: rósea, depois do nascimento (avaliar os diferentes tons de pele). ➔ Extremidades cianóticas (pode ser devido a baixa temperatura ambiente ou exame físico prolongando). ➔ Podem apresentar icterícia leve. Face: edemaciada, presença de manchas. Icterícia neonatal: condição clínica muito frequente e pode ocorrer tanto em processos fisiológicos quanto patológicos do RN. É a expressão clínina da hiperbilirrubinemia e se não for tratada de forma adequada pode ocasionar sequelas neurológicas. ➔ Hiperbilirrubinemia: concentração sérica de bilirrubina indireta (BI) maior do que 1,5mg/dl ou de bilirrubina direta (BD) maior do que 1,5mg/dl, desde que represente mais de 10% do valor de bilirrubina total (BT). ➔ Icterícia fisiológica: surge entre 48 e 72h depois do nascimento e tem como causa a imaturidade das células hepáticas/hemólise exagerada. ➔ Antes de 24 horas de vida ou de valores de BT > 12mg/dl, independentemente da idade pós-natal, alerta para a investigação de processos patológicos. ➔ Na prática, 98% dos RNs apresentam BI acima de 1mg/dl durante a 1ª semana de vida, o que normalmente reflete a adaptação neonatal ao metabolismo da bilirrubina. ➔ Hiperbilirrubinemia indireta: apresenta o maior risco de complicação (kernicterus, encefalopatia bilirrubínica). ➔ Tratamentos: ● Fototerapia: mais utilizada mundialmente. O sucesso depende das transformações fotoquímicas da bilirrubina nas áreas expostas à luz, utiliza a energia luminosa na transformação de bilirrubina em produtos mais hidrossolúveis. Essas reações alteram a estrutura da molécula de bilirrubina e possibilitam que os fotoprodutos sejam eliminados pelos rins ou pelo fígado, sem sofrer modificações metabólicas. ● Exsanguineotransfusão: onde o sangue do bebê é removido e substituído por outro, de um doador compatível. Indicada quando houver necessidade, ou seja, para diminuir os níveis séricos de bilirrubina e reduzir o risco de lesão cerebral (kernicterus); remover as hemácias com anticorpos ligados a sua superfície e os anticorpos livres circulantes; corrigir a anemia e melhorar a função cardíaca dos RNs hidrópicos por doença hemolítica. Exames de triagem neonatal: objetivo de identificar distúrbios e/ou doenças em RNs e lactentes em tempo oportuno, com vista a reduzir a morbimortalidade e a melhorar a qualidade de vida das crianças. Realizada em 4 modalidades: ➔ Triagem neonatal biológica - TNB (teste do pezinho): detecta distúrbios congênitos e hereditários para facilitar um possível tratamento precoce. Realizada pela coleta de uma pequena quantidade de sangue do calcanhar. ● Período ideal da 1ª amostra: 3º e 5º dia de vida, devido às especificidades das doenças diagnósticadas. ● Punção na face lateral do calcanhar. ● Coleta em papel filtro. ● Condição de exceção: realizadas após o 28º dia de vida, mesmo que não recomendada. ● Detecta: fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito, síndromes falciformes, fibrose cística, hiperplasia adrenal congênita e deficiência de biotinidase. ● Na SES tem o teste do pezinho ampliado, que detecta mais de 50 doenças. ➔ Triagem neonatal ocular - TNO (teste do olhinho): exame do reflexo vermelho. ● Detecta: enfermidades visuais, como retinopatia da prematuridade, retinoblastoma, catarata congênita, glaucoma, infecções, traumas do parto e cegueira. ● Deve ser realizado antes da alta da maternidade em todos os RNs e pelo menos duas a três vezes ao ano nos 3 primeiros anos de vida. ● Deve ser feito na penumbra (para a pupila ficar mais dilatada), com o oftamoscópio colocado aproximadamente, de 5 a 10cm de distância dos olhos (deve iluminar os dois olhos ao mesmo tempo) ● Se for notado reflexo diferente entre os olhos ou presença de opacidade, encaminhar ao oftamologista com urgência. ● A técnica é de formas diferentes em várias literaturas. ➔ Triagem neonatal auditiva - TNA (teste da orelinha): identifica, o mais cedo possível, a deficiência auditiva nos neonatos e lactentes. Consiste em teste e reteste com medidas fisiológicas e eletrofisiológicas da audição. ● Preferencialmente nos primeiros dias de vida (de 24 a 48 horas), na maternidade, e no máximo no 1º mês de vida, a menos que a saúde da criança não permita. ● Para RN sem indicador de risco: exame EOAE: ● Para RN com indicador de risco: teste de Peate-Automático ou em mode triagem (Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico). ➔ Triagem neonatal de cardiopatias congênitas crônicas críticas, por oximetria de pulso (teste do coraçãozinho): oximetria de pulso em todo RN hígido com IG > 34 semanas, antes da alta da unidade neonatal. ● Local de aferição: MSD e em um dos MMII, com extremidades aquecidas e uma onda de traçado homogênea. ● Momento: entre 24 a 48 horas de vida. ● Quando necessário ECG, alta só após o resultado. ● Resultados: ❖ SPO2 ≥ 95% em ambas as medidas + diferença menor que 3% nas medidas do MSD e MI= teste normal. ❖ SPO2 < 95% em qualquer medida ou diferença ≥ a 3% nas medidas do MSD e MI= repetir o teste em uma hora. ❖ Se persistir alteração = teste anormal - ECG dentro de 24 horas. ➔ Triagem neonatal do frênulo lingual - TNFL (teste da linguinha): identifica anquiloglossia (frênulo lingual curto), deve ser realizado antes da alta hospitalar. Exame físico do RN: Geral: ➔ Postura: O tônus é classificado como normal se apresentar semiflexão dos quatros membros e resistência a abdução da coxa. Caso apresente hipotonia com flacidez de membros, uma causa deverá ser investigada. ➔ Estado de alerta: Essa informação pode ser difícil de conseguir no momento da consulta porque a criança pode estar dormindo. Dessa forma, é importante perguntar à mãe se a criança é ativa para a amamentação. Sinais vitais: ➔ Frequência cardíaca e respiratória: A FR máxima do recém-nascido é de 60 irpm e a FC tem média de 145 bpm, mas pode variar em uma faixa de 90 bpm a 180 bpm. Vale ressaltar também que arritmia sinusal ou respiratória é comum que aconteça nessa faixa etária e, geralmente, a FC aumenta na inspiração e diminui na expiração. ➔ Temperatura: As variações normais de temperatura de acordo com o local são: Cabeça: ➔ Exame das fontanelas: Observar o diâmetro e suas tensões: ● Fontanelas com diâmetro aumentado podem estar relacionadas com hipotireoidismo ou osteogênese imperfeita; ● Em caso das tensões tiverem aumentadas (abauladas) ou diminuídas (retraídas) pode ser sinal de Hipertensão intracraniana e desidratação respectivamente. Deve-se ainda observar o tempo de fechamento: ● Fontanela anterior (bregmática) deve estar sempre aberta ao nascer e seu fechamento deve ocorrer entre 9 e 18 meses de idade; ● A fontanela posterior, ao nascer, pode estar fechada ou aberta e seu processo de calcificação deve ocorrer até o quarto mês de vida. ➔ Perímetro Cefálico: Sua medida serve como marcador para o desenvolvimento do sistema neural e a medição deve ser feita com a fita métrica passando pela glabela até a protuberância occipital, definindo assim: ● Macrocefalia: ● Microcefalia ➔ Formato do crânio: O crânio apresenta grande variabilidade de formatos devido a presença de fontanelas e a moldagem que pode sofrer ao passar pelo canal do parto. É importante observar se há presença de: ● Bossa serossanguinolenta: trata-se de um edema do couro cabeludo que não respeita o limite das suturas e é causado por trabalho de parto prolongado, no qual o RN fica muito tempo na descida do canal do parto e extravasa líquido para o subcutâneo. Na palpação, a consistênciaé amolecida e é comum a presença de cacifo positivo. ● Cefalo-hematoma: é um extravasamento sanguíneo que respeita as suturas cranianas devido a localização entre o osso e o periósteo. Na palpação, a consistência é firme e o cacifo é negativo. ● Encefalocele: classifica-se por ser tumoração grave devido à herniação do parênquima cerebral, geralmente no lobo occipital e frontal. ● Craniossinostose: Está relacionada ao fechamento precoce das suturas cranianas. O formato do crânio vai depender da sutura envolvida, sendo o mais comum o fechamento da sutura sagital, impedindo o crescimento lateral da cabeça (escafocefalia). É válido pontuar ainda a braquicefalia (fechamento da sutura coronal), a trigonocefalia (fechamento da sutura metópica), a plagiocefalia (fechamento da sutura escamosa) e a oxicefalia (fechamento de todas as suturas). Pescoço: ➔ Inspeção: ● Simetria do pescoço: pode ter a presença de assincletismo (cabeça inclinada em direção ao ombro), decorrente de postura viciosa do feto na vida intrauterina e se trata de uma assimetria com depressão para um dos lados do pescoço; ● Presença de tumorações: posterior ao músculo esternocleidomastoideo, que pode sugerir o diagnóstico de higroma cístico; ● Presença de excesso de pele: trata-se de pescoço