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O que é Jurisdição, Ação e Processo

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Jurisdição, Ação e Processo
Toda aula de D. Processual Civil deveriam começar com noções introdutórias de
jurisdição, ação e processo.
Toda teoria geral do processo, todas as instituições, todos os elementos fundantes de
Direito Processual Civil passam por Jurisdição, Ação e Processo.
O que é Jurisdição?
É a função estatal prestada pelo Poder Judiciário com o escopo de aplicar ao caso
concreto a vontade abstrata da lei. A Jurisdição é uma função do Estado destinada a
atrelar ou descortinar a vontade legal, a vontade abstrata descrita na lei a uma situação
concreta, real. É o momento em que o Direito deixa de ser abstrato e adere a um caso
concreto, é um momento no qual o Estado-Juiz entrega uma tutela jurisdicional para
responder a demanda que lhe foi feita.
Demanda (originária do italiano Domanda) = significa pergunta
O Estado-Juiz dentro da sua inércia necessária recebe uma provocação do jurisdicionado
e ele tem o dever de devolver a essa provocação com uma resposta, e essa resposta
nada mais é do que a aplicação do sistema normativo, a aplicação das leis a uma
situação fática concreta. Toda vez que um jurisdicionado leva uma questão ao juízo, leva
uma questão ao Estado-Juiz, o Estado-Juiz responde e o fundamento de resposta precisa
necessariamente estar contido no sistema normativo.
A Jurisdição não admite invencionismos, salvo quando o próprio sistema normativo prevê
nas hipóteses de julgamento por analogia, por equidade, mas o princípio da legalidade e o
próprio Estado constitucional nos remete a aplicação de um sistema normativo. E a
jurisdição nada mais é do que quando o Estado ele diz o Direito, ele revela o direito, ele
se utiliza das ferramentas normativas para uma construção de uma solução a uma
determinada situação fática ou processual colocada para a sua apreciação.
Essa concepção de jurisdição começou a ser construída no Direito italiano no início do
século XIX houve uma discussão acadêmica entre dois gigantes da ciência processual,
dois gigantes do Direito Processual Civil (Giuseppe Chiovenda e Francesco Carnelutti).
Chiovenda dizia: que Jurisdição é a função estatal de aplicação da vontade da lei ao caso
concreto.
Carnelutti: atrelava Jurisdição ao conceito de lide.
Enquanto Chiovenda dizia que toda e qualquer manifestação do Poder Judiciário com
relação a uma demanda era ou se manifestava através de um exercício da atividade
jurisdicional, Carnelutti não entendia que atividade jurisdicional estava atrelada ao
elemento lide só havia prestação de atividade jurisdicional quando da prestação da
jurisdição contenciosa.
Lide: pode ser definida como uma pretensão resistida quando há um pedido e esse
pedido gera uma controversa resistida pelo jurisdicionado demandado. Se não houver
uma oposição do jurisdicionado demandado, segundo Carnelutti não haveria jurisdição.
Carnelutti, concebia a Jurisdição como um mecanismo para solução de lide, ele não
concebia a jurisdição voluntária que é a jurisdição destinada a administração pública de
interesses privados, por exemplo, inventário, divórcio consensual…, Carnelutti não via
essa atividade como uma atividade clássica de jurisdição.
O sistema processual brasileiro seguiu uma linha de aproximação da tese do Chiovenda,
existem uma série de situações que demandam força de lei a intervenção ou atuação do
Poder Judiciário, a chancela do Poder Judiciário para que determinados negócios
jurídicos de Direito Civil tenham validade.
Falasse muito do caminho inverso, hoje existe um projeto de lei desjudicialização da
execução. Esse projeto vem causando muitos debates entre os processualistas e a ideia
seria que o Poder Judiciário delegasse a cartórios a prática de atos de execução para que
o Poder Judiciário tivesse um respiro, tivesse menos atos, menos processos debaixo do
seu guarda-chuva.
Esses movimentos são de certa forma cíclicos e os conceitos e jurisdição eles vão
ganhando amplitude ou de certa forma eles vão diminuindo o seu espectro de incidência.
