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→ A Persona Persona pode ser entendida como o resultado das diferenciações da personalidade do sujeito, psicológicas e sociais, criadas à partir da “necessidade” de cada ambiente, de forma com que o verdadeiro eu fique em segundo plano. Vale ressaltar a diferença entre personalidade múltipla e persona, sendo a primeira uma patologia, e a segunda apenas a divisão de traços do caráter do indivíduo, o ajustamento do caráter para situações e circunstâncias específicas. Ambientes como o meio familiar e doméstico, a escola e o trabalho podem exigir atitudes diferentes do sujeito em cada um destes, e quanto mais as atitudes são reforçadas por aquele ambiente, mais frequente se tornam. “Esses dois ambientes totalmente diferentes exigiam duas atitudes totalmente distintas, as quais, dependendo do grau de identificação do ego com a atitude do momento, produziam uma duplicação de caráter.” (JUNG, 2011). Desde que o sujeito nasce, ele já cumpre um papel proposto pela sua família sobre a personalidade que deve seguir, e ao obedecer os anseios, a persona se forma e pode ser conservada para o resto da vida. Com o avanço da idade e as mudanças consequentes, o ego precisa se adaptar às alterações apropriadas para o novo conceito de si, refletido em mudanças na persona. O processo de individuação, que marca a cisão da vida, é frisado por momentos de reflexão pessoal acerca da própria personalidade. O indivíduo realiza um espécie de “limpeza”, onde analisa os conteúdos de suas personas e os coloca na balança, fazendo uma distinção daquilo que ainda lhe é útil e o que pode ser descartado, abrindo espaço para novas atitudes. “A persona é o rosto que envergamos para o nosso encontro com outros rostos, para sermos como eles e para que eles gostem de nós. Não queremos ser demasiado diferentes, pois os nossos pontos de diferença, onde a persona termina e a sombra começa, fazem-nos sentir vergonha.” (STEIN, 1998). Partindo do exposto, podemos concluir que a persona age como uma coleção de máscaras que sujeito tem a sua disposição, previamente definidas para cada tipo de situação social que o mesmo presencia. A persona o influencia a ser um indivíduo mais reservado, sério e focado quando está no ambiente de trabalho, pois a personalidade “fora do escritório” não iria condizer com o que é esperado dele. Quando está reunido Persona e Sombra Laura P. da Encarnação com os amigos no bar, é barulhento, extrovertido e engraçado; quando está com a família, é relaxado, religioso e carinhoso. Para cada situação do dia- a-dia, o sujeito tem de se adaptar aquilo que foi pautado socialmente como comportamento adequado, formando então suas personas específicas que influenciam suas ações quando ativadas. → A Sombra A sombra pode ser entendida como todos os aspectos da personalidade renegados pelo sujeito ao longo da sua vida. As inadaptações dos sujeitos são corrigidas no decorrer da vida e os comportamentos vão se configurando à partir daquilo que foi percebido como aceitável. Tudo aquilo que não se pode fazer, começa a constituir a sombra. “A sombra age como um sistema imunológico psíquico, definindo o que é eu e o que é não-eu. Pessoas diferentes, em diferentes famílias e culturas, consideram de modos diversos aquilo que pertence ao ego e aquilo que pertence à sombra.” (ABRAMS & ZWEIG, 1994). É impossível separar coisas desejadas da psique. Mas a sombra não é constituída apenas de “coisas ruins”, que foram ensinadas como sendo ruins por seus familiares e ambiente. No processo de construção da sombra, muitas possibilidades são julgadas de forma errônea, contendo todo o tipo de potencialidade não desenvolvida ou expressada. A sombra pode representar risco para o sujeito quando ele decide ignorá-la ou rejeitá-la com muita convicção, mas a sombra também possui energia e pode se fazer presente sem que o sujeito tome consciência do que está acontecendo. Ela pode surgir nos momentos em que sentimos raiva exagerada em relação aos outros, quando somos humilhados, na impulsividade, nos sentimentos exacerbados etc. Os exemplos nada mais são do que situações em que perdemos o controle e expomos aquela parte de nós que aprendemos a deixar guardada, fazendo-nos sentir envergonhados. Outras manifestações da sombra que podemos observar ocorrem no período de individuação ou até mesmo quando o indivíduo está com depressão. O processo de individuação, que ocorre na segunda metade da vida, é um momento de mudanças em que o sujeito precisa encontrar-se com si mesmo e realizar as mudanças necessárias – mutatis mutandis – “Isso exige a quebra de velhos hábitos e o cultivo de talentos adormecidos. Se não pararmos para ouvir atentamente o chamado e continuarmos a nos mover na mesma direção anterior, permaneceremos inconscientes daquilo que a meia-idade tem a nos ensinar.” (ABRAMS & ZWEIG, 1994). A depressão, mais conhecida como o mal do século, compreende um encontro direto do sujeito com sua sombra, mas existem muitas formas de distrair-se daquilo que a depressão tenta expressar para si mesmo, como os remédios antidepressivos. Conclui-se que, a sombra somente irá representar um risco para o sujeito, se este não fizer o esforço de reconhecê-la e, consequentemente, se conhecer. Os seres humanos possuem uma mania péssima de subestimação e preconceito contra seu próprio inconsciente, impossibilitando a si mesmo de ser livre e completo, e alimentando o inconsciente com energias ruins que apenas o fazem parecer mais terrível, sendo que na realidade, não é. O ser humano nega a si mesmo. Jung diz, sobre o inconsciente: "Ele só se torna perigoso quando a atenção consciente que lhe dedicamos é desesperadoramente errada." R e fe rê n c ia s oABRAMS, J; ZWEIG, C. Ao Encontro da Sombra. São Paulo: Cultrix, 1994. o JUNG, C. G. Tipos psicológicos. In: Obras Completas de C. G. Jung, vol. VI. Petrópolis: Vozes, 2011. o STEIN, M. Jung – O Mapa da alma. São Paulo: Cutrix, 1998.
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