alado, comum nas síndromes genéticas, como na síndrome de Turner; ● Presença de cicatrizes: busca por ostomias (traqueostomia e esofagostomia); ➔ Palpação: ● Palpar o músculo esternocleidomastoideo: a ausência parcial ou total do músculo está relacionada ao torcicolo congênito; ● Testar a mobilidade do pescoço: a mobilidade para um dos lados pode estar comprometida no torcicolo congênito e em ambos os lados na síndrome de Klippel-Feil (fusão ou redução no número de vertebras cervicais), para testar a mobilidade estabilizar a cabeça com uma das mãos e tentar movê-la para os lados. Face: é comum a procura de evidências de síndromes genéticas que podem se manifestar com características como fonte proeminente, micro/macrocania, alterações do dorso nasal, das pregas epicânticas, das orelhas de baixa implementação, da micrognatia, da protusão da língua e do pescoço alado. ➔ Olhos ● Observar o alinhamento, formato e distância dos olhos, bem como a presença de pregas epicânticas – essas observações podem fornecer dados para alguma síndrome genética; ● Investigar a integridade da abertura ocular e reflexos pupilares presentes/reagentes; ● Observar se há presença de edema conjuntival e secreção purulenta: sinais sugestivos de infecção bacteriana (conjuntivite bacteriana), relacionados à infecção por gonorreia na mãe; ● Coloração esbranquiçada da íris e da pupila: sugere a catarata congênita, relacionada a infecção congênita pelo vírus da rubéola; ● Presença de secreção serosa, geralmente, unilateral sem edema pode ser um sinal de obstrução nasolacrimal (blefaroestenose). ➔ Nariz ● Inspeção que revele ausência de septo nasal ou ponte nasal achatada (nariz em sela) é mandatória da pesquisa de sífilis congênita; ● A pesquisa de uma via aérea pérvia deve ser feita nesses casos, introduzindo um cateter para analisar a permeabilidade das coanas e se não há atresia unilateral ou bilateral delas; ● Observar se há presença de secreções, bem como batimento de asa do nariz (esse último pode indicar desconforto respiratório no recém-nascido). ➔ Orelhas: Na inspeção, observar a baixa implantação das orelhas, de modo que, se a extremidade superior do pavilhão auricular está na altura dos olhos a implantação, estará correta, mas, se estiver abaixo, pode ser sugestiva de diversas síndromes cromossômicas, como síndrome de Down ou de Edwards. ➔ Boca ● É mandatório investigar a presença de fendas orofaciais (Fenda labial, fenda labiopalatina e fenda palatina); ● Observar a anatomia da língua e do freio lingual, pois pode ter a presença de anquiloglossia parcial ou “língua presa”. ● Pode ainda se observar na inspeção a presença de cistos esbranquiçados de conteúdo sebáceo, devido às alterações hormonais inerentes ao RN, chamados de pérolas de Epstein. Essa alteração não tem significado patológico. ● A presença de dentes neonatais é mais comum nas meninas e pode sugerir alguma síndrome genética, mas, na maioria das vezes, não tem complicação alguma. Pele: analisar a presença de edema, cianose, palidez e icterícia. ➔ Icterícia: Pode ser analisada com base nas zonas de Krammer, que consiste em estimar a quantidade de bilirrubina de acordo com o grau de acometimento ictérico craniocaudal. Zona 4 de Krammer acometida, mesmo no período fisiológico, deve ser investigada. ➔ Lesões elementares ● Millium: alteração benigna que consiste na presença de pápulas de conteúdo sebáceo no nariz, queixo e testa, devido imaturidade hormonal da pele do recém-nascido que causa entupimento das glândulas sebáceas; ● Acne neonatal: pápulas ou pústulas com base eritematosa que geralmente aparece na face. Lembrar de fazer o diagnóstico diferencial com impetigo na presença de pústulas; ● Hemangioma: lesão em alto-relevo avermelhada em região zigomática devido má formação vascular; ● Mancha vinho do porto: mancha violácea ipsilateral em face que acomete região maxilar, zigomática, temporal e frontal, respeitando a linha média. A origem é de má formação vascular em vasos de maior calibre que os vasos da mancha salmão; ● Eritema tóxico: pápulas e máculas de base eritematosa espaçadas no tronco (podem se estender para face e membros) no RN que aparecem no primeiro ou segundo dia de vida devido a exposição da pele imatura ao ambiente. Se houver presença de pústulas/vesículas, fazer diagnóstico diferencial com impetigo; ● Miliária: pápulas hiperemiadas