Um jurista italiano muito importante aqui no Brasil, chamado Enrico Tullio Liebman foi
professor da USP. Ele criou uma teoria sobre Jurisdição que tentava aproximar as teses e
teorias de Chiovenda e Carnelutti, então ele diria que Jurisdição é a função estatal de
aplicação da vontade abstrata da lei ao caso concreto e que resolve lides.
Na realidade a posição intermediária de Liebman foi uma posição que tentava justificar o
próprio sistema processual brasileiro da forma como ele foi concebida. A partir do
momento que se permiti ou que se determina que atos classicamente seriam tidos de
como Jurisdição voluntária fossem praticados pelo próprio Poder Judiciário não tinha
como ter uma jurisdição calcada eminentemente no conceito de lide, mas a lide é um
elemento fundamental de superlativa importância dentro da ciência processual. É o
elemento lide que permite que o magistrado se debruce efetivamente a uma situação
posta em juízo para julgamento e consiga dentro de uma visão caleidoscópica do
processo, consiga perceber as posições antagônicas de parte a parte e consiga a partir
destas posições antagônicas construir uma solução que permita a aplicação da vontade
da lei a essa situação e de certa forma gere o objetivo final da jurisdição que é a
pacificação social.
As teorias mais recentes de jurisdição são contaminadas por uma visão constitucional do
Direito Processual, no mundo a partir dos anos 60, 70 e 80 os países ocidentais passaram
a se organizar através de um sistema de constituições muito fortes no que tange ao
asseguramento dos Direitos Humanos, de valorização da dignidade da pessoa humana e
de outro lado de preservação da garantia do acessoa à justiça. Então a Constituição
espanhola de 78, a própria Constituição italiana são exemplos de Constituições ocidentais
a partir dos anos 60,70 e 80 que acabaram contaminando o sistema jurídico processual
ocidental de valores constitucionalmente muito caros dando uma aderência a esses
valores a ciência processual. Então se vê muito ativamente a questão do acesso à justiça,
das garantias fundamentais do processo e da proteção da dignidade da pessoa humana
como princípios não só constitucionais mais como princípios constitucionais aplicáveis de
maneira inafastável à ciência processual.
Então a teoria moderna de jurisdição, vê jurisdição como uma função estatal, como uma
aplicação da vontade abstrata ao caso concreto, mas exige que esta função observe as
garantias fundamentais do processo à necessária garantia ao acesso à justiça e tenha um
componente de observância muito intenso ao princípio de dignidade da pessoa humana.
Com isso concluímos Jurisdição essa nova faceta da Jurisdição contaminada por
elementos de direitos constitucional fruto da aproximação do Direito Processual Civil, do
Direito Constitucional e mais fruto também da força normativa da Constituição.
Livro: Força Normativa da Constituição de Konrad Hesse - que é extremamente
fundamental para o entendimento das sociedades ocidentais calcadas em Constituições
democráticas e que valorizam sobre tudo a defesa de Direitos Fundamentais.
A força normativa da Constituição ela acaba impregnando todo sistema jurídico e
eliminando ilhas de entendimento que não eram preconizadas pelos princípios basilares
do acesso à justiça, das garantias fundamentais do processo e da dignidade da pessoa
humana.
Ação
É o direito de invocar o exercício da jurisdição. A jurisdição é uma função estatal de
resposta a uma demanda.
O direito de ação nada mais é do que o direito legítimo de qualquer jurisdicionado tem de
acessar a jurisdição ou de ter suas questões, suas demandas respondidas pelo
Estado-Juiz o exercício do direito de ação está intimamente ligado ao exercício da
cidadania / democracia sem direito de ação não há participação dos jurisdicionados, não
há participação efetiva com relação aos desígnios do Estado é por intermédio do direito
de ação que os jurisdicionados se opõem a comandos estatais que lhes sejam
desfavoráveis, a comandos estatais que não se coadunem com a constituição, comas
normais constitucionais. É através do direito de ação que os jurisdicionados pretende que
o Estado lhe entregue uma tutela que, responda as questões que foram levadas por ele.
O direito de ação é forma civilizada, a forma democrática e a forma humana de suplantar
a autotutela.