confluentes que acometem regiões de dobra e estão relacionadas ao calor e umidade; ● Melanose pustulosa do RN: pústulas espaçadas com conteúdo estéril sem hiperemia associada; ● Fenômeno de Arlequim: vasodilatação periférica ipsilateral em decorrência do frio; ● Mancha mongólica: mancha cinza azulada comum na região lombossacral e é causada pelo excesso de melanócito situados profundamente na derme; ● Nevo melanocítico congênito: conhecido como “sinal”, trata-se de uma mancha com potencial para displasia, se apresentar tamanho maior do que 7cm; ● Vérnix caseoso: resultado da deposição de secreção sebácea e líquido amniótico, responsável por formar uma camada de proteção que não deve ser tirada precocemente, sendo recomendado esperar a descamação fisiológica que ocorre por volta do 5/7 dia; ● Lanugem: fina pelugem que cobre o dorso e os membros superiores; ● Pele marmoreada: reação vascular do recém-nascido momentânea devido o frio. Ao retirar o estímulo do frio, a pele volta ao aspecto normal; Neurológico: ➔ Tônus: Recém-nascido a termo apresenta hipertonia geral. Dessa forma, sendo o tônus de caráter flexor, a postura adotada pelo RN é determinada pela realização de semiflexão dos quatro membros com resistência à abdução das coxas. ➔ Reflexos primitivos ● Sucção reflexa ● Busca ● Preensão palmar ● Reflexo cutâneo plantar a resposta esperada é a dorsiflexão do hálux acompanhada da separação dos demais dedos. A partir do 13º mês, a criança deve apresentar a flexão plantar do hálux, pois, a partir desse momento, o reflexo da dorsiflexão se torna patológico (sinal de Babinski); ● Reflexo de marcha ● Reflexo de Moro ● Reflexo de Galant ● Reflexo tônico-cervical Tórax: consiste na avaliação cardíaca e pulmonar, seguindo as mesmas etapas de inspeção, ausculta e palpação. ➔ A percussão do tórax no recém-nascido não traz relevância ao exame, além de acarretar riscos ao paciente. ➔ A palpação de clavícula deve ser realizada, visto que é o osso mais frequentemente fraturado em toracotraumas. ➔ Inspeção ● Simetria: o tórax deve ter forma de barril com um diâmetro ântero-posterior igual ou maior ao diâmetro látero-lateral sem retrações ou abaulamentos visíveis. Caso haja abaulamento associado a um abdome escavado, existe a possibilidade de hérnia diafragmática, causando grave insuficiência respiratória; ● Pesquisa de ginecomastia:pode surgir com mamas ingurgitadas ou associadas à secreção leitosa (causada pela passagem de hormônios maternos). Assim, deve-se orientar a família que o tratamento é expectante, ou seja, ocorre involução espontânea das mamas. AR: Observar o padrão respiratório da criança: ● Batimento de asa de nariz; ● Uso de musculatura acessória; ● Retração xifoidiana; ● Presença de tiragem subcostal, intercostal ou fúrcula; ● Gemidos e estridor. ➔ É comum que o ritmo respiratório do RN, principalmente de prematuros, seja periódico, com pausas entre 5 e 10 segundos. A apneia seria o prolongamento desse período, assim, sendo considerada patológica. ➔ A frequência respiratória comum no recém-nascido está entre 40 e 60 respirações por minuto e deve ser avaliada com a mão do profissional entre o abdome e o tórax. ➔ Já a ausculta respiratória deve ser realizada em focos paraesternais e paravertebrais na parede anterior e posterior do tórax respectivamente. AC: A avaliação cardiovascular consiste na: ● Palpação dos pulsos axilares, braquiais, femorais e pediosos, a fim de verificar a amplitude, simetria e ritmo; ● Verificação da frequência cardíaca: varia entre 120 e 160 batimentos por minuto; ● Avaliação do precórdio: pode ser perceptível a presença do ictus cordis, região em que o ápice do coração toca na parede torácica, devendo estar localizado entre o 4º e o 5º espaço intercostal à esquerda; ● Avaliação das bulhas: normofonéticas ou alteradas, em alguns casos, é comum ocorrer desdobramento da segunda bulha, sendo considerado fisiológico. ● Sopros cardíacos: a presença de sopros cardíacos no neonato é comum e pode ser transitório, entretanto, a partir do grau IV (sopro alto e com vibração presente) recomenda-se que realize um ecocardiograma. ➔ A ausência de sopros não exclui completamente a existência de cardiopatias congênitas, por esse motivo, torna-se imprescindível que o recém-nascido realize o teste de oximetria de pulso (teste do coraçãozinho) antes da alta hospitalar. Abdome ➔ Inspeção ● Avaliação do coto umbilical ❖ Anatomia: o cordão umbilical deve possuir duas artérias e uma veia. Achado de artéria umbilical única pode indicar má formação congênita. ❖ Sinais flogísticos: Se a região apresentar sinais de inflamação, o achado indica onfalite e, portanto, há necessidade de encaminhamento da criança para emergência. ❖ Tempo de involução: O coto umbilical cai normalmente entre 1 e 2 semanas. Após a queda, avaliar a presença de granuloma umbilical, cuja resolução é a cauterização com nitrato de prata. ● Formato do abdome: O abdome do RN deve ser globoso, entretanto pode apresentar diástase dos retos abdominais, originando, assim, hérnias umbilicais que raramente evoluem para complicações, além de desaparecer naturalmente até a idade pré-escolar. ❖ Se o abdome estiver dilatado, pode ser indicação de algumas intercorrências como a presença de líquido, visceromegalias ou distensão gasosa, se a distensão for significativa pode indicar perfuração ou obstrução abdominal. ❖ Nesses casos, a inspeção da região anal é necessária para a exclusão de uma possível imperfuração anal. Caso seja observado abdome escavado, como já citado no exame físico de tórax, pode sugerir hérnia diafragmática. ❖ Alguns achados necessitam de intervenção cirúrgica precoce como as hérnias inguinais, pelo risco de encarceramento e estrangulamento, e casos em que há exteriorização de alças intestinais (gastrosquise e onfalocele). Genitália ➔ Genitália masculina ● Criptorquidia: deve ser avaliado se há ausência ou retração de testículos. Quando esses não forem palpáveis, os pais devem ser tranquilizados de que é uma situação comum, com conduta expectante até os 6 meses de idade. Em grande parte dos casos ocorre unilateralmente; ● Hidrocele: presença de líquido peritoneal na bolsa escrotal. Possui resolução espontânea até os 2 anos de idade. É importante fazer diagnóstico diferencial com hérnia inguinal, caso a hidrocele for comunicante. O exame é realizado com transiluminação da bolsa escrotal com uma lanterna; ● Hipospadia: localização do meato urinário na face ventral do pênis; ● Epispadia: localização do meato urinário na face dorsal do pênis; ● Fimose: fisiológica ao nascimento. Indicação cirúrgica a partir dos 5 anos de idade, a depender da escolha da família; ● Micropênis: quando o tamanho do pênis se encontra abaixo dos 2,5 desvios padrão para a idade. ➔ Genitália feminina ● Pode ocorrer proeminência dos lábios vaginais, além da possibilidade da saída de secreção esbranquiçada ou sanguinolenta, que se resolve espontaneamente; ● Sinéquia: aderência entre os pequenos lábios vaginais. ➔ Genitália ambígua: É chamada de ambígua a genitália que não se caracteriza por completo como masculina ou feminina, assim, sendo necessária a determinação do sexo por meio de exames de cromatina sexual e ultrassonagrafia pélvica. Osteoarticular ➔Membros superiores e inferiores: Avaliar a resistência dos membros aos movimentos e o tônus muscular para o rastreamento de flacidez ou paralisia. Pesquisar possível luxação congênita de quadril ou displasia do desenvolvimento do quadril por meio da manobra de Ortolani e da manobra de Barlow. ● Manobra de Ortolani: Colocar o polegar na parte interna da coxa do recém-nascido e posicionar os outros dedos sobre o grande trocanter. Com as articulações coxofemorais e o joelho fletido, realiza-se o movimento de abdução e elevação. Positivo quando se percebe um clique audível com os movimentos; ● Manobra de Barlow: Com as articulações coxofemorais e o joelho fletido, empurrar posteriormente o fêmur com o quadril fletido e a coxa em adução. Positivo se o quadril for deslocável. ➔ Avaliar a morfologia dos dedos e a possibilidade de polidactilia (presença de dedos a mais) e sindactilia (presença de membrana entre os dedos). Determinar alterações como o pé torto, que pode ser corrigido espontaneamente, ou pé torto congênito grave que é associado a anormalidades genéticas. Coluna vertebral: A coluna deve ser inspecionada e palpada percorrendo toda a linha média, principalmente na região lombo-sacral, para pesquisa de intercorrências como a herniação das meninges (mielomeningocele e meningocele). Também deve ser observada a presença de assinaturas neurocutâneas em linha média para o rastreamento de espinha bífida oculta.
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