É importante que vejamos hoje que a ação é um direito autônomo. O descolamento entre
o direito de ação e o direito fundamental, também foi fundamental para que a ciência
processual evoluísse e caminhasse de uma maneira autônoma e independente com
relação ao direito material, o exercício do direito de ação não está condicionado a
existência ou não direito material, a existência ou não daquele determinado direito
material será definida pelo Estado-Juiz quando do exercício da jurisdição.
O direito de ação é o direito de invocar o exercício da jurisdição.
O professor Leonado Grecco enxerga o direito de ação com 5 vertentes:
1. Ação como direito cívico - a participação democrática de um jurisdicionado está
condicionada a preservação do legítimo de direito de ação em última instância o
direito que o jurisdicionado tem de invocar uma tutela jurisdicional sobre uma
determinada questão que, sob a sua ótica não guarde guarita no sistema normativo
constitucional.
2. Acesso ao direito material – Muito embora tenhamos visto que o direito de ação é
um direito autônomo independente do direito material, o direito de ação se destina
a obter um provimento jurisdicional que tem implicações no plano material, no
plano da entrega do bem da vida, aí se tem um elemento de concretismo no direito
de ação não obstante a ação seja autônoma independente ao direito material.
3. Direito ação como um direito no processo justo – passa necessariamente ao
jurisdicionado de uma entrega da tutela jurisdicional sob a ótica do processo justo.
A ação o exercício do direito de ação, ele necessariamente será completo se a
resposta do Estado-Juiz quando da prestação jurisdicional, quando da entrega da
jurisdição observar as garantias fundamentais do processo.
4. Demanda – Direito de formular questões ao judiciário, e essas questões
necessariamente precisam de respostas fundamentadas, motivadas e sobretudo
calcadas no sistema normativo. A discricionariedade judicial é um desserviço ao
Estado Democrático de Direito. O juiz que se impõem por sua toga ou por sua
autoridade e que não lastreias as suas decisões com base em normas jurídicas,
ele se coloca acima do sistema é um juiz que precisa ser repelido, é uma entrega
jurisdicional viciada e não enseja a um exercício efetivo do direito de ação.
5. Direito a jurisdição – Em última análise o direito de ação é o direito de invocar a
tutela do Estado sobre uma determinada questão. E quando se fala de invocar a
tutela do Estado nada mais é do que exigir que o Estado-Juiz faça a sua função
jurisdicional de aplicação da vontade abstrata da lei ao caso concreto.
Jurisdição e Ação – se conectam por um instrumento, esse instrumento é o processo. O
processo é um instrumento democrático e constitucional assegurado para viabilizar o
exercício do direito de ação e exigir a prestação jurisdicional. O processo é o mecanismo
concebido no sentido de que o direito de ação seja materializado e que aja uma
necessária entrega da tutela jurisdicional através do processo.
O processo é o elemento que dá a liga entre o exercício de direito de ação e a prestação
da tutela jurisdicional.
O processo é o mecanismo, é o método mais adequado porque ele é um método
garantista, democrático que admite a participação de todos e é neste ambiente de
democracia processual que se desenvolve ou que deve ser desenvolvido o direito de ação
e a entrega jurisdicional que nada mais é que o exercício da jurisdição.
O processo e a ciência processual avançaram de sobre maneira a partir de um estudo de
um jurista alemão de nome Oskar von Bülow em 1868 ele escreveu um trabalho que se
chama Teoria dos Pressupostos Processuais e exceções Dilatórias, e foi nesse momento
em que a ciência processual adquiri autonomia aos demais ramos do Direito.
É inegável que há uma interconexão uma contaminação de elementos de direito
administrativo, constitucional, direito civil dentro da ciência processual, mas a teoria do
Bülow permitiu que pudéssemos estudar de maneira autônoma a ciência processual, o
processo enquanto mecanismo democrático de exercício do direito de ação e de
possibilitação da entrega da tutela jurisdicional, o processo passou a ser estudado de
maneira autônoma e isso fez com que nós pudéssemos cada vez mais ter relações
jurídico-processuais dissociadas das relações jurídico-materiais e essas relações jurídico
processuais passaram ter um regramento garantista com base nas normas de proteção
ao processo justo, de proteção aos standards de fixação de qualidade na entrega
jurisdicional e foi isso que permitiu também que o direito de ação pudesse ser veiculado
de uma maneira mais direta, mais completa e de uma mais protetiva ao jurisdicionado